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COMPETÊNCIA
CONCEITO
Distribuem-se as causas pelos órgãos jurisdicionais, conforme as suas atribuições, que têm seus limites
definidos em lei. Limites que lhes permitem o exercício da jurisdição. A jurisdição é uma, porquanto manifestação
do poder estatal. Entretanto, para que mais bem seja administrada, há de ser feita por diversos órgãos distintos.
A competência é exatamente o resultado de critérios para distribuir entre vários órgãos as atribuições
relativas ao desempenho da jurisdição. A competência é o poder de exercer a jurisdição nos limites estabelecidos
por lei. É o âmbito dentro do qual o juiz pode exercer a jurisdição. É a medida da jurisdição.
DISTRIBUIÇÃO
Faz-se por meio de normas constitucionais, de leis processuais e de organização judiciária, além da
distribuição interna da competência nos tribunais, feita pelos seus regimentos interno. Observe que a
competência da Justiça Estadual é residual, pois a nossa Constituição já distribui a competência em todo o Poder
Judiciário Federal.
Esses princípios compõem o conteúdo do princípio do juiz natural, ou seja, o desrespeito dos primeiros
necessariamente implica no desrespeito perante ao segundo.
O STF admite que se reconheça a existência de competências implícitas: quando não houver regra expressa,
algum órgão jurisdicional haverá de ter competência para apreciar a questão (ex: julgamento dos embargos de
declaração pelo STF ou STJ). É fundamental perceber que não há vácuo de competência: sempre haverá um juízo
competente para processar e julgar determinada demanda. A existência de competência implícita é, portanto,
indispensável para garantir a completude do ordenamento jurídico.
REGRA DA KOMPETEZKOMPETEZ
De acordo com essa, todo juízo tem competência para julgar sua própria competência. Assim, para todo
órgão jurisdicional há sempre uma competência mínima (atômica): a competência para o controle da própria
competência. Nesse diapasão, por mais incompetente que seja o órgão jurisdicional, ele sempre terá
competência para decidir se é ou não competente.
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PERPETUAÇÃO DA JURISDIÇÃO
Não basta que as regras de competência sejam fixadas pela lei; é necessário que se saiba qual, dentre os
vários juízos competentes, será o juízo responsável concretamente pela demanda ajuizada. Portanto, é
necessário que se determine, in concreto, qual o juízo de causa. O modo de determinar-se essa competência é
disciplinada pelo art. 87, CPC.
Art. 87, CPC. Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. São
irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo
quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria ou da
hierarquia.
Ele prevê a perpetuatio jurisdicionis, que consiste na regra a qual a competência fixada no momento da
propositura da demanda - com a sua distribuição ou com o despacho inicial -, não mais se modifica. Trata-se de
uma das regras que compõem o sistema de estabilidade do processo, ao lado de regras como as do arts. 264 e
294, CPC.
Observe que não coincidem a data de propositura da demanda com a data de distribuição (ou do despacho
inicial). Sucede que, sem a distribuição, não é possível saber qual o juízo competente para a causa. Assim, é
preciso atentar para o seguinte: no caso de demanda em que se pleiteia "medida protetiva de urgência", a data
em que se determina a competência, nos termos do art. 87, CPC, não será a da propositura da ação, mas a data
de distribuição (ou do despacho inicial, se na comarca não houver necessidade de distribuição). Mas a data do
início da litispendência para a autora é a data em que demandou perante a autoridade policial.
