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7JAPRT
Tribunal Coletivo
P._ E. _D.
A ADVOGADA
Defensora Oficiosa
Vem o presente recurso interposto do douto acórdão proferido nos autos que,
julgando parcialmente procedente por parcialmente provada a acusação pública
deduzida pelo Ministério Público, condenou o ora Recorrente pela prática:
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Para o crime de abuso sexual de crianças, p. e p. pelo artº 171º, n.º 1 do C.P.,
encontra-se prevista uma moldura penal abstrata de prisão de 1 a 8 anos, agravada de
um terço, nos seus limites mínimo e máximo, de acordo com o previsto no artº 177º,
n.º 1, al. b) e c) do C.P.
No caso “sub judice”, dentro das referidas molduras penais abstractas, há que,
para determinar a medida concreta das penas, atender à culpa do ora Recorrente e às
exigências de prevenção, bem como a todas as circunstâncias que não fazendo parte
do tipo depuserem a favor ou contra ele – artº 71º, nº 1 do C.P.P. – tendo por base o
principio de que se ao crime forem aplicáveis, em alternativa, pena privativa e não
privativa da liberdade, o Tribunal dá preferência à segunda sempre que esta realizar
de forma adequada e suficiente as finalidades da punição – artº 70º do C.P.P..
A culpa define o limite máximo da pena concreta dado que sem ela não há
pena e esta não pode ultrapassar a sua medida.
Tendo em conta estes limites, deve ainda o Tribunal atender a quaisquer outras
circunstâncias que não fazendo parte do tipo, deponham contra ou a favor do Arguido
(artº 71º, nº 2 do C.P.).
Quanto à pena única, dir-se-á que o artº 77º, nº 1, do C.P. estabelece que
“Quando alguém tiver praticado vários crimes antes de transitar em julgado a
condenação por qualquer deles é condenado numa pena única. Na medida da pena
são considerados, em conjunto, os factos e a personalidade do agente”.
E dispõe o nº 2, que “A pena aplicável tem como limite máximo a soma das
penas concretamente aplicadas aos vários crimes, não podendo ultrapassar 25 anos
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tratando-se de pena de prisão e 900 dias tratando-se de pena de multa; e como limite
mínimo a mais elevada das penas concretamente aplicadas aos vários crimes”.
A medida da pena a atribuir em sede de cúmulo jurídico tem uma
especificidade própria, sendo que por um lado está-se perante uma nova moldura
penal mais abrangente e por outro lado há lugar a uma específica fundamentação, que
acresce à decorrente do artº 71º do C.P., sendo, porém, as penas parcelares “guias”
na fixação da pena do concurso.
A fixação da pena do concurso não se determina com a soma dos crimes
cometidos e das penas respectivas, mas da dimensão e gravidade global do
comportamento delituoso do Arguido, pois tem de ser considerado e ponderado um
conjunto de factos e a sua personalidade.
Na avaliação da personalidade do agente relevará, sobretudo, a questão de
saber se o conjunto dos factos de que é acusado é reconduzível a uma tendência
criminosa, o que neste caso terá um efeito agravante dentro da moldura penal
conjunta, ou apenas a um caso isolado que não radica na personalidade.
Por outro lado, relevante será aferir o efeito previsível da pena sobre o
comportamento futuro do agente (exigências de prevenção especial de socialização).
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- O Recorrente culpabiliza-se pelo seu comportamento, não encontrando
explicação para o sucedido;
- Resulta ainda provado, através do relatório de perícia de avaliação de dano
corporal à vítima, a ausência de vestígios físicos ou biológicos e, por outro lado,
através do relatório psicológico, que a menor apresenta um funcionamento cognitivo
inferior à média, com um perfil de personalidade caracterizado pela desejabilidade
social.
- De acordo com o testemunho da irmã uterina da íris (Inês), esta referiu ao
Tribunal que a advertia para “brincadeiras” com o “avô” já pouco próprias para a sua
idade, como por exemplo quando se sentava no seu colo.
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Dos fatores determinantes para se apurar a medida concreta das penas
parcelares e, consequentemente, a medida da pena unitária a aplicar ao Recorrente,
atrás elencados, alguns não foram devidamente valorados pelos M.mos Juízes a quo
no acórdão sob apreço e outros não foram sequer atendidos.
Estatui o artº 50º, nº 1 do C.P. que a pena de prisão aplicada em medida não
superior a cinco anos deve ser suspensa na sua execução, sempre que, atendendo à
personalidade do agente, às condições da sua vida, à sua conduta anterior e posterior
ao crime e às circunstâncias deste, for de concluir que a simples censura do facto e a
ameaça da prisão realizam de forma adequada e suficiente as finalidades da punição.
