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Direito Fiscal

Universidade Lusófona do Porto


Faculdade de Direito
Licenciatura - 2.º Ano
Maria Odete Oliveira
Ano lectivo 2020/2021
O imposto – conceito
• Prestação
– pecuniária
– assente essencialmente na capacidade contributiva
– exigida com base na lei
– pelo Estado ou outros entes públicos menores
– a favor de entidades que exerçam funções públicas
– sem qualquer contrapartida directa a quem a paga
– de forma definitiva,
– sem carácter de sanção
– com carácter contributivo para o financiamento de
despesas públicas.
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Prestação pecuniária

• Prestação em dinheiro,

Lei Geral Tributária


Artigo 40º
As prestações tributárias são pagas em moeda corrente
ou por cheque, débito em conta, transferência conta a
conta e vale postal ou por outros meios utilizados pelos
serviços dos correios ou pelas instituições de crédito
que a lei expressamente autorize.

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Assente na capacidade contributiva
• O imposto pressupõe essencialmente a capacidade contributiva do
respectivo devedor variando no seu quantum de acordo com ela.
• Razões de ordem político-social poderão emprestar ao imposto
outras motivações que não a estrita obtenção de receita (impostos
extrafiscais).
• A capacidade contributiva revela-se, nos termos da lei, através do
rendimento auferido, da sua utilização no consumo, e do património
detido (n.º 1 do art.º 4º da LGT),
• Capacidade contributiva # capacidade tributária

LGT – Artigo 4.º Pressupostos dos tributos


1 - Os impostos assentam essencialmente na capacidade contributiva,
revelada, nos termos da lei, através do rendimento ou da sua
utilização e do património.

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Prestação exigida com base na lei
• A obrigação de imposto não decorre de qualquer acordo
estabelecido pelas partes envolvidas, antes derivando
expressamente da lei, ou seja, é independente da
vontade do obrigado (obrigação ex lege).

• A sua exigência ao devedor dependerá frequentemente


de um acto voluntário por este praticado, acto esse a
que a lei fará corresponder, se esse for o caso, o
pressuposto de uma obrigação tributária. Daí a
preferência pela sua caracterização como prestação
estabelecida por lei em detrimento da de prestação
coactivamente exigida.

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Exigida pelo Estado ou outros entes públicos
( entidades que exerçam funções públicas)
Lei Geral Tributária
Artigo 18.º

1- O sujeito activo da relação tributária é a entidade de


direito público titular do direito de exigir o cumprimento
das obrigações tributárias, quer directamente quer
através de representante.

2 - Quando o sujeito activo da relação tributária não for o


Estado, todos os documentos emitidos pela
administração tributária mencionarão a denominação do
sujeito activo.
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Sem qualquer contrapartida directa
• Carácter unilateral do imposto = o pagamento do imposto não
concede a quem o paga o direito a exigir que lhe seja fornecida uma
contraprestação directa.

• Embora as receitas fiscais se destinem à satisfação de despesas


públicas que revertem a favor da sociedade em geral, das pessoas
e entidades que pagam os impostos, não se pode estabelecer
qualquer ligação directa entre aquilo que se paga e a contrapartida
em troca recebida.

• Trata-se de bens ou serviços fornecidos em geral, e de forma


indivisível, de que mesmo os contribuintes não sujeitos ou isentos
beneficiam

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Prestação definitiva

• Uma vez paga, e desde que o cálculo do respectivo


valor não contenha quaisquer erros ou omissões, ela
não será devolvida a quem a pagou pelo respectivo
credor, isto é, não é susceptível de reembolso,
restituição, retribuição ou indemnização.

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Com carácter contributivo para o
financiamento de despesas públicas
• O carácter contributivo é a razão de ser do imposto, característica que o
distingue de outras prestações pecuniárias, como é o caso das multas ou
coimas que apenas se apresentam como sanções por ilícitos cometidos.

• Em razão dessa característica há impostos designados de contribuições, de


que é exemplo a recém criada Contribuição Extraordinária de Solidariedade
(CES) sobre os pensionistas

• Nos impostos extrafiscais, argumenta-se que o seu objectivo primeiro não é


a obtenção de receitas para o financiamento de despesas públicas mas
antes a realização de outros fins públicos (repartição equitativa dos
encargos públicos, penalização de determinados consumos nocivos ou
prejudiciais – imposto sobre o tabaco e bebidas alcoólicas, p.e – ou mesmo
protecção económica de bens internamente produzidos – certos impostos
aduaneiros), razões que justificam para alguns autores como
fundamentação do imposto a prossecução de fins públicos em geral e não
o financiamento de despesas públicas.

