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Quadro Evolutivo
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Nas pegadas do Código Civil Francês, surge em 1896 um segundo Código da era
moderna, qual seja: Código da Alemanha (“BGB”), que possuía as mesmas diretrizes do
Código Francês.
No Brasil, a primeira manifestação do direito civil foi em 1824, por meio da
Constituição Imperial, que estabeleceu que em 1 (um) ano deveriam ser elaborados um
Código Civil e um Código Penal. O Código Criminal do Império foi elaborado em 1832.
Quanto ao Código Civil o legislador foi muito lento, sendo que em 1855 o Brasil contratou o
Baiano Augusto Teixeira de Freitas para elaborar o primeiro Código Civil brasileiro, que era
um homem visionário e acima dos padrões da época, e rapidamente começou os estudos.
Teixeira de Freitas então em 1862 apresentou o seu Projeto de Código Civil, que ele
humildemente chamou de “esboço de Código Civil”, que tinha quase 7 mil artigos, e tratava
de matérias inusitadas, tais como: a proteção do nascituro; revisão judicial de contratos; e
divórcio. O Governo nem deu andamento ao projeto de Teixeira de Freitas, afinal era muito
evoluído para a época.
Teixeira de Freitas enlouqueceu após isso, sendo até mesmo interditado.
O esboço de Teixeira de Freitas adotou o “esboço” de Teixeira de Freitas, sendo
hoje um dos países mais avançados do mundo em matéria de direito civil.
Em abril de 1899 o Brasil contrato Clóvis Bevilaqua, que ensinava direito civil
comparado na faculdade de Olinda (afinal o Brasil ainda não tinha um Código Civil). Em 6
meses Bevilaqua entregou o projeto de Código Civil (outubro de 1899). O referido projeto
ficou sendo debatido no Congresso até 1936, quando foi aprovado para entrar em vigor em
1917 o Código Civil de 1916. Esse Código elaborado em 1899 só podia receber as
influências da referência da época, e, portanto, recebeu direta influência do Código Civil
Francês e do Código Civil Alemão, sendo assim, era o Código Civil de 1916 individualista e
patrimonialista, e este Código Civil conseguiu com perfeição respirar os ares do público e do
privado.
Para o nosso Código de 1916 onde estava o direito público não poderia estar o
privado, ou seja, não poderíamos ter a um só tempo um “mix” entre público e privado. E
naturalmente o Código de 1916, trazendo essa feição entre público e privado, cuidava
somente de relações patrimoniais (para garantir a propriedade privada, o pacta sunt
servanda). Este Código não admitia interferência do Estado nas relações privadas. Onde
estava o Poder Público não poderia estar o particular, pois havia supremacia do público
sobre o privado.
O saudoso Silvio Rodrigues dava como prova do caráter patrimonialista e
individualista do Código Civil de 1916 o instituto da tutela. Tutela é colocação de um menor
órfão em uma família substituta. No Código de 1916 a tutela era regida por 24 artigos, sendo
que 23 artigos preocupavam-se com o patrimônio dele, e só um cuidava da pessoa, que era
do tutor (e não do tutelado). O Código Civil de 1916 preservava a propriedade do tutelado.
O Código Civil de 1916 preocupava-se com o ter, com a proteção do patrimônio.
Esse Código de 1916 passou a ter um grande problema. O problema era: quando
surgir um problema não trabalhado no Código, como ele será dirimido? Passamos ater a
denominada legislação de emergência, vale dizer, toda vez que houvesse um problema
não previsto no Código edita-se uma lei. Exemplo: quando o Código foi elaborado não existia
nenhum condomínio. A partir das décadas de 30 e 40 surgiram os grandes condomínios.
Condomínio é direito privado. Eram editadas leis sempre que necessário. E o sistema
jurídico de direito civil ficou como? O sistema do direito civil era como se fosse um sistema
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solar. O Código de 1916 era o astro rei, que irradiava luzes aos outros sistemas
(microssistemas), por exemplo: Lei de Registros Públicos, lei de inquilinato, Código de
Menores, Estatuto da Mulher Casada. Estas leis se submetiam às diretrizes do Código, quais
sejam: patrimonialismo e individualismo.