Mas há exceções: 1. SUPRESSÃO DO ÓRGÃO JUDICIÁRIO (ex: extinção de uma vara cível); 2. ALTERAÇÃO SUPERVENIENTE
DA COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA OU DA HIERARQUIA . O critério em relação à matéria e o critério funcional vertical
são absolutos. E o critério em razão da pessoa, que também absoluto? Entra ou não entra na interpretação
deste dispositivo? Entra! Há quem diga que não, a maioria diz que sim. Mas, por quê? O que se interpreta aí é
que o legislador disse o seguinte: “a perpetuação da competência se dará sempre, exceto se houver: 1. supressão
de órgão judiciário; 2. se for alterada a competência com base em critério absoluto”. Essa é a melhor
interpretação. Dos critérios absolutos, ele fez referência a dois, quais sejam: em razão da matéria e em razão de
critério funcional vertical. Mas, também vale funcional horizontal e em razão da pessoa. É a melhor interpretação
a ser dada.
Aonde vemos exemplos claros disso? Nas Varas da Justiça Estadual, em que a movimentação é pequena
nesse aspecto, não se vê com frequência. Mas vamos imaginar o seguinte: Suponha que entenda o legislador em
criar uma vara aqui em Salvador específica para o julgamento de feitos de falência. Esta Vara será provida por um
juiz, por servidores, móveis, equipamentos, computadores. Esta vara ficará esperando que entre o primeiro feito
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de falência para poder ir para lá, o segundo feito de falência para ir pra lá? Não! Ou pegará todos os processos de
falência existentes nas atuais varas cíveis e encaminhar para ela? Claro! Ou seja, foi criado um órgão julgador
com competência absoluta em razão da matéria e, por conta disso, não se opera aí a chamada perpetuação da
competência, pois em razão da matéria houve alteração.
Em suma, acolhe-se na íntegra uma das sugestões do processualista Edson Ribas Malachini para uma nova
redação da segunda parte do art. 87, CPC, a saber: "São irrelevantes as modificações do estado de fato ou de
direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou atribuírem competência
absoluta a outro órgão".
De acordo com os arts. 251 e 252, CPC, onde houver "mais de um juiz ou mais de um escrivão", os processos
deverão ser sorteados dentre aqueles abstratamente competentes, de forma alternada, com rigorosa atenção ao
princípio da igualdade. Com isso, fixa-se a competência concreta do juízo, transformando a "competência
cumulativa de todos em competência exclusiva de só um dentre todos".
Como é cediço, as regras de distribuição servem para concretizar a competência onde há mais de um juízo e
foram criadas com olhos no princípio do juiz natural - que é, sobretudo, o juiz legalmente competente. Um dos
REQUISITOS para que se tenha um juiz natural é a PRÉVIA FIXAÇÃO DE REGRAS PARA A DIVISÃO INTERNA DE FUNÇÕES E
ATRIBUIÇÕES NOS LOCAIS ONDE HOUVER MAIS DE UM JUÍZO ABSTRATAMENTE PREVISTO COMO COMPETENTE . Concretiza-se, assim,
a competência, de forma equânime sem que se defira às partes a possibilidade de optar pelo órgão julgador de
sua preferência, afinal, o direito ao juiz natural não foi regra fixada no interesse das partes, mas, sim, no interesse
público.
Desse modo, qualquer burla à distribuição significa franca violação ao princípio do juiz natural , às regras
processuais de distribuição e, por consequência, às regras de competência absoluta.
CLASSIFICAÇÃO
O COMPETÊNCIA DE FORO (TERRITORIAL) E COMPETÊNCIA DE JUÍZO
No mesmo local, conforme as leis de organização judiciária, podem funcionar vários juízes com
atribuições iguais ou diversas. Assim, para uma mesma causa, verifica-se primeiro qual o foro
competente, depois o juízo, que é a vara, o cartório, a unidade administrativa. A competência do
juízo é matéria pertinente às leis de organização judiciária. A competência de foro é regulada pelo
CPC.
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Por outro lado, a competência derivada ou recursal é atribuída ao órgão jurisdicional destinado a
rever a decisão já proferida; normalmente, atribui-se a competência derivada ao tribunal, mas há
casos em que o próprio magistrado de primeira instância possui competência recursal, ou até
mesmo os tribunais superiores são passíveis de competência originária (ex: STF como único órgão
competente para julgar quaisquer ações imputadas aos legisladores, após início de mandato).
