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Direito Constitucional II

Duarte Canau

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Índice:
1.​Transformações da Constituição​……………………………………... 3
2. ​Estrutura Político-Normativa​………………………………………...11
- 2.1Princípios Fundamentais……...……………………………………...12
3. ​Natureza das Funções do Estado​………….……………………….....14
-3.1 Função Política em Sentido Amplo…………………………………..14
Atividade Legislativa ………………………………………………...15
Atividade Política em Sentido Estrito………………………………..16
-3.2 Função Administrativa……………………………………………….17
-3.3 Função Jurisdicional………………………………………………….18
4. Funções do Estado e Separação de Poderes​…………………………19
-4.1 Princípio da Competência …………………………………………...20
-4.2 Qualidade Operativa dos Atos Legislativos………………………….22
5. Atividade Legislativa​………………………………………………….33
-5.1 Procedimento Legislativo Parlamentar ……………………………...34
-5.2 Apreciação Parlamentar de Atos Legislativos……………………….39
6. A Atividade Legislativa do Governo ​………………………………...40
-6.1Procedimento Legislativo Governamental... ………………………....41
7. Atividade Legislativa das Regiões Autónomas​……………………...42

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1.Transformações da Constituição:
Embora com uma pretensão de vigência indeterminada, as Constituições
são sempre produto do seu tempo. Muitas das suas normas tendem a oxidar
à medida que se confrontam com factos novos. A mutabilidade das
Constituições e das suas normas constitui uma realidade existencial. A
fórmula de “alterações constitucionais” surge por com duas realidades:
● Alteração total da Constituição: implica a substituição de uma
constituição material por outra (como no caso de uma Revolução ou
de uma Transição Constitucional);
● Alterações parciais da Constituição: implicam modificações
expressas ou implícitas, numa parte da Constituição;
Alterações expressas:
-Revisão Constitucional:
Consiste numa ​alteração expressa e parcial cuja subsistência intenta
garantir, e que opera como observância das regras estipuladas para o
efeito na própria Lei Fundamental​. É expressa, pois, envolve a produção de
normas através de um processo especial e agravado estabelecido para o
efeito na própria Constituição, reflete intencionalidade do poder
Constituinte. É parcial, pois não pode envolver todo o texto Constitucional,
nesse caso a Constituição Material já seria outra. A revisão constitucional
consiste, num instituto de garantia da própria Constituição, sendo nessa
expressa qualidade incluída, a par da fiscalização da constitucionalidade.
Uma Constituição não pode fazer-se por si própria: alguém a fez e não
apenas de uma vez, mas em várias ocasiões. É mutável e não pode vigorar
se não se adaptar ao tempo e a diferentes circunstâncias. A sua vida é
prolongada pelo facto de, em tempos diversos, se alterarem algumas das
suas partes.
- Derrogação constitucional com caráter derivado:
Consiste numa quebra de um princípio estruturante de uma Constituição,
para um ou vários casos singulares, autorizada por uma disposição
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normativa da própria lei​. Significa que a referida regra vigora
permanentemente perante a generalidade dos casos, salvo para uma
situação individualizada. Pode falar-se em derrogação originária se a
mesma exceção consta do texto primitivo da Constituição. Haverá uma
derrogação derivada se a exceção em causa for introduzida por uma revisão
constitucional ou a aprovação de uma lei com valor constitucional. A
derrogação constitucional só se define como instrumento de transformação
da Constituição quando assume natureza derivada. A derrogação
constitucional derivada constitui uma forma peculiar de revisão
constitucional traduzida na aprovação de uma regra excepcional.
● Mutações informais:
A Constituição sofre ​alterações informais que desvitalizam o seu sentido,
sem que os correspondentes preceitos experimentem qualquer modificação
no respectivo texto.​ Estas alterações, são designadas de mutações informais
da Constituição. A mutação informal não é um instituto, mas um fenômeno.
GOMES CANOTILHO entende que as mutações constitucionais ou são
endogenéticas (ato legítimo de interpretação do que resulta a falta de
autonomia da figura de mutação face à da interpretação) ou são
exogenéticas (envolvendo, fora do processo de revisão, a criação silenciosa
de normas constitucionais que exorbitaram o programa normativo e o
compromisso constitucional, provocando a derrocada das suas normas.
Uma construção restritiva de mutação que tendo a vantagem da sua
simplicidade, não resolve muitos problemas. Não se rompe gravemente
com os princípios estruturantes existem mutações que não se confundem
com um processo de interpretação evolutiva.
Não havendo definições confortáveis poderemos provisoriamente definir
como normas em sentido material de conteúdo politicamente inovador,
geradas e consolidadas gradualmente no tempo, aditadas à Constituição
alteram o significado de disposições constitucionais vigentes ou
desvitalizam a sua eficácia.
Uma mutação raramente é instantânea, tal como o costume, carece de uma
prática reiterada e consistente de um tempo de aceitação, bem como de
interiorização nos tribunais e no universo jurídico.
● Fontes da mutação informal e o valor das normas objeto de
transformação:
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1) Fácticas de Formação Espontânea- o caso do costume (​praeter e
contra legem​); das práticas e de convenções constitucionais
consolidadas;
2) De “ato” - decisões legislativas e administrativas “contra
constitutionem”
3) Jurisprudenciais de base interpretava- sentenças aditivas de revisão
constitucional;
● Problema dos limites jurídicos às mutações constitucionais:
A doutrina concebe a existência de mutações formais puras ou conformes à
constituição e mutações impuras ou inconstitucionais, GOMES
CANOTILHO envolveria a inconstitucionalidade das alterações informais
da Constituição que impliquem o desrespeito pelos pilares do compromisso
político fundamental em torno da identidade constitucional. No plano da
mutação de fonte jurisprudencial e predica o imperativo de a criação
emergente de uma solução interpretativa guardar a fidelidade ao programa
normativo “posto” pelo texto constitucional.
Mutações informais como expressão de um poder constituinte atípico e
difuso:
A natureza misteriosa da mutação informal terá menos a ver com a revisão
constitucional e mais com o poder constituinte, dado que a nova norma
nasce por via existencial a partir de factos. Trata-se de uma manifestação
difusa de uma certa forma de poder constituinte, mas de um poder
constituinte sem povo e sem vontade democrática legitimadora.
Responsabilidade da justiça Constitucional:
A justiça constitucional nasceu idealisticamente como um poder
independente e imparcial, pese a sua natureza de jurisdição de cunho
político, para defender a Constituição em relação a violações oriundas dos
despotismos maioritários do legislador.
Revisão constitucional na ordem jurídica:
● Formas típicas de revisão constitucional:
Processos de revisão exclusivamente representativos, distinguirá os
processos de revisão constitucional por assembleia ordinária e por

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assembleia especial. O modelo de assembleia geral, incidiremos sobre os
processos parlamentares agravados que tem 3 modalidades:
i) Comum- faculdade de o Parlamento ordinário, investido em
funções de revisão deliberar as alterações da Constituição;
ii) Por Parlamento Renovado- iniciativa deliberada no parlamento
em funções que é dissolvido, tendo em vista a renovação;
iii) Parlamentar Sujeita a Ratificação de Estados Federados- Envolve
um processo em que as emendas deliberadas pelo Parlamento
federal carecem de ratificação das assembleias;
Existem ainda ​processos mistos de base representativa​:
I) Deliberada por Assembleia Parlamentar que se encontra sujeita a
referendo popular obrigatório;
II) Seguida de referendo, o qual pode ser dispensado no caso de a lei
ser aprovada por maioria qualificada agravada;
Limites da Revisão Constitucional:
● Temporais:
Cria um período de “defeso” contra iniciativas de modificar a lei
Fundamental a todo o tempo, assim se condicionam a prática de atos de
revisão à observância de critérios de ordem temporal;
As revisões ordinárias caracterizam-se pela admissibilidade jurídica da sua
realização a cada quinquénio;
Ainda assim é possível alterar a Constituição através da revisão
extraordinária, que requer a aprovação pelo Parlamento de uma deliberação
favorável, tomada pela maioria híper-qualificada de quatro quintos;
Os limites temporais constituem um fator dispersivo de bloqueamento de
reformas constitucionais em tempo de crise;
● Formais:
Refere à: reserva de iniciativa de revisão constitucional dos deputados (
artigo 258º CRP); a aprovação por maioria de dois terços dos deputados em
efetividade de funções (artigo 286º)

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A maioria qualificada no limite formal com maior peso pois envolve um
expressivo compromisso parlamentar
● Circunstanciais:
O artigo 289º diz que não pode existir “nenhum ato de revisão
constitucional na vigência de estado de sítio ou emergência”.
Coloca-se, no entanto, o problema de em caso de discordância o PR
declarar o Estado de Emergência, de forma a não ter de promulgar a lei. A
promulgação é um ato obrigatório , se transcorre-se o prazo de 20 dias de
promulgação falaríamos então da caducidade da lei. Sendo a promulgação
obrigatória a sua promulgação durante Estado de Sítio em nada altera a lei
de revisão previamente deliberada.
● Materiais:
Disposições implícitas que vedam ao poder de revisão a faculdade de
suprimir ou alterar normas incidentes sobre certas matérias qualificadas, se
a alteração for possível, reduzir ou depreciar o seu conteúdo fundamental
(288º CRP);
Existência de Limites Materiais Intangíveis:
a) Equação do problema da superação dos limites materiais à revisão
constitucional:
Tese da “Relevância Absoluta” GOMES CANOTILHO:
i) O poder constituinte seria superior e prevalece sobre o poder de
revisão no primeiro o seu fundamento justificante;
ii) O poder de revisão deve mover-se nos limites do poder
constituinte, nos quais se encontrariam os limites materiais;
iii) A própria norma criada não consagraria a sua própria
irreversibilidade
Tese da “Dupla Revisão” JORGE MIRANDA:
i) A natureza da cláusula de limites materiais seria declarativa e não
constitutiva, assumiria uma função de garantia de princípios;
ii) De entre os princípios, haveria alguns de
1º Grau- cuja alteração significaria a transição para uma nova
Constituição Material;

