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2. Regras e proposições
3. Estrutura da regra
3.1 Previsão
● tem caráter representativo, sugere uma conduta hipotética que, se se verificar, irá
desencadear consequências jurídicas
● é constitutiva → constitui determinado facto como facto com relevância jurídica
● tem caráter referencial → refere-se a um facto ou situação
● contém elemento subjetivo e objetivo, que definem condições da aplicação da regra:
○ subjetivo: o destinatário da regra
○ objetivo: facto ou situação que constitui pressuposto da aplicação da regra; o
facto pode ser jurídico (ex.: quando se atingir a maioridade) ou material (ex.:
acidente de carro)
● pode ser aberta ou fechada:
○ fechada: enuncia todos os casos em que se aplica a regra
○ aberta: admite aplicação da regra a casos análogos aos casos previstos
(enunciativa)
3.2 Estatuição
4. Características da regra
● generalidade:
○ pressupõe que se possa aplicar a regra a uma multiplicidade de casos; daí a
jurisprudência não ser fonte de direito, visto que dirige apenas a um caso
○ não tem em conta um caso ou sujeito concreto
■ mas há a possibilidade de haver certas regras individuais → ex.:
normas que regulam exercícios do Presidente da República
■ para casos muito específicos, pode também não haver
generalidade→ normas sobre indemnizações aos lesados dos
incêndios de 2017
■ numa relação contratual podem ser estabelecidas regras que impõem
condutas às partes, não havendo generalidade
● mas estas normas resultam de uma auto-vinculação, são
autónomas; a maior parte das normas são heterónomas e
impostas, sendo então necessária a generalidade
⇒ é uma característica tendencial, não sendo um elemento definitivo
● abstração:
○ é o caráter hipotético da norma, assume que se está a falar de casos
hipotéticos
○ normas não costumam ser retroativas, só se devendo aplicar no futuro →
importante para manter a segurança jurídica
■ mas pode, em casos muito específicos, haver regras retroativas
⇒ tal como a generalidade, a abstração é uma característica tendencial
MODALIDADES DE REGRAS JURÍDICAS
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1. Critério do objeto/estrutural
2. Critério do âmbito
3. Critério da disponibilidade
4. Critério da vinculação
5. Espécies de regras
2. Formação do sistema
● paradoxo pode ser resolvido através de uma visão evolutiva do sistema jurídico
○ sistemas jurídicos têm de ser criados e podem deixar de existir
○ para que se forme um sistema jurídico, é necessário que haja uma regra de
produção desse mesmo sistema → princípios e regras aceites pelo sistema
pertencem então a esta regra que irá depois estruturar o resto do sistema
○ regra de produção ⇒ Constituição
● mas é raro que sistemas jurídicos sejam criados completamente do zero
○ é frequente haver fenómenos de receção de sistemas anteriores por novos
sistemas jurídicos
3. Componentes do sistema
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3.1 Princípios jurídicos
● modalidades
○ programáticos:
■ definem objetivos a alcançar e fins a atingir
■ têm função orientadora, procuram que sejam alocados os meios
necessários para atingir determinados objetivos e fins
■ impõem a obtenção de certos objetivos, mas indicam apenas que eles
devem ser realizados na maior medida possível
■ tornam obrigatórias todas as medidas que favoreçam a obtenção
desses objetivos e fins, proíbem todos os que impeçam vir a
alcançá-los
○ formais:
■ destinam-se a otimizar a efetividade do direito na sociedade,
construindo uma ordem jurídica orientada pela justiça, confiança e
eficiência
■ princípio da justiça → sistema deve ser justo e equitativo,
■ princípio da confiança → requer que o sistema transmita
previsibilidade
■ princípios da eficiência → sistema jurídico deve procurar obter os
melhores resultados com o menor dispêndio de recursos
■ são simultaneamente constitutivos e regulativos
● direito não pode ser construído sem esses princípios
(constituem o direito), e regulam simultaneamente as
situações jurídicas e fornecem critérios de solução de casos
concretos
○ materiais:
■ são concretizações dos princípios formais
■ realizam uma função regulativa
■ justiça → concretiza-se pelo princípio da igualdade (igual o que é
igual e desigual o que é desigual) e o princípio da proporcionalidade
(meios devem ser adequados aos fins)
■ confiança → concretiza-se pelo princípio de que a alteração da lei
deve ter razões objetivas, de que a ignorância da lei não beneficia
ninguém e o princípio da não retroatividade da lei nova
■ eficiência → concretiza-se pelos princípios da alocação de meios
necessários para atingir objetivos definidos, e da alocação de meios
suficientes para alcançar meios determinados; sistema jurídico não
