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• NOÇÃO DE METODOLOGIA:
− A metodologia visa compreender, de forma racional (logos – que entendemos ser de índole prático-
normativa, dialética e analógica), o método (odos) que conduzirá à realização judicativo-decisória do direito (meta).
• O JUÍZO DECISÓRIO:
− Objeto intencional da metodologia = juízo decisório (juízo + decisão): tem de ser uma decisão
justificada, racionalizada, fundamentada, com uma dimensão judicativa:
− O juízo corresponde ao momento de fundamentação e controlo das decisões (para nós, o juízo
é prático e resulta de uma ponderação feita através de um raciocínio dialético entre o caso e o direito);
− A decisão consiste na opção resolutiva, perante um quadro de possibilidades radicadas na
vontade do juiz, que vai optar pela decisão que vai colocar fim à controvérsia.
− O juízo decisório (enquanto decisão judicativo-decisória concreta) distingue-se da prescrição legislativa.
• PERSPETIVA JURISPRUDENCIALISTA:
− Direito pensado como validade que se vai projetar na resolução de controvérsias jurídicas;
− Papel de juiz criativo, que exerce uma mediação entre o sistema jurídico e o caso concreto;
− As normas são abstratas, logo é preciso concretizar a norma com o caso concreto;
− A metodologia jurisprudencialista é uma metodologia do nomos (=a partir de juízos decisórios concretos);
− Dialética constante entre o sistema jurídico vigente e o problema jurídico concreto, procurando uma
norma legal que responda, em abstrato, a um problema e, posteriormente, fazer um percurso analógico entre o caso concreto e
o problema que aquela norma resolve em abstrato – direito que se realiza no confronto crítico-reflexivo dialético e
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• RELAÇÃO ENTRE LOGOS E MÉTODO (=odos) – referir a alegoria hegeliana (prof. de natação):
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• A metodologia pode ser a mesma para o legislador e para o julgador/juiz? Conceções da metodologia:
finalidade social, procurando uma solução útil (HANS ALBERT diz que é possível
defender esta tese se estivermos perante uma conceção pragmática ou de teologismo
tecnológico, de uma racionalidade instrumental/técnica (social engineering), em que
o direito surge como instrumento dos fins sociais);
− Para os normativistas, o julgador ia conhecer o direito baseado em normas na sua
autonomia formal e aplicá-las de forma neutra, sem criatividade ou possibilidade de
ajustamento.
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• FONTES DE DIREITO (artigos 1.º a 4.º CC):
− O legislador consagrou como fontes do direito a lei, as normas corporativas, os usos e a equidade;
− Adotamos a perspetiva fenomenológico-normativa:
− Olhamos para o que é o direito que está constituído na sociedade vigente, válido e eficaz, e
que ultrapassa o que está consagrado na lei (recorremos também à doutrina e à jurisprudência). Para
esta perspetiva, o problema das fontes consiste em saber como se constitui a juridicidade vigente,
quais as vias ou os modos pelos quais essa normatividade jurídica válida é constituída.
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RACIONALIDADES
• O JUÍZO DECISÓRIO:
− O objeto intencional da metodologia é o juízo decisório (juízo + decisão): tem de ser uma decisão
justificada, racionalizada, fundamentada, com uma dimensão judicativa.
− O juízo corresponde ao momento de fundamentação e controlo das decisões (para nós, o juízo
é prático e resulta de uma ponderação feita através de um raciocínio dialético entre o caso e o direito);
− A decisão consiste na opção resolutiva, perante um quadro de possibilidades radicadas na
vontade do juiz, que vai optar pela decisão que vai colocar fim à controvérsia;
− Daqui resulta que a racionalidade implicada na realização judicativo-decisória é prático-
material e axiológico-normativa (desenvolver aqui as características da racionalidade adotada: página 11).
• NOÇÃO DE RACIONALIDADE:
− Relação entre uma certa posição ou conclusão e determinados pressupostos, materiais ou formais,
que sustentam essa conclusão e lhe conferem um sentido (CASTANHEIRA NEVES) – podemos dizer que certa
conclusão é racional quando for sustentada por certos pressupostos. Em função destes pressupostos, teremos vários
tipos de racionalidade.