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A conclusão de que a simples censura do facto e a ameaça da prisão realizam
de forma adequada e suficiente as finalidades da punição, assenta no pressuposto de
que, por um lado, o que está em causa não é qualquer “certeza” mas, tão-só, a
“esperança fundada de que a socialização em liberdade possa ser lograda” e de que
“o Tribunal deve encontrar-se disposto a correr um certo risco - digamos: fundado e
calculado - sobre a manutenção do agente em liberdade”.
No caso sub judice, como supra se referiu, o Recorrente não tem antecedentes
criminais, sendo este o seu primeiro contacto com o Tribunal.
Acresce que o Recorrente, que tem 64 anos de idade, encontra-se inserido
familiarmente.
Encontra-se a ser seguido em consultas de psicologia e psiquiatria, mantendo
uma ideação suicida.
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Se assim não se entender, por se considerar que realiza de forma adequada e
suficiente as finalidades da punição, desde já se requer, ao abrigo do disposto no artº
44º do C.P., que a pena de prisão fixada ao Recorrente nos termos acima expostos e
em medida inferior a 5 anos, possa ser executada em regime de permanência na
habitação acima mencionada, com fiscalização por meios técnicos de controlo à
distância - pulseira electrónica - e com a respectiva supervisão pelas entidades
competentes.
A aplicação dessa medida, que se requer na medida do possível, nesta fase,
traduziria um voto de confiança por parte da sociedade no Recorrente, uma nova
oportunidade, para que o Recorrente conforme a sua conduta de acordo com o Direito
e que seja um cidadão melhor, dessa forma podendo acompanhar a sua esposa que
padece de problemas de saúde.
No que respeita à reparação da vítima, tendo o Recorrente sido condenado ao
pagamento de uma compensação no valor de € 5.000,00, nem o Ministério Público
deduziu pedido de reparação da vítima em certos casos nem esta deduziu PIC, pelo
que consideramos o valor manifestamente exagerado, face às dificuldades financeiras
de que o Recorrente padece.
CONCLUSÕES
1ª – Vem o presente recurso interposto do douto acórdão proferido nos autos que,
julgando parcialmente procedente por provada a acusação pública deduzida pelo
Ministério Público, condenou o ora Recorrente Abílio Ângelo Ferreira da Silva, pela
prática:
- em autoria material, na forma consumada e em concurso efetivo de seis crimes de
abuso sexual de criança agravado, p. e p. pelos art.ºs 171º, n.º 1 e 177º, n.º 1, als. b) e
c), ambos do C.P., nas penas de 2 anos e seis meses por cada um desses seis crimes
(perpetrados com coito vulvar ou vestibular);
- em autoria material, na forma consumada e em concurso efetivo de dois crimes de
abuso sexual de criança agravado, p. e p. pelos art.ºs 171º, n.º 1 e 177º, n.º 1, als b) e
c), ambos do C.P., nas penas de 1 ano e 6 meses por cada um desses dois crimes
(apalpões nos seios da menor);
e, operando o cúmulo jurídico das penas parcelares, condenou o Recorrente na pena
unitária de 6 anos de prisão efetiva.
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2ª – As penas parcelares e, consequentemente, a pena unitária do cúmulo aplicadas
pelos M.mos Juízes a quo, mostram-se excessivas, desajustadas e desproporcionais
face aos factos provados dos autos,
porquanto:
3ª - Para o crime de abuso sexual de criança, p. e p. pelo artº 171º, n.º 1 do C.P.,
encontra-se prevista uma moldura penal abstrata de prisão de 1 a 8 anos, agravada de
um terço, nos seus limites mínimo e máximo, de acordo com o previsto no artº 177º,
n.º 1, al. b) e c) do C.P.
5ª - A culpa define o limite máximo da pena concreta dado que sem ela não há pena e
esta não pode ultrapassar a sua medida, e relativamente às necessidades de
prevenção, existe um fim preventivo geral ligado à contenção da criminalidade e
defesa da sociedade e um fim preventivo especial ligado à reinserção social do
agente.
8ª - Tendo em conta estes limites, deve ainda o Tribunal atender a quaisquer outras
circunstâncias que não fazendo parte do tipo, deponham contra ou a favor do Arguido
(artº 71º, nº 2 do C.P.).
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9ª - Quanto à pena única, o artº 77º, nº 1, do C.P. estabelece que “Quando alguém
tiver praticado vários crimes antes de transitar em julgado a condenação por qualquer
deles é condenado numa pena única. Na medida da pena são considerados, em
conjunto, os factos e a personalidade do agente”. E dispõe o nº 2, que “A pena
aplicável tem como limite máximo a soma das penas concretamente aplicadas aos
vários crimes, não podendo ultrapassar 25 anos tratando-se de pena de prisão e 900
dias tratando-se de pena de multa; e como limite mínimo a mais elevada das penas
concretamente aplicadas aos vários crimes”.
10ª - A medida da pena a atribuir em sede de cúmulo jurídico tem uma especificidade
própria, sendo que por um lado está-se perante uma nova moldura penal mais
abrangente e por outro lado há lugar a uma específica fundamentação, que acresce à
decorrente do artº 71º do C.P., sendo, porém, as penas parcelares “guias” na fixação
da pena do concurso.
