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MATÉRIA COMPILADA DE TEORIA GERAL DO DIREITO CÍVIL 1

1º SEMESTRE
MATERIA DE TEORIA DO DIREITO CIVIL 1
COMPILADO POR: MÁRIO GALANGUNGA

CONCEITO E ÂMBITO DO DIREITO CIVIL


Direito civil
O direito civil é um ramo do direito privado (e principal disciplina dele) e esse, por sua vez, trata-se do conjunto
de normas jurídicas que regularizam as relações entre particulares (relações privadas).

 Direito privado e direito publico

Estaríamos perante uma norma de direito público, quando o fim da norma fosse a tutela de um interesse
público, isto é, de um interesse da colectividade, ou seja todo o direito público visa proteger interesse públicos.

Fala-se do direito privado quando a norma visa tutelar ou satisfazer interesses individuais, isto é, interesses
dos particulares como tal. A relação jurídica é de direito privado se nela intervêm pessoas particulares ou o
estado mas este não actua no exercício do seu poder de autoridade. É de direito público a relação quando um
dos sujeitos, pelo menos, o estado (ou outro ente público), nela intervenha no exercício do seu poder de
autoridade(ius imperius).

 DIREITO PÚBLICO:
1. DIREITO CONSTITUCIONAL
2. DIREITO PENAL
3. DIREITO ADMINISTRATIVO
4. DIREITO FINANCEIRO
5. DIREITO FISCAL
6. DIREITO INTERNACIONAL
 DIREITO PRIVADO
1. COMUM: DIREITO CÍVIL
2. ESPECIAIS: DIREITO DO TRABALHO; DIREITO DE FAMILIA; DIREITO COMERCIAL.

O direito civil regula, porém, a generalidade das relações estabelecidas entre particulares, na sua vida de 2
relação; por isso se caracteriza como direito privado comum.

A classificação germânica e sua crítica


E ela sistematiza o direito civil em seguintes quatro divisões: direito das obrigações, direito das coisas (ou
direitos reais), direito da família* e direito das sucessões.

Classificação germânica peca por ser incompleta por não abranger toda a matéria do direito civil. Assim, nela
não há lugar para os direitos da personalidade ou para os direitos dos membros das pessoas colectivas
enquanto tais (direitos associativos), para referir alguns dos pontos mais significativos.

Importância do estudo do Direito Civil

O reconhecimento da grande relevância do estudo do direito civil surge como mero corolário da importância e
extensão das relações jurídicas por ele regidas. A teoria geral do direito civil, para além do seu grande interesse
dogmático, assume uma marcada importância na formação dos juristas a técnica da relação jurídica e as suas
linhas mestras são ainda utilizadas no direito publico.

FONTES DO DIREITO CIVIL


 A lei art.1 código civil
 Assentos art.8 nº3 código civil
 Os usos art.3 código civil
 Equidade art.4 do código civil
 Costume art.7 Constituição da República de Angola
 A doutrina

Antecedentes do Código Civil


O código de napoleão: a primeira codificação que também é conhecido como código civil francês de 1804, este
código repartia-se em 3 livros:
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 LIVRO I- das pessoas,


 livro II- dos bens das diversas modificações de propriedade;
 LIVRO III- das diferentes formas por que se adquire a propriedade

Código civil alemão


O código civil alemão, conhecido pela sigla BGB(buergerliches gesetzbuch), entrou em vigor em 1/1/1900 após
ter sido promulgado em 1896, este código foi bem recebido na época da sua promulgação devido as suas
qualidades formais foi adoptado no japão e na china; continha 5 livros:

 LIVRO I- partes gerais


 LIVRO II- direito das relações obrigacionais
 LIVRO III- direito das coisas
 LIVRO IV- direito da família.
 LIVRO V- direito das sucessões.

No século XX muitos foram os países que substituíram as suas codificações do século XIX por novos códigos,
como é o caso de Portugal referindo-se então ao código civil português de 1966 o que rege actualmente em
Angola.

O código de 1966 segue a sistematização germânica do direito civil. Cada um dos grupos de normas dessa
classificação integra um livro, acrescendo-lhes uma parte geral, como elemento introdutório. Assim se
completam os cinco livros que constituem a divisão básica do código: «parte geral», «direito das obrigações»,
«direito das coisas», «direito da família» e «direito das sucessões».

A Reforma do Código Civil


Ressalta a instituição do divórcio em relação ao casamento canónico. Se implementou diplomas básicos para
3
as principais modalidades de arrendamento: urbano, rural e florestal. No direito de família se implementou
fixação da maioridade aos 18 anos; Diplomas que tratam de matérias de direito civil, tradicionalmente não
contidas, no sistema jurídico português, no código civil, ou de que este apenas define linhas gerais: código de
registo civil, código predial; Diplomas relativos ao registo de automóveis, código do notariado, lei organização
tutelar de menores e o código do direito de autor e dos direitos conexos, código das sociedades comerciais,
código cooperativo.

INSTITUTOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO CIVIL PORTUGUÊS


 3.1.1. Direito das obrigações
 3.1.2. Direito das coisas
 1.3. Direito da família
 Direito das Sucessões
1. Direito das obrigações

O Direito das Obrigações rege uma área muito extensa e significativa das relações jurídicas civis – ditas
obrigacionais ou de crédito – que, no plano económico, correspondem fundamentalmente às actividades de
trocas de bens e de serviços.

Regulação dos contratos

 Os contratos de compra e venda (arts. 874.º a 939.º), doação (arts. 940.º a 979.º), sociedade (arts.
980.º a 1021.º), locação (arts. 1022.º a 1128.º 2), comodato (arts. 1129.º a 1141.º), mútuo (arts. 1142.º
a 1151.º), trabalho (arts. 1152.º e 1153.º), prestação de serviço (arts. 1154.º a 1156.º 3), mandato (arts.
1157.º a 1184.º), depósito (arts. 1185.º a 1206.º).

A matéria das obrigações por dois títulos: «Das Obrigações em Geral» e «Dos Contratos em Especial». No
Título I contém-se o regime geral da relação obrigacional; o Título II estatui sucessivamente o regime geral (em
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regra supletivo) dos contratos acima enunciados, aqueles que, pela sua importância e frequência na vida
prática, ganharam uma feição típica, firmada em longa tradição jurídica.

2. Direito das Coisas

O Direito das Coisas estabelece justamente o regime da repartição das coisas e da sua atribuição a
determinada pessoa, reconhecendo a esta o poder jurídico de, mediante o aproveitamento das suas utilidades,
satisfazer necessidades próprias e prosseguir certos interesses.

Assim, enquanto no Direito das Obrigações o credor vê o seu interesse satisfeito através da conduta a que o
devedor está vinculado, no Direito das Coisas esse interesse é realizado mediante a actuação daquele a quem
o direito pertence, ao agir imediatamente sobre a coisa (objecto desse direito), exercendo as faculdades
conferidas pela lei.

Categorias do direito real

Os direitos reais de gozo caracterizam-se por assegurarem ao seu titular o uso ou fruição das coisas sobre
que incidem. São actualmente admitidos como direitos reais de gozo, no Código Civil, a posse, o direito de
propriedade, a propriedade ou condomínio horizontal, o direito de usufruto, o direito de uso e habitação, o
direito de superfície, etc.

Os direitos reais de garantia concedem ao seu titular (o credor numa relação obrigacional) o poder de se
fazer pagar pelo valor de uma coisa ou dos seus rendimentos, com preferência sobre outros credores.

1. Os direitos reais de garantia vêm regulados no Livro das Obrigações (arts. 656.º a 761.º . São direitos
reais de garantia a consignação de rendimentos, o penhor, a hipoteca, os privilégios creditórios, o
direito de retenção e, em certa medida, a penhora e o arresto.
2. Os direitos reais de aquisição consistem no poder que o seu titular tem de, mediante o exercício das
faculdades que os integram, adquirir um direito real (em geral, de gozo) sobre certa coisa. Exemplo
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típico é o do direito de preferência legal ou convencional (arts. 414.º e 421.º do C.Civ.), este apenas
quando as partes lhe hajam conferido eficácia real
3. Direito de família

Delimita-se a partir das fontes donde emergem as relações jurídicas familiares daí, o facto de o primeiro dos
preceitos do correspondente Livro (art. 1576.º).

Neste domínio, há ainda a considerar a relevância jurídica atribuída à união de facto (art. 2020.º do C.Civ. e
Lei n.º 7/2001, de 11 de Maio), à relação de vida em comum (Lei n.º 6/2001, de 11 de Maio) e ao
apadrinhamento civil (Lei n.º 103/2009, de 31 de Maio).

Fontes

 Casamento art. 1577 código civil


 A filiação art. 1578
 Adopção art. 1973
 Afinidade 1584
 União de facto art 2020
 Parentesco art. 1581.

4. Direito das Sucessões

A fonte da relação sucessória é a morte de certa pessoa, conjugada, ou não, com um acto jurídico praticado
pela própria pessoa falecida (testamento art. 2179.º do Código Civil) ou com intervenção dela (pacto ou contrato
sucessório, arts. 2028.º, 946.º e 1700.º e seguintes do mesmo diploma legal);

A morte não determina, em regra, a extinção dos direitos e vinculações de conteúdo patrimonial de que o
falecido era titular (arts. 2024.º e 2025.º do C.Civ.), tornando-se, assim, necessário dar-lhes destino.
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Tipos de sucessões
Legal

 A sucessão legitimária caracteriza-se, fundamentalmente, por atribuir a certos familiares do de cuius


– sucessores legitimários – o direito a uma parte dos bens da herança, sem o falecido o poder limitar.
A parte da herança atribuída aos legitimários designa-se por legítima ou quota indisponível. A restante
diz-se quota disponível. (art. 2157.º)
 A sucessão legítima tem lugar quando o autor da herança não dispôs validamente, sendo-lhe possível
fazê-lo, de toda a herança ou de toda ou de parte da quota disponível. Nesse caso, a lei estabelece
vários grupos de sucessíveis, denominados classes, para serem chamados à herança segundo a
ordem estatuída no art. 2133.º
 A sucessão testamentária resulta do testamento, negócio jurídico unilateral pelo qual uma pessoa
dispõe, para além da sua morte, de todos os seus bens ou de parte deles (art. 2179.º, n.º 1).
 A sucessão contratual funda-se num contrato feito em vida do futuro de cuius, correntemente
chamado contrato ou pacto sucessório. Daí, esta forma de sucessão designar-se também por pactícia.

Principios fundamentais do direito civil


 A responsabilidade civil
 A boa fé
 O abuso do direito
 O respeito pela propriedade
 A família como instituição fundamental
 Fenómeno sucessório

Todo qualquer sistema jurídico antes mesmo de criarem as normas é importante ter encontra os princípios
porque são eles que vão nos dizer os valores axiológicos para as normas jurídicas.

Reconhecimento da pessoa humana 5


Art. 1 e o art. 31.1 da nossa carta magna o estado protege a dignidade humana e não pode ser violado.;
declaração dos direitos humanos também faz menção disso art. 6.

É visto em base de dois elementos essenciais que são:

Personalidade jurídica: todo ser humano é titular de direito( tem direitos e deveres), o art 66 do código civil
faz menção do mesmo , a pessoa ganha a personalidade jurídica ao nascer com vida, e é reconhecido como
pessoa.

A personalidade colectiva: é quando um colectivo de pessoas é criada e conforme a lei, e associações,


fundações, sociedades comerciais.

Direito de personalidade: são os que têm que ver com a pessoa ou seja estão intimamente ligados as
pessoas. é muito mais vasto e devemos saber que estão divididos em 2 ramos o ius personalidade geral, e o
especial.