deve alocar meios insuficientes ou excessivos
○ critério da otimização
■ a consagração dos princípios jurídicos tem de ser feita dentro dos
limites estabelecidos pelos demais princípios; a otimização de um não
pode significar o sacrifício de outro
■ princípios são comandos otimização visto que devem ser cumpridos
ao máximo na situação concreta
■ também se aplica aos princípios materiais, que devem ser
consagrados na medida máxima que for compatível com outros
princípios materiais
● princípios materiais absolutos: são concretizações de um
princípio formal, mas não admitem exceção segundo outro
princípio formal; ex.: não há pena sem lei
● princípios materiais relativos: admitem uma concretização
segundo um princípio formal e uma exceção segundo outro
princípio formal, ex.: o princípio da autonomia privada
4. Autonomia do sistema
● sistema jurídico é autónomo se a validade das suas regras e princípios for aferida
por ele próprio
● validade: algumas orientações fazem assentar a validade do sistema numa única
regra, diferente das demais
○ KELSEN: norma fundamental
■ todas as normas retiram a sua validade de uma norma de valor
superior, estando a Constituição no topo, sendo esta que afere a
validade de todas as outras normas
■ esta retira a sua validade de uma norma superior pressuposta e não
escrita → norma hipotética fundamental
○ HART: regra de reconhecimento
■ divisão entre regras primárias (que definem condutas, obrigações,
etc) e regras secundárias (conferem poderes a determinadas pessoas
ou instituições, e permitem criar novas normas primárias)
■ a regra de reconhecimento é uma regra secundária que permite aferir
a validade das outras regras do sistema → não é, então, uma ficção
como em Kelsen, é uma regra própria do regime
5. Construção da autonomia
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5.1 Regra de seleção
● cada sistema normativo tem de possuir um critério próprio para determinar o que
nele é válido → sistema só é autónomo se for ele próprio a definir o que aceita como
sendo válido
● a autonomia de um sistema normativo perante outros sistemas normativos implica o
funcionamento de uma regra de seleção, ou seja, uma regra que define o que
pertence a cada sistema
○ no entanto, essa regra seria “supra-sistémica”, pondo então em causa a
autonomia do sistema
● regra de seleção que permite delimitar um sistema normativo perante os demais tem
o seguinte enunciado
○ o que é válido num sistema normativo é definido exclusivamente pelo próprio
sistema
○ ⇒ as fontes de um sistema são definidas pelo próprio sistema
6. Funcionamento do sistema
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6.1 Construção do sistema
● sistema jurídico tem de ser conjunto consistente de princípios e regras jurídica, o que
implica que:
○ o sistema não pode comportar regras e princípios contraditórios
○ os princípios e as regras têm de ser consistentes com os princípios e as
regras que constituem as suas fontes de produção
● se sistema jurídico é construído a partir de certos princípios formais, então desse
facto decorre outro princípio jurídico ⇒ o princípio da consistência
● sistema é consistente quando qualquer obrigação pode ser cumprida sem violar
nenhuma outra, e qualquer permissão pode ser gozada sem violar nenhuma
obrigação
● consistência respeitante à origem → elementos do sistema têm de ser compatíveis
com a sua fonte de produção
7. Abertura do sistema
● sistemas sociais são autopoiéticos, mas não são fechados em relação ao seu meio
ambiente
○ sistemas são estruturalmente orientados para o seu meio ambiente, e não
podem subsistir sem este
● sistema jurídico é um sistema aberto ao comunicar com outros sistemas normativos
(moral) e não normativos (política e economia) → pode usar conceitos de outros
sistemas nas suas próprias operações
● sistema jurídico pode receber elementos da moral ou de outras fontes sociais, mas
isso tem de acontecer através de uma transformação explícita ⇒ esses elementos
deixam de valer, para o direito, como morais ou sociais e passas a ser elementos
jurídicos
● quanto mais aberto o sistema jurídico for a conceitos próprios de outros sistemas
normativos, mais flexível ele se torna na resolução de casos concretos
INTERPRETAÇÃO DA LEI
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1. Aspetos relevantes
● interpretação da lei procura responder à questão de como é que a lei deve ser
interpretada
● interpretação tem caráter normativo → ao caráter normativo da interpretação em
geral acresce o recurso a regras específicas da interpretação da lei (art 9º CC)
3. Finalidade da interpretação
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3.1 Subjetivismo vs objetivismo