Isso assim se manteve até 1988. Durante todo este período tivemos uma afirmação
consequencial deste sistema: o Código Civil de 1916 colocou-se em uma posição de
proeminência, aceitando-se a ideia de que o Código era a mais alta norma do direito civil,
pois nenhuma Constituição Brasileira cuidava de direito civil, afinal o sistema era dividido em
público e privado (clivagem). A Constituição era direito público e não se podia falar em direito
civil. Quem tratava de direito civil era o Código Civil de 1916. Então, apelidou-se o Código
Civil de 1916 de Constituição de Direito Privado, ao passo que a Constituição Federal era
uma Carta Política, pois esta tinha o papel de cuidar da organização política-administrativa.
Assim, acima do Código Civil não havia nenhuma outra norma. Havia uma subversão
hermenêutica, pois o Código Civil arvorava-se em papel constitucional e a Constituição ficou
reduzida a uma mera Carta Política, um protocolo de intenções administrativas.
O Código Civil de 1916 conseguiu uma proeza: era uma lei ordinária que
permaneceu incólume por 6 diferentes Constituições: Constituição da República (1891),
Constituição de 1934, Constituição de 1937, Constituição de 1946 (Vargas), Constituição de
1967 (militares) e Constituição de 1969 (militares). Nenhuma dessas Constituições
conseguiu alterar aquela matéria de lei ordinária, pois as matérias do Código Civil nunca
foram tratadas em sede constitucional, afinal havia clara divisão entre público e privado.
Tudo isso é significativamente alterado em 1988, com o advento da CF/88. O direito
civil ganha um grande movimento advindo da Itália para o Brasil, denominado de
Constitucionalização do direito civil, que tem por fundamento a percepção de que o
Código Civil não tinha condições de manter um sistema. De acordo com Orlando Gomes “o
Código Civil perdeu sua completude e generalidade”. Somente uma lei superior conseguiria
(re)unificar o direito civil (o direito civil já havia sido unificado, mas agora deveria ser
reunificado no eixo constitucional, e não mais no eixo do Código). O movimento de
constitucionalização do direito civil ou direito civil constitucional nada mais significa do que
a interpretação dos clássicos institutos do direito civil conforme a Constituição. Não significa
que existam dois direitos civis: um no Código Civil e outro na Constituição! O direito civil é
um só. Toda a compreensão do direito civil tem de se dar conforme a Constituição. Portanto,
o direito civil se constitucionalizou, e aqueles institutos que só estavam presentes no Código
Civil (a exemplo da propriedade, o contrato, a família etc) tem agora previsão na
Constituição.
A Constituição passou a disciplinar o público e o privado.
Daniel Sarmento e Luiz Roberto Barroso entendem que hoje a divisão do direito em
público e em privado é meramente acadêmica, pois tanto o público, bem como o privado
brotam da Constituição. A Constituição apresenta os pilares da Constituição de um e de
outro, consequentemente, a divisão é meramente acadêmica.
ATENÇÃO: Cuidado para não confundir Constitucionalização do direito Civil com
Publicização do Direito Civil (CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL ≠
PUBLICIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL).
Constitucionalização do direito civil = É a compreensão dos institutos do direito
civil conforme a Constituição, vale dizer, é a vinculação do tecido normativo
infraconstitucional às normas constitucionais. Todas as normas infraconstitucionais
precisam ser interpretadas conforme a Constituição.
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Para responder a esta questão temos que passar por todo o histórico do direito civil
(Código de 1916 até 2002) e falar sobre o movimento de Constitucionalização. Crise pode
ser tomada no sentido de mudança de paradigma, ocasião em que a resposta seria
afirmativa. Se a palavra crise for tomada no sentido de extinção, a resposta seria negativa.