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figuras jurídicas afins do
imposto
• Taxas

• Empréstimo público forçado

• Contribuição especial

• Sanções patrimoniais (coimas, multas, juros


sancionatórios

• Requisição

• Apropriação pública.
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Taxas
• Apresentam carácter individualizado (contrariamente ao que vimos
suceder com o imposto, sendo o seu âmbito restringido aos
serviços públicos divisíveis)
• Vínculo obrigacional sinalagmático = subjacente está
contraprestação individualmente fornecida ao devedor em resultado
ou consequência do montante pago.
• É este carácter bilateral da taxa que fundamentalmente a distingue
do imposto que definimos com uma prestação unilateral.

art.º 4º n.º 2 da LGT :


2 - As taxas assentam na prestação concreta de um serviço público,
na utilização de um bem do domínio público ou na remoção de um
obstáculo jurídico ao comportamento dos particulares.

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Taxas
• Prestação concreta de um serviço público
– Propinas; custas de justiça
• Utilização de um bem do domínio público ou
semipúblico
– Portagens pagam pela circulação em determinadas
vias rodoviárias, bem como as taxas devidas pela
utilização de portos, aeroportos, praias, parques de
estacionamento
• Remoção de um obstáculo jurídico ao
comportamento dos particulares.
– licença para ocupação transitória da via pública ;
licença de obras

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Contribuições financeiras a favor de
entidades públicas
• V.G. Contribuições para a Segurança Social.

• São importâncias pagas tanto pelos trabalhadores como pelas


respectivas entidades patronais, com base numa percentagem
(diferente para aqueles e estas) aplicável às remunerações
efectivamente recebidas ou presumidas.
• Contribuições pagas pelos trabalhadores = embora existam alguns
benefícios decorrentes do seu pagamento, eles têm carácter
aleatório o que exclui a sua consideração como taxas (que exigem
uma contrapartida directa). Daí a sua qualificação como prémios de
seguro, que no caso vertente é obrigatório, com fins sociais, de
direito público.
• Contribuições pagas pelas entidades patronais = como elas não
retiram quaisquer benefícios, directos ou indirectos em resultado do
pagamento, preenchem todos os requisitos apresentados para o
conceito de imposto.

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Imposto e empréstimo público forçado

• O imposto é definitivo, o empréstimo público forçado é


reembolsável ou amortizável.

• O empréstimo público é forçado quando os particulares são


forçados a subscrevê-lo sem, liberdade na decisão de o fazer ou
não, contrariamente ao que acontece nos vulgares empréstimos
públicos

• No empréstimo público forçado além de existir uma


contraprestação devida pelo Estado e consubstanciada no
pagamento periódico de juros (carácter bilateral), existe também
para o devedor a obrigação de proceder ao seu reembolso
posterior, de uma só vez ou pela via de amortizações
escalonadas no tempo (carácter não definitivo).

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Imposto e contribuição especial
• Tributos especiais ou contribuições especiais = prestações
pecuniárias exigidas pelo Estado aos contribuintes em virtude de
uma vantagem particular e concreta que estes retiram da realização
de determinados empreendimentos públicos ou da criação e
funcionamento de serviços públicos de interesse geral ou ainda em
virtude das especiais despesas que a sua actividade provoca. Não
se trata de cobrir despesas correntes da Administração mas antes
de compensar verdadeiros gastos de investimento.

Artigo 4º n.º 3 LGT


3- As contribuições especiais que assentam na obtenção pelo
sujeito passivo de benefícios ou de aumentos de valor dos seus
bens em resultado de obras públicas ou da criação ou ampliação de
serviços públicos ou no especial desgaste de bens públicos
ocasionados pelo exercício de uma actividade são consideradas
impostos.

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Imposto e sanções patrimoniais
• Multas = sanções pecuniárias por ilícitos criminais

• Coimas = sanções por ilícitos de mera ordenação social


(contra-ordenações).

• Juros sancionatórios = devidos quer por atraso no


cumprimento de obrigações legalmente estabelecidas,
quer como indemnização a uma entidade pública com o
fim de reconstituir o seu património em resultado dum
facto ilícito.

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Imposto e requisição. Imposto e
apropriação pública
• Apropriação pública dos meios de produção = artigo 83º
da CRP estabelece que os respectivos meios, formas e
critérios de indemnização sejam fixados por lei

• Requisição = acto pelo qual, em situações excepcionais


e expressamente previstas na Lei (art.º 165º n.º 1 alínea
e) da CRP), se pode exigir aos particulares, a prestação
de determinados serviços, a cessão de bens móveis ou
a utilização de certos bens. Sempre para ocorrer a
necessidades urgentes e sempre com a justa
indemnização.