A incompetência é defeito processual que, em regra, não leva à extinção do processo, mesmo se se
tratar de incompetência absoluta, salvo na excepcionais HIPÓTESES DO INCISO III, ART. 51, LEI N.
9.099/55 (JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS), E DA INCOMPETÊNCIA INTERNACIONAL (arts. 88 e 89, CPC). Convém,
no entanto, observar o que acontece nas hipóteses de incompetência do juízo para processar e
julgar demandas incidentes, como a reconvenção e os embargos de terceiro, por exemplo. A
competência funcional para o julgamento das demandas incidentes é, por força do art. 109, CPC,
do juízo da causa principal. Sucede que é possível que esse juízo não tenha competência objetiva
(em razão da matéria ou da pessoa) para o processamento/julgamento do feito.
FOROS CONCORRENTES
Há situações em que existem vários foros em princípio competentes para o conhecimento e julgamento de
uma demanda; são os foros concorrentes.
Em certos casos, há duas ou três opções (art. 95, segunda parte, CPC; art. 100, parágrafo único, CPC; art.
475-P, parágrafo único, CPC); em outros casos, o número aumenta consideravelmente, como nos casos das ações
coletivas ressarcitórias em razão de dano nacional, litígios internacionais e comunitários.
O autor, diante dessas opções, exercita aquilo que já se denominou como forum shopping: a escolha do foro
pelo demandante. Escolher o foro dentre aqueles em tese competentes é direito potestativo do autor. É
absolutamente natural que, havendo vários foros competentes, o autor escolha aquele que acredita ser o mais
favorável aos seus interesses. O problema é conciliar o exercício desse direito potestativo com a proteção da boa-
fé. Essa escolha não pode ficar imune à vedação ao abuso de direito, que é exatamente o exercício do direito
contrário à boa-fé. Vale ressaltar que a exigência de uma competência adequada é um dos corolários dos
princípios do devido processo legal, da adequação e da boa-fé. Pode-se inclusive falar em um princípio da
competência adequada.
Para garantir a efetivação de todos esses princípios, embora sem sistematização e com uma fundamentação
difusa, surgiu uma doutrina que serviu como freio jurisprudencial a essas escolhas abusivas. A ela deu-se o nome
de forum non conveniens. Justamente, para evitar abusos, desenvolveu-se uma regra de temperamento,
conhecida como forum non conveniens, que deixa ao arbítrio do juízo acionado a possibilidade de recusar a
prestação jurisdicional se entender comprovada a existência de outra jurisdição invocada como concorrente e
mais adequada para atender aos interesses das partes, ou aos reclamos da justiça em geral.
A exigência de adequada fundamentação é a forma de resolver esse conflito de segurança jurídica (regras
apriorísticas de competência) e a justiça do caso concreto (impedir o abuso de direito).
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL
O poder de julgar do magistrado tem suas raízes na Constituição. Por isso mesmo se diz que ela é a fonte do
poder jurisdicional. Só nos limites nela fixados está o juiz investido do poder de julgar. Constitucionalmente, o
poder de julgar foi repartido entre as chamadas jurisdições especiais e a comum - remanescente. A investidura
dos órgãos dessas jurisdições já lhes confere poder de julgar limitado constitucionalmente, de sorte que o
exercício de suas atividades fora dos limites traçados na carta importa um defeito de competência. O que façam
ou realizem fora dos limites constitucionais é, em tudo e por tudo, semelhante à atividade do juiz,
consequentemente, ato inválido juridicamente, do ponto de vista processual.
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COMPETÊNCIA INTERNACIONAL
Um sistema jurisdicional de um país pode pretender julgar quaisquer causas que sejam propostas perante os
seus juízes. No entanto, o poder de tornar efetivo aquilo que foi decidido sofre limitações, porque existem outros
Estados, também organizados, e que não reconheceriam a validade da sentença em seu território, não
permitindo, pois, a sua execução.