A Constitucionalização do direito civil teria alterado a estrutura do Direito
Civil? RESPOSTA: O direito civil é, foi e será para sempre ramo do direito privado. O direito
civil cuida das relações privadas, indiscutivelmente. E a relação privada é propriedade,
contrato e família. O que o direito civil sofreu foi uma modificação valorativa e não
estruturante (a estrutura é a mesma, mas os valores foram modificados). Se os valores do
Código de 1916 eram patrimonialismo e individualismo, a Constituição estabeleceu novos
valores (liberdade, igualdade e solidariedade), passamos com isso a ter uma
incompatibilidade no sistema. O Código Civil era incompatível com a Constituição. Assim,
percebeu-se a necessidade da criação de um novo Código Civil (CC/2002).
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Obs.: A Parte Geral do Código Civil não estuda as relações privadas, pois estas
encontram-se na Parte Especial. A Parte Geral estuda a relação jurídica, e não a relação
privada. A parte Geral do Direito Civil tem, portanto, aplicação universal. Exemplo: no direito
do trabalho é preciso que o objeto seja lícito; no contrato administrativo é necessário que
exista agente capaz.
As obrigações (onde se insere o contrato), direitos reais e família precisam ser
compreendidos de acordo com os valores da eticidade, operabilidade e socialidade.
A eticidade significa compreensão ética de uma relação.
Eticidade é um neologismo para dizer que todas as relações privadas precisam ser
compreendidas conforme a ética.
Ética não se confunde com a moral. Ética é coletiva, é aquilo que se espera de todos
(não tem uma conotação moral). Exemplo de eticidade: boa-fé objetiva. Se um dia os
contratos foram interpretados pelo pacta sunt servanda (contratou tem que cumprir! Morra,
mas cumpra!), agora tem que ser interpretado conforme a ética (boa-fé objetiva – é a ética
que se espera das relações contratuais).
A socialidade é a compreensão dos institutos do direito civil com uma preocupação
com a sua função social. Os institutos do direito civil precisam cumprir uma função social,
não podendo o direito civil ter mais uma visão individualista (precisa ter compreensão social).
É a função social do contrato, é a função social da propriedade.
A operabilidade é a utilização dos institutos do direito civil de forma fácil. A utilização
dos institutos não deve ser complexa, não deve ser com apego ao tecnicismo. O direito civil
deve ser facilmente compreendido. Aqui serve o exemplo da distinção entre prescrição e
decadência, em que o direito civil facilitou a compreensão destes institutos.
NORBERTO BOBBIO, em sua obra “Da estrutura à função”, apresentou esses
elementos que hoje foram incorporados ao nosso Código Civil, quais sejam: eticidade,
socialidade e operabilidade.
Na própria Exposição de Motivos do Código Civil escrita por MIGUEL REALE revela-
se esses três paradigmas (eticidade, socialidade e operabilidade).
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fazê-lo mediante prisão não excedente a um ano, e ressarcir os prejuízos). O STF editou a
súmula vinculante 25, que reza: “é ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja
a modalidade do depósito”. A súmula 419 do STJ vai mais longe, dizendo que é ilícita a
prisão do infiel depositário até mesmo com relação ao depósito judicia. As normas
infraconstitucionais submetem-se, portanto, a um controle de convencionalidade.
Interpretar o direito civil é interpretar uma norma geral. E sempre que interpretamos
uma norma geral, lembramos do princípio da especialidade.
De acordo com o princípio da especialidade, norma especial sempre afasta norma
geral.
Entretanto, devemos perceber que o Código Civil aproximou-se do ideal
constitucional. O Código Civil abeirou-se da Constituição, quer respirar os ares dos valores
constitucionais. Exatamente por isso, e não raro, o Código Civil traz normas mais especiais
e mais protetivas do que as próprias normas encontradas nas leis especiais.