As características da personalidade

1. Não patrimoniais
2. Absolutos
3. Intransmissíveis
4. Indisponíveis
5. Gozam de proteção penal art 407, homicídio 349 CP
Ilimitáveis- em regra geral sim mas há algumas execepcões : exigência da vida em comum e terá de
limitar a sua liberadade, direito de imagem art 79

 Principio da autonomia privada


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É o principio fundamental para o direito civil porque todos os actos civis anda ligados a ela, e os particulares
têm a liberdade com quem vão poder relacionar-se e também a toda vida social do ser humano.

É vista por 2 perspetiva:

 Ampla. Relações que no ponto de vista material ou jurídico vão transcender as ralações jurídicas, e o
individuo saberá qual relação se enquadrar.
 Restrito: somente no campo jurídico isto é liberdade que o individuo tem de praticar a sua vida no
âmbito jurídico.

A liberdade contratual vai consistir em:

A liberdade de celebração é a possibilidade dos particulares escolher com quem vão celebrar. Liberdade de
modelação do conteúdo dos contratos as partes vão abordam conteúdo do contrato art.405. uma das
limitações é a boa fé art 762/2 Código civil.

 Principio da responsabilidade civil

Responsabilidade civil é a necessidade imposta pela lei art 483 código civil a quem causa prejuízo na esfera
jurídica de outrem de poder repor a atuação tal como a lesão não tivesse ocorrido. Por meio dele que aplicamos
sanção aos indivíduos que causarem prejuízos na esfera jurídica)ações ou omissões.

Modos de reparação de dano

 A doutrina aponta a natura.


 Reparação por mero equivalente.566 código civil
 A indemnização por dinheiro tem dois aspectos:

Dano emergente: dano que causamos a causa concreta.art564cc


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Lacuna cessante

A responsabilidade civil tem 3 elementos

 Contratual
 Extracontratual
 Pré-contratual
 Principio da boa fé

O principio da boa fé é um dos princípios preponderante do direito porque toda a actuação do homem deve
pautar pelo principio da boa fé nos termos do art 227,1; e 483 do código civil sanciona a boa fé.

Subdivisão da boa fé

Objectiva: ao principio legal que dá amparo a boa fé; art 272 contrato de condição obriga a cumprir ; o art 76.2
da realce ao principio da boa fé .

Subjetiva: são conhecimentos ou não na manifestação da boa fé; art 119, 243 código civil.

 Principio do abuso do direito

É legitimo, há uma ligação intima com o principio da boa fé, porque quando estamos a violar a boa fé também
estamos a abusar dos nossos direitos, este principio esta regulado nos termos do artigo 334 do código civil.

Institutos do abuso do direito

ECEPTDIOLI: exceção do dolo

VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM: estabelece que nunca devemos agir contra um facto criado por nós
mesmo(contraditório).
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SUPRESIO E SUPRECTIO: ocorre quando um determinado sujeito não utiliza o efeito jurídico de uma ação e
um determinado tempo ficara com o direito.

TUO QUOQUE: (para ti também): quando o legislador cria uma norma jurídica que lhe pode servir.

 Principio da família

É a instituição mais importante de uma determinada sociedade e sendo assim carece de uma proteção, e é o
primeiro socializador. Até em 1988 Angola tinha um regime português mas já no mesmo ano se promulgou a
1/88 lei que aprova o código de família, é a primeira legislação criada em Angola.

Modo de constituição

 Casamento art 20 CF
 Parentesco 9 CF
 União de facto 112 CF
 Afinidade 14 CF
 Adoção 197

A RELAÇÃO JURÍDICA
Primeira noção de relação jurídica, tomando a expressão num sentido amplo, como «toda a relação da vida
social relevante para o Direito, isto é, produtiva de efeitos jurídicos e, portanto, disciplinada pelo Direito».

No sentido restrito ou técnico designa-se por relação jurídica toda a relação da vida social disciplinada pelo
direito, mediante atribuição a uma pessoa de um direito subjetivo e a imposição a outra pessoa de um dever
jurídico ou de uma sujeição.

Distinção da relação jurídica


Abstrata : é uma relação virtual que equivale a determinado tipo como ele está regulamentado na lei, quer
dizer, corresponde ao tipo negocial legal. 7

Ex: quando falamos da relação pela qual o inquilino deve pagar ao senhorio, ou o comprador deve pagar ao
vendedor o preço do bem que adquiriu.

Concreto : é uma relação jurídica individualizada em que as regras da relação em sentido abstraco ganham
vida num caso concreto, mediante a aplicação a este caso, concreto do tipo, regulamentado na lei.

Exemplo: Situação em que o senhorio A pode exigir do inquilino B a renda de 20.000.00, pelo arrendamento.

Direito subjetivo e dever jurídico

O direito subjetivo manifesta-se no sujeito activo da relação.

O dever jurídico manifesta-se no sujeito passivo .

O direito subjetivo abrange duas esferas que são:

Licitude. Que é legal ou está em conformidade com a lei, legalidade.

Pretensão: é a aptidão que o direito subjectivo oferece ao seu titular de recorrer a via judicial, a fim de obter
do sujeito passivo a pretensão que lhe é devida.

Direito potestativo

É o direito sem contestação, ou seja é a prerrogativa jurídica de impor a outrem, unilateralmente, a sujeição de
seu exercício.

Mas no seu exercício não pode exceder os limites do uso e costumes, da boa fé e sociais necessários à paz
social, sob pena de configurar-se ao abuso de direito; assim o empregador não pode submeter o empregado
demitido a situações que o humilhem perante o mercado de trabalho.
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Os direitos potestativos podem ser:

 Constitutivos: quando produzem constituição de uma relação jurídica por um acto unilateral de seu
titular.
 Modificativos: quando tendem a produzir uma simples modificação numa relação jurídica que
continuará a existir.
 Extintivos: quando produzem a extinção de uma relação jurídica existente.

Distinção do instituto jurídico e da relação jurídica

 Instituto jurídico: entende-se o conjunto de normas legais que estabelecem a disciplina de uma serie
de relações jurídicas abstractas.
 A relação jurídica constitui a matéria sobre que incide a regulamentação.

ESFERA JURÍDICA E PATRIMÓNIO


ESTADO PESSOAL
Esfera jurídica entende-se o conjunto de direitos e vinculações de que certa pessoa é titular e a que está
ligada em determinado momento.

Divisões da esfera jurídica


Hemisfério patrimonial vem a ser o conjunto de direitos e vinculações, pertencentes a certa pessoa em
determinado momento, suscetíveis de avaliação em dinheiro.

O hemisfério não patrimonial será constituído por todos os demais direitos e vinculações dessa pessoa.

Património

O conceito de matrimonio traduz a soma ou conjunto das relações jurídicas avaliáveis em dinheiro,
pertencentes a uma pessoa.
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Em sentido jurídico: o património identifica-se com o hemisfério patrimonial, ou seja, é também o conjunto de
direitos e vinculações pertencentes a determinada pessoa e susceptíveis de avaliação em dinheiro.

Em sentido material: o património entende-se o conjunto de bens pertencentes a certa pessoa em


determinado momento e avaliáveis em dinheiro.

Funções do património

 Função interna: consiste em servir de suporte material de vida do seu titular; ou seja a função interna
do património desenvolve-se, assim, neste sentido de suporte material de vida e, enquanto tal, constitui
extensão natural da personalidade jurídica.

 Função externa : O património aparece aqui fundamentalmente a atuar quanto a pessoas diversas do
seu titular; ou o património tem também a função de servir de garantia comum dos direitos dos credores
do seu titular(art. 601.º do C.Civ).

Património
O conceito de matrimonio traduz a soma ou conjunto das relações jurídicas avaliáveis em dinheiro,
pertencentes a uma pessoa.

Em sentido jurídico: o património identifica-se com o hemisfério patrimonial, ou seja, é também o conjunto de
direitos e vinculações pertencentes a determinada pessoa e susceptíveis de avaliação em dinheiro.

Em sentido material: o património entende-se o conjunto de bens pertencentes a certa pessoa em


determinado momento e avaliáveis em dinheiro.

Funções do património
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 Função interna: consiste em servir de suporte material de vida do seu titular; ou seja a função interna
do património desenvolve-se, assim, neste sentido de suporte material de vida e, enquanto tal, constitui
extensão natural da personalidade jurídica.
 Função externa : O património aparece aqui fundamentalmente a atuar quanto a pessoas diversas do
seu titular; ou o património tem também a função de servir de garantia comum dos direitos dos credores
do seu titular(art. 601.º do C.Civ).

Tipos de patrimonio
Património autonomo
Os patrimónios autónomos caracterizam-se por um regime especial de responsabilidade por dívidas.

a) O património autónomo responde por dívidas próprias, ou seja:

1. Só o património autónomo responde pelas suas dívidas;

b) O património autónomo não se confunde com o património geral, pelo que não se extinguem, por confusão,
os créditos e dívidas do seu titular, no âmbito desse património.

Património colectivo
É quandoo existe uma massa patrimonial pertencente a mais do que uma pessoa. Na titularidade de cada uma
dessas pessoas há apenas um direito a esse conjunto patrimonial, como um todo, direito esse, de resto, detido
em comum com outras pessoas e limitado pelo direito destas.

DESCRIÇÃO DA RELAÇÃO JURÍDICA


Relação jurídica é o vínculo estabelecido entre duas ou mais pessoas. Esse vínculo envolve a atribuição, a
uma dessas pessoas, de um poder de exigir de outra certa conduta, sendo certo que o Direito assegura a
efectiva realização do interesse em função do qual esse poder é atribuído. 9
Relação jurídica é o vínculo que existe entre, pelos menos, duas pessoas, pelo qual uma delas tem o poder
jurídico de exigir de outra uma conduta.

ELEMENTOS DA RELAÇÃO JURÍDICA

 Sujeitos
 Objecto
 Facto
 Garantia

SUJEITO

Relação jurídica desenvolve-se sempre entre, pelo menos, duas pessoas, podendo naturalmente estabelecer-
se entre muitas mais. Mas, sejam duas ou mais as pessoas implicadas na relação jurídica, os seus sujeitos
são sempre dois – o sujeito activo e o sujeito passivo.

Diz-se sujeito activo o titular do direit subjetivo.

Sujeito passivo é aquele que fica ligado à adoção de uma conduta. Ou é adstrito a vinculação.

 O OBJECTO

É tudo aquilo sobre que incindem os poderes do titular activo da relação, ou seja, o objecto é o elemento sobre
o qual recaem os direitos e deveres.

Podem ser:

Imediato: quando os poderes do titular activo incindem diretamente sobre o bem, sem que se interponha
qualquer mediador.
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Exemplo: quando digo que tenho direito aos meus livros , expresso um poder direito. Os livros são objetos
imediato.

Mediato: quando os poderes do titular incidem diretamente sobre o bem.

Por exemplo: quando digo que tenho direito à entrega de um livro que emprestei, e me é devido, este constitui
o objeto mediato do meu direito.

Possíveis objetos da relação jurídica.

Pessoas: só podem ser objecto da relação jurídica nos determinados poderes-deveres ou poderes funcionais,
que não são verdadeiros subjectivos. Exemplo: o poder paternal, o poder tutelar.

Prestações: é a conduta a que o devedor esta obrigado. Por exemplo: nos direitos de crédito, o objecto não é
rigorosamente uma coisa, mas sim o comportamento do devedor.

Coisa corpóreas: são coisas físicas, ou seja, aquelas que podem ser aprendidos pelos sentimentos. Ex:
propriedade sobre um automóvel.

Coisas incorpóreas: são valores da natureza, não podem ser apreendidos pelos sentidos. São concebidos
apenas pelo espirito.

Direito subjetivo: podem ser objeto da relação juridica. Ex: a penhora de direitos(acto de apreensão judicial
dos bens do devedor em ação executiva. Os bens são entregues a um depositário nomeado pelo juiz no
despacho que ordena a penhora).

