CAPÍTULO VII – OS SISTEMAS JURÍDICOS COMO SISTEMAS DE LEIS
I. SOBRE A NORMATIVIDADE DO DIREITO
Ao iniciar este tópico, o autor afirma que sustentará que embora a
normatividade seja uma característica importante do direito, algumas leis não são normas. Segundo o autor, tendo em vista o conteúdo mínimo e a complexidade mínima dos sistemas jurídicos, e dado ainda um conjunto aceitável de princípios de individuação, há em qualquer sistema jurídico algumas leis que não são normas. O autor afirma que tem objetivo de demonstrar a existência de leis que não são normas em qualquer sistema jurídico, para tanto, o mesmo informa que para o presente estudo não há que se discutir o conteúdo mínimo e a complexidade dos sistemas jurídicos. Para o autor, independentemente do conteúdo mínimo ou da complexidade dos sistemas jurídicos, haverá a possibilidade de sempre haver no sistema jurídico leis que não são normas. Para o autor, o fundamento da existência das leis que não são normas está nos requisitos gerais de evitar a repetição e de não se afastar demais do discurso costumeiro sem uma boa razão, está nos requisitos da simplicidade entre as várias partes de um sistema jurídico. O Autor afirma que existem vários tipos de leis que não são normas, contudo neste estudo será tratada apenas a questão geral da existência das leis que não são normas. Aponta a necessidade de explorar dois tipos de leis que não são normas, bem como os benefícios teóricos obtidos quando esses dois tipos são postulados. Relata o autor que antes de enfrentar a questão dos dois tipos de leis que não são normas e dos benefícios teóricos obtidos quando esses dois tipos são postulados, deve-se enfrentar a questão dos princípios. O TERMO NORMATIVIDADE DO DIREITO refere-se à vinculação imposta pela norma jurídica, isto é, sua capacidade de traçar limites obrigatórios de ação para os indivíduos e as coletividades. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO: SER COERCITIVO, INSTITUCIONALIZADO E NORMATIVO. Segundo o autor, sua teoria se contrapõe a teoria de Hart, pois para ele, Hart pensa que a normatividade do direito significa que toda lei é uma norma. Para o autor, ao contrário de Hart, Benthan, Austin e Kelsen, a normatividade do direito é explicada por duas teses, a saber:
o 1ª. Em todo sistema jurídico há normas.
o 2ª. Todas as leis de um sistema jurídico que não são normas guardam relações internas com normas jurídicas, isto é, afetam a existência ou a aplicação de normas jurídicas. Além disso, sua única pertinência legal é o modo pelo qual afetam a existência e a aplicação de normas jurídicas. Segundo o autor, substituindo-se a explicação que consiste na tese de que toda lei é uma norma (Hart, Autin, Benthan e Kelsen) pela explicação que consiste na tese da normatividade do direito, obter-se-ão dois resultados, a saber: o 1º. A explicação da normatividade do direito, sendo dependente das relações internas entre as leis, passa a ser baseada no contexto de sistemas jurídicos, e não no conceito de leis. o 2º. A análise do conceito de lei passa a depender da análise do conceito de sistema jurídico, pois a compreensão de algumas espécies de leis depende do entendimento de suas relações internas com outras leis. Elas derivam sua aplicabilidade jurídica de suas relações com outras leis. A análise da estrutura do sistema jurídico é, portanto, indispensável para a definição de “lei”.
II. SOBRE AS PERMISSÕES
Nesse tópico o autor apresenta a seguinte tese:
o De acordo com cada sistema jurídico vigente em determinado momento, toda situação de ato que não é proibida por uma lei especifica do sistema é permitida. CORRELAÇÃO? Inciso II do Art. 5º da CF/88 – “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. o O autor aponta que a referida tese é verdadeira independentemente de qual seja o conteúdo do sistema jurídico. Contudo, revela que, do modo como esta tese é formulada, ela se aplica somente aos sistemas jurídicos vigentes em determinado momento. Pois, segundo ele, para que seja possível a aplicação aos sistemas jurídicos entendidos em sua totalidade temporal, ela deve ser modificada para explicar a possibilidade das leis retroativas. o Aponta-se assim um critério temporal para a referida tese, e nesse caso o autor define que ela tem que ser modificada para que assim possa explicar a possibilidade das leis retroativas, passando assim a considerar o sistema jurídico em sua totalidade temporal.