Portanto, a competência internacional visa delimitar o espaço em que deve haver jurisdição, na medida em
que o Estado possa fazer cumprir soberanamente as suas sentenças. É o chamado princípio da efetividade, que
orienta a distribuição da competência internacional, segundo o qual o Estado deve abster-se de julgar se a
sentença não tem como ser reconhecida onde deve exclusivamente produzir efeitos. Além disso, não seria
conveniente ocupar os órgão jurisdicionais com questões que não se liguem a seu ordenamento jurídico.
Para que não houvesse conflitos entre os Estados, no caso de uma jurisdição ilimitada, que não
reconhecesse outras decisões, ou sendo indiferente às nacionalidades, fez-se necessário estipular uma espécie de
limitação espacial da jurisdição. É a limitação da jurisdição de um Estado em face de outros. A competência
internacional brasileira diz quais as causas que deverão ser conhecidas e decididas pela justiça brasileira. Ela está
prevista no art. 12, LIDB, e nos arts. 88 e 89, CPC.
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Itinerário proposto por Ada Pellegrini Grinover, Cândido Dinamarco e Antônio Carlos Araújo Cintra:
a) verificar qual a justiça competente;
b) verificar se a competência é de tribunal ou de juízo monocrático;
c) verificar a competência de foro (comarca, seção, distrito, etc.);
d) verificar o juízo competente (vara, órgão fracionário de tribunal, etc.);
e) verificar o juiz competente, a competência interna na vara ou no órgão colegiado;
f) verificar a competência recursal para a referida causa.
O OBJETIVO
É aquele pelo qual se leva em consideração a demanda apresentada ao Poder Judiciário como o dado
relevante para a distribuição da competência. Portanto, é fundamental o conhecimento dos
elementos da demanda para a correta compreensão deste critério: partes, pedido e causa de
pedir.
EM RAZÃO DA PESSOA
A fixação da competência tendo em conta as parte envolvidas (rationae personae). O
principal exemplo dessa é o da vara privativa da Fazenda Pública, criada para processar e
julgar causas que envolvam entes públicos.
Cabe lembrar o enunciado n. 206 da súmula do STJ: "A existência de uma vara privativa,
instituída por lei estadual, não altera a competência territorial resultante das leis do
processo". O entendimento jurisprudencial é muito importante para esclarecer uma questão
prática muito corriqueira: o Estado, uma vez demandando em comarca em que não há vara
privativa, costuma alegar a incompetência territorial, sob o fundamento de que ele deveria
ser demandado em comarca onde houvesse vara privativa. A alegação do Estado, nesta
situação, não tem fundamento. A existência de vara privativa implica que, na comarca onde
ela existir, as causas contra a Fazenda Pública devem ser perante ela ajuizadas. Não significa
que todas as causas contra a mesma devem ser lá processada; não se trata de um juízo
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universal. Se na comarca não há vara privativa, a demanda contra o Estado deve ser
processada na vara que para tanto tiver competência (ex: uma vara comum).
EM RAZÃO DA MATÉRIA
É determinada pela natureza da relação jurídica controvertida, definida pelo fato jurídico que
lhe dá causa. Assim, é a causa de pedir, que contém a afirmação do direito discutido, o dado
a ser levado em consideração para a identificação do juízo competente. É com base neste
critério que as varas de família, cível, penal etc. são criadas.
O TERRITORIAL
Os órgãos jurisdicionais exercem jurisdição nos limites das suas circunscrições territoriais. A
competência territorial é a regra que determina em que território a causa deve ser processada.
Trata-se, em regra, de competência relativa, derrogável pela vontade das partes.
