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▪ Direito PROCESSUAL PENAL ▪ Caderno de Wantuil Luiz Cândido Holz ▪ Página 17 ▪

CONTEÚDO: LEI PROCESSUAL PENAL. Aplicação da MATERIAL


lei processual penal no tempo e no espaço. DE APOIO

03
Interpretação da lei processual penal. Arts. 1º ao
3º do CPP.

APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL3

▪ O estudo da aplicabilidade da Lei Processual Penal está relacionado a sua


aptidão para produzir efeitos. Essa aptidão para produzir efeitos está ligada a
dois fatores: espacial e temporal, regulados nos arts. 1º a 3º, CPP.

Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código
(...)

▪ HISTÓRICO: Anteriormente à edição do Código de Processo Penal, em 1941 e


de sua entrada em vigor, em 1º de janeiro do ano seguinte, o país não possuía
um código único, que fosse adotado em todo o território nacional, mas, ao
contrário, eram vários os códigos, para cada um dos estados que compunham
a federação.
▪ A CF/1937 dispunha, em seu art. 16, inciso XVI, que competia à União,
privativamente, legislar sobre direito processual, norma também prevista
na Carta de 1934 (art.5º, XIX, “a”, CF).
▪ Atendendo ao quanto estabelecido na CF/1937, o CPP/41 inaugura o
princípio da unidade processual penal no país, atendendo, assim, ao
mandamento constitucional, não mais se cogitando, com isso, da
existência dos códigos estaduais.

▪ REGRA ATUAL DO CPP: Como regra, o CPP adotou o princípio da


territorialidade, segundo o qual a lei produzirá seus efeitos dentro do território
nacional. Desta maneira, o CPP é a lei aplicável ao processo e julgamento das
infrações penais no Brasil.
▪ Território geográfico. Compõe o território nacional:
(a) Espaço físico (solo e subsolo), delimitado por fronteiras, secas e
molhadas.
(b) Águas internas.
(c) Mar territorial.
(d) Espaço aéreo correspondente às áreas acima indicadas.
▪ O CPP está umbilicalmente ligado ao CP no que se refere à aplicação
geográfica. O CPP é aplicável às infrações penais perpetradas no território

3 Fonte: Rogério Sanches da Cunha.


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nacional, bem como em seu espaço aéreo e em seu mar territorial,


abrangidos ainda o território ficto ou por extensão, ou flutuante, e, dentro
dos limites do exercício da soberania parcial, também a plataforma
continental, a zona contígua e zona exclusiva econômica (Frederico
Coelho Nogueira). Também é aplicado ao CPP aos casos de
extraterritorialidade da lei penal (Rogério Sanches).
▪ Território jurídico / por extensão / ficto / flutuante. Na dicção do art.
5º, §1º, CP, faz parte do território nacional: “as embarcações e
aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo
brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as
embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que
se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em
alto-mar”.
▪ Aplica-se o CPP também aos crimes praticados no território por
extensão. Aplica-se a lei penal e a lei processual penal brasileira.
▪ Extraterritorialidade. A lei penal extrapola as fronteiras do território
nacional nos casos do art. 7º, CP.
▪ Nesses casos, também submete-se à lei processual penal
brasileira.

(OAB/FGV/13) Em um processo em que se apura a prática dos delitos de


supressão de tributo e evasão de divisas, o Juiz Federal da 4ª Vara Federal
Criminal de Arroizinho determina a expedição de carta rogatória para os
Estados Unidos da América, a fim de que seja interrogado o réu Mário. Em
cumprimento à carta, o tribunal americano realiza o interrogatório do réu
e devolve o procedimento à Justiça Brasileira, a 4ª Vara Federal Criminal.
O advogado de defesa de Mário, ao se deparar com o teor do ato
praticado, requer que o mesmo seja declarado nulo, tendo em vista que
não foram obedecidas as garantias processuais brasileiras para o réu.