Facto jurídico

É todo o ato humano ou conhecimento natural juridicamente relevante, e essa relevância jurídica traduz-se na
produção de efeitos jurídicos.
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Classificação dos factos

Factos naturais ou jurídicos: decorrem da simples manifestação da natureza. Ex: o nascimento, maioridade.

Factos humanos: decorre da actividade humana, modificam, criam e extinguem direitos.

Factos jurídicos voluntários ou actos jurídicos: são manifestações de vontade.

Esses actos podem ser lícitos e ilícitos.

Garantia

É o conjunto de providências coercitivas, postas à disposição do titular activo de uma relação jurídica, em
ordem a obter satisfação do seu direito, lesado por um obrigado que o infringiu ou ameaça infringir.

Negócio jurídico
Negócio jurídico é aquela espécie de acto jurídico que, além de se originar de um acto de vontade, implica
na declaração expressa da vontade, instauradora de uma relação entre dois ou mais sujeitos, tendo em vista
um objetivo protegido pelo ordenamento jurídico´´(Reale.M introdução ao estudo do direito, pg.82.)

Classificação

De acordo com as manifestação da vontade das partes:

 Negócios unilaterais: vontade manifestada apenas por uma pessoa.


 Negócios bilaterais: em que há duas manifestações de vontade.
 Negócios plurilaterais: são negócios jurídicos que envolvem mais de duas partes. Ex: contrato de
sociedade.

De acordo com as vantagens que produzem:


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 Negócios jurídicos gratuitos: são aqueles em que uma parte tem a vantagem.
 Negócios jurídicos onerosos: são aqueles negócios praticados quando há um sacrifício ou vantagem
para as duas partes em um negocio. Ex: compra e venda.

De acordo com o tempo para a produção de seus efeitos:

Negócio jurídico intervivos: são aqueles que produzem os seus efeitos desde o momento praticado, durante
a vida dos praticantes do negócio. Ex : compra e venda.

Negócio jurídico mortis causa: são aqueles em que os efeitos acontecem após a morte da parte. Ex: quando
se faz um testamento. Seu efeito só se produz com a morte do de cujus.

De acordo com as formalidades:

 Negócios jurídicos formais: são aqueles que para terem validade precisam seguir a forma que foi
prescrita em lei.
 Negócios não formais: são aqueles que não precisam de nenhuma formalidade para praticar o
negócio.

Elementos para existência do negócio jurídico.

 Plano de existência
 Plano da validade
 Plano da eficácia

Elementos acidentais

 Condição
 Termo
 Vícios de consentimento 11
 Erro
 Dolo
 Coação
 Simulação
 Fraude

Pessoas.Capacidade Jurídica
Em termos jurídicos, pessoas são, pois, quaisquer entidades entre as quais se possam estabelecer relações
jurídicas, ou seja, por outras palavras, entidades a quem sejam imputáveis os poderes e as vinculações em
que o conteúdo da relação jurídica se analisa. Em suma, pessoa jurídica é toda a entidade que pode ser titular
de poderes e estar adstrita a vinculações.

Capacidade Juridica
Capacidade jurídica: é a aptidão para ser titular de um circulo maior ou menor , de relações juridícas ou seja
é a faculdade de ser titular de ser suejeito de relações juridícas( Mota Pinto e Pinto Monteiro, 2005).

A personalidade jurídica é inerente a capacidade jurídica. O art 67º do codigo cívil, traduz essa inerência ao
establecer que : As pessoas podem ser sujeitos de quaisquer relações jurídicas, salvo disposição legal em
contrário; nisto consiste a sua capacidade jurídica( TGDC pag.230).

Personalidade Jurídica
Consiste na aptidão para ser titular autónomo de relações jurídicas.

Personalidade: qualidade de ser pessoa.

Segundo o art 6º da Declaração Universal dos Direitos do Homem: Todos os indivíduos têm o direito ao
reconhecimento em todos os lugares de sua personalidade jurídica.
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Quando começa a personalidade jurídica?

Nos termos do artigo 66º do Cod. Civil, a personalidade adquire-se no momento do nascimento completo e
com vida .

Quando termina?

Nos termos do art 68º do Cod. Civil, a personalidade cessa com a morte.

Tipos de Capacidade Jurídica

 Capacidade de gozo art. 67º do Cod. Civil


 Capacidade de exercícios: é a idoneidade para actuar juridicamente, exercendo direitos ou
cumprindo deveres, adquirindo direitos ou assumindo obrigações...

Incapacidades
A incapacidade negocial de gozo provoca a nulidade.

Restrições de incapacidade jurídica negocial de gozo:

 Incapacidades nupciais arts. 24º,25º e 26º Cód. Da Fam).


 Incapacidade de testar dos menores não emancipados e dos interditos por anomalia psíquica( art
2198º do Cód. Civ).
 Incapacidade para emitir declaração de paternidade dos menores que não tenham a idade para contrair
casamento(art 174º do Cód. Da Fam.)

Incapacidades
Em principio todas as pessoas singulares têm capacidade de exercícios de direitos, e essa egra resulta no art
130º( efeitos da minoridade) e art 133º( efeitos da emancipação). A incapacidade negocial de exercício provoca
anulabilidade. Este suprimento de incapacidade é destinado pela representação legal e a assistência(Cód. Civ 12
arts 124º, 125º, nº2 e 153º).

As formas de suprimento das incapacidades


Instituto da representação legal (art 124º; suprimento da incapacidade de menores pelo poder paternal e ,
subsidiariamente pela tutela art 125º, nº 2), exemplo(pai, tutor).

Representação: é a forma de suprimento da incapacidade, traduzida em ser admitida a agir outra pessoa em
nome e no interesse do incapaz.

O instituto da assistência: tem lugar quando a lei admite o incapaz a agir mas exige o consentimento decerta
pessoa ou entidade.( exemplo o curador dos inabilitados)

Das incapacidades de exercícios em especial

DE MENORIDADE:
Ela abrange quaisquer negócio de natureza pessoal ou patrimonial(art 123º Cód. Civil, minoridade Conceito de
minoridade art 24º da lei constitucional. Convenção sobre o direito das crianças art 1º. Algumas excepções a
incapacidade de menores:

 Podem contrair validamente casamento art 2189º Cód. Civil.


 São validos os negócios relativos à profissão art . 127º, al c).
 Podem fazer testamento se emancipados art. 263º.

Suprimento:

A incapacidade de menor é suprido pelo instituto de representação.

Os meios de representação são:

Poder paternal art 130º, 131º, 137º Cód. De Fam


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COMPILADO POR: MÁRIO GALANGUNGA

A tutela meio normal do suprimento da autoridade paternal. Art 221ºç 236º,nº 1 Cód de Fam.

Tutor: órgão executivo da tutela, tem poderes de representação abrangendo, em principio, tal como o do pai
a generalidade da esfera jurídica do menor.

Visa assegurar o principio de proteção familiar.

Interdição
A incapacidade dos interditos esta regulada no art. 138 Cód. Civ, que nos diz .

Quem pode ser interdito?


Ela é aplicável apena aos maiores, pois os menores embora dementes, surdos mudos ou cegos estão
protegidos pela incapacidade de minoridade. Conforme previsto no Art. 138, nº 2 Cód. Civ. A interdição deve
ser requerida em juízo)artigo 140º), e a enumeração das pessoas que podem ser propor conta no art 141º do
Código Civil.

Como se supre a interdição?


A incapacidade de interditos é suprida pelo o instituto de representação legal, art 139 Cód. Civ.

Os interditos por anomalia psíquica estão desprovidos de capacidade para o casamento(arts 25º,al.a) de Cod
de Fam. E (2189 do Cód. Civ), e os imcapazes de interdição, anomalia psíquica ou demência notória estão
inibidos para o exercício de autoridade paternal(153, al. b).

A incapacidade de interdição termina com a cessação da incapacidade natural, torna-se necessário o


levantamento da interdição(art. 151.)

Incapacidade dos inabilitados


A inabilitação destina-se a semelhança da interdição. As pessoas sujeitas a inabilitação estão no art. 152º do
Cód. Civil que contempla 2 grupos: Apresentam característica de uma interdição mas sem gravidades para
13
serem representadas.

É constituído por pessoas que em virtude de determinantes vícios são incapazes de reagir conveniente o seu
património. O meio de suprir a inabilitação é o instituto da assistência art. 153º Cód. Civ, e que é o curador. A
inabilitação cessa quando é levantada a inabilitação art 155 Cód. Civ.

Incapacidade (ilegitimidade) conjugais São Restrições livres à actuação jurídica derivadas ao casamento.

A aplicação do principio da igualdade dos cônjuges(arts. 3º, 21º, 48º do Cód. Da Fam.) no domínio de alienação
dos bens do casal. Cada um dos cônjuges tema administração dos seus bens próprios(art. 54º, nº1 do Cód.
Da Fam.). Só podem ser alienados ou onerados com o acordo de ambos os cônjuges os bens previstos no art
56º. nº 2 als. a) e b) e nº 3º, bem como a disposição do arrendamento(art 57º Cód. De Fam.);

Como se supre a ilegitimidade conjugal?


A ilegitimidade supre-se pelo consentimento do outro cônjuge ( art 56º, nº 2, 57º e 59º do Cód. da Fam. ). Este
consentimento deve ser especial para cada acto está sujeito à forma exigida para a procuração(art 262º do
Cód. Cjv.)

Sanções da ilegitimidade conjugal:


Os actos praticados contra os dispostos nos nº 2 e 3 do art 56º (alienação ou oneração) e nos artigos 57º (
disposição do direito de arrendamento).

A incapacidade acidental
É considerada como varias hipóteses da falta ou vícios de vontade na declaração negocial art. 257º Cód. Civ.

Qual é a hipótese do art 257º?


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COMPILADO POR: MÁRIO GALANGUNGA

Abrange todos os casos em que a declaração negocial é feita por quem, devido qualquer causa(embriaguez,
estado hipnótico, intoxicação, delírio, ira, etc.) estiver transitoriamente incapacitado de se representar o sentido
dela ou não tenha o livre exercício de sua vontade.

Os actos são anuláveis desde que o facto seja notório ou conhecido do declaratário.

Capacidade das pessoas colectivas


O que é a pessoa coletiva?

São coleticvidades de pessoas ou complexos patrimoniais organizados em vista de um fim comum ou colectivo
que a lei ou ordenamento jurídico atribui a qualidade de sujeito de direito(Mota Pinto e Pinto Monteiro,2005). A
capacidade das pessoas colectivas está regulada no art 161º do Código Civil. As pessoas colectivas possuem
limites capacidade jurídica que sofre duas limitações de ordem geral:

A resultante do principio de especialidade do fim e resultante do facto de certas relações pressuporem a


personalidade singular(art 160º). A capacidade para o exercício de direitos sofre, porem uma limitação por
força doa art 161º Cód. Civil, porque estabelece uma incapacidade para o exercício de direito no que toca à
aquisição onerosa de bens imoveis.

Qual a sanção do nº 2 do artigo 161º?

Ai se fala de nulidade, no caso de falta de autorização do Governo e estamos perante uma ineficácia. O regime
de nulidade e de anulabilidade de negócios jurídicos consta nos artigos 285 e segs. A nulidade pode ser
invocada a todo tempo, por qualquer interessado e é insuscetível de confirmação. A anulabilidade so pode ser
arguida por certas pessoas , dentro de um ano, a contar de cessação do vicio que lhe serve de fundamento e
é sanável por confirmação.

ESFERA JURÍDICA E PATRIMÓNIO


ESTADO PESSOAL 14
Para se apreender a verdadeira posição da pessoa no campo jurídico, tem de se averiguar quais os direitos e
vinculações que em cada caso concretamente lhe cabem.

Esfera jurídica entende-se o conjunto de direitos e vinculações de que certa pessoa é titular e a que está ligada
em determinado momento.

Divisões da esfera jurídica


Hemisfério patrimonial vem a ser o conjunto de direitos e vinculações, pertencentes a certa pessoa em
determinado momento, suscetíveis de avaliação em dinheiro.

