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4 HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS

A hermenêutica constitucional tem por objetivo o estudo das técnicas de


interpretação da Constituição, fornecendo os princípios básicos segundo os quais os
operadores do Direito devem apreender o sentido das normas constitucionais.
A interpretação constitucional, por outro lado, consiste no desvendar do
significado da norma, com vistas à aplicação em um determinado caso concreto.

4.1 PRINCÍPIOS DE HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL

A hermenêutica estabelece princípios para se interpretar as regras constitucionais,


que são os seguintes: a) princípio da Supremacia da Constituição; b) princípio da Unidade da
Constituição; c) princípio da Imperatividade da Norma Constitucional; d) princípio da
Simetria Constitucional; e) princípio da Presunção de Constitucionalidade das Normas
Infraconstitucionais.

a) Princípio da Supremacia das Normas Constitucionais

As normas constitucionais são, sempre, superiores às demais normas não


constitucionais, ou infraconstitucionais.
A norma não constitucional, ou inferior, somente se torna válida na medida em
que é feita em estrita obediência ao procedimento legislativo que lhe é adequado e que,
também, preserva o fundamento básico da supremacia das normas constitucionais que não
admite a existência de normas jurídicas conflitantes.
Isto que dizer que, sob o ponto de vista normativo, a Constituição representa o
ápice de uma figura piramidal de hierarquização da norma jurídica.
Em outras palavras, a Constituição seria um conjunto de normas jurídicas
superiores que determina a criação de todas as demais regras que integram o ordenamento
jurídico estatal.
Segundo Kelsen 14, “o ordenamento jurídico não é, portanto, um sistema jurídico
de normas igualmente ordenadas, colocadas lado a lado, mas um ordenamento escalonado de
várias camadas de normas jurídicas”.

b) Princípio da Unidade da Constituição

As normas constitucionais devem ser interpretadas de modo a se evitar qualquer


tipo de contradição entre si.15 Isto porque “a Constituição não é um aglomerado de normas
constitucionais isoladas, mas, ao contrário disso, forma um sistema orgânico, no qual cada
parte tem de ser compreendida à luz das demais”.16
J.J. Gomes Canotilho ensina que “este princípio obriga o intérprete a considerar a
Constituição na sua globalidade e a procurar harmonizar os espaços de tensão existentes entre
as normas constitucionais a concretizar”.17

14
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Revista dos Tribunais, São Paulo, p. 103, 2003,
15
ZIMMERMANN, Augusto. Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2002. p. 138.
16
SARMENTO, Daniel. A ponderação de interesses na Constituição Federal. RJ: Lúmen Juris, 2002. p. 100.
17
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 1997. p.232.
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É por meio dessa visão unitária que fica consagrada a interdependência entre as
normas constitucionais.

c) Princípio da Imperatividade (ou da Máxima Efetividade) da Norma


Constitucional

Sendo a norma constitucional de ordem pública e de caráter imperativo, emanada


que é da vontade popular, o intérprete deve lhe conferir o máximo de efetividade no momento
de sua aplicação.
Para Rui Barbosa (apud Zimmermann, 2002), a hermenêutica da norma
constitucional devia ser o mais ampla possível, pois para ele “nas questões de liberdade, na
inteligência das garantias constitucionais, não cabe a hermenêutica restritiva”. 18

d) Princípio da Simetria Constitucional

Este princípio postula que haja uma relação simétrica entre as normas jurídicas da
Constituição Federal e as regras estabelecidas nas Constituições Estaduais, e mesmo
Municipais. Isto quer dizer que no sistema federativo, ainda que os Estados-Membros e os
Municípios tenham capacidade de auto-organizar-se, esta auto-organização se sujeita aos
limites estabelecidos pela própria Constituição Federal.
Assim, pelo princípio da simetria, os Estados-Membros se organizam obedecendo
ao mesmo modelo constitucional adotado pela União. Por este princípio, por exemplo, as
unidades federativas devem estruturar seus governos de acordo com o princípio da separação
de poderes.

e) Princípio da Presunção de Constitucionalidade das Normas


Infraconstitucionais

Segundo este princípio, todas as normas jurídicas infraconstitucionais possuem a


presunção de constitucionalidade até que o controle judicial se manifeste em contrário.
Trata-se, portanto, da presunção juris tantum, posto que a norma
infraconstitucional possui eficácia jurídica até que se prove o contrário.
Este princípio decorre do próprio Estado de Direito, da separação de Poderes, pois
é a própria Constituição que delega poderes ao Poder Legislativo para editar normas
ordinárias, infraconstitucionais, que lhe dão plena operatividade, e o Legislativo assim o faz
na convicção de que está a respeitar a Constituição, na presunção de que as leis que elaborou
e que foram promulgadas são, efetivamente, constitucionais, devendo a quem argüi a sua
inconstitucionalidade perante o Poder Judiciário provar o vício que alega, e a declaração de
inconstitucionalidade das normas ordinárias somente deve ocorrer quando afastada toda e
qualquer dúvida quanto à sua incompatibilidade com a Constituição.

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18
BARBOSA, Rui. Comentários à Constituição Federal Brasileira. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 495, 506 e 516,
v.5.

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