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14 de Setembro de 2021

A renúncia da herança ou legado e seus efeitos jurídicos:


renunciei, nesse caso, pagarei tributos?

A renúncia é ato unilateral manifestado pelo herdeiro ou legatário


renunciante, no sentido de abdicar, repelir, não aceitar o direito de receber
a herança ou o legado.

No momento em que a o herdeiro renuncia à herança que tem direito, ele é


considerado como nunca tivesse existido para o direito das sucessões,
sendo que estes efeitos retroagem até a data da morte do autor da herança,
conforme parágrafo único do artigo 1.804 do Código Civil.

A renúncia pode ser:

a) “abdicativa”: é o ato unilateral simples e puro repelir a herança, ocorre


quando o declarante se manifesta de maneira simples, no sentido de não
aceitar a herança ou do legado, sendo a sua cota parte devolvida ao monte
hereditário para posterior a partilha entre os herdeiros restantes na mesma
classe.
A renúncia retroage ao momento da abertura da sucessão de forma que o
renunciante é considerado como se jamais houvesse recebido herança e, em
vista disso, não se equipara a uma transmissão de bens, motivo pelo qual a
renúncia gratuita não se equipara a alienação.

Nessa hipótese, por não ocorrer qualquer efeito patrimonial, o renunciante


não está sujeito a pagar ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis
e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos). Tampouco haverá efeitos na
esfera do imposto de renda e não há sequer obrigatoriedade de informar a
renúncia na declaração anual, cabendo aos herdeiros beneficiados apontar
os bens e direitos em suas respectivas declarações, com as informações
correspondentes.

No caso de renúncia abdicativa, ou seja, em favor do monte e retroage à


data do óbito, afastando o fato gerador do imposto “inter vivos”, incidindo
somente o tributo causa mortis. TJ/MG, AI 1.0388.16.001904-7/001, julg.
17/10/2017.

Tem-se na renúncia abdicativa, o direito de acrescer, nos termos do artigo


1.810 do Código Civil: “Na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce
à dos outros herdeiros da mesma classe e, sendo ele o único desta, devolve-
se aos da subsequente”.

b) translativa, “em favor de”, ou seja, beneficiando alguém específico

A hipótese da renúncia translativa se dá quando o renunciante indica para


quem deverá ser transmitido o bem ou direito.

A regra, portanto, é que o renunciante não pode eleger um beneficiário


específico, pois o quinhão que lhe pertenceria retorna para o monte mor,
sendo transferido aos outros herdeiros da mesma classe. E isto porque,
quem renuncia, renuncia a tudo, não pode renunciar parte, conforme
limitação do art. 1808 CC, não podendo apontar uma pessoa específica para
se beneficiar do seu quinhão.
Dessa forma, a renúncia translativa se equipara a uma cessão de direito
hereditário a título gratuito, um contrato, no qual o cedente se obriga a
transferir os direitos hereditários, em favor de terceiro.

No entanto, para ceder seus direitos sucessórios é necessário, antes, aceitar


a herança. Nessa hipótese, haverá incidência do ITCMD (Imposto sobre
Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos) no
recebimento da herança.

No momento da cessão do direito incidirá novamente ITCMD (Imposto


sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos),
se o ato for a título gratuito. Se a cessão for a título oneroso e se tratar de
imóvel, incidirá o ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis).

Além disso, o cedente deve informar a cessão em sua Declaração de Bens e


Direitos e praticar todos os demais atos próprios decorrentes da alienação
de bens e direitos, apurando o ganho de capital de acordo com as normas
previstas para essa operação.

Requisitos da renúncia:

Capacidade jurídica do renunciante - deve haver capacidade jurídica


de fato e negocial, especificamente, aquela que abrange o poder de
dispor de bens imóveis;

Outorga conjugal? Art. 1647 CC – Será necessária a anuência do


cônjuge, se o renunciante for casado, exceto no regime de separação de
bens precisara da autorização do cônjuge, ou seja, haverá necessidade
de outorga conjugal, exceto para o regime de separação total de bens.

Ato solene: forma prescrita – escritura pública ou termo judicial. Nos


termos do art. 1.806 do Código Civil, “a renúncia da herança deve
constar expressamente de instrumento público ou termo judicial”;

Somente expressa, não há renúncia tácita;

Pura, simples e total, sem condição ou termo;

Não realização de atos que importem em aceitação;


Ocorre após a abertura da sucessão;

Efeitos da renúncia

O renunciante é tratado como se nunca tivesse existido;

Efeito Ex tunc: a renúncia retroage até a data da abertura da sucessão;

REGRA: O quinhão do renunciante “retorna à herança”, exceto em


caso de renúncia translativa

A herança é irretratável pois os efeitos retroagem até a data da


abertura da sucessão e tramite os bens para os demais herdeiros,
assim torna-se um ato perfeito não sendo possível alterar depois. A
renúncia é irretratável, irrevogável e definitiva – art. 1.812 CC;

Os descendentes do renunciante não têm direito de representação (art.


1.811, CC), pois o renunciante é tratado como se nunca tivesse existido
para a relação jurídica de transmissão de bens hereditários;

O renunciante pode aceitar legado (Art. 1.808, § 1º, CC), podendo


renunciar a herança e aceitar o legado ou rejeitar o legado e aceitar a
herança;

Não pode prejudicar os credores, se a renúncia for prejudicar os


credores estes poderão aceitá-la em nome do renunciante.

Como se pode observar, ninguém é obrigado a aceitar uma herança ou


legado, sondo possível repudiar desde cumpridos os requisitos
apresentados.

Referência bibliográfica

Gonçalves, Carlos Roberto, Direito Civil Brasileiro 7- Direitos das Sucessões


11º edição, Saraiva, 2017.
Disponível em: https://claudiamaraviegas.jusbrasil.com.br/artigos/939712551/a-renuncia-da-heranca-
ou-legado-e-seus-efeitos-juridicos-renunciei-nesse-caso-pagarei-tributos

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