Exclusivamente sobre o ponto de vista da Lei Processual no Espaço, a


alegação do advogado está correta?

a) Sim, pois no processo penal vigora o princípio da


extraterritorialidade, já que as normas processuais brasileiras podem ser
aplicadas fora do território nacional.
b) Não, pois no processo penal vigora o princípio da territorialidade, já
que as normas processuais brasileiras só se aplicam no território
nacional.
c) Sim, pois no processo penal vigora o princípio da territorialidade, já
que as normas processuais brasileiras podem ser aplicadas em
qualquer território.
d) Não, pois no processo penal vigora o princípio da
extraterritorialidade, já que as normas processuais brasileiras podem ser
aplicas fora no território nacional.
Gabarito: “B”
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Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código,
ressalvados:
▪ Princípio da unidade processual penal.
▪ O princípio da territorialidade não é absoluto, já que o próprio art. 1º do CPP
anuncia exceções. O princípio da territorialidade é temperado ou mitigado
pela intraterritorialidade. Abaixo constam as exceções (não se aplica o
princípio da territorialidade).

I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;


▪ Os Estados internacionais, considerados pessoas jurídicas de direito
internacional pública, ajustam entre si inúmeras formas de relacionamento,
que se instrumentalizam por meio de diversos atos (tratados, convenções,
acordos, protocolos, memorandos, convênios etc.).
– EX.: Crime cometido por diplomata no Brasil será regido pela lei penal e
pela lei processual penal do país do diplomata, e lá será processado e
julgado.
▪ A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, assinada em
23/05/1969, conceitua tratado como “um acordo internacional concluído por
escrito entre Estados e regido pelo direito internacional, quer esteja
consignado num instrumento único, quer em dois ou mais instrumentos
conexos, e qualquer que seja sua denominação” (art. 1, 1, “a”). Essa
Convenção, após aprovação do Congresso Nacional (Decreto Legislativo
496/2009), foi promulgada pela Presidência da República (Decreto 7.030/09).
▪ Como expressão praticamente sinônima, temos a convenção, que a rigor
difere-se do tratado apenas quanto à extensão. Geralmente a convenção é
mais ampla e abrangente, versando sobre temas de interesses gerais.
▪ Incorporação de tratados no ordenamento nacional:
1ªt) Teoria monista: o tratado, uma vez subscrito, irradia efeitos imediatos,
dispensando qualquer ato posterior que o ratifique.
2ªt) Teoria dualista: não admite a imediata incorporação dos tratados
internacionais, que exigiria, assim, a prática de um ato jurídico interno de
forma que o tratado somente teria vigência quando precedido de uma
norma interna, segundo o sistema legislativo de cada país.
▪ No Brasil, adotou-se a teoria dualista (art. 84, VIII, CF). A incorporação de
tratado internacional prescinde de um ato complexo, aprovado pelo
Congresso Nacional (Decreto Legislativo) e promulgado pelo Presidente da
República (Decreto Presidencial).
▪ O STF admite a incorporação do tratado em três diferentes níveis, conforme
o conteúdo e sua forma de aprovação pelo Congresso Nacional.
(a) Status de norma constitucional: tratados internacionais de direitos
humanos aprovados na forma do art. 5º, §3º, CF.
– EX.: Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e
seu Protocolo Facultativo, promulgado no Brasil pelo Decreto
Presidencial nº 6.949/09.
(b) Status de norma de supralegalidade: tratados internacionais de
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direitos humanos aprovados na forma do art. 5º, §2º, CF.


– EX.: Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São
José da Costa Rica), promulgado no Brasil pelo Decreto Presidencial
nº 678/92.
(c) Status de lei ordinária: demais tratados.

II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de


Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros
do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade;
▪ Não se pode confundir “crimes de responsabilidade” do art. 1º do Decreto-
Lei nº 201/67 (que são crimes propriamente ditos, na acepção penal) com os
“crimes de responsabilidade” do art. 85 da Constituição Federal e Lei nº
1.079/51 (que não são crimes propriamente ditos, mas infrações político-
administrativa, punida com sanção extrapenal).
▪ A exceção do art. 1º, II, CPP, direciona-se aos crimes de responsabilidade na
acepção de infrações político-administrativas. O julgamento de tais “crimes”
é igualmente político, realizado pelo Senado Federal. Isso explica a não
incidência direta do CPP.

