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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Lei n. 8.072/1990 – Crimes Hediondos VI


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LEI N. 8.072/1990 – CRIMES HEDIONDOS VI

Vejamos a evolução legislativa.


Inicialmente a redação original do artigo 2º da Lei n. 8.072/90:
“Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpe-
centes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
I – anistia, graça e indulto;
II – fiança e liberdade provisória.
(...)” (grifamos)
Compare-se à nova redação:
“Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpe-
centes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
I – anistia, graça e indulto;
II – fiança.

Atenção!
Quando o sujeito é preso em flagrante, ele teria, em tese, o direito de responder
em liberdade, porque ninguém pode ser considerado culpado até o trânsito em
julgado. Antigamente, haviam crimes afiançáveis, em que o sujeito pagava a
fiança e saía, e os crimes inafiançáveis, em que o sujeito ficava preso. Porém,
esse sistema se revelou ruim, perverso, porque o sujeito ficava preso pelo
simples fato de estar sendo processado. O Código de Processo Penal foi
alterado para criar um instituto chamado “liberdade provisória”. Posteriormente,
foi inserida no CPP, artigo 310, a liberdade provisória sem fiança.
Prevalece o entendimento de que a liberdade provisória é permitida nos casos
dos crimes hediondos, pricipalmente quando não estão presentes os requisitos
de risco processual.

Jurisprudência Superada
“A proibição de liberdade provisória, nos casos de crimes hediondos e
equiparados, decorre da própria inafiançabilidade imposta pela Constitui-
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ção da República à legislação ordinária (Constituição da República, art. 5º,


inc. XLIII): Precedentes. O Art. 2º, inc. II, da Lei n. 8.072/90 atendeu o comando
constitucional, ao considerar inafiançáveis os crimes de tortura, tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hedion-
dos. Inconstitucional seria a legislação ordinária que dispusesse diversamente,
tendo como afiançáveis delitos que a Constituição da República determina
sejam inafiançáveis. Desnecessidade de se reconhecer a inconstitucionali-
dade da Lei n. 11.464/07, que, ao Inc. II, da Lei n. 8.072/90, limitou-se a uma
alteração textual: a proibição da liberdade provisória decorre da vedação
da fiança, não da expressão suprimida, a qual, segundo a jurisprudência
deste Supremo Tribunal, constituía redundância. Mera alteração textual,
sem modificação da norma proibitiva de concessão da liberdade provisó-
ria aos crimes hediondos e equiparados, que continua vedada aos presos
em flagrante por quaisquer daqueles delitos. 3. A Lei n. 11.464/07 não pode-
ria alcançar o delito de tráfico de drogas, cuja disciplina já constava de lei
especial (Lei n. 11.343/06, Art. 44, caput), aplicável ao caso vertente. 4. Irre-
levância da existência, ou não, de fundamentação cautelar para a prisão
em flagrante por crimes hediondos ou equiparados: Precedentes. 5. Lici-
tude da decisão proferida com fundamento no art. 5º, inc. XLIII, da Constituição
da República, e no Art. 44 da Lei n. 11.343/2006, que a jurisprudência deste
Supremo Tribunal considera suficiente para impedir a concessão de liberdade
provisória. Ordem denegada.” (HC 93.302, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento
em 25-3-08, DJE de 9-5-08)
Tráfico de drogas. Vedação legal de liberdade provisória. Interpretação dos
incisos XLIII e LXVI do Art. 5º da CF. Reafirmação de jurisprudência. Proposta de
fixação da seguinte tese: É inconstitucional a expressão “e liberdade provi-
sória”, constante do caput do Art. 44 da Lei n. 11.343/2006.
[RE 1.038.925 RG, rel. min. Gilmar Mendes, j. 18-8-2017, P, DJE de 19-9-
2017, repercussão geral, Tema 959.]
Relaxamento de prisão (excesso de prazo)
STF – Enunciado da Súmula 967
“a proibição de liberdade provisória nos processos por crimes hedion-
dos não veda o relaxamento da prisão processual por excesso de prazo”.
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§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em


regime fechado.

