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Aspectos Processuais Penais |

Lei Processual Penal no Espaço

DISCIPLINA
ASPECTOS PROCESSUAIS PENAIS

CONTEÚDO

Lei Processual Penal no Tempo e


no Espaço
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Aspectos Processuais Penais |

Lei Processual Penal no Espaço

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Lei Processual Penal no Espaço

Sumário
Sumário------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3
1 Lei Processual Penal no Espaço ------------------------------------------------------------------------ 4
1.1 Os Tratados, as Convenções e Regras de Direito Internacional --------------------------------------------- 5
1.2 Prerrogativas Constitucionais Do Presidente E Outras Autoridades --------------------------------------- 6
1.3 Processos da Justiça Militar ------------------------------------------------------------------------------------------- 7
1.4 Processos de Competência do Tribunal Especial ---------------------------------------------------------------- 8
1.5 Crimes de Imprensa ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 8
1.6 Crimes Eleitorais --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 9

2 Lei Processual Penal no Tempo ------------------------------------------------------------------------ 9


2.1 Normas Processuais Heterotópicas ------------------------------------------------------------------------------- 15
2.2 Interpretação da Lei Processual Penal --------------------------------------------------------------------------- 15
2.2.1 Interpretação Extensiva --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 16
2.2.2 Analogia ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 17
2.2.3 Interpretação Analógica --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 17

3 Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------------------ 18

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1 Lei Processual Penal no Espaço


A lei processual penal no espaço é contemplada no art. 1º e traz a exceção em seu
parágrafo único:

Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código,
ressalvados:

I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;

II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos


crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal
Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86 , 89, § 2º, e 100);

III - os processos da competência da Justiça Militar;

IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, no 17);

V - os processos por crimes de imprensa. (Vide ADPF nº 130)

Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos nos. IV e
V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso.

Na lei processual penal no espaço vige o princípio da territorialidade ou lex fori, ou


seja, a lei brasileira nesse âmbito é aplicada apenas a crimes praticados dentro do
território brasileiro. Lopes Jr (2020, p. 176) cita que “As normas processuais penais
brasileiras só se aplicam no território nacional, não tendo qualquer possibilidade de
eficácia extraterritorial.”

• À lei penal aplica o princípio da territorialidade e da extraterritorialidade


condicionada e incondicionada
• À lei processual penal aplica o princípio da territorialidade.

Um ato processual ao ser praticado no exterior a lei processual penal a ser aplicada
será a do país onde os atos venham a ser realizados.

Exemplo: intimação, citação, oitiva de testemunha, interrogatório etc.

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Contudo, existem três exceções ao princípio da territorialidade apontadas pela


doutrina, onde a lei processual penal de um Estado poderá ser aplicado fora de seus
limites territoriais:

❖ Territórios nullius: conhecidas como “terras de ninguém”, são as terras que


não pertencem a nenhum país. Em casos de território nullius não há jurisdição
estrangeira neste tipo de território, desta forma, a lei processual penal brasileira
poderia ser aplicada;

❖ Expressa autorização de Estado estrangeiro: um Estado estrangeiro exerce


jurisdição sobre o próprio território, e assim poderá afastá-lo se for julgado
conveniente, portanto, caso determine que é a lei processual brasileira é a que
deve ser aplicada, o Brasil aplica a lei;

❖ Guerra e invasão: caso o Brasil invada um determinado território em uma


situação de guerra, se o ocupar ele poderá exercer jurisdição sobre o local.

Como pode ser percebido, em regra todo processo penal que surgir no território
nacional deverá ser solucionado observando as regras do Código de Processo Penal
(locus regit actum). Há, contudo, exceções (LIMA, 2020).

1.1 Os Tratados, as Convenções e Regras de Direito Internacional

Cada país possui suas regras internas, tendo como base os costumes, tratados
normativos e outras regras de direito internacional.

Exemplo: Imunidade Diplomática previsto na Convenção de Viena.

O diplomata é um representante de um país de origem em outras nações, e devido a


Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas a qual foi aprovada pelo Decreto
Legislativo 103/1964, e promulgada pelo Decreto nº 56.435, de 1965, gozam de
imunidade diplomática:

• Chefes de governo estrangeiro ou de Estado estrangeiro;


• Suas famílias e membros das comitivas;
• Embaixadores e suas famílias;

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• Funcionários estrangeiros do corpo diplomático e sua família;


• Funcionários de organizações internacionais em serviço (ONU, OEA, etc.).

