Você está na página 1de 27

EFICÁCIA DA LEI PENAL

NO ESPAÇO.

TERRITORIALIDADE

Art. 5º, caput, do CP:

“Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras


de direito internacional, ao crime cometido no território nacional”.

Com tal enunciado, nosso Código Penal acolheu o princípio da


territorialidade da lei penal, isto é, a lei penal brasileira aplica-se a todos os
fatos ocorridos dentro do nosso território.

1. Regra geral: aplica-se a lei penal brasileira para os crimes ocorridos


dentro do território brasileiro (art. 5º, caput, do CP).
Além da lei brasileira, poderá ser aplicado em território nacional as
convenções, tratados e regras de direito internacional, daí porque se fala que o
Brasil adotou o princípio da territorialidade temperada.

2. Território

É a porção de terra, água e ar em que o governo brasileiro exerce a


soberania, isto é, o poder incontrastável de mando.

Por território, no sentido jurídico, entende-se todo o espaço em que o


Brasil exerce sua soberania:
■ O espaço terrestre engloba o solo e o subsolo e seus limites são as
fronteiras com os países vizinhos. São os limites compreendidos pelas
fronteiras nacionais;

■ O espaço aquático abrange os rios, que cortam o território brasileiro, bem


como o mar que banha as costas brasileiras. O mar territorial brasileiro foi
fixado de acordo com a Convenção Internacional sobre o Direito do Mar, pela
qual a soberania absoluta sobre a faixa de 200 milhas da costa é para fins de
exploração econômica, limitando-se a incorporação territorial a 12 milhas do
litoral (22,2 KM), conforme o art. 1º, caput, da Lei 8.617/93.

■ O espaço aéreo é a coluna de ar atmosférica acima do espaço terrestre e


marítimo (art. 11, da Lei 7.565/86 – Código Brasileiro de Aeronáutica). É todo o
espaço aéreo subjacente ao nosso território físico e ao mar territorial nacional
(princípio da absoluta soberania do país subjacente — Código Brasileiro de
Aeronáutica, art. 11, e Lei n. 8.617/93, art. 2º);

■ São ainda considerados território as aeronaves e embarcações:


a) brasileiras privadas, em qualquer lugar que se encontrem, salvo em mar
territorial estrangeiro ou sobrevoando território estrangeiro; b) brasileiras
públicas, onde quer que se encontrem;
c) estrangeiras privadas, no mar territorial brasileiro.

■ O espaço cósmico, isto é, por onde transitam os satélites é considerado


coisa comum de todos, conforme Decreto nº 64.362/69, que ratificou o Tratado
sobre Exploração e Uso do Espaço Cósmico.

3. Território brasileiro por extensão:


A lei penal considera também extensão do território brasileiro as
embarcações e aeronaves, de natureza pública, bem como aquelas que,
mesmo sendo privada, estejam a serviço do governo brasileiro.

Também são consideradas extensão do território brasileiro, as


aeronaves ou embarcações privadas, que não estejam a serviço do governo
brasileiro, mas se encontram em alto mar ou no espaço aéreo correspondente
(art. 5º, § 1º, do CP).

Atenção: pouco importa onde esteja a embarcação ou aeronave, desde que


sejam públicas ou estejam a serviço do governo, aplica-se a lei brasileira. Ex:
caso ocorra um crime dentro do navio de guerra brasileiro, ancorado em porto
americano, aplica-se a lei brasileira.

Como já dito acima, o artigo 5° , parágrafo 1°, do CP, prevê que


. "para efeitos penais, consideram-se como extensão do território
nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou
a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como
as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo
correspondente ou em alto-mar ".

EMBARCAÇÕES E AERONAVES PÚBLICAS E PRIVADAS

As embarcações podem ser tanto públicas como privadas.

Aeronaves e embarcações públicas:

As aeronaves militares, assim como as civis de propriedade ou a


serviço de nosso Estado, por ele diretamente utilizadas, de acordo com o
Código Brasileiro de Aeronáutica, são consideradas situadas em nosso
território.

Quanto ao domínio aéreo, temos três teorias:


a) a primeira é a da absoluta liberdade do ar,
b) a segunda, da soberania absoluta do país subjacente,
c) e a última, da soberania até a altura dos prédios mais elevados do
país subjacente.
No Brasil, adotamos, da soberania absoluta respeitando-se, pois, a
absoluta soberania do país subjacente.