● o subjetivismo fica-se por aquilo que foi querido (pelo legislador), esgotando-se
então na dimensão semântica
● o objetivismo orienta-se por aquilo que pode ser feito (pelo destinatário da regra),
movendo-se numa dimensão pragmática
4. Orientações objetivistas
5. Direito português
● art 9º/2 CC → não pode ser considerado pelo intérprete o pensamento legislativo
que não tenha na letra da lei um mínimo de correspondência verbal, ainda que
imperfeitamente expresso
○ visto que apenas é possível exprimir um pensamento de alguém, poder-se-ia
concluir que a expressão “pensamento legislativo” se referiria à voluntas
legislatoris
⇒ Conclusão: função da interpretação não é explicar a lei, mas antes aplicá-la e encontrar
a sua razão de ser como elemento de um raciocínio prático
↳ interpretação deve ser realizada numa perspetiva atualista e objetivista, ou seja,
tendo em vista a aplicação da fonte
6. Elementos da interpretação
● interpretar fonte = inferir a regra que ela contém, através da sua aplicação a casos
concretos
● aplicação da fonte tem de respeitar determinadas regras da interpretação jurídica →
essas regras são os elementos da interpretação
○ possibilitam escolha entre diferentes interpretações possíveis, e também
permitem determinar se a interpretação realizada é correta ou não
● SAVIGNY: os elementos da interpretação são o elemento gramatical (sentido literal
da lei), o lógico (construção lógica da lei), o sistemático (conexão sistemática) e o
histórico (circunstâncias que motivaram elaboração da lei)
7. Enunciado
● interpretação é realizada a partir da letra da lei, com base nas circunstâncias em que
foi elaborada, na unidade do sistema jurídico e nas condições específicas do tempo
em que a lei é aplicada
● elementos da interpretação:
○ elemento literal → sentido da letra da lei
○ elemento histórico → refere-se ao momento em que a lei foi produzida
○ elemento sistemático → refere-se ao enquadramento sistemático da lei
○ elemento teleológico → finalidade da lei
■ elemento histórico e sistemático são elementos de contexto →
juntamente com o teleológico, constituem os elementos não literais
da interpretação
● art 9º/1 → oposição da letra da lei ao pensamento legislativo; são coisas distintas,
podem ou não coincidir
● há uma imposição da reconstituição desse pensamento legislativo com fundamento
nos elementos não literais
● pretende-se que intérprete encontre o espírito da lei a partir da sua letra, com base
nos elementos não literais
9. Modelos de interpretação
● toda a interpretação deve começar pela análise da letra da lei e por uma tentativa de
compreensão do seu significado
● a letra da lei não deve ser entendida como apenas um elemento interpretativo, mas
sim com a base textual da interpretação
● circularidade do elemento gramatical:
○ ponto de partida → devemos considerar que legislador consagrou as
melhores soluções (art 9º/3)
○ ponto de chegada → resultado da interpretação deve ter um mínimo de
correspondência com a letra da lei (9º/2)
● interpretação da letra da lei pode ser feita sob uma perspetiva historicista ou
atualista
○ historicista: intérprete atribui à letra da lei o significado que tinha no momento
da sua criação
○ atualista: intérprete atribui à letra da lei o seu significado atual
● ⇒ letra da lei deve ser interpretada de acordo com o seu significado atual; a posição
atualista prevalece
○ apenas essa interpretação atualista permite que as soluções sejam
adequadas ao tempo em que são aplicadas, e é especialmente importante no
caso de conceitos indeterminados cujo significado evolui de acordo com as
circunstâncias sociais, etc
● limites legais:
○ letra da lei tem valor próprio, que não pode ser ignorado pelo intérprete e
impõe dois limites:
1. presunção que legislador consagrou soluções mais acertadas e que
soube exprimir o seu pensamento em termos adequados → todo o
significado que corresponde à letra da lei tem de ser um significado
possível dessa lei
⇒ letra da lei constitui um limite para todos os outros elementos da
interpretação
2. não pode ser considerado pelo intérprete um significado que não
tenha na letra da lei um mínimo de correspondência verbal, ainda que
imperfeitamente expresso → significado que não encontra
correspondência mínima na letra da lei não é possível
⇒ não pode ser considerada interpretação a conclusão do intérprete que não
for compatível com a letra da lei
● limite mínimo:
○ exige-se uma correspondência mínima com a letra da lei, mas a letra pode
ser ultrapassada pelo espírito da lei
○ art 9º impõe limite mínimo → letra da lei não constitui uma fronteira
inultrapassável pelo resultado da interpretação, mas sim um ponto de partida
para a obtenção do mesmo
○ até onde pode ir a interpretação?
