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RECURSO ESPECIAL Nº 2084943 - PB (2023/0239009-0)

RELATOR : MINISTRO MOURA RIBEIRO


RECORRENTE : BANCO ITAUCARD S.A.
ADVOGADO : WILSON SALES BELCHIOR - PB017314A
RECORRIDO : MARIA VALDILENE NE DA SILVA GONCALVES
ADVOGADOS : JULLYANNA KARLLA VIÉGAS ALBINO APOLINÁRIO - PB014577
SARAH GUIMARÃES SANTOS SOUTO - PB022661
JACINTO VIEIRA DE CARVALHO - PB023431

EMENTA

PROCESSAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA.


VIOLAÇÃO DO ART. 1.022 QUE NÃO SE VERIFICA. NULIDADE
DE TARIFAS DECLARADAS EM SENTENÇA TRANSITADA EM
JULGADO. PEDIDO NA AÇÃO SUBJACENTE DE DEVOLUÇÃO
DE JUROS REMUNERATÓRIOS INCIDENTES SOBRE A COISA
JULGADA. TÍTULO JUDICIAL QUE NÃO ABARCOU REFERIDO
ENCARGO. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO À COISA
JULGADA. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.

DECISÃO

Trata-se de recurso especial interposto por BANCO ITAUCARD S.A.


(BANCO) com fundamento no art. 105, III, alínea a, da CF, contra acórdão proferido
pelo Tribunal de Justiça da Paraíba assim ementado:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. Apelação cível. Ação declaratória.


Preliminar das contrarrazões. Afronta ao princípio da dialeticidade
recursal. Rejeição. Juros remuneratórios. Tarifas consideradas ilegais
em ação anteriormente ajuizada. Repetição de indébito em dobro.
Prequestionamento. Dispensável a análise de todos os dispositivos
legais Honorários de sucumbência. Redimensionamento. invocados
pelo julgador. Recurso interposto contra sentença proferida sob a
Honorários recursais. égide do CPC/2015. Incidência do disposto no
art. 85, § 11, do Diploma de Ritos. Verba honorária majorada. Reforma
da sentença singular. Provimento.
- Declarada por sentença a ilegalidade de tarifas bancárias em ação
anterior, com determinação de restituição dos valores pagos, é devida,
também, a repetição de indébito, de forma simples, dos juros
remuneratórios que incidiram sobre as aludidas tarifas durante o
período contratual.
- Apelo provido (e-STJ, fl. 195).

Edição nº 0 - Brasília, Publicação: quarta-feira, 30 de agosto de 2023


Documento eletrônico VDA38163261 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
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Publicação no DJe/STJ nº 3708 de 30/08/2023. Código de Controle do Documento: 22ab8e58-716b-4dcc-8e19-e856e7032840
Os embargos de declaração opostos pelo BANCO foram rejeitados (e-STJ,
fls. 231/238).

Nas razões do presente recurso, BANCO alegou violação aos arts. 337, § 4º,
485, V, e 1.022, todos do CPC, ao sustentar (1) negativa de prestação jurisdicional; e
(2) ofensa à coisa julgada, uma vez que MARIA, ao formular o pedido de declaração de
nulidade da tarifa bancária e a repetição dos calores pagos em ação pretérita, o fez de
forma abrangente, incluindo na sua pretensão não só a restituição do valor pago pela
tarifa mas também os acréscimos derivados.

Foram foram apresentadas contrarrazões.

É o relatório.

DECIDO.
A irresignação não merece prosperar.

(1) Da ausência de violação do art. 1.022 do CPC

Nas razões do seu recurso, o BANCO alegou violação do art. 1.022 do


NCPC em virtude da omissão acerca da ofensa à coisa julgada.

Contudo, verifica-se que o TJPB se pronunciou sobre o tema consignando


ser devida a restituição dos valores referentes aos juros remuneratórios.

Assim, inexistem os vícios elencados no art. 1.022 do NCPC, sendo forçoso


reconhecer que a pretensão recursal ostenta caráter nitidamente infringente, visando
rediscutir matéria que já foi analisada.

A jurisprudência desta Casa é pacífica ao proclamar que, se os fundamentos


adotados bastam para justificar o concluído na decisão, o julgador não está obrigado a
rebater, um a um, os argumentos utilizados pela parte.

Afasta-se, portanto, a alegada violação.

(2) Da coisa julgada


O debate gira em torno da possibilidade de ajuizamento de nova ação para
restituição de quantia paga a título de juros remuneratórios incidentes sobre tarifas
declaradas nulas, em ação anterior.

Ao dirimir a controvérsia, o Tribunal estadual afastou a existência de coisa


julgada na hipótese, nos seguintes termos:

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Como é cediço, os juros remuneratórios são acessórios e se
submetem à regra de que o acessório segue a sorte do principal.
Atente-se ao art. 92 do Código Civil:

Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou


concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a
do principal.