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RACIONALIDADES EM GERAL
• RACIONALIDADE LÓGICO-FORMAL:
− Estabelece relações entre proposições num modo de inferência necessária, segundo regras que
exprimem uma estrutura sintática e cuja validade se afere pela mera compossibilidade desses elementos,
independentemente do respetivo conteúdo;
− Cariz demonstrativo, dedutivo e silogístico;
− O discurso resume-se a uma mera compatibilidade entre premissas;
− Ciência da verdade de proposições com fundamento unicamente na forma (solução formalmente
adequada).
• RACIONALIDADE TEORÉTICA/TEÓRICA:
− Pressupõe um discurso de referência objetiva que assenta numa relação sujeito-objeto;
− Uma solução racional é uma solução materialmente adequada;
− Varia consoante esteja em causa uma intenção:
− Especulativa: parte da ideia de que a própria realidade possui uma racionalidade intrínseca, o
pensamento humano consiste numa reflexão da racionalidade imanente à ordem total do ser,
a validade dos pensamentos (e ações) do homem depende da sua correspondência à racional
realidade contemplada (o direito que mobilizamos espelha a natureza das coisas);
− Explicativa (modelo tradicional das ciências da natureza): observam-se fenómenos naturais e
formulam-se hipóteses explicativas, posteriormente sujeitas a uma experimentação empírica
a fim de serem comprovadas, tornando-se teorias (por via indutiva) e a explicação consiste,
depois, numa inferência dedutiva a partir das teorias para uma realidade particular;
− Técnico-finalista/funcional: sinónima de validade é agora a adequação funcional ou aptidão
instrumental (meios/fins), identificando-se a racionalidade com a eficácia ou a eficiência (a
solução é válida se for apta a atingir determinados fins). Esta racionalidade está relacionada
com a racionalidade tecnológica especificamente jurídica defendida por HANS ALBERT.
• RACIONALIDADE PRÁTICA:
− Visa a plausibilidade razoável-situacional e prático-contextual: quer-se afirmar a plausibilidade de
certas conclusões (ações, posições, etc.) com base na sua razoabilidade num certo contexto situacional;
− Está em causa a validade em sentido prático, que tem a ver com a fundamentação ou justificação
comunicativas da referida conclusão e com o inerente convencimento dos interlocutores e do auditório;
− A racionalidade prática pode ser pensada de várias formas:
− Formal/procedimental;
− Material/substantiva;
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− Axiológica: a racionalidade prática axiológica funda a ação em valores ou princípios – o agente
atua com base em determinados pressupostos axiológico-normativos porque os tem por
justos e válidos;
− Finalista: a ação surge orientada pelos fins que visa atingir, e já não pelos valores que
pressupõe em termos fundamentantes e regulativos. Esta também se relaciona com a
racionalidade tecnológica especificamente jurídica defendida por HANS ALBERT.
• RACIONALIDADE TÉCNICO-INSTRUMENTAL:
− Vê o pensamento jurídico como uma tecnologia social (uma social engineering);
− Concebe o direito como um instrumento (manipulável segundo uma racionalidade finalística,
funcional e tecnológica), ao serviço de fins sociais (estratégia social);
− A utilidade (com a sua índole pragmática e a sua racional eficiência) prefere à axiológica justiça (e à
sua apelativa normatividade), e a performance prevalece sobre a validade;
− O jurista deixa de ser o prudente e passa a ser o engenheiro ou técnico social que encara a prática
como um meio causador de efeitos;
− Os valores são substituídos pelos fins (subjetivos), os fundamentos normativos pelos efeitos empíricos
e a legitimação axiológica pela legitimação tecnológica;
− HANS ALBERT (a conceção do direito em geral): o direito passa a ser olhado como uma estratégia
político-social funcional e finalisticamente programada, assinando-se ao jurista a tarefa de descobrir
heuristicamente os fins da sociedade no contexto histórico-cultural em que se integra, para elaborar os
modelos de solução dos problemas jurídicos, que mais eficazmente permitam realizar aqueles objetivos.
Estamos perante uma verdadeira tecnologia social sem carácter axiológico-normativo, por isso
CASTANHEIRA NEVES critica esta teoria: o direito deixa de ser visto como um sistema normativo de validades, para
passar a ser um instrumento para atingir certos fins sociais.
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− WALDE e KILLIAN (a teoria da decisão jurídica): pretende-se racionalizar o mais possível a decisão
com o objetivo de maximizar a utilidade e a oportunidade. CASTANHEIRA NEVES critica esta teoria: não vai
orientar o juiz na sua tarefa judicativo-decisória, que deve ter como fundamento a validade da norma; assenta num
modelo de racionalidade impraticável e não é suscetível de ser adaptada ao caso concreto.
