A renúncia da herança ou legado e seus efeitos jurídicos:
renunciei, nesse caso, pagarei tributos?
A renúncia é ato unilateral manifestado pelo herdeiro ou legatário
renunciante, no sentido de abdicar, repelir, não aceitar o direito de receber a herança ou o legado.
No momento em que a o herdeiro renuncia à herança que tem direito, ele é
considerado como nunca tivesse existido para o direito das sucessões, sendo que estes efeitos retroagem até a data da morte do autor da herança, conforme parágrafo único do artigo 1.804 do Código Civil.
A renúncia pode ser:
a) “abdicativa”: é o ato unilateral simples e puro repelir a herança, ocorre
quando o declarante se manifesta de maneira simples, no sentido de não aceitar a herança ou do legado, sendo a sua cota parte devolvida ao monte hereditário para posterior a partilha entre os herdeiros restantes na mesma classe. A renúncia retroage ao momento da abertura da sucessão de forma que o renunciante é considerado como se jamais houvesse recebido herança e, em vista disso, não se equipara a uma transmissão de bens, motivo pelo qual a renúncia gratuita não se equipara a alienação.
Nessa hipótese, por não ocorrer qualquer efeito patrimonial, o renunciante
não está sujeito a pagar ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos). Tampouco haverá efeitos na esfera do imposto de renda e não há sequer obrigatoriedade de informar a renúncia na declaração anual, cabendo aos herdeiros beneficiados apontar os bens e direitos em suas respectivas declarações, com as informações correspondentes.
No caso de renúncia abdicativa, ou seja, em favor do monte e retroage à
data do óbito, afastando o fato gerador do imposto “inter vivos”, incidindo somente o tributo causa mortis. TJ/MG, AI 1.0388.16.001904-7/001, julg. 17/10/2017.
Tem-se na renúncia abdicativa, o direito de acrescer, nos termos do artigo
1.810 do Código Civil: “Na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce à dos outros herdeiros da mesma classe e, sendo ele o único desta, devolve- se aos da subsequente”.
b) translativa, “em favor de”, ou seja, beneficiando alguém específico
A hipótese da renúncia translativa se dá quando o renunciante indica para
quem deverá ser transmitido o bem ou direito.
A regra, portanto, é que o renunciante não pode eleger um beneficiário
específico, pois o quinhão que lhe pertenceria retorna para o monte mor, sendo transferido aos outros herdeiros da mesma classe. E isto porque, quem renuncia, renuncia a tudo, não pode renunciar parte, conforme limitação do art. 1808 CC, não podendo apontar uma pessoa específica para se beneficiar do seu quinhão. Dessa forma, a renúncia translativa se equipara a uma cessão de direito hereditário a título gratuito, um contrato, no qual o cedente se obriga a transferir os direitos hereditários, em favor de terceiro.
No entanto, para ceder seus direitos sucessórios é necessário, antes, aceitar
a herança. Nessa hipótese, haverá incidência do ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos) no recebimento da herança.
No momento da cessão do direito incidirá novamente ITCMD (Imposto
sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos), se o ato for a título gratuito. Se a cessão for a título oneroso e se tratar de imóvel, incidirá o ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis).
Além disso, o cedente deve informar a cessão em sua Declaração de Bens e
Direitos e praticar todos os demais atos próprios decorrentes da alienação de bens e direitos, apurando o ganho de capital de acordo com as normas previstas para essa operação.
Requisitos da renúncia:
Capacidade jurídica do renunciante - deve haver capacidade jurídica
de fato e negocial, especificamente, aquela que abrange o poder de dispor de bens imóveis;
Outorga conjugal? Art. 1647 CC – Será necessária a anuência do
cônjuge, se o renunciante for casado, exceto no regime de separação de bens precisara da autorização do cônjuge, ou seja, haverá necessidade de outorga conjugal, exceto para o regime de separação total de bens.
Ato solene: forma prescrita – escritura pública ou termo judicial. Nos
termos do art. 1.806 do Código Civil, “a renúncia da herança deve constar expressamente de instrumento público ou termo judicial”;
Somente expressa, não há renúncia tácita;
Pura, simples e total, sem condição ou termo;
Não realização de atos que importem em aceitação;
Ocorre após a abertura da sucessão;
Efeitos da renúncia
O renunciante é tratado como se nunca tivesse existido;
Efeito Ex tunc: a renúncia retroage até a data da abertura da sucessão;
REGRA: O quinhão do renunciante “retorna à herança”, exceto em
caso de renúncia translativa
A herança é irretratável pois os efeitos retroagem até a data da
abertura da sucessão e tramite os bens para os demais herdeiros, assim torna-se um ato perfeito não sendo possível alterar depois. A renúncia é irretratável, irrevogável e definitiva – art. 1.812 CC;
Os descendentes do renunciante não têm direito de representação (art.
1.811, CC), pois o renunciante é tratado como se nunca tivesse existido para a relação jurídica de transmissão de bens hereditários;
O renunciante pode aceitar legado (Art. 1.808, § 1º, CC), podendo
renunciar a herança e aceitar o legado ou rejeitar o legado e aceitar a herança;
Não pode prejudicar os credores, se a renúncia for prejudicar os
credores estes poderão aceitá-la em nome do renunciante.
Como se pode observar, ninguém é obrigado a aceitar uma herança ou
legado, sondo possível repudiar desde cumpridos os requisitos apresentados.
Referência bibliográfica
Gonçalves, Carlos Roberto, Direito Civil Brasileiro 7- Direitos das Sucessões