Você está na página 1de 5

RECURSO ESPECIAL Nº 1978926 - PB (2022/0002011-2)

RELATOR : MINISTRO MOURA RIBEIRO


RECORRENTE : SANTANDER LEASING S.A. ARRENDAMENTO MERCANTIL
ADVOGADO : WILSON SALES BELCHIOR - PB017314
RECORRIDO : MANOEL TRIGUEIRO PEREIRA
ADVOGADOS : GIZELLE ALVES DE MEDEIROS VASCONCELOS - PB014708
KEHILTON CRISTIANO GONDIM DE CARVALHO - PB022899

EMENTA

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RECURSO


MANEJADO SOB A ÉGIDE DO NCPC. AÇÃO DECLARATÓRIA DE
NULIDADE DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS COM REPETIÇÃO DO
INDÉBITO. VIOLAÇÃO DO ART. 1.022 DO NCPC. NÃO
OCORRÊNCIA. OFENSA À COISA JULGADA. REEXAME DE
PROVAS. DESCABIMENTO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 7 DO STJ.
RECURSO ESPECIAL CONHECIDO EM PARTE E, NESSA
EXTENSÃO, NÃO PROVIDO.

DECISÃO

Trata-se de recurso especial interposto por SANTANDER LEASING S.A.


ARRENDAMENTO MERCANTIL (SANTANDER LEASING), com fundamento no art.
105, III, alíneas a e c, da CF, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do
Estado da Paraíba, assim ementado:

AÇÃO DECLARATÓRIA C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO.


PROCEDÊNCIA PARCIAL. IRRESIGNAÇÃO DA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. PRELIMINAR. COISA JULGADA. NÃO
CONFIGURAÇÃO. CAUSA DE PEDIR E PEDIDO DIVERSOS.
PREJUDICIAL DE PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. INTELIGÊNCIA
DO ART. 205, DO CÓDIGO CIVIL. RELAÇÃO OBRIGACIONAL DE
DIREITO PESSOAL. MÉRITO. CONTRATO DE ARRENDAMENTO.
AQUISIÇÃO DE AUTOMÓVEL. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR. SÚMULA Nº 297, DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. REVISÃO CONTRATUAL. POSSIBILIDADE.

Edição nº 0 - Brasília,
Documento eletrônico VDA32194031 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): MINISTRO Moura Ribeiro Assinado em: 25/04/2022 18:36:13
Publicação no DJe/STJ nº 3379 de 27/04/2022. Código de Controle do Documento: 068dd8c2-5d32-4d59-bbd2-c44d6be22144
RESTITUIÇÃO DE JUROS INCIDENTES SOBRE TARIFAS
DECLARADAS ILEGAIS EM PRETENSÃO DEDUZIDA EM SEDE DO
JUIZADO ESPECIAL CÍVEL. CABIMENTO. REPETIÇÃO DE
INDÉBITO. FORMA SIMPLES. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA.
DESPROVIMENTO.
- Caracteriza–se coisa julgada quando se reproduz ação idêntica a
outra que já foi decidida por sentença de mérito que não caiba mais
recurso, o que não é a hipótese dos autos.
- Tratando-se a relação obrigacional de cunho de direito pessoal, o
prazo prescricional, para o ajuizamento de ação revisional de contrato,
é decenal, nos moldes do art. 205, do Código Civil.
- Reconhecida a ilegalidade da obrigação principal, indevida também a
incidência das obrigações acessórias atreladas as obrigações
principais, ou seja, dos juros cobrados sobre as respectivas tarifas
bancárias.
- Não demonstrada, através de conjunto probatório, a má-fé da
instituição financeira, impõe-se a devolução dos valores pagos a
maior, de forma simples, como estabelecera a magistrada (e-STJ, fls.
222/223).

Os embargos de declaração opostos por SANTANDER LEASING foram


rejeitados (e-STJ, fls. 274/287).

Inconformado, SANTANDER LEASING manejou recurso especial, com base


no art. 105, III, a e c, da CF alegando, a par de divergência jurisprudencial, a violação
dos arts. (1) 1.022, II, do NCPC, por omissão do acórdão recorrido acerca dos motivos
que levaram o Tribunal a não reconhecer a ocorrência de coisa julgada e que os juros
constituíram pedidos na demanda que tramitou no Juizado especial; e (2) 337, §§§ 1º,
2º e 4º, do NCPC, ante a ocorrência de coisa julgada em relação aos valores pagos
pelo recorrido relacionados a tarifas, acessórios e consectários considerados ilegais, os
quais foram alvo de outra ação judicial.

O recurso foi admitido pelo Tribunal paraibano (e-STJ, fls. 259/262).

É o relatório.

DECIDO.

O recurso não merece provimento.

(1) Da violação do art. 1.022 do NCPC

Nas razões do presente recurso, SANTANDER LEASING sustentou que o


TJPB não teria apreciado a alegação de que a matéria atinente aos encargos cobrados
estaria albergada pela coisa julgada e que os juros constituíram pedidos na demanda
que tramitou no Juizado especial.