Aeronaves e embarcações privadas:

As embarcações e aeronaves de natureza privada também são


consideradas situadas em nosso território quando estiverem em alto-mar ou em
região que não pertença a qualquer Estado. Fora daí, estará em território
estrangeiro.

Também os navios podem ser tanto públicos como privados.

Navios públicos: Os públicos seriam os navios de guerra, em serviços


militares, em serviços públicos, como, por exemplo, a polícia marítima,
alfândega etc., e os postos a serviço de soberanos, chefes de Estado ou
representantes diplomáticos.

Navios privados são os mercantes, os cruzeiros, de recreio etc..

ATENÇÃO: Os navios públicos sempre serão considerados parte de nosso


território, estejam onde estiverem (em mar territorial nacional, estrangeiro, ou
em alto-mar).
Assim, sempre que o crime for praticado em navio público, nossa Justiça
será competente para apreciar os crimes nele praticados, de acordo com o
disposto no art. 5° , parágrafo 1° , primeira parte.

O mesmo não ocorre em relação aos navios privados. Esses, quando


em alto-mar, deverão seguir a bandeira que ostentam.

No entanto, quando em portos estrangeiros, ou em mares territoriais


estrangeiros, seguirão a lei do país em que se encontram, conforme o artigo
5° , parágrafo 1° , segunda parte do CP.

Já os navios estrangeiros públicos, mesmo que em águas territoriais


brasileiras, não podem ser considerados parte de nosso território. Os crimes
neles cometidos devem ser julgados de acordo com a lei da bandeira que
ostentam.

No entanto, na mesma hipótese, se forem de natureza privada, se aplica


a nossa legislação, uma vez que eles estarão em nosso território (art.5,
parágrafo 2°, do CP).
LUGAR DO CRIME:

O Código Penal prevê no art. 6º o lugar do crime, adotando a teoria da


ubiquidade ou mista, segundo a qual o crime se considera praticado tanto no
lugar da conduta quanto naquele em que se produziu ou deveria produzir-
se o resultado.

Referido artigo estabelece quais crimes podem ser considerados como


ocorridos no Brasil e, por via de consequência, a quais delitos se aplica a lei
penal brasileira. O dispositivo rege, portanto, a “competência internacional”.1

A regra em estudo só terá relevância nos chamados crimes a distância


ou de espaço máximo, que são aqueles cuja execução se inicia no território de
um país e a consumação se dá ou deveria dar-se em outro.

Imagine-se a hipótese de um agente iniciar a execução de um crime no


Chile, visando produzir o resultado no Brasil, ou o inverso.

Em ambos os casos, os delitos serão considerados como ocorridos em


território nacional, de modo que a lei penal brasileira a eles se aplicaria.

Como esclarece Nelson Hungria, basta que o crime tenha “tocado” o


território nacional para que nossa lei seja aplicável.

Para saber se será aplicada a lei brasileira, é preciso delimitar o local


onde houve o crime.

1
Estefam, André, e Victor Eduardo Rios Gonçalves. Esquematizado - Direito Penal - Parte
Geral. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora Saraiva, 2023.
Há cinco princípios, previstos no Código, para tentar solucionar os
conflitos penais no espaço.

São eles:

1º). Princípio da territorialidade. Segundo esse princípio, a lei penal


somente tem aplicação no território do Estado que a criou.
2º) Princípio da nacionalidade: Segundo tal princípio, a lei penal do
Estado é aplicável a seus cidadãos, não importando onde eles se encontrem. O
que importa é a nacionalidade do sujeito. Tal princípio também é denominado
de princípio da personalidade, porque o Estado entende pessoal a norma
punitiva e a aplica ao nacional. Seu fundamento é que o cidadão, mesmo que
se encontre no estrangeiro, deve sempre obediência às leis de seu país.

Por esse último princípio, um crime praticado por um brasileiro, na Itália,


somente seria punido pela nossa lei se houvesse lesão a um bem jurídico do
Brasil ou de outro brasileiro.

3º) Princípio da defesa (real ou da proteção): Para este princípio a


nacionalidade do bem jurídico lesado pelo crime, sem se importar com o local
de sua prática ou com a nacionalidade do agente.

Esse princípio, ultimamente, tem sido prestigiado, uma vez que os


Estados sentem necessidade de proteger seus interesses que, muitas vezes,
acabam sendo lesados pelos estrangeiros.

