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Tiago ....
Graduado em Direito pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
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I Introdução
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§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função
pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem
prejuízo da ação penal cabível.
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2) A norma benéfica da Lei 14.230/2021 revogação da modalidade culposa do ato de
improbidade administrativa, é irretroativa, em virtude do artigo 5º, inciso XXXVI,
da Constituição Federal, não tendo incidência em relação à eficácia da coisa julgada;
nem tampouco durante o processo de execução das penas e seus incidentes;
3) A nova Lei 14.230/2021 aplica-se aos atos de improbidade administrativa
culposos praticados na vigência do texto anterior, porém sem condenação transitada
em julgado, em virtude da revogação expressa do tipo culposo, devendo o juízo
competente analisar eventual dolo por parte do agente.
4) O novo regime prescricional previsto na Lei 14.230/2021 é irretroativo,
aplicando-se os novos marcos temporais a partir da publicação da lei.
Uma das principais funções do Direito é a regulação das relações sociais. Busca-se
através de um conjunto de regras estabelecer equilíbrio entre os ônus e bônus da vida em
comum, para que sob o império das leis alcancemos a paz e saibamos as consequências e
implicações àqueles que agirem em ilicitude.
Dentro desse contexto de previsibilidade das consequências do ilícito, em
homenagem ao princípio da segurança jurídica, o ordenamento jurídico pátrio optou por
definir como regra que as leis têm efeito imediato e irrestrito e não atingem o ato jurídico
perfeito, a coisa julgada e o direito adquirido, conforme estabelecido pelo art. 6º, do Decreto-
Lei nº 4.657/1942 ou Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB)2.
Em suma, uma nova norma não será aplicada para reformar atos que tenham sido
praticados na forma prevista em lei vigente à época, não atingirá direitos já incorporados ao
patrimônio dos particulares e nem servirá como fundamento para questionar decisões
judiciais contra as quais não caibam mais recursos.
Trata-se do princípio da irretroatividade da norma, que protege o cidadão contra
alterações de regras no tempo, limitando o poder do Estado para alterar o status quo, criando
um núcleo duro de atos jurídicos imutáveis e fazendo com que as novas leis incidam sobre
casos ainda pendentes de julgamento final pelo Poder Judiciário ou instruam a atuação dos
órgãos da administração pública na análise de demandas que versem sobre meras expectativas
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Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a
coisa julgada.
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de direitos ainda não consolidados ou pendentes de atos ainda a serem praticados.
Todavia, como é sabido, a irretroatividade não é absoluta. A Carta Magna prevê no
art. 5º, LV, que “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu” e o Código Tributário
Nacional (“CTN”), em seu art. 106, estabelece a possibilidade de aplicação da lei a fatos
anteriores, quando se tratar de inovação favorável ao contribuinte. Ou seja, na seara do direito
criminal e do direito tributário, a lei nova pode retroagir quando mais benéfica ao sujeito
passivo.
Ambas as exceções carregam em si o mesmo princípio, qual seja, quando o
particular for beneficiado por uma nova norma, deve-se aplicá-la, afastando-se aquelas que
vigiam ao tempo dos fatos. Todavia, cumpre pontuar que na esfera do direito tributário, o
CTN expressamente limita a retroatividade aos fatos que ainda não tiveram julgamento
definitivo, enquanto no direito penal, um condenado por sentença transitada em julgado deve
ter sua pena revogada, caso lei posterior torne atípico o ato antes definido como criminoso.
Feitos esses apartes sobre a matéria da aplicação da lei no tempo e os princípios
jurídicos a ela afetos, passaremos à análise das decisões judiciais que definiram as balizas da
aplicabilidade das alterações introduzidas na LIA pela Lei nº 14.230/2021 aos casos concretos
quando beneficiam os acusados de ato de improbidade.
III Os limites da retroatividade da LIA traçados pelo STF no julgamento do Tema 1.199
e a construção da jurisprudência sobre a matéria
De início, cabe destacar que o acórdão ora em comento traz uma definição peculiar
do que é retroatividade, calcado no voto do Min. Relator, Alexandre de Moraes.