■ sob o ponto de vista objetivista, até onde os elementos não literais o
permitam, ou seja, até à interpretação restritiva ou extensiva
● embora esta não esteja referida no artigo 9º, o elemento histórico tem também uma
dimensão retrospetiva ou evolutiva
○ trata de saber qual a interpretação que tem sido dada pela jurisprudência e
pela doutrina a uma determinada lei, após o início da sua vigência
○ forma de averiguar novas necessidades, diferentes daquelas que justificaram
a sua produção
○ é indispensável conhecer a que casos é que a lei se aplicou
○ dicotomia entre a lei escrita e a lei aplicada → law in books vs law in action
12.1 Importância
● o elemento sistemático orienta-se pelo princípio da igualdade (art 13º CRP) → o que
é igual deve ser tratado igual
● elemento evita contradições valorativas dentro do sistema
● permite também resolver o problema da polissemia ou ambiguidade semântica das
palavras, ao considerar o contexto
● lei deve ser interpretada no contexto do sistema jurídico ⇒ rege-se de acordo com a
unidade do sistema
● sistema externo resulta de uma atividade ordenatória do investigador através da
construção de conceitos ordenadores, de divisões e da ordem do tratamento das
matérias
○ necessário olhar para onde a norma se encontra no sistema: em que secção
do documento legal, etc ⇒ procura-se encontrar o significado da fonte
através do seu enquadramento num conjunto mais geral
● distinção entre contexto vertical e horizontal:
○ contexto vertical:
■ conexão da lei com outras leis de hierarquia superior
■ deve-se considerar a coordenação da interpretação da lei com a
respetiva fonte de produção
■ conforme à Constituição → direito ordinário deve ser interpretado
de acordo com os respetivos preceitos constitucionais; deve-se evitar
interpretações inconstitucionais
■ conforme ao direito europeu → decorre do primado do direito
europeu sobre o direito dos Estados-membros; direito nacional deve
ser interpretado em consonância com o direito europeu
■ conforme ao direito ordinário → interpretação de acordo com a
fonte de produção ordinária; ex.: autorização legislativa, etc
○ contexto horizontal:
■ interpretação deve considerar leis da mesma hierarquia sobre idêntica
matéria (contexto intertextual) e preceitos da mesma lei (contexto
intra-textual)
■ importante na interpretação de lei especiais ou gerais, tendo estas de
ter em consideração a respetiva lei geral
■ interpretação de uma lei remissiva deve considerar lei para a qual
remete
■ conexão → a o analisar uma norma, é necessário entender o seu
contexto; necessário atender à interligação com outras normas, e à
sua localização no sistema como unidade
■ analogia → lugares paralelos; interpretação deve considerar regras
aplicáveis a situações semelhantes, ou seja, duas regras que regulam
situações parecidas deverão ser interpretadas da mesma maneira, de
acordo com a unidade do sistema
● nenhum dos elementos é, só por si, suficiente para determinar o significado a lei
○ no entanto, cada um deles dá um contributo para a determinação do
significado
● respeitando a exigência da mínima correspondência com a letra da lei, cada
contributo dos elementos deve ser equilibrado com os demais
○ ⇒ interpretação da fonte resulta da conjugação de cada um dos contributos
● pode haver oposição entre o elemento gramatical e os não literais, mas não deverá
haver oposição entre cada um destes últimos
○ ou seja, os elementos não literais são aditivos e não devem contrariar-se, na
