Você está na página 1de 7

DIREITO PROCESSUAL CIVIL II

HEGEL RIBEIRO DO CARMO

EFEITOS RECURSAIS NOS RECURSOS DE NATUREZA


EXTRAORDINÁRIA

Manhuaçu
2024
HEGEL RIBEIRO DO CARMO

EFEITOS RECURSAIS NOS RECURSOS DE NATUREZA


EXTRAORDINÁRIA

Trabalho apresentado ao Curso de Direito – Faculdade


Doctum de Manhuaçu, para a obtenção parcial de notas
para o semestre.

Professor: Leandro Araújo Cabral de Melo.

Manhuaçu
2024
Efeito suspensivo
O efeito suspensivo é uma característica de alguns recursos judiciais que impede a
produção imediata dos efeitos de uma decisão que está sendo contestada. Este efeito não é
resultado da interposição do recurso em si, mas da possibilidade de recorrer prevista em lei.
Isso significa que, mesmo antes de o recurso ser interposto, a decisão contestada permanece
ineficaz, e a interposição do recurso apenas prolonga essa condição de ineficácia. O efeito
suspensivo perdura até o julgamento do recurso pelo tribunal.
É importante destacar que o efeito suspensivo do recurso não impede a constituição
da hipoteca judiciária, conforme previsto no artigo 495, §1°, III, do Código de Processo Civil
(CPC). No direito brasileiro, todo recurso pode ter efeito suspensivo, mas alguns recursos têm
efeito suspensivo automático por determinação legal, como a apelação e o recurso especial ou
extraordinário interposto contra decisão que julga incidente de resolução de demandas
repetitivas. No entanto, a regra geral é que o recurso não tenha efeito suspensivo automático,
sendo necessário que o recorrente solicite ao relator do recurso que conceda o efeito
suspensivo, desde que preenchidos os pressupostos legais. Em casos de decisões com
múltiplos capítulos, o recurso pode ter efeito suspensivo em relação a um capítulo e não em
relação a outro, como no caso de uma sentença que confirma uma tutela provisória parcial.
O efeito suspensivo pode ser aplicado em recursos de natureza extraordinária, como o
Recurso Especial. Isso é uma exceção à regra geral estabelecida no artigo 542, §2º, do Código
de Processo Civil (CPC), que prevê que o Recurso Especial só deve ser recebido no efeito
devolutivo. Essa possibilidade de atribuição de efeito suspensivo ao Recurso Especial é
reconhecida tanto pela doutrina quanto pela jurisprudência, desde que presentes os
pressupostos para a concessão de medidas cautelares, tais como o fumus boni iuris (fumaça do
bom direito) e o periculum in mora (perigo da demora).
Um exemplo de jurisprudência que reconhece essa possibilidade é uma decisão
proferida pela Ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no Mandado de
Segurança MC 13.208/PR, onde ela discorre sobre a admissibilidade da concessão de efeito
suspensivo a Recurso Especial para sustar a execução provisória da decisão recorrida. Essa
decisão foi publicada no Diário de Justiça em 24/09/2007.
Além disso, o entendimento sobre a aplicação do efeito suspensivo ao Recurso
Especial é reforçado por diversas decisões de ministros do STJ, como Benedito Gonçalves,
Massami Uyeda, Denise Arruda e Luiz Fux, que destacam a necessidade de proteger a parte de
prejuízos irreparáveis decorrentes da execução provisória da decisão enquanto o recurso
extraordinário ainda está pendente de julgamento. Portanto, apesar da regra geral
estabelecida pelo CPC, a aplicação do efeito suspensivo aos recursos de natureza
extraordinária, como o Recurso Especial, é admitida em casos excepcionais, desde que
presentes os requisitos para a concessão de medidas cautelares.