III - os processos da competência da Justiça Militar;


▪ A Justiça Militar (“Justiça Castrense”) é órgão jurisdicional que possui
expressa previsão constitucional, formado, nos termos do art. 122 da CF, pelo
STM e pelos tribunais e juízes militares instituídos por lei.
▪ Os crimes militares são regidos pelo CPM e pelo CPPM.
▪ Justiça Militar da União: art. 124, CF. Os crimes militares podem ser cometidos
por civis (art. 9º, CPM), de modo que, em tese, a Justiça Militar da União pode
julgar crimes militares, praticados por militares e por civis, dada a redação do
art. 124 da CF.
▪ ADPF 289 quer ver reconhecida a incompetência da Justiça Militar
Federal para julgar crimes praticados por civis em tempos de paz.
▪ O STF vem limitando a competência da justiça militar da União,
permitindo o julgamento de civil apenas quando o crime afetar, ainda
que de forma potencial, a integridade, a dignidade, o funcionamento e
a respeitabilidade das instituições militares.
▪ Justiça Militar dos estados: art. 125, §4º, CF. A justiça militar dos estados julga
exclusivamente os militares nos crimes militares previstos em lei (art. 9º, CPM),
bem como ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a
competência do júri (aqui, aplicar-se-á o CP e o CPP comuns, em vez da
legislação militar).
▪ Se o militar praticou simultaneamente crime militar e crime comum, o
processo deverá ser desmembrado. O crime militar será julgado pela justiça
militar (CPM e CPPM) e o crime comum será julgado pela justiça comum
(Súmula 90, STJ), com incidência do CP e CPP comuns.
▪ Caso militar de uma unidade da federação pratique crime militar em outra
unidade da federação, deverá ser julgado pelo estado onde é vinculado
(Súmula 78, STJ).
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▪ A despeito de existir regra específica no CPPM (interrogatório é primeiro ato


da instrução), o STF entendeu que o art. 400 do CPP deve ser aplicado
também aos crimes militares, devendo o interrogatório ser o último ato de
instrução, realizado após a colheita da prova testemunhal, pois mais benéfico
ao réu (STF, HC 127.900, 2015).

IV - os processos da competência do tribunal especial;


▪ A CF/1937 (art. 122, nº 17) admitia tribunais de exceção.
▪ O dispositivo não foi recepcionado pela CF/88, que proibiu tribunais de
exceção (art. 5º, XXXVII, CF).

V - os processos por crimes de imprensa.


▪ O dispositivo não foi recepcionado pela CF/88.
▪ O STF decidiu na ADPF 130 que a Lei de Imprensa (Lei 5.250/67) é
incompatível com a CF/88.

Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos
nºs. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo
diverso.
▪ Mesmo nas exceções, aplica-se o CPP de forma subsidiária.

▪ O princípio da territorialidade não é absoluto, já que o próprio art. 1º do


CPP anuncia exceções. O princípio da territorialidade é temperado ou
mitigado. São exceções (não se aplica o princípio da territorialidade):
(1) Tratados, convenções e regras de Direito Internacional.
(2) Jurisdição política (crimes de responsabilidade) - Prerrogativas
constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado,
nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos
ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade
(Constituição, arts. 86, 89, § 2º, e 100).
(3) Processos de competência da Justiça Eleitoral.
(4) Processos de competência da Justiça Militar.
(5) Legislação especial.

▪ Atualmente, NÃO se admite a existência de Códigos Processuais


estaduais, até porque compete privativamente à União legislar sobre
direito processual (art. 22, I, CF).

▪ Mesmo nos casos em que excepciona-se a aplicação do CPP, este será


aplicado subsidiariamente.
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Art. 2º A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos
atos realizados sob a vigência da lei anterior.