medida que cada um deles deve dar um contributo para a interpretação final
● ⇒ intérprete deve escolher a interpretação que, dentro dos limites impostos pela
correspondência mínima com a letra da lei e com apoio na justificação histórica da
lei, melhor se integrar no sistema jurídico e melhor se adequar às necessidades
sociais
RESULTADOS DA INTERPRETAÇÃO
adkalda
1. Generalidades
2. Interpretação declarativa
2.1 Modalidades
3. Interpretação reconstrutiva
3.1.1 Delimitação
3.2.1 Delimitação
3.3 Consequências
● interpretação restritiva conduz à inaplicabilidade da lei a factos ou situações
abrangidos pela letra da lei → assim sendo, esses mesmo factos serão regulados
por outro regime jurídico
● a determinação desse regime jurídico tem várias hipóteses:
1. se a interpretação restritiva decidir caso não tiver relevância jurídica →
pertence ao espaço livre de direito
2. se interpretação restritiva da lei especial ou excecional deixar espaço para a
aplicação de outra lei vigente → dever-se-á aplicar a lei geral
3. se interpretação restritiva não reconduzir à aplicação de outra lei vigente no
ordenamento → a consequência será a construção de uma regra excecional,
aplicável aos factos não abrangidos por essa lei
4. Desconsideração da regra
● art 203º CRP → vinculação dos tribunais à lei: garantia do Estado de Direito e da
separação de poderes, assegurando a prevalência da lei sobre qualquer intuição do
juiz
● se juiz está vinculado à lei, em que situações poderá ele não aplicá-la?
1. delimitação do objeto
a. o que é que ambas as partes entendem com o objeto?
b. o que é que as diferentes interpretações do sentido do objeto poderão
significar no caso em questão?
2. elemento gramatical
a. circularidade do elemento gramatical, é ponto de partida e de chegada
b. linguagem jurídica, linguagem técnica, linguagem corrente
3. transição para elementos lógicos → art 9º/1, não nos devemos cingir à letra da lei
a. cada elemento precisa de ser definido, identificado e justificado
4. elemento histórico
a. visa compreender a génese da lei; podemos encará-lo de uma perspetiva
objetivista ou subjetivista
b. qual a vertente que podemos retirar do caso? ⇒ occasio legis, precedentes
normativos, trabalhos preparatórios, preâmbulo
c. questionar vinculatividade do elemento histórico
i. trabalhos preparatórios apenas serão vinculativos se forem
oficialmente publicados, para haver igual acesso para todos
5. elemento sistemático
a. atende ao princípios e valores subjacentes ao sistema enquanto unidade,
visa compreender o enquadramento sistemático da lei
b. sistema interno
i. princípio da consistência
ii. princípio subjacente ao ramo de direito
iii. pode nem sempre estar claro: lei encontra-se dentro de um instituto?
tem um princípio subjacente?
iv. CANARIS: ponte para o elemento teleológico
c. sistema externo
i. princípio da unidade do sistema
ii. vertical
1. subordinação
a. à Constituição
b. ao direito europeu
c. a lei ordinária
iii. horizontal
1. conexão → enquadramento da lei no sistema; olhamos para
epígrafes, capítulos, secções
2. analogia → lugares paralelos, semelhanças entre dois artigos
d. ⇒ sistema interno prevalece sempre sobre o externo, visto que atende a
considerações valorativas
6. elemento teleológico
a. atende à finalidade da lei
b. pode haver uma dualidade de finalidades, ou a finalidade pode não ser clara
c. é preciso compreender o sistema interno para melhor compreender o
elemento teleológico
7. tendo todos os elementos em consideração, o sentido da lei aponta para que
significado?