− FRANÇOIS OST (a conceção da função judicial): o juiz deveria atuar segundo um modelo de justiça
científica, eminentemente finalística e com uma índole programática, ou seja, o juiz passa a ser engenheiro na
concretização da estratégia social (em vez de ser um terceiro imparcial). LUÍS VALE critica esta teoria: o juiz não
pode perder o seu estatuto imparcial.
− Racionalidade tópico-retórica:
− A tópica (definida por VIEHWEG) consiste na arte da argumentação, através do uso
de opiniões que são frequentes na sociedade, com o objetivo de encontrar uma solução para
um problema. Segundo PINTO BRONZE, a tópica não é suficiente para fundamentar as concretas
decisões judicativas;
− A retórica é a arte de usar a linguagem de forma a comunicar de forma eficaz e
persuasiva (ethos, logos e pathos). PERELMAN faz uma ponte entre a retórica e a teoria da
argumentação: a demonstração, baseada na racionalidade lógico-formal, não ocupa todo o
espaço da racionalidade, deixando lugar à platónico-socrática fundamentação
argumentativamente convincente. No domínio dos discursos práticos, mais importante do que
demonstrar o que quer que seja, ou persuadir o(s) interlocutor(es) de algo, é fundamentar em
termos argumentativos as posições que se defendam. PINTO BRONZE critica esta teoria.
− Racionalidade argumentativa: existe um problema que vai ser discutido pelos interlocutores,
perante um auditório, sendo que os interlocutores têm de convencer o micro-auditório e o
macro-auditório (=toda a comunidade). Categorias nucleares desta racionalidade: a
controvérsia, os interlocutores, o auditório, o referente e o procedimento.
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✓ Crítica de CASTANHEIRA NEVES: a razão especificamente jurídica, comprometida com a
realização judicativo-decisória do direito, não tem um carácter meramente procedimental,
seja de tipo retórico, tópico ou argumentativo, porque:
− O pensamento tópico-retórico-argumentativo privilegia um consenso persuasivo a
posteriori, ao passo que as jurídicas decisões judicativas se fundamentam numa validade
normativamente vinculante a priori;
− Os topoi (argumentos) são tendencialmente equivalentes, dependendo a sua força ou
fraqueza exclusivamente da controvérsia concreta, enquanto os fundamentos e os critérios
jurídicos beneficiam de uma determinada presunção de vigência e são intersubjetivamente
vinculantes;
− No horizonte tópico-retórico-argumentativo, a discussão é a última instância de
controle, ao passo que, na esfera da decisão judicativa, intervém um terceiro imparcial (o
tribunal) que não deixa de ouvir as partes, mas tem autonomia judicativa;
− O juízo jurídico encontra o seu fundamento no constituendo sistema material da
normatividade jurídica vigente e não apenas nas regras do discurso prático-racional.
− Índole material: a validade da conclusão é aferida em relação a um fundamento material (por exemplo,
um conjunto de valores). As racionalidades práticas de índole material são três:
− Narrativa: tem por referente algo que está a ser contado de forma articulada (=narração de
uma história), sendo que o que está por trás é um episódio empírico (uma experiência de vida).
A solução será coerente e válida se puder inserir-se na narrativa como um todo, i.e., as
soluções jurídicas devem ser coerentes com a narrativa. CASTANHEIRA NEVES defende que
esta narrativa é relevante no momento da prova;
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Racionalidade Hermenêutica Racionalidade Narrativa
Paradigmas Compreensão/interpretação de textos Narração de contos ou histórias
Referentes A coisa, matéria ou tema cultural O acontecimento, real ou ficcionado,
normativos de que fala o texto a trama das ações
A cultura, assumida e
Pressuposições A experiência de vida, o acontecimento empírico
transmitida numa tradição histórica
A compreensão do sentido da expressão cultural A inteligibilidade da realidade (efetiva ou ficcionada)
Logos
a que a coisa referida permite aceder do próprio acontecimento
Coerência de índole integrante e numa Coerência de índole estrutural e numa perspectiva
Coerência perspectiva vertical: a integração compreensiva horizontal: a unitária conexão de elementos
da parte no todo dispersos
− Teleológica: o direito, sendo uma realidade prática, não é alheio a fins. Esta teleologia pode
ser entendida, por um lado, como uma pura tecnologia (apenas se vai ter em conta os
interesses da sociedade) e, por outro lado, como uma teleologia do direito, das próprias
intenções do direito. Neste caso, os fins em causa são as intenções práticas materialmente
constitutivas do próprio direito e não quaisquer escopos sociais pré-definidos e
heteronomamente impostos. Ou seja, o carácter teleológico da racionalidade especificamente
jurídica só pode reportar-se a uma verdadeira teleonomologia, ou seja, a uma teleologia dos
fins específicos do nomos jurídico, com a consequência metodológica de que na realização do
direito é preciso considerar o telos do nomos.