Contudo, sem razão.

Edição nº 0 - Brasília,
Documento eletrônico VDA32194031 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): MINISTRO Moura Ribeiro Assinado em: 25/04/2022 18:36:13
Publicação no DJe/STJ nº 3379 de 27/04/2022. Código de Controle do Documento: 068dd8c2-5d32-4d59-bbd2-c44d6be22144
Ao negar provimento à sua apelação, para confirmar a sentença que havia
determinado a restituição, de forma simples, dos juros incidentes sobre as tarifas
consideradas abusivas perante o Juizado Cível, o Tribunal paraibano assim se
pronunciou:

Com relação a ocorrência de coisa julgada, impende consignar que


para se verificar a incidência de tal instituto, faz-se necessário a
existência de reprodução idêntica de outra ação que já foi apreciada,
ou seja, as lides devem ter as mesmas partes, igual causa de pedir e o
mesmo pedido.
[...]
De bom alvitre esclarecer que, não se está discutindo aqui a
ilegalidade das tarifas bancárias, tampouco, a restituição em dobro dos
valores pagos a este título, posto que tal pretensão já foi acolhida em
decisão transitada em julgado pelo Juizado Especial Cível da Comarca
da Capital.
Por tais razões, entendo não restar caracterizado o instituto jurídico da
coisa julgada.
[...]
Pois bem, é do conhecimento geral que os encargos acessórios
seguem a sorte do principal, porquanto nos termos do art. 184, do
Código de Processo Civil, “a invalidade da obrigação principal implica
a das obrigações acessórias”.
In casu, verifica-se que a tarifa considerada ilegal pelo Juizado
Especial Cível da Comarca da Capital, compõem o valor do crédito
total, ou seja, foram adicionadas ao valor financiado, e, portanto,
inseridas nas prestações do contrato, sobre as quais incidiram os
juros.
Nesse trilhar, reconhecida a ilegalidade das obrigações principais, dos
valores exigidos a título de despesas como Taxa de Abertura de
Crédito e Serviço de Terceiros, Id 6724871 - Pág. 2, indevida também,
a incidência das obrigações acessórias atreladas as obrigações
principais, na espécie, dos juros cobrados sobre as respectivas tarifas
bancárias, não havendo que se falar, assim, na quitação dos referidos
juros (e-STJ, fls. 225/228).

Não há falar, portanto, em negativa de prestação jurisdicional, pois, a


pretexto da alegação de ofensa ao art. 1.022, II, do NCPC, o que busca SANTANDER
LEASING é apenas manifestar o seu inconformismo com o resultado do julgamento
que lhe foi desfavorável, não se prestando a estreita via dos embargos de declaração a
promover o rejulgamento da causa, já que inexistentes quaisquer dos vícios elencados
no referido dispositivo da lei adjetiva civil.

A jurisprudência desta Corte é pacífica ao proclamar que, se os fundamentos


adotados bastam para justificar o concluído na decisão, o julgador não está obrigado a
rebater, um a um, os argumentos utilizados pela parte.

A propósito:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CIVIL.


PROCESSO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE

Edição nº 0 - Brasília,
Documento eletrônico VDA32194031 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): MINISTRO Moura Ribeiro Assinado em: 25/04/2022 18:36:13
Publicação no DJe/STJ nº 3379 de 27/04/2022. Código de Controle do Documento: 068dd8c2-5d32-4d59-bbd2-c44d6be22144
VEÍCULO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO
DOS ARTS. 489 E 1.022 DO CPC/2015. DANOS MORAIS.
DEFICIÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULAS 283 E 284 DO
STF. LIMITAÇÃO DE COBERTURA. REEXAME. SÚMULAS 5 E 7 DO
STJ. AGRAVO IMPROVIDO.
1. Não há ofensa ao art. 1.022 do CPC/2015, porquanto o Tribunal de
origem decidiu a matéria de forma fundamentada. O julgador não está
obrigado a rebater, um a um, os argumentos invocados pelas partes,
quando tiver encontrado motivação satisfatória para dirimir o litígio.
2. Verifica-se que o Tribunal estadual analisou todas as questões
relevantes para a solução da lide, de forma fundamentada, não
havendo que se falar em negativa de prestação jurisdicional.
3. A falta de impugnação de argumento suficiente para manter, por si
só, o acórdão impugnado, a argumentação dissociada bem como a
ausência de demonstração da suposta violação à legislação federal
impedem o conhecimento do recurso, na esteira dos enunciados n.
283 e 284 da Súmula do Supremo Tribunal Federal.
4. A revisão das conclusões estaduais demandaria, necessariamente,
o revolvimento das cláusulas contratuais e do acervo fático-probatório
dos autos, providência vedada na via estreita do recurso especial, ante
o óbice disposto nas Súmulas 5 e 7 do STJ.
5. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 1.500.162/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, Terceira Turma, j. 25/11/2019, DJe 29/11/2019 - sem
destaque no original)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL EM


