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TEORIA GERAL DO PROCESSO

MATERIAL DE AULA

Assunto: COMPETÊNCIA

A jurisdição como expressão do poder estatal é


uma só, não comportando divisões ou fragmentações.

Mas o exercício da jurisdição é fixado,


delimitado, restringido ou “distribuído” pela Constituição e pelas leis
infraconstitucionais (Código de Processo Civil, Código de Processo Penal,
Consolidação das Leis do Trabalho, Código Penal Militar, Código Eleitoral
etc.) entre os muitos órgãos jurisdicionais, restando a cada órgão do Poder
Judiciário constante do artigo 92, da Constituição Federal e das Constituições
Estaduais os limites do exercício de sua função de pacificar conflitos.

Liebman, o mestre processualista maior


Italiano, que passou pelo Brasil fugido dos horrores da guerra, afirmava
quanto à competência, que é a:

“Quantidade de jurisdição cujo exercício é atribuído a cada órgão ou grupo


de órgãos”

Celso Neves, já dizia que competência é a:

“Relação de adequação legítima entre o


processo e o órgão jurisdicional (noção concreta da competência). Mas
competência é o exercício da jurisdição por cada órgão do Poder Judiciário
dentro da medida que lhe foi fixada pelas regras sobre competências.”

Notadamente é forçoso afirmar o melhor


entendimento extraído dos atuais doutrinadores, para quem a competência é a
delimitação do poder geral do Judiciário de dizer o direito diante do caso
concreto, conforme estipulado pelas regras constitucionais (federal e estadual)
e leis infraconstitucionais.
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À guisa de ilustração, assim se distribui a


competência:

a) C.F.

b) Nas Constituições Estaduais.

c) Lei Federais - C.P.C - C.P.P.

d) Nas leis de organização judiciária, as regras


sobre competência de juízo (varas especializadas).

RAZÕES OU MOTIVOS JUSTIFICADORES DA DISTRIBUIÇÃO DA


COMPETÊNCIA

O ordenamento jurídico, para fazer a


distribuição da competência aos órgãos do Poder Judiciário existentes,
analisam os organismos julgadores, praticando 3 operações:

a) Constituição diferenciada de órgãos


judiciários.

b) Elaboração da massa de causas em grupo,


levando em conta certas características da
própria causa e do processo mediante o qual
é ela apreciada pelo órgão judiciário.

c) Atribuição de cada um dos diversos grupos


de causas aos órgãos do Poder Judiciário constantes do artigo 92 das
Constituições Federal, e nos respectivos dispositivos das Constituições
Estaduais, vide na Constituição Mineira de 1989, o teor do artigo 96.
Portanto, atribuir, significa adequar a causa ao órgão mais idôneo e capaz para
conhecer desta e decidi-la na forma do direito positivo.

DADOS REFERENTES À CAUSA (Elementos de Ação ou da demanda)

Partes: (considera-se sua qualidade, sua sede) / parte Passiva:


o representante, a União, a pessoa jurídica internacional (Estado estrangeiro).
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Pedido: a) Natureza do bem (móvel ou imóvel. Sendo imóvel


- enquadrando-se a natureza do bem em direito real, importante a verificação
dos aspectos gerais e específicos tratados no art. 47, do novo CPC).
b) Seu valor (Lei 9.099/26.9.95)

c) Do foro, levando em consideração as várias


situações de foro privilegiado, do lugar ou situação da coisa, tudo conforme
se vê dos artigos 51, 52 e 53, todos do novo Código de Processo Civil.

Fatos: a) Natureza da relação jurídica controvertida


(Setor do direito material em que se funda a
pretensão do autor da demanda.

b) O lugar onde se deu o fato do qual resulta a


pretensão apresentada ou seja, do lugar do ato ou
fato e ainda do domicílio do autor ou do lugar do
ato, conforme especificado no artigo 53, do novo
Código de Processo Civil.

A competência pela natureza da relação jurídica


é conhecida como competência material.

A expressão ratione material tem um sentido


mais amplo e geralmente significa competência absoluta.

DADOS REFERENTES AO PROCESSO

a) Natureza do processo (o mandado de


segurança contra ato do juiz começa nos tribunais, o habeas corpus contra
prisão ilegal decretada por juiz também começa no tribunal, e ainda a ação
rescisória tem tramitação e julgamento somente pelos tribunais etc.).

b) Natureza do procedimento.

c) Relação com processo anterior. ( Casos de


após proposta, por exemplo, a ação de despejo, todas as demandas
envolvendo a relação locatícia estará apto o juízo que está conhecendo o
processo inicialmente proposto – ação de despejo).