Aqui surge o chamado diálogo das fontes (diálogo de conexão ou
complementariedade), tese concebida pelo professor alemão ERIK JAIME, e trazida pelo
Brasil pela professora CLÁUDIA LIMA MARQUES (Rio Grande do Sul).
O diálogo das fontes é a possibilidade de inversão episódica e casuística do princípio
da especialidade, vale dizer, é possível aplicar a lei geral no lugar da lei especial sempre
que a lei geral mostrar-se mais protetiva para o sujeito de direito a que se pretende proteger.
Portanto, é possível aplicar o Código Civil (lei geral) no lugar de uma lei especial, quando o
Código Civil for mais protetivo para determinado sujeito de direito.
Os dois terrenos mais férteis para aplicação do diálogo das fontes são: o direito do
trabalho e o direito do consumidor.
O artigo 445, § 1º do Código Civil é mais favorável ao consumidor do que os artigos
26 e 27 do CDC ao estabelecer o prazo para reclamação de vícios redibitórios. Exemplo: Se
comprou um produto com defeito (ex. celular), o prazo no CDC é de 30 ou 90 dias (se durável
ou não durável), contados da descoberta do vício. Já o artigo 445, § 1º do Código Civil diz
que se o vício for de difícil constatação o prazo será de 180 dias se for móvel ou de 1 ano
se for imóvel, a partir da constatação. Nestes casos a norma geral é mas protetiva e mais
eficiente para o sujeito de direitos, permitindo-se o diálogo das fontes.
a) norma-regra;
b) norma-princípio.
A diferença entre elas não é de hierarquia.
Norma-regra: é uma norma de conteúdo fechado e de solução apriorística (= é
apriorística por ter grau de abstração reduzido).
Norma-princípio: é uma norma de conteúdo aberto e de solução casuística, com
elevado grau de abstração.
Se houver colisão entre norma-regra e norma-princípio (norma-regra x norma-
princípio), a solução deve ser conforme a Constituição, prevalecendo-se a norma
constitucional.
Se há uma regra constitucional colidindo com um princípio infraconstitucional,
prevalece a regra.
Se tem regra e tem princípio, supõe-se que as regras são elaboradas a partir dos
princípios. As regras têm, portanto, presunção de constitucionalidade.
Se a regra for incompatível com o sistema, e não com a regra, daí é caso de controle
de constitucionalidade, interpretação conforme a constituição (com ou sem redução de texto)
etc.
Se houver colisão entre norma-princípio e norma-princípio (norma-princípio x
norma-princípio), a solução ocorre por meio da técnica de ponderação de interesses
(que veio do direito alemão e desenvolvida no direito norte-americano). É uma técnica que
utiliza a proporcionalidade como técnica de solução de conflitos.
Ponderação de interesses e proporcionalidade não necessariamente são sinônimos.
A proporcionalidade pode apresentar-se como: a) princípio interpretativo (=
razoabilidade); b) técnica de solução de conflitos (= ponderação de interesses).
Quando a proporcionalidade apresenta-se como princípio interpretativo ela ganha o
nome de razoabilidade. Exemplo: Convenção de condomínio que proíbe de modo absoluto
a entrada de animais deve ser interpretada de acordo com a proporcionalidade. O STJ
entende que animais dóceis podem ingressar. Aqui é a utilização da proporcionalidade como
razoabilidade.
Quando a proporcionalidade apresenta-se como solução de conflitos entre princípios
ela ganha o nome de ponderação de interesses. Dois princípios são colocados em uma
balança imaginária para se descobrir qual deles em um caso concreto tem maior densidade.
É isso que é a ponderação. A solução é sempre casuística, não importando em exclusão
definitiva de um dos princípios conflitantes. Exemplo: STJ, Resp 226.436/PR (relativização
da coisa julgada na ação de conhecimento de filho) – a coisa julgada é um princípio
constitucional, e o direito à perfilhação também. Aquelas ações julgadas improcedentes pelo
fato de não terem feito DNA podem ser repropostas agora. Exemplo 2: Súmula 309 do STJ
– “o débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três
prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que vencerem no curso do
processo”.