ATENÇÃO! Saiba diferenciar agentes diplomáticos dos cônsules, é bem comum uma
certa confusão a respeito do tema. A diferença basicamente está relacionada as
atribuições de cada carreira, o agente diplomático representa o Estado nas questões
públicas e políticas no exterior. Já os cônsules cuidam dos interesses privados dos seus
nacionais, como por exemplo: realiza registros de nascimentos; óbito; contratos;
procurações; autenticações de documentos; auxilia os nacionais em situações de
vulnerabilidade (presos e doentes); e etc.

Um diplomata possui a imunidade de jurisdição e imunidade à prisão, sendo o


diplomata um representante do Estado soberano, podendo a imunidade ser
renunciada pelo Estado.

1.2 Prerrogativas Constitucionais Do Presidente E Outras Autoridades

O segundo inciso do art. 1º do CPP trata das prerrogativas constitucionais do


Presidente da República e de outras autoridades, em relação aos crimes de
responsabilidade.

Você sabe o que é um crime de responsabilidade? Os crimes de responsabilidade


procuram punir as autoridades máximas do Estado quando os compromissos que
possuem com a nação não são cumpridos. Quando ocorre a condenação de uma
autoridade por crime de responsabilidade, ela é removida imediatamente de suas
funções através do impeachment.

Saiba que não é aplicado o código de processo penal em crimes de


reponsabilidade, mas é aplicado a Lei 1079/50, a qual traz a definição dos crimes de

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responsabilidade. É chamado de crime de responsabilidade, mas é uma infração, pois


a natureza é mais política que jurídica, ou seja, dá o caráter eminentemente político.

Lembre-se que para que seja um crime, é preciso condenar o acusado à detenção ou
reclusão, mais conhecida como “prisão”. O crime de responsabilidade também pode
ser chamado de infração político-administrativas.

O processo de Impeachment não é propriamente um processo penal, pois possui por


objetivo a apuração dos crimes de responsabilidade (as infrações político-
administrativas).

A respeito do crime de responsabilidade:

• Não se aplica o CPP ao impeachment.

• Ao ser cometido pelo Presidente Da República, será julgado pelo Senado


Federal e poderá sofrer como pena: a perda do cargo; e/ou a inabilitação para
função pública por 8 anos.

• Ao ser cometido pelo Governador, será julgado por um tribunal especial


formado por 5 desembargadores sorteados do TJ, e 5 deputados estaduais.

• Ao ser cometido por Prefeitos Municipais, será julgado pela Câmara Municipal,
a sanção prevista é a cassação do mandato.

1.3 Processos da Justiça Militar

Segundo Lopes Jr (2020, p.424) à Justiça Militar da União compete o julgamento dos
militares pertencentes às forças armadas (exército, marinha e aeronáutica), que
possuem atuação em todo o território nacional.

À justiça Militar da União possui seu próprio Código De Processo Penal, contudo se
há omissão no Código Militar se recorre ao CPP. O próprio estatuto processual penal

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militar prevê esta possibilidade, sendo suprido pela legislação de processo penal
comum (LIMA, 2020).

1.4 Processos de Competência do Tribunal Especial

O tribunal especial mencionado no inciso IV é o antigo Tribunal de Segurança


Nacional, o qual já não existe mais. Na atualidade, os crimes contra a segurança
nacional são definidos na Lei nº 7.170/83. O art. 30 da Lei nº 7.170/83 dispõe que os
crimes nela previstos são da competência da Justiça Militar, contudo, este referido
dispositivo não foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988, assim, compete à
Justiça Federal processar e julgar os crimes políticos (LIMA, 2020).

ATENÇÃO! Crime político é diferente de crime de responsabilidade, para o crime


político ocorrer deve ter o dolo específico como motivação política pelo agente, o
indivíduo deve ter a intenção de lesar a integridade territorial e a soberania nacional,
o regime representativo e democrático, a Federação e o Estado de Direito, e a pessoa
dos Chefes dos Poderes da União (LIMA, 2020).

Exemplo: Maria é Presidente da República e João resolve matá-la, a motivação de


João ocorre porque Maria não corresponde o sentimento de paixão. Neste exemplo
não há de falar em crime político, pois não há a intenção de lesar o Estado.

1.5 Crimes de Imprensa

Era disposto na Lei nº 5.250/67, contudo o STF julgou procedente declarar como não
recepcionado pela Constituição Federal todo o conjunto de dispositivos da Lei
5.250/67 (LIMA, 2020).

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Segundo Lima (2020) a Suprema Corte decidiu que a não recepção da Lei não impede
o curso regular dos processos fundamentado nos dispositivos legais. Assim, aplicam-
se as normas da legislação comum.

