Você está na página 1de 6

Disciplina: Direito Constitucional I Período: 2DI

Professora: Ana Virgínia Gabrich

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS (ESTRUTURANTES) DA CR/88

1 INTRODUÇÃO
 Estão localizados no Título I da CR/88, arts. 1º - 4º
 “São responsáveis pela organização da ordem política do Estado brasileiro,
demarcando teórica e politicamente o pensamento e as convicções da
Assembleia Constituinte” (FERNANDES, 2016, p. 285).
 Atenção! Os princípios fundamentais não são diretrizes, são normas juridicas,
dotadas de vinculação.

2 CLASSIFICAÇÃO
A doutrina divide os princípios estruturantes da seguinte maneira:
a) Princípios que definem a forma, estrutura e fundamento do Estado brasileiro: art.

b) Princípio da divisão dos Poderes: art. 2º
c) Princípios que fixam os objetivos primordiais a serem perseguidos: art. 3º
d) Princípios que traçam as diretrizes a serem adotadas nas relações internacionais:
art. 4º

3 PRINCÍPIO REPUBLICANO
 Responsável por fixar a forma de governo do Estado, estabelecendo a relação
entre governantes e governados.

 REPÚBLICA:
a. Forma de governo: povo é o titular do poder político;
b. Igualdade entre as pessoas;
c. Eleição dos detentores do poder político por tempo determinado
(eletividade e temporariedade);
d. Responsabilidade política do chefe de governo e/ou de Estado.

4 PRINCÍPIO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO


 Autores de tradição alemã também denominam o Estado Democrático de Direito
como Estado Constitucional.
 O Estado Democrático de Direito é, na verdade, muito mais que um princípio,
configurando-se em verdadeiro paradigma que compõe e dota de sentido as
práticas jurídicas;
 Para Bulos (2015) o princípio do Estado Democrático de Direito “reconhece a
República Federativa do Brasil como uma ordem estatal justa, mantenedora das
liberdades públicas e do regime democrático. (...) Em suma, a República
Federativa do Brasil é um Estado Democrático de Direito, porque assegura
direitos inalienáveis, sem os quais não haveria democracia nem liberdades
públicas” (2015, p. 510-511).

5 PRINCÍPIO FEDERATIVO
 Prescreve a forma de Estado em vigor no Brasil, qual seja, a Federação,
“caracterizada pela união indissolúvel de organizações políticas, dotadas de
autonomia, com fim de criação e manutenção do Estado Federal”
(FERNANDES, 2016, p. 298).
 Ao se reunirem na forma de entes federados, as coletividades não perdem sua
personalidade jurídica, mas apenas algumas prerrogativas em benefício do
Estado Federal. Assim, há um processo de descentralização política, que retira
algumas competências de um centro para transferi-las para novos centros.
 A CR/88 instituiu como entidades da Federação a União, os Estados-membros, o
DF e os Municípios. Para eles não há que se falar em soberania, mas sim, de
autonomia.
 Não há no Brasil o chamado direito de secessão, pelo qual os entes federativos
podem ser separados. Com isso, quaisquer tentativas de violar a coexistência
harmoniosa, solidária e pacífica entre eles autoriza o uso da intervenção federal
(arts. 34 e ss. da CR/88). (BULOS, 2015, P. 510).
6 PRINCÍPIO DA SOBERANIA (Art. 1º, I)
 A doutrina tradicional apresenta as seguintes características para a soberania:
1. “Una: um poder acima de todos os outros;
2. Indivisível: aplicável a todos os acontecimentos internos ao Estado;
3. Inalienável: se o Estado a perder, ele desaparece; e
4. Imprescritível: não há limite de duração, existindo tão quanto exista o
Estado” (FERNANDES, 2016, p. 302).

 Revela a qualidade máxima do poder e apresenta uma dupla feição:


a. Externa: impede que a República Federativa do Brasil fique à mercê de
quaisquer injunções internacionais ou estrangeiras, cerceadoras ou
subjugadoras do Direito Interno do país (BULOS, 2015, p. 511);
b. Interna: o Estado brasileiro possui autoridade máxima dentro do seu
território, não se submetendo a qualquer outro poder. Assim, a soberania
interna engloba a capacidade de auto-organização, autogerenciamento
financeiro e autogoverno. (BULOS, 2015, P. 511).
ATENÇÃO! Soberania é diferente de autonomia
 A autonomia está dentro da própria soberania, devendo manter-se nos limites
fixados pelo Poder soberano. Por isso, a União (em sua dimensão interna),
Estados, DF e Municípios não podem exorbitar a esfera de competências
constitucionais, pois são entidades autônomas, jamais soberanas. A soberania é
apenas da República Federativa do Brasil.

7 PRINCÍPIO DA CIDADANIA (Art. 1º, II)


 Nas palavras de Bulos, a cidadania é o “status das pessoas físicas que estão no
pleno exercício de seus direitos políticos ativos (capacidade de votar) e passivos
(capacidade de ser votado e, também, de ser eleito)”.
 Já Fernandes compreende que a cidadania, hoje, se expressa por outras vias,
além da política, se desenvolvendo também por direitos e garantias
fundamentais, ou da tutela dos direitos e interesses difusos. Assim, afirma que “a
cidadania não é algo pronto e acabado, mas se apresenta como processo (um
caminhar para) de participação ativa na formação da vontade política e
afirmação do direitos e garantias fundamentais, sendo ao mesmo tempo um
status e um direito” (2016, p. 303).

