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VALIDADE DA NORMA JURÍDICA

Prof. Fernando Torres


Introdução do Direito
FIMCA. 2020
❑INTRODUÇÃO: Uma norma jurídica, para ser
obrigatória, não deve estar apenas estruturada logicamente
segundo um juízo categórico ou hipotético, pois é
indispensável que apresente certos requisitos de validade.
Segundo as lições de Miguel Reale, a validade da NJ pode ser
vista sobre três aspectos:

⮚1º) técnico-formal – vigência;


⮚2º) social – eficácia;
⮚3º ético – fundamento axiológico.

Assim, na visão de Miguel Reale vigência, eficácia e


fundamento são “as três asas com que se projeta a experiência
do direito na história.
❑Considerando que a NJ pode resultar de distintos processos
(costume, jurisprudência etc), aqui estudaremos à NJ legal
“lei”.
I – Validade formal ou vigência

❑ CONCEITO DE VIGÊNCIA: pode significar o período, durante o qual uma lei tem, teve ou
terá a possibilidade de ser exigida, num determinado lugar. Abrangeria por assim dizer, o
nascimento, a vida e a morte da regra legal.

⮚ Requisito de validade material está relacionado com a presença da lei no ordenamento jurídico
dentro de seu período de validade.
⮚ Requisito de validade formal está relacionado ao processo de criação da norma (lei) a partir da
obediência dos requisitos essenciais exigidos:

Emanadas de órgão Com obediência aos trâmites Cuja matéria seja de comp.
competente legais do órgão elaborador
II – Órgão competentes
❑ Na construção do Estado Brasileiro encontramos três pessoas jurídicas fundamentais de direito
público interno: União, Estados-membros e Municípios, às quais se somam o DF considerando
que a CF em seu art. 18 garantiu à ele a natureza de ente federativo autônomo.
1. Quando a UNIÃO: o PR tem o poder de veto e sanção da lei, bem como a prerrogativa de editar
MP (CF art 62)e decretos. O Congresso tanto pode dar início ao processo legislativo como revisar
os que foram iniciados pelo PR.

UNIÃO

CONGRESSO
PR
NACIONAL

CÂMARA DOS
SENADO
DEPUTADOS
FEDERAL
III – Competência quanto a matéria
❑ Uma lei só é valida quando dispõe sobre matéria de seu domínio ou competência, e quem
estabelece qual a competência quanto à matéria é a Constituição Federal:

Art. 22. Compete Art. 24. Compete à União, aos


privativamente à União legislar Estados e ao Distrito Federal Art. 25. Os Estados organizam-se
sobre: legislar concorrentemente e regem-se pelas Constituições e
I - direito civil, comercial, penal, sobre: leis que adotarem, observados
processual, eleitoral, agrário, I - direito tributário, financeiro, os princípios desta Constituição.
marítimo, aeronáutico, espacial e penitenciário, econômico e § 1º São reservadas aos Estados
do trabalho; urbanístico;           as competências que não lhes
II - desapropriação; II - orçamento; sejam vedadas por esta
III - requisições civis e militares, III - juntas comerciais; Constituição.
em caso de iminente perigo e em IV - custas dos serviços forenses;
tempo de guerra; V - produção e consumo; Art. 30. Compete aos Municípios:
IV - águas, energia, informática, VI - florestas, caça, pesca, fauna, I - legislar sobre assuntos de
telecomunicações e radiodifusão; conservação da natureza, defesa interesse local;
V - serviço postal; do solo e dos recursos naturais, II - suplementar a legislação federal
VI - sistema monetário e de medidas, proteção do meio ambiente e e a estadual no que couber;
títulos e garantias dos metais; controle da poluição;
IV – Legitimidade do procedimento
Além da competência do órgão e quanto à matéria, é necessário que o órgão competente obedeça às
exigências legais de procedimento, ao elaborar a norma jurídica (devido processo legal):

INICIATIVA: CF. Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro
ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente
da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da
República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição.
DISCUSSÃO – VOTAÇÃO – APROVAÇÃO: O presente apresentado segue para as comissões
temáticas e depois é votado no plenário das duas casas (a iniciadora e a revisora). O projeto de uma
casa que receber emenda em outra deve voltar para nova análise. Com a aprovação do texto será
enviado para sanção e promulgação pelo PR.
SANÇÃO: é a provação do projeto pelo Poder Executivo. CF Art. 66. A Casa na qual tenha sido
concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.
VETO: é a rejeição do projeto pelo Poder Executivo. CF art. 66, §1º - Se o Presidente da República
considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á
total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará,
dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto.
PROMULGAÇÃO: é o ato proclamatório pelo qual o que antes era “projeto” passa a
ser “lei” e, consequentemente a integrar o direito positivo pátrio. Assim, a
promulgação é ato do Poder Executivo que se segue à sanção, dentro de 48 horas.

