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METODOLOGIA DA CIÊNCIA DO DIREITO

Aluno: Gabriel Nascimento Moura - mat. N. 20210104285

FICHAMENTO: LARENZ, Karl. Metodologia da Ciência do Direito. 3ª ed. Lisboa:


Fundação Calouste Gulbenkian, 1991 - Capítulo II - A DOUTRINA DA
PROPOSIÇÃO JURÍDICA; 40 páginas (págs. de 348 a 389)

CAPÍTULO 02

A estrutura lógica da proposição jurídica

a) As partes integrantes da proposição jurídica (completa)

A ordem jurídica é, basicamente, um composto de regras que visa


estabelecer e enquadrar um determinado tipo de comportamento para um
determinado grupo. Essas regras, chamadas de normas jurídicas, são dispositivos
que servem tanto para a conduta dos cidadãos, como para fundamentar a decisão
de tribunais e órgãos competentes. Essas regras apresentam duas características
em sentido de validade: um caráter normativo e um caráter geral. O primeiro diz
respeito à pretensão de validade (atribuir sentido a uma exigência), enquanto o
segundo, não obstante, diz respeito à pretensão de possuir uma validade. As regras
jurídicas podem ser formalizadas em uma legislação específica, que é, por sua vez,
fundamentada nas diretrizes do Direito consuetudinário, do Direito vigente e/ou nas
concretizações dos princípios jurídicos.

A linguagem das regras do Direito apresenta conteúdo assertivo, isto é, de


proposição, por isso chamado de “proposição jurídica”. Deve-se destacar, a priori,
que a proposição jurídica, dado o seu caráter normativo, difere de uma proposição
enunciativa, que afirma um fato de algo. A proposição jurídica, apesar de também
indicar algo (o que se deve ou não fazer), sua linguagem não afirma que algo deve
ser de modo x ou y, mas prescreve, em seus termos, permitindo, proibindo ou
simplesmente direcionando algo. Além disso, declara-se que os termos postos em
uma proposição jurídica pressupõe a existência de uma consequência jurídica,
independente de outros fatores, atenta apenas aos termos e toda a lógica que foi
supracitada da regra do Direito.
Por fim, cabe ao dador da norma se ater e fundamentar sua retórica naquilo
que é pressuposto jurídico. Por ser de Direito, diz-se, assim deve valer. E se assim
não o fosse, então, as palavras do legislador seriam jogadas a esmo, entregues
apenas à frieza do vazio.

b) A proposição jurídica como proposição dispositiva. Crítica da teoria


imperativista

A teoria imperativista diz que todas as disposições jurídicas podem ser


reduzidas a proposições imperativas, ou seja, que prescrevem ou proíbem, dentro
dos seus termos expressos, alguma determinada conduta. Entretanto, conforme
observa o autor, existem algumas normas jurídicas que não contém em sua matéria
os comandos de proibição, mas sim a expressão de uma ordenação de vigência. Em
outras palavras, as proposições que diferem das proposições impositivas não
estabelecem, necessariamente, a determinação de uma conduta específica, mas
parte do pressuposto de como algo deve ser.

Essa lógica diz respeito às proposições dispositivas, que contém, em si,


ordenações de vigência das proposições enunciativas e das proposições
imperativas. Em suma, as disposições atuam para que um dispositivo seja validado
em um sentido normativo, isto é, de suas relações jurídicas.

Proposições jurídicas incompletas

A lei é uma expressão jurídica que consiste em ser uma pluralidade de


proposições conjuntas, mas que, entretanto, por vezes podem não ser proposições
jurídicas completas, sendo reconhecidas, então, como proposições jurídicas
incompletas. Sobre essas, diz que, basicamente, elas estabelecem definições e
classificações, sendo o seu principal feitio determinar o sentido do alcance da
previsão de normas jurídicas.

As proposições jurídicas incompletas são distinguidas em três: aclaratórias,


restritivas e remissivas.

a) Proposições jurídicas aclaratórias

As proposições jurídicas aclaratórias delimitam, em pormenores, um conceito


empregue em outros tipos de proposições (proposições jurídicas delimitadoras),
além de, também, especificar ou complementar o conteúdo de um termo utilizado
em seu significado geral (proposições jurídicas complementadoras). A primeira,
destarte, está mais referida aos elementos da previsão normativa em si, enquanto a
segunda, todavia, esclarecem, em maioria, os termos da consequência jurídica.

b) Proposições jurídicas restritivas

Entende-se proposições jurídicas restritivas como aquelas que restringem


uma outra proposição jurídica. Vê-se que, por vezes, algumas proposições jurídicas
possuem suas previsões com atribuições tão amplas que acabam angariando para
si situações as quais não deve, ou não deveria, lhe valer, urgindo, portanto, à
necessidade de restringi-la por meio de uma outra proposição.