4º) Princípio da justiça penal universal (princípio universal, da


universalidade da justiça cosmopolita, da jurisdição mundial, da
repressão universal e da universalidade do direito de punir). Este princípio
prevê que o poder de cada Estado punir qualquer crime, pouco importando a
nacionalidade do delinquente e da vítima, ou onde foi ele praticado. Para que
ao sujeito seja imposta uma pena, basta encontrar-se dentro do território de um
país.

5º) Princípio da representação: Em razão desse princípio, a lei penal de


determinado Estado também é aplicada aos delitos cometidos em aeronaves e
embarcações privadas, quando realizados no estrangeiro e aí não venham a
ser julgados.
Princípios adotados pelo Código Penal:

O artigo 5° do CP traz a regra, ou seja, o princípio da territorialidade


temperada.

Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções,


tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território
nacional.

Como já dito, o Código Penal adotou o princípio da territorialidade,


sendo os demais princípios exceções.

a) O artigo 7°, inciso I, e parágrafo 3° do CP, adotou o princípio da proteção


(real).

b) O art.7° , inciso II, alínea "a", adota o princípio da justiça universal.

c) O inciso II, "b", desse mesmo artigo 7° , adotou o princípio da


nacionalidade ativa, e a alínea "c", o da representação.

LUGAR DO CRIME.

Segundo o artigo 70, "caput", do Código de Processo Penal,:

"A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se


consumar a infração."
Teoria da atividade, o lugar do crime é aquele em que o agente praticou os
atos executórios. Assim, se a vítima foi ferida em um país, mas vem a morrer
no outro, o primeiro será o competente para apreciar a questão. Se os atos
executórios foram praticados no Brasil, para essa teoria, a competência para a
apreciação do caso será nossa.

Teoria do resultado, o lugar do delito é, justamente, onde se produziu o


resultado. Assim, o país competente para a apreciação do homicídio será
aquele em que ocorreu a morte da vítima. No primeiro exemplo (de Hungria),
por essa teoria, a competência seria da Justiça boliviana.

Teoria da ubiquidade, o lugar do crime é tanto o local onde ocorreu a prática


de atos executórios, assim como onde ser consumou o delito (ocorreu o
resultado). Essa teoria é a mais adotada na doutrina e nas legislações
penais.

O Código Penal, prevê no artigo 6°:

ART. 6º do CP:

"Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou


omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou devia
produzir-se o resultado."

Assim, quando o crime tem início em território estrangeiro e se consuma


no Brasil, considera-se que ele foi praticado no Brasil.

De acordo com essa teoria, aplica-se a lei penal brasileira ao fato de


alguém, em território paraguaio, atirar na vítima que se encontra em nosso
território, vindo a falecer. Também se aplica a lei brasileira, se um estrangeiro
enviar uma caixa de bombons envenenados à pessoa que viva no Brasil.
Também, aplica-se a legislação brasileira, quando os atos executórios
do crime são praticados em nosso território, mesmo que o resultado se produza
em outro país.

No entanto, não basta que os atos preparatórios e os posteriores à


consumação aconteçam no Brasil, porque, nesse caso, ainda não começaram
os atos executórios, ou, simplesmente, já se produziu o resultado.

Ainda, verifica-se que o artigo 6° do Código Penal, inclusive, tratou das


hipóteses de tentativa, afirmando que o local do crime é tanto o local onde
praticou-se a conduta, como aquele em que "deveria produzir-se o resultado".

A Teoria da Ubiquidade tem importância jurídica, nos denominados


"crimes a distância", quando os atos executórios e o resultado ocorrem em
local diverso. Imagine que a conduta seja praticada na Argentina e o resultado
se produza no Brasil. Basta que o crime toque o nosso território para que se
possa aplicar a lei nacional, independentemente de o fato ter sido ou não
punido no estrangeiro.
A competência da autoridade brasileira, relativamente aos crimes a
distância, é fixada pelos parágrafos 1° e 2° do art.70 do CPP, que determina:

"Se, iniciada a execução em território nacional, a infração se consumar


fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido
praticado, no Brasil, o último ato de execução."(parágrafo 1° )

"Quando o último ato de execução for praticado fora do território


nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente,
tenha produzido ou devia produzir seu resultado."(parágrafo 2° )

Nos crimes complexos, aplica-se a regra do artigo 6° (sobre o lugar do


crime), mesmo que só o delito-meio, tenha sido cometido em território
brasileiro.

