Você está na página 1de 7

63

Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro


TRIBUNAL DE JUSTIÇA
2ª CÂMARA CÍVEL
==============================================================

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0008678-33.2022.8.19.0000

AGRAVANTE: COMPANHIA ESTADUAL DE AGUAS E ESGOTOS CEDAE


AGRAVADO: CONDOMINIO DO EDIFICIO LUCIA MARIA
RELATOR: DES. PAULO SÉRGIO PRESTES DOS SANTOS
Juízo de Direito da 10ª Vara de Fazenda Pública da Comarca da Capital. Juiz:
Luiz Otavio Barion Heckmaier
Proc.originário: 0080350-65.2003.8.19.00

ACÓRDÃO

AGRAVO DE INSTUMENTO. DECISÃO QUE


ACOLHEU EM PARTE A EXECUÇÃO E FIXOU O
VALOR DO CRÉDITO EXEQUENDO EM R$
125.549,85. LEGITIMIDADE DA CONCESSIONÁRIA
PARA FIGURAR NO POLO PASSIVO DA
EXECUÇÃO. CLÁUSULA DÉCIMA-PRIMEIRA DO
TERMO DE DIREITOS E OBRIGAÇÕES QUE
ESTABELECE A RESPONSABILIDADE DA
AGRAVANTE EM RELAÇÃO ÀS AÇÕES
AJUIZADAS ANTERIORMENTE À ASSINATURA
DO SOBREDITO TERMO. JUROS E CORREÇÃO
MONETÁRIA DEVIDAMENTE FIXADOS NO
CÁLCULO. AGRAVO DE INSTRUMENTO
DESPROVIDO.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento n.º


0008678-33.2022.8.19.0000, em que é Agravante: COMPANHIA ESTADUAL DE
AGUAS E ESGOTOS, e Agravado CONDOMINIO DO EDIFICIO LUCIA MARIA.

ACORDAM os Desembargadores que compõem a Segunda Câmara Cível, em


CONHECER O AGRAVO DE INSTRUMENTO E NEGAR-LHE PROVIMENTO, por
unanimidade, na forma do voto do Relator.

RELATÓRIO

Agravo de instrumento nº 0008678-33.2022.8.19.0000


RM
1

PAULO SERGIO PRESTES DOS SANTOS:9661 Assinado em 22/08/2022 19:39:06


Local: GAB. DES PAULO SERGIO PRESTES DOS SANTOS
64

Trata-se de Agravo de Instrumento interposto em face da seguinte decisão


(fls.1.533/1.535 dos autos originários):

“(...)
Conforme concluiu a sentença contida no index 396,
transitada em julgado (índice 780), a ré foi condenada "ao
pagamento de indenização pela utilização do sistema de
esgoto da autora e da correlata tubulação" ante à evidência
de ser a parte demandante "obrigada a arcar com os custos
de uma manutenção bastante frequente por força,
em grande parte, da utilização de seus
equipamentos pelo esgoto lançado pela favela, o que
certamente acarreta despesas maiores do que se o
tratamento do esgoto fosse apenas o do condomínio",
cabendo destacar que naquela oportunidade restou afastada
a pretensão de responsabilização do Município do Rio de
Janeiro pela implantação da rede de esgoto.
O termo de reconhecimento recíproco de obrigações
foi celebrado entre a Impugnante e o
Município do Rio de Janeiro é restrito a essas pessoas
jurídicas, de modo que não altera a coisa julgada deste
processo, em que a obrigação de fazer foi imposta a CEDAE.
Ao contrário do que alega a impugnante, não houve
alteração da matéria de fato, eis que as instalações do
impugnado continuam sendo utilizadas para o escoamento
do esgoto produzido pela comunidade Santo Amaro. Sequer
houve pedido de nova perícia para atestar a alegada
alteração.
Ademais, não há controversa a ser dirimida quanto ao
período a ser considerado para fins de indenização, qual
seja, julho/2021 (index 1.419) - data de elaboração da
planilha cuja prévia ciência foi dada ao executado -,
admitindo o devedor que não realiza o pagamento pela
utilização do sistema de esgoto do autor.
Em relação ao alegado excesso de execução, na sentença da
fase de conhecimento não houve a determinação de
aplicação do IGPM como índice de atualização da prestação
a cargo da CEDAE.
Não se pode utilizar índice de atualização de contratos de
locação (IGPM) para obrigação de fazer prevista em título
executivo judicial a cargo da impugnante, sem que o