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O imposto – tipologia
• Impostos directos e indirectos
• Impostos reais e impostos pessoais
• Impostos periódicos e impostos de
obrigação única
• Impostos de prestação fixa e impostos de
prestação variável
• Impostos proporcionais, progressivos,
degressivos e regressivos
• Impostos estaduais e não estaduais
• Impostos fiscais e impostos extrafiscais

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Impostos directos e indirectos
• Critério económico-financeiro
– Directos = incidem sobre manifestações directas ou imediatas da capacidade
contributiva
– Indirectos = incidem sobre manifestações mediatas ou indirectas dessa
capacidade, ou seja, nas utilizações em consumo dessa mesma capacidade
• Critério da repercutibilidade jurídica
– Directos = não obrigatoriamente repercutíveis
– Indirectos = o legislador impõe a sua repercussão ou seja a transferência do
encargo fiscal respectivo para o cliente
• Critério jurídico-administrativo
– Directos = lançados com base numa lista prévia de contribuintes sujeitos, lista
de que dispõem os serviços tributários
– Indirectos tal conhecimento não é possível

• Critério do processo de lançamento e cobrança dos impostos


– Directos = o processo compete aos serviços fiscais
– Indirectos = processo é realizado pelo próprio contribuinte

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Impostos reais e impostos pessoais
• Reais = tributam o rendimento ou património em termos
objectivos, sem ter em conta a situação pessoal e
familiar dos contribuintes

• Pessoais têm, em alguns aspectos do seu regime


jurídico, atenção a tais realidades

não existem em geral tipos puros de impostos reais ou


pessoais, antes se devendo recorrer, neste critério de
classificação, à predominância dos aspectos objectivos
ou subjectivos do imposto, pese embora a fonte de
imprecisão que, no concreto, origina.

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Impostos periódicos e impostos de
obrigação única

• Periódicos = tributação repetida ou continuada, cuja


obrigação se renova em cada período (geralmente o
ano)

• De obrigação única = a respectiva obrigação apenas


existe se e quando sejam verificados os factos que a lei
elegeu como dando origem à obrigação do imposto

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Impostos de prestação fixa e impostos
de prestação variável
• De prestação fixa = não depende de qualquer matéria
colectável.
• De prestação variável = o seu montante depende quer
das variações da matéria colectável quer das variações
da taxa
– Proporcionais = a taxa é fixa, não variando com o valor da
matéria colectável.
– Progressivos = a taxa aumenta à medida que aumenta a
matéria colectável, podendo a progressividade ser global (a
maior taxa aplica-se a toda a maior matéria colectável) ou por
escalões (a matéria colectável é dividida por escalões,
correspondendo a cada escalão uma taxa de imposto distinta. O
total do imposto a pagar pelo contribuinte corresponde ao
somatório dos valores correspondentes à diferentes parcelas
em que o rendimento foi dividido).

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Impostos de prestação variável (cont.)
– Degressivos = estabelece-se uma taxa proporcional para a
matéria colectável que se situe acima de um determinado
quantitativo, fixando-se taxas que diminuem para matérias
colectáveis inferiores a esse limite .
Ao contrário dos impostos progressivos, onde as taxas
crescentes são a regra, vigorando a taxa limite (proporcional)
apenas para escalões muito elevados e excepcionais de
matéria colectável, no imposto progressivo a taxa regra é a taxa
proporcional, aplicando-se a taxa inferior apenas a níveis
inferiores e excepcionais da matéria colectável.

- Regressivos = aqueles em que a taxa diminui à medida que


aumenta a matéria colectável. No tipo puro estes impostos não
existem actualmente

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Impostos estaduais e não estaduais

• Estaduais = têm como sujeito activo o Estado

• Não estaduais = têm por sujeito activo um outro ente de


direito público, seja ele uma região autónoma (impostos
regionais), uma autarquia local (impostos municipais).

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Impostos fiscais e impostos extrafiscais
• Fiscais = o seu principal propósito é a
arrecadação de receitas

• Extrafiscais = o seu lançamento não visa


directamente a obtenção de receitas, mas
apresenta objectivos não financeiros – fazer
face a custos sociais derivados de determinados
consumos, defender o meio ambiente,
desincentivar actuações lesivas para o interesse
público (impostos especiais de consumo;
impostos ambientais)

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Principais impostos do sistema fiscal
português
• Tributação directa
– Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS);
Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (IRC);
Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI)
• Tributação da despesa
– Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA); impostos
aduaneiros; impostos especiais sobre alguns consumos (vg.
álcool e bebidas alcoólicas, tabacos, óleos minerais, imposto
automóvel). ; Imposto Municipal sobre Transmissões Onerosas
de Imóveis (IMT)

• Imposto de Selo
• Derrama (estadual e municipal)
• Imposto Automóvel (IA),
• Imposto Municipal sobre Veículos
• Imposto de Circulação e Camionagem
• …
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