O hemisfério não patrimonial será constituído por todos os demais direitos e vinculações dessa pessoa.

INDIVIDUALIZAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DAS PESSOAS


``A identificação da posição das pessoas perante o Mundo do Direito basta-se com os conceitos de
personalidade, capacidade e legitimidade´´

Estado pessoal é definida como uma qualidade fundamental da pessoa na vida jurídica, relevante na
determinação da sua capacidade e de que depende a atribuição de uma massa predeterminada de direitos e
vinculações.

ESTADO CIVIL
Os estados pessoais, quando dependem de factos obrigatoriamente sujeitos a registo civil, chamam-se estados
civis.

RELEVÂNCIA DO ESTADO PESSOAL


Da investidura da pessoa em certo estado vai resultar, como é evidente, uma importante alteração da sua
esfera jurídica, por força da entrada de direitos que nela não existiam anteriormente, ele importa também
alterações da posição da pessoa no plano abstracto da sua capacidade.
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COMPILADO POR: MÁRIO GALANGUNGA

MODALIDADES DO ESTADO PESSOAL


No direito romano se distinguiam três estados pessoais :

 status libertatis
 status civitatis
 status familiae

a Lição de Paulo Cunha, sugerem-se ao menos mais duas: o status aetatis (posição da pessoa em função da
idade) e o status mentis (posição da pessoa em vista da sua situação mental).

INDIVIDUALIZAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DAS PESSOAS


A distinção entre as várias pessoas estabelece-se através do apuramento ou fixação dos caracteres que lhe
são próprios, que constituem a sua identidade, e que não existem nos demais. É o que se chama individuação,
ou apuramento da identidade.

Visto o problema na perspectiva de cada indivíduo, pode dizer-se que por identidade se entende o conjunto de
elementos pelos quais certa pessoa se distingue das demais.

INDIVIDUALIZAÇÃO
Consiste na selecção e fixação de um determinado número de caracteres que permitam traçar a identidade de
cada pessoa.

ELELMENTOS DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA


Elementos relevantes da individualização são aqueles que se apresentem como estáveis e práticos. Em poucas
palavras se explica a exigência de tais atributos e o seu sentido.

a) elementos naturais ou intrínsecos, que são os que existem, por efeito da natureza, na própria pessoa;
Exemplos característicos de elementos naturais relevantes são o sexo, a cor dos olhos, as impressões digitais
15
b) elementos circunstanciais (não naturais) ou extrínsecos, que são o resultado da acção do homem ou de
circunstâncias relacionadas, de modo estável, com a pessoa e a que a lei dá relevância jurídica. Na segunda
categoria integram-se as denominações, o estado pessoal e a naturalidade.

C) O elemento designado por denominação enquadra várias modalidades, sendo comum a todas a
circunstância de consistirem na atribuição, à pessoa, de uma designação de fantasia. A denominação
abrange:

o o nome civil : para as pessoas singulares; : tiliza-se a expressão nome civil para o contrapor
a outros elementos de individualização, como sejam o nome literário ou profissional.
o b) a firma: para os comerciantes, quer sejam pessoas singulares (comerciantes em nome
individual), quer colectivas (sociedades comerciais);
o c) a denominação para as demais pessoas colectivas.

SISTEMA JURÍDICO
Em termos jurídicos, pessoas são, pois, quaisquer entidades entre as quais se possam estabelecer relações
jurídicas, ou seja, por outras palavras, entidades a quem sejam imputáveis os poderes e as vinculações em
que o conteúdo da relação jurídica se analisa.

PERSONALIDADE JURIDICA
Consiste na aptidão para ser titular autónomo de relações jurídicas.

Personalidade: qualidade de ser pessoa.

Segundo o art 6º da Declaração Universal dos Direitos do Homem: Todos os indivíduos têm o direito ao
reconhecimento em todos os lugares de sua personalidade jurídica.

Requisitos da personalidade
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COMPILADO POR: MÁRIO GALANGUNGA

O Código Civil ocupa-se expressamente desta questão, dispondo no n.º 1 do seu art. 66.º que a personalidade
se adquire «no momento do nascimento completo e com vida». São, portanto, dois os requisitos da
personalidade singular: o nascimento completo e a vida.

Só o nado-vivo é pessoa jurídica, segundo o art. 66.º do C.Civ. Esta afirmação leva a examinar o segundo
requisito acima enunciado – a vida.

constituem manifestação de vida desde que ocorram após a separação de feto, a respiração, a pulsação do
coração ou do cordão umbilical, a contracção efectiva de qualquer músculo sujeito à acção da vontade.

Condição jurídica dos nascituros


São nascituros stricto sensu os entes ainda não nascidos, mas já concebidos.

Dizem-se concepturos os entes que nem sequer estão concebidos, no momento em que está em causa a
atribuição de direitos, mas que se espera venham a nascer de uma pessoa determinada.

Nos termos do art. 952.º do C.Civ., é possível fazer doações a nascituros lato sensu, desde que, tratando-se
de concepturos, estes sejam filhos de pessoa determinada, viva ao tempo da declaração de vontade do doador.
A lei diz mesmo, mais impressivamente, que eles «podem adquirir por doação».

Assim, aos nascituros (stricto sensu) é atribuída capacidade sucessória na sucessão legal e voluntária (art.
2033.º, n.os 1 e 2).

Aos concepturos é reconhecida capacidade na sucessão voluntária, desde que sejam filhos de pessoa
determinada, viva ao tempo da abertura da sucessão [ou seja, no momento da morte do de cuius art. 2033.º,
n.º 2, al. a), do C.Civ.]

Finalmente, o nascituro (stricto sensu) goza ainda da protecção jurídica reflexa que resulta de a mãe grávida
ter direito a alimentos (art. 1484.º, n.º 1). O nascimento com vida torna-se, pelo que acaba de se expor, um
momento decisivo do regime jurídico das pessoas singulares; em particular, a circunstância de ter ou não 16
havido vida (relacionado com a modalidade que este requisito reveste – simples exigência de vida ou
viabilidade) pode ser decisiva em vários domínios jurídicos, com especial realce em matéria de

direito sucessório. Um simples exemplo ilustra esta afirmação.

A é casado com B, que se encontra grávida – nascituro D –, tendo ainda A vivo o seu pai, C. Suponha-se que
B tem um nado-morto e que A morreu antes do nascimento dele. Herdeiros de A são, então, B e C (cfr. arts.
2133.º, n.os 1 e 2, e 2142.º do C.Civ.)1. Se se alterar a hipótese, apenas no sentido de o filho de A e B ter
nascido com vida, mesmo que morra de seguida2, herdeiros de A são agora B e o filho recém-nascido,
cabendo, por morte deste, a sua parte à mãe (arts. 2133.º e 2139.º do mesmo Código).

Condição jurídica dos nascituros


I. O n.º 1 do art. 66.º, com o sentido fixado no número anterior, consagra um regime de aquisição da
personalidade jurídica das pessoas singulares adoptado em diversos sistemas jurídicos, que não é
incontroverso, nomeadamente quando conjugado com o seu n.º 2. Estatui este preceito que «os direitos que a
lei reconhece aos nascituros dependem do seu nascimento».

Nos termos do art. 952.º do C.Civ., é possível fazer doações a nascituros lato sensu, desde que, tratando-se
de concepturos, estes sejam filhos de pessoa determinada, viva ao tempo da declaração de vontade do doador.
A lei diz mesmo, mais impressivamente, que eles «podem adquirir por doação». Alcance análogo tem o art.
2033.º do mesmo Código, quando reconhece capacidade sucessória a nascituros e concepturos.

Assim, aos nascituros (stricto sensu) é atribuída capacidade sucessória na sucessão legal e voluntária (art.
2033.º, n.os 1 e 2). Aos concepturos é reconhecida capacidade na sucessão voluntária, desde que sejam filhos
de pessoa determinada, viva ao tempo da abertura da sucessão [ou seja, no momento da morte do de cuius –
art. 2033.º, n.º 2, al. a), do C.Civ.].

O registo de nascimento
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COMPILADO POR: MÁRIO GALANGUNGA

A lei do registo civil estabelece qual a conservatória e outras entidades competentes para o registo (arts. 101.º
a 101.º-D e 109.º a 111.º 1 ), a quem cabe fazê-lo (art. 97.º) e o prazo para a competente declaração (art. 96.º2
). Visando assegurar a realização adequada do registo e o cumprimento das correspondentes obrigações, o
Código pune como contra-ordenação, com coima, as pessoas que, estando obrigadas a declarar o nascimento,
não o façam no prazo legal (art. 295.º).

Quanto ao acto do registo, em si mesmo, interessa sobretudo referir as menções que do registo de nascimento
devem constar. Essas menções podem reconduzir-se a dois tipos: circunstâncias do nascimento e
individualização do registando. Em relação ao primeiro aspecto, a lei acautela que do registo constem, até ao
pormenor, as circunstâncias em que o nascimento ocorreu. Assim, além da naturalidade do registando3,
indicar-se-á a data do nascimento (dia, mês e ano) e, na medida do possível, a sua hora exacta [al. c) do n.º 1
do art. 102.º do C.R.Civ.] A segunda ordem de menções referidas respeita à individualização do registando. À
semelhança da posição atrás adoptada, importa começar por referir o regime geral. As als. a), b), e) e f) do n.º
2 do art. 102.º, já citado, enumeram vários elementos necessários à individualização do registando. As duas
primeiras respeitam ao registando em si mesmo e consistem na indicação do nome completo e do sexo.

A morte como termo da personalidade


Nos termos do art 68º do Cod. Civil, a personalidade cessa com a morte. Assim, rege sobre ela a Lei n.º
141/99, de 28 de Agosto, determinando o seu art. 2.º que «a morte corresponde à cessação irreversível das
funções do tronco cerebral».

Também a declaração de morte presumida, como fase final da ausência (arts. 114.º e seguintes do C.Civ.),
que adiante será estudada, não envolve perda da personalidade do ausente, apesar de a redacção da primeira
parte do art. 115.º do C.Civ. poder sugerir o contrário.

O registo de óbito: regime geral


De modo semelhante ao que sucede com o nascimento e pela mesma razão de extrema relevância da situação
jurídica das pessoas e dos seus bens, o óbito é outro facto obrigatoriamente sujeito a registo civil [al. o) do art. 17
1.º, e arts. 192.º e seguintes do C.R.Civ.]

A lei de registo civil estabelece a conservatória competente para lavrar o óbito (arts. 192.º, n.º 1, e 200.º 1 ), a
quem compete fazer a correspondente declaração (art. 193.º) e o respectivo prazo (art. 192.º, n.os 1 e 2).
Visando assegurar, quanto possível, o registo adequado e atempado do óbito, o Código qualifica como contra-
ordenação, sujeita a coima, a declaração extemporânea (art. 295.º, n.º 1)

O registo de óbito: regimes especiais


A situação só ganha complexidade quando a morte é acompanhada de circunstâncias que não permitem o
apuramento dos factos relevantes para os efeitos que com ela se prendem, nomeadamente no campo do
Direito Civil.

Dentro desta ordem de ideias, vão ser referidos os seguintes regimes especiais:

o Morte conjunta de várias pessoas;


o Ignorância da causa da morte;
o Morte com suspeita de crime;
o Morte não registada no prazo legal;
o Morte sem possibilidade de identificação do cadáver.

Morte conjunta de várias pessoas


I. Como resulta da exposição anterior, para além de fazer cessar a personalidade, a morte é fonte de relevantes
relações jurídicas. Ora, quando morrem conjuntamente pessoas entre as quais se podiam estabelecer,
reciprocamente, relações

decorrentes da morte de cada uma delas, a determinação do momento do óbito ganha especial relevância. Se
houver elementos que permitam determinar o momento exacto da morte de cada uma das pessoas envolvidas,
ainda que por curtíssimo período de tempo, não surgem dificuldades especiais. Os óbitos irão ser
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COMPILADO POR: MÁRIO GALANGUNGA

considerados, nos seus efeitos, sucessivamente, conforme o tempo da sua ocorrência. Mas a experiência da
vida mostra que, algumas vezes, não é possível apurar as circunstâncias exactas da morte.