O autor aponta que a tese em análise reflete a concepção de um direito que
regula a conduta humana prescrevendo determinado comportamento e expressa a decisão de considerar os sistemas jurídicos como sistemas normativos independentes, isto é, sistemas normativos que podem ser e são estudados independentemente do estudo das outras normas. Para o autor, de acordo com essa tese, o direito guia a conduta quer ao prescreve-la, quer ao proibi-la, de modo que se ele não prescreve ou proíbe, ela não é regulada em nenhuma dessas direções. Nesse sentido, o autor revela que essa tese deve ser suplementada, uma vez que da forma como está posta não faz referência à possibilidade de que ela possa ser guiada por outros fatores. E nesse sentido, o autor aponta a tese suplementar. Vejamos: o (Tese 2) – De acordo com todo o sistema jurídico vigente em determinado momento, nenhum ato futuro pode criar leis ou afetar a aplicação das leis a menos que haja naquele sistema vigente naquele momento uma lei que confira àquele ato este poder. Nesse sentido o autor explica: “Alguns atos praticados antes do instante em que um sistema vigente em determinado momento possa existir podem ser reconhecidos como o exercício de poderes legislativos de acordo com aquele sistema, mesmo que o sistema não contenha nenhuma lei que autorize tais atos de legislação. É o caso, por exemplo do sistema que contém leis que foram promulgadas sem nenhuma autorização legal. Esses atos de legislação não forma orientados pelo direito, pois seu caráter de exercício de poderes legais é derivado apenas do fato de que um sistema vigente em um momento subsequente contém leis promulgadas por eles”. O autor destaca a analogia existente entre estas duas teses, alertando para o seguinte: o (Tese 1) – expressa a decisão de considerar o direito da ótica de uma função isolada, a de guiar a conduta mediante a imposição de deveres. o (Tese 1 ou Tese suplementar) – Expressa a decisão de considerar o direito da ótica de uma função isolada, a de guiar a conduta mediante a concessão de poderes. O autor tece críticas a tese 1, alegando que por causa dela, talvez pareça que toda situação de ato que não é proibida pela lei pode ser considerada o núcleo de uma lei que a permite. E em sendo assim, tal doutrina geral não pode ser admitida, porque conflita com a normatividade da lei em geral na medida em que: o 1. Dizer que um ato é permitido não equivale a dar a descrição de uma norma - não significa que o ato é regulado, mas que ele não é regulado; o 2. Os enunciados que descrevem tais permissões não são genericamente descrições de leis que não são normas, pois tais supostas leis não têm relações internas com outras normas jurídicas.
LEIS-M: São leis que concedem permissões.
O Autor aponta a existência de leis que concedem permissões ou LEIS – M, afirmando que estas tratam-se de leis que não são normas, demonstrando ainda que seus enunciados são da forma: “X tem permissão para (ou pode) praticar A na situação C”. Segundo o autor, a postulação da existência das LEIS-M pressupõe a seguinte convenção: o A - Convenção de interpretação das LEIS-M: quando uma LEI-M contradiz parcialmente uma LEI-D do mesmo sistema vigente em determinado momento, ambas são válidas, e a LEI-M representa uma exceção à LEI-D: esta, apesar de seu conteúdo expresso, não se aplica aos casos a que se aplica a LEI-M. O autor aponta que qualquer princípio de individuação que regulem a individuação das LEIS-M devem assegurar que toda LEI-M satisfaça as três condições seguintes: 1. A situação de ato permitida por uma LEI-M que pertence a um sistema jurídico vigente em determinado momento é um caso particular da situação de ato proibida por uma ou mais LEIS-D que pertençam ao mesmo sistema; mas a situação de ato permitida pela LEI-M não é coextensiva (nem equivalente) a situação de ato proibida por qualquer uma dessas LEIS-D. 2. Há razões para considerar a permissão concedida por uma LEI-M como uma exceção às proibições impostas por uma ou mais LEIS-D. 3. Há razões para considerar a exceção às proibições como uma lei independente. Para o autor, a convenção de interpretação e a primeira condição determinam as relações formais entre as LEIS-M e as LEIS-D. Garantem que toda LEI-M terá uma relação interna com uma ou mais LEIS-D. Toda LEI-M modifica a aplicação de no mínimo uma LEI-D. Segundo o autor, a segunda e terceira condições, justificam a postulação de leis que tenham essas relações com as LEIS-D. De acordo com o autor, o fato de a permissão ser ou não exceção a uma proibição depende das razões dadas para a proibição e para a permissão. Segundo o autor, uma das razões que poderíamos ter para postular a existência de uma LEI-M é que a permissão seja uma exceção a cada uma das leis que faça parte de um grupo de LEIS-D, e que revele uma característica comum importante a todas elas, mostrando, assim, uma ligação importante entre as leis. Esta é a razão por que pode haver leis que permitem a legitima defesa e outras formas de autotutela. Exemplo de LEIS-M – Legitima defesa, desforço incontinente e outras formas de autotutela. O Autor apresenta as LEIS-MS, ou seja, leis que permitem a aplicação de sanção. Afirma o autor que ao aceitar uma concepção de direito que admite a possibilidade de leis que são permissões, ele segue a posição de Bentham, mas com duas diferenças importantes, a saber: o 1º. Insistindo-se em que toda LEI-M modifica uma ou mais LEIS-D existentes, exclui-se a possibilidade que a LEI-M continue a existir depois que as LEIS-D que ela modificou foram revogadas, por ela ou por outras leis; e assegura-se a conformidade à tese da normatividade. o 2º. A existência de qualquer LEI-M particular é determinada não pela consideração das circunstâncias em que o material jurídico pertinente foi criado, mas pela conclusão de que a admissão de sua existência – sem deixar de refletir corretamente o conteúdo do sistema jurídico vai promover alguns dos objetivos gerais que determinam os princípios de individuação.