ELABORAÇÃO DOS GRUPOS DE CAUSA


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a) No próprio litígio, ou causa (seus elementos


identificadores).

b) No processo mediante o qual a causa será


conhecida judicialmente.

ATRIBUIÇÃO DAS CAUSAS AOS ÓRGÃOS

Toma-se às vezes o interesse público da


perfeita atuação da justiça (jurisdição), ou interesse e à comodidade das partes
(foro ou territorial).

A competência de jurisdição e distribuída na


Constituição Federal, como exemplo, veja os teores dos artigos 109, 114, 121,
124, 125; § 3º. e 4º. - C.F./88.

Nos demais casos, toma-se:

a) Natureza da relação jurídica material


controvertida. (justiça especial frente a
comum)

b) Qualidade das pessoas: causas da União.

Justiça Federal

ÓRGÃOS JUDICIÁRIOS DIFERENCIADOS

Para estudar a competência perante o direito


brasileiro é preciso, antes de tudo, ter presente a estrutura dos órgãos
judiciários brasileiros (aqui tanto na esfera federal com nas esferas estaduais),
entre os quais se distribui o exercício da jurisdição nacional.

Na verdade, a fixação da competência a partir


dos órgãos do Poder Judiciário, sai do plano abstrato para o plano concreto,
fazendo restar as seguintes competências abaixo:
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a) Competência “de jurisdição” (qual a justiça


competente?)

b) Competência originária (competente o


órgão superior ou inferior?)

c) Competência de foro (qual a comarca, ou


seção judiciária competente?)

d) Competência de juízo (qual a vara


competente?)

e) Competência interna (qual o juiz


competente?)

f) Competência recursal (competente o mesmo


órgão ou um superior?)

Todas as competência acima indicadas, foram


estabelecidas pela Constituição Federal a partir da atuação una da jurisdição
em qualquer de suas modalidades de manifestações (espécies), quais sejam,
jurisdição comum ou especial, superior ou inferior, civil ou penal e de direito
ou equidade. São portanto, elementos gerais de fixação de competência e
atuam em todos os diplomas processuais - ex.: atuam na fixação e repartição
de competência no novo Código de Processo Civil, no Código de Processo
Penal e demais diplomas infra-constitucionais que possuem regras
processuais próprias e adotaram critérios de competência conforme a
jurisdição de que tratam.

Por exemplo, no Código de Processo Penal está


tratando da jurisdição penal, estabelecendo-se a partir dessa premissa, toda a
construção da competência, conforme se vê a partir do artigo 69 do C.P.P.
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Ainda à guisa de exemplo, no plano do Código


de Processo Civil, ao contrário do Código de Processo Penal, toma-se como
elemento para fixação da competência, a jurisdição de que trata o C.P.C., que
é a jurisdição civil, sobre a qual se manifesta o artigo 16 do novo Código de
Processo Civil (art. 16).

No plano da competência internacional, onde se


define as causas em que no Brasil, em detrimento dos outros Estados
estrangeiros, poderá o juiz brasileiro conhecer e decidir, “nos limites da
jurisdição nacional”, conforme está regulada nos artigos 21 a 25 do NCPC;
em seguida, estipulou o novo Código de Processo Civil, respeitando o plano
internacional, especialmente a cooperação internacional, estipulou do auxílio
direito do Poder Judiciário nacional (arts. 28 a 34 – NCPC); tratou do
cumprimento da Carta Rogatória (arts. 36), fixando-se ao final da seção IV,
do Capítulo II, do Título II, também do CPC em vigor, as disposições comuns
à cooperação internacional.

A partir do artigo 42 e seguintes, passo o atual


codex processual, a tratar da competência interna, apontando dentro os órgãos
do Poder Judiciário estabelecidos, aquele que está incumbido
especificadamente da tarefa de dizer o direito frente à determinado caso ou
grupos de casos de concretos (ex vi dos artigo 42 à 53 do CPC em vigor).

Portanto, tratando da competência interna


(dentro do Brasil), outros diplomas processuais, em geral, adotam:

a) Critério Objetivo: Faz surgir a competência


razão da matéria, ainda tratada no Código de Processo Penal. Competência
esse que toma a natureza da causa e/ou do processo e do procedimento,
qualidade das pessoas;

b) Critério Funcional, estabelece a


Competência Funcional indicando qual juízo dentre de um mesmo órgão do
Poder Judiciário, está encarregado de atuar dentro de um processo.

c) Critério territorial, estabelece a Competência


Territorial, ou de foro.