Como resolver então?


II. Duas soluções revela o Direito Comparado que podem ser adoptadas nesse caso, designadas como sistema
de comoriência e sistema de premoriência. Ao analisá-los, deve em primeiro lugar chamar-se a atenção para
o facto de qualquer deles só funcionar se se verificarem, cumulativamente, as duas
seguintes condições: a) não ser possível apurar qual das mortes ocorreu em primeiro lugar; se puder resolver-
se essa dúvida por alguma prova, não se justifica o recurso a qualquer dos sistemas;
b) haver efeitos jurídicos que dependam da sobrevivência de uma das pessoas em relação à outra; se se tratar
da morte conjunta de pessoas estranhas, entre as quais não possam constituir-se quaisquer relações jurídicas
dependentes da sua morte, a dete . Por razões oportunamente expostas, a lei de registo estabelece um prazo
muito curto para a feitura do registo de óbito (art. 192.º, n.º 1, do respectivo Código).

Quando esse prazo não seja respeitado e haja decorrido mais de um ano sobre a data da morte2, tal facto
envolve situação mais complexa em matéria de registo. O decurso de tão longo período de tempo faz surgir
toda uma série de incertezas sobre as circunstâncias da morte, que o legislador de registo não
podia deixar passar em claro. Daí, nos termos do art. 199.º, n.º 1, do C.R.Civ., faz-se depender o registo
de decisão a proferir em processo próprio – o chamado processo de justificação administrativa3.
Para além do mais, este caso particular interessa pela conveniência de o relacionar com o de seguida tratado.

II. Após a entrada em vigor do SICO, se o óbito ocorrer há mais de um ano, é aplicável o regime exposto na al.
II do número de ordem anterior.

Morte sem possibilidade de identificação do cadáver


I. Na multiplicidade das situações que a vida real oferece, pode a morte dar-se em condições tais que não se
disponha do seu indício natural, o cadáver. Em rigor, devem aqui demarcar-se duas hipóteses: impossibilidade
de encontrar o cadáver e impossibilidade de o identificar. A lei dá-lhes, porém, o mesmo tratamento. 18
Considere-se o exemplo de um acidente de viação em que morram pai e filho; basta fazer jogar as regras da
sucessão legítima e legitimária para se compreender que o destino dos bens de cada um deles será
inteiramente diferente consoante aquele que tenha morrido em primeiro lugar.

O sistema da comoriência consiste numa presunção segundo a qual as pessoas se têm por falecidas ao mesmo
tempo. Deste modo, os efeitos jurídicos, que dependiam da sobrevivência de uma pessoa em relação à outra,
não se produzem. No caso do exemplo do acidente de viação, nem o filho concorre à sucessão do pai, nem
este à daquele. É como se vê do n.º 2 do art. 68.º do C.Civ.

O sistema da premoriência assenta, pelo contrário, numa série mais ou menos complexa de presunções, que,
por assim dizer, estabelecem regras segundo as quais se têm umas pessoas como falecidas antes de outras.
Tais regras baseiam-se, com maior ou menor rigor, em dados da experiência ou da observação, tendo
nomeadamente em conta a idade ou o sexo das pessoas envolvidas.

A RESPONSABILIDADE CIVIL
1.1- Noção:

Na vida social os comportamentos, acções ou omissões, adoptados por uma pessoa causam por vezes
prejuízos a outrem.

A responsabilidade civil consiste na necessidade imposta pela lei a quem causa prejuízo a outrem de colocar
o ofendido na sictuação em que estaria sem a lesão. (artigos 483.º e 562.º do Cód. Civ.)

1.2- Formas de reparação e tipos de danos


A reponsabilidade civil tem o propósito de reparar danos; reconstituir a situação em que o lesado estaria se os
prejuízos não tivessem ocorrido.

Esta reconstituição pode fazer-se por duas vias principais:


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-Reintegração in natura (reconstituição ou restauração natural, restuição ou execução específica).

É a restauração natural que deve ter lugar sempre que possível.

-Reintegração por mero equivalente (restituição ou execução por equivalente, indemnização por dinheiro ou
simplesmente endemnização).

A indemnização em dinheiro só deve ocorrer quando não é possível a reconstituição natural. (artigo 566.º do
Cód. Civil)

TIPOS DE DANOS:
-Danos patrimoniais ou materiais – conjunto de bens materiais.

-Danos Morais:

Questão delicada e debatida é a da admissão ou não de uma endemnização por danos morais.

Os danos morais (não patrimoniais) referem-se à violação de direitos sem conteúdo patrimonial (direitos
pessoais) e analisam-se, por exemplo, em sofrimentos, dores físicas ou morais, perdas de consideração social,
inibições ou complexos de ordem psicológicas, vexames, desgostos, etc.

(artigo 496.º do Cód. Civil)

1.3 Responsabilidade contratual e responsabilidade extra-contratual. A responsabilidade pré-


contratual.
-Responsabilidade contratual: responsabilidade proveniente da falta de cumprimento das obrigações
emergentes dos contratos, de negócios unilaterais ou da lei.

-Responsabilidade extra-contratual: resultante da violação de direitos absolutos ou da prática de certos actos


que, embora lícitos, causam prejuízo a outrem. É tambem designada por responsabilidade aquiliana ou por
19
responsabilidade delitual. (artigos 798.º a 800.º e 562.º a 564.º do Cód. Civil) Um caso particular da
responsabilidade civil é a chamada responsabilidade pré-contratual.

A responsabilidade contratual tem como fundamento a “culpa in contractu” ou seja o não cumprimento culposo
do contrato. A responsabilidade pré-contratual tem como fundamento a “culpa in contrahendo” ou seja, a culpa
na celebração (formação) de um contrato inválido. A responsabilidade pré-contratual está expressa no (artigo
227.º do Cód. Civil).

1.4-Princípio geral em matéria de responsabilidade civil: A responsabilidade subjectiva

Em regra só haverá obrigação de indemnizar para o agente que provoca danos a outrem quando ele actue
ilicitamente e com dolo ou culpa. O regime regra em matéria de responsabilidade civil está no (artigo 483.º
Cod. Civil).

A responsabilidade subjectiva é fundada na culpa.


Para a responsabilidade civil em geral exigem-se dois elementos: a existência do dano e o facto causador
desse dano. Mas para a responsabilidade subjectiva exige ainda que o facto que provoca o dano seja ilícito
imputável à actividade do agente.

São elementos da responsabilidade subjectiva:

1. O facto: o facto causador do dano deve ser um facto humano (acção ou omissão), voluntário.
2. A ilicitude: o facto ilícito deve estar em contradição com o sentido global do direito instituido. (por
exemplo a divulgação de dados pessoais de outrem sem o consentimento do titular).
3. A culpa: o facto ilícito deve ainda ser culposo; consiste em actuar com conduta que merece
reprovação ou censurado direito. (artigo 488.º do Cód. Civil)
4. O dano: é necessário que se verifique a ocorrência de um dano, pois não a actuaçãoilícita.
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5. Por último deve existir um nexo causal entre o dano e o facto ilícito. O dano tem que ser causado
ou provocado pelo facto em causa.

1.5 Responsabilidade objectiva ou pelo risco


A responsabildade objectiva verifica-se sempre que alguém é responsabilizado por prejuízos causados a
outrem, independentemente de culpa. Há actividades, lícitas, mas perigosas, com particular aptidão para
causar danos. Nos casos em que a lei consagra a responsabilidade objectiva está por detrás um velho princípio
conforme à justiça e à solidariedade social: “ubi commoda ibi incommoda”. (Artigos 499.º a 510.º do Cód. Civil)

Responsabilidades por actos lícitos


Na responsabilidade pelo risco o facto é lícito mas o dano não o é (o dano é ilícito). Aqui o dano não é culposo,
nem ilícito. Não há uma actividade contrária à lei, ela é “secundum ius”. Apesar disso, deve-se dar a devida
reparação à pessoa sacrificada ou ao dano causado. São exemplos de responsabilidade por actos lícitos os
casos previstos nos artigos 339.º n.º 2 (estado de necessidade), 1348.º (escavações), 1349.º (passagem
forçada momentânea) e 1367.º (apanha de frutos), todos do Cód. Civil.

Responsabilidade civil e responsabilidade penal


A responsabilidade civil e a responsabilidade criminal podem intervir simultaneamente. Por exemplo, nos casos
de furto, ofensas corporais, difamação e injúria há aplicação de uma pena e a responsabilidade pelos danos
patrimoniais ou morais.

Mas, existem situações só de delito civil (é o caso do direito de propriedade, acidentes de viação, etc.) e
situações só de delito penal (é o caso de tentativa de crime ou frustraçao).

Distingui-se a responsabilidade penal ou criminal da responsabilidade civil por consistir na responsabilidade


imposta ao responsável de suportar uma pena, uma sanção que não tende a recompor mas a retribuir a
infracção e prevenir novas infracções.

Enquanto que a responsabilidade civil está subjacente a ideia de reparação patrimonial de um dano privado, à 20
responsabilidade penal aparece como uma defesa contra os autores dos factos que atingem a ordem social.

A responsabilidade civil pertence à esfera do direito civil, que é direito privado, a responsabilidade penal
reconduz-se ao direito penal, como ramo do direito público.

A BOA FÉ
2.1 NOÇÃO E CONTEÚDO
A boa fé é um princípio geral de toda a valoração de comportamentos e funciona em qualquer ramo, aplicando-
se particularmente às conjunturas de relação. É a essência do próprio entendimento entre os seres humanos,
é a presença da ética nos contratos.

A “boa fé” encerra assim um conteúdo valorativo que ajuda no esclarecimento das hipóteses concretas e a lei
recorre a esta noção justamente por ela estar tradicional e linguisticamente ligada às noções de honestidade
e correcção no tráfego. Trata-se de um padrão ético-social que permite eliminar e valorar os casos concretos

A BOA FÉ SUBJECTIVA E A BOA FÉ OBJECTIVA (PRINCÍPIO DA BOA FÉ)


Importa, desde logo, ter presente a distinção fundamental entre a boa fé objectiva ou em sentido objectivo e a
boa fé subjectiva ou em sentido subjectivo.

Em sentido objectivo é um critério normativo de valoração de condutas, um padrão objectivo de comportamento


ou seja, um princípio norteado da conduta das partes. Actua como uma regra imposta do exterior e que as
pessoas devem observar. (artigo 239.º Cód. Civil)

A boa fé subjectiva é um estado de consciência do agente, que consiste, portanto, em não ter consciência de
lesar direito alheio. Ela reporta-se a um elemento intencional individual, exprimindo um estado ou situação de
espírito que envolve o conhecimento ou consciência de se ter um comportamento em conformidade com o
direito.
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COMPILADO POR: MÁRIO GALANGUNGA

Discute-se se a boa fé (subjectiva) é psicológica ou ética. Ela será psicológica quando a lei se contente com o
mero desconhecimento. Será ética quando se exigir ainda que esse desconhecimento não possa ser provado.
(artigos 243.º, n.º 2; 1260.º, n.º 1 e 291.º n.º 3 do Cód. Civil)

2.3 LIMITES E RISCOS DO PRINCÍPIO DA BOA FÉ


Não é de excluir a actuação contra legem do princípio da boa fé. Ele pode desempenhar uma “função
correctiva”, exercendo ou limitando o alcance de normas imperativas. Todavia, há que proceder aqui com
extrema cautela, tendo em conta os limites postulados por eventuais exigências de um autêntico ius strictum.