Extraterritorialidade:

Aqui aplica-se o artigo 5° do CP, como regra, o princípio da


territorialidade.

No Brasil adotamos, o princípio da territorialidade temperada,


possibilitando-se, em algumas hipóteses, a aplicação da lei penal estrangeira a
crimes cometidos em nosso território.

O artigo 7° traz um rol de casos em que a lei penal brasileira é aplicada


aos delitos cometidos em território estrangeiro, determinando que:
ART 7º: "Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
I - os crimes:
1. contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
2. contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de
Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia
mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
3. Contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
4. De genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;

II - os crimes:
1.. que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
2.. praticados por brasileiro;
3.. praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados."

Esse artigo, expressamente, possibilita a aplicação de outros princípios,


distintos do princípio da territorialidade, em determinadas situações.
Assim, alguns crimes cometidos no estrangeiro são alcançados pela lei
brasileira. Tal fenômeno é denominado extraterritorialidade da lei brasileira.

Essas hipóteses se dividem em:

a) Extraterritorialidade Incondicionadas: a lei brasileira sempre se aplica


nas hipóteses do art. 7º, § 1º, CP) que regula sobre os crimes:
-contra a vida ou liberdade do Presidente da República,
- contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de
Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista,
autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público,
-contra a administração pública, por quem está a seu serviço e de genocídio,
quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;

b) Extraterritorialidade Condicionadas: quando a lei brasileira só pode ser


aplicada se previstas as condições objetivas de punibilidade do art.7°, §2°,
CP:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a
extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a
pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou,
f) por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais
favorável.

O artigo 7° , em seu inciso I, adotou o princípio real ou da proteção.


Já a alínea "a", do inciso II, adotou o princípio da justiça universal, a
alínea "b", o princípio da personalidade ativa, e a alínea "c", o princípio da
proteção ou real.

Ainda, o artigo 7° no parágrafo 3°, afirma que "a lei brasileira aplica-se
também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil",
presentes determinadas condições. Temos, aqui, também, a aplicação do
princípio de proteção ou real.

Nesses casos, para que se aplique a lei brasileira, não se exige a


existência de qualquer condição, uma vez que esses crimes ofendem bens
jurídicos de suma importância, afetando os interesses mais relevantes do
nosso país.

Assim, se o sujeito praticar um dos delitos previstos nas alíneas do


inciso I do artigo 7° , será "punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido
ou condenado no estrangeiro"(parágrafo 1° ).

Vemos ainda no artigo 8°, que determina:


"A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil
pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando
idênticas."

EFICÁCIA DA SENTENÇA PENAL ESTRANGEIRA.


(ARTIGO 9º CP)
Conforme acima verificado, as sentenças absolutórias estrangeiras
relativas a crimes cometidos fora do Brasil, nos casos de extraterritorialidade
condicionada, impedem que o crime seja objeto de novo julgamento.

Se, no entanto, houve sua condenação no exterior, mas ainda não


cumpriu a pena, entrando ele no território nacional poderá a vir ser processado.
Não se pode, entretanto, executar a sentença penal estrangeira, pois o
agente tem direito a um novo julgamento, de acordo com as nossas leis.

Havendo condenação no exterior, somente não serão objeto de novo


julgamento os casos de extraterritorialidade condicionada, caso o agente tenha
cumprido a pena que lhe foi aplicada no estrangeiro.

Já, nos casos de extraterritorialidade incondicionada, as sentenças


penais estrangeiras, absolutórias ou condenatórias não têm efeito de impedir
que o crime seja objeto de um novo julgamento no Brasil.

Entretanto, caso haja condenação, o cumprimento da pena no exterior


acaba atenuando a pena imposta no Brasil, de acordo com o disposto no art.8º
do CP.
No que diz respeito às sentenças estrangeiras que têm por objeto crimes
cometidos em território nacional, não podem elas ser executadas no Brasil, não
podendo produzir, aqui, qualquer efeito. Isso ocorre porque, como já vimos, aos
crimes cometidos no território nacional, aplica-se a lei brasileira.

O reconhecimento dessas sentenças seria incompatível com o princípio


da soberania territoriais. Assim, verifica-se que essas sentenças não terão
eficácia de coisa julgada, possibilitando que haja um novo julgamento no Brasil.

Nosso direito, entretanto, reconhece a sentença penal estrangeira, em


relação aos delitos cometidos fora do território nacional. No entanto, para a
produção de dois efeitos (obrigar o condenado à reparação do dano, a
restituição e outros efeitos civis, assim como sujeitá-lo à medida de segurança),
exige-se a homologação do Supremo.