Ponderação é o critério para dirimir conflitos principiológicos, portanto.
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Tércio Sampaio afirma que a eficácia possui graus, que podem ser verificados de
acordo com as funções da eficácia no plano da realização normativa. São as
funções eficaciais das normas: a) Função de bloqueio – normas punitivas e
proibitivas.
b) Função de programa – normas que visam à realização de um objetivo do
legislador (artigo 218, CF/88).
c) Função de resguardo – normas que visam a assegurar uma conduta desejada (artigo
5º, XXVII, CF/88).
O VIGOR está relacionado à realização efetiva e concreta da norma, está relacionado com
o conceito da ULTRATIVIDADE, ou seja, uma norma que não está mais vigente, mas
continua a reger todas as relações jurídicas consolidadas em sua vigência. EXEMPLO:
alguns artigos do CC/16.
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- INTERPRETAÇÃO
A finalidade interpretativa da norma é: a) revelar o sentido da norma e b) fixar o seu alcance.
São métodos de interpretação (não são excludentes e nem exclusivas entre si) das normas:
1. Literal ou gramatical – o exame de cada termo isolada e sintaticamente, na maioria das
vezes, não é o melhor método; isoladamente nunca satisfaz.
2. Lógico – utilização de raciocínios lógicos indutivos ou dedutivos.
3. Sistemático – análise a partir do ordenamento jurídico no qual a norma se insere, a
norma não será verificada isoladamente, será relacionada com o ordenamento jurídico.
4. Histórico – verificação dos antecedentes históricos, verificando as circunstâncias
fáticas e jurídicas, até mesmo o processo legislativo. Caio Mário afirma que esse método
não existe, o que há é o elemento histórico invocado para coadjuvar o trabalho do intérprete.
5. Finalístico ou teleológico – análise da norma tomando como parâmetro a sua finalidade
declarada, adaptando-a às novas exigências sociais; não se analisam somente os aspectos
históricos, mas também a própria finalidade.
Quanto mais métodos forem aplicados, no exercício da interpretação, melhor resultado será
obtido pelo intérprete. Não há hierarquia em relação aos critérios acima, e um não exclui o
outro.
– INTEGRAÇÃO
Quando inexiste lei a ser aplicada diretamente ao caso, deve o magistrado se valer de
outras fontes do Direito para encontrar a regra que efetivamente deve disciplinar à relação
jurídica sujeita à sua apreciação, ou seja, para aplicar o Direito. A LICC permite a integração
na hipótese de lacunas (falta de previsão legal sobre uma matéria), nos termos do artigo 4º
(REGRA DE OURO para a integração das leis):
Artigo 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
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competência constitucional da Justiça Federal não pode ser ampliada pelo legislador, sob
a alegação de tratar-se de lacuna. Tratase de rol taxativo (numerus clausus).
Aceita-se a integração das lacunas em razão do princípio que determina que o juiz não
pode se eximir de julgar sob tal alegação (“Princípio do non liquet” que, no Direito Romano,
permitia ao pretor eximir-se de julgar alegando que o caso não está suficientemente claro).
Analogia pode ser dividida em:
a. analogia legal – a relação da semelhança toma por base outra lei;
b. analogia iuris – a relação de semelhança é estabelecida com base em outro caso
concreto Há dificuldade de aplicação dos costumes, já que nosso direito não é costumeiro;
a fonte primária, no Brasil, é a lei. Costume pode ser:
a. secundum legem – sua eficácia obrigatória é reconhecida pela lei, como nos casos dos
arts. 1297,
§ 1º, 596 e 615 do CC
b. praeter legem – tem caráter supletivo, complementar à lei.