III. SOBRE AS LEIS QUE INSTITUEM DIREITOS
Nesse tópico o autor afirma que tratará da natureza das leis que instituem direitos e sobre o papel das LEIS-D e das LEIS-P na instituição destes. O autor ainda diz que neste tópico analisa as leis que instituem direitos. O autor esclarece que se deve distinguir não apenas entre vários tipos de direitos (propriedade, alimentos, etc.), mas também entre várias classes de sujeitos de direito (isto é, os detentores de direitos) e objetos de direitos. O autor destaca que os Direitos são relações entre sujeitos de direitos (que são sempre pessoas, embora nem sempre pessoas naturais) e objetos de direitos (que podem ser pessoas, coisas ou entidades jurídicas abstratas – ações, por exemplo). Destaca também que alguns direitos pressupõem relações triplas etc., mas as leis que os instituem não se distinguem substancialmente daquelas que instituem outros direitos. Para o autor, todo enunciado mínimo de uma relação de direitos, isto é, todo enunciado que afirme que determinadas pessoas têm determinado “enunciado fundamental”. E toda lei cuja descrição adequada inclua um enunciado fundamental, ou seja, logicamente equivalente a um enunciado que o inclua, é uma lei que institui a direito descrito pelo enunciado fundamental. As três categorias das leis que instituem direitos: o 1º. LEIS DE INVESTIDURA - especificam as formas pelas quais os direitos podem ser adquiridos. Uma lei de investidura é aquela que determina que quando certas condições se implementam, determinadas pessoas que não tenham certo direito o adquirem. o 2º. LEIS DE DESTITUIÇÃO – determinam as formas pelas quais os direitos podem deixar de existir. É aquela que determina que, quando certas condições se implementam, determinada pessoa que tem certo direito o perde. o 3º. LEIS CONSTITUTIVAS – especificam as consequências de ser um detentor de direitos. É aquela que estabelece que se determinada pessoa tem certo direito, e certas condições se implementam, ela passa a ter outro direito ou certo dever ou certo poder. Segundo o autor, as condições especificadas por tais leis podem ser divididas me três tipos, a saber: o 1. A existência de qualquer direito, dever ou poder legais nas mãos de determinada pessoa. o 2. A prática de alguns atos por determinada pessoa. o 3. A ocorrência de outro evento determinado. Para o autor, uma lei que institui um direito pode estipular uma ou mais condições de qualquer um desses tipos. Segundo o autor, pode-se dizer que todas as leis de investidura, de destituição e constitutivas que tratam de determinado direito legal, todas as leis que instituem um direito em um sistema jurídico, definem tal direito nesse sistema jurídico. Sistematizando a teoria de Raz, temos que as normas jurídicas somente são capazes de demandar (moralmente) um cumprimento obrigatório por parte dos cidadãos caso a autoridade que a expediu seja legítima, isto é, caso ela satisfaça os requisitos morais para a posse de autoridade, o que nem sempre, o quase nunca acontece. Portanto, nada na teoria de Raz vai contra a afirmação de que, em certos casos, é possível reconhecer uma norma como jurídica e, ao mesmo tempo, sustentar que ela é moralmente injustificável e não deve ser aplicada pelas autoridades do sistema e/ou obedecidas pelos cidadãos.
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