No caso dos autos, a cobrança das tarifas de “cadastro”, “avaliação de


bem”, “serviço de terceiro” e “proteção financeira” foram declaradas
indevidas, quando do julgamento do Processo nº 3001934-
95.2012.815.0011, que tramitou no 1º Juizado Especial Cível da
Comarca de Campina Grande, determinando-se o pagamento dos
valores cobrados indevidamente, perfazendo R$ 5.669,86 (cinco mil,
seiscentos e sessenta e nove reais e oitenta e seis centavos), com
juros moratórios e correção monetária.
Destarte, a restituição de tais encargos deveria ser acompanhada dos
juros remuneratórios sobre eles incidentes, e, sendo estes obrigações
acessórias, aplica-se, o art. 184 do in casu Código Civil, senão,
vejamos:

Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade


parcial de um negócio jurídico não o prejudicará na parte
válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação
principal implica a das obrigações acessórias, mas a
destas não induz a da obrigação principal.

[...]
Assim, os juros remuneratórios incidentes sobre as tarifas em questão
devem ser reconhecidos como cobranças indevidas, e, restituídos, em
dobro, uma vez que seguem a mesma sorte das obrigações principais
– tarifas declaradas ilegais -, e, não se verifica, na hipótese, engano
justificável da instituição financeira recorrida (e-STJ, fls. 200/201).

A Terceira Turma desta Corte firmou entendimento de ser possível o


ajuizamento de ação autônoma para pleitear a restituição da quantia referente aos
juros remuneratórios aplicados sobre as tarifas consideradas inválidas, desde que não
tenha havido pedido explícito e condenação expressa na ação anterior.

O acórdão ficou assim ementado:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO


DECLARATÓRIA E CONDENATÓRIA. CLÁUSULAS DECLARADAS
ABUSIVAS EM AÇÃO ANTERIOR TRANSITADA EM JULGADO.
JUROS REMUNERATÓRIOS. PLEITO EM NOVA AÇÃO.
INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO À COISA JULGADA. NECESSIDADE
DE PEDIDO EXPLÍCITO.
1- Recurso especial interposto em 10/9/2020 e concluso ao gabinete
em 18/5/2022.
2- O propósito recursal consiste em dizer se é possível o ajuizamento
de nova ação para pleitear, exclusivamente, a restituição de juros
remuneratórios não requeridos em anterior ação, na qual se declarou a
abusividade de cláusulas contratuais de contratos bancários,
determinando-se a repetição dos valores cobrados.
3- Em regra, os juros remuneratórios são pactuados entre as partes,
dependendo o seu reconhecimento e execução de pedido e

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condenação expressos e, diferentemente dos juros moratórios,
escapam à cognição de ofício pelo juiz.
4- Inexistindo pedido e condenação explícitos acerca dos juros
remuneratórios, não é possível concluir terem sido estes abarcados
por pedido feito em ação anterior, já transitada em julgado, a qual
discutiu apenas a abusividade na cobrança de tarifas constantes de
contrato bancário.
5- Na hipótese dos autos, constata-se, do pedido formulado na
primeira demanda, que não houve requerimento explícito quanto aos
juros remuneratórios, relacionando-se a ação, já transitada em julgada,
única e exclusivamente à declaração e repetição em dobro dos valores
pagos em virtude de cláusulas contratuais alegadamente abusivas.
6- A eficácia preclusiva da coisa julgada não se opera na hipótese dos
autos, uma vez que, para além da inexistência de identidade entre os
pedidos, não busca o autor, utilizando a mesma causa de pedir,
alcançar posicionamento diverso daquele obtido na primeira ação, não
sendo os pedidos inconciliáveis, razão pela qual se afasta o disposto
no art. 508 do CPC/2015.
7- É possível o ajuizamento de nova ação para pleitear,
exclusivamente, a restituição de juros remuneratórios pagos que não
foram requeridos em anterior ação.
8- Recurso especial não provido.

No caso dos autos, a Corte local consignou expressamente que, na primeira


demanda, a parte autora buscou, tão somente, a repetição dos valores pagos em razão
da cobrança de taxas e tarifas tidas por abusivas.

Nessa toada, não há que se falar em incidência da eficácia preclusiva da


coisa julgada, delineada no art. 508 do CPC, porquanto não há identidade de pedidos,
na espécie.

Com efeito, a eficácia preclusiva alcança, apenas, as alegações de fato e de


direito que as partes poderiam ter utilizado para fundamentar as respectivas teses, mas
não alcança os pedidos que, eventualmente, poderiam ter sido deduzidos na petição
inicial.

Assim, não obstante a insurgência manifestada pelo BANCO, não se pode


cogitar de ofensa à coisa julgada, na hipótese.

Nessas condições, NEGO PROVIMENTO ao recurso especial.

Por oportuno, previno que a interposição de recurso contra essa decisão, se


declarado manifestamente inadmissível, protelatório ou improcedente, poderá acarretar
na condenação das penalidades fixadas nos arts. 1.021, § 4º, ou 1.026, § 2º, ambos do
NCPC.

Publique-se. Intimem-se.

Brasília, 29 de agosto de 2023.

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Relator

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