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• A RACIONALIDADE ESPECIFICAMENTE COMPROMETIDA COM A RACIONALIZADA REALIZAÇÃO JUDICATIVO-
DECISÓRIA DO DIREITO: de maneira resumida, a realização judicativo-decisória do direito (nomos-ius),
pressupõe e requer, nos termos de uma crítico-reconstrutiva reflexão, a intervenção de «uma racionalidade
problemático-sistematicamente estruturada, argumentativo-analogicamente dinamizada e normativo-
juridicamente intencionada».
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CARACTERÍSTICAS DA RACIONALIDADE QUE NÓS DEFENDEMOS:
▪ Com estrutura argumentativa: os critérios e fundamentos que são convocados para resolver o
problema são sempre mobilizados através de argumentos (materiais);
▪ Dialética: a dialética entre sistema e problema numa intenção judicativa de realização normativa é a
racionalidade jurídica a considerar. O pólo do sistema deve ser compreendido tendo em conta o seu
caráter material, aberto, não pleno, pluridimensional e de reconstituição regressiva. O pólo do
problema deve ser entendido como um problema jurídico concreto. A dialética que se estabelece
entre estes dois pólos atravessa todo o esquema metódico;
▪ Analógica: na dialética entre o sistema e o problema podemos vislumbrar uma analogia (um confronto)
entre o problema jurídico em concreto e a intencionalidade problemática do critério jurídico a
mobilizar, de forma a encontrar semelhanças (aproximadoras) que prevaleçam sobre as diferenças
(afastadoras) que os afastam, justificando assim, uma solução semelhante à dada pelo critério jurídico
ao problema que tem pressuposto (=analogia entre o problema do caso jurídico e o problema da própria
norma);
− É necessária a presença de um termo de comparação que justifique que os elementos, apesar
de diferentes, sejam comparados (fundamento específico);
− O objecto da analogia são os casos jurídicos, ao contrário do entendimento tradicional em que
a analogia legis se refere às situações em que perante um caso omisso se procura a solução numa
norma legal que resolva o caso idêntico e em que a analogia juris, perante a ausência de uma norma
legal que resolva um caso análogo, recorre a um princípio geral de direito, para dele deduzir a solução.
CASTANHEIRA NEVES defende que estas duas analogias não são verdadeiras analogias porque implicam
uma mudança de nível. Por outro lado, PINTO BRONZE entende que ambas podem ser reconsideradas e
incluídas numa noção ampla de analogia do direito – aliás, considera que toda a analogia é analogia juris.
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− Quanto ao sentido da analogia, vale o princípio da inércia, em que se procura um caso análogo
no sistema. A analogia tem uma índole argumentativa e não lógica, pois convocamos argumentos para
a aproximação de dois problemas, embora eles sejam diferentes;
− Quanto ao fundamento, a analogia reside no princípio da igualdade: se o caso-tema e o caso-
foro são semelhantes quanto ao problema jurídico que colocam, admitindo igual valoração normativo-
jurídica, então a solução para ambos deverá ser idêntica.
Esta racionalidade:
− Difere da retórica porque não se pretende emocionar, persuadir, independentemente de se conseguir
convencer (na retórica muitas vezes se ocultam factos/situações ou só se referem indirectamente);
− Difere da tópica porque esta coloca a ênfase no problema, enquanto que a argumentação diz serem
essenciais as regras do discurso propriamente dito.
− Há pontos em comum entre todas elas (argumentação, retórica, tópica): o consenso é o critério último
da validade.