A aplicação da boa-fé envolve também certos riscos. São eles, fundamentalmente:

 - O de possibilitar uma certa ligeireza na investigação do regime aplicável, com o recurso demasiado
apressado ao critério geral sem previamente esgotar as possibilidades técnicas do sistema: pondo de
lado uma cuidadosa investigação da eventual existência de uma norma especialmente ao caso;
 - O de contribuir para um acréscimo de insegurança do tráfico jurídico;
 - O de abrir a porta ao arbítrio do julgador.

INDIVIDUALIZAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DAS PESSOAS


``a identificação da posição das pessoas perante o Mundo do Direito basta-se com os conceitos de
personalidade, capacidade e legitimidade´´

Estado pessoal é definida como uma qualidade fundamental da pessoa na vida jurídica, relevante na
determinação da sua capacidade e de que depende a atribuição de uma massa predeterminada de direitos e
vinculações.

ESTADO CIVIL
Os estados pessoais, quando dependem de factos obrigatoriamente sujeitos a registo civil, chamam-se estados
civis.
21
RELEVÂNCIA DO ESTADO PESSOAL
Da investidura da pessoa em certo estado vai resultar, como é evidente, uma importante alteração da sua
esfera jurídica, por força da entrada de direitos que nela não existiam anteriormente, ele importa também
alterações da posição da pessoa no plano abstracto da sua capacidade

MODALIDADES DO ESTADO PESSOAL


No direito romano se distinguiam três estados pessoais :

 status libertatis
 status civitatis
 status familia e

a Lição de Paulo Cunha2 , sugerem-se ao menos mais duas: o status aetatis (posição da pessoa em função
da idade) e o status mentis (posição da pessoa em vista da sua situação mental).

INDIVIDUALIZAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DAS PESSOAS


A distinção entre as várias pessoas estabelece-se através do apuramento ou fixação dos caracteres que lhe
são próprios, que constituem a sua identidade, e que não existem nos demais. É o que se chama individuação,
ou apuramento da identidade.

Visto o problema na perspectiva de cada indivíduo, pode dizer-se que por identidade se entende o conjunto de
elementos pelos quais certa pessoa se distingue das demais.

INDIVIDUALIZAÇÃO
consiste na selecção e fixação de um determinado número de caracteres que permitam traçar a identidade de
cada pessoa.

ELELMENTOS DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA


MATERIA DE TEORIA DO DIREITO CIVIL 1
COMPILADO POR: MÁRIO GALANGUNGA

Elementos relevantes da individualização são aqueles que se apresentem como estáveis e práticos. Em poucas
palavras se explica a exigência de tais atributos e o seu sentido.

a) elementos naturais ou intrínsecos, que são os que existem, por efeito da natureza, na própria pessoa;
Exemplos característicos de elementos naturais relevantes são o sexo, a cor dos olhos, as impressões digitais

b) elementos circunstanciais (não naturais) ou extrínsecos, que são o resultado da acção do homem ou de
circunstâncias relacionadas, de modo estável, com a pessoa e a que a lei dá relevância jurídica. Na segunda
categoria integram-se as denominações, o estado pessoal e a naturalidade.

C) O elemento designado por denominação enquadra várias modalidades, sendo comum a todas a
circunstância de consistirem na atribuição, à pessoa, de uma designação de fantasia. A denominação abrange:

 o nome civil : para as pessoas singulares; : tiliza-se a expressão nome civil para o
contrapor a outros elementos de individualização, como sejam o nome literário ou
profissional.
 a firma: para os comerciantes, quer sejam pessoas singulares (comerciantes em
nome individual), quer colectivas (sociedades comerciais);
 a denominação para as demais pessoas colectivas.

ELEMENTOS DA INDIVIDUALIZAÇÃO O NOME CIVIL


O nome civil constitui, sem dúvida, um dos mais significativos elementos de individualização das pessoas
singulares, ficando, por isso, explicada a relevância que, no plano jurídico, lhe é dada tanto pela lei como pela
doutrina. O direito ao nome não está expressamente consagrado na Constituição, mas é tutelado
indirectamente no seu art. 26.º, n.º 1, quando nele se refere o direito à identidade.

ELEMENTOS DA INDIVIDUALIZAÇÃO (CONT.): FIGURAS AFINS DO NOME CIVIL


I. O regime do direito ao nome deve ser complementado com referências, embora mais sucintas, a algumas
figuras afins com relevo no domínio da individualização das pessoas. É esse o caso do nome artístico e literário, 22
do pseudónimo e dos títulos nobiliárquicos. De todos estes, o Código Civil só se ocupa do pseudónimo. O
nome literário ou artístico, regulado nos arts. 27.º a 29.º do CDADC1, pode coincidir com o nome civil, ou
consistir numa parte abreviada desse nome, em iniciais, ou, até, em qualquer sinal convencional (art. 28.º
daquele Código2).

«O pseudónimo, quando tenha notoriedade, goza da protecção conferida ao próprio nome», diz o art. 74.º do
C.Civ. Já ficou assinalado que o pseudónimo pode também ser usado como nome literário ou artístico, mas a
lei civil não limita a licitude do seu uso a esse campo. O pseudónimo é, em si mesmo, um nome falso, que,
contudo, merece tutela jurídica e não está, como seria próprio da sua falsidade, sujeito a sanção penal3.
Consiste num «nome de fantasia, que uma pessoa atribui a si mesma»4. A protecção jurídica do pseudónimo
depende da sua notoriedade, estando aqui a dificuldade em saber quando ela se alcança.

Noção de identificação
I. A segunda das operações da individuação é a identificação. Traçado, com a individualização, o retrato jurídico
e abstracto de cada pessoa, o apuramento da identidade só se concretiza pelo encabeçamento desse retrato
numa pessoa certa e determinada. Pode assim dizer-se que a identificação consiste em apurar qual o indivíduo
concreto que corresponde aos caracteres determinados pela individualização.

A palavra identificação na linguagem corrente, como na jurídica, surge, por vezes, com sentidos diversos. O
seu sentido técnico é o acima fixado. Mas ela aparece também, por vezes, a significar o mesmo que identidade
ou, até, individualização. São aplicações indevidas e impróprias da palavra, que devem ser evitadas.

Num sentido que interessa ao Direito Penal, a palavra identificação emprega-se também para significar a
operação de determinar o autor de certo acto criminoso através de indícios a ele ligados. Segue-se aqui um
processo inverso do acima indicado.
MATERIA DE TEORIA DO DIREITO CIVIL 1
COMPILADO POR: MÁRIO GALANGUNGA

Finalmente, recorre-se à palavra identificação para significar a determinação, entre um grupo de indivíduos, de
quem tem certa identidade ou que identidade tem cada um deles. Neste sentido, de averiguação da identidade,
é aplicada a palavra identificação no art. 202.º, n.º 1, do C.R.Civ., a propósito do caso de morte de pessoa
desconhecida.

Meios de identificação
I. Se, quanto à individualização, se põe a questão da determinação dos elementos relevantes para fixar a
identidade das pessoas, no campo da sua identificação importa apurar os meios através dos quais esta
operação se realiza. Esses meios são fundamentalmente dois:

a) Conhecimento da identidade da pessoa pelo seu interlocutor ou por terceiros (correntemente designados
como abonadores);

b) Confronto da pessoa com meios anteriores em que se encontra descrita a sua identidade1.

Sistema jurídico
NATUREZA DA RESPONSABILIDADE PARENTAL
A incapacidade de exercício dos menores, segundo a regra já conhecida, admite suprimento. A prevalência do
regime da representação, na menoridade, apura-se pela conjugação de que aos pais cabe representar os
filhos menores art 124 código civil. Já o art. 127.º só refere, como limitações a esse poder de representação,
as relativas a:

 Actos puramente pessoais;


 actos que o menor tem o direito de praticar pessoal e livremente;
 actos referentes à administração de bens de que os pais estejam excluídos.

O regime de representação fixado para os progenitores é aplicável ao tutor, por força do art. 124.º, do mesmo
código, e ao padrinho ou madrinha civil. Quanto ao administrador de bens, o n.º 2 do art. 1971.º diz
expressamente que ele «é o representante legal do menor nos actos relativos aos bens cuja administração lhe 23
pertença.

Quadro completo dos meios de suprimento da incapacidade do menor desenha-se nos seguintes termos,
levando já em conta a sua relevância relativa:

1. a responsabilidade parental, como meio principal de suprimento;


2. a tutela, como meio subsidiário da responsabilidade parental;
3. a administração de bens, como meio complementar dos restantes;
4. o apadrinhamento civil.

A RESPONSABILIDADE PARENTAL
é o meio principal de suprimento da incapacidade dos menores e também o seu meio normal

Natureza da responsabilidade parental


Afirma-se que todo o regime da responsabilidade parental se tem de entender dominado por uma ideia de
funcionalidade ou poder funcional, que interfere com a compreensão de todas as situações em que se
encontram investidos os progenitores, ainda quando não se qualificam, em si mesmas, como verdadeiros
poderes funcionais.

Titularidade e exercício da responsabilidade parental: gerenalidade


A titularidade e o exercício da responsabilidade parental são, sem dúvida, duas questões dogmaticamente
distintas. Por isso mesmo, podem seguir regimes com soluções práticas diversas, cabendo a titularidade da
responsabilidade parental a um progenitor que a não possa exercer.

Titularidade e exercício da responsabilidade parental: progenitores casados


O regime da titularidade e do exercício da responsabilidade parental quando os pais estejam casados um com
o outro assenta nos princípios da igual dignidade dos cônjuges e da igualdade dos sexos, já conhecidos.
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COMPILADO POR: MÁRIO GALANGUNGA

Titularidade e exercício da responsabilidade parental: dissolução do matrimónio por morte


Se o matrimónio se dissolver por morte de um dos cônjuges, a responsabilidade parental concentra-se no
progenitor sobrevivo; a este passa a caber tanto a titularidade como o seu exercício. Ste preceito – cuja razão
de ser é indiscutível – interessa sobretudo para esclarecer que a responsabilidade parental só se extingue por
morte de ambos os progenitores. Assim, a morte de um só dos progenitores não justifica, em si mesma1 , a
instauração da tutela.

Dissolução do matrimónio por divórcio e factos equiparados


A vida conjugal dos progenitores casados entre si pode ser perturbada por várias circunstâncias, enumeradas
na epígrafe dos arts. 1905.º e 1906.º do C.Civ., Com interferência no exercício da responsabilidade parental.
Ocorrido o divórcio dos pais, por força do art. 1905.º, a prestação de alimentos devidos ao filho, quanto ao seu
montante e à forma de os prestar – o que envolve o apuramento de quem o deve fazer.

Titularidade e exercício da responsabilidade parental: impedimento dos progenitores


Neste campo se tem enconta o critério de enunciar dois dos casos que se considera mais relevantes –
incapacidade e ausência –, referindo-se, depois, genericamente, a outros impedimentos, ou seja, a qualquer
facto de que resulte para um dos progenitores a impossibilidade de exercer a responsabilidade parental, desde
que decretada pelo tribunal, hipótese que cobre, nomeadamente, a inibição do exercício da responsabilidade
parental.

Titularidade e exercício da responsabilidade parental: guarda do filho por terceira pessoa


Ao primeiro ponto, o n.º 1 do art. 1907.º passou a definir três fontes da atribuição da guarda do filho a terceira
pessoa: acordo, decisão judicial ou verificação das circunstâncias previstas no art. 1918.º. Só as duas
primeiras, porém, constituem novidade; com efeito, na sua versão anterior, o art. 1907.º não podia deixar de
ser visto em articulação com o art. 1918.º, dado o manifesto paralelismo do disposto nestes dois preceitos,
relativamente à confiança da guarda do menor e ao exercício do poder paternal

Titularidade e exercício da responsabilidade parental: regime especial 24


O exercício da responsabilidade parental pode implicar, verificadas certas circunstâncias, um regime especial,
previsto no art. 1908.º do C.Civ., Que merece referência destacada. Pressuposto dessa norma é o de, por
efeito da regulação desse exercício, o menor ter sido confiado à guarda de um dos progenitores. Pode ter sido
determinante desta solução a circunstância de se verificar, em relação ao outro progenitor1 , alguma das
situações previstas no art. 1918.º do C.Civ., Com perigo para a segurança, saúde, formação moral e educação
do menor.

