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NORMA PROCESSUAL PENAL

Continuação

LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO

Conceito de Território:

O artigo 1º (caput) do CPP dispõe “O processo penal é regido em todo


território brasileiro, salvo disposições em contrário” que são exatamente os seus
incisos I, II, III, IV, e V;

I - Imunidades diplomáticas (decorrentes de Tratado, Convenções e


Regras de direito Internacional;
II – Imunidades parlamentares;
III – Os processos de competência da Justiça Militar (possuem o CPPM);
IV – Os processos da competência de tribunal especial;
V – Os processos por crimes de Imprensa

Em sentido estrito (material) território abrange o solo e o subsolo de acordo


com os limites reconhecidos, as águas interiores, o mar territorial, a plataforma
continental e o espaço aéreo;
O território por extensão (ficção),para os efeitos penais e processuais,
abrange: (considera-se portanto extensão do território nacional, para efeitos
penais ) as

a) Embarcações e aeronaves brasileiros de natureza pública ou a serviço


do governo brasileiro, onde quer que se encontrem, bem como,

b) As aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes, ou de


propriedade privada, que se achem em alto mar ou no espaço aéreo
correspondente.

A lei processual penal aplica-se a todas as infrações penais cometidas em


território brasileiro, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional.

Considera-se praticado em território brasileiro crime, cuja ação ou omissão,


ou resultado, no todo ou em parte, ocorreu em território nacional (artigo 6º do C.
Penal). Foi adotada, in casu, a teoria da ubiqüidade ou mista.

- Ao contrário do Código Penal, a lei processual brasileira só se aplica dentro


dos limites territoriais nacionais. Se o processo tiver tramitação no estrangeiro,
aplica-se a lei do país em que os atos processuais forem praticados.
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- A Doutrina registra alguns casos de extraterritorialidade do Processo Penal:

a) Em território “nullius” (onde não há soberania de qualquer país);


b) Em território estrangeiro com autorização do respectivo Estado;
c) Em território ocupado, em caso de guerra.

- Aplica-se, também a legislação processual brasileira aos atos referentes às


relações jurisdicionais com autoridades estrangeiras que devem ser praticados
em nosso país, tais como os de cumprimento de rogatória (artigo 783 e
seguintes do CPP), homologação de sentença estrangeira (artigos 9º do C.
Penal e 787 do CPP) e procedimento de extradição (artigo 76 e seguintes da
Lei nº 6.8l5/80 – Estatuto do Estrangeiro).

IMUNIDADES:

Imunidade diplomáticas:

Essas imunidades são fundadas no respeito e consideração ao Estado que


representam e na necessidade de cercar sua atividade de garantias para o
perfeito desempenho da missão diplomática.

Por força da Convenção de Viena (ano de 196l – sobre relações


diplomáticas) e (ano de 1963 – sobre relações consulares). Os Chefes de Estado
e os representantes de governos estrangeiros estão excluídos da jurisdição
criminal dos países em que exercem suas funções.

Esta imunidade refere-se a qualquer delito e se estende a todos os agentes


diplomáticos (embaixadores, secretários da embaixada, ao pessoal técnico e
administrativo das representações, aos componentes da família e aos
funcionários das organizações internacionais (ONU, OEA, etc..), quando em
serviço. No caso de morte desses privilegiados a imunidade continua até o tempo
necessário a transferência da família para o país de origem.

Estão excluídos destas imunidades, os empregados particulares dos


agentes diplomáticos, a não ser que o Estado acreditante (que dá crédito,
poderes) os reconheça. Admite-se a renúncia à garantia da imunidade. Esta
matéria é de competência do Estado acreditante e não do agente diplomático.

As sedes diplomáticas (embaixadas, sedes de organismos internacionais,


etc..) são consideradas extensão do território estrangeiro, mas, são invioláveis,
não podendo, deste modo, ser objeto de busca e apreensão, penhora ou qualquer
outra medida constritiva.
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Imunidades parlamentares:

São prerrogativas que asseguram os membros do Congresso para que


possam atuar com liberdade e independência.

São duas as imunidades:

1 – Material – absoluta (penal)

2 – Processual – formal

a) Garantia contra a instauração de processo;


b) Direito de não ser preso – salvo em flagrante delito;
c) Direito de foro privilegiado (ser julgado pelo STF)
d) Imunidades para servir como testemunhas.

1 – MATERIAL (Necessário para a preservação do Estado democrático de direito).