Por fim, vale destacar, a título de elucidação, como essa proposição


escancara bem a lógica das proposições jurídicas incompletas, afinal, é somente
mediante a uma relação conjunta de si que acabam formalizando proposições
jurídicas completas.

c) Proposições jurídicas remissivas

As proposições jurídicas remissivas atuam no campo da consequência


jurídica, uma vez que sua atribuição é aplicar as consequências de uma norma
mediante outra norma. Essa aplicação corresponde a uma relação estabelecida
entre as normas, de modo que os elementos que possam ser enxergados ou
atribuídos como semelhantes se associem e se complemente na medida que
proporcionem uma consequência jurídica conjunta, ou melhor, única.

A remissão é um meio da técnico-legislativo que trabalha para evitar


repetições incomodas na vida jurídica, visando a simplificar termos tão longos e
antigos que, por vezes, confundem-se. E por fim, sobre a remissão, o seu resultado
é alcançado através da mediação de algo chamado de ficção.

d) Ficções legais como remissões

Baseado na significância de ficção jurídica, que diz consistir em equiparar


voluntariamente algo que se sabe que é desigual, as ficções legais são,
basicamente, a aplicação de uma regra ou prerrogativa atribuída a uma normativa
(X¹) para um outro ordenamento normativo (X²). Logo, as consequências jurídicas de
X¹ vigoram também para X², uma vez que, dependendo do caso, a legislação não
contém enunciados sobre X², logo, pode-se dizer que a lei de X¹ finge ser de X² -
apesar de não se dizer que X¹ é um caso de X².

A ficção legal é uma expressão que pode vir a desempenhar função de


remissão, restrição e aclaração. Basicamente, a ficção é um meio de fundamentar
uma sentença judicial, fazendo uma consequência jurídica derivar de fato de outrem,
algo que, em si, não se pertence, mas que dado a situação específica de fato,
convém.

A proposição jurídica como elemento de uma regulação

Conforme já exposto, as proposições jurídicas caminham num campo comum


e, apesar de direcionamentos específicos, não estão separadas, ao contrário, estão
tão intrinsicamente unidas que a correlação entre elas, claro, de modos distintos, é o
que produz as consequências jurídicas que vão formalizar e estruturar as
regulamentações. Nesse viés, regulamentar consiste em elaborar as referências das
preposições jurídicas segundo o significado demandado por um caso específico, isto
é, ordenar as ordens jurídicas para fundamentar o exercício daquilo que é
reconhecido como Jurisprudência.

A valoração expressa em uma determinada norma só é percebida quando


observada a própria norma, mas não de uma maneira isolada, mas na sua aparição
dentro do contexto de regulação respectivo. A divisão de leis em parágrafos ou
artigos, que por ora se complementam com disposições passadas e futuras, não é
um obscurecimento do fato, apenas demonstra, novamente, em sua própria
expressão, como o seu entendimento é imprescindível da sua conexão com as
demais proposições, estas, por vez afastadas, mas quase sempre confluentes.

Confluência (concurso) de várias proposições jurídicas ou regulações

Sobre a confluência das proposições jurídicas, o ato é que elas podem


coincidir de forma ampla, quase total, ou de forma parcial, em uma mesma situação
factual possas ser abrangida por ambas as formas. Diz que isso é uma confluência,
ou concurso, de várias proposições jurídicas. Conquanto, se, por exemplo, duas
preposições jurídicas inferirem a mesma consequência jurídica, observa-se que o
referido concurso não apresenta problemas. Entretanto, quando as consequências
apresentam disposições diferentes é necessário um olhar mais amplo, afinal, existe
muitas discrepâncias. Quando, por exemplo, as disposições se excluem, é
necessário observar se uma sobrevive independente da outra, de modo que a
consequência só seja formalizada dada as normas da primeira, entretanto, caso isso
não ocorra, só uma das proposições pode ter suas consequências validadas, afinal,
não se pode prescrever A e não-A ao mesmo tempo. Nesse contexto, algumas
regras são seguidas para determinar qual norma jurídica deve ser seguida, como a
escolha a partir do tempo de outorga da norma – a qual, no caso, é escolhida a mais
atual em detrimento da antiga. Existem também preposições jurídicas que
concorrem entre si dentro da mesma lei, para tal, nesses casos existem, assim como
no caso anterior, procedimentos estabelecidos que direcionam a escolha da norma
que deve prevalecer, portanto, é necessário um olhar muito atento nesses caminhos
que podem e devem ser seguidos. Por fim, um adendo importante é que as vezes o
caminho encontrado não é necessariamente a superação de uma norma, mas a
criação de um cenário em que ambas, apesar de conflituantes, podem existir em ser
aplicáveis em pares ou individualmente.

Além disso, existem os casos em que só existem a coincidência parcial entre


duas normas, e os casos em que os entrecortes não estão na proposição jurídica em
si, mas no seu âmbito global de aplicação, quer dizer, na expressão da norma dentro
de uma disciplina jurídica. Assim como os outros, existem procedências
fundamentadas e específicas para superar as contradições e fundar um caminho
claro e estabelecido.