8. verificação da correspondência com a lei, retorno ao elemento gramatical → art 9º/2
9. resultados da interpretação
a. reconstrutiva → reconstrói-se o significado da lei; há uma desconformidade
da letra com o espírito da lei; a letra da lei não significaria isto, mas
reconstruímos de acordo com o espírito da lei
i. restritiva → espírito da lei só deixa que um único significado seja,
aceite, não havendo correspondência total com a letra da lei
ii. extensiva → espírito da lei abrange mais que o significado literal da lei
b. declarativa → significado da letra da lei é o resultado da interpretação
i. restrita
ii. média
iii. ampla
UAKSK
DETEÇÃO DE LACUNAS
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1. Determinação da lacuna - Falta de regulamentação
● uma lacuna decorre da inexistência de uma regra para regular um caso jurídico
○ há lacuna quando há caso, mas não há regra
● só há lacuna quando falta uma regra jurídica de qualquer fonte, e não quando falta
uma regra legal
○ não existe lacuna quando uma regra inferida de outra fonte - como o costume
- abrange o caso
○ também não existe lacuna se caso puder ser resolvido por um princípio
implícito ou uma regra derivada
○ ⇒ lacuna não é falta de regulação expressa, mas sim a falta de qualquer
regulação
■ tem de haver uma lacuna iuris, não só uma lacuna legis
● lacunas não se confundem com insuficiências ou lacunas axiológicas do sistema
○ lacunas axiológicas → algo deve ser regulado, não por causa da completude
do sistema, mas sim porque, em nome de um certo valor, se entende que o
sistema deve conter uma solução para um caso e que não deve aplicar
analogicamente a essa situação a solução de outro caso
2. Causas da falta
3. Incompletude no sistema
● nem toda a falta de regulamentação implica uma lacuna → lacuna só surge quando
há falta de regulamentação para um caso juridicamente relevante
● lacuna pressupõe incompletude no ordenamento jurídico e decorre da conjugação
de dois fatores:
○ fator negativo: ausência de regulamentação legal
○ facto positivo: exigência de regulamentação
4. Classificação de lacunas
● normativas e de regulação:
○ normativas → c orrespondem à falta de uma regra jurídica ou à incompletude
numa regra
○ de regulação → decorrem da falta de todo um regime jurídico
● intencionais e não intencionais:
○ intencionais → legislador não quis regular determinada matéria,
considerando que ela deveria ser regulada por soluções desenvolvidas pela
jurisprudência ou pela doutrina
○ não intencionais → por equívoco ou falta de perícia, legislador não regulou
determinada matéria
● iniciais e subsequentes:
○ iniciais → verificam-se desde o início da vigência de um regime jurídico
○ subsequentes → aparecem após o início de vigência de um regime, devido à
evolução social, técnica ou económica
● patentes e ocultas:
○ patentes → resultam da falta de uma regra ou regime jurídico que é
imediatamente detetada
○ ocultas → decorrem de uma interpretação ab-rogante; prima facie, parece
haver uma regra jurídica que regula a situação, mas após a interpretação,
verifica-se que afinal não há nenhuma regra aplicável
INTEGRAÇÃO DE LACUNAS
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1. Necessidade de integração
2. Critérios de integração
3. Analogia jurídica
● art 10º/2 → há analogia sempre que, no caso omisso, procedam razões justificativas
de regulamentação do caso previsto na lei
○ pressupõe identidade de razões da regulamentação do caso previsto e do
caso omisso
● regras penais:
○ proibição da aplicação analógica das regras penais baseia-se no princípio
nulla poena sine lege (art 29º/3 CRP) → não é permitido recurso à analogia
para qualificar facto como crime, determinar pena, etc
● regras fiscais:
○ lacunas resultantes de normas tributárias abrangidas na reserva de lei da
Assembleia da República não são suscetíveis de integração analógica
● regras excecionais
○ art 11º dispõe que regras excecionais não comportam aplicação analógica,
mas admitem interpretação extensiva
■ tal solução justifica-se pela circunstância de o conjunto constituído
pela regra geral e pela regra excecional não poder comportar lacunas,
visto que o que não for abrangido pela regra excecional é
necessariamente regulado pela regra geral
○ TEIXEIRA DE SOUSA distingue entre excecionalidade substancial e formal
■ substancial → constrói um direito que é introduzido por razões de
utilidade particular contra a razão geral
■ formal → contraria regra geral sem contrariar quaisquer valores
fundamentais do sistema jurídico,
● TEIXEIRA DE SOUSA defende que apenas a excecionalidade
substancial é incompatível com a aplicação analógica
● tipologias taxativas:
○ tipologias legais são concretizações, enunciativas ou taxativas, de um tipo