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O ESQUEMA METÓDICO
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• PRIUS E MODUS METODOLÓGICO:
− Há autores que vêm a norma como prius metodológico e outros vêm o caso como prius metodológico;
− CASTANHEIRA NEVES e PINTO BRONZE propendem para a segunda perspetiva, vendo no caso
o prius e o modus metodológico, ou seja, o ponto de partida e a perspectiva da metodologia, porque:
− O esquema metódico inicia-se com a questão-de-facto, em que o juiz olha para os factos e
tenta perceber o que está em causa no caso concreto;
− Na questão-de-direito em abstrato, é a partir do caso e na perspectiva do caso, tomado nas
suas especificidades, que se vai discernir e destacar a norma hipoteticamente aplicável;
− A interpretação da norma não é feita em abstrato, antes em função das particularidades do
caso;
− A própria delimitação do espaço livre do direito é feita não a partir de qualquer norma, mas
do caso, pois é este que recoloca a questão dos limites da juridicidade e o problema do próprio direito.
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− Questão de facto:
problema concreto com os problemas que são tratados naquelas áreas do direito );
− Questão de direito:
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− Adaptação: há uma sobreposição entre o âmbito material de
relevância do caso e da norma (adaptação extensiva ou adaptação restritiva
da norma ao caso);
− Ou correção: os problemas são semelhantes, mas a matéria do
caso e a matéria da norma não (correção diacrónica quando a norma perdeu
adequação à realidade e correção sincrónica quando a norma já nasceu
desadaptada por erro do legislador);
− Não assimilação ou superação por obsolescência: há determinadas
evoluções históricas que tornaram a norma obsoleta, ou seja, os elementos
de que é feito um caso mudaram radicalmente, pelo que as indicações que
a norma dá já não são aplicáveis.
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iii. Momento dos fundamentos: os princípios como ius (e não como intentio) são
direito vigente e um estrato autónomo do nosso sistema jurídico, e devem ser
tratados metodologicamente como fundamentos, logo as normas estão
limitadas pelas exigências dos princípios. Para a conceção jurisprudencialista
este momento é indispensável. Deste confronto, podem surgir várias
possibilidades quando estamos a experimentar a norma:
− Se a norma estiver em perfeita consonância com os princípios, não há
qualquer problema;
− Se houver desconformidade (incoerência) entre a norma e os
princípios:
− Se ainda for possível reconstituir a sintonia da norma com o
princípio, é assim que ela deve ser concretizada no caso;
− Se a interpretação da norma necessitar de correção
(sincrónica ou diacrónica), podemos corrigi-la, respeitando os
princípios;
− Se houver contradição: no limite, a norma pode ter de ser
ultrapassada, quando for de tal forma contrária aos princípios que não poderá
ser interpretada de acordo com eles:
− Pode estar em causa uma preterição (contradição sincrónica),
quando a norma já nasceu a contrariar o princípio de forma
irreversível;
− Ou uma perda de vigência da validade (contradição
diacrónica), quando a norma foi superada por caducidade e
deixa de poder ser usada como critério para resolver o caso.
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• PERSPETIVA HERMENÊUTICO-COGNITIVA (tradicional/positivismo) – no âmbito da interpretação (na
questão de direito em abstrato e na questão de direito em concreto):
− Direito pensado primeiramente num plano abstrato e só depois dirigido à prática;
− Três momentos: o momento científico (=construção conceitual), o momento hermenêutico
(=interpretação normativa em abstrato) e o momento exterior da aplicação lógico-dedutiva;
− O objeto da interpretação é o texto da norma (o texto constitui ele próprio o direito);
− Elementos: elemento gramatical, elemento histórico e elemento sistemático;
− O texto não se confunde com o elemento gramatical, mas desempenha uma função autónoma e
inconfundível com os outros elementos textuais (histórico e sistemático), assumindo uma relevância negativa (exclui
os candidatos incompatíveis com a letra da lei) e uma relevância positiva (seleciona os candidatos positivos) – teoria
da alusão (artigo 9.º/2 do CC);
− Segundo esta perspetiva, o elemento teleológico é um elemento extratextual perigoso e, como tal,
deve ser excluído (SAVIGNY). Contudo, há casos em que se pode atender ao elemento teleológico: quando o texto
da lei se encontra num estado não saudável, ou seja, imperfeito ou insuficiente;
− Resultados de interpretação tradicionais: interpretação declarativa, interpretação extensiva,
interpretação restritiva, interpretação enunciativa e interpretação revogatória);
− Não se deve admitir a extensão teleológica nem a redução teleológica porque isso poria em causa o
limite imposto pelo elemento gramatical.
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