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2º Grau – que se fossem alterados não significariam a alteração da
Constituição Material;
iii) A sua própria irreversibilidade, podendo ser o mesmo suprimido
através de uma revisão ordinária à qual não poderia suprimir os
princípios protegidos;
iv) O artigo 290º seria uma cláusula de super-rigidez, que permitira a
ocorrência de um período de alteração gradual;
v) Os limites de primeiro grau teriam caráter implícito caso fossem
eliminados do artigo 290º, devendo os princípios serem sempre
respeitados pela CRP;
Segundo o professor MARCELLO CAETANO, AFONSO QUEIRÓ e
MARCELO REBELO DE SOUSA, defendem que para alterar os
limites seria necessário um processo de novação do poder constituinte,
traduzido num ato soberano dotado da mesma autoridade do que o “
poder constituinte originário”.
Aprofundamento da Dupla Revisão:
Por força de uma dupla revisão, torna-se possível operar no texto da
Constituição, uma supressão total dos princípios ínsitos na cláusula de
limites materiais (artigo 288º), bem como servem posteriormente das
normas que o servem. Algumas das ideias a reter da tese:
1ª- Todas as normas constitucionais têm o mesmo valor jurídico, ostentam
uma paridade de grau, os princípios garantidos pela cláusula dos limites
materiais de revisão, assumiriam em face dos restantes, não uma
hierarquia jurídica mas sim um estatuto de maior rigidez (resistência
quanto à revogação);
2ª-Não existem normas constitucionais que se encontrem “em primeiro
plano”, mesmo olhando para os Declaração Universal dos Direitos
Humanos;
3ª- Os defensores da tese da dupla revisão negam a existência de uma
hierarquia entre disposições constitucionais, consideram que os
princípios na cláusula de limites de caráter transcendente (direitos,
liberdades e garantias) e imanente (soberania e unidade ) são os limites
materiais de primeiro grau. Os limites de segundo grau poderiam ser
suprimidos posteriormente (como o controlo de inconstitucionalidade
por omissão). A imanência de limites implícitos intransponíveis, como
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a cláusula de limites materiais conformar rigidez constitucional, sendo
possível eliminar a referida cláusula;
Seria da opinião do professor BLANCO MORAIS, que a admissibilidade
de limites materiais de revisão de primeiro e de segundo grau, não
impressiona quanto ao critério que estabelece em relação à relevância
jurídica de uns e de outros. A qualificação dos mesmos limites como
transcendentes e imanentes funda-se numa cosmovisão jusnaturalista.
Aceita-se o entendimento que ​o poder constituinte impõe ao poder de
revisão a observância de um conjunto de limites materiais.​ O núcleo
identitário da Lei Fundamental, assumem uma proeminência substancial
de irreversibilidade. O núcleo é conformado pelos princípios e regras
que servem a ideia de Direita enformadora, a seleção deve assumir um
caráter restringente e um critério de essencialidade e absoluta
indispensabilidade. Na Constituição as traves-mestras que exigem uma
identidade intangível da Constituição ancoram-se nuclearmente.
Considera-se que haveria um ato de transição constitucional se o sistema
de direitos, liberdade e garantias fosse alterado no seu núcleo reitor. Os
limites materiais intangíveis correspondem ao núcleo identitário da
Constituição inalteráveis através de uma revisão constitucional, sob
pena de fraude à mesma assumem uma proeminência em relação aos
restantes. A ​imodificabilidade absoluta dos sobreditos limites materiais
intangíveis do poder de revisão, no ponto em que esta considera que
esses limites são como tal, também imunes ao poder constituinte. A
revisão constitucional pode servir para a manifestação de um novo
poder constituinte, através da modificação do núcleo identitário da
Constituição. Os limites materiais limitam a própria Revisão
Constitucional, mas não inibem a possibilidade de uma revisão que se
traduz numa transição constitucional.
O processo de Revisão:
● Órgão competente:
Será a Assembleia da República, como se encontra disposto pelo Artigo
161º e artigo 284º, consagrando um modelo representativo simples de
revisão constitucional.
● Fases processuais:

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1ª- Iniciativa:
É exclusivamente reservada aos deputados, nos termos do nº1 do artigo
285º. Iniciado o processo de revisão ordinária ou extraordinária, qualquer
preceito constitucional passível pode ser alterado, sendo que os projetos
apresentados não delimitam o conteúdo da constituição para ser revisto.
Apresentado um projeto, quaisquer outros devem ser também apresentados
no prazo de trinta dias (artigo 285º.2).
2ª- Instrução:
Fase instrutória, decorre na Comissão Eventual para a Revisão
Constitucional ( CERC), procura buscar consensos entre os diversos
projetos que devem ser submetidos a votação no plenário e auscultar o
parecer de peritos.
3ª- Fase Constitutiva:
Decorre no Plenário, momento mais relevante na formação destas Leis
(consagrado no artigo 286º). As alterações inseridas revestem, nos termos
do artigo 287º.1 a forma de substituições, supressões e aditamentos. No
disposto do artigo 286º.2 surge é desnecessária a aprovação em votação
final global pese o facto de a mesma ter dito lugar em diversas revisões.
4ª – Fase certificatória:
Surge a promulgação presidencial (artigo 286º.3), sendo que o PR não
dispõe de poderes para vetar o diploma. A lei de revisão não se deve
encontrar sujeita a referenda ministerial. Tão pouco compete ao PR a
fiscalização preventiva.
● Pelo artigo 278º.1 o PR promove o controlo de decretos que a
assembleia da República lhe envie para promulgação como leis e não
atos como a Lei de Revisão Constitucional;
● Se houver veto por inconstitucionalidade de uma lei, este pode ser
confirmado pelo parlamento para superação do veto por maioria de
dois terços, relativamente menor que a maioria de aprovação da lei
de Revisão, o que seria uma solução ilógica. As maiorias expressas
de confirmação previstas na Constituição são sempre mais onerosas.
● O veto translativo no caso do tribunal Constitucional se pronunciar
pela inconstitucionalidade (artigo 279º.1) , faculdade de o Presidente

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arbitrar o conflito entre o Tribunal e parlamento após eventual
confirmação, recusa de promulgação, colidiram com o artigo 286º.3
que torna obrigatória a promulgação presidencial.
O órgão Presidencial e outros órgãos podem promover controlo sucessivo
da lei e juízes, os cidadãos ou Ministério público podem questionar a
constitucionalidade.
A generalidade da doutrina considera que o PR pode recusar a promulgação
e proceder à devolução do mesmo à AR se faltarem requisitos
fundamentais que o identifiquem como Lei de Revisão Constitucional.
Esta situação só pode ocorrer no caso de estarem em causa
inconstitucionalidades orgânico-formais de caráter essencial esta será
juridicamente inexistente. Os requisitos essenciais de uma lei de
Revisão são:
● Aprovação pela AR;
● Observar Limites temporais;
● Aprovação por maioria de dois terços;
5ª- Fase Integrativa de eficácia:
Corresponde à publicação da lei de Revisão no DR (287º.2) verificada a
publicação esgota-se o poder de revisão. No caso de serem publicadas duas
leis de revisão que publiquem 2 leis de revisão que afrontem o caráter
unitário. Existem 2 soluções:
● 2 leis sobre matérias diversas na mesma data: gerou-se uma
irregularidade formal que não implica a invalidade da segunda lei
cujas alterações complementarão as da primeira.
● 2 leis publicadas em datas diferentes, a segunda carecerá de validade
ou mesmo existência, porque a promulgação da primeira esgota o
processo de revisão.

2. Estrutura Político-normativa:
-Preâmbulo:
Texto proclamador que precede o preceituado constitucional,​ enuncia
alguns dos principais valores e princípio. Alguns são de caráter “sacro”,
expressivo e no caso da CRP poéticos. O preâmbulo da CRP apresenta

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irrelevância jurídica, sendo um texto sem aptidão para se erigir a parâmetro
da constitucionalidade)
- Normas Constitucionais:
A Constituição é composta por normas jurídicas, por critérios de decisão
vinculando os poderes públicos e relações jurídicas privadas, se encontram
aptos a produzir efeitos jurídicos, garantidos no plano de jurisdicional e
político. Um preceito constitucional pode:
i) Conter uma pluralidade de normas cumuladas;
ii) Conter sentidos diferentes, que podem ser reconduzidos
interpretativamente a normas alternativas;
iii) Conjugar com outros preceitos, de forma a que se extraia dessa
conjugação, uma norma ou critério jurídico de decisão;
Tipologia das Normas Constitucionais:
Funcional:
- Estruturante:
I) Secundárias: têm por objeto a ​produção, a qualificação e a
validade​ de outras normas jurídicas do ordenamento;
II) Primárias: aplicam diretamente às ​relações institucionais​, assim
como liberdades e garantias;
-​Matérias que disciplinam:
I) ​Substanciais​- ​regem a identidade material do Estado, definição do
regime político e direitos fundamentais;​
II) ​Organizativas- ​regular o estatuto do poder político, arquitetura do
sistema de governo​; ( dividem-se ainda em: de competência/ estruturarias
dos titulares dos órgãos/ de forma/ de qualificação)
Determinabilidade:
Normas desdobram-se em princípios e regras constitucionais:
● Princípios- ​enunciados jurídicos de valores de ordem política ou
moral, dotados de um elevado grau de indeterminação​, dirigidos à
prossecução de um fim e concebidos como mandatos de otimização
que ordenam algo que deve ser realizado na medida das
possibilidades jurídicas.
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● Regras- Mandados de definição que determinam condutas
imperativas (as regras predominam quantitativamente sobre os
princípios, com relevo para as normas que regem o estatuto do poder
político);
Os princípios não dispõem de hierarquia sobre as regras, salvo disposição
disposta na Constituição, as normas não são portadoras de hierarquias
diferentes

Princípios Fundamentais da CRP


(aquelas que ​condenam os pilares identitários da ordem constitucional,
definindo a natureza do Estado​, da Constituição, do Regime),
subdividem-se em:
Princípios do Estado de Direito:
● Independência Nacional (reflete a essência de Portugal como
Estado-Nação. Reconduz à ideia de soberania);
● Dignidade da Pessoa Humana (enunciado jurídico de um valor
antropológico, espiritual e universal com respeito pela condição de
ser humano operando como pressuposto essencial e fim do Estado de
Direito. A pessoa humana constitui um valor jurídico supremo do
ordenamento constitucional, assim devendo respeitar a capacidade de
autodeterminação individual e a preclusão de condutas públicas
degradantes ao ser);
● Proteção ​reforçada dos ​direitos, liberdades e garantias ( confere-se
uma posição mais forte aos mesmo por via da indispensabilidade da
tutela dos mesmos e o exercício dos mesmos depender da criação de
mais condições jurídicas);
● Proporcionalidade (proibição de decisões do poder público que se
revelem arbitrárias e excessivas e de que resultem desvantagens ou
sacrifícios desnecessários e injustificados para os respetivos
destinatários);
● Segurança Jurídica e Proteção da Confiança (pressupõe um
mínimo de previsibilidade em relação aos atos do poder, de modo
que cada pessoa possa ver garantida a continuidade das relações em
que intervém e dos efeitos jurídicos dos atos que pratica);

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● Igualdade (impõe aos poderes públicos um tratamento igual de
todos os seres humanos perante a lei e uma proibição de
discriminações materialmente infundadas)
● Acesso aos tribunais e a uma tutela jurisdicional efetiva ( é
através do acesso aos tribunais que os cidadãos asseguram a tutela
dos seus direitos frente ao Estado e terceiros)
● Constitucionalidade e Igualdade ( o Estado encontra-se
subordinado à Constituição e os seus atos à validade atribuída pela
mesma);
Princípios de ordem política:
● Separação com interdependência de poderes ( cada órgão deve conter
nos limites das competências que lhe são atribuídas, de modo a
observar uma repartição funcional de atribuições públicas que
respeite, tanto no núcleo da função estadual cometida aos restantes
órgãos como ainda a existência de controlos interorgânicos);
● Democrático ( designação dos governantes como titulares do poder
políticos, deriva do consentimento expresso pela vontade dos
governados através de um sufrágio livre, competitivo, igual e
pluralista);
● Estado Unitário ( existe apenas 1 Constituição);
● Estado Social ( visa a realização da democracia económica, social e
cultural);

3.A Natureza Das Funções do Estado:


A posição adotada relativamente às funções do Estado é a da Tricotomia
por Jorge Miranda, em virtude de :
● Aludir às funções do Estado que pressupõem a prática de atos
jurídicos (atos garantidos de coercibilidade do Direito)
● Uma posição que consome na função política, as atividades que
pressupõem a adoção de critérios políticos de decisão e que são a
atividade legislativa e a atividade política em sentido estrito;
Hierarquia das Funções:
A hierarquia das várias funções do Estado, esquematiza-as de modo a que a
função primária seja vista como a Função Política em sentido lato, a função
secundária as funções de natureza e jurisdicional ainda que dentro da
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função jurisdicional haja uma função autónoma, o controle de
constitucionalidade.
3.1Função Política em sentido amplo:
Vista como a atividade de ordenação da vida coletiva assente em valores,
ideologias e programas e exercida em benefício da mesma coletividade.
Supõe que os órgãos competentes para o seu exercício tomem, com
expressivo grau de liberdade e mediante os atos constitucionalmente
prescritos para o efeito, decisões fundadas no bem comum que definam
inovadoramente o interesse público a prosseguir, no preenchimento dos fins
do Estado.
O exercício da função política implica a tomada de decisões e de critérios
de decisão, inovatórios ou primários, na medida em que, por regra, é a
Constituição a principal fonte dos respetivos limites jurídicos,
As Leis, normas políticas e atos políticos são, manifestações da função
política. A função política em sentido amplo constitui uma macro-atividade
pública destinada a definir primariamente o interesse público de uma
coletividade.
A atividade pública distingue-se em:
● Critérios orgânicos ( órgãos competentes para o exercício da mesma
função);
● Critérios Formais ( atos que nos termos constitucionais se encontram
aptos para o exercício dessa atividade naturalmente livre e
inovatória);
● Critérios Materiais ( “liberdade” e “novidade” na definição das
políticas públicas que preenchem os fins do Estado)
Existem dimensões no exercício desta função:
A Atividade legislativa
A atividade político-normativa ​traduzida num poder inovador de criação e
modificação da ordem jurídica exercido pelos órgãos competentes para o
efeitos​, cujos atos assumem a forma de lei e vinculam o exercício das
demais funções estaduais.
Critérios Materiais:

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Poder de criação e modificação da ordem jurídica,​ mediante a aprovação
de normas com conteúdo político e eficácia externa que, fundadas e
submetidas ao princípio da constitucionalidade, regulam a vida coletiva e
prevalecem sobre a generalidade dos atos emanados das demais funções
constituídas do Estado.
O poder normativo primacial alude à circunstância de a função legislativa
implicar o exercício de uma política pública reguladora, marcada por um
programa de valores e interesses que modificam a ordem jurídica interna.
Subjacente à mesma estão o princípio da legalidade democrática (artigo
3º.3), submissão dos tribunais e da Administração Pública ao mesmo
critério ( artigo 203º e 266º.2) e o princípio da tipicidade da lei ( artigo
112º.5).
Critério formal:
Nos termos do artigo 112º.1, podemos reconduzir esta atividade à prática
de atos jurídico-públicos que ​devem revestir uma das três formas
específicas de lei previstas no referido preceito: a lei (formal), o decreto-lei
e o decreto legislativo regional
Critério orgânico.
Pela alínea c) dos artigo 161º,198º e 227º, podemos ver que se designa a
uma ​atividade jurídico-pública que se encontra, respetivamente, reservada
à competência da Assembleia da República, do Governo e das Assembleias
Legislativas das regiões autónomas.​
A Atividade Política em sentido estrito
Critério Substancial:
Assenta na ​produção de atos e na externalização de condutas que
corporizam:
● O sistema de freios e contrapesos do sistema político;
● O exercício da política externa
● O uso de poderes excecionais da defesa da República;
● Formas de exercício da democracia direta ou semi direta;
Critérios Orgânico-Formais:

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A referir na emissão de normas jurídicas ​envolve tanto, a emissão de atos
singulares, como de atos normativos​. Os atos normativos e não
normativos da atividade política assumem formas muito variadas, todas
elas de caráter não legislativo;
-Categorização dos atos políticos
Os atos políticos podem ser imputados quer aos órgãos do Estado quer aos
órgãos das regiões com autonomia político-administrativa
Atos de Direção Política: decisões que ​envolvem uma escolha
potencialmente livre de opções primárias relativas ao funcionamento
das instituições do Estado e determinam objetivos de ação política,
fixando, se for caso disso, nos meios ou vias de prossecução ( por
exemplo: nomeações de titulares de órgãos constitucionais, renúncia do
PR, dissolução do Parlamento e marcação de Eleições)
Atos de Controlo: implica um poder de escrutínio e vigilância por parte de
determinados centros de poder sobre outros órgãos ou titulares de
órgão,​ bem como sobre respetivos atos:
● Decisões de responsabilização política e jurídica interorgânica (
convocação e suspensão de membros do Governo pelo
Parlamento);
● Poderes de Livre Apreciação do mérito de atos e de outros órgãos
( veto e promulgação presidencial);
● Autorizações, atestações e confirmações ( referenda ministerial
dos atos do presidente da República);
● Atos de garantia jurídica de ordem constitucional ( promoção do
controlo preventivo da constitucionalidade das normas);
Atos e Normas de Função Política​: Os atos caracterizam-se porque s​ão
aprovados pelos órgãos constitucionais competentes para o exercício da
função política​, assumem conteúdo individual concreto e o sentido
obrigatório ou imperativo que deles dimana projeta-se, nos órgãos de poder
político; Já as normas como é o caso do decreto normativo do PR declara
os estados de sítio e de emergência; as resoluções normativas; e a decisão
referendária vinculativa de caráter nacional, regional ou local, na medida
em que obrigue o conteúdo de normas jurídicas;

3.2.Função Administrativa:
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Traduz-se na ​concretização e execução das leis e na satisfação permanente
das necessidades coletivas ​legalmente definidas, mediante atos, contratos e
atuações materiais, emanados de órgãos e agentes dotados de iniciativa e
parcialidade na prossecução do interesse público.
Critério Material:
A função administrativa vincula-se não apenas à constituição, mas também
à lei ( 266º.2). A prossecução do interesse público através da satisfação
permanente das necessidades coletivas. Os centros de decisão
administrativa devem exibir iniciativa e parcialidade na prossecução do
interesse público ( seguindo objetivos traçados por lei);
Critérios Orgânicos:
Traduzem-se na menção aos órgãos e agentes que desenvolvem a atividade
administrativa, nos termos do 266º.2. O Governo é por regra o órgão
superior de administração pública ( artigo 182º), a Constituição alude a
outros órgãos dotados de agir no âmbito desta função como governos das
regiões autónomas, das câmaras municipais e juntas de freguesia, prevê
igualmente a existência de entidades administrativas independentes.
Critérios Formais:
Manifestações externas do exercício da atividade administrativa,
importando destacar, os atos e contratos sendo que as atividades materiais
de administração ( não assumem por si natureza jurídica). Importa
distinguir os seguintes atos de Administração:
● Atos Normativos (assumem a natureza de regulamentos
administrativos, são as normas jurídicas gerais e abstratas que, no
exercício de poderes jurídico-administrativos, visem produzir efeitos
jurídico externos);
● Atos Administrativos 8 são decisões que, no exercício de poderes
jurídico-administrativos, visem produzir efeitos jurídicos externos
numa situação individual e concreta);
● Contratos Administrativos ( acordos plurilaterais de vontade
celebrados entre entidades públicas ou com particulares e que se
destinam à constituição, modificação ou extinção de uma relação
jurídica administrativa);
3.3Função Jurisdicional:
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Atividade que ​resolve questões de direito emergentes de interesses
conflituantes, através da aplicação da constituição, das leis e de outras
normas,​ mediante decisões que em regra reveste caráter individual e
concreto e são tomadas pelos tribunais, órgãos caracterizados pela sua
independência, imparcialidade e passividade.
Critérios materiais:
● Objeto da Função ( operação intelectual de resolução de questões que
envolvem a aplicação do direito);
● Fim da Atividade Jurisdicional ( traduzido na composição, concreta
ou abstrata, de conflitos e litígios);
● Natureza Secundária ( como atividade jurídico-pública, destinada à
aplicação da constituição e da lei);
Critério Orgânico:
Reporta-se aos tribunais como centros institucionais de poder, formados
por juízes que, com independência, desenvolvem especificamente a função
jurisdicional
Critério Formal:
Reconduz-se às decisões jurisdicionais, quando vertem sobre a controvérsia
e são qualificáveis como sentenças;

4.Funções do Estado e Separação de Poderes.


Princípio de Separação de Poderes- cada órgão constitucional, a quem é
atribuído o núcleo essencial d e uma função do Estado, se deva conter nos
limites das competências que lhe são constitucionalmente atribuídas​, de
modo que seja assegurado um modelo de repartição que observe exigências
de essencialidade nuclear na distribuição das atividades públicas, de
desconcentração e de responsabilidade jurídica e política no exercício
dessas atividades.
Razões para não utilizar a Teoria Inicial de Locke, atualmente :
● Transformações nas Funções e Fins do Estado ( O esteio da
constituição liberal originárias, nunca teve uma efetividade evidente
na prática constitucional);
● Liberdade Conformadora do Constituinte para configurar diferentes
modalidades de “separação de poderes” ( O Estado Social de Direito
19
impera não um princípio fixo ou rígido, mas sim um que muda em
relação às diferentes arquiteturas que a Constituição dá aos órgãos de
poder político);
● Limites políticos e jurídicos fixados pela teoria do “núcleo essencial”
( ideia de flexibilidade do princípio de acordo com a configuração
própria de cada Constituição, existem princípios teleológicos que
caso sejam ultrapassados impedem que se possa invocar o princípio
de separação de poderes);
● Complementaridade entre separação e interdependência de poderes
(O princípio de interdependência age como um critério
complementar de toda a separação de poderes);
Assim pela separação de poderes podemos ver que as Funções estão
separadas:
● Atividade política em sentido Estrito ( PR, AR e Governo)
● Atividade Legislativa ( AR e Governo)
● Exclusão da AR da atividade administrativa;
● Atividade jurisdicional ( Tribunais)
Razões para a interdependência de poderes:
1º- Não basta repartir competências entre órgãos e atribuir a cada um deles
do primado de uma função, pois “só poder limita o poder”;
2º- As exigências de funcionamento do sistema político, que reclama uma
articulação contínua e recíproca tanto no âmbito da colaboração formal (
iniciativa legislativa de governo, nomeação e representantes pelo PR) ou o
puro controlo político interorgânico ( institutos da promulgação e do veto
presidencial);
Princípio da Competência:
O princípio da competência, como pressuposto da edição da lei ​justifica a
atribuição a um determinado órgão, com a eventual exclusão dos demais,
do poder de editar atos legislativos em relação a uma matéria e se for caso
disso, num espaço territorial determinado e num prazo devido.
A competência reveste estruturalmente uma natureza mista, dado que
abarca elementos de caráter:

20
● Formal ( assimilam os órgãos de poder e as legendas ou títulos
legislativos que chancelam as normas aprovadas pelos mesmos
órgãos- segundo o 112º.1)
● Substancial ( respeitam a titularidade do poder legislar que é
cometida a certos órgãos institucionais, à reserva material onde o
referido poder incide)
A titularidade define-se como a assunção por parte de um dado órgão, de
um poder específico que o habilita, ao exercício da função legislativa,
assumindo-se como centro do processo de distribuição de competências
legiferantes. Pode assumir 2 modalidades:
● Primária (faculdade cometida constitucionalmente a um órgão para
ditar atos legislativos, de conteúdo inovatório, sobre determinadas
matérias , legislando sem vinculação a outras normas de direito
interno que não a constituição. A AR detém esta titularidade)
● Sub-Primária ( órgão que dela seja portador deva uma necessária
observância a limites paramétricos fixados por certas leis interpostas
entre a Constituição e as normas legais);
A reserva material da lei pode decompor-se numa reserva total e num
domínio reservado:
Reserva Total- pressupõe que todo o regime inovatório e substantivo de
uma matéria deva ser esgotada, em termos de densificação pela legislação
de um órgão determinado;
Domínio Reservado- predica a existência de 2 âmbitos materiais presentes
na órbita da mesma matéria, afetos à regulação de leis diferentes que
poderão, ou não ser emitidas por órgãos também diferentes.
Princípio da Competência legislativa:
Pressupõe:
● Reserva de Constituição na Delimitação das competências
legislativas ​( os poderes legislativos de cada órgão competente para o
efeito resultam da Lei Constitucional, não podem ser definidos
através de lei ordinária. Por exemplo: Não pode a lei determinar que,
o direito que rege as obras públicas passe a ficar afetado á reserva
exclusiva do Governo);