A REGRA GERAL DE COMPETÊNCIA TERRITORIAL É O DOMICÍLIO DO RÉU , para as demanda pessoais e para as
demandas reais imobiliárias (art. 94, CPC). SE O RÉU TEM MAIS DE UM DOMICÍLIO , fica a critério do
autor demandar em qualquer deles. Por outro lado, SE O RÉU É DE DOMICÍLIO INCERTO OU
DESCONHECIDO, poderá ser demandado no foro do domicílio onde for encontrado ou no foro do
domicílio do autor (art. 94, §2º, CPC). Nesse sentido, SE O RÉU ESTIVER DOMICILIADO NO EXTERIOR, a
ação será proposta por foro do domicílio do autor. Mas, SE ESSE (AUTOR) TAMBÉM RESIDIR FORA DO
BRASIL, poderá ser proposta em qualquer lugar (art. 94, §3º, CPC). Por fim, SE HOUVER VÁRIOS RÉUS
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COM DOMICÍLIOS DIFERENTES , serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor (art.
94, §4º, CPC).
Todavia, há FOROS ESPECIAIS que merecem expressa referência. O CDC determina que o foro
competente para a distribuição das relações de consumo é o do domicílio do autor-consumidor
(art. 101, inciso I, CDC). É regra que beneficia o consumidor, mas não se trata de regra de
competência absoluta, dela podendo abrir mão o beneficiário, elegendo a regra geral, que é a do
domicílio do demandado.
No entanto, o Estatuto do Idoso, inclusive, no art. 80, determina a COMPETÊNCIA ABSOLUTA DO DOMICÍLIO
DO IDOSO PARA AS CAUSAS DE QUE CUIDA O CAPÍTULO EM QUE O ARTIGO ESTÁ INSERIDO . Essa referência tem
que ser interpretada como se dissesse respeito apenas às causas coletivas. NO ÂMBITO INDIVIDUAL,
O IDOSO TERÁ O BENEFÍCIO, assim como alimentando, DE DEMANDAR E SER DEMANDADO EM SEU DOMICÍLIO,
MAS SE TRATA DE HIPÓTESE DE COMPETÊNCIA RELATIVA.
O CPC estabelece (art. 95) a regra geral para as ações reais imobiliária: competente será o juízo da
situação da coisa, forum rei sitae. Estabelece-se, porém, foros concorrentes: domicílio do réu ou
foro de eleição, cabendo a escolha do autor. No entanto, essa escolha não será possível nos casos
de DEMANDAS QUE VERSEM SOBRE DIREITO DE PROPRIEDADE, vizinhança, servidão, posse, nunciação de
obra nova, divisão e demarcação de terras. Nesses casos, A COMPETÊNCIA É TERRITORIAL ABSOLUTA.
(salvo em hipóteses de ações paulianas, edilícias e ex empto, pois constituem natureza pessoal,
mesmo se disserem respeito a imóveis).
O art. 96, CPC, cuida do foro de sucessão ou do "de cujus". A REGRA GERAL É A DE QUE O FORO DE
DOMICÍLIO DO AUTOR DA HERANÇA, NO BRASIL, é competente para o inventário, a partilha, a
arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade e todas as ações em que o espólio
for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro. Trata-se de COMPETÊNCIA RELATIVA. Por
outro lado, vale ressaltar QUE QUANDO O ESPÓLIO FOR RÉU EM LITÍGIOS SOBRE DIREITO DE PROPRIEDADE e as
demais relações citadas acima, o foro é de competência do domicílio da coisa, e não o do autor da
herança, pois aquele prevalece sobre esse. SE O DE CUJUS NÃO TINHA DOMICÍLIO CERTO, o foro será o da
situação dos bens (art. 96, parágrafo único, CPC), ou, SE HOUVER BENS EM DIVERSAS LOCALIDADES,
competente será o foro do lugar em que ocorreu o óbito (art. 96, parágrafo único, inciso II, CPC).
Nas ações em que o ausente for réu, o foro será o do seu último domicílio (art. 97, CPC). Da mesma
maneira do que ocorre com o caso acima, em se tratando das ações enumeradas no art. 95, a
competência será a do foro da situação da coisa, que é absoluta na maior parte dos casos.
