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Princípio da unidade da Constituição:

Em relação à este princípio, sabe-se que um


ordenamento jurídico só pode ser concebido
como um conjunto de normas , e é condição de
existência de uma ordem jurídica a
concorrência de normas. Entretanto, apesar da
pluralidade, o ordenamento constitui uma
unidade, pois nascem da mesma fonte e,
mesmo se, nascerem em fontes diferentes,
têm o mesmo fundamento de validade,
portanto, o intérprete não pode obter o
significado de um enunciado contido na
Constituição de forma isolada, mas
contextualizada dentro do ordenamento
constitucional.
Um exemplo prático desse princípio, foi em um
julgado pelo STF sobre uma ação direta de
inconstitucionalidade, em que o Partido Social
Cristão postulou pronúncia da
inconstitucionalidade da parte final do
parágrafo 4 do art. 14 da Constituição Federal
(na parte que diz- são inelegíveis os inalistáveis
e os analfabetos). Eles alegaram que tal
dispositivo afronta o art. 5 da própria
Constituição. Alegou, em suma, que a previsão
impugnada impõe discriminação contra
analfabetos, por uma exigência
inconstitucional, descabida e inoportuna, que
estabelece regra incompatível com os
princípios naturais e os critérios isonômicos ,
gerais e coletivos da lei de um estado
democrático. O STF entendeu que o pedido
seria juridicamente impossível, pois nos
precisos termos do art.10, l, a, da Constituição
da República, o objeto primário da ação direta
de inconstitucionalidade só pode ser lei ou ato
normativo, ou, quem sabe, rectius, norma das
classes de lei em sentido formal e material ou
de ato normativo.
“O direito brasileiro, não admite a
inconstitucionalidade de normas
constitucionais, ou seja, de normas incluídas no
documento constitucional. Não se admite,
entre nós a existência de normas residentes
acima da Constituição, determinantes da
validade desta, ou residentes na própria
Constituição, mas porque hierarquicamente
superiores, determinantes da validade de
outras normas constitucionais.”
Em razão deste princípio, a Constituição deve
ser interpretada de maneira a evitar
contradições entre as suas normas, cabendo ao
intérprete considerar a Constituição na sua
globalidade, no seu conjunto, no sentido de
buscar sempre harmonizar os espaços de
tensão existentes entre as normas
constitucionais a concretizar. Assim, jamais
deve o intérprete isolar uma norma do
conjunto em que ela está inserida, pois o
sentido da parte e o sentido do todo são
interdependentes.

Princípio do efeito integrador:


A Constituição não pode ser entendida como
instrumento de desagregação social, mas deve
ter um caráter de ordenação do Estado e da
Sociedade, além de assegurar uma coesão
sócio-política. Dessa forma, subtende-se que a
interpretação constitucional privilegie os
critérios ou sentidos que favoreçam uma maior
integração política e social e o reforço da
unidade política.
Ao analisar a premissa interpretativa ora
estudada, Inocêncio Mártires Coelho faz a
seguinte ressalva:
“Em que pese a indispensabilidade dessa
integração para a normalidade constitucional,
nem por isso é dado aos aplicadores da
constituição subverter-lhe a letra e o espírito
para alcançar esse objetivo a qualquer custo,
até porque, à partida, ela se mostra submissa a
outros valores, desde logo reputados
fundamentais - como a dignidade humana, a
democracia e o pluralismo, por exemplo, - que
precedem a sua elaboração, nela se
incorporam e, afinal, seguem dirigindo a sua
interpretação”[47].

Princípio da máxima efetividade:


Chamado também de princípio da
interpretação efetiva, orienta o intérprete a
atribuir às normas constitucionais o sentido
que maior efetividade lhe dê, visando otimizar
ou maximizar a norma para dela extrair todas
as suas potencialidades.
Apesar de ser aplicável em todas as normas,
tem incidência maior no âmbito dos direitos
fundamentais, onde é frequentemente
invocado.

Trazendo mais um exemplo de decisão


prolatada pelo Supremo Tribunal Federal, nas
quais restaram reveladas a preocupação em
buscar a máxima efetividade de um princípio
ou de uma regra constitucional:

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
CONSTITUCIONAL. PENAL. TRÁFICO DE
ENTORPECENTES. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE
PENA, INSTITUÍDA PELO § 4º DO ART. 33 DA
LEI 11.343/2006. FIGURA DO PEQUENO
TRAFICANTE. PROJEÇÃO DA GARANTIA DA
INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA (INCISO XLVI DO
ART. 5º DA CF/88). CONFLITO
INTERTEMPORAL DE LEIS PENAIS. APLICAÇÃO
AOS CONDENADOS SOB A VIGÊNCIA DA LEI
6.368/1976. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA
RETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS
BENÉFICA (INCISO XL DO ART. 5º DA CARTA
MAGNA). MÁXIMA EFICÁCIA DA
CONSTITUIÇÃO. RETROATIVIDADE ALUSIVA À
NORMA JURÍDICO-POSITIVA. INEDITISMO DA
MINORANTE. AUSÊNCIA DE CONTRAPOSIÇÃO
À NORMAÇÃO ANTERIOR. COMBINAÇÃO DE
LEIS. INOCORRÊNCIA. EMPATE NA VOTAÇÃO.
DECISÃO MAIS FAVORÁVEL AO RECORRIDO.
RECURSO DESPROVIDO. 1. A regra
constitucional de retroação da lei penal mais
benéfica (inciso XL do art. 5º) é exigente de
interpretação elástica ou tecnicamente
“generosa”. 2. Para conferir o máximo de
eficácia ao inciso XL do seu art. 5º, a
Constituição não se refere à lei penal como
um todo unitário de normas jurídicas, mas se
reporta, isto sim, a cada norma que se veicule
por dispositivo embutido em qualquer
diploma legal. Com o que a retroatividade
benigna opera de pronto, não por mérito da
lei em que inserida a regra penal mais
favorável, porém por mérito da Constituição
mesma.

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