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1º Ano - 2º Semestre
Turma A
2015/2016
2. O preâmbulo.
2.1. Noção: documento que precede a Constituição e que tem o escopo de a situar histórica e
politicamente. Sendo alvo de grande controvérsia, o preâmbulo pode, em certos casos, revestir uma natureza sacra
(o povo interioriza-o – é o caso americano), noutros invocar o nome de Deus (situação Alemã de 1949 e Brasileira
de 1988) e, ainda, dispor de força jurídica (caso francês de 1958 – recetor de normas do seu antecessor, em 1946,
que incorporavam a DUDH) ou dispor de carácter poético e ideológico (caso português, CRP de 1976). A regência
desconsidera, salvo raras exceções, a força normativa do preâmbulo.
2.2. Conceções relativas à relevância dos preâmbulos. A relevância jurídica preambular pode assumir
três variantes: a irrelevância jurídica (não se afirma como parâmetro de constitucionalidade ou como instrumento
de interpretação), a relevância jurídica plena (dispõe de estatuto semelhante à Constituição, pelo que vincularia
o direito inferior) e a relevância jurídica indireta (os princípios operam como instrumento de interpretação).
2.3. A irrelevância jurídica do preâmbulo da Constituição portuguesa de 1976. A regência entende que,
na Constituição de 1976, impera a irrelevância jurídica do preâmbulo, dispondo este de uma função meramente
histórica.
A. Argumentos. O texto literário é da autoria de um poeta, Manuel Alegre, logo dispõe de caráter
utópico e proclamatório, pelo que não deve condicionar a organização e os direitos do Estado. Os princípios
enunciados não são autónomos, porque ou não dispõem de correspondência (caducaram) ou são reproduzidos
com maior concretização e densidade na ordem constitucional. A matriz socialista e dirigista do preâmbulo
contrasta com as alterações produzidas pelas revisões constitucionais, que formaram uma Constituição de matriz
democrática e pluralista, logo conceder relevância jurídica ao preâmbulo significa contradizer o próprio
preceituado. O preâmbulo é juridicamente irrelevante e opera como um elemento de divisão e não de
integração.
4. Princípios Constitucionais.
4.1. Noção: enunciados de valores e interesses públicos qualificados com relevo constitucional, dotados
de conteúdo aberto e indeterminado e que operam como mandatos jurídicos de harmonização e otimização do
ordenamento.
4.2. Princípios normativos e regras jurídicas: critérios distintivos.
A. Essencialidade axiológica: a axiologia é a grande distinção entre princípios e regras, já que os
primeiros se caracterizam por bens jurídicos que se traduzem numa grande dominância dos interesses públicos e
dos valores, enquanto as regras mantêm uma linguagem e conteúdo funcionais.
B. Generalidade e abstração: a generalidade e abstração constantes dos princípios resultam do
seu caráter mais finalístico, que procuram um status ideal (quase utópico), logo não tão imediatos como as regras,
que impõem condutas permissivas, obrigatórias ou proibidas.
C. Indeterminabilidade: ao contrário das normas, caracterizadas por um elevado grau de
determinabilidade, os princípios são substancialmente mais indeterminados, devido à generalidade e abstração
maiores, que levam a um conteúdo mais disperso, vasto e pouco concreto.
4.3. Operatividade dos princípios.
A. Os princípios como parâmetro da constitucionalidade das normas jurídicas
infraconstitucionais (o nº1 do artigo 277º da CRP).
B. Os princípios como medidas de valor de interpretação e integração das normas
constitucionais.
a) Métodos e técnicas de interpretação e concretização dos princípios.
b) Princípios e conceitos jurídicos indeterminados.
C. A força de irradicação dos princípios constitucionais.
D. As conceções de irradiação dos princípios constitucionais.
4.4. Breve tipologia.
A. Princípios axiológicos fundamentais: determinam a natureza e a identidade da República
Portuguesa como um Estado de direito democrático e soberano.
B. Princípios estruturantes do estatuto do poder político: enunciado das máximas orientadoras
da organização e funcionamento do poder.
C. Princípios estruturantes do sistema de direitos fundamentais: princípios que operam como
garantia do complexo ordenado de direitos fundamentais declarados na Constituição.
D. Princípios da ordem programática: mandatos específicos de comportamento ativo nos
domínios económico, social e cultural, dirigidos primariamente ao legislador.
3. Conceção adotada.
A. Um positivismo sistémico, existencialista e inclusivo.
B. O ordenamento jurídico: um sistema jurídico geral composto por um sistema de decisões jurídicas
e um sistema de decisores, articulados em torna de exigências de unidade, coerência, vocação de completude e
relação de pertença. A regência defende uma Constituição que é lei e que, neste sentido, tem hierarquia superior,
sendo uma norma que vincula outras normas e cujo respeito é salvaguardado pelos tribunais - garantes da unidade
e da coerência. Na sua vertente decisionista, entende que o ordenamento jurídico é composto por decisões (as
normas jurídicas e os atos) e por decisores (o poder constituinte, que é juridicamente ilimitado). Nesta medida, a
Constituição baseia-se numa vontade soberana do povo (nasce de um ato de vontade). Em termos conceptuais,
entende a Constituição como a lei suprema de um Estado, que estrutura a ordem jurídica, aprova o estatuto do
poder político e dispõe sobre a relação entre sociedade e poder.
1. Funções da Constituição: a Constituição terá várias funções: integradora da unidade política,
legitimadora do regime e do poder, por forma a garantir a aceitação do poder, organização e limitação do poder,
estruturante, na medida em que é norma sobre normação (avalia a validade e a estrutura do ordenamento),
garantística dos direitos fundamentais e conceptiva das tarefas do Estado, enumerando os fins e as funções do
Estado português.
2. Interpretação Constitucional: A Constituição é lei, pelo que deve ser interpretada como as
restantes normas constitucionais - segundo o método clássico, como defende a regência. Contudo, é certo que,
como reconhece o NOGUEIRA BRITO, há um conjunto de postulados que deve estar na base da interpretação
constitucional, que a difere da interpretação das restantes normas - unidade, identidade, adequação, efetividade
e supremacia.
A. Lição Alemã (Melo Alexandrino - Nova Hermenêutica): o método de interpretação
proposto une o método jurídico, a hermenêutica filosófica e a metódica normativo-estruturante, em sentido
estrito.
§ 1 - CBM: entende, o professor, que se deve conceder um sentido útil a plural matérias, constante do 161/1/c),
e ao 198/1/b (que vem repetir competência que poderia ser retirada da alínea anterior), pelo que da conjugação
de ambos, deve retirar-se a reserva de desenvolvimento do Governo. Ainda, a prática constitucional e a herança
da Constituição de 1933, que apontam nesse sentido.
§ 2 - JoMi: em matéria concorrencial, a Assembleia cede a sua competência de desenvolvimento (vai contra o
princípio que não permite a renúncia a competências constitucionalmente atribuídas).
§ 3 - TC: do artigo 161/1/c retira-se a competência genérica do Parlamento para, inclusivamente, desenvolver
leis de base. É relevante o acórdão 1/97.
CAPÍTULO II. Introdução ao Objeto e Âmbito do Controlo de Constitucionalidade e Legalidade dos Atos
do Poder Político na Constituição Portuguesa Vigente.
1. Objeto: controlo da constitucionalidade de normas.
A. As normas como o objeto da fiscalização da constitucionalidade (277/1 da CRP): o sistema português
define que o controlo da constitucionalidade incide sobre normas jurídicas, que podem constar de lei ou de outros