PUBLICAÇÃO: A publicação vem a ser a divulgação do texto da lei pelo órgão


oficial para que passe a ser conhecida pelo público e demais autoridades, formando-se
então, a presunção de que, publicada a lei, todos a conhecem. (LINDB,
Art. 3o  Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece).

ENTRADA EM VIGOR: A lei passa a existir como tal desde a sua promulgação,
mas começa a obrigar da data de sua publicação, produzindo efeitos com a sua
entrada em vigor. A data da entrada em vigor da lei como constar por meio de
disposição textual: na data de sua publicação, ou em um prazo determinado. Não tal
disposição, segue a regra geral e o prazo será de 45 dias após a data da publicação.
LINDB. Art. 1o  Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país
quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. § 1o Nos Estados,
estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três
meses depois de oficialmente publicada.
Entrada em vigor e vacatio legis:

LEI Nº 13.979/2020.
LEI Nº 13.467/2017.
(...) O termo a quo da vigência
(...)
Art. 9º  Esta Lei entra em da lei é estabelecido
Art. 6º Esta Lei entra em
vigor na data de sua livremente pelo legislador.
vigor após decorridos
publicação.  Caso inexista, aplica-se o
cento e vinte dias de sua
publicação oficial. prazo de 45 dias previsto
Brasília, 6 de fevereiro de no art. 1º da LINDB Esse
2020; 199º da período entre a publicação
Brasília, 13 de julho de
Independência e 132º da e a sua entrada em vigor é
2017; 196º da
República.  chamado de vacatio legis.
Independência e 129º da
República. Para a contagem do prazo
JAIR MESSIAS de entrada em vigor,
BOLSONARO computa-se da data da
MICHEL TEMER
Torquato Jardim Sérgio Moro publicação no órgão oficial
Ronaldo Nogueira de Oliveira Luiz Henrique Mandetta e o último dia do prazo
Este texto não substitui o Este texto não substitui o
publicado no DOU de publicado no DOU de 7.2.2020
marcado.
14.7.2017
5. Declaração de Inconstitucionalidade

❑ O órgão incumbido de verificar e reconhecer ou não a validade formal de uma lei, perante a Constituição, é
o Poder Judiciário. No Brasil o controle de constitucionalidade é exercido tanto de forma concentrada
quanto de forma difusa:
o CONTROLE DIFUSO: também chamado de controle por via de exceção, pode ser feito por qualquer
juiz ou tribunal, no caso concreto. Seus efeitos ficam limitados as partes do processo. Na hipótese do caso
concreto chegar ao STF por meio de um recurso, o tribunal poderá declarar a inconstitucionalidade de uma
lei e, a partir disso oficiar ao Senado Federal para que, por meio de resolução, suspenda a execução da lei
declarada inconstitucional. A partir da publicação da resolução o efeito da declaração é erga omnes.

ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. § 4º DO ART. 791-A, DA CLT. REDAÇÃO CONFERIDA PELA LEI 13.467/2017.
INCIDENTE ACOLHIDO EM PARTE.
É inconstitucional a expressão contida no § 4º do art. 791-A, da CLT, com redação dada pela Lei n. 13.467/2017: "desde que não tenha obtido
em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa", por violar a previsão contida no art. 5º, incisos XXXV e
LXXIV do 7º, inciso XVI, da Constituição Federal.
 
(TRT-14 - IAI: 0000147-84.2018.5.14.0000, Relator: Carlos Augusto Gomes Lôbo, Tribunal Pleno, Data de Julgamento: 30.10.2018,
publicado no DJ em 08.11.2018).
o CONTROLE CONCENTRADO: é exercido por meio de ação direta, onde se procura obter a
declaração de inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo em tese, independentemente da existência
de um caso concreto. Vejamos as principais espécie de medidas que visam o controle concentrado:
1. Ação direta de inconstitucionalidade (ADIn): Cabe ao STF e aos TJ dos Estados (em relação às leis de
seus respectivos estados). A decisão terá efeito retroativo (ex tunc) e para todos (erga omnes). Transitada
em julgado a lei declarada inconstitucional sai do ordenamento jurídico imediatamente, não havendo a
comunicação ao Senado para fins de suspender a sua execução (como há no controle difuso). CF. Art.
102.