Agravo de instrumento nº 0008678-33.2022.8.19.0000


RM
2
65

referido título determine expressamente a aplicação do


índice IGPM. Ademais, o impugnado aplicou de forma
cumulada o IGPM com o índice de correção monetária
adotado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro, o que configura bis in idem.
Desta forma, as parcelas vencidas devem ser atualizadas
pelo índice de correção monetária adotado pelo Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro, além de juros de mora
de 1% (um por cento) ao mês.
Por conseguinte, adota-se a planilha da impugnante
(indexador 1506) e fixa-se o valor da execução em R$
125.549,85 (cento e vinte e cinco mil, quinhentos e quarenta
e nove reais e oitenta e cinco centavos), ou 33.883,8555
UFIRS.
Ante o exposto, acolho em parte a execução apenas para
reconhecer o excesso de execução e fixar o valor do crédito
exequendo em R$ 125.549,85 (cento e vinte e cinco mil,
quinhentos e quarenta e nove reais e oitenta e cinco
centavos), ou 33.883,8555 UFIRS (atualizado até julho de
2021).
Condeno a impugnada em honorários advocatícios em
favor do devedor no equivalente a 10% do valor do
excesso.
Uma vez preclusa esta decisão, apresente o credor-
impugnado o valor atualizado, nos termos da presente
decisão, para fins de levantamento do valor depositado. Com
a concordância do devedor ao valor apresentado, expeça-se
o mandado de pagamento em favor do credor impugnado, e
do saldo em conta judicial, se houver, em favor do devedor-
impugnante.”

Em razões recursais de fls.02/14, a agravante, em resumo, alega que houve


alteração no estado de direito em relação àquele que vigorava na fase de conhecimento e que
ensejou o título executivo judicial; aduz que a demanda foi ajuizada em julho/2003 sob a
alegação de que a Agravante teria implantado uma rede de tubulação em área pertencente ao
Agravado com o objetivo de permitir o escoamento do esgoto proveniente de comunidade
Santo Amaro, que fica na parte de cima da rua, e que a Companhia teria conectado essa
tubulação à rede de esgotamento sanitário do prédio, sem qualquer aviso ou permissão;
sustenta que durante a fase instrutória foi realizada a perícia nos dias 15 e 29 de março de
2006, cujo laudo de IE nº283/304 concluiu que no terreno do Condomínio passavam
tubulações de esgoto originados na comunidade Santo Amaro, sendo interligados na caixa de

Agravo de instrumento nº 0008678-33.2022.8.19.0000


RM
3
66

passagem da rede geral de esgotos do Impugnado, tendo disso julgado o pedido procedente;
alega que em 28/02/2007, o Município do Rio de Janeiro encampou a prestação do serviço
de esgotamento sanitário nas áreas de comunidade, conforme Cláusula 2ª, parágrafo 2º, do
TERMO DE RECONHECIMENTO RECÍPROCO DE DIREITOS E OBRIGAÇÕES
acostado às fls.1.456/1.505; salienta que quando a ação foi ajuizada a Agravante detinha
a concessão do serviço relacionado ao esgotamento sanitário da comunidade Santo
Amaro, porém desde fevereiro/2007 ela perdeu essa concessão e não presta mais o serviço,
havendo modificação no estado de direito em relação àquele que existia na fase de
conhecimento da presente demanda; alega que voltou a vistoriar o imóvel do Agravado
em outubro/2020 a fim de atender adequadamente a decisão judicial de fls.1.244 e 1.254,
tendo constatado que, atualmente, o problema consiste basicamente na manutenção de uma
canaleta de concreto armado localizada nos fundos do terreno do Condomínio, cuja finalidade
é receber águas pluviais e que precisa ser limpa periodicamente pelo condomínio, mas que
não tem qualquer relação com os fatos narrados na exordial e também de ligações
irregulares de esgotos provenientes da comunidade Santo Amaro, que percolam até a
referida canaleta de águas pluviais, não tendo a CEDAE responsabilidade por solucionar a
questão diante do sobredito Termo assinado com o Município do Rio de Janeiro; pugna pela
observância do art.505, inciso I do CPC; alega que a correção monetária e os juros de mora,
como consectários legais da condenação principal, que possuem natureza de ordem pública e,
assim, podem ser analisados a qualquer tempo até mesmo de ofício, não havendo falar
em preclusão e que tem um crédito a receber no valor de R$169.670,38; e, por fim, requer o
provimento do agravo de instrumento para reformar a decisão.