Nas ações contra incapaz, competente será o foro do domicílio do seu representante (art. 98, CPC;
art. 76, parágrafo único, CC).
Nas ações em que se pedem alimentos, será o foro competente para apreciá-la do domicílio ou
residência do alimentando, inclusive, quando cumulada com a investigação de paternidade.
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O FUNCIONAL
Relaciona-se com a distribuição das funções que devem ser exercidas em um mesmo processo.
Toma-se por critério de distribuição aspectos endoprocessuais (internos), relacionados ao
exercício das diversas atribuições que são exigidas do magistrado durante toda a marcha
processual.
Vicente Greco Filho sistematizou muito bem a competência funcional, que pode ser:
a) por graus de jurisdição (originário ou recursal);
b) por fases do processo (ex: cognição e execução);
c) por objeto do juízo: uniformização da jurisprudência, declaração de inconstitucionalidade
em tribunal e etc.
A distribuição da competência funcional pode ser visualizada em uma perspectiva horizontal (na
mesma instância, como ocorre no caso de reconhecimento de inconstitucionalidade em tribunal)
ou em uma perspectiva vertical (em instância diversas, como ocorre com a divisão da
competência originária e da competência derivada).
A Lei Federal n. 8.637 reescreveu o art. 132, CPC, com o objetivo de manter o princípio da identidade física do juiz,
desde que restrito ao magistrado que concluir a audiência. Impõe, com isso, hipótese de competência funcional e,
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pois, absoluta. Observe que a vinculação do juiz ao processo exige o preenchimento de alguns requisitos: 1. o juiz
deve ter concluído a audiência de instrução e julgamento (não basta ter concluído a audiência de conciliação); 2. ter
havido colheita de prova oral; 3. não estiver o juiz, por qualquer motivo, afastado, removido, promovido,
aposentado ou impedido.
O desrespeito à regra implica invalidade, pois fere norma que impõe regra cogente de competência. É hipótese,
inclusive, que autoriza ajuizamento de ação rescisória (art. 485, inciso II, CPC).
MODIFICAÇÕES DA COMPETÊNCIA
Dar-se-á a modificação/prorrogação de competência quando se amplia a esfera de competência de um
órgão judiciário para conhecer cartas causas que não estariam, ordinariamente, compreendidas em suas
atribuições jurisdicionais. SÓ HÁ MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA RELATIVA: arts. 102 e 114, CPC.
Há casos de modificação legal (conexão e continência) e voluntária (foro de eleição e não oposição de
exceção de competência) da competência.
O FORO DE ELEIÇÃO
ART. 111, CPC
A competência relativa pode ser derrogada pela vontade das partes, que elegerão o foro onde serão
propostas as ações oriundas de direitos e obrigações. O que se elege é o foro, não o juízo. Trata-
se de norma que dá aplicação ao dispositivo no art. 78, CC. É um caso de prorrogação voluntária
da competência, assim como a não oposição de exceção de competência. O acordo há de constar
de negócio escrito, aludindo expressamente a determinado negócio jurídico. Anote-se, nessa
linha, que não há qualquer óbice à eleição de mais de um foro pelas partes contratantes (ex: um
foro para a hipótese de ser parte autora o contratante "A" e outro para o caso de o demandante
ser o contratante "B"). Nada impede ainda que em um mesmo negócio jurídico haja a eleição do
foro, competente para futura execução da sentença arbitral ou para a demanda por medidas
urgentes, e a convenção de arbitragem.
O CONEXÃO E CONTINÊNCIA
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CONEXÃO é uma relação de semelhança entre demandas, que é considerada pelo direito positivo
como apta para a produção de determinados efeitos processuais. Ela pressupõe demandas
distintas, mas que mantêm entre si algum nível de vínculo. No processo civil, normalmente
reputa-se conexas demandas que possuem identidade de algum dos elementos objetivos (pedido
ou causa de pedir) idênticos. Cogita-se de conexão até mesmo quando o vínculo entre demandas
se estabelece pela semelhança do objeto da prova (conexão probatória).