1.6 Crimes Eleitorais

O art. 1º do CPP não traz de forma expressa os processos criminais da competência


da Justiça Eleitoral. Entretanto, a Carta Magna dispõe em seu art. 121 a organização e
competência dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais

Portanto, segundo Lima (2020) no tocante à definição dos crimes eleitorais, as normas
postas no Código Eleitoral mantêm o status de lei ordinária, assim, não se aplica ao
código de processo penal.

Existem outras exceções, diversas leis especiais que foram editadas após a vigência
do CPP como por exemplo:

• Crimes da competência originária dos Tribunais possuem procedimento


específico disposto na Lei nº 8.038/90;

• A Lei de nº 11.343/06 Lei de drogas, traz um capítulo dedicado ao procedimento


penal, a qual prevê a possibilidade de aplicar o Código de Processo Penal.

• Regulamentado pela Lei nº 9.099/95, está disposto as infrações de menor


potencial ofensivo, em regra, processadas e julgadas por Juizados Especiais
Criminais.

2 Lei Processual Penal no Tempo


Este é um tema de extrema relevância, pois no Brasil a lei é alterada em grande parte
do tempo, sofre inúmeras alterações, sendo essencial o estudo do direito
intertemporal. Nesta lei se observa como será ajustado para que não ocorra
incongruências.

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Lei Processual Penal no Tempo

Saiba que uma norma penal atua com o potencial de influir na liberdade de
locomoção. no Direito Penal, este tema não possui maiores controvérsias, pois a
Constituição Federal em seu art. 5º, XL cita que:

• A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

Um exemplo: o decreto 9.785/2019 foi editado pelo presidente Jair Bolsonaro,


o qual ampliou o rol de armas de uso permitido. Desta forma, assim, quem
portar pistola de 9 milímetros, sem autorização não comete o crime de portar
arma de uso restrito (o qual está previsto no art. 16 do Estatuto do
Desarmamento (Lei 10.826/2003), o art. 16 traz a pena de 3 anos, mas o acusado
agora, responde pelo art. 14 da norma, sendo punido com pelo menos 2 anos.
Como ocorreu a alteração, o princípio da retroatividade da lei penal mais
benéfica deverá ser observado, podendo ser convertido as condenações do réu
por crime de porte de arma de fogo de uso restrito, reduzindo-se em 1 ano a
pena.

ATENÇÃO! Saiba diferenciar, o Direito Penal do Direito Processual Penal, no Direito


Penal a lei retroage se for benéfica e no Direito Processual Penal se observa os atos
praticados, ou seja, cada ato.

A Lei penal irá modificar, criar ou extinguir (se aumenta ou reduz) a pretensão
executória do Estado. Por exemplo: a lei que revoga ou cria um novo crime, que
modifica a pena, que modifica a quantidade de pena necessária para a progressão de
regime etc. São nas normas penais que ocorrem a retroatividade caso mais benéfica
ao agente.

A Lei processual penal será a norma que regulamenta, a relação jurídica processual,
sem tratar da pretensão executória do Estado. Por exemplo: as leis que modificam o

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procedimento/procedimentos cautelares, que criam ou extinguem recursos etc.

O Código de Processo Penal traz em seu Art. 2º que:

• A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos.

Determinado pela legislação, a lei processual penal deverá ser aplicada “desde logo”.

Um Exemplo: Se um processo penal estiver em andamento e as normas


processuais mudarem, será aplicado as normas processuais de forma imediata,
mesmo que o fato tenha ocorrido sob o amparo de uma lei processual diferente!

No art. 2º está consagrado o denominado princípio Tempus regit actum, isto é,


tempo rege a ação. Segundo Lima (2020, p.92) “[...] ao contrário da lei penal, que leva
em conta o momento da prática delituosa (tempus delicti), a aplicação imediata da lei
processual leva em consideração o momento da prática do ato processual (tempus
regit actum).”

Lima (2020), compreende que deste princípio tempus regit actum dois efeitos
derivam, são eles:

• Os atos processuais praticados sob a vigência da lei anterior são considerados


válidos;
• As normas processuais possuem aplicação imediata.

O art. 2º não estabelece distinção entre normas processuais, contudo a jurisprudência


e a doutrina abordam uma subdivisão desses efeitos em:

• Normas genuinamente processuais;


• Normas processuais materiais (mistas ou híbridas).

