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Direito Penal – Parte Geral

Aula 02, Bloco 03

Professor: Roberto Patella. Delegado de


Polícia Civil do Estado de Santa Catarina.

Lei Penal

Lei Penal do Espaço:

Conflito da lei penal no espaço: princípios (continuação)

Princípio da JUSTIÇA PENAL UNIVERSAL ou COSMOPOLITA: aplica-se a lei


penal do país onde o agente for encontrado, não importando a sua nacionalidade, a da
vítima ou o lugar do crime.
Princípio da REPRESENTAÇÃO ou da SUBSIDIARIEDADE: a lei penal nacional
aplica-se aos crimes praticados em aeronaves ou embarcações privadas, quando tais
fatos tenham ocorrido no estrangeiro e lá não tenham sido julgados.

Fenômenos do conflito da lei penal no espaço:

● Lugar do crime: Brasil.


● Legislação aplicada: brasileira.
● Princípio: TERRITORIALIDADE.
● Art. 5º, Código Penal: Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções,
tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.

● Lugar do crime: estrangeiro.


● Legislação aplicada: brasileira.
● Princípio: EXTRATERRITORIALIDADE (art. 7º, CP).

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● Lugar do crime: Brasil.
● Legislação aplicada: estrangeira.
● Princípio: INTRATERRITORIALIDADE.
● Art. 5º, CP. Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e
regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.

Território nacional:

Para fins penais, o território nacional não é somente o espaço físico, abrangendo
também o território jurídico por equiparação, por extensão ou por ficção.

● Art. 5º, §1º, Código Penal:


Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território
nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou
a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as
aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente
ou em alto-mar.

Navios e aeronaves brasileiros públicos ou que estejam a serviço do governo


brasileiro: serão considerados extensão do nosso território nacional, quer se encontrem
em território nacional físico, em território estrangeiro, em alto-mar ou sobrevoando este.

Navios e aeronaves privadas: serão considerados território brasileiro por


extensão, quando estiverem em alto-mar ou no espaço aéreo correspondente (seguem a
lei da bandeira que ostentam).

Navios e aeronaves estrangeiros públicos: ainda que em território brasileiro,


serão considerados território estrangeiro por extensão (reciprocidade).

Embaixada: não é extensão do território que representa. É inviolável, porém, se for


cometido um crime dentro de sua área delimitada, aplicar-se-á a lei brasileira.

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Princípio da simetria: Art. 5º, p. 2º do Código Penal:
É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de
aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada,
achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço
aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.
A recíproca também é verdadeira. A mesma regra que vale aqui, também é válida
no território estrangeiro: é aplicável a lei estrangeira aos crimes praticados a bordo de
aeronaves ou embarcações brasileiras de propriedade privada, achando-se aquelas em
pouso no território estrangeiro ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em
porto ou mar territorial de outro país.

Exemplos:

I.Os destroços do navio continuam acompanhando a sua bandeira. Ex: navio público
brasileiro afunda, e sob seus destroços, um americano mata um italiano. Será
aplicada a lei brasileira, pois este navio era extensão do território nacional.
II.BASILEU GARCIA: duas embarcações colidem em alto-mar, sendo uma brasileira
e outra holandesa. Com os destroços desses dois navios, um argentino e um
italiano constroem uma jangada e o italiano mata o argentino. A lei não resolve
essa situação. Diante da dúvida, prevalece na doutrina a aplicação da
nacionalidade ativa.
III.Agente Público sai de uma embarcação estrangeira e pratica um crime no território
nacional: a) agente a serviço de seu país: carrega a bandeira; b) desceu na hora
da folga: aplica-se a lei brasileira.
IV.Mulher sai do Brasil, ingressa no alto mar e pratica aborto em um navio holandês:
fato atípico, pois, na Holanda, o aborto é permitido.

Extraterritorialidade:

I.Conceito: crimes que, apesar de cometidos no estrangeiro, ficam sujeitos à lei


brasileira.
II.Espécies:
a. Incondicionada;

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b. Condicionada; e
c. Hiper Condicionada.

Extraterritorialidade incondicionada:

I.Previsão: art. 7º, inciso I e parágrafo 1º, CP.


II.Hipóteses: ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os
crimes:
a. Contra a vida ou a liberdade do Presidente da República: princípio da
defesa ou real. Exceção: Latrocínio (roubo seguido de morte), por ser crime
contra o patrimônio, não se enquadra na hipótese (vai para o parágrafo 3º:
hipercondicionada);
b. Contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de
Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de
economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público:
princípio da defesa ou real.
c. Contra a administração pública, por quem está a seu serviço: princípio
da defesa ou real.
d. De genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil:
i. Justiça penal universal ou cosmopolita;
ii. Defesa ou real: vítima teria que ser brasileira (nem sempre é);
iii. Nacionalidade ativa (equivocada, pois o agente não precisar ser
necessariamente brasileiro)
III. Incidência: o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou
condenado no estrangeiro. Não fere o bis in idem, diante da previsão do art. 8º, CP.

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