Retornando à competência fixada na forma geral pela Constituição


Federal, relevante a compreensão da competência de jurisdição
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(deveria ser chamada de competência de justiça) pela designação


funcional de qual é competente para julgar determinada causa,
bem como o estudo da competência originária, que fixa o órgão
recursal hábil para julgar o feito em grau de recurso. Mas também
importante a compreensão da COMPETÊNCIA DE FORO (ou
territorial), a saber:

Foro comum: a) CPC - domicílio do réu

b) CPP - consumação do delito

c) CLT - Foro da prestação de


serviço ao empregador.

Foro comum - correspondente a uma regra


geral, válido até que a lei fale
em outro especial para o
tema/caso.

Foro concorrente - Escolha exclusiva do autor,


diante de dois foros
apresentados pela lei.

Foro subsidiário - quando não for conhecido o


foro principal apontado,
aceita a lei outro na ausência
do primeiro

Foro Especial ou Foro Extraordinário:


a) Foro concorrente - É quando a norma de competência estabelece dois
ou mais foros, pondo-se a escolha do autor, para propor a demanda onde
mais lhe interessar.

b) Foro subsidiário - É aquele em que, quando não for conhecido o foro


principal apontado, aceita a lei outro, ou seja, um segundo, terceiro ou
mais foros, quando diante da ausência de um primeiro foro ou foro geral
ou ordinário.

c) Foro Privilegiado - É aquele foro em razão da pessoa ou do cargo


exercido a norma define o local para propositura da ação contra essa
pessoa que tem o foro privilegiado.
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Competência Absoluta e Relativa.

A distribuição ou limitação do exercício da


função jurisdicional entre órgãos ou entre organismos judiciários atende, às
vezes, ao interesse público e às vezes ao interesse ou comodidade das partes.

Prevalece o interesse público na fixação da


competência:

a) Competência de jurisdição

b) Competência Originária

c) Competência de Juízo

d) Competência Recursal

e) Competência Interna

Entretanto, com Interesse das partes, restou:

- Competência de foro.

* A competência fixada pelo Legislador


segundo o interesse público, em não tolerar modificação nos critérios
estabelecidos e muito menos em virtude da vontade das partes se chama -
Competência Absoluta - (parágrafo 1º, art. 64, NCPC; 69 e 109 CPP). -
Improrrogável

* Na competência em razão do valor e do


território (Foro) - artigo 63 e parágrafos do NCPC - Há possibilidade de
prorrogação porque o Legislador leva em consideração preponderantemente o
interesse de uma das partes em defender-se melhor. – Chamando-o de
Competência Prorrogável.

CAUSAS DE PRORROGAÇÃO DE COMPETÊNCIA


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Onde se permite a prorrogação da competência:

a) Por disposição da própria lei - Prorrogação


legal ou necessária.

b) Por vontade das partes - Prorrogação


Voluntária

Prorrogação Legal (Por disposição da


própria lei), quando se opera a conexão ou continência (NCPC, 54 a 56;
CPP, arts. 76-77).

Conexão – Conexas são duas ou mais


demandas, ou causas, quando tiverem em comum o pedido ou a causa de
pedir (NCPC 55; CPP, 76 ).

Continência - Quando uma causa é mais ampla


e contém a outra (NCPC 56; CPP, 77).

Prorrogação Voluntária (Por vontade


das partes) - Em virtude de acordo expressamente formulado pelos titulares
da relação jurídica controvertida, antes da instauração do processo. (Ex.:
quando nos contratados, como o de locação, as partes convencionam o foro –
território, de outra comarca deferente do foro geral – local de residência do
réu, para discussão das controvérsias) vide art. 63 e parágrafos do Código de
Processo Civil/2015.

Prorrogação Voluntária Tácita - Quando não há


Arguição de Incompetência. (Ex.: proposta a ação em foro diferente daquele
privilegiado dito pela lei ou convencionado pelas partes nos contratos antes da
interposição da ação (não representando cláusula ou nomeação de foro
abusivo), e então citado o réu, este não apresenta como preliminar de
contestação a arguição de incompetência, para que o Juiz incompetente
mande o processo para aquele foro indicado pela lei ou do contrato,
permanece naquela indicado pelo autor, em face da ausência de arguição,
agora no NCPC, como preliminar de contestação.
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