Atenção!
A redação anterior falava em regime integralmente fechado. O Brasil utiliza
um sistema de pena chamado progressivo, em que a pena tem função de
ressocialização do criminoso, então é interessante que se dê ao condenado
liberdade aos poucos, até para que a sociedade saiba em que ponto ele se
encontra.
A progressão de regime é a passagem do fechado para o semiaberto ou
do semiaberto para o aberto. Na época que saiu essa Lei, esse sistema de
progressão foi cancelado nesses crimes.
Dezenove anos depois dessa lei, o Supremo Tribunal começou a compreender
que o regime integralmente fechado era desumano, uma espécie de vingança
da sociedade e que não tinha a ver com a finalidade da pena, declarando
tal regime inconstitucional por meio de um habeas corpus. Quando uma
inconstitucionalidade é declarada por meio de HC, significa que ela vale apenas
para as pessoas envolvidas no processo, e não erga omnes.
O legislador, percebendo a questão, resolveu adequar a lei, modificando o
texto pra “inicialmente em regime fechado”, significa que o indivíduo começa
no regime fechado, vai para o semiaberto e depois para o aberto.

Pena. Regime de cumprimento. Progressão. Razão de ser. A progressão


no regime de cumprimento da pena, nas espécies fechado, semiaberto e
aberto, tem como razão maior a ressocialização do preso que, mais dia ou
menos dia, voltará ao convívio social. Pena. Crimes hediondos. Regime de
cumprimento. Óbice. Art. 2º, § 1º, da Lei n. 8.072/1990. Inconstitucionalidade.
Evolução jurisprudencial. Conflita com a garantia da individualização da pena
— Art. 5º, XLVI, da CF — a imposição, mediante norma, do cumprimento da
pena em regime integralmente fechado. Nova inteligência do princípio da indi-
vidualização da pena, em evolução jurisprudencial, assentada a inconstitucio-
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nalidade do art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/1990. [HC 82.959, rel. min. Marco Aurélio,
j. 23-2-2006, P, DJ de 1-9- 2006.] = HC 88.052, rel. min. Celso de Mello, j. 4-4-
2006, 2ª T, DJ de 28-4- 2006
[Súmula Vinculante n. 26.]
Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime
hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstituciona-
lidade do Art. 2º da Lei n. 8.072, de 25-7-1990, sem prejuízo de avaliar se o
condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do bene-
fício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de
exame criminológico.

Atenção!
Essa súmula trata do regime integral fechado.
Obs.: a lei determina que a pena deve começar inicialmente em regime fecha-
do, entretanto a jurisprudência construiu que o inicialmente fechado não
é obrigatório, pois “inicialmente fechado” é uma orientação geral para os
crimes hediondos.

Tráfico de entorpecentes. (...) Verifica-se que o delito foi praticado em 10-10-


2009, já na vigência da Lei n. 11.464/2007, a qual instituiu a obrigatoriedade da
imposição do regime inicialmente fechado aos crimes hediondos e assemelha-
dos. Se a CF menciona que a lei regulará a individualização da pena, é natu-
ral que ela exista. Do mesmo modo, os critérios para a fixação do regime
prisional inicial devem-se harmonizar com as garantias constitucionais,
sendo necessário exigir-se sempre a fundamentação do regime imposto,
ainda que se trate de crime hediondo ou equiparado.
Na situação em análise, em que o paciente, condenado a cumprir pena
de seis anos de reclusão, ostenta circunstâncias subjetivas favoráveis, o
regime prisional, à luz do Art. 33, § 2º, b, deve ser o semiaberto. Tais circuns-
tâncias não elidem a possibilidade de o magistrado, em eventual apreciação
das condições subjetivas desfavoráveis, vir a estabelecer regime prisional
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mais severo, desde que o faça em razão de elementos concretos e indivi-


dualizados, aptos a demonstrar a necessidade de maior rigor da medida
privativa de liberdade do indivíduo, nos termos do § 3º do art. 33, c/c o art.
59 do CP. Ordem concedida tão somente para remover o óbice constante do §
1º do Art. 2º da Lei n. 8.072/1990, com a redação dada pela Lei n. 11.464/2007,
o qual determina que “[a] pena por crime previsto neste artigo será cumprida ini-
cialmente em regime fechado”. Declaração incidental de inconstitucionalidade,
com efeito ex nunc, da obrigatoriedade de fixação do regime fechado para início
do cumprimento de pena decorrente da condenação por crime hediondo ou equi-
parado. [HC 111.840, rel. min. Dias Toffoli, j. 27-6-2012, P, DJE de 17-12-2013.]

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Demétrius Abiorana.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do con-
teúdo ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela
leitura exclusiva deste material.

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