ADI 4332.
O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou improcedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade
(ADI) 4332 em que o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pretendia suspender os
efeitos de lei estadual que fixou limite dos créditos de pequeno valor em Rondônia. A decisão foi unânime,
seguindo o voto do relator, ministro Alexandre de Moraes, em sessão extraordinária realizada na manhã desta
quarta-feira (7). 
A ação questionava dispositivo da Lei Estadual 1.788/2007, que reduziu de 40 para 10 salários mínimos o
crédito decorrente de sentença judicial transitada em julgado a ser pago por meio de RPV – Requisição de
Pequeno Valor. O pagamento desse crédito está previsto no dispositivo constitucional que regula o pagamento
de precatórios (artigo 100, parágrafo 3º, da Constituição Federal). Já o limite de 40 salários mínimos para
dívidas das Fazendas de Estados e do Distrito Federal, consta do artigo 87 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (ADCT).
É possível que a decisão da ADI altere apenas uma parte do texto da lei de forma que a mesma
permaneça em vigor, mas com seu sentido alterado ou com restrições apenas parciais:

Vejamos:

CLT: Art. 394-A.  Sem prejuízo de sua remuneração, nesta incluído o valor do adicional de
insalubridade, a empregada deverá ser afastada de:                  
I - atividades consideradas insalubres em grau máximo, enquanto durar a
gestação;                          
II - atividades consideradas insalubres em grau médio ou mínimo, 
quando apresentar atestado de saúde, emitido por médico de confiança da mulher, 
que recomende o afastamento durante a gestação;                
(Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)       (Vide ADIN 5938)
III - atividades consideradas insalubres em qualquer grau, 
quando apresentar atestado de saúde, emitido por médico de confiança da mulher, 
que recomende o afastamento durante a lactação.                    
(Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)           (Vide ADIN 5938)
o Ação declaratória de constitucionalidade: O seu objetivo é transferir ao STF a decisão sobre a
constitucionalidade de um dispositivo legal que esteja sendo atacado pelos juízes e tribunais inferiores,
afastando-se o controle difuso da constitucionalidade, uma vez que declarada a constitucionalidade da
norma pelo STF o judiciário e também o executivo ficam vinculados a decisão proferida. Pode também
acontecer do STF julgar inconstitucional o dispositivo legal sob análise. Seus efeitos são ex tunc
(retroativos) e erga omnes (para todos).

Ação Declaratória de Constitucionalidade


Em seguida, o Tribunal, por maioria, deferiu em parte o pedido de medida cautelar para, em caráter vinculante, com eficácia erga
omnes e com efeito ex nunc, reconhecer a legitimidade constitucional da contribuição de seguridade social devida pelos servidores
públicos em atividade (alíquota de 11% - art. 1º da Lei 9.783/99), suspendendo, provisoriamente, até final julgamento desta ação
declaratória de constitucionalidade - e apenas quanto aos processos, individuais ou coletivos, em cujo âmbito se haja instaurado
controvérsia constitucional em torno da exigibilidade, aos servidores ativos, da contribuição em referência (alíquota de 11% a que
alude o art. 1º da Lei 9.783/99) - a prolação de decisões liminares, cautelares ou de mérito e a concessão de tutela antecipada,
sustando, ainda, os efeitos futuros inerentes a decisões anteriormente proferidas (excluídas as decisões de mérito com trânsito em
julgado) e as tutelas antecipatórias já concedidas. Vencidos, na extensão do deferimento, os Ministros Nelson Jobim e Moreira Alves,
que concediam a liminar para abranger a progressividade de alíquotas para a cobrança da contribuição previdenciária dos servidores
ativos (Lei 9.783/99, art. 2º), e, integralmente, o Min. Marco Aurélio, que indeferia o pedido. Precedente citado: ADInMC 2.010-DF
(julgada em 29.9.99, acórdão pendente de publicação; v. Informativo 164).
ADC 8-DF, rel. Min. Celso de Mello, 13.10.99.

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