Em contrarrazões de fls.27/36, o agravado pugnou pelo desprovimento do


recurso.

É o Relatório.

VOTO

Trata-se de agravo de instrumento interposto em face de decisão que acolheu em


parte a impugnação à execução, fixando o valor do crédito exequendo em R$ 125.549,85
(cento e vinte e cinco mil, quinhentos e quarenta e nove reais e oitenta e cinco centavos).

No que tange à preliminar de ilegitimidade passiva argüida pela CEDAE, sob o


fundamento de não ter mais responsabilidade pelo serviço de esgotamento sanitário na
localidade em que residem os autores em razão de ter firmado, em 2007, termo de
reconhecimento recíproco de direitos e obrigações com o município do Rio de Janeiro, não
merece prosperar. Isso porque o referido contrato indica relação de direitos e obrigações
assumidas entre as partes contratantes, não sendo, desse modo, oponível ao consumidor alheio
a esta relação. Outrossim, depreende-se da leitura do termo, em especial, a cláusula décima-

Agravo de instrumento nº 0008678-33.2022.8.19.0000


RM
4
67

primeira, a qual, estabelece a responsabilidade da CEDAE em relação as ações ajuizadas antes


do sobredito Termo (fls.1.465):

Soma-se a isso o fato de que consta nas faturas a logomarca da CEDAE

Por tais razões, rejeito preliminar de ilegitimidade passiva suscitada pela


CEDAE. Nesse sentido é o entendimento deste Tribunal de Justiça, conforme se verifica pelas
ementas ora colacionadas:

Des(a). FERNANDO FOCH DE LEMOS ARIGONY DA


SILVA - Julgamento: 18/07/2022 - TERCEIRA CÂMARA
CÍVEL

DIREITO DO CONSUMIDOR. ÁGUA E ESGOTO.


PRESTAÇÃO DO SERVIÇO INEFICIENTE.
INCONFORMISMO DA RÉ. 1. Em 28.2.07, o Estado do
Rio de Janeiro, CEDAE e Município do Rio de Janeiro
celebraram termo de reconhecimento recíproco, cujo
objeto constituiu o reconhecimento de direitos e
obrigações sobre a execução de serviços de captação,
tratamento, adução, distribuição de água potável, coleta,
transporte e tratamento de esgotos, assim como a
cobrança por tais serviços, tendo como base o território do
município. Assim, o Município do Rio de Janeiro passou a
ser responsável pela coleta, transporte e tratamento
adequado dos esgotos sanitários e cobrança pela prestação
desses serviços na Área de Planejamento 5 (AP5) e nas
Áreas Faveladas, definidas nos Anexos I e II do referido
pacto. Hipótese dos autos. 2. Cabe destacar que em
22.12.11, o Estado do Rio de Janeiro, CEDAE e Município
do Rio de Janeiro celebraram termo aditivo, cujo objeto
constitui a alteração das disposições do Anexo II do