As que cuidam de atos processuais, procedimentos e técnicas do processo são as


normas genuinamente processuais. Já as normas processuais materiais são as que

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abrigam naturezas diversas uma corrente compreende que são disciplinadas em


diplomas processuais penais, mas que dispõem conteúdo de pretensão punitiva. Já a
outra corrente compreende que são as que estabelecem condições de
procedibilidade, liberdade condicional, meios de prova, prisão preventiva, fiança,
modalidade de execução da pena e as demais normas que tenham por conteúdo
matéria que seja direito ou garantia constitucional do cidadão. Independentemente
da corrente, entenda que em ambas se aplica o critério do direito penal de tratar da
norma benéfica ao agente (LIMA,2020).

Uma lei híbrida ou mista é uma norma que possui conteúdo misto,
isto é, possui uma parte de direito penal e outra de processo penal!

Existem inúmeros exemplos de normas processuais materiais, ou seja, que são


hibridas. Veremos alguns deles:

• Lei nº 9.099/95 (caráter retroativo)


O art.90 traz as disposições da Lei dos Juizados Especiais Criminais, que não
seriam aplicáveis aos processos que a instrução já houvesse iniciado.

Na época ocorreu a discussão da possibilidade de o dispositivo restringir a


aplicação aos processos penais com a instrução já em curso

A Lei nº 9.099/95 traz uma norma mista (reúne dispositivos de natureza


processual e material). Assim o STF concluiu até o momento que as normas de
direito penal inseridas que possuam conteúdo mais benéfico aos réus deveram
retroagir para os beneficiar.

• Lei nº 9.271/96 (a suspensão do processo e da prescrição)


A Lei nº 9.271/96 confere uma nova redação ao art. 366 do CPP, na redação
original, este art. previa que o processo seguiria à revelia do acusado que,
citado/intimado inicialmente para ato do processo, que deixasse de comparecer
sem motivo justificado (LIMA, 2020). Assim, se o acusado fosse citado por edital

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e não comparecesse seria possível ser condenado à revelia com o juiz


providenciando a nomeação de defensor técnico. Já a nova redação cita que:

“Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão
suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a
produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão
preventiva, nos termos do disposto no art. 312”

Esta nova redação não incide sobre fatos anteriores, ou seja, não ocorre
aplicação imediata, é será atingido pela nova lei os fatos cometidos após a sua
vigência.

• Lei 13.964/19 (pacote anticrime e o acordo de não persecução penal)

O “Pacote Anticrime” inseriu o art. 28-A chamado de acordo de não persecução penal,
este é mais um instrumento da justiça penal consensual.

De forma geral, é um negócio jurídico pré-processual, feito entre investigado e


Ministério Público, o investigado reconhece a sua responsabilidade criminal, isto é,
confessa o crime praticado, desistindo de um processo criminal, para que receba uma
pena. Este acordo de não persecução penal é muito utilizado em outros países, um
exemplo é os Estado Unidos, chamado de “Plea Bargain”, traduz se como “Pleito de
Barganha”

Lopes Jr (2020, p.314) cita que:

Uma vez aberto, instruído e concluído o inquérito policial (ou procedimento investigatório do
MP), como vimos, deverá o Ministério Público decidir entre denunciar (se presentes as
condições necessárias para o exercício da ação penal, como veremos no próximo Capítulo),
pedir mais diligências ou ordenar o arquivamento.

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Segundo o novo artigo, o acordo será realizado quando o acusado confessar o crime,
devendo ter pena mínima inferior a 4 anos e ter sido cometido sem violência ou grave
ameaça, vejamos:

Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e
circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena
mínima inferior a 4 anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal,
desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as
seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente:

I – se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos
da lei;

II – se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem


conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações
penais pretéritas;

III – ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração,
em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do
processo; e

IV – nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra


a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor.

• Lei 13.964/19 (representação no estelionato)

O art. 171 o § 5º, modifica a natureza da ação penal, anteriormente era pública
incondicionada (exceção do art. 182 do CP). Contudo, o Pacote Anticrime alterou a
natureza jurídica da ação penal no delito de estelionato e exigiu a representação da
vítima, tornando-a em ação pública condicionada à representação.

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.

§ 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for:

I - a Administração Pública, direta ou indireta;

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II - criança ou adolescente;

III - pessoa com deficiência mental; ou

IV - maior de 70 anos de idade ou incapaz.

Com Essa mudança ocorreram divergências no entendimento a respeito do princípio


da retroatividade da Lei Penal benéfica. O STJ compreendeu que ao definir como pré-
requisito a exigência de representação da vítima, não poderá ser aplicada
retroativamente para beneficiar o réu nos processos em que já estavam em curso, isto
é, a exigência de representação da vítima no crime de estelionato não retroage aos
processos em que a denúncia já foi oferecida.