■ tipologias taxativas são aquelas que só comportam as concretizações
do tipo que nelas estiverem previstas
○ tipologias enunciativas são abertas, não comportando assim lacunas
○ tipologias taxativas são fechadas, não admitindo a aplicação analógica a
subtipos não previstos, embora nada impeça a interpretação extensiva
4. Comunhão de qualidades
● art 10º/2 → há analogia sempre que, no caso omisso, procedam razões justificativas
da regulamentação do caso previsto na lei
○ regra que regula caso previsto não é aplicável ao caso omisso (se fosse, não
haveria lacuna)
○ se razão subjacente ao regime do caso previsto for igualmente adequada
para o caso omisso, então casos são análogos ⇒ imposto pelo princípio da
igualdade
● identidade de razões que integra a noção de analogia (art 10º/2) leva a concluir que
a consequência jurídica atribuída ao caso previsto deve ser igualmente adequada
para o caso omisso
● casos não são análogos se a consequência não for adequada a ambos
● princípio formal e material que orientam determinada solução jurídica podem estar
consagrados numa única regra, ou podem ser inferidos de uma pluralidade de
regras jurídicas
● duas formas de descobrir esses princípios:
○ analogia legis → utiliza-se apenas uma regra jurídica que regula um caso
análogo para procurar os princípios orientadores
○ analogia iuris → na busca desses princípios utiliza-se uma pluralidade de
regras jurídicas
● distinção entre analogia legis e iuris passa também pela existência ou inexistência
de uma regra jurídica que regula um caso semelhante
○ analogia legis → existe uma regra que regula um caso análogo
○ analogia iuris → regra não existe, mas há um princípio que decorre do
ordenamento jurídico que permite resolver o caso em apreciação
6. Regra hipotética
● fontes de direito são produzidas num determinado momento e entram em vigor num
certo momento
○ com o início de vigência da LN, verifica-se a revogação da LA (art 7º/2)
■ revogação da LA pela LN assegura a consistência do sistema jurídico,
evitando que vigorem duas leis sobre a mesma matéria
■ no entanto, não resolve todos os problemas relativos à lei aplicável,
visto que há situações jurídicas que se constituíram na vigência da LA
e que transitam para a vigência da LN
● se entendermos que as situações constituídas durante a vigência da LA continuarem
a ser reguladas por essa mesma fonte, devemos concluir que a aplicabilidade das
fontes nem sempre coincide com o seu tempo de vigência
2. Princípios orientadores
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2.1 Referências da lei nova
3. Direito transitório
4. Soluções do conflito
● factos jurídicos
○ princípio da aplicação imediata da LN encontra-se no art 12º/1, 1ª parte,
estabelecendo que a lei só dispõe para o futuro
■ LN regula quer factos jurídicos que ocorram após a sua vigência, quer
os factos duradouros que se iniciaram na vigência da LA e que se
mantenham no momento do início de vigência da LN
● efeitos instantâneos
○ quando se referir a efeitos jurídicos instantâneos, a aplicação imediata da LN
implica que são abrangidos por ela os efeitos que se produzam depois do
inícios da sua vigência
○ constituição de efeito jurídico pode decorrer da conjugação de factos que
ocorreram na vigência da LA e de factos que se verificaram na vigência da
LN
● situações jurídicas
○ regra da aplicação imediata da LN às situações jurídicas que se constituíram
na vigência da LA e que transitam para o domínio da LN consta no art 12º/2,
2ª parte
○ para que se verifique a aplicação imediata da LN a essas situações, é
necessário que ela disponha diretamente sobre o conteúdo de certas
situações jurídicas, abstraindo-se dos factos que lhes deram origem
■ título não modela conteúdo da situação jurídica, pelo que nada obsta
à aplicação imediata da LN
5.2 Sobrevigência da LA
6. Retroatividade da LN
● LN pode ser menos exigente quanto aos requisitos de validade formal ou substancial
de um ato jurídico do que a LA → em princípio, essa circunstância não tem nenhum
reflexo sobre os atos jurídicos praticados durante a vigência da LA (o que decorre do
art 12º/2, 2ª parte)
○ mas a solução é diferente se a LN dispuser que se consideram válidos os
atos jurídicos praticados durante a vigência da LA, mas que preenchem os
requisitos de validade determinados pela LN
○ ⇒ pode-se falar então de uma lei confirmativa e de uma retroatividade in
mitius
● problema é mais complicado quando a LN não tem sentido confirmativo e quando
não se pode falar, por isso, de uma retroatividade in mitius expressa
○ em que condições pode ser reconhecida uma retroatividade in mitius tácita a
uma LN que diminui os requisitos de validade de um ato jurídico?