▪ Princípio do tempus regit actum, também conhecido como princípio do efeito


imediato ou aplicação imediata da lei processual. Este princípio significa que a
lei processual regulará os atos processuais praticados a partir de sua vigência,
não se aplicando aos atos já praticados.
▪ Qualquer que seja a data do fato, a lei processual a ser aplicada é a que
vigora ao tempo da prática do ato processual.
▪ Ainda que a lei processual penal nova seja mais benéfica ao réu, não
retroagirá. Os atos praticados são atos perfeitos.
▪ Ainda que a lei processual penal nova seja maléfica (ex.: extinção do
recurso do protesto por novo juri, pela Lei 11.689/08), a antiga não será
ultra-ativa.
▪ Ainda que o processo tenha se iniciado sob a vigência de uma lei, sobrevindo
outra norma, alterando o CPP (ainda que mais gravosa ao réu), esta será
aplicada aos atos futuros. Ou seja, a lei nova não pode retroagir para alcançar
atos processuais já praticados, mas se aplica aos atos futuros dos processos em
curso.
▪ Para o STF, normas recursais têm caráter exclusivamente processual (STF,
RE 752988 AgR, 2014). Essa é, também, a posição do STJ (STJ, HC
285.237/SP, 2014).
– EX.: Imaginemos que uma pessoa responda pelo crime de
homicídio. Nesse caso, a Lei prevê dois recursos, “A” e “B”. Durante o
processo surge uma lei alterando o CPP e excluindo a possibilidade
de interposição do recurso “B”, ou seja, é prejudicial ao réu. Nesse
caso, trata-se de norma puramente processual, e a aplicação da lei
nova será imediata. Entretanto, se o acusado já tiver interposto o
recurso “B”, a lei nova não terá o condão de fazer com que o recurso
deixe de ser julgado, pois se trata de ato processual já praticado
(interposição do recurso), devendo o Tribunal apreciá-lo.
– EX.: Caso Nardone. A 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de
São Paulo negou pedido de protesto por novo júri formulado pela
defesa dos Nardoni (Alexandre Alves Nardoni e Ana Carolina Jatobá),
que foram condenados pela morte de Isabela Nardoni. O recurso de
protesto por novo júri foi revogado pela 11.689 de agosto de 2008,
sendo que o fato (morte da criança) de deu em 29 de março de
2008.

▪ Ocorre, porém, que dentro de uma lei processual pode haver normas de
natureza material. Uma lei processual pode estabelecer normas que, na
verdade, são de Direito Penal, pois criam ou extinguem direito do indivíduo,
relativos à sua liberdade, etc. Nesses casos de normas materiais, inseridas em
leis processuais (e vice-versa), ocorre o fenômeno da heterotopia. Uma vez
identificada a norma como sendo uma regra de direito material, sua aplicação
será regulada pelas normas atinentes à aplicação da lei penal no tempo,
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inclusive no que se refere à possibilidade de eficácia retroativa para benefício


do réu.
– EX.: STF e STJ consideram normas de execução penal como de natureza
material.

(OAB/FGV/16) João, no dia 2 de janeiro de 2015, praticou um crime de


apropriação indébita majorada. Foi, então, denunciado como incurso
nas sanções penais do Art. 168, §1º, inciso III, do Código Penal. No curso
do processo, mas antes de ser proferida sentença condenatória,
dispositivos do Código de Processo Penal de natureza exclusivamente
processual sofrem uma reforma legislativa, de modo que o rito a ser
seguido no recurso de apelação é modificado. O advogado de João
entende que a mudança foi prejudicial, pois é possível que haja uma
demora no julgamento dos recursos.
Nesse caso, após a sentença condenatória, é correto afirmar que o
advogado de João

a) deverá respeitar o novo rito do recurso de apelação, pois se aplica


ao caso o princípio da imediata aplicação da nova lei.
b) não deverá respeitar o novo rito do recurso de apelação, em razão
do princípio da irretroatividade da lei prejudicial e de o fato ter sido
praticado antes da inovação.
c) não deverá respeitar o novo rito do recurso de apelação, em razão
do princípio da ultratividade da lei.
d) deverá respeitar o novo rito do recurso de apelação, pois se aplica
ao caso o princípio da extratividade.
Gabarito: “A”

(OAB/FGV/17) Em 23 de novembro de 2015 (segunda feira), sendo o dia


seguinte dia útil em todo o país, Técio, advogado de defesa de réu em
ação penal de natureza condenatória, é intimado da sentença
condenatória de seu cliente. No curso do prazo recursal, porém, entrou
em vigor nova lei de natureza puramente processual, que alterava o
Código de Processo Penal e passava a prever que o prazo para
apresentação de recurso de apelação seria de 03 dias e não mais de 05
dias. No dia 30 de novembro de 2015, dia útil, Técio apresenta recurso de
apelação acompanhado das respectivas razões. Considerando a
hipótese narrada, o recurso do advogado é

a) intempestivo, aplicando-se o princípio do tempus regit actum (o


tempo rege o ato), e o novo prazo recursal deve ser observado.
b) tempestivo, aplicando-se o princípio do tempus regit actum (o
tempo rege o ato), e o antigo prazo recursal deve ser observado.
c) intempestivo, aplicando-se o princípio do tempus regit actum (o
tempo rege o ato), e o antigo prazo recursal deve ser observado.
d) tempestivo, aplicando-se o princípio constitucional da
irretroatividade da lei mais gravosa, e o antigo prazo recursal deve ser
observado.
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Gabarito: “B”

