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CAP II - Da Aplicação da Lei Processual Penal

2.1. EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO

A lei processual penal aplica-se a todas as infrações penais cometidas em território


brasileiro, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de Direito Internacional. No processo
penal vigora o princípio da absoluta territorialidade (artigo 1.º do Código de Processo Penal).
Considera-se praticado em território brasileiro o crime cuja ação ou omissão, ou cujo
resultado, no todo ou em parte, ocorreu em território nacional (artigo 6.º do Código Penal).
Considera-se, para efeitos penais, como extensão do território nacional: as
embarcações e aeronaves públicas ou a serviço do governo brasileiro, onde quer que se
encontrem, e as embarcações e aeronaves particulares que se acharem em espaço aéreo ou
marítimo brasileiro ou em alto-mar ou espaço aéreo correspondente.

2.2. EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO

Toda norma jurídica limita-se no tempo e no espaço. Isso quer dizer que a norma se
aplica em um determinado território durante um determinado lapso de tempo.
A eficácia temporal das normas processuais é disciplinada pela Lei de Introdução ao
Código Civil, nos artigos 1.º, 2.º e 6.º.
As normas de direito processual têm aplicação imediata, sem efeito retroativo.
Adotou-se, portanto, o princípio tempus regit actum.
O artigo 2.º do Código de Processo Penal dispõe: “A lei processual penal aplicar-se-á
desde logo, sem prejuízo dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.” A aplicação do
dispositivo gera dois efeitos:
1º) os atos processuais praticados na vigência da lei anterior são considerados válidos;
2º) as normas da lei nova aplicam-se imediatamente, respeitados o ato jurídico
perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
No caso de normas mistas (de natureza processual e material), prevalece o caráter
material, devendo ser aplicada a regra do artigo 2.º do Código Penal, ou seja, retroagirá para
beneficiar o réu.
A lei tem vigência até que outra expressa ou tacitamente a revogue. A revogação ainda
pode ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação).
2.3. IMUNIDADES: Podem ser diplomáticas ou parlamentares

2.3.1. Imunidades Diplomáticas

 Os chefes de Estado e os representantes de governos estrangeiros estão excluídos da


jurisdição criminal dos países em que exercem suas funções. A imunidade estende-se a
todos os agentes diplomáticos, ao pessoal técnico e administrativo das
representações, aos seus familiares e aos funcionários de organismos internacionais
(ONU, OEA etc.).

 Admite-se a renúncia à garantia da imunidade.

2.3.2. Imunidades Parlamentares

São de duas espécies:

 material (absoluta): alcança os Deputados Federais, Deputados Estaduais e Senadores,


garantindo-lhes a inviolabilidade por suas palavras, opiniões e votos. Para alguns,
trata-se de causa de exclusão de ilicitude, para outros, causa funcional de isenção de
pena. É irrenunciável. Estende-se também aos Vereadores se o crime foi praticado no
exercício do mandato e na circunscrição do Município;

 processual, formal ou relativa: consiste na garantia de não ser preso, salvo por
flagrantes de crime inafiançável. Alcança os Deputados Estaduais, mas não alcança os
Vereadores.

2.4. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL

 Artigo 3.º do Código de Processo Penal: “A lei processual penal admitirá interpretação
extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de
direito.”

 Interpretar uma norma significa buscar seu alcance e real significado.

2.4.1. Interpretação da Norma Processual Penal

 A lei processual admite interpretação extensiva, pois não contém dispositivo versando
sobre direito de punir.

 Exceções: tratando-se de dispositivos restritivos da liberdade pessoal (prisão em


flagrante, por exemplo), o texto deverá ser rigorosamente interpretado. O mesmo
quando se tratar de regras de natureza mista.

2.4.2. Formas de Procedimento Interpretativo

 Eqüidade: correspondência ética e jurídica da circunscrição – norma ao caso concreto;


 Doutrina: estudos, investigações e reflexões teóricas dos cultores do direito;

 Jurisprudência: repetição constante de decisões no mesmo sentido em casos


semelhantes.

2.5. DA PERSECUÇÃO PENAL

2.5.1. Conceito

 É a atividade do Estado que consiste em investigar, processar, comprovar e julgar o


fato punível.

2.5.2. Etapas da Persecução Penal

 A persecução penal no Brasil desenvolve-se em duas etapas:

 Fase de investigação (preliminar);

 Fase Judicial ou Processual (ação penal).

2.5.3. Investigação

 Compete, em regra, à polícia judiciária desenvolver a fase de investigação.

 Porém, outras autoridades também podem investigar desde que haja previsão legal: 1)
juiz da falência investiga crime falimentar; 2) agentes fiscais investigam crimes fiscais.

 Artigo 4.º, parágrafo único, do Código de Processo Penal: “A competência definida


neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja
cometida a mesma função.”

 O Ministério Público pode investigar? O Superior Tribunal de Justiça já admitiu.

 O particular pode investigar? A investigação feita por particular não é proibida. Poderá
ser realizada, mas os resultados devem ser enviados à polícia ou ao Ministério Público.

 O juiz pode investigar? Sim, em duas hipóteses: 1) crime falimentar; 2) Lei do Crime
Organizado (artigo 3.º).

 No Brasil, não há o chamado juizado de instrução, que consiste na possibilidade de o


juiz presidir investigação. Somente nas hipóteses de crime falimentar e crime
organizado o juiz preside as investigações.

2.5.3.1. Polícia Judiciária

 É exercida por autoridades policiais; visa apurar o fato e sua autoria. É auxiliar da
justiça; investiga crimes (artigo 13 do Código de Processo Penal).
 O controle externo da polícia está previsto constitucionalmente e é exercido pelo
Ministério Público (artigo 129, inciso VII, da Constituição Federal). Na prática, inexiste
lei complementar para disciplinar a matéria.

No Brasil, a polícia judiciária é exercida:

 pela polícia civil;

 pela polícia federal;

 pela polícia militar nos crimes militares.

A polícia judiciária exerce suas funções conforme alguns critérios:

 territorial: quanto ao lugar da atividade pode ser terrestre, marítima ou aérea;

 em razão da matéria;

 em razão da pessoa (exemplo: delegacia da mulher).

 A inobservância de qualquer um desses critérios não implica nulidade; é mera


irregularidade que não contamina a ação penal.

 Artigo 22 do Código Processo Penal: “No Distrito Federal e nas comarcas em que
houver mais de uma circunscrição policial, a autoridade com exercício em uma delas
poderá, nos inquéritos a que esteja procedendo, ordenar diligências em circunscrição
de outra, independentemente de precatórias ou requisições, e bem assim
providenciará, até que compareça a autoridade competente, sobre qualquer fato que
ocorra em sua presença noutra circunscrição.”

2.5.3.2. Polícia de Segurança (Administrativa ou Preventiva)

 É a polícia ostensiva, fardada, exercida em regra pela polícia militar. Normalmente,


não investiga crime (exceto os militares), pois tem caráter preventivo.

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