21
● Consumpção de uma reserva de densificação total ( quando a um
órgão é atribuída competência legislativa para reger o âmbito integral
de uma reserva, ele deve esgotar essa reserva);
● Taxatividade constitucional das delegações legislativas (O artigo
111º.2, diz que as autorizações legislativas de um órgão a outro
dependem de uma habilitação constitucional. Caso de o Governo
beneficiar de uma autorização legislativa da AR)
● Tempus regit actum​( Se as normas constitucionais atributivas de
competências legislativas forem objeto de revisão constitucional, tal
não afetará a validade das leis produzidas ao abrigo do direito
constitucional antigo, valendo o efeito da revisão constitucional
apenas para o futuro);
● Restrições ao regime de fixação de limites à atividade legislativa ​(
órgão só pode limitar o exercício da competência legislativa de
outro, nos termos estritos da Constituição. A AR nem tão pouco se
pode restringir à enunciação geral de matérias objeto da autorização
e à fixação de meros princípios genéricos);
● Incidência supletiva do princípio da subsidiariedade ( ​relativamente a
áreas dilemáticas de repartição de poderes legislativos situadas, no
universo da concorrência legislativa paralela entre Estado e regiões
autónomas);
4.2 Qualidades Operativas dos Atos Legislativos:
Noção de Operatividade Legislativa:
A operatividade de um ato legislativo ou a “lei em ação” é o conjunto de
efeitos manifestados pela norma legal. A operatividade da lei pressupõe:
● Dimensão Vertical ( reflexo da estrutura hierárquica do ordenamento
e integra os atributos que concorrem para a própria definição de lei)
● Dimensão horizontal ( respeitante às relações travadas entre leis
ordinárias);
A forma e o valor normativo são pressupostos permanentes da
operatividade da norma legal. Já a força e parametricidade material
configuram-se como os seus elementos dinâmicos e consequências.
Forma de lei:
A lei pode abranger uma forma específica ou geral;
22
A forma específica tratar-se-á da lei, decreto-lei e do decreto legislativo
regional ( artigo 112º.1)
Valor Normativo de Lei:
A lei, decreto-lei e decreto legislativo regional têm o mesmo valor. Quando
no 112º.3 se alude ao valor reforçado de certas categorias, pretende
referir-se ao regime operativo de certas leis nas relações de respeito que
impõem a outros atos legislativos.
A “categoria legal” é um conjunto de atos legislativos que se caracterizam
por um regime jurídico específico que lhes confere uma produtividade
própria​. A configuração do regime jurídico, resulta da incidência de
critérios lógicos ( cronologia e especialidade) e teleológicos ( hierarquia,
competência e procedimento agravado) na morfologia dessa categoria
legal.
A forma de Lei da AR pode assumir uma multiplicidade de categorias
como a lei orgânica, o estatuto autónomo regional ( artigo 166º.2), lei
comum ( 161º.c e 112º.2), lei de bases ( 112º.2 e 227º.1c), lei de
autorização legislativa ( 112º.2 e 227º.1b).
Os decretos-lei do Governo emanam diversas categorias como decretos-leis
da competência concorrencial alternada (198º.1.a), complementar (
198º.1.c), delegada ( 198º.1.b) e a exclusiva (198º.2).
Devemos também abordar a ​problemática da definição de lei e de norma​,
bem como da reserva de lei e dos seus limites.

23
i) Definição de norma:
a. A ​generalidade deve constituir o ​elemento estrutural de caracterização
de uma norma. Norma como critério de decisão aplicável a uma
pluralidade indeterminada ou imediatamente indeterminável de
destinatários independentemente de se esgotar numa situação concreta ou
pluralidade de situações​. A abstracção não deve constituir um elemento
de definição da norma, porque não abrange as regras que se esgotam num
caso concreto, apesar de serem gerais (carácter normativo do comando). A
repetibilidade não é elemento da norma.
b. No entanto, para efeitos de Direito Constitucional, há um problema com
o conceito de norma, para efeitos de fiscalização da constitucionalidade –
que apenas ocorre relativamente a normas, nos termos do artigo 277.º, n.º 1;
c. De facto, como a Constituição não obriga a que os actos legislativos
sejam gerais e abstractos – nomeadamente porque isso só acontece para
alguns casos (artigo 18.º, n.º 3; leis de bases), e é admitida a existência de
actos administrativos sob a forma de lei (artigo 264.º, n.º 4) –, teríamos
sempre, face a um acto legislativo, de conferir se este continha normas,
para verificar se a sua constitucionalidade poderia ser fiscalizada pelo
Tribunal Constitucional;
d. O Tribunal Constitucional (TC) tem uma posição pragmática: adoptou
um conceito funcional de norma, adequado ao sistema de fiscalização. A
fórmula de qualificação necessária para ser objecto de controlo da
constitucionalidade abrange: 1. Os actos normativos desprovidos de forma
legal (critério de decisão ou regra de conduta), de conteúdo geral e
abstracto; e 2. Os comandos sob a forma de lei, mesmo que individuais e
concretos, desde que com a forma e força de lei.
e. No Direito Constitucional é de adoptar a concepção pragmática do TC.
ii) Definição de lei:
a. A análise deve partir do regime constante na Constituição e não de uma
“mitologia” do conceito de lei;
b. A Constituição não obriga que a lei tenha sempre um conteúdo geral e
abstracto – podem existir (e existem) leis singulares, com conteúdo
individual e concreto. Como já referimos, a Constituição só estabelece a
necessidade de conteúdo geral para alguns casos (artigo 18.º, n.º 3; leis de
24
bases), sendo admitida a existência de actos administrativos sob a forma de
lei (artigo 264.º, n.º 4). A função político-legislativa é primária ou
dominante sobre as secundárias, como a função administrativa, sendo
admissível a compressão do seu âmbito de actuação, dentro de certos
limites. Defender o contrário seria admitir uma limitação à competência
legislativa genérica da Assembleia da República que não se encontra na
Constituição face à redacção do artigo 161.º, alínea c);
c. A lei resulta de um critério político de decisão e é um acto:
i. Produzido através de um determinado processo e revelado com uma
determinada forma (típica de lei) – artigo 112.º, n.º 1;
ii. Por um órgão com competência para tal;
iii. Que goza de uma determinada força no ordenamento jurídico (força
geral de lei) – artigo 112.º, n.º 5;
iii) Reserva de lei:
a. Trata-se de uma reserva face ao âmbito e aos actos típicos de outras
funções;
b. É o domínio material necessário de legalidade, que resulta do princípio
da separação de poderes (artigo 111.º, n.º 1) e implica:
i. ​Prioridade de disciplina normativa: a lei assegura a regulação exclusiva e
primacial de determinadas matérias, com carácter inovatório; exclusão de
deslegalização ou substituição por acto de outra função em caso de lacuna
ou omissão;
ii. ​Supremacia da lei​: princípio da legalidade – os actos das funções
secundárias devem fundar-se na lei e conformar-se com ela;
c. A reserva pode ser:
i. ​Horizontal: é o âmbito material que a lei pode abranger – há reserva
total de lei (a lei pode dispor sobre todas as matérias) – (exemplo artigo
161.º, alínea c);
ii. ​Vertical: é o grau de densificação – Podem existir leis individuais e
concretas mas se a densificação for muito grande, há o potencial de conflito
com funções secundárias ou com a autonomia privada.

25
Reserva de lei em sentido vertical​ - limites:
a. ​A autonomia privada ​(ex.: contratação colectiva ou contrato de trabalho
– como no Caso);
b. Apesar de não existir ​reserva geral de administração (também não
existindo uma reserva geral de regulamento), existem domínios reservados
à administração, relativamente:
i. Ao Governo (é o que surge no Caso): deve haver respeito pelo “núcleo
essencial da administração ou do executivo” (Ac. do TC n.º 24/98): este
não pode ser ofendido ou apropriado. É uma decorrência do princípio da
separação de poderes a garantia de uma esfera ou margem útil de poder
autónomo de administração do Governo – até para permitir a sua
responsabilização – sem uma intromissão intolerável da Assembleia da
República. As reservas administrativas específicas do Governo serão,
assim, por exemplo:
1. A reserva de execução orçamental​: artigo 199.º, alínea b); 167.º, n.º 2
(lei, dispositivo ou norma travão);
2. A ​reserva relativa ao poder de direcção, superintendência e tutela
(artigo 199.º, alínea d). Neste âmbito pode-se distinguir:
a. Os poderes relativos à administração directa: o poder de direcção. A
reserva abrange os actos de nomeação, classificação, responsabilização
disciplinar, dar ordens ou injunções, interferir na gestão corrente, ordenar
operações materiais, etc. O TC tem sido relutante na sua afirmação, por
temer diminuir o controlo e responsabilização do Governo perante a
Assembleia da República. Não tem razão: a fiscalização não implica
poderes de substituição.
b. Os poderes relativos à administração indirecta: o poder de
superintendência – emitir directrizes. Tendo em conta o âmbito do poder do
Governo e o da reserva de lei (normatividade), aqui é difícil encontrar uma
reserva firme. Deve ser verificado o seu respeito caso a caso.
É uma reserva do Governo face à Assembleia da República. Pode o
Governo usar a forma de DL para actuar nestes domínios? Em princípio
isso será inconstitucional por excesso de forma (a reserva aqui refere-se só