Cessação da responsabilidade parental


A responsabilidade parental cessa por várias causas, não seguindo todas o mesmo regime, quanto às
consequências delas emergentes.

a) Morte do filho;

b) Maioridade do filho, sem prejuízo do regime do art. 131.º do C.Civ., A estudar mais adiante;

c) Emancipação do filho, sem prejuízo do regime do art. 1649.º do C.Civ., Já conhecido;

d) Falecimento de ambos os pais

Inibição do exercício da responsabilidade parental1


I. O regime de exercício da responsabilidade parental traduz, em larga medida – já ficou salientado –, a
confiança depositada pelo legislador numa actuação dos progenitores conforme aos interesses dos filhos
menores, fundada nos laços familiares particularmente intensos que entre eles se estabelecem. A intervenção
do legislador, neste domínio, é, por isso, mais repressiva do que preventiva. Esta nota, que domina o regime
da responsabilidade parental, é bem patente na inibição e nas limitações ao seu exercício, que passam a ser
tratadas, em números separados. Justifica-se esta abordagem da matéria; em verdade, se é certo que os dois
institutos mantêm alguma afinidade, demarcam-se pela maior ou menor gravidade das circunstâncias que os
MATERIA DE TEORIA DO DIREITO CIVIL 1
COMPILADO POR: MÁRIO GALANGUNGA

determinam, com a consequente afectação, em maior ou menor grau, do exercício da responsabilidade


parental.

A responsabilidade parental, no caso de filhos nascidos fora do casamento, ou seja, de progenitores não unidos
entre si pelo matrimónio, é condicionada, desde logo, pelas regras especiais que regulam, nessa hipótese, o
estabelecimento da filiação. Com efeito, não funciona, em tal caso, a presunção relativa a esta matéria, quanto
aos filhos nascidos do matrimónio (arts. 1826.º e seguintes do C.Civ.), pelo que a maternidade e a paternidade
têm de ser estabelecidas judicialmente ou por perfilhação (art. 1847.º do mesmo Código). Por outro lado, a não
existência de vínculo matrimonial faz também com que não se possa estabelecer, como regra, sem mais, um
regime equivalente ao estatuído para a hipótese de subsistir uma relação matrimonial normal entre os
progenitores.

Quando os progenitores não convivam maritalmente (estando sempre a pressupor o estabelecimento da


filiação quanto a ambos), o n.º 1 do art. 1912.º manda aplicar o disposto nos arts. 1904.º a 1908.º Em vida de
ambos os progenitores1, a aplicação das disposições dos arts. 1905.º a 1908.º tem de ser feita com cautela,
atentas as condições da vida de cada um deles, que pode decorrer em termos muito diferentes, quanto a
aspectos sociais, temporais e geográficos do seu relacionamento. Assim, em muitos casos caberá ao tribunal
intervir, na regulação do exercício da responsabilidade parental.

A localização espacial das pessoas, para além da sua relevância social em geral, reveste-se também de
particular importância para o Direito, sob diversos aspectos.

Paradeiro e residência
A lei civil não define expressamente o conceito de paradeiro. Pode, contudo, extrair-se a sua noção da parte
final do n.º 2 do art. 82.º do C.Civ. Com base nesse preceito, entende-se por paradeiro o lugar onde a pessoa
se encontra em determinado momento.

O paradeiro, em regra ,é relegado para segundo plano, em favor da relevância jurídica atribuída à residência
ou ao domicílio. Ganha, porém, relevo, funcionando como último critério supletivo do domicílio geral (parte final 25
do n.º 2 do art. 82.º do C.Civ. ), quando a pessoa não tenha domicílio, nem residência ocasional.

Também a lei não define residência; por ela se entende o local onde a pessoa tem a sua existência organizada
e que, como tal, lhe serve de base de vida.

A residência habitual é o local onde a pessoa normalmente vive e tem o seu centro de vida;

E se a pessoa viver também, temporária ou acidentalmente, noutros locais, aí terá residência ocasional.

Ao local da residência habitual corresponde o domicílio geral (n.º 1 do art. 82.º do C.Civ.). Se a pessoa não
tiver residência habitual, funciona a sua residência ocasional como instituto supletivo do domicílio (n.º 2 do
mesmo preceito).

Noção de domicílio
A noção jurídica de domicílio não coincide com a ideia muitas vezes atribuída à palavra na linguagem corrente,
ligada à de morada, ou seja, o local onde a pessoa tem a sua habitação.Em sentido jurídico, diz-se domicílio,
em geral, o local da residência habitual de cada pessoa. Essa é também a noção extraída do n.º 1 do art. 82.º.
do C.Civ.; contudo, em rigor, ela só quadra ao conceito de domicílio geral voluntário.

Modalidades de domicilio
Domicílio geral e especial (profissional e electivo ao domicílio geral foi já feita referência – ele determina-se
pela residência habitual (n.º 1 do art. 82.º). Se se tiver presente a noção de residência habitual, logo se conclui
que optou o legislador por um critério fundamentalmente objectivo, pois atende em particular ao local onde a
pessoa tem efectivamente o seu centro de vida e não à intenção de ter esse local como centro da sua vida.
Para além do domicílio geral, e coexistindo com ele, a lei admite outras modalidades de domicílio voluntário: o
domicílio profissional e o domicílio electivo. Ambas podem ser abrangidas sob a designação de domicílio
especial.
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COMPILADO POR: MÁRIO GALANGUNGA

O domicílio profissional, como a expressão sugere, só pode constituir-se em relação a pessoas que exerçam
uma profissão. Em tais casos, diz o art. 83.º do C.Civ. que a pessoa tem domicílio profissional no lugar onde
exerce a sua profissão (n.º 1 do art. 83.º). Todavia, este domicílio só é relevante para as relações conexas com
o exercício dessa profissão.

O domicílio electivo, como se vê do art. 84.º Trata-se, agora, de um domicílio estipulado para certos negócios,
em concreto.

Domicílio voluntário e legal (necessário)


 O domicílio legal é, pois, fixado, para certa pessoa, por uma norma jurídica. Cabe ainda dizer, a este
respeito, que o domicílio legal pode ser geral (v.g., n.º 1 do art. 85.º do C.Civ.) ou especial (n.º 4 do
mesmo preceito).

 Domicilio voluntario é aquele que decorre daescolha de seu titular, o queal fixa residencia com ânimo
definitivo por acto de vontade propria.

Importância do domicílio
 Relevância jurídica do domicílio pode sumariar-se em duas notas. O domicílio funciona como critério
geral de competência para a prática de actos jurídicos e como ponto legal de contacto não pessoal.

Ausência
 A importância da ligação de cada pessoa a determinado local, onde os outros podem razoavelmente
contar com a sua presença, para, normalmente, a encontrar, ou poderem com ela contactar, tem uma
das suas manifestações mais importantes quando essa ligação se quebra, por a pessoa se afastar
desse local.

 A ausência em sentido técnico-jurídico coloca-se noutro plano e está fundamentalmente dirigida para
o caso de a ausência determinar a impossibilidade de o ausente gerir o seu património.
26
E essa ausências se podem manifestar:
a ausência de um dos cônjuges por tempo não inferior a 1 ano, sem que dele haja notícias, constitui fundamento
de divórcio litigioso (epígrafe da Subsecção III), sem consentimenro de um dos cônjuges [al. c) do art. 1781.º
do C.Civ.];

a ausência de um dos cônjuges constitui fundamento da atribuição ao outro do poder de administrar os seus
próprios bens [al. f) do n.º 2 do art. 1678.º do C.Civ.];

c) a ausência de um dos progenitores é, como regra, causa de concentração, no outro, do exercício da


responsabilidade parental (art. 1903.º do mesmo Código) e pode ser fundamento da sua inibição (art. 1915.º,
n.º 1, do citado diploma);

d) a ausência de ambos os progenitores pode determinar a aplicação do regime de tutela, se durar mais de
seis meses [al. c) do n.º 1 do art. 1921.º do C.Civ.], ou a intervenção do Ministério Público em defesa dos
interesses do menor, se tiver duração inferior (n.º 3 daquele preceito);

A ausência qualificada e sua relevância


I. Para haver ausência em sentido próprio, torna-se necessária, para além da verificação dos elementos que a
integram, a sua declaração mediante decisão judicial. Dos elementos que qualificam o conceito de ausência
qualificada – não presença da pessoa, em determinado local, e ignorância geral do seu paradeiro – só quanto
ao segundo há a fazer comentários particulares. O primeiro respeita ao alcance que se deve atribuir à
expressão ignorância geral do paradeiro da pessoa.

Ausência Presumida
O regime da ausência presumida contém-se nos arts. 89.º a 98.º do C.Civ. Segundo o primeiro desses
preceitos, são três os requisitos de cuja verificação depende a declaração da ausência presumida: ausência
qualificada, existência de bens carecidos de administração e falta de representante legal ou voluntário.
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COMPILADO POR: MÁRIO GALANGUNGA

A noção de ausencia presumida é expressa do n.º 1 do art. 89.º, e é necessário, para ser instaurada a curadoria
provisória, que não «se saiba parte» do ausente, isto é, que não haja meio de comunicação com ele, por
qualquer via que seja, para obter providências adequadas à administração dos seus bens.

O segundo requisito da ausência presumida é a existência de bens em relação aos quais se verifique a
necessidade de prover acerca da sua administração Esta exigência consta da primeira parte do n.º 1 do art.
89.º do C.Civ. E é suficientemente clara na sua formulação. Segundo ela, pode o ausente ter deixado bens e,
contudo, não se justificar a instalação da curadoria provisória; basta que em relação a esses bens se não
levantem problemas de administração.

Do exposto não se deve extrair a conclusão de a curadoria provisória se justificar sempre que o ausente tenha
deixado bens carecidos de administração. Pode muito bem dar-se o caso de, antes de se ausentar, o titular
dos bens haver tomado providências no sentido de a assegurar. Está, assim, em causa a exigência do terceiro
requisito da curadoria provisória, consignado no art. 89.º, n.º 1, do C.Civ.

Meio de declaração da ausência presumida


O meio processual adequado tem os seus termos regulados nos arts. 1451.º e seguintes do C.P.Civ. Podem
desencadear esse processo o Ministério Público ou quaisquer interessados, como estatui o art. 91.º do C.Civ.
Quem são esses interessados?

O n.º 1 do art. 92.º do C.Civ. e do n.º 1 do art. 1451.º do C.P.Civ. que o interesse aqui em causa respeita à
conservação dos bens do ausente. Na categoria de interessados cabem, assim, o cônjuge do ausente (como
atrás exposto), os seus herdeiros e os seus credores1. A curadoria provisória, uma vez instaurada, deve ser
inscrita no registo civil [art. 1.º, al. i), e art. 69.º, n.º 1, al. g), do C.R.Civ.].

Efeitos da ausência presumida e regime de suprimento: o curador provisório


O principal efeito da declaração da ausência presumida é a nomeação de um curador provisório do ausente.

O curador provisório será escolhido de entre o grupo dos interessados na conservação dos bens do ausente; 27
entre eles o legislador entendeu dever dar primazia ao seu cônjuge e aos seus herdeiros presumidos, referindo-
os autonomamente no n.º 1 do art. 92.º já citado.

O curador provisório tem poderes de administração geral dos bens do ausente (art. 94.º do C.Civ.), que para o
efeito lhe serão entregues depois de relacionados (art. 93.º, n.º 1, do mesmo Código).