AGRAVO (ART. 544 DO CPC/73) - AÇÃO CONDENATÓRIA -
ACÓRDÃO DESTE ÓRGÃO FRACIONÁRIO NEGANDO
PROVIMENTO AO RECLAMO, MANTIDA A DELIBERAÇÃO
UNIPESSOAL QUE CONHECERA DO AGRAVO (ART. 544 DO
CPC/73) PARA, DE PLANO, NEGAR SEGUIMENTO AO RECURSO
ESPECIAL. INSURGÊNCIA DA RÉ.
1. Não compete ao STJ o exame de preceitos constitucionais, ainda
que para fins de prequestionamento, sob pena de usurpar a
competência do Supremo Tribunal Federal. Precedentes.
2. Nos termos do artigo 1.022 do CPC/15, os embargos de declaração
são cabíveis apenas para esclarecer obscuridade ou eliminar
contradição; suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se
pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento; ou corrigir erro material.
3. Na hipótese dos autos, o acórdão proferido por este órgão
fracionário encontra-se devida e suficientemente fundamentado, tendo
enfrentado todos os pontos aventados pela parte nas razões do agravo
regimental, apenas decidindo de forma contrária aos interesses da
embargante, o que, à evidência, não consubstancia vício passível de
correção por meio de embargos de declaração, mas sim pretensão
meramente infringente.
4. Embargos de declaração rejeitados.
(EDcl no AgRg no AREsp 469.306/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI,
Quarta Turma, julgado em 1º/12/2016, DJe 7/12/2016 - sem destaque
no original)

Afasta-se, portanto, a alegação de omissão do acórdão recorrido.

(2) Da incidência da Súmula nº 7 do STJ

Por sua vez, SANTANDER LEASING sustentou a ocorrência de coisa


julgada em relação aos valores pagos pelo recorrido relacionados a tarifas, acessórios

Edição nº 0 - Brasília,
Documento eletrônico VDA32194031 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): MINISTRO Moura Ribeiro Assinado em: 25/04/2022 18:36:13
Publicação no DJe/STJ nº 3379 de 27/04/2022. Código de Controle do Documento: 068dd8c2-5d32-4d59-bbd2-c44d6be22144
e consectários considerados ilegais, os quais teriam sido objeto de outra ação judicial.

Todavia, conforme se depreende da leitura dos excertos acima


transcritos, para alterar a conclusão a que chegou o aresto recorrido, no sentido da
ausência de coisa julgada quanto aos juros incidentes sobre as tarifas cobradas,
indispensável seria o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, providência
vedada pela Súmula n° 7 do STJ.

A propósito, confira-se o seguinte julgado:

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. PEDIDO DE


SUSPENSÃO DO PROCESSO EM VIRTUDE DE DEFERIMENTO DO
PROCESSAMENTO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. VIA ESPECIAL
INADEQUADA. CONTRATO DE PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA.
VALOR PATRIMONIAL DA AÇÃO. CRITÉRIO DEFINIDO NO TÍTULO
EXECUTIVO. SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO.
ALTERAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 83/STJ. EXCESSO DE
EXECUÇÃO. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO DO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO IMPROVIDO.
[...]
3. Havendo definição específica no título judicial transitado em julgado
acerca do critério de apuração do Valor Patrimonial da Ação (VPA),
mesmo que contrário ao comando do enunciado n. 371 da Súmula
deste Tribunal Superior, não é possível alterá-lo em cumprimento de
sentença, em respeito à coisa julgada. Precedentes.
4. Para desconstituir as premissas fáticas reconhecidas pelo acórdão
quanto à subscrição da diferença de ações para o cálculo da
liquidação, seria imprescindível o revolvimento de fatos e provas,
providência vedada no âmbito do recurso especial, nos termos da
Súmula n. 7 do STJ.
5. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no REsp 1.360.422/RS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, Terceira Turma, DJe 23/6/2017)

Nessas condições, CONHEÇO EM PARTE do recurso especial e, nesta


extensão, NEGO-LHE PROVIMENTO.

Por oportuno, previno as partes que a interposição de recurso contra essa


decisão, se declarado manifestamente inadmissível, protelatório ou improcedente,
poderá acarretar na condenação das penalidades fixadas nos arts. 1.021, § 4º, ou
1.026, § 2º, ambos do NCPC.
Publique-se. Intimem-se.

Brasília, 25 de abril de 2022.

Ministro MOURA RIBEIRO


Relator

Edição nº 0 - Brasília,
Documento eletrônico VDA32194031 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): MINISTRO Moura Ribeiro Assinado em: 25/04/2022 18:36:13
Publicação no DJe/STJ nº 3379 de 27/04/2022. Código de Controle do Documento: 068dd8c2-5d32-4d59-bbd2-c44d6be22144

Você também pode gostar