8 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA


 É um princípio de extrema importância, pois consagra um imperativo de justiça
social, um valor constitucional supremo. Irradia valores e vetores de
interpretação para todos os demais direitos fundamentais.
 Agrega em torno de si a unanimidade dos direitos e garantias fundamentais
expressos na CR/88.
 Seu conteúdo é amplo, refletindo um conjunto de valores.
 Para Bulos, a dignidade humana começa a surtir efeitos desde o ventre materno,
perdurando até a morte (é inata ao homem).
 Possui caráter instrumental, pois propicia o acesso à justiça de quem se sentir
prejudicado pela sua inobservância.
 A jurisprudência do STF não desenvolveu ainda um entendimento do que seja
dignidade de maneira sistematizada.

9 PRINCÍPIO DOS VALORES SOCIAIS DO TRABALHO E DA LIVRE-


INICIATIVA (Art. 1, IV)
 “Supostamente correlacionado à noção de dignidade da pessoa humana, o valor
social do trabalho impõe a abstenção do Estado no que concerne à concessão de
privilégios econômicos a uma pessoa ou grupo. (...) O trabalho é também um
direito social (art. 6º), recebendo proteção constitucional em diversos aspectos.
(...) A noção de livre iniciativa, por sua vez, está coligada à liberdade de
empresa e de contrato, como condição mestra do liberalismo econômico e do
capitalismo. (...) Todavia, o uso dessa liberdade não é absoluto, sendo
direcionada sempre para a função social da empresa”. (FERNANDES, 2016, p.
310).
 Já Bulos afirma que a CR/88, ao consagrar tal princípio, baniu o trabalho
escravo. Ou seja, aduziu que “a ordem econômica se funda nesse primado,
valorizando o trabalho do homem em relação à economia de mercado,
nitidamente capitalista. Priorizou, pois, a intervenção do Estado na economia,
para dar significação aos valores sociais do trabalho” (BULOS, 2015, p. 515).
10 PRINCÍPIO DO PLURALISMO POLÍTICO (Art. 1º, V)
Pluralismo significa participação plural na sociedade, envolvendo partidos políticos,
entidades de classe, igrejas, universidades, escolas, empresas, organizações em
geral.

11 PRINCÍPIO REPRESENTATIVO (Art. 1º, parágrafo único)


 Democracia é o governo do povo, para o povo, pelo povo e em benefício
dele.
 Os mandatários, ou representantes eleitos pelo povo, são os incubidos de
exercer mandatos. Tais mandatos obrigam politicamente os eleitos a agir em
benefício de seus eleitores (povo).

12 PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES (Art. 2º)


 Está previsto no art. 2º e protegido pelo art. 60, §4º, ambos da CR/88.
 Teoria de freios e contrapesos: “apenas o poder limita o poder”.
 Ideia fundamental: evitar a concentração e o exercício despótico do poder. A
separação de poderes, com isso, é uma das principais garantias das liberdades
públicas.
 Canotilho afirma que a separação de poderes apresenta dupla dimensão:
i. “Se por um lado traça a ordenação e organização dos poderes
constituídos – dimensão positiva;
ii. Por outro fixa limites e controles – dimensão negativa – em sua dinâmica
com os demais” (FERNANDES, 2016, p. 300).
 Importante ressaltar que a separação de Poderes reporta a uma sepração de
órgãos estatais, conferida a órgãos especializados para cada atribuição.
 No caso brasileiro, por exemplo, “o judiciário realiza o controle de
constitucionalidade das leis e atos normativos; o executivo veta projetos
legislativos aprovados, além de nomear membros do judiciário; já o legislativo
detém poderes de investigação e analisa aspectos financeiros orçamentários”
(FERNANDES, 2016, p. 300).
 Lembrar das funções típicas e atípicas!
13 PRINCÍPIOS QUE FIXAM OBJETIVOS PRIMORDIAIS A SEREM
PERSEGUIDOS PELA CR/88 (Art. 3º)
 Para Bulos, a “enumeração do art. 3º evidencia os fins do Estado brasileiro. Não
é taxativa, mas exemplificativa, não exaurindo os escopos a que se destina a
República Federativa do Brasil” (2015, p. 520).
 Já Fernandes afirma que “são, portanto, normas (tese dos princípios como
normas) constitucionais que devem ser seguidas (diuturnamente). Nesses
termos, a noção dos objetivos deve ser eminentemente processual (sempre
caminhar para) e normativa (com medidas jurídicas e políticas concretas) para o
cumprimento dos ditames constitucionais nos mesmos inseridos”. (2016, p.
311).

14 PRINCÍPIOS QUE TRAÇAM DIRETRIZES A SEREM ADOTADAS NAS


RELAÇÕES INTERNACIONAIS (Art. 4º)
 Estão listados de forma sistemática e categórica pelo art. 4º da CR/88.
 “Ao erigir os incisos do art. 4º ao posto de princípios regentes da República
Federativa do Brasil nas suas relações internacionais, o constituinte prescreveu
vetores que repercutem na própria ordem jurídica interna” (BULOS, 2015, p.
521-522).

CAPÍTULOS DE REFERÊNCIA PARA A MATÉRIA


BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 9 ed. São Paulo: Saraiva,
2015, cap. 12 “Princípios fundamentais” (p. 507-524)

FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 8 ed. Salvador:


JusPODIVM, 2016, cap. 5 “Princípios fundamentais (estruturantes) da Constituição de
1988” (p. 290-313).

Você também pode gostar