É possível falar de conexão para modificação de competência, que se baseie em certo nível de
vinculação entre as demandas, e de conexão como pressuposto para a reconvenção, que se
verifica a partir do preenchimento de pressupostos diferentes. A conexão é o fato jurídico
processual que normalmente produz o efeito jurídico de determinar a modificação da
competência relativa, de modo a que um único juízo tenha competência para processar e julgar
todas as causas conexas.
Ela tem por objetivo promover a economia processual e evitar a prolação de decisões contraditórias.
A reunião das causas em um mesmo juízo é o efeito principal e desejado, exatamente porque ele
atende muito bem às funções de conexão. Portanto, segundo o art. 105, CPC, o juiz pode reunir
os processos em se tratando de ações conexas. Na verdade, SE HOUVER CONEXÃO, ALIADA AO RISCO DE
DECISÕES CONTRADITÓRIAS E A POSSIBILIDADE DE REUNIÃO, O MAGISTRADO DEVE REUNIR OS PROCESSOS, POIS SE
TRATA DE NORMA PROCESSUAL COGENTE. Ela é fato que ATRIBUI AO ÓRGÃO JURISDICIONAL UMA COMPETÊNCIA
ABSOLUTA, por isso ele pode conhecer de ofício desta alteração de competência.
O legislador brasileiro optou por conceituar conexão no art. 103, CPC: "Reputam-se conexas duas ou
mais ações, quando lhes for comum o objeto ou a causa de pedir". Optou também por conceituar
continência: "Dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre há identidade quanto às
partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras".
Observe que o conceito de continência, curiosamente, está contido no conceito de conexão, pois
para que haja continência, é necessária a identidade de causa de pedir, e se isso ocorre, já é caso
de conexão. Nesse diapasão, a continência é exemplo de conexão, sem qualquer tratamento
jurídico diferenciado, razão pela qual a partir de agora só nos referiremos à conexão como
gênero.
A principal crítica que a doutrina faz sobre o art. 103, CPC, é a da sua insuficiência: o legislador optou
por um conceito bastante restrito de conexão, que, em sua literalidade, não abrange diversas
situações em que ela certamente ocorre. A mesma flexibilidade do conceito é vista na
jurisprudência. há julgados que admitem que "quando duas ações têm fundamento num mesmo
contrato, há identidade de causas e, pois, conexão" (ex: ação para o cumprimento e ação para
anulação do contrato).
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Na prática e na jurisprudência, aceita-se a teoria materialista: "Se são conexas as causas que derivam
de uma mesma relação jurídica material, então é consequência do vínculo de conexão que os
julgados sejam uniformes". Mas ainda assim não é suficiente. É certo que a solução do problema
passa pelo exame da relação jurídica discutida nos processos: se for a mesma, ainda que posta
sob perspectivas diversas, há conexão. Mas também há conexão quando dois processos discutam
relações jurídicas distintas, mas que estejam vinculadas (por prejudicialidade ou preliminariedade
- se uma causa é prejudicial/preliminar a outra, há conexão e a reunião se exige, respeitados os
limites impostos para qualquer reunião).
A conexão, assim, surge do vínculo que se estabelece entre o objeto litigioso (âmbito substancial,
direito material) de duas ou mais causas.Trata-se de concepção mais abrangente e afinada com a
finalidade própria do instituto da conexão: a partir da reunião de causas "semelhantes", evitar
decisões contraditórias e racionalizar o trabalho do Poder Judiciário, com a economia de energias
processuais.