26
à forma, não já ao órgão) – mas a consequência é a mera irregularidade do
DL.
ii. ​À administração autónoma:
1. Autarquias Locais: cfr. artigos 235.º, 237.º, 241.º. Exemplos: é proibido
revogar regulamentos autárquicos ou substituí-los; é também proibido
concretizar demasiado o acto legislativo, pois pode levar à expropriação da
autonomia administrativa (exemplo: emissão de actos administrativos);
2. Regiões Autónomas: cfr. artigos 227.º, n.º 1, alínea d) e g), 232.º, n.º 1.
Exemplos: é proibido revogar regulamentos regionais ou substituí-los; é
também proibido concretizar demasiado o acto legislativo, pois pode levar
à expropriação da autonomia administrativa (exemplo: emissão de actos
administrativos);
3. Universidades: cfr. artigo 76.º, n.º 2. Corresponde a um núcleo de
auto-organização institucional ou funcional, de métodos pedagógicos
concretos, bem como de avaliação dos alunos (exames, notas ou passagens
administrativas);
iii. À administração independente: Conselho Superior de Magistratura;
ERC; CNE.
A problemática da reserva de lei e dos seus limites, bem como da tipicidade
da lei, culmina em algumas das seguintes conclusões:
Lei:
a. Pode revogar o DL​: lei e decreto-lei têm igual valor, salvo excepções
(artigo 112.º, n.º 2);
b.​ Tipicidade:
i. Há uma reserva de Constituição relativamente aos actos legislativos (que
têm força e forma de lei) – só são admíssiveis as formas
constitucionalmente previstas (artigo 112.º, n.º 1);
ii. A lei não pode criar outros actos legislativos nem atribuir a actos de
outra função força de actos legislativos – como a Assembleia da República
tencionava fazer neste caso.
iii. A lei não pode ser interpretada, integrada, revogada, suspensa,
modificada ou ver a sua aplicação estendida, com eficácia externa, por
27
actos que não sejam actos legislativos (artigo 112.º, n.º 5). É, no entanto,
admissível a interpretação conforme à Constituição quando existe apenas
um sentido interpretativo que seja conforme.
i) Lei da Assembleia da República: questão da reserva de lei: a lei pode,
em princípio densificar esta matéria sem limite – não há necessidade de
generalidade ou abstracção;
ii) DL:
a. Tipicidade: (112.º, n.º 5);
b. Regulamentos (a propósito da remissão para portaria):
i. Regulamentos independentes: disciplina tendencial ou parcialmente
inovatória, em termos próximos dos da lei, mas sem gozar da sua força,
carecendo de lei que estabeleça a competência objectiva e subjectiva para a
emissão (artigo 112.º, n.º 7);
ii. Regulamentos de execução: concretizar normas legais (artigo 112.º, n.º
7);
iii. Regulamentos autónomos: normas administrativas (estão abrangidos
os regulamentos independentes ou de execução) emitidas por órgãos
integrados na administração autónoma – que, por definição, prossegue
interesses próprios (AL: 241.º; Uni: 76.º, n.º 2; RA: 227.º, n.º 1, alínea d);
iv. Regulamentos delegados: proibidos pela Constituição, trata-se da
previsão de normas administrativas que, mediante habilitação legal,
derrogam, interpretam ou integram actos legislativos – são
inconstitucionais por violação do princípio da tipicidade (112.º, n.º 5).
c. Regulamentos do Governo:
i. Os regulamentos independentes do Governo carecem de forma de decreto
regulamentar (artigo 112.º, n.º 6);
ii. É inconstitucional norma que remeta para acto regulamentar a disciplina
de uma matéria, sem estabelecer o respectivo regime jurídico, se este não
tiver a forma de decreto regulamentar. Neste caso, estamos perante um
regulamento independente do Governo, que deve ter a forma de decreto
regulamentar (artigo 112.º, n.º 6). É inconstitucional também porque se está
a contornar o controlo do Presidente da República relativamente aos actos

28
do Governo (o decreto regulamentar está sujeito a promulgação – artigo
134.º, alínea b).

Atributos consequências:
Natureza permanente.; A força de lei:
A força específica como efeito operativo que o ato verte na tensão gerada
entre as diferentes “formas” e “categorias legais”.
Força específica de lei- ​manifestação relacional de prevalência do ato
legislativo​. Traduz-se numa potência relacional que permite a uma dada lei
revogar, alterar ou suspender outro ato legislativo ( força ativa), bem como
resistir à afetação da sua eficácia por parte de determinadas normas legais
supervenientes ( força passiva). A prevalência manifesta-se através de
institutos como a revogação e a suspensão. A rigidez do seu caráter passivo
poder muito elevado ( estatutos e leis aprovadas por maioria de 2/3); média
(como o caso das leis orgânicas ); reduzida “ como a lei do orçamento que
atenta uma anualização);
Lei Reforçada:
A definição de lei reforçada não pode ser operada sem apelar o conceito de
controlo de legalidade e o controlo de legalidade não pode ser definido sem
a convocação da categoria da lei com valor reforçado. A lei reforçada ​nasce
para ser respeitada por outras leis, sob pena de ilegalidade das restantes
leis ​( que surge para se firmar como relação de desvalor que atinge os atos
que violam as leis reforçadas).
Esta integra dois tipos de categorias:
● Estrutura normativa ( leis reforçadas pelo procedimento estribam o
seu valor normativo em elementos constitutivos orgânico-formais e
pela hierarquia material)
A finalidade das leis reforçadas destinam-se a limitar o decisor maioritário,
favorecendo tanto a codecisão entre maiorias e minorias ( leis aprovadas
por maioria de 2/3), como concertos fiduciários entre poderes supremos (
lei do OE). A grande maioria das leis paramétrica-diretivas respeitam a
partilha ou divisão no exercício da função legislativa bem como a

29
determinação de denominadores comuns de ação normativa que reduzam à
unidade, legislação dispersiva. Distingue-se então, “Leis reforçadas”:
● Em sentido próprio ( leis ordinárias rígidas pelo procedimento como
é o caso da maioria das leis orgânicas e leis aprovadas por maioria de
2/3)
● Em sentido impróprio ( atos legislativos materialmente paramétricos,
que estabelecem por imposição constitucional relações de hierarquia
substancial sobre outros atos legislativos como nas leis base):
● Duplamente reforçadas ( cumulam os predicados das duas categorias
anteriores, sendo portadoras em razão do seu procedimento agravado
de produção, de uma maior rigidez do que a que tange a legislação
comum);
Apreciação da especialidade e categorias legais com valor reforçado:
Finalidade dos procedimentos agravados na fase de aprovação:
Objetivos germanísticos muito precisos, pelo que a modulação específica
de cada itinerário formal visa preencher uma pluralidade de finalidades
políticas.
Critérios Classificatórios de Leis Reforçadas:
● Critério maioritário (unidade de conta seletiva que permite a
legitimação de uma decisão adotada pela maioria simples dos votos
obtidos num colégio determinado);
● Critério utilitário (método mais adequado para servir a
governabilidade)
● Critérios de decisão sustentados em maiorias qualificadas (
favorecem, o protagonismo bloqueador de minorias intensas, na
génese e na alteração do direito);
O fim das leis reforçadas acaba por ser a necessidade de pacificar e
estabilizar, pelo consenso, certas disciplinas normativas que direta ou
instrumentalmente se repercutem no regime político e econômico, no
sistema político e forma de Estado.
Leis orgânicas:
Objeto da reserva material:

30
Abarcar os seguintes domínios ( ver artigo 166º.2, 164º e 255º):
● Matérias político-institucionais de âmbito nacional;
● Disciplina de direitos fundamentais de natureza política;
● Matérias relativas à autonomia territorial, as quais se decompõem em
domínio eleitoral, financeira e organizativa
Dentro das leis orgânicas há que distinguir:
● Relativas à formação de da vontade política geral ( eleições de
titulares de órgãos de soberania ,referendos)
● Leis orgânicas atinentes à segurança nacional ( Defesa nacional por
exemplo)
● Concernentes à garantia jurisdicional da Constituição ( Lei do TC)
Mecânica Operativa da reserva de lei orgânica:
Integrando a reserva absoluta de competência da AR as leis orgânicas
acabam por corporizar uma “reserva de ato”:
● Reserva absoluta de competência ( envolve uma densificação
total da disciplina primária da matéria objeto da reserva da lei
orgânica);
● Reserva de Procedimento agravado;
Requisitos Formais:
i) Título formal:
Modo de revelação das leis traduz-se pela necessária aposição de uma
legenda ou título privativo
ii) Aprovação:
Trâmite principal agravado e permanente determina a maior força jurídica
passiva ou rigidez e radica na fase constitutiva residindo na aprovação, em
votação final, pela maioria absoluta dos deputados em efectividade de
funções segundo o 168º.5
Existem exceções à votação na especialidade que se processaria
maioritariamente por maioria simples ( artigo 116º.3) , no entanto existem
exceções como:

31
● Leis que devem ser aprovadas no Parlamento por maioria de 2/3,
como o redigido no artigo 148º,149º, 239º.3;
● A aprovação integral na especialidade pela maioria absoluta dos
deputados ( artigo 255º)
● Caso singular das leis orgânicas relativas à eleição de deputados às
assembleias legislativas regionais sujeitas a uma reserva de iniciativa
atribuída a parlamentos regionais ( artigo 226º.4)
iii) Controlo de Mérito
Agravamento geral com caráter eventual emerge na fase de controlo de
mérito (artigo 136º.3), se o PR vetar politicamente o decreto, a superação
do mesmo veto processa-se mediante confirmação do diploma pela maioria
de 2/3.
iv) Fiscalização preventiva:
Trata-se do alargamento do espetro de órgãos legitimados a iniciar
semelhante processo de controlo ao PM e a 1/5 dos deputados à AR
(278º.4). Trata-se do regime da “promulgação vedada”:
● Durante o prazo de 8 dias volvidos sobre o envio do mesmo diploma,
para que os mesmos possam ter um prazo suficiente de reflexão para
suscitar a fiscalização preventiva (278º.7)
● Desencadeando um processo de fiscalização preventiva, enquanto o
TC se não pronunciar sobre a questão (278º.7)
Leis aprovadas por uma maioria de 2/3
Embora, segundo o artigo 112º.3, as leis que carecem de aprovação por
maioria de 2/3 , as normas previstas no artigo 168º.6 dificilmente podem
ser designadas na sua totalidade como leis:
● São exemplos de leis que carecem de ter de ser aprovadas por
maioria de 2/3 ( as relevantes à entidade reguladora da comunicação
social e ao direito de voto dos cidadãos portugueses relativamente ao
PR pelos termos do artigo 168º) ;
● Leis que regulam os limites à renovação de mandatos dos titulares a
cargos políticos executivos ( artigo 118º.2) e o número mínimo e
máximo de deputados da AR ( artigo 148º)
Atos legislativos “híper-reforçados”:

32
Julga-se que relativamente às leis aprovadas por 2/3, que estas tenham de
dispor desta maioria na generalidade, especialidade e na votação final
global ( não sendo isto coerente em toda a doutrina). Há que considerar
2 sub-espécies:
● Variante inserida incidente na votação na especialidade das leis
orgânicas ( artigo 149º,148º e 239º.3)
● Votação na especialidade de uma lei ordinária comum (artigo
164º)
Estas leis não estão portanto sujeitas a veto qualificado podendo
ultrapassá-lo pela maioria parlamentar onerosa de 2/3 ( pelo artigo 136º)
1.Leis de Bases:
Não existe uma definição deste tipo de leis mas estas estão subjacentes ao
artigo 112º.2, 198º.c e 227º.1. Estas consistem então de uma categoria legal
que contém princípios e diretrizes genéricas ,designados de “bases” gerais,
que traçam as opções políticas primárias e fundamentais de um
determinado regime jurídico, cuja disciplina carece de ser de ser
desenvolvida. Caracterizam-se por:
● Serem normas primárias de caráter incompleto, pois as suas
diretrizes não têm natureza auto-aplicativa);
● Dotadas de uma supremacia hierárquica material, traduzida numa
supro ordenação em relação à legislação que proceda ao seu
desenvolvimento;
● O seu programa normativo permite definir linhas irradiadoras de uma
disciplina de caráter uniforme para uma da matéria, constituindo um
instrumento impositivo de uma generalidade normativa qualificada e
incompleta;
Competências para com as Leis de Bases:
-Aprovação:
Tanto a Assembleia da República, como o Governo como ainda, as
assembleias legislativas regionais podem aprovar leis de bases, mas destes
três a essencialidade corresponde à AR:
● Assembleia da República:
- no âmbito de 2 matérias da sua reserva absoluta (artigo 164º d e i)

