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Da aceitação e da renúncia da herança

- O direito brasileiro adotou a doutrina “saisine”.


Aberta a sucessão, a propriedade e posse
transmitem-se, imediatamente, aos herdeiros.

A referida teoria tem origem germânica, mas chega


até nós, pelo direito francês, que adotou o princípio
no Código Napoleônico. (Venosa, 2010, p. 16, VII)

- A palavra deriva de saisir que significa agarrar,


prender ou apoderar-se (Venosa, 2010, p. 16, VII)

- Essa transferência se completa com a aceitação


do herdeiro, que tem, todavia, a faculdade de
renunciar à herança. A aceitação é presumida a
partir do momento da abertura da sucessão, e a
renúncia, como faculdade do herdeiro, retroage
também ao momento da morte do de cujus, de tal
modo que inexiste qualquer período de vacância,
ou seja, de ausência do titular. (WALD, Arnaldo.
Direito civil. Direito das sucessões. 14ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2009, p. 41, v 6).

- Aceitação – Maria Berenice Dias – p. 185 – é um


ato unilateral, simples e gratuito.

- Existem 3 sistemas relativos à transmissão da


herança:
- o nosso - abertura da sucessão;
- aceitação somente após a declaração de vontade
por parte do herdeiro;
- pronunciamento judicial que emite os herdeiros na
posse dos bens.

- Conforme mencionado, a aceitação retroage à


abertura da sucessão.

- Uma vez aceita a herança, o herdeiro não mais se


despoja dessa condição, ou seja, a aceitação é
irrevogável ou irretratável, arts. 1804 e 1812 do CC,
(Venosa, 2010, p. 17, VII). Pode ser anulada, nos
termos do art. 171, II do CC.

- Se o CC admite a renúncia (art. 1806) está


reafirmando a noção de transmissão imediata.

- A aceitação da herança pode ser: expressa, tácita


ou presumida.
- Espécies de aceitação:

a) Expressa: É manifestada por escrito.


Atualmente, não é usual. Art. 1805 do CC.

b)Tácita: é a que resulta de atos compatíveis com


a qualidade de herdeiro. Ex: outorgar
procuração ao advogado para acompanhar
inventário

Atos ditados pela solidariedade humana não


exprimem aceitação de herança. Ex.: §1º do art.
1805do CC.

c) Presumida: art. 1807 do CC.

- É vedada a aceitação parcial, condicional ou a


termo, art. 1808 do CC

- Art. 1808, § 1º do CC, herdeiro figura


simultaneamente como sucessor a título universal e
legatário (sucessor a título singular/testamento).
Nesta situação o herdeiro pode aceitar a herança e
renunciar ao legado e vice-versa.

- Nos termos do art. 1784 do CC, aberta a sucessão,


ocorre a transmissão imediata da herança, logo os
herdeiros poderão defender a posse da herança,
utilizando-se das ações possessórias.
Renúncia da herança
- É uma faculdade do herdeiro – San Tiago Dantas

- É ato solene pelo qual herdeiro chamado à


sucessão declara que não aceita a herança.

- A renúncia deve ser expressa, por escritura pública,


termo judicial (termo lavrado no processo) ou
escritura pública de inventário – resolução 35/2007
do CNJ.

- Questão controvertida, necessidade de outorga


uxória ou marital:
1ª c: entendem que é dispensável – Washington de
Barros Monteiro e Maria Berenice Dias - só haveria
necessidade na hipótese de regime da comunhão
universal de bens, em razão da norma do art. 1.667
do CC.
2ª c: herança é bem imóvel, art. 80, II do CC e art.
1.647 do CC, logo é indispensável a outorga uxória
ou marital – Arnoldo Wald.

- Regime da separação convencional de bens não


haveria necessidade de outorga, arts. 1.647 e 1.687
todos do CC.

- Para que se aperfeiçoe tem que ser: pura e simples,


gratuita e em favor do monte.

- O menor pode receber herança, arts. 1.798 e 1.799


do CC, mas a renúncia só pode ocorrer através de
autorização judicial.

- Se o herdeiro ceder sua cota em favor de alguém,


estará realizando uma renúncia translativa. Ex:
Carlos renuncia em favor de meu irmão Paulo.

- Na renúncia propriamente dita, há incidência de


um único imposto ITCD. Art. 1805, §2º CC equipara
a renúncia à cessão gratuita, pura e simples da
herança aos demais coerdeiros (Venosa, 2010, p.
20VII)

- Na renúncia translativa há incidência de dois


impostos.
- Art. 1813 do CC, limita o direito de renunciar,
objetivo evitar fraudes. Não há necessidade do
credor do herdeiro provar má-fé ou fraude. Art. 988,
inciso VI do CPC.

Acórdão sobre o tema:

APELAÇÃO CÍVEL. INVENTÁRIO.


ACEITAÇÃO DE HERANÇA PELO CREDOR
EM NOME DE HERDEIRO RENUNCIANTE.
ARTIGO 1.813 DO CÓDIGO CIVIL
BRASILEIRO. EXTINÇÃO DO PROCESSO
AFASTADA. RECURSO PROVIDO PARA
DETERMINAR O PROSSEGUIMENTO DO
FEITO. O art. 1.813 do Código Civil Brasileiro tem
por finalidade coibir renúncia lesiva aos credores. Se
há prejuízo com a renúncia, podem eles (os
credores) aceitar a herança, em nome de seus
devedores e herdeiros renunciantes,
independentemente da verificação do "consilium
fraudis". Basta que, com o ato da renúncia, venha o
herdeiro a prejudicar credores. A aceitação
independe da propositura de ação revocatória ou
pauliana, sendo suficiente que o credor a requeira ao
juiz do inventário e que este autorize o ato.
(Processo: Apelação Cível 1.0313.10.025322-5/001,
Relator(a): Des.(a) Peixoto Henriques, Data de
Julgamento: 13/08/2013)
- Efeitos da renúncia

- Afasta o renunciante da sucessão. É considerado


como se nunca tivesse existido art. 1811, 1ª parte do
CC. Não há direito de representação (arts. 1.851 a
1.856 CC).

- A cota do renunciante acresce a dos outros


herdeiros, art. 1810 do CC.

Dar exemplos.

1)
A

B C

DE FG

B – renunciou
A parte que caberia a B irá para C, pois na
renúncia não há direito de representação (arts.
1.851 a 1.856 do CC) .
2)
A

DE

B – renunciou
B – é o único descendente de 1ª grau
A parte que caberia a B irá para D e E, mas não
por representação e sim por direito próprio.

- Renúncia na sucessão testamentária:

1. Havendo substituto indicado pelo testador a este


caberá a herança ou o legado.
2. Se não houver substituto e a instituição for
conjunta, acresce o direito do renunciante aos dos
outros instituídos.
3. Se a instituição foi isolada e não houver
substituto, a renúncia beneficia o herdeiro legítimo.

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