O curador deve prestar caução (n.os 1 e 3 do citado art. 93.º) e prestar contas (art. 95.º), mas tem direito a
remuneração que consiste em 10% da receita por ele realizada (art. 96.º).

Termo da curadoria provisória


O termo da curadoria provisória vem regulado no art. 98.º do C.Civ. São múltiplas as causas que podem
determinar a cessação da curadoria provisória.

A certeza da morte do ausente, o regresso do ausente e a cessação da falta de quem se ocupe da


administração dos seus bens. No caso de regresso do ausente, os bens são-lhe entregues, segundo o
processo regulado no art. 1112.º do C.P.Civ.2 Enquanto o ausente não tomar conta dos bens ou sobre eles
não providenciar, subsiste a curadoria provisória (art. 1455.º, n.º 2, do C.P.Civ.).

Ausência declarada ou Justificada

A instauração da ausência declarada ou justificada e a consequente nomeação de um ou mais curadores


definitivos depende também da verificação de certos requisitos, a saber: ausência qualificada, existência de
bens carecidos de administração e certo período de duração da ausência.

Vê-se do art. 99.º do C.Civ. que a justificação ou declaração da ausência só pode dar-se quando a situação de
ausência qualificada tenha durado certo período de tempo mínimo. A duração mínima da ausência, para este
efeito, é de dois anos, se o ausentenão deixou representante legal ou voluntário, e de cinco anos, se o
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COMPILADO POR: MÁRIO GALANGUNGA

ausentedeixou representante legal ou voluntário. Estes prazos contam-se da data em que passou a não se
saber do ausente

Meio de justificação da ausência

A justificação da ausência depende de acção judicial, regulada no Código de Processo Civil nos arts. 1103.º e
seguintes. A lei substantiva atribui legitimidade para instaurar essa acção ao Ministério Público e a certos
interessados; da conjugação dos arts. 99.º e 100.º do C.Civ. resulta caber essa legitimidade ao cônjuge não
separado judicialmente de pessoas e bens, aos herdeiros do ausente e a outras pessoas que tenham sobre
os bens do ausente direitos dependentes da sua morte.

Efeitos da ausência justificada e regime de suprimento: os curadores definitivos

Para se compreender o regime da justificação da ausência interessa começar por dizer que, nesta fase, o
legislador já atribui mais relevância à possibilidade de morte do ausente, como consequência directa do
prolongamento da duração da ausência.

Assim, na ausência justificada produzem-se efeitos mais complexos e assume nova feição o regime da
curadoria, agora qualificada de definitiva. Como efeitos específicos da ausência justificada identificam-se,
segundo a lei civil:

 a) a requisição de certidão dos testamentos do ausente pelo tribunal e abertura dos testamentos
cerrados (art. 101.º);
 b) a instauração de inventário e a eventual partilha dos bens do ausente (cfr. também art. 1108.º do
C.P.Civ.), que são entregues aos curadores definitivos(art. 104.º do C.Civ.);
 A curadoria definitiva termina em circunstâncias que apresentam certo paralelismo em relação às
causas determinantes da cessação da curadoria provisória.

Estas causas de cessação da curadoria definitiva vêm contempladas, respectivamente, nas als. c), a) e b) do 28
art. 112.º do C.Civ. Quando se verifique qualquer das duas últimas, proceder-se-á à entrega dos bens ao
ausente, logo que este o requeira, mantendo-se a curadoria enquanto a entrega não se verificar (art. 113.º).

Morte presumida

Requisitos
I. A última fase da ausência consiste na declaração da morte presumida, cujo regime se passa a
expor segundo esquema equivalente ao adoptado para as demais. A declaração de morte
presumida assenta no prolongamento anormal da ausência e representa a inversão da
probabilidade que no seu início se estabelecia quanto à vida ou morte do ausente. A lei dá agora
prevalência a esta segunda probabilidade, sendo muito mais ténue, embora não deixe de subsistir,
nos termos adiante expostos, a tutela dos interesses do ausente. Daí, uma alteração substancial
que vai operar-se quanto ao tratamento dos bens do ausente: estes não são mais sujeitos a uma
curadoria, mas entregues a quem a eles teria direito por efeito da morte do ausente, maxime, aos
seus herdeiros. Há uma verdadeira presunção, embora ilidível, de morte.

Os dois requisitos desta nova fase são, assim, a ausência qualificada e o decurso de certo
período de tempo de ausência (art. 114.º, n.os 1 e 2).Tendo presente o facto de o Código dizer
expressamente que a morte presumida pode ser decretada, mesmo não tendo havido prévia
instalação de curadoria provisória ou definitiva (n.º 3 do art. 114.º), não constitui requisito da
declaração de morte presumida a instauração de qualquer dessas fases da ausência. O primeiro dos
requisitos acima enunciados não carece de esclarecimento, pois vale a seu respeito quanto antes
ficou dito. Resta examinar o segundo
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COMPILADO POR: MÁRIO GALANGUNGA

Assim, se a ausência se verificar quando o ausente é já idoso, a lei reduz o período referido para 5
anos, se o ausente, sendo vivo, tivesse, entretanto, completado 80 anos. Por outras palavras, neste
caso, a morte presumida pode ser decretada quando o ausente complete 80 anos, desde que nesse
momento a ausência tenha durado, pelo menos, 5 anos (segunda parte do n.º 1 do
art. 114.º). O prazo de duração da ausência é alongado se a ausência ocorrer na menoridade do
ausente. Vê-se, com efeito, do n.º 2 do art. 114.º que, neste caso, a morte presumida só poderá ser
decretada depois de terem decorrido 5 anos sobre a data em que o ausente, sendo vivo, atingiria a
maioridade. Note-se que, contudo, o período mínimo de dez anos continua aqui a funcionar. Assim,
se um menor se ausentar aos 12 anos de idade, só aos 23 anos (18, da maioridade,
mais cinco) pode ser declarada a morte presumida, não bastando o decurso do prazo geral de 10
anos; mas, se a pessoa se ausentar com 16 anos, a declaração de morte presumida só pode verificar-
se aos 26 anos, decorrido o período mínimo de 10 anos de ausência, pois este prazo é mais favorável
ao ausente do que o resultante da indicada regra especial.

Meio de decretar a morte presumida


Tal como nas demais fases de ausência, também a morte presumida tem de ser decretada em
processo judicial, regulado no art. 1110.º do C.P.Civ. Por efeito do disposto na parte final do n.º 1 do
art. 114.º do C.Civ., que remete para o art. 100.º do mesmo diploma, só têm legitimidade para
requerer a declaração da morte presumida as pessoas que podem requerer a justificação da
ausência; para ai se remete, portanto. A declaração da morte presumida está também sujeita a
registo, nos termos expostos para as outras fases da ausência.]

Efeitos da morte presumida


I. Segundo se dispõe no art. 115.º do C.Civ., «a declaração de morte presumida produz os mesmos
efeitos que a morte». Este preceito não pode, por ser entendido em todo o rigor da sua letra; nem 29
quanto ao hemisfério não patrimonial (pessoal), nem quanto ao hemisfério patrimonial do ausente se
pode fazer aplicação rígida do regime a que a interpretação literal conduz. II. No referente ao
hemisfério pessoal, para além de não poderem ser afectados, nomeadamente, direitos da
personalidade do ausente, é o próprio art. 115.º o primeiro a estabelecer uma importante excepção
quando, na sua parte final, acrescenta que a declaração de morte presumida «não dissolve o
casamento»1.

No campo patrimonial, o efeito da declaração de morte presumida é mais próximo do da morte física.
Com efeito, ocorre aqui uma situação afim da que se verifica na abertura da sucessão por morte,
embora não inteiramente correspondente a esta4

Regresso do ausente
I. O legislador não leva às últimas consequências. o princípio, que, contudo, afirma, de equiparação
dos efeitos da declaração da morte presumida

aos da morte física.

A melhor demonstração dos desvios impostos a essa equiparação encontra-se nas consequências
pela própria lei atribuídas ao regresso do ausente, ao qual se equipara o facto de haver notícias dele
(cfr. arts. 115.º e 119.º, n.º 1, do C.Civ.).

O regresso do ausente tem também relevância no campo patrimonial, havendo agora a distinguir
dois casos, consoante os sucessores se encontrem de boa-fé ou de má-fé, como resulta do art. 119.º
do C.Civ.
MATERIA DE TEORIA DO DIREITO CIVIL 1
COMPILADO POR: MÁRIO GALANGUNGA

Para boa compreensão do regime a seguir exposto, importa começar por esclarecer o que se
entende aqui por má-fé. Segundo o n.º 3 daquele preceito, a má-fé «consiste no conhecimento, por
parte do sucessor, de que o ausente sobreviveu à data da morte presumida».

Se o sucessor estiver de boa-fé, regressando o ausente, ou havendo dele notícias, tem ele direito
(n.º 1 do art. 119.º): aos bens que restem, no estado em que se encontrem, ao preço dos bens
alienados e aos bens sub-rogados1, directa ou indirectamente.

Direitos eventuais do ausente


I. Após o início da ausência qualificada, no sentido oportunamente estabelecido, podem sobrevir ao
ausente direitos que dependam da sua existência, como é o caso dos que são adquiridos mortis
causa. Em tal hipótese, dispõe o art. 120.º do C.Civ. que eles «passam às pessoas que seriam
chamadas à titularidade deles se o ausente fosse falecido». Daqui resulta que, se o ausente A for
chamado à sucessão de B, tudo se passa como se aquele não sobrevivesse ao autor da sucessão,
sendo chamados os sucessíveis que sucederiam na falta de A. Mas a que título são esses bens
atribuídos a tais pessoas?

A questão não é líquida na doutrina1. Todavia2, atendendo ao disposto no art. 121.º do C.Civ., a
opinião dominante vai no sentido de haver chamamento do ausente. Se estiver instaurada a
curadoria provisória, os bens ficam sujeitos à administração do curador; se já estiver instaurada a
curadoria definitiva, ou quando o for, as pessoas a quem sejam deferidos os bens recebê-los-ão a
título de curadores definitivos.

Se o ausente regressar ou dele houver notícias, deve ser aplicado, correspondentemente, o art. 119.º
30
do C.Civ.3 Pode acontecer que, tendo sobrevindo bens ao ausente, estando declarada a morte
presumida, se verifique, de facto, a sua morte, mas em data diferente da fixada na sentença. Como
é manifesto, não pode aqui recorrer-se ao art. 118.º do C.Civ., que se refere à sucessão do próprio
ausente e não à do terceiro de quem ele seria sucessível.

No mesmo sentido se pronuncia Oliveira Ascensão, obs. e locs. cits. em nota supra; em sentido
diferente, Pires de Lima e Antunes Varela (Código Civil, vol. I, pág. 133), que consideravam que o
art. 119.º rege apenas para os bens existentes no momento da ausência. Considere-se, para ilustrar
esta hipótese, o seguinte exemplo:

Foi declarada a morte presumida de A com efeitos desde 20 de Janeiro de 2007. Em 15 de Março
de 2008, morreu B, de quem A era sucessível prioritário; segundo o regime já exposto, os bens de
B são atribuídos a C, ou seja, a pessoa que sucederia a B, se A tivesse morrido.

Primeira hipótese:

Apurou-se, posteriormente, que A morreu, de facto, em Setembro de 2004, o que não altera, em
nada, a situação atrás desenhada.

Segunda hipótese:

Se, porém, se vier a saber que A morreu em Junho de 2007, verifica-se que A era vivo à data da
abertura da sucessão de B, e lhe podia, portanto, suceder. Procedem aqui as mesmas razões que
presidem ao regime do art. 119.º do C.Civ., que deve ser aplicado, por analogia. Os bens de B são
atribuídos a A, nos termos do art. 119.º, passando por morte deste ao seu sucessor.

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