33
- no âmbito da reserva da sua relativa competência ( 165º.1f,g,n,t,u e z);
-Competência de concorrência alternada com o Governo e paralela com as
Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas, sobre matérias
não enumeradas na CRP ( implícito no artigo 161.c)
● Governo:
- mediante autorização legislativa, na esfera de reserva relativa de
competência legislativa da AR (198.1b conjugado com 165.1);
- concorrência alternada com a AR e concorrência alternada com a AR e
competência paralela com as assembleias legislativas regionais (
implícito do artigo 198.1.a)
● Assembleias Legislativas Regionais:
- podem aprovar mediante autorização legislativa, decretos legislativos
regionais de bases nas matérias respeitantes as bases gerais previstas
(artigo 227º.1.b);
- Desenvolvimento das leis de bases e seus pressupostos:
É juridicamente pacífico que o Governo e as assembleias legislativas das
dispõem da competência para desenvolver atos legislativos de bases
aprovados pelos próprios ou pela AR ( 198º.1.c e 227.1.c), mas surgem
grandes divergências se a AR pode em, concorrência com o Governo,
desenvolver leis de bases por si mesmo editadas, bem como
decretos-leis de bases aprovados pelo Governo:
Em favor ( Tribunal Constitucional, Tiago Fidalgo Freitas, Luís Pereira
Coutinho);
Contra ( Jorge Miranda, Carlos Blanco de Morais e Paulo Otero);
Categoria das Leis de bases:
● Bases gerais reservadas à Assembleia da República:
Podem ser exclusivamente aprovadas pela AR ou pelo Governo, em certas
matérias, pelas assembleias legislativas das regiões autónomas;
- Estas devem ser respeitadas pelo Governo e pelas Assembleias
Legislativas Regionais, na medida do artigo 164º e 165º;

34
- A AR pode ainda legislar sobre uma matéria sem pré-existência das bases
gerais. Na defesa de uma reserva governamental isto seria
inconstitucional, mas na noção da doutrina maioritária seria possível (
implícito pelo 161.1.c);
● Bases da esfera concorrencial:
Atos legislativos da esfera concorrencial entre a AR e o Governo podem
ser, editados por estes dois órgãos de soberania ( alínea c do 161 e
198.1.a). Quanto aos atos legislativos de bases e a legislação de
densificação importa atentar:
- Como não são objeto de previsão na Constituição, o Governo e o
Parlamento podem legislar no plano do detalhe;
- Ato legislativo de bases adotado pelo Governo ou pelo Parlamento, a
regular um domínio material determinado, os órgãos podem escolher
livremente entre. Editar um diploma de desenvolvimento dessa lei;
proceder à sua revogação através de um novo ato legislativo de bases;
- Isto é uma lei de valor reforçado enfraquecida, não se encontra protegida
por uma reserva de competência parlamentar; a legislação de detalhe
não se lhe encontra necessariamente, subordinada; a sua capacidade de
vinculação depende de uma autolimitação do diploma de
desenvolvimento;
Bases gerais- opções fundamentais de um regime jurídico vinculativas de
outras disposições legais vocacionadas para a tutela de regimes mais
densos;
Vicissitudes das bases gerais:
- Revogação de legislação complementar por uma lei de bases ( revogar
legislação complementar não é o papel das leis de bases, no entanto se
as mesmas tiverem uma disposição revogatória da legislação
complementar é admissível);
- Revogação de lei bases não determina caducidade automática da
respetiva legislação complementar( não tem lugar, o ato legislativo de
desenvolvimento não faz depender a sua vigência da mesma
lei-parâmetro)

35
- Efeitos da alteração de uma lei de bases na respetiva legislação
complementar ( as alterações não determinam a caducidade das normas
legais de desenvolvimento, mas obrigam à alteração destas últimas de
forma a assegurar a conformidade com os parâmetros objeto de
modificação, sob pena de ilegalidade)
2. Leis de Enquadramento:
Atos legislativos paramétricos de outras leis que estabelecem vínculos
normativos de densidade variável às normas legais que as desenvolvem
ou concretizam e fixam as regras procedimentais que dispõem sobre
aspectos de produção das segundas;
- Normas primárias sobre a normação, projetam vínculos de ordem material
e também procedimental da legislação;
- Investidas numa supremacia hierárquica material em face dos atos
legislativos que por ela são conformados em relações especiais;
- Leis de parametricidade variável, podem ser idênticas às leis de bases
quando fixam princípios e diretrizes de conteúdos de outras leis, sem
prejuízo de agregarem um “quid pluris”;
Competências para com as leis de enquadramento:
-Aprovação:
O ordenamento admite a existência de leis-quadro, seja no âmbito das
matérias reservadas à AR, seja na esfera concorrencial entre este órgão e
o Governo;
- Desenvolvimento:
Governo e AR podem proceder à edição de bases e proceder ao respetivo
desenvolvimento, densificação e revogação;
- Conteúdo:
Pode conter tanto princípios e bases como as normas paramétricas
portadoras de um maior detalhe. Fixam leis “ com algum pormenor”
estruturantes que devem ser respeitadas por outros atos.
Regimes gerais- normas legais da reserva de competência da AR aplicáveis
a uma pluralidade indeterminada e indeterminável de destinatários que

36
admitem a emissão de leis especiais, que são ​diretamente exequíveis e
integram reserva de ​competência da AR​ (164.r e 165d,e e h);
3. Leis de autorização legislativa:
Pelo artigo 165º e 227º.2.b a AR pode, conferir autorizações legislativas ao
Governo e às assembleias legislativas regionais; Assumem a natureza
jurídica de uma delegação de poderes, já que supõem:
● Faculdade de o órgão normalmente competente poder condicionar o
exercício de poderes cometidos ao órgão eventualmente competente;
● Uma norma habilitante que permite a um órgão normalmente
competente autorizar um órgão eventualmente competente a exercer
poderes sobre competências correspondentes do primeiro;
- Conteúdo necessário:
Lei Subordinante ( não uma lei puramente formal, mas uma lei parâmetro
de outros atos legislativos que projeta nestes o seu conteúdo normativo
subordinante. Estas devem estabelecer, o sentido, a extensão e duração da
autorização pelo artigo 165º.2, se não observar estes princípios será
inconstitucional pelo artigo 112º.2. Para além de tudo isto a vontade de
autorizar tem de estar implícita num enunciado);
- Vícios das leis de autorização:
Utilização ( conjugando o artigo 165º.3 e 227º.2 e 3, estas não podem ser
utilizadas mais do que 1 vez);
Caducidade (pelo artigo 165º.2 se estas não forem referendadas,
promulgados irão caducar por decurso do prazo);
Revogações ( A AR pode revogar esta lei antes da sua autorização,
emitindo um ato legislativo que a esgote);
Leis Duplamente Reforçadas:
Existem quando são reforçadas pelo lado ativo ( parametricidade material
em face do conteúdo de outras leis) e pelo lado passivo ( rigidez derivada
de uma especialização produtiva agravada);
Estatutos político-administrativos:

37
Categoria legal que simultaneamente se caracteriza pela sua natureza
reforçada e pela sua hierarquia superior em relação às demais leis, sendo
uma lei de organização e funcionamento das instituições das coletividades
regionais insulares; Emitidas por órgãos representativos das regiões
autónomas, que carecem por vezes de aprovação por 2/3,168.6.f
-Objeto:
Princípios estruturantes que enformam o regime autonómico de uma
região;
Delimitação do âmbito geográfico das regiões;
Direitos e obrigações das regiões;
Órgãos de governo próprio;
- Hierarquia e rigidez:
Permite vincular materialmente, no estrito objeto estatutário, qualquer outra
lei ordinária do ordenamento português, mesmo reforçada. A rigidez
destina-se a garantir o valor hierárquico, impedindo a sua subversão através
de uma hipotética revogação das leis estatuárias por parte de outras leis
parlamentares sucessivas de caráter comum;
Leis de grandes Opções dos planos:
Objeto ( caráter poroso da respetiva reserva, tendo em conta que o núcleo
que do respetivo objeto, atinente a orientações de ordem económica, social,
cultural, ambiental, ecológica e educacional);
Relação com o OE ( precedência das GOP face ao OE pelo artigo 105º.2)
Rigidez ( pela alínea 161º.g, proveniente de iniciativa governamental);
Lei do Orçamento de Estado:
Objeto ( reserva material da Lei do orçamento de Estado é caracterizada
por um núcleo compacto presente no artigo 105º. Tem como objetos a
“reserva necessária do orçamento” e a “reserva potestativa de orçamento”,
iniciativa do governo 161º.g);
Parametricidade ( artigo 165º.5, que integra a caducidade da matéria fiscal);

38
Rigidez ( imposta pela “norma travão” prevista no artigo 167º.3, pode ser
explicada pela insusceptibilidade de o OE ser alterado no decurso da sua
execução e a impossibilidade apresentar uma proposta de alteração de um
orçamento `AR);
Conteúdo Vinculado (encontra-se procedimentalmente vinculada à Lei de
Enquadramento orçamental pelos termos do artigo 106º.1 assumindo-se
como lei reforçada pelo artigo 112º.3);
Leis-Quadro de Reprivatizações:
Prevista no artigo 293º, compete às leis de grandes reformas económicas;
Têm o procedimento agravado porque a respetiva aprovação é feita pela
maioria absoluta dos deputados em efectividade de funções
Finalidade- transparência ( venda de empresas públicas levantaria
problemas de favoritismo); relevo material ( justificações políticas teriam
um significado do plano de interesse nacional); durabilidade ( o consenso
das matérias em garantir rigidez, fixidez e durabilidade);

5. A Atividade Legislativa:
O Primado da Assembleia da República na Atividade Legislativa:
O primado envolve o reconhecimento da supremacia do poder parlamentar
de entre os órgãos titulares da função legislativa, a qual supõe que o núcleo
fundamental da mesma atividade seja cometido ao seu domínio decisório,
dele decorrente não apenas uma reserva de competência que abarca as
matérias mais essenciais, como também a faculdade de legislar sobre as
restantes matérias e a aptidão para condicionar e controlar o exercício dessa
atividade pelos restantes órgãos legiferantes. As manifestações do primado
são:
- Artigo 161º.c: permite-lhe legislar sobre todas as matérias não
reservadas a outros órgãos;
- A reserva absoluta e relativa de competência legislativa, situando a
AR com as matérias politicamente mais importantes ( artigo
161,164,165);
- A faculdade de se inserirem na reserva absoluta do Parlamento, as
leis reforçadas pelo procedimento;
- Leis portadoras de uma hierarquia material sobre outras;
39
- Poder de nos termos do artigo 165º.b e 227º.1, autorizar livremente o
Governo e os parlamentos regionais;
- Faculdade de controlar o exercício da função legislativa alheia,
mediante a apreciação parlamentar ( artigo 169º e 127º.4);
- Caráter suspensivo do voto presidencial, artigo 136º, por contraste do
veto absoluto sobre os decretos-lei);
Tipologia das Competências Legislativas:
- Competência Legislativa ​genérica​: prevista na alínea 161º.c, reflexo
do primado da Assembleia da República no exercício da função
legislativa e traduz-se na faculdade de a mesma Assembleia poder
legislar sobre todas as matérias, exceto as reservadas ao Governo;
- Competência Legislativa ​Reservada​:
Reserva Absoluta:
Faculdade Exclusiva de a Assembleia da República legislar sobre um
conjunto de matérias, com a exclusão total dos demais órgãos legislativos (
abrangido pelo artigo 164º e 161º.b,d,e,f,g e h);
Reserva Relativa:
Íntegra Matérias relativamente às quais o Parlamento pode legislar a todo o
tempo, independentemente de, a pedido do Governo ou das Assembleias
Legislativas das regiões autónomas, conceder a estes órgãos uma
autorização legislativa ( artigo 165º.2).
Densidade Reguladora Variável das Leis
i) Reserva de densificação total do nível integral operada por leis da
Assembleia da República ( artigo 164º.a,b,c,h,j), implica dois requisitos:
toda a dimensão inovadora de uma disciplina normativa que recai sobre
uma matéria tenha de ser consumida por lei e que a lei em consideração
seja necessariamente um ato legislativo da AR
ii) Reserva parlamentar de densificação do nível relativo: ( artigo 165.1.a,b
e o), lei parlamentar ou ato legislativo governamental ou regional
autorizados pelo Parlamento devem, igualmente, consumir ou esgotar toda
a dimensão primária ou inovadora de uma matéria ou domínio material.