Aos Deputados e Senadores são invioláveis civil e penalmente em


quaisquer manifestações proferidas no exercício ou desempenho de suas funções
(escrita ou falada):

a) Deve ocorrer no exercício da função, dentro ou fora da Casa respectiva;


b) A imunidade visa tutelar o livre exercício da atividade parlamentar;
c) A Emenda Constitucional nº. 35 ampliou a imunidade para as questões de
direito civil, não mais podendo ser processado por perdas e danos,
materiais e morais;
d) Deve existir o nexo funcional a manifestação tida como ofensiva do
parlamentar;
e) Tem que estar no exercício do mandado;
f) Não deve o parlamentar abusar da prerrogativa (palanques, discursos etc.)
pode a conduta caracterizar o decoro parlamentar;
g) Suplente não tem direito a imunidade, pois não está no exercício da função;
h) Co-réu não tem direito a imunidade – Súmula do STF nº. 245;
i) A imunidade é irrenunciável;
j) A imunidade não acompanha o parlamentar que esteja ocupando outro
cargo da administração pública. Ex. Ministro do Trabalho. A súmula nº. 04
do STF foi cancelada;
k) Natureza jurídica da imunidade: Exclui a própria tipicidade (Capez e Luiz
Flávio Gomes).
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2 – PROCESSUAL:

Antes da Emenda Constitucional nº. 35/01, a imunidade processual impede


o STF de processar o parlamentar. Havia necessidade de autorização da Casa
(licença prévia da respectiva Casa). Depois de oferecida a denúncia, o STF,
encaminhava o pedido de licença à Câmara dos Deputados ou Senado Federal
pleiteando autorização para a instauração do processo – Condição de
prosseguibilidade.

Nova redação – Artigo 53 §3º da Constituição Federal:

a) Recebida a denúncia contra o Deputado ou Senador por crime ocorrido


após a diplomação pela Justiça Eleitoral, o STF, dará ciência a Casa
respectiva da instauração do processo;
b) O partido político nela representado e pelo voto “secreto” da maioria de
seus membros poderá até a decisão final, sustar o andamento da ação;
c) A mesa diretora da Casa terá 45 dias para apreciar o pedido de sustação;
d) A sustação do processo suspende a prescrição enquanto durar o mandato;
e) O controle legislativo para os parlamentares deixou de ser prévio para ser
posterior. O crime praticado pelo Presidente da República manteve a
autorização prévia;
f) Os prefeitos só possuem o foro por prerrogativa de função, ou seja, não
possuem imunidade, assim como os Governadores e o próprio Presidente
da República;
g) Terminada a investigação criminal o Procurador Geral da República deverá
se manifestar em 15 dias se o parlamentar estiver solto, ou 5 dias se estiver
preso;

Crimes cometidos antes da diplomação:

a) O processo terá o curso normal pelo juiz natural (STF ou TJ);


b) O Tribunal competente não precisa comunicar o Parlamento, pois não
ocorre a sustação da ação;

Crimes cometidos após a diplomação:

a) O STF da ciência a Casa respectiva que poderá sustar o andamento da


ação;
b) O privilégio não alcança os co-autores (Súmula nº. 245 do STF).
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Imunidade prisional: (artigo 53 §2º da C.F)

Com a diplomação pela Justiça Eleitoral os membros do Congresso não


poderão ser presos, salvo a prisão em flagrante pela prática de crime inafiançável;

Os autos são remetidos em 24 horas à Casa respectiva para que através do


voto (aberto e não secreto) da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão.

Não pode ser preso pelas medidas cautelares (prisão temporária,


preventiva, em decorrência de pronúncia ou sentença de primeiro grau ou mesmo
decorrente de acórdão de segunda instância e prisão civil por alimentos.

Prerrogativa de função:

Entre as imunidades relativas, em seu sentido amplo, estão as referentes


ao foro por prerrogativa de função, consistentes no direito de determinadas
pessoas de serem julgadas, em virtude dos cargos ou funções que exercem, pelos
Órgãos Superiores da Jurisdição. O tratamento especial não é a pessoa, mas ao
cargo ou função que exerce, de especial relevância para o Estado.

O Presidente da República, não goza de imunidade absoluta, apenas foro


por prerrogativa da função, após licença da Câmara dos Deputados pelo voto de
dois terços de seus membros, poderá ser processado perante o STF, nos crimes
comuns, e no Senado, pelos crimes de responsabilidade.

Cabe ainda, ao STF (Supremo Tribunal Federal) julgar originariamente o


Vice-Presidente e o Procurador-Geral da República, por crimes comuns, e, nos
crimes comuns e de responsabilidade, os membros dos Tribunais Superiores, do
Tribunal de Contas da União, os Chefes de missão diplomática de caráter
permanente e os Ministros de Estado, exceto os praticados em conexão com o
Presidente da República.

Ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) incumbe o julgamento dos


Governadores, mediante prévia licença da Assembléia Legislativa, nos crimes
comuns, e, nos crimes comuns e de responsabilidade, dos Desembargadores,
membros de Tribunais Federais, Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho e os
membros do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais.

Aos Tribunais Regionais Federais, compete o julgamento dos juízes


federais e membros do Ministério Público Federal.

Aos Tribunais de Justiça, compete o julgamento dos prefeitos, dos juízes e


dos membros do Ministério Público local.
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A competência por prerrogativa de função concedida pela Constituição


Federal prevalece sobre a competência do Júri, quanto aos crimes dolosos contra
a vida. Contudo, quando a imunidade for concedida por outra norma jurídica,
federal ou estadual, ela não prevalecerá sobre a competência do Júri.