Ao afirmar a ocorrência de uma hipótese de modificação de competência, parte0se da premissa de que o órgão
jurisdicional é competente, mas, em razão da prorrogação da competência, deve a causa ser remetida a outro órgão
jurisdicional, o prevento (é nisso que consiste a modificação). Quando se aponta incompetência relativa, nega-se, de
logo, que o magistrado tenha competência para conduzir a causa, pedindo-se a remessa dos autos ao juízo
competente. Perceba que o órgão jurisdicional pode, ex officio, conhecer da modificação legal da competência
relativa (conexão e continência), mas não pode conhecer de ofício da incompetência relativa.
A competência que surge para o juízo prevento tem natureza absoluta (funcional), sendo essa a razão pela qual é
possível o conhecimento ex officio da conexão/continência: ao autorizar a modificação da competência, surge uma
hipótese de competência absoluta do órgão jurisdicional prevento, que justifica, inclusive, a quebra de perpetuação
da jurisdição. A modificação legal da competência é questão que transcende o interesse das partes, indisponível,
portanto, na medida em que se relaciona com a economia processual e serve para minimizar os riscos de
desarmonia das decisões.
O PREVENÇÃO
É critério para exclusão dos demais juízos competentes de um mesmo foro ou tribunal. A prevenção
NÃO É FATOR DE DETERMINAÇÃO DE COMPETÊNCIA. Por força da prevenção, permanece apenas a
competência de um entre vários juízes competentes, excluindo os demais. Ela funciona como
mecanismo de integração em casos de conexão: é o instrumento que se saiba em qual juízo serão
reunidas as causas conexas.
O CPC traz duas regras de prevenção, que não se excluem, pois cada qual cuida de uma situação
específica: 1. se a conexão se der em juízos de comarcas diversas, prevento será aquele em que
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tenha havido a primeira citação válida (art. 219); 2. se a conexão se der em juízos de mesma
comarca, prevento será o juízo que despachou em primeiro lugar (art. 106).
CONFLITO DE COMPETÊNCIA
É o fato de dois ou mais juízes se darem por competentes (conflito positivo, art. 115, inciso I) ou
incompetentes (conflito negativo, art. 115, inciso II) para o julgamento da mesma causa ou de mais de uma causa
(em caso de reunião por conexão, art. 115, inciso III). Deve ser dirimido para que apenas um seja declarado
competente e possa julgar a(s) causa(s). É possível que surja também, na aplicação do princípio da identidade
física do magistrado.
Conforme o enunciado n. 59 da súmula do STJ, não se pode cogitar de conflito se já tiver havido julgamento
de uma das causas. Também não há conflito se entre os juízos houver diferença hierárquica, prevalecendo o
posicionamento do juízo hierarquicamente superior, por exemplo: não há conflito entre o STF e qualquer outro
juízo, entre STJ e TRF/TJ, entre TJ e Tribunal de Alçada, entre TJ/ TRF e juiz estadual/federal a ele vinculado etc. É
possível, porém, que surja conflito entre um tribunal e um juiz a ele não vinculado.
A competência para julgar o conflito de competência será sempre de um tribunal.
O STF tem competência sempre que, no conflito, estiver envolvido um tribunal superior. Os TJs e os TRFs
devem processar e julgar conflitos de competência que envolvem juízes a eles vinculados. Se o conflito envolver
juízes vinculados a tribunais diversos, a competência será do STJ.
As demais hipóteses de conflito são da competência do STJ. Nota-se que se a discussão envolver tribunal e
juiz a ele vinculado, não se pode falar propriamente de conflito, pois deve prevalecer a orientação determinada
pelo mesmo tribunal.
A petição do incidente deverá ser dirigida ao tribunal competente para apreciar o conflito. Em sendo positivo
o conflito, deverá o relator suspender o processo, a fim de se evitarem atos inúteis. Por óbvio, quando o conflito
for negativo, não se aplicará a norma, porque nenhum juiz estará praticando qualquer ato. O relator deverá
sempre nomear um dos juízes para praticar atos urgentes (art. 120, CPC).
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