40
iii) Regulação da matéria da reserva parlamentar( consoante os artigos
164.r e 165.1 d,e e h)
iv) Reserva Parlamentar, do enquadramento da reserva parlamentar ( artigo
164ºd, i e nm assim como o artigo 165º.1 f,g,t,u e z)
5.1Procedimento Legislativo Parlamentar:
Entendido como a sucessão encadeada de atos ou fases tidos como
juridicamente necessários para a produção e revelação de uma norma
legal, por parte de um órgão competente para o efeito.
1- ​Iniciativa Legislativa​: ​momento de instauração, iniciação ou propulsão
do procedimento legislativo parlamentar
Tipos:
Iniciativa Legislativa Interna: Quando a iniciativa provém dos Deputados e
grupos parlamentares, sob a forma de projeto-lei ( artigo 167º.1)
Iniciativa Legislativa Externa: quando provém como consta do artigo
167º.1, do Governo, Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas em
relaçã oa matérias que lhes respeitem e ainda a grupos de cidadãos
eleitores;
Competência e iniciativa legislativa não são sinónimos. Competência é o
poder de aprovar uma norma legal, enquanto que a iniciativa seria o estádio
integrativo da componente formal do ato legislativo.
Os sujeitos a quem é atribuído o poder de iniciativa não são
necessariamente os mesmos que intervêm no exercício da competência para
a aprovação de leis.
Limites:
-​Norma-Travão​: o artigo 167º.2 restringe o âmbito das leis que envolvam ,
no ano económico, um aumento da despesa ou uma diminuição da receita
do Estado previsto no Orçamento;
-​Assembleias Legislativas das Regiões​: só podem apresentar atento ao
disposto no artigo 167º.1, propostas de leis que incidam sobre as matérias
da competência da Assembleia da República;
-​Iniciativas Originárias​ vedadas à Assembleia da República e Deputados;

41
- ​Iniciativa dos cidadãos deve obedecer aos critérios: -preclusão de
iniciativas no domínio da reserva absoluta do Parlamento e do Governo e
Assembleias Legislativas Regionais, bem como em matérias fiscais,
financeiras e orçamentais e que envolvam amnistias e perdões genéricos;-
respeito pela CRP e Norma-Travão;- Criação de uma comissão
representativa; - subscrição de um mínimo de 35000 eleitores;
2- ​Instrução ( visa ​recolher dados, pareceres e outros elementos
cognitivos que permitam aos decisores apreciar a oportunidade e o
conteúdo da iniciativa legislativa)​
Instrução Interna - elaboração de um parecer sobre a matéria por uma
comissão especializada na mesma ( artigo 135º e 137º RAR), podendo
todos os autores apresentar perante uma ( artigo 132º.2 RAR).
A AR procede também em sede de comissão a consultas obrigatórias,
consoante o artigo 104º RAR. As consultas são obrigatórias quando se
destinam às matérias de:
- Direito da comissão dos trabalhadores ( 54º.5)
- Direito das associações sindicais ( 56º.5)
- Associações de consumidores e das Cooperativas de Consumo (
60º.3)
- Sistema de Segurança Social ( 63º.2)
- Elaboração de Instrumentos do Planeamento Urbanístico ( 65º.5)
- Política de Familía (67º.2)
- Associações de Professores, Alunos, Instituições de Caráter
Científico, definição da política de Ensino ( 77º.2)
- Organizações representativas dos trabalhadores rurais e agricultores (
98º)
- Órgãos de Autarquias, extinção e criação de municípios ( artigo
249º)
- Audição dos órgãos do Governo Regional e questões de competência
das regiões autónomas ( artigo 229º.2)
- Estatuto Político-Administrativo de uma região ( 226º.2)
3- Fase Constitutiva
A discussão de um ato de vontade normativa pelo Parlamento resulta
expressão do seu consentimento na formação de um ato legislativo
materialmente perfeito ou completo​. O momento de aprovação são objetos
42
de debate, através de uma discussão realizada pelos deputados ( artigo
168º.1 CRP). Haverá pois a considerar 3 fases aprovatórias:
- Discussão e votação na generalidade:
Discussão em sessão plenária, que pressupõe um debate sobre os princípios
e o sistema do ato de iniciativa ou seja sobre o espírito e a estrutura interna
do ato pré-legislativo (147º.1 RAR). Volvida a discussão, cada projeto ou
proposta de lei é votado em Plenário (168º.3 CRP e 148º RAR). A
deliberação correspondente a esta fase de votação processam-se por maioria
simples ( 116º.3 CRP, salvo as leis dispostas no artigo 169º.6 a e b)
- Discussão e aprovação na especialidade:
Versa sobre cada artigo número ou alínea de um projeto ou proposta de lei.
Existe um conjunto de atos legislativos que têm reserva de Plenário:
- as leis que regulam as matérias previstas no 168º.4;
- a lei referente ao artigo 168º.5;
- As leis referentes aos artigo 168º.6 a e c, que carecem de aprovação
por 2/3;
- As normas referente aos artigo 168º.6 b, d e f que carecem de
aprovação por ⅔;

- Votação final global:


Inserida no artigo 164º.1 este é o momento final da fase constitutiva que
inere à aprovação da lei, já que é por meio da votação final que o processo
aprovatório originário se encontra concluído; Quando aprovado em
comissão, o texto é enviado para Plenário para votação final ( artigo 155º.2
RAR), cada grupo parlamentar faz uma declaração de voto oral ( 155º.3
RAR);
-​Redação Final:
O presidente da Assembleia procede à redação final dos atos aprovados,
aperfeiçoando ao estilo e a sistematização ( 156º.1 e 2 do RAR);Qualquer
deputado pode reclamar inexatidões até ao terceiro dia útil após a data de
publicação no DAR do texto da redação final ( 157º.1) podendo recorrer à

43
reunião imediata à do anúncio da decisão ( artigo 165º.4 CRP e 166.1 e 2 +
157º RAR).
5-Fase do controlo do mérito:
- Promulgação e o veto
O ato legislativo aprovado pela AR é remetido sob forma de decreto ao PR
para promulgação.
O PR dispoe de vitne dias contados para vetar ou promulgar ( 136º.1) Se
tiver dúvidas no prazo de oito dias pode suscitar a fiscalização preventiva
da sua constitucionalidade junto do Tribunal Constitucional ( 278º.1 e 3).
Se a decisão consistir numa própria inconstitucionalidade o Presidente deve
vetar o decreto, assumindo este a forma de veto translativo. O diploma é,
subsequentemente devolvido ao Parlamento ( segue-se o previsto no artigo
279º. CRP). Se a pronúncia for de não inconstitucionalidade, o Presidente
terá um prazo de vinte dias para usar a sua faculdade de promulgar ou vetar
politicamente ( 136º.1 CRP)
Promulgando o ato já não fará sentido o seu controlo preventivo, restando
ao Presidente exercer a fiscalização sucessiva ( 281º.2). Caso o diploma
seja reformulado pela AR tal ato equivalerá à edição de um novo diploma (
artigo 161º.2). Se o juízo de mérito for positivo o Presidente promulga o
diploma e este passa a ser juridicamente existente, nos termos do artigo
137º. CRP. Existem 2 formas de promulgação:
- A promulgação simples;
- Promulgação com reservas- Chefe de Estado faz acompanhar o ato
promulgatório de uma mensagem onde exprime preocupações,
objeções sobre o ato e aspetos da sua concretização legal);
- Livre ( 136.1)
- Obrigatória ( leis de revisão constitucional e decretos já confirmados
pelo parlamento);
- Vedada ( em caso de fiscalização preventiva de decreto ou se for
suscitada a intervenção do TC, o presidente não poderá promulgar
segundo o artigo 278º.7);
Em caso de veto, de natureza suspensiva o Parlamento terá 3 condutas
possíveis:

44
- Desistência do diploma (161º.3)
- Confirmação do diploma com superação do veto ( artigo 136º.2 e 3)
- Reformulação ( 160º.1 RAR);
Existem vários tipos de veto:
- Veto-sanção: supõe uma discordância absoluta do Presidente em
relação ao mérito global;
- Veto-construtivo: implica uma discordância parcial ou condicionada;
- Veto por inconstitucionalidade: vinculado a um pronúncia do TC;
- Veto político: vinculado por controlo negativo livremente exercido
pelo Chefe de Estado;
A referenda ministerial:
Controlo político do Governo sobre os atos do Presidente da República. No
artigo 140º.1 da CRP, implicando a falta de referenda a inexistência
jurídica do mesmo ato ( 140º.2).
6-Fase integrativa eficácia:
O artigo 119º.1c CRP, determina a obrigatoriedade da publicação das leis
promulgadas no Diário da República. O nº2 do mesmo artigo determina a
ineficiência jurídica do ato.
5.2Apreciação Parlamentar de Atos Legislativos:
Traduz-se na faculdade da Assembleia da República, poder apreciar o
mérito da grande maioria dos decretos, tendo em vista a sua eventual
cessação de vigência e modificação, a qual pode ser precedida por uma
suspensão da sua eficácia. Os atos sujeitos à apreciação são:
- Todos os decretos-leis, salvo os aprovados no exercíCio da
competência legislativa exclusiva do Governo, de acordo com o
169º.1
- Os decretos legislativos regionais que tenham sido objeto de uma
autorização legislativa da AR ( artigo 227º.4)
Pode ser requerida por um mínimo de 10 deputados, descontando os
períodos de suspensão de funcionamento da AR ( artigo 169º.1), devendo
indicar o decreto-lei (189º RAR).