Agravo de instrumento nº 0008678-33.2022.8.19.0000


RM
5
68

instrumento inicial, excluindo as comunidades listadas no


parágrafo segundo, que passaram a ter os serviços de
operação e manutenção das redes de esgotos sanitários,
assim como a cobrança por tais serviços executados sob a
responsabilidade da CEDAE, a partir de 1.1.12, alterando
o descrito no parágrafo primeiro da cláusula segunda do
termo inicial celebrado em 2007. 3. Arguição de
ilegitimidade passiva que se rejeita, visto que o convênio
realizado é res inter alios acta, e não pode ser imposto ao
consumidor. Logo, a concessionária ré detém legitimidade
para figurar no polo passivo desta demanda. 4. Cabia à ré
a produção da prova de que, ao contrário da afirmação
autoral, o serviço é prestado de forma regular. 5. Correto
é o dever de indenizar. No âmbito da responsabilidade
civil sob a presente análise ¿ ou seja, a responsabilidade
objetiva do prestador de serviço público ¿, o dever de
indenizar se consubstancia a partir do nexo de causalidade
entre a atividade econômica desenvolvida e o dano. No
caso, tais elementos restam perfeitamente caracterizados.
6. Quantum da compensação por dano moral que se
mostra corretamente fixado, na medida em que é
suficiente para atender às finalidades do instituto, bem
como não o desvirtuar pela via do enriquecimento sem
causa. 7. Recurso a que se nega provimento. (0118769-
52.2006.8.19.0001 – APELAÇÃO)

Des(a). CELSO LUIZ DE MATOS PERES - Julgamento:


01/08/2022 - DÉCIMA CÂMARA CÍVEL

Cobrança de tarifa de água. Legitimidade passiva da


recorrente. Termo de Direitos e Obrigações celebrado
entre a CEDAE, o Estado do Rio de Janeiro e o Município
do Rio de Janeiro, não oponível a terceiros. Inversão do
ônus da prova. Consumidora tecnicamente
hipossuficiente. Incidência do artigo 6º inciso VIII do
CDC. Expressa vedação da cobrança por estimativa, na
forma disposta no artigo 8º da Lei Estadual nº 3915/2002.
Anormalidade na forma de cobrança do serviço que impõe
a desconstituição do débito e o consequente refaturamento
da conta pela tarifa mínima de consumo. Eventual

Agravo de instrumento nº 0008678-33.2022.8.19.0000


RM
6
69

restituição que deverá ocorrer na forma simples.


Entendimentos esboçados nas Súmulas nº. 85 e 152 desta
Corte Estadual. Inexistência de qualquer suspensão do
fornecimento de água e esgoto, ou lançamento do nome da
parte autora nos cadastros restritivos de crédito. Ausência
de comprovação de qualquer dano moral suportado.
Recurso parcialmente provido. (0018112-
78.2020.8.19.0206 – APELAÇÃO)

Des(a). CEZAR AUGUSTO RODRIGUES COSTA -


Julgamento: 24/05/2022 - DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA
CÍVEL

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO DO


CONSUMIDOR. CEDAE. RECURSO DA RÉ
APONTANDO PARA A ILEGITIMIDADE PASSIVA.
LEGITIMIDADE. O Termo de Reconhecimento
Recíproco de Direitos e Obrigações firmado entre o
Município do Rio de Janeiro, o Estado do Rio de Janeiro e
a CEDAE, em 28/02/2007, não tem o condão de, por si só,
afastar a legitimidade passiva da concessionária. Quem
realizava a cobrança de fatura de esgoto diretamente ao
consumidor quanto ao débito que se discute nesta lide era
a ré. Dessa forma, presente a legitimidade passiva. Apelo
CONHECIDO e DESPROVIDO. (0009281-
09.2022.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO)

No que tange à incorreção dos juros e correção monetária, ao agravante não lhe
assiste razão, até porque, sequer apresentou o valor devido em planilha comprovando a
ilegalidade do valor fixado na decisão.

Por tais fundamentos, VOTO NO SENTIDO DE CONHECER O AGRAVO


DE INSTRUMENTO E NEGAR-LHE PROVIMENTO, MANTENDO-SE NA
ÍNTEGRA A DECISÃO RECORRIDA.

Rio de Janeiro, 22 de agosto de 2022.

PAULO SÉRGIO PRESTES DOS SANTOS


Desembargador Relator

Agravo de instrumento nº 0008678-33.2022.8.19.0000


RM
7

Você também pode gostar