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MATERIAL DE APOIO | DIREITO PENAL

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APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO

Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
A aplicação da lei penal define o que uma conduta para ser penalizada deve estar tipificada em lei, e para
que a pena seja aplicada, essa também deve constar no texto legal. Estes conceitos, como já vimos, decorrem
dos princípios da legalidade e da anterioridade de lei. Neste capítulo iremos estudar como a lei se comporta
em relação ao tempo e ao espaço.

& LEI PENAL NO TEMPO


Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a
execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores,
ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.

O art. 2º caput do CP trata da chamada Abolitio criminis. Este instituto prevê que, por meio da abolição do
crime, todos os efeitos penais serão também extintos, permanecendo apenas os efeitos extra penais.
O parágrafo único, no entanto, define que se a lei posterior for mais favorável ao réu ela deverá retroagir
para beneficiar o autor do delito ainda que este já tenha sido condenado e esteja cumprindo pena na fase
de execução penal.
Veja que, em regra, a lei não pode retroagir, salvo se a lei penal trouxeram algum benefício para o agente
no caso concreto. Em caso de lei posterior mais gravosa que tenha revogado outra lei, a primeira, mesmo
sem estar vigente, deverá ser usada se beneficiar o réu, é o que chamamos de ultratividade de lei.
Mas lembre-se, é vedada a combinação de leis no tempo, segundo a súmula 501 do STJ.
Outro ponto que merece total atenção é o disposto na súmula 711 do Supremo tribunal Federal, que em sua
redação defende que: em caso de crime continuado ou de crime permanente, deverá ser aplicada a lei penal
vigente no momento da cessação do delito ainda que esta seja mais gravosa.

& TEMPO DO CRIME


Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do
resultado.

Quanto ao tema, o Código Penal brasileiro adotou a chamada Teoria da Ação ou da Atividade. Aplica-se a lei
penal em vigor no momento da ação ou da omissão criminosa, mesmo que o resultado seja produzido sobre
a vigência de outra lei penal, ressalvando-se sempre a possibilidade de retroatividade de lei penal nova mais
benéfica.

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& LUGAR DO CRIME


Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como
onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

Quanto ao tema o Código Penal brasileiro adota a chamada Teoria Mista ou da Ubiquidade Segundo esta
teoria, é tanto o lugar da atividade criminosa (ação ou omissão), o lugar do resultado, tem como o local em
que o bem jurídico tutelado foi atingido. Teoria da ubiquidade será aplicada ainda que em nosso território
somente aconteça uma das fases do crime.

& LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA


Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias
que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.

A lei excepcional ou temporária são leis penais que possuem um período previamente determinado de
vigência, fixado por um prazo ou condicionado a sensação de uma situação emergencial. A principal
característica este tipo de lei é a outra atividade. O que significa que a lei será aplicada a um fato cometido
no período de sua vigência mesmo após a sua revogação, ainda que prejudique o acusado.
A lei excepcional é aquela que vigora por um tempo indeterminado, enquanto durar uma situação
excepcional. Exemplo: época da piracema, tempo de guerra...
A lei temporária é aquela que surge para vigorar por tempo previamente estabelecido, isto é, com começo
e com fim já prefixado. Exemplo: lei da copa.
A peculiaridade destas leis é que elas são autorrevogáveis, diferente das demais que, em regra, necessitam
de lei posterior que as revogue expressamente.

TERRITORIALIDADE E EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL

& TERRITORIALIDADE
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime
cometido no território nacional.
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e
aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem,
bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.

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§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou
embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou
em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.

Em razão do princípio da soberania, a territorialidade penal parte da ideia básica de que os autores das
infrações penais cometidas em território brasileiro devem ser julgados pela lei penal brasileira.
Territorialidade pode ser descrita como aplicação das leis brasileiras aos delitos cometidos em território
nacional. Esta é uma regra geral, que advém do conceito de soberania.
Para efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves
brasileiras de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como
as aeronaves e embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada que se achem em território
aéreo correspondente ou em alto mar.
Também aplicável a lei brasileira a crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de
propriedade privada desde que essas estejam em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo
correspondente, e estas em Porto ou mar territorial do Brasil.
Ainda, de acordo com o princípio da bandeira ou do pavilhão, consideram-se as embarcações e aeronaves
como extensões territoriais do país em que se achem matriculadas, quando estiverem em alto mar ou espaço
aéreo correspondente. Hidratando, as embarcações ou aeronaves privadas nacionais que ingressarem em
território estrangeiro não serão consideradas extensão do território brasileiro.

& EXTRATERRITORIALIDADE
A extraterritorialidade elenca os seguintes princípios:
Princípio da territorialidade – art. 5º, CP;
Princípio da defesa (real ou de proteção) – se o bem jurídico for de proteção especial, aplica-se a lei penal
brasileira independentemente de fronteiras.
Da nacionalidade (ou da personalidade) – será aplicada a lei brasileira autor do crime, qualquer que tenha
sido o local de sua prática, com base no princípio da personalidade ativa:
Da justiça universal (ou cosmopolita) – fica o Brasil obrigado a reprimir determinados delitos devido a
tratados e convenções de direito internacional;
Da representação (pavilhão ou bandeira) – a lei penal brasileira será aplicada aos crimes ocorridos em
aeronaves ou embarcações brasileiras, privadas ou mercantis que se encontrem em território estrangeiro,
desde que lá não tenham sido julgados.

A extraterritorialidade incondicionada é de interesse absoluto do Brasil. Este dispositivo é uma exceção ao
princípio do "ne bis in idem".

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A extraterritorialidade incondicionada tem suas hipóteses previstas no inciso primeiro do artigo
7º e não se subordinam a qualquer condição para atingir a um crime cometido fora do território nacional.
Já a estrada territorialidade condicionada necessita de requisitos cumulativos e deve respeitar o princípio
do "ne bis in idem". As hipóteses estão previstas no inciso 2º do artigo 7º e, nesses casos, a lei nacional só
pode ser aplicada à crime cometido no estrangeiro se satisfeitas as condições indicadas no § 2º e nas alíneas
a e b do § 3º.

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)
I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
OBS: Aqui a regra é taxativa, não se incluindo, por exemplo, crimes patrimoniais ocorridos em face de
Presidente da República no Exterior.
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município,
de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
OBS: Crimes funcionais praticados por prestadores de serviços contra a Administração Pública Brasileira
(Peculato, concussão, corrupção passiva, etc.)
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;
Importante: Nas quatro hipóteses acima elencadas o Estado Brasileiro terá SEMPRE a intenção de aplicar
sua legislação penal ao fato ocorrido no estrangeiro, ainda que o autor do delito seja absolvido ou condenado
no estrangeiro.
Nas hipóteses seguintes (abaixo relacionadas), o Estado Brasileiro somente terá a intenção de aplicar sua
legislação penal ao caso se houver o preenchimento de requisitos. Esses requisitos estão elencados no §2º
do art. 7º do CP.
II - os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em
território estrangeiro e aí não sejam julgados.
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado
no estrangeiro.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições:
(Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
a) entrar o agente no território nacional; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)

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c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; (Incluído
pela Lei nº 7.209, de 1984)
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; (Incluído pela Lei nº 7.209,
de 1984)
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade,
segundo a lei mais favorável. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil,
se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
a) não foi pedida ou foi negada a extradição; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
b) houve requisição do Ministro da Justiça. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)

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