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A votação na generalidade incide sobre a cessação de vigência (205º RAR).
Já a votação na especialidade incidirá sobre propostas de alteração, as
quais podem ser objeto de votação final global ( 208º RAR).
- Se não se registar pronúncia parlamentar sobre pedido de cessação de
vigência ou, no caso de se ter deliberado introduzir emendas, deve o
processo de apreciação parlamentar considerar-se caduco ( artigo
169º.5 CRP);
- Por outro lado (197º RAR), se o Governo revogar, respetivamente o
decreto-lei objeto de alteração, até ao termo do processo de
apreciação parlamentar, este será automaticamente encerrado.
Formas de Apreciação Parlamentar:
-Apreciação para efeitos de alteração ( todo o tipo de modificações ou
emendas introduzidas em diplomas legais no contexto da apreciação
parlamentar devem revestir a forma de lei- 169º.2 e 5 +112º);
- Apreciação parlamentar para efeitos de cessação de vigência ( o ato
reveste nos termos do artigo 169º.4, a forma de resolução da AR. No caso
de ser aprovada a cessação de vigência do decreto-lei, este deixará de
vigorar, como se tivesse sido revogado, desde o dia em que a resolução for
publicada no DR e não poderá a voltar a ser publicado no decurso da
mesma sessão legislativa)
6. A Atividade Legislativa do Governo:
Foram as necessidades funcionais inerentes ao intervencionismo normador
do Estado Social de direito que conduziram à extensão da função
legislativa aos Governos, terminando com o dogma da “centralidade”
legislativa dos parlamentos.
Tipologia das Competências Legislativas do Governo:
- Competências concorrências alternadas ( existência de um vasto
campo de confluência de matérias não enumeradas
constitucionalmente, onde os 2 órgãos podem simultaneamente
legislar e que se denomina de área de competências concorrenciais-
198º.1.a e 161º.c);
- Competências exclusivas ​( é da exclusiva competência do Governo
legislar sobre a matéria respeitante à sua organização-198º.2);

46
- Competência Complementar ( faculdade de o Governo desenvolver
e concretizar leis de bases mediante decretos-leis de conteúdo
sub-primário - 198º.1.c);
- Competência delegada ​(compete ao Governo aprovar os
decretos-leis em matérias da reserva relativa de competência da AR,
mediante a autorização desta. Os decretos-leis autorizados devem
invocar expressamente a respectiva lei de autorização - 198º.3 e
198º.1.b);
6.1 Procedimento Legislativo Governamental
Iniciativa ​( o elemento essencial é o “impulso de legislar” ou seja a decisão
de legislar):
As iniciativas legislativas internas dos membros do próprio Executivo, que
se formalizam em propostas de decreto-lei submetidas a aprovação do
Conselho de Ministros;
Os atos oriundos dos membros do Governo assumem a forma de ​propostas
de lei e​ são remetidas ao Conselho de Ministros para a aprovação como
propostas de lei, seguindo-se a sua submissão à AR para discussão e
aprovação;
Fase de Aprovação:
O Conselho de Ministros é o órgão que, nos termos constitucionais ( 200º.c
e d), aprova os Decretos-leis e é um órgão colegial, aplicando-se lhe o
disposto nos termos do artigo 116º.2 e 3 sobre deliberações de órgãos dessa
natureza;
A aprovação final consiste no ​ato jurídico de deliberação constitutiva
sobre a aprovação do diploma do Governo​. Volvida a aprovação, o decreto
do Governo colhe as assinaturas do PM e dos Ministros competentes em
razão da matéria (201º.3 CRP);
Controlo de Mérito:
O decreto aprovado em Conselho de Ministros ( artigo 136º.1 da CRP),
depois de assinado pelo PM e pelos ministros competentes em razão da
matéria, é remetido ao PR para promulgação. No prazo de 40 dias da
receção pelo PR este pode promulgá-lo ou exercer o veto político.

47
O veto político é insuperável, tendo portanto caráter absoluto, devendo o
PR comunicar por escrito ao Governo o seu sentido. O veto constitui um
importante elemento de identidade estatutária da componente presidencial
do sistema de governo semipresidencialista que pontifica na ordem
constitucional portuguesa.
-Será constitucional que o Governo aprovou um decreto-lei de conteúdo
igual ou idêntico a outro que tenha sido previamente vetado pelo PR?
( Jorge Miranda e ​Rui Medeiros​)- “ O veto de decretos do Governo é
absoluto; o Governo não pode reiterar a vontade de o ver aprovado”;
( ​Gomes Canotilho e ​Vital Moreira​)- “ O veto é definitivo. Se o Governo
pretende superar esse veto absoluto tem apenas a possibilidade de
transformar o decreto-lei em proposta de lei”;
( ​Blanco Morais )​ - “ O veto político é insuperável, tendo portanto caráter
absoluto” sendo essa natureza do veto “ um importante elemento da
identidade estatutária da componente presidencial do sistema do governo
semipresidencialista”.
-Será que o efeito “absoluto” do veto traduz uma proibição
constitucional de reedição do diploma?
A CRP não se refere expressamente ao caráter absoluto do veto sobre
decretos-leis e decretos regulamentares e às suas consequências;
A problemática da reedição não pode ser tratada de um modo
excessivamente rígido, na medida em que se deve deixar margem de
conformação ao Governo para aprovar um novo decreto-lei com alterações;
7. Atividade Legislativa das Regiões Autónomas
Na CRP existe uma listagem das várias matérias sobre a qual as Regiões
Autónomas podem legislar ( artigo 227º.1 CRP);
Ou seja salvo as matérias atribuídas à competência regional pela CRP, não
existem matérias de âmbito regional sobre as quais o legislador das regiões
insulares possa dispor fora da lista estatutária (227º.1+228º.1).
Os decretos legislativos regionais versam sobre matérias constantes dos
estatutos que não estejam reservadas aos órgãos de soberania, sem prejuízo
das competências complementares e delegadas ( decorre do artigo 112º.4).

48
Isto significa que existe uma regra geral que impôs uma ​proibição de
legislação regional em matérias que a CRP reserve explicitamente à
competência legislativa da AR e do Governo.
Competência legislativa comum:
O poder legislativo encontra-se previsto no artigo 227º.1.a em conjugação
com o 112º.4 da CRP e o 228º.1. Os decretos legislativos regionais
aprovados ao abrigo da competência devem incidir sobre matérias
enumeradas nos estatutos político-administrativos.
Estas matérias disponíveis à regulação regional não podem invadir a
reserva da competência dos órgãos de soberania(161º+164º+165º+198º.2);
Existindo um fenómeno de confluência legislativa em distintos domínios
territoriais da mesma matéria ( concorrência paralela entre leis do Estado e
das regiões em matérias não reservadas expressamente aos órgãos de
soberania. Os decretos legislativos regionais disciplinam um domínio
parcelar) da mesma que corresponda ao seu a ”âmbito regional” e a
legislação da República, o domínio remanescente situado fora do
correspondente âmbito.

49
8. As diferentes modalidades e tipos de fiscalização
O sistema português de fiscalização da constitucionalidade combina
modalidades de fiscalização preventiva e de fiscalização sucessiva , que
engloba a verificação da inconstitucionalidade por ação e verificação da
inconstitucionalidade por omissão; a inconstitucionalidade por ação, inclui
fiscalização abstrata e fiscalização concreta, dentro desta existe a difusa e
concentrada.
O TC tem diferentes tipos de intervenção:
- chamado a pronunciar-se sobre inconstitucionalidade ( fiscalização
preventiva);
- declarar ( fiscalização sucessiva abstrata);
- julgar ( fiscalização sucessiva concreta);
- verificar a inconstitucionalidade da omissão de normas;
8.1 Fiscalização Preventiva
I​ncide sobre a eventual inconstitucionalidade de normas, ams que atua
numa fase prévia à respetiva entrada em vigor ( uma fiscalização que
intervém antes de as normas em causa serem promulgadas).
- Pretende-se evitar que normas violadoras da Constituição possam
entrar a produzir efeitos, gerando situações de facto consumado
assente em normas inconstitucionais ;
- Evitar que normas eventualmente inconstitucionais entrem em vigor
sem que os órgãos competentes para proceder à fiscalização sejam
chamados a verificar ou a esclarecer as eventuais dúvidas de
constitucionalidade que se possam, suscitar ou que tenham já

50
suscitado no decorrer da discussão que acompanhar a respetiva
aprovação;
A fiscalização preventiva pode ser por iniciativa do:
- Presidente da República;
- Deputados;
- Primeiro-Ministro;
O TC pode ser chamado a pronunciar-se sobre a inconstitucionalidade de
normas constantes de diploma que tenha sido enviado ao PR para ser
promulgado como lei ou como decreto-lei.
Esta fiscalização ocorre antes da promulgação, incide sobre normas que,
apesar de já aprovadas, ainda não foram publicadas, logo ainda não
entraram em vigor;
- Se o TC considerar que há inconstitucionalidade, o diploma é vetado
pelo PR, devolvido ao órgão que o aprovar e não poderá entrar em
vigor antes de ter sido expurgado da inconstitucionalidade
assinalada;
- outra possibilidade é a da insistência na confirmação da aprovação
do diploma por uma maioria de ⅔ dos deputados. A solução do
conflito é remetida para o PR, a quem cabe a arbitragem, a decisão
final sobre se promulga ou não o diploma em causa.
- Se a AR ou o Governo introduzirem alterações, o diploma deve ser
tratado como um outro e novo decreto;
8.2 Fiscalização sucessiva abstrata por ação ( artigo 281º e 282º)
A pedido de diversas entidades entidade públicas, o TC pode ser chamado
a apreciar e declarar a inconstitucionalidade de normas em vigor (​ não se
trata, de se pronunciar sobre eventuais dúvidas de constitucionalidade antes
de normas em causa serem promulgadas, mas de chamar o TC a erradicar
da ordem jurídica).
Competência- é do exercício exclusivo do TC, apreciar e declarar a
inconstitucionalidade ( 223º.1 e 281º).
Os sujeitos peticionantes ( capazes de elaborar pedidos ao TC para apreciar
e declarar inconstitucionalidade), previstos pelo artigo 281º.2:

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Presidente da República ( Jorge Miranda diz que dá relevo à sua função
moderadora)
Presidente da Assembleia República ( Carlo Blanco Morais diz que tem
relevo puramente institucional)
Cidadãos podem apresentar queixas ao Provedor de Justiça (23º.1)- por via
indireta cidadãos podem influenciar fiscalização
- Não há qualquer limitação de tempo ou qualquer exigência especial
quanto ao fundamento da inconstitucionalidade;
- Se o TC pode declarar inconstitucionalidade de norma em vigor, a
sua decisão tem efeitos obrigatórios e gerais, o que significa que, a
norma declarada inconstitucional é erradicada da ordem jurídica,
todos os efeitos por ela produzidos são também anulados ( artigo
282º.1)
→ Não são todavia atingidos os casos que já tenham sido julgados (
282º.3)
→ O TC pode decidir afetar casos julgados, mas só o pode fazer se
se tratar de matéria penal ou sancionatória e só desde que essa
afetação acabe por ser mais favorável a quem sofreu a sanção ( artigo
282º.3)
→ O TC pode ainda (282º.4) determinar consequências menos
contundentes para os efeitos da sua declaração de
inconstitucionalidade;
→ Apreciar e declarar com força obrigatória geral a
inconstitucionalidade de qualquer norma, no contexto de uma
decisão desencadeada por iniciativa de algum dos seus juízes ou por
iniciativa do Ministério Público (essa possibilidade só existe
relativamente a norma que tenha já sido julgada inconstitucional pelo
TC em, pelo menos 3 casos de fiscalização concreta)-281º.3:
Os possíveis efeitos seriam:
Interlocutórios ( 54ºLTC)- Presidente Tribunal Constitucional ratifica órgão
para se pronunciar sobre pedido;

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Instrutório ( 64º-A LTC)- Presidente Tribunal Constitucional requisita ao
órgão elementos necessários
Preclusivo ( 51º.3 LTC e 52º.1 LTC)- pedido fundado em falta de
legitimidade
8.3 Fiscalização sucessiva abstrata por omissão (283º)
- A pedido do PR ou do Provedor de Justiça, o TC pode ser chamado
a verificar a existência de inconstitucionalidade por omissão das
medidas legislativas necessárias para tornar exequíveis as normas
constitucionais​;
Há normas que carecem de um complemento legislativo para produzirem a
plenitude dos seus efeitos ( não são exequíveis por si próprias). Nestas
situações se o TC considerar que há omissão inconstitucional por falta das
normas legislativas ordinárias, que deveriam conferir exequibilidade às
normas constitucionais, dá conhecimento do facto ao órgão legislativo que
é constitucionalmente competente para suprir a omissão.
O TC não pode ser chamado a verificar toda e qualquer
inconstitucionalidade por omissão ou toda e qualquer omissão de norma.

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