O esquema lógico da aplicação da lei

Quando se observa e se entende que as proposições jurídicas são regras de


conduta, expressas em uma forma de linguagem específica, que visam uma
determinada aplicação para determinado grupo, uma pergunta salta aos olhos: como
é aplicada uma norma jurídica?

Sobre isso, é fundamental dizer que, apesar de parecer uma proposição fácil
de ser desvendada, existe um exercício mais enfadonho, que consiste não obstante
a simples aplicação isolada das normas jurídicas, mas também no seu caráter de
regulação global, na sua expressão extremamente específica, na discrepância
natural das regulações de determinada realidade e na fluidez que essa mesma
realidade tem de, ironicamente, alterar-se (ou alterar seu fato). Enfim, observar-se-á,
na sequência, o suporte lógico para estabelecer o exercício de aplicação das leis.

a) O silogismo de determinação da consequência jurídica

Em lógica, silogismo é um raciocínio dedutivo estruturado pela formalização


de duas proposições (ou premissas), das quais se obtém uma terceira
proposição inferida. Em matéria elucidativa, existe o exemplo clássico de
silogismo feito por Aristóteles (aliás, o silogismo é uma forma Aristotélica): “todo
homem é mortal; Sócrates é homem; logo, Sócrates é mortal”. No âmbito jurídico,
diz-se que uma previsão P realizada sobre um fato concreto S, vale para S,
então, uma consequência jurídica C. Para se valer como silogismo, ou melhor,
para ter uma consequência jurídica que resulte um silogismo, a previsão P
(premissa menor) deve se realizar numa situação de fato, fazendo vigorar, logo,
uma consequência jurídica C (premissa maior). Além disso, S é um caso de P.
portanto também vigora para C.

O autor denomina essa figura como silogismo de determinação da


consequência jurídica, a lógica dela diz, segundo ele, que a premissa maior é
constituída por uma proposição jurídica completa e a premissa menor é uma
subordinação de um fato concreto, ou seja, vale-se a consequência jurídica
mencionada na proposição jurídica. Em atos concretos, um mesmo
acontecimento ou gesto pode significar, juridicamente, como a realização de
diversas previsões das proposições jurídicas, podendo, por exemplo, um gesto
violar não só um contrato prévio, mas também ser considerado como um ato
ilícito.

Ainda, a lei tem a capacidade de restringir ordenamentos de consequências


jurídicas de caráter amplo. Então, entende-se que a proposição jurídica completa
é aquela que resulta também das chamadas normas restritivas. Logo, para se
determinar que o fato está dentro de uma norma estabelecida e firmada, é
necessário que essa também esteja comprovada dentro da previsão da norma
restritiva, e a consequência jurídica só valerá quando for referida dentro da
primeira norma e não caia sob os termos da norma restritiva.
b) A obtenção da premissa menor: o caráter meramente limitado da
subsunção

O processo de subsunção é reconhecido e caracterizado pela obtenção da


premissa menor, ou seja, quando o enunciado S é um caso de P. Conforme
exemplificou o autor:

P caracteriza-se plenamente nas notas N¹, N², N³.

S apresenta as notas N¹, N², N³.

Logo, S é um caso de P.

Na lógica, silogismo de subsunção é entendido como a subordinação de


conceitos de menor extensão para conceitos de maior extensão. Sua premissa
menor consiste em afirmar que as notas mencionadas em determinada norma
jurídica estão realizadas, em totalidade, no fenômeno da vida expresso em seu
referente enunciado. Esse enunciado, por sua vez, tem antes seu fato julgado em
relação a presença das notas que o fundamentam. É nesse processo de
julgamento, finalmente, que se ocupará o ponto fundamental da aplicação da lei.

Os silogismos de subjunção desempenham um papel importante na aplicação


das proposições jurídicas, afinal, suas concepções são conceptualmente
formalizadas, através da Jurisprudência, graças a coordenação da forma lógica
do juízo de subjunção.

c) A derivação da consequência jurídica por intermédio da conclusão

A conclusão do silogismo de determinação da consequência jurídica é


determinada, muitas vezes, pela consequência jurídica em seu caso particular. A
averiguação da consequência jurídica concreta é dada de modo que inclua as
abstrações presentes nos termos expressos da premissa maior. Já na premissa
menor, a consequência jurídica é determinada por intermédio da conclusão. Por
exemplo, se um locador pretende conservar uma determinada coisa locada, há
de se requirir, para a conservação uma medida, logo o locador está obrigado a
tomar tal medida.
A premissa maior do silogismo é respectiva a conclusão do silogismo de
determinação da consequência jurídica, enquanto o segundo diz respeito a ao
julgamento sobre o que se requer para a conservação de determinada coisa
locada.

Por fim, o silogismo de determinação da consequência jurídica, fundada em


saberes técnicos e sociais, não acarreta, necessariamente, uma consequência
jurídica precisa e bem determinada, mas num quadro em branco com um espaço
que pode vim há ser preenchido em tempo vindouro.

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