Nessas duas hipóteses, o artigo 9° do CP condiciona o reconhecimento


da sentença aos seguintes requisitos:
1.. Que a lei brasileira produza na espécie as mesmas consequências.
2.. Que o delito tenha sido praticado no estrangeiro.
3.. Que haja homologação da sentença.

A homologação com vistas a obrigar o condenado à reparação do dano,


restituições e outros efeitos civis dependerá sempre do requerimento da parte
interessada.

Antes da homologação, deverá o Supremo verificar se estão presentes


os requisitos formais exigidos pela lei brasileira (juiz competente, citação válida,
autenticação por cônsul brasileiro, tradução por tradutor público e trânsito em
julgado).

Ainda, deve-se assinalar que, para produzir outros efeitos penais, como,
reincidência, livramento condicional e "sursis", não haverá a necessidade de
homologação, sendo que essa somente é necessária nas duas hipóteses
previstas no artigo 9º do CP.

EXTRADIÇÃO:

É a entrega de uma pessoa física, que se encontra em um Estado


Soberano, para que seja julgada ou cumpra pena em outro Estado Soberano.
No Brasil, a Lei nº 6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro) regulamenta a extradição,
impondo uma série de condições, positivas e negativas, para o seu
deferimento.

Regras básicas da extradição: O pedido de extradição é julgado pelo STF


(art. 102, g, da CF). O brasileiro nato não pode ser extraditado para outro
país. Já o brasileiro naturalizado pode, excepcionalmente, ser extraditado (art.
5º, inc. LI, CF). Não se admite extradição por crime político ou de opinião.
Também não se admite a extradição, caso a pena a ser imposta ao extraditado
seja de morte ou prisão perpétua.

Detração penal: no caso da extraterritorialidade, também é possível que o


acusado seja punido duas vezes, isto é, pelo Estado Estrangeiro e pelo Brasil.
Para evitar os excessos decorrentes da dupla punição, autoriza-se a detração
da pena cumprida no estrangeiro, quando idênticas, ou a pena cumprida no
estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil, desde que diversas (art. 8º CP).
Ex: agente tentou matar o Presidente da República, que estava em visita à
Alemanha. Será aplicada a lei alemã e também a brasileira, ante o princípio da
defesa ou da proteção adotado pelo nosso Código Penal. O agente é
condenado e cumpre pena de três anos de reclusão em solo germânico.
Posteriormente, é extraditado para o Brasil porque aqui também foi condenado,
só que a pena de seis anos de reclusão. Neste caso, irá cumprir apenas três
anos de prisão no Brasil, posto que as penas são idênticas e, portanto,
autoriza-se a detração, isto é, o abatimento da pena cumprida no estrangeiro
pelo mesmo crime.
Tribunal Penal Internacional: É instituído pelo Estatuto de Roma e foi
ratificado pelo Brasil por meio do Decreto Legislativo 112/02, em obediência ao
preceito constitucional (art. 7º ADCT). A competência do Tribunal Penal
Internacional é para julgamento dos crimes de genocídio, contra a humanidade,
de guerra e de agressão (art. 5º do Estatuto de Roma). Trata-se de uma
competência complementar, posto que o Tribunal Penal Internacional somente
irá julgar o agente quando houver omissão da jurisdição do Tribunal Penal do
Estado Soberano. Uma das penas possíveis que podem ser aplicadas pelo
Tribunal Penal Internacional é a pena de prisão perpétua; logo, a entrega de
uma pessoa, que se encontra em território brasileiro, para ser julgada pelo
Tribunal Penal Internacional pressupõe que não será aplicada pena de prisão
perpétua. A cidade do Tribunal Penal Internacional é em Haia.

RESUMO: EFICÁCIA DA SENTENÇA PENAL


ESTRANGEIRA

1.Regra: A sentença penal condenatória estrangeira não pode ser executada,


no Brasil, para exigir o cumprimento da pena imposta ao condenado.
Entretanto, a sentença penal estrangeira serve para reconhecer eventual
reincidência do agente, caso venha a ser julgado por outro crime em território
brasileiro.

2. Homologação da sentença penal estrangeira: É da competência do STJ


(art. 105, inc I, i, da CF); todavia, os efeitos desta homologação são limitados
a dois aspectos: I- tornar certa a obrigação de reparar o dano civil; II- sujeitar o
agente a medida de segurança, que não é considerado pena, mas tratamento
(art. 9º CP).