Imunidade para servir de testemunha:

- O agente diplomático não é obrigado a prestar depoimento como testemunha.


- O agente consular são obrigados a depor, exceto sobre fatos relacionados com
o exercício de suas funções.
Os deputados e senadores não são obrigados a testemunhar sobre
informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem
sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações. No mais,
estão obrigados a depor. Esta prerrogativa estende-se aos deputados estaduais.
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A LEI PROCESSUAL NO TEMPO:

Depois de elaborada, e sancionada, a lei é publicada (promulgada). Mas,


mesmo publicada, ela só começa a viger, via de regra, depois de certo lapso de
tempo, suficiente para se tornar conhecida. Esse lapso de tempo denomina-se “
vacatio legis”, podendo ser de 45dias, 30 dias, etc..

O Código de Processo Penal Decreto-lei nº 3.689, de 3-10-1941, publicado


no Diário Oficial da União, de 03.10.194l, começou a viger no dia 01.01.1942 –
(artigo 810 CPP).

Observação: comentar sobre as leis extravagantes ou modificadoras, em


que o legislador tem determinado o início da vigência na data da publicação da lei,
o que tem impedido o conhecimento prévio das novas normas aos aplicadores da
lei.

Tão logo entre em vigor, a lei processual penal aplicar-se-á desde logo,
sem prejuízo dos atos realizados sob a vigência da lei anterior (artigo 2º do CPP).
O legislador pátrio adotou o princípio da aplicação imediata das normas
processuais. Não têm efeito retroativo, uma vez que, se tivesse, a retroatividade
anularia os atos anteriores, o que não ocorre.

- Aplica-se, portanto, o princípio do tempus regit actum, do qual derivam dois


efeitos:

a) Os atos processuais realizados sob a égide da lei anterior se consideram


válidos;
b) As normas processuais têm aplicação imediata, regulando o desenrolar
restante do processo.

- Estabeleceu-se na lei, portanto, o chamado “Princípio do efeito imediato ou


princípio da aplicação imediata da lei processual”. O fundamento lógico
desse princípio é ode que a lei nova presumidamente é mais ágil, mais
adequada aos fins do processo, mais técnica.

- A lei processual penal não é retroativa, pois se aplica aos fatos processuais
ocorridos durante a sua vigência, permitindo a Constituição Federal a
retroatividade desde que não prejudique a coisa julgada. O princípio da
irretroatividade da lei mais severa na C. F. refere-se apenas à lei penal
(artigo 5º XXXIX e XL).

- O autor do crime não tem o “direito adquirido” de ser julgado pela lei
processual vigente ao tempo em que ele ocorreu, mas apenas que a lei nova
respeite as garantias constitucionais do devido processo legal.
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Encerra-se a vigência da lei com sua revogação, que pode ser total ou parcial:

1 – Ab-rogação – a revogação é total;

2 - Derrogação – quando a revogação é parcial.

A revogação pode ser:

a) Revogação expressa – quando a lei nova revoga a anterior


expressamente, geralmente dispondo em um de seus artigos “revogam-se
as disposições em contrário”.
b) Revogação tácita – quando há incompatibilidade entre a lei nova e a lei
velha, ou então, quando a lei nova regula inteiramente a matéria que era
objeto da lei anterior;

Lei temporária - Em hipóteses excepcionais, pode ocorrer a auto-revogação


da lei, pelo decurso do seu prazo de vigência; “CPMF”.

Lei excepcional – criada para o atendimento de determinada emergência,


será revogada pela cessação da anormalidade. “Epidemia”

Repristinação - é o fenômeno pelo qual a lei revogada restabelece sua


vigência em face da revogação da norma revogadora. Depende de expressa
determinação legal.

Lei processual sem reflexos penais é regida pelo Princípio da Aplicação


Imediata. Ex. Lei que muda competência, o STJ diz que a lei processual se aplica
imediatamente.

Lei processual com reflexos de lei penal – aplicam-se dois princípios:

a) Princípio da Retroatividade – se a lei for mais benigna ao réu;


b) Princípio da Irretroatividade – se a lei for mais severa ao réu.

Exemplo: Lei que cuida de fiança é uma lei processual, mas tem reflexos
penais, portanto, se ela beneficiar o réu, ela retroage, senão, não retroage.

Não existe retroatividade nas Leis temporárias ou Excepcionais, pois as


normas previstas nestas leis serviram para atingir determinado fim, naquele
momento, obviamente que o processo poderá se estender ao longo do tempo e
mesmo após encerrada a vigência dessas leis, não caberá retroatividade benéfica
(Ex.. Proibição do uso da água para lavar calçadas, quintais etc.. em face da falta
de chuva). Trata-se de lei temporária, logo que ocorrer a regularização das
chuvas, a lei perderá sua validade, entretanto, aquele que não obedeceu, deverá
sofre a sanção, mesmo após um conseqüente “dilúvio”.
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