○ se ato jurídico não estiver a produzir quaisquer efeitos no momento da
entrada em vigor da LN → aplica-se art 12º/2, 1ª parte, não se verificando
qualquer retroatividade in mitius da LN
○ se ato jurídico, apesar de inválido, produzir efeitos no momento do início da
vigência da LN, entende-se que esta lei produz efeito confirmativo do ato
inválido e verifica-se uma retroatividade in mitius da LN
● art 297º estabelece regra especial para a sucessão de leis sobre prazos
○ regime só é aplicável aos prazos que estejam em curso no momento da
entrada em vigor da LN, e varia consoante a LN estabeleça um prazo mais
curto ou mais longo
8. Campo de aplicação
8.1 Extensão
● art 297º/3 → regras relativas à sucessão de leis sobre prazos são igualmente
aplicáveis, na medida do possível, aos prazos fixados pelos tribunais ou por
qualquer outra autoridade
ESQUEMA DE APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO
1. há direito transitório?
a. material → legislador cria novo regime quanto à situação concreta
b. formal → legislador cria novo regime quanto à situação concreta
2. estamos no âmbito do regime geral?
a. prazos (297º) ou lei interpretativa (13º) → regime especial
b. se não ⇒ regime supletivo do artigo 12º
3. lei nova determina a sua retroatividade? → factos ocorridos ao abrigo da lei antiga
dão-se como realizados ao abrigo da lei nova
a. lei diz início de vigência
i. retroatividade é permitida?
1. matérias de direito penal (leis incriminatórias), direito fiscal,
direito processual, direitos fundamentais ⇒ proibição de
retroatividade
ii. qual o grau de retroatividade? → a que efeitos é que se vai aplicar
1. lei especifica efeitos
a. retroatividade agravada → aplica-se a quase todosos
efeitos, apenas ressalvando alguns
b. retroatividade quase extrema → aplica-se a todos os
efeitos, apenas salvaguardando os casos julgados sem
suscetibilidade de recurso
c. retroatividade extrema → aplica-se a todos os efeitos,
incluindo o caso julgado; apenas mediante declaração
do TC
2. lei não especifica efeitos
a. retroatividade ordinária → (art 12º/1, 2ª parte) lei
nova só dispõe para o futuro, todos os efeitos já
produzidos são salvaguardados
b. lei não diz início de vigência
i. o que é que a lei vem mudar?
ii. condições de validade ou efeitos
1. validade formal → forma do negócio
2. validade substancial → lei vem mudar as condições
necessárias para celebrar o negócio, ex.: legitimidade,
capacidade, maioridade
3. efeitos → lei vem mudar um conceito, e isso tem repercussões
num negócio; lei não dispõe sobre um contrato, mas sim o que
decorre desse contrato
4. ⇒ aplica-se a lei antiga
iii. conteúdo da relação jurídica → relação da pessoa com outra ou com
uma coisa
1. abstrai do facto (lei nova não diz como relação começou) ⇒
aplica-se lei nova
2. não se abstrai do facto (lei nova especifica início da relação)
⇒ aplica-se lei antiga
REGIME DOS PRAZOS
RAMOS DO DIREITO