2.1. Legitimidade para requerer homologação da sentença penal


estrangeira: I- somente a vítima ou seus sucessores podem pedir a
homologação para fins de indenização; II- o Ministério Público tem legitimidade
para o pedido de homologação, visando sujeitar o sentenciado à medida de
segurança. Entretanto, o “Parquet” apenas poderá fazer o pedido se houver
tratado de extradição entre o Brasil e o país cuja sentença se pretende
homologar ou requisição do Ministro da Justiça.

Eficácia da lei penal em relação a pessoas que


exercem determinadas funções públicas.

Imunidade: é a exclusão da aplicação da lei penal para determinadas pessoas,


ante a relevância do cargo, ofício ou função que desempenham.

Imunidade diplomática

Decorre de regras de Direito Internacional Público, exemplo: Convenção de


Viena;

São imunes: os chefes de Estado, representantes de governos estrangeiros,


agentes diplomáticos, pessoal técnico e administrativo das representações, os
familiares e os funcionários de organismos internacionais (ONU, OEA, entre
outros);
Os empregados particulares dos agentes diplomáticos não possuirão
imunidade criminal, salvo se houver tratado que a estabeleça;

Objeto: imunidade da jurisdição criminal dos países em que exercem suas


funções;
O agente diplomático não é obrigado a depor como testemunha, salvo
se para depor sobre fatos relacionados ao exercício de sua função; É
renunciável.
Imunidade parlamentar

Decorre de regras de Direito Público interno;


São imunes: os parlamentares (art. 53, caput, da CF);
Dividem-se em dois tipos de imunidade: a absoluta (natureza material) e a
relativa (natureza formal).

Absoluta: “Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por


quaisquer de suas opiniões, palavras e votos” (artigo 53, caput, da Constituição
Federal).

Abrange qualquer forma de manifestação, seja escrita ou falada, desde


que, no exercício da função;

É irrenunciável, pois é uma prerrogativa da função e não da pessoa.


Relativa: Subdivide-se em:
a) Garantia contra a instauração de processo (art. 53, §§ 3º, 4º e 5º, da CF).

b) Imunidade prisional (art. 53, § 2º, da CF): “Desde a expedição do diploma,


os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em
flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro
de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de
seus membros, resolva sobre a prisão”.
Deve-se atentar ainda que “nenhuma outra modalidade de prisão cautelar
(temporária e preventiva) ou mesmo de prisão civil (por alimentos, v. G.) tem
incidência (STF, Pleno, Inq. 510 DF, Celso de Mello, DJU de 19.04.91, p.
4581).

c) Do foro especial por prerrogativa de função (art. 53, § 1º, da CF): “Os
Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a
julgamento perante o Supremo Tribunal Federal”.
Encerrado mandato, cessa automaticamente a presente prerrogativa de
função.

d) Imunidade para servir como testemunha (53, § 6º, da CF): “Os Deputados e
Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou
prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes
confiaram ou deles receberam informações”.

Caso a testemunha seja o presidente do Senado ou da Câmara, o


depoimento poderá ser escrito (art. 221, § 1º, do CPP).

Imunidade dos Deputados Estaduais e dos Vereadores

Deputados Estaduais (art. 27, § 1º, da CF): possuem as mesmas imunidades


dos membros do Congresso Nacional. No entanto, o foro por prerrogativa de
função será o do respectivo Tribunal de Justiça.
Vereadores (art. 29, inciso VIII, da CF): “inviolabilidade dos Vereadores por
suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do
Município”.

PRAZOS PENAIS:

São prazos, cujo término, extingue a punibilidade ou mesmo a pena do


agente. Ex: decorrido o prazo de prescrição de um crime, extingue-se a
punibilidade.
Inclui-se o dia do início e exclui o dia do fim quando se trata de
contagem dos prazos penais (art. 10 CP).
QUEIXA CRIME – FATO OCORRIDO DIA 21 DE AGOSTO

Segue-se o calendário gregoriano (comum). Ex: o prazo para


oferecimento de queixa-crime, em regra, é de seis meses.
Assim, se o prazo se iniciar no dia 10 de Março de 2024, irá terminar no
dia 09 de Setembro de 2024. Pouco importa quantos dias cada mês
efetivamente teve, segue-se o calendário normal.