2.1 Normas Processuais Heterotópicas

Diferente das híbridas há uma determinada natureza, contudo, o diploma legal onde
está veiculada não corresponde ao conteúdo.

Um Exemplo: Direito Penal no CPP e Processo Penal no CP, o art. 234-B do CP,
prevê que os processos por crimes contra a dignidade sexual correrão em
segredo de justiça, esta é uma típica norma processual em um diploma legislativo
que trata do direito material (Código Penal).

2.2 Interpretação da Lei Processual Penal

A interpretação é a tentativa de buscar o efetivo alcance da norma, isto é, descobrir o


significado, o sentido e até mesmo a exata extensão normativa (LIMA, 2020). Se busca
descobrir o que ela tem a dizer com a maior precisão, saiba que toda lei precisa de
interpretação.

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ATENÇÃO! O que se busca com a interpretação é o conteúdo da lei, sendo a vontade


da lei (mens legis) e não a intenção do legislador (mens legislatoris)!

O art. 3º demarca a possível interpretação extensiva, a aplicação analógica e também


o suplemento dos princípios gerais de direito.

Art. 3º. A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem
como o suplemento dos princípios gerais de direito.

Este artigo basicamente demarca a distinção entre o direito penal e o processo penal,
não sendo admitido a ampliação hermenêutica dos preceitos incriminadores, e o
emprego da analogia em prejuízo do acusado (in malam partem) (LIMA, 2020).

A lei é interpretada de maneira igual!

2.2.1 Interpretação Extensiva

Na interpretação extensiva “a lei disse menos do que queria dizer” basicamente, ou


seja, isto ocorre quando a legislação não prevê tal situação. Na interpretação
extensiva, expressa no art. 3º do CPP, para que se conheça a amplitude da lei, o
intérprete precisa ampliar o campo de incidência.

Um Exemplo: Hipóteses de cabimento do RESE, disposto no art. 581 do CPP,


ignorou-se o fato do CPP sofrer diversas alterações, sem ocorrer a adequação
de hipóteses de cabimento do RESE.

Lima (2020, p. 98) cita que:

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[...] parte minoritária da doutrina ainda insiste em sustentar que a enumeração das hipóteses
de cabimento do recurso em sentido estrito prevista no art. 581 é taxativa, não admitindo
ampliação para contemplar outras hipóteses. Prevalece, no entanto, o entendimento no
sentido da possibilidade de interpretação extensiva das hipóteses de cabimento do recurso
em sentido estrito. Na verdade, o que não se admite é a ampliação para casos em que a lei
evidentemente quis excluir. Exemplificando, na hipótese de recebimento da peça acusatória,
não se pode cogitar do cabimento do RESE, já que ficou clara a intenção do legislador de só
admitir o recurso quando houver o não recebimento da inicial acusatória.

2.2.2 Analogia

A analogia pode ser definida como uma forma de autointegração da norma, a


analogia basicamente é a aplicação de uma hipótese que não está prevista em lei
relativa a caso semelhante, pois se impera a mesma razão, logo impera-se o mesmo
direito.

Na analogia ocorre a integração e não a interpretação, um juiz não pode deixar de


julgar certa demanda por não ter uma norma expressa regulamentando (non liquet).

Na analogia se pressupõe a inexistência de norma!

2.2.3 Interpretação Analógica

A interpretação analógica é diferente da analogia, na interpretação há a ampliação do


alcance da norma, o legislador atento ao princípio da legalidade, detalha situações
que pretende regular, permitindo que o que for semelhante possa ser abrangido pelo
mesmo dispositivo legal por fórmula genérica. Basicamente há uma fórmula casuística,
que servirá de norte ao intérprete.

Um Exemplo: o art. 185, § 2º, do CPP traz a possibilidade de utilização da


videoconferência, a Lei nº 11.900/09 autoriza a realização de interrogatório por
outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens. A tecnologia
avança gradativamente e assim o próprio dispositivo legal permite a utilização
de outras modalidades que possam surgir, dispositivos futuros semelhantes à

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Referências Bibliográficas

videoconferência, isto é, o próprio dispositivo faz referência à possibilidade


futura de aplicar o regramento em casos semelhantes.

3 Referências Bibliográficas
LIMA, R. B. de. Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima
– 8. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.

LOPES. JR, A. Direito processual penal / Aury Lopes Junior. – 17. ed. – São Paulo:
Saraiva Educação, 2020

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Referências Bibliográficas

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