Efeito devolutivo
O efeito devolutivo em recursos legais implica revisar uma decisão. Historicamente,
remonta à época em que um imperador ou governante delegava poderes, incluindo o de
julgar, a juízes. Quando uma decisão prejudicava uma parte, esta recorria ao imperador, que
então devolvia o poder de julgar para considerar o recurso. Esse fenômeno, chamado de efeito
devolutivo, inicialmente era visto apenas em recursos enviados a autoridades superiores. No
entanto, atualmente, entende-se que todo recurso tem esse efeito, transferindo o julgamento
para outro órgão.
O efeito devolutivo é analisado em duas dimensões: extensão e profundidade. A
extensão define o que será considerado pelo órgão de julgamento, enquanto a profundidade
determina as questões a serem examinadas para decidir sobre o mérito do recurso. Isso
significa que o tribunal pode examinar todas as questões levantadas no processo, desde que
relacionadas ao que está sendo contestado no recurso.
Um exemplo dado é quando um juiz decide com base em um fundamento, mas não
aborda outro. Nesse caso, o recurso do réu pode devolver ao tribunal o conhecimento de
ambos os fundamentos do pedido do autor. No entanto, o tribunal só pode considerar o que
está dentro dos limites do recurso apresentado.
Um julgamento do Supremo Tribunal Federal destaca que o efeito devolutivo permite
que o tribunal analise todas as questões impugnadas, mas apenas dentro dos limites
estabelecidos pelo recurso. Isso significa que o tribunal não pode revisar questões não
contestadas no recurso. Essa prática garante a integridade do processo legal e evita a
reabertura de questões já decididas.
Citação do STF: "O órgão recursal terá plena liberdade para análise das questões de
fato e de direito debatidas na causa, inclusive as de ordem pública, desde que se restrinja aos
limites da parcela impugnada do conteúdo decisório da sentença." (AC 112/RN, Min. Cezar
Peluso).

Efeito regressivo ou efeito de retratação


O efeito regressivo, também conhecido como efeito de retratação, permite que o
próprio juiz responsável pela decisão revisada possa alterá-la. Esse fenômeno ocorre quando é
aberto um juízo de retratação ao órgão prolator da decisão. O efeito regressivo é comumente
observado em alguns recursos, como o agravo, sendo a regra nesses casos.
Por exemplo, a apelação geralmente não possui esse efeito, exceto em circunstâncias
específicas. O juiz pode revogar sua própria sentença e ordenar o prosseguimento do processo
em primeira instância em resposta a uma apelação, em casos como:
a) Apelação contra uma sentença liminar de improcedência da demanda, conforme o Artigo
285-A, 1º, do CPC, onde o juiz pode decidir, no prazo de cinco dias, não manter a sentença e
determinar o prosseguimento da ação;
b) Apelação contra uma sentença que indefere a petição inicial, de acordo com o Artigo 296 do
CPC, onde o juiz tem 48 horas para reformar sua decisão, caso contrário, os autos serão
encaminhados imediatamente ao tribunal competente.
Essas são as únicas situações em que o juiz pode alterar sua própria sentença antes da
citação do réu, demonstrando o efeito regressivo em ação.