Assim, ainda que fevereiro tenha somente 28 dias, considera-se como


um mês inteiro.
Lembre-se que na contagem dos prazos penais devem ser
desprezadas as horas, que são as frações de dia, e os centavos, que são as
frações da multa (art. 11 CP).
O prazo (espaço de tempo), sempre tem um início e um final. O termo
(instante determinado no tempo) inicial é denominado termo "a quo" ("dies a
quo") e o final, termo "ad quem" ("dies ad quem").

Nosso Código Penal traz regras a respeito da contagem dos prazos. Seu
artigo 10 estabelece que: "o dia do começo inclui-se no cômputo do prazo".

A fração de dia do começo é contada como um dia inteiro. Assim, se o


sujeito começa a cumprir a pena privativa de liberdade às 21 horas, esse dia é
contado por inteiro, pouco importando que, nesse dia, ele ficou somente três
horas preso.

O autor Damásio de Jesus dá o seguinte exemplo: o sujeito é


condenado a 20 dias de prisão. É detido às 22 horas do dia 6 de janeiro. Terá
cumprido a pena às 24horas do dia 25.

4 ANOS E 2 MESES = INÍCIO DIA 15/10/2023


CUMPRIRÁ A PENA EM 14 DE DEZEMBRO DE 2027

Ainda, os dias, meses e anos são contados pelo calendário comum


(gregoriano).
O dia é o lapso temporal entre meia-noite e meia-noite. O mês é contado
de determinado dia à véspera do mesmo dia do mês seguinte, terminando às
24 horas, pouco importando quantos são os dias de cada mês.

Exemplo: 6 meses a partir de abril terminará em setembro, pouco


importa se esse mês possui 30 ou 31 dias.

Da mesma forma, o ano é contado de certo dia às 24 horas da véspera


do dia de idêntico número do mesmo mês do ano seguinte, não importando
seja bissexto qualquer deles.

Assim, cinco anos depois de janeiro de 2019 será janeiro de 2024.

Imagine que o sujeito seja condenado a pena de um ano e quatro


meses de reclusão, iniciando o cumprimento da pena às 20 horas de 3 de
janeiro de 2023. Terminará às 24 horas de 2 de maio de 2024.

É bom, ainda, observar que os prazos de natureza penal são fatais, não
se prorrogando mesmo quando terminem em domingos e feriados.

Frações não computáveis da pena.

Como já dito acima, o artigo 11 do CP determina que:

"Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de


direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro."

Nélson Hungria dá como exemplo o caso do juiz que deve aumentar de


metade a pena de 15 dias de detenção. Sabemos que, metade de 15 dias é 7
dias e 12 horas. No entanto, essa fração de dia deve ser desprezada. Assim, o
sujeito deverá ser condenado somente a 22 dias.

O mesmo ocorre no caso de frações de reais. Os centavos devem ser


sempre desprezados na fixação e liquidação da pena pecuniária.

Também, entende-se que, na fixação da pena pecuniária, devem ser


desprezadas as frações de dias-multa.

Imagine que o sujeito seja condenado 13,33 dias-multa. Os 0,33 dias-


multa devem ser desprezados.

Legislação especial.

As infrações penais não estão somente descritas no Código Penal, mas,


também, em leis extravagantes, como é o caso, por exemplo, da Lei de
Entorpecentes, ou da Lei de Contravenções Penais.

O artigo 12 do nosso Código Penal preceitua que as suas regras gerais


são aplicáveis aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispõe de
modo diverso.

Prazos processuais: são prazos, cujo término, causa à preclusão dentro do


processo. Ex: prazo para oferecimento de defesa prévia, caso decorrido, a
Defesa perde a possibilidade de arrolar testemunhas. Na contagem do prazo
processual, deve ser excluído o dia do início e incluído o dia do fim (ar. 798, §
1º, CPP).

BIBLIOGRAFIA:
BITENCOURT, Cezar. Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 30. ed.
São
Paulo: Saraiva,2024 ( e-book)

GRECO, Rogério. Curso de Direito penal: parte geral. 23ª . ed. Niterói:
Impetus, 2024 ( e-book)

NUCCI, Guilherme Souza, Curso de Direito Penal: Parte Geral - Arts. 1º a 120
do Código Penal (Volume 1), Forense, São Paulo, SP, 2024

Site: https://formuladaaprovacao.com.br/eficacia-da-lei-penal-no-espaco-hm/

Você também pode gostar