11ª - A fixação da pena do concurso não se determina com a soma dos crimes
cometidos e das penas respectivas, mas da dimensão e gravidade global do
comportamento delituoso do Arguido, pois tem de ser considerado e ponderado um
conjunto de factos e a sua personalidade.
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declarações prestadas e, posteriormente, em sede de audiência de julgamento
confessando parcialmente os factos de que é acusado;
- Dos factos provados resultam ainda os problemas psicológicos de que o
Recorrente padece, encontrando-se a ser seguido em consultas de psicologia,
manifestando arrependimento e consciência pelo seu comportamento, totalmente
inaceitável e intolerável, assumindo o seu erro e culpa pelo que fez, manifestando uma
ideação suicida.
- O Recorrente culpabiliza-se pelo seu comportamento, não encontrando
explicação para o sucedido;
- Resulta ainda provado, através do relatório de perícia de avaliação de dano
corporal à vítima, a ausência de vestígios físicos ou biológicos e, por outro lado,
através do relatório psicológico, que a menor apresenta um funcionamento cognitivo
inferior à média, com um perfil de personalidade caracterizado pela desejabilidade
social;
- De acordo com o testemunho da irmã uterina da íris (Inês), esta referiu ao
Tribunal que a advertia para “brincadeiras” com o “avô” já pouco próprias para a sua
idade, como por exemplo quando se sentava no seu colo.
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Vouga, onde é um utente colaborante e participativo, aderindo às intervenções e
terapêuticas realizadas.
- O Recorrente atualmente apresenta uma ideação suicida – v. docºs 1 e 2, que
adiante se juntam – em consulta de psicologia foi verbalizando com pormenor os seus
pensamentos suicidas e simultaneamente foi demonstrando que se encontra a
organizar a sua vida, para que a esposa fique o melhor possível na sua ausência.
14ª - Dos factores determinantes para se apurar a medida concreta das penas
parcelares e, consequentemente, a medida da pena unitária a aplicar ao Recorrente,
atrás elencados, alguns não foram devidamente valorados pelos M.mos Juízes a quo
no acórdão sob apreço e outros não foram sequer atendidos.
16ª - Estatui o artº 50º, nº 1 do C.P. que a pena de prisão aplicada em medida não
superior a cinco anos deve ser suspensa na sua execução, sempre que, atendendo à
personalidade do agente, às condições da sua vida, à sua conduta anterior e posterior
ao crime e às circunstâncias deste, for de concluir que a simples censura do facto e a
ameaça da prisão realizam de forma adequada e suficiente as finalidades da punição.
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18ª - A conclusão de que a simples censura do facto e a ameaça da prisão realizam
de forma adequada e suficiente as finalidades da punição assenta no pressuposto de
que, por um lado, o que está em causa não é qualquer “certeza” mas, tão-só, a
“esperança fundada de que a socialização em liberdade possa ser lograda” e de que
“o Tribunal deve encontrar-se disposto a correr um certo risco - digamos: fundado e
calculado - sobre a manutenção do agente em liberdade”.
19ª – No caso sub judice, como supra se referiu, o Recorrente não tem antecedentes
criminais, sendo este o seu primeiro contacto com o Tribunal; acresce que o
Recorrente, que tem 64 anos de idade, encontra-se inserido familiarmente;
encontrando-se ainda a ser seguido em consultas de psicologia e psiquiatria,
mantendo uma ideação suicida.
22ª - Se assim não se entender, por se considerar que realiza de forma adequada e
suficiente as finalidades da punição, desde já se requer, ao abrigo do disposto no artº
44º do C.P., que a pena de prisão fixada ao Recorrente nos termos acima expostos e
em medida inferior a 5 anos, possa ser executada em regime de permanência na
habitação, com fiscalização por meios técnicos de controlo à distância - pulseira
electrónica - e com a respectiva supervisão pelas entidades competentes.
23ª - A aplicação dessa medida traduz um voto de confiança por parte da sociedade
no Recorrente, uma nova oportunidade, para que o Recorrente conforme a sua
conduta de acordo com o Direito e que seja um cidadão melhor.
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24ª – No que respeita à reparação da vítima, tendo o Recorrente sido condenado ao
pagamento de uma compensação no valor de € 5.000,00, nem o Ministério Público
deduziu pedido de reparação da vítima em certos casos nem esta deduziu PIC, pelo
que consideramos o valor manifestamente exagerado, face às dificuldades financeiras
de que o Recorrente padece.
25ª - O douto acórdão recorrido fez uma incorrecta aplicação do disposto nos artºs
171º, n.º 1, 177º, n.º 1, al. b) e c), 70º, 71º, 77º, 50º, nº 1 e 44º do C.P..
Junta: 2 documentos.
A ADVOGADA
Defensora Oficiosa
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