Desta forma, a retroatividade seria a capacidade que a nova lei tem de atingir
especificamente a coisa julgada, extinguindo-a, e, para a maioria dos Ministros da Corte, esse
poder extintor é exclusivo de leis geridas no âmbito criminal (penal), o que significa dizer
que, ainda que não exista mais ato culposo de improbidade no atual ordenamento, as
sentenças condenatórias de atos culposos de improbidade, já transitadas em julgado, são
imutáveis, sendo mantidas as condenações, em linha com a natureza civil e não criminal das
ações de improbidade.
Em outras palavras, seja pela retroatividade da nova lei, seja pela vedação à
ultratividade do diploma revogado, restou decidido por maioria que se o processo ainda está
em tramitação, o réu não pode ser condenado se o tipo sancionador — no caso, o culposo —
não existe mais.
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Não se trata de retroatividade da lei, uma vez que todos os atos
processuais praticados serão válidos, inclusive as provas produzidas
— que poderão ser compartilhadas no âmbito disciplinar e penal —;
bem como a ação poderá ser utilizada para fins de ressarcimento ao
erário. Entretanto, em virtude ao princípio do tempus regit actum,
não será possível uma futura sentença condenatória com base em
norma legal revogada expressamente".
Ainda neste trecho do julgado, cabe sublinhar a definição, também peculiar, dada ao
princípio tempus regit actum.
Como se sabe, a referida expressão latina significa literalmente o tempo rege o ato,
no sentido de que os atos jurídicos (actum) se regem pela lei da época (tempus) em que
ocorreram.
Sendo assim, o intérprete da lei deve verificar qual lei vigora no momento em que
for prolatar sua decisão, não mais àquela que vigorava quando da prática do suposto ato
ímprobo.
Em julgados recentes sobre o tema, ainda não é unanimidade nas cortes nacionais a
aplicação das teses definidas no julgamento do Tema 1.199, conforme observaremos nos
acórdãos abaixo colacionados:
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TJ-CE - AC: 00007653320138060208 Ipu, Relator: PAULO FRANCISCO BANHOS PONTE, Data de
Julgamento: 06/02/2023, 1ª Câmara Direito Público, Data de Publicação: 07/02/2023
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Conforme se observa no excerto acima, os Desembargadores do Tribunal de Justiça
do Ceará, reformaram a sentença considerando a 4ª norma fixada na tese: “4) O novo regime
prescricional previsto na Lei 14.230/2021 é irretroativo, aplicando-se os novos marcos
temporais a partir da publicação da lei.”
Por outro lado, sobre o mesmo tema da prescrição intercorrente, vale mencionar o
seguinte acórdão prolatado no âmbito do Tribunal de Justiça da Paraíba no qual se considerou
a Lei nº 14.230/2021, contudo, desconsiderou a tese fixada pelo STF, ainda que o julgamento
tenha ocorrido em fevereiro de 2023:
“Art. 23. A ação para a aplicação das sanções previstas nesta Lei
prescreve em 8 (oito) anos, contados a partir da ocorrência do fato
ou, no caso de infrações permanentes, do dia em que cessou a
permanência. (…)
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Portanto, em se tratando de norma mais benéfica aos acusados,
deverá retroagir e ser aplicada aos fatos, por se tratar de princípio
constitucional do direito administrativo sancionador (art. 1º, § 4º, da
Lei nº 8.429/92).
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(TJ-PB - AC: 00001934320158150051, Relator: Des. Marcos William de Oliveira, 3ª Câmara Cível) - Data
de Julgamento: 02/02/2023
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8.429/92. Competência ao juízo do 1° grau. Boletim dos
Procuradores da República, ano 1, n. 9, jan. 1999.).
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TJ-CE - AC: 00007653320138060208 Ipu, Relator: PAULO FRANCISCO BANHOS PONTE, Data de
Julgamento: 06/02/2023, 1ª Câmara Direito Público, Data de Publicação: 07/02/2023
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REFERÊNCIAS
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