(OAB/FGV/13) A Lei n. 9.099/95 modificou a espécie de ação penal para


os crimes de lesão corporal leve e culposa. De acordo com o Art. 88 da
referida lei, tais delitos passaram a ser de ação penal pública
condicionada à representação. Tratando-se de questão relativa à Lei
Processual Penal no Tempo, assinale a alternativa que corretamente
expõe a regra a ser aplicada para processos em curso que não haviam
transitado em julgado quando da alteração legislativa.

a) Aplica-se a regra do Direito Penal de retroagir a lei, por ser norma


mais benigna.
b) Aplica-se a regra do Direito Processual de imediatidade, em que a
lei é aplicada no momento em que entra em vigor, sem que se
questione se mais gravosa ou não.
c) Aplica-se a regra do Direito Penal de irretroatividade da lei, por ser
norma mais gravosa.
d) Aplica-se a regra do Direito Processual de imediatidade, em que a
lei é aplicada no momento em que entra em vigor, devendo-se
questionar se a novatio legis é mais gravosa ou não.
Gabarito: “A”

▪ No caso das normas mistas / híbridas (conteúdo tanto de processo penal


como de direito material), embora haja alguma divergência doutrinária, vem
prevalecendo o entendimento de que, por haver disposições de direito
material, devem ser utilizadas as regras de aplicação da lei penal no tempo, ou
seja, retroatividade da lei mais benéfica e impossibilidade de retroatividade
quando houver prejuízo ao réu.

– EX.: Art. 366 do CPP, alterado pela Lei 9.271/96, institui causa de
suspensão do processo quando revel (de caráter processual e benéfico
ao réu) e causa de suspensão da prescrição (de caráter penal e
prejudicial ao réu).
1ªc) Doutrina chegou a cogitar da cisão na aplicação da lei, ou seja,
naquilo que ela possui de processual, se aplicaria desde logo, com
base no dispositivo em exame. E, no ponto em que é apenas penal,
não poderia ser aplicada, posto que desfavorável ao réu (art. 1º,
CP).
2ªc) STF decidiu que o art. 366 do CPP com a nova redação não
retroage para atingir os crimes pretéritos. Entendeu que a lei não
pode ser cindida, de modo que a parte penal é que ditará a
retroatividade ou não da lei nova por inteiro.

– EX.: Considerando que a alteração promovida pela Lei 13.964/19, no


que se refere à inclusão do §5º ao art. 171 do CP, é uma “novatio in
mellius” com reflexos penais (possibilidade de incidência da decadência,
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causa de extinção de punibilidade), tem-se como necessária a aplicação


retroativa aos fatos ocorridos antes de sua vigência (art. 5º, XL, CF).
1ªc) Retroage tanto em relação aos casos que se encontram em
investigação como em relação aos casos que estão sendo objeto de
ação penal em tramitação.
▪ No caso das ações penais em curso, a representação do
ofendido (condição de prosseguibilidade) deve ser oferecida
no prazo decadencial de seis meses, conforme art. 38 do CPP.
Não deve o magistrado intimar a vítima, mas o MP pode
notificá-la.
2ªc) Retroage tanto em relação aos casos que se encontram em
investigação como em relação aos casos que estão sendo objeto de
ação penal em tramitação.
▪ No caso das ações penais em curso, a representação do
ofendido (condição de prosseguibilidade) deve ser oferecida
no prazo decadencial de 30 dias, aplicando-se a lógica do art.
91 da Lei 9.099/95.
Enunciado interpretativo da lei anticrime nº 4, CNPG: “Nas
investigações e processos em curso, o ofendido ou seu
representante legal será intimado para oferecer representação
no prazo de 30 dias, sob pena de decadência”.
3ªc) A retroatividade ocorrerá unicamente para os fatos objeto de
investigação criminal, não se aplicando às ações penais em
tramitação, pois, uma vez oferecida e denúncia será ato jurídico
perfeito e acabado. Diferente do art. 91 da Lei 9.099/95, a Lei
13.964/19 não exigiu expressamente a condição de
prosseguibilidade.
Decisão isolada do STJ (HC 573.093, em 2020): “De fato, em
que pese o novo comando normativo tenha conteúdo penal,
uma vez que seus efeitos podem afetar o direito punitivo
estatal, é certo que não pode atingir o ato jurídico perfeito e
acabado. Do contrário, estar-se-ia conferindo efeito distinto ao
estabelecido na nova regra, transformando-se a
representação em condição de prosseguibilidade e não
procedibilidade, o que evidentemente não é possível por via
de interpretação”.

Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação


analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.

▪ No processo penal é admitida tanto a interpretação extensiva como a


aplicação analógica.
▪ Ocorre que normas de processo penal não definem infrações penais e não
cominam sanções, logo, não alteram a situação jurídica do réu no que se
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refere a responsabilidade penal. Assim sendo, não há que se falar em vedação


de analogia “in malam partem” (que só se aplica ao direito penal material).
▪ Há, ainda, o fato de que as normas de processo penal determinam o modo
como a persecução penal caminhará, devendo, portanto, trazer o completo
caminho a ser percorrido pelo ente estatal. Diante de lacunas sobre caminhos
processuais a serem percorridos, a solução será adotar por analogia outras
normas processuais, como, por exemplo, as do Código de Processo Civil.
– EX.: Art. 206, CPP (“desquitado” → “ex-cônjuge”).
– EX.: Interpretação extensiva da expressão “preso” para fins de direitos
fundamentais.
– EX.: Interpretação analógica para concessão de prazo em dobro para
escritórios de prática jurídica das faculdades de Direito (art. 186, §3º, CPC).
– EX.: A produção antecipada de provas (art. 225 e 366 do CPP) segue,
por analogia, o procedimento dos arts. 381 a 383, CPC.
– EX.: O CPP prevê embargos de declaração, nos arts. 382 (em relação a
sentença) e 619 (em relação a acórdão de 2º grau), todavia, nada fala
sobre efeito interruptivo quanto aos prazos dos demais recursos que
eventualmente aproveitem ao embargante. Assim, deve ser aplicada, por
analogia, a regra do art. 1.026 do CPC, que prevê que os embargos de
declaração interrompem o prazo para interpor recurso.
▪ “O Código de Processo Penal não prevê a interrupção de prazo
para outros recursos quando opostos embargos de declaração,
como ocorre no Código de Processo Civil, em seu art. 538, caput.
Contudo, por força do disposto no art. 3º da citada Lei Adjetiva
Penal, o mesmo princípio pode ser aplicado nos embargos de
declaração na área processual penal”. (STJ, Corte Especial, rel. Min.
Antônio de Pádua Ribeiro, ERESP 287390-RR, j. 18/08/04, DJU de
11/10/04, p. 211.)
– EX.: Utilização do procedimento de justificação do art. 381, III, CPC, por
analogia, para finalidade de constituir prova nova de inocência para
manejar revisão criminal (art. 621, III, CPP). “Justificação criminal”.
▪ Relaciona-se à ampla defesa.
▪ Petição simples, dirigida ao juiz de primeira instância que prolatou a
primeira decisão criminal daquele caso.
– EX.: Justificação em resposta a acusação, visando uma absolvição
sumária.
– EX.: Justificação criminal para instruir pedido de habeas corpus.
– EX.: Justificação criminal para fins de comprovar vício de drogas para fins
ou de pedir desclassificação para usuário ou para pedido de redução de
pena.
– EX.: Justificação criminal para juntar em apelação a fim de provar que
jurados se comunicaram durante sessão plenária do juri.
– EX.: Interpretação extensiva do art. 581, V, CPP, para admitir RESE contra
decisão que indefere medida cautelar diversa da prisão de afastamento
de servidor do exercício de funções públicas (STJ, REsp 1.756.407, 2018).

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