Efeito expansivo
É a possibilidade do tribunal, ao julgar um recurso, proferir decisão mais abrangente
do que a matéria impugnada pelo recorrente. Ou seja, a decisão pode ter efeitos que vão além
do que foi pedido no recurso.
Tipos de efeito expansivo:
Objetivo:
 Interno: quando a modificação da decisão recorrida gera incompatibilidade com a
anterior. Ex: anulação de sentença por falta de pressupostos processuais torna
prejudicada a fixação de honorários.
 Externo: quando os efeitos do julgamento atingem outros atos do processo além da
decisão recorrida. Ex: provimento a agravo de instrumento que indeferiu prova pericial
rescinde a sentença e todos os atos processuais posteriores.
Subjetivo:
Quando as consequências do provimento do recurso afetam os sujeitos do processo, não os
atos processuais. Ex: recurso interposto por um litisconsorte unitário aproveita os demais,
mesmo que não tenham recorrido (art. 509 do CPC).
Em regra, a interposição do recurso produz efeitos apenas para o recorrente (princípio
da personalidade do recurso).
Há casos, porém, em que o recurso interposto por uma parte produz efeitos em
relação a outra.
a) O recurso interposto por assistente simples é eficaz em relação ao
assistido, conforme se viu em item acima (art. 121, par. Uri., CPC).
b) O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se
distintos ou opostos os seus interesses (art. 1.005, CPC). A regra somente
se aplica ao litisconsórcio unitário; no caso de litisconsórcio simples, não há
a extensão desse efeito - sobre o tema, ver o capítulo sobre litisconsórcio,
no v. 1 deste Curso.
c) Convém lembrar, porém, que, por opção legislativa, o recurso interposto
por um devedor solidário estende os seus efeitos aos demais, quando
tratar de defesa comum (art. 1.005, par. Uri., CPC). Isso ocorrerá mesmo
não sendo unitário o litisconsórcio, pois a solidariedade pode implicar
litisconsórcio unitário ou simples, a depender da divisibilidade ou não do
bem jurídico envolvido (arts. 257 a 263, Código Civil).
Há um precedente interessante do STJ a respeito desse tema. Trata-se de caso em que
o STj admitiu a expansão subjetiva da eficácia de recurso a litisconsorte simples (não unitário,
pois). O caso era de litisconsórcio simples por afinidade - era um litisconsórcio que decorria da
homogeneidade das situações jurídicas - várias sociedades de advogados que discutiam com o
município do Rio de janeiro uma questão tributária. O fundamento do STJ foi o princípio da
igualdade - a solução teria de ser a mesma para todos, mesmo que uma das partes não
houvesse recorrido. A decisão pareceu bem casuística, sem fundamentação suficiente para
superar entendimento tão consolidado sobre a regra que foi, aliás, reproduzida no texto do
art. 1.005 do CPC - consolidação essa referida na fundamentação do acórdão. A não
interposição de recurso por um litisconsorte simples é ato que pode decorrer de uma
específica estratégia da parte. Estender a ela a decisão de um recurso interposto por outra
parte, com quem se relaciona apenas por afinidade, não parece, realmente, solução autorizada
pelo nosso ordenamento que, no particular, se submete ao princípio dispositivo
d) Os embargos de declaração interpostos por uma das partes interrompem o
prazo para a interposição de outro recurso para ambas as partes, e não
apenas para aquela que embargou (art. 1.026, caput, CPC).
e) A interposição de embargos de divergência no STJ interrompe, para ambas
as partes, o prazo para a interposição de recurso extraordinário (art. 1.044,
§r, CPC).
Efeito translativo
O professor Nelson Nery Júnior introduziu o conceito do efeito translativo na
doutrina nacional, que se assemelha à dimensão horizontal do efeito devolutivo conforme
tratado por José Carlos Barbosa Moreira, conforme explicado pela professora Teresa Arruda
Alvim Wambier. Embora Nelson Nery Júnior não o reconheça nos recursos extraordinários, sua
definição é aceita na doutrina e jurisprudência. O efeito devolutivo, inerente aos recursos,
permite à parte recorrente estabelecer os limites do julgamento do tribunal. O efeito
translativo, aplicável a questões de ordem pública processual, representa um acréscimo ao
efeito devolutivo, deixando algumas questões fora do controle das partes, conforme
determinado pelo legislador. Além disso, algumas questões podem ser conhecidas de ofício
pelo juízo, independentemente da manifestação das partes.
A Súmula 211 do Superior Tribunal de Justiça (STJ) estabelece que não é possível
interpor recurso especial caso uma questão não tenha sido analisada pelo tribunal de origem,
mesmo após a interposição de embargos declaratórios. Isso reforça a importância de que
todas as questões relevantes sejam devidamente consideradas pela instância inicial para evitar
omissões que possam ser objeto de recurso.
Por sua vez, a Súmula 356 do Supremo Tribunal Federal (STF) determina que uma
questão omitida na decisão, e que não foi objeto de embargos de declaração, não pode ser
alvo de recurso extraordinário, pois falta o requisito do prequestionamento. Essa súmula
destaca a necessidade de abordar e enfrentar todas as questões importantes nos tribunais de
origem, evitando assim a discussão posterior em instâncias superiores.
Na apelação referente ao processo XXXXX-73.2013.8.26.0576, julgado em 29/08/2014
e relatado pela juíza Maria Lúcia Pizzotti, foi discutido o efeito translativo, onde o tribunal
decide pelo conhecimento do recurso mesmo sem menção explícita às razões de fato e
fundamento. Nesse caso, foram debatidas questões como a regularidade da notificação
extrajudicial, sua validade e a interpretação legal proferida pelo STJ em um recurso repetitivo,
que prevaleceu sobre uma decisão administrativa do CNJ.
Adicionalmente, o tribunal considerou a regularidade da petição inicial e a inexistência
de inépcia, fundamentando a anulação da sentença para regular o processamento da
demanda.
Assim, a aplicação do efeito translativo da apelação permitiu que questões de ordem
pública fossem discutidas e decididas, mesmo que não tivessem sido abordadas
especificamente pelas partes no recurso de apelação. Esse mecanismo assegura uma análise
completa e imparcial dos casos, garantindo que nenhum aspecto relevante seja negligenciado.

Você também pode gostar