c. contra legem – de revogação total. Isso é complicado, já que costume é fonte
secundária do direito e não pode revogar a lei. Mas existem exemplos que demonstram a
aplicação do costume contra lei. Ex.: reconhecimento jurisprudencial da possibilidade de
comprovação de contrato por testemunha no caso de venda de gado. Trata-se no máximo
de perda da eficácia da lei e não da perda da sua validade (DESUSO)
- APLICAÇÃO TEMPORAL DE NORMAS JURÍDICAS
O princípio básico dessa matéria é o PRINCÍPIO DA NÃO-RETROATIVIDADE DAS LEIS
(Tempus regit actum), ou seja, a idéia de que a lei nova não atinge os fatos anteriores ao
início de sua vigência. Em consequência, os fatos anteriores à vigência da lei nova regulam-
se não por ela, mas pela lei do tempo em que foram praticados.
Porém, podem existir casos que se afastem dessa regra, impondo a retroatividade da lei
nova, alcançando fatos pretéritos ou os seus efeitos. Para disciplinar essas hipóteses, a
doutrina efetuou uma clássica distinção entre retroatividade máxima, média e mínima
(MATOS PEIXOTO), porque a força retroativa da lei não tem sempre a mesma intensidade.
RETROATIVIDADE
MÁXIMA OU RESTITUTÓRIA OU RESTITUTI VA MÉDIA
a lei nova abrange a coisa julgada a lei nova atinge os direitos
(sentença irrecorrível) ou os fatosos exigíveis mas não realizados
jurídicos consumad antes de sua vigência
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ATO JURÍDICO PERFEITO: ato já consumado ao tempo da lei anterior; ato que cumpriu
integralmente as fases do seu ciclo de formação ao tempo da norma revogada, que não
pode ser prejudicado pela alteração posterior do parâmetro normativo.
Questão fundamental sobre a aplicação temporal das leis reside na REVOGAÇÃO,
regulamentado pelo artigo 2º da LICC: A revogação pode ser: 1) Expressa
2) Tácita – o artigo 9º da LC 95/98 não acabou com a hipótese de revogação tácita, porque
mesmo que a nova lei não mencione expressamente a revogação dos dispositivos, o
ordenamento jurídico não comporta a existência de duas leis antagônicas. PAMPLONA:
não é possível esse entendimento, porque significaria a revogação da própria LICC, e a LC
95/98 (mesmo com a redação dada pela LC 107) não revogou a LICC, até porque também
não foi expressa na revogação, assim, também não é válida nesse aspecto, porque
desobedeceu a sua própria regra.
1) Total = Ab-Rogação
2) Parcial = Derrogação
REPRISTINAÇÃO é a restauração da norma revogada pela revogação da norma
revogadora. Há vedação de sua existência no ordenamento, por força do §2º do artigo 2º,
da LICC. A lei revogada NÃO se restaura pela revogação da lei revogadora, SALVO se a
nova lei revogadora disser que ocorre (§3º do artigo 2º).
Não se confunde com EFEITO REPRISTINATÓRIO TACITO previsto expressamente no
artigo 11,§2º da lei 9868/99.
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Segundo Flavio Tartuce1, o Código Civil não deixou clara a corrente que seguiu, pois no
seu art. 2º utiliza tanto o termo “nascimento” quanto o termo “concepção”. Contudo, segundo
referido autor, a doutrina majoritária e o STJ vem adotando a Teoria Concepcionista ao
reconhecer direitos ao nascituro. Nas palavras dele: “Se o art. 2º do Código Civil em vigor
deixa dúvidas, a interpretação sistemática do sistema não pode afastar o reconhecimento
desses direitos. Por isso, podemos reafirmar que prevalece entre nós a teoria
concepcionista.”.
1.2.2 CAPACIDADE
CAPACIDADE DE DIREITO OU DE GOZO: é a aptidão – em estado potencial – de ser
titular de direitos patrimoniais e obrigações, tendo por termo inicial o nascimento e
perdurando até a morte. Prevista no art. 1º do CC, atribui-se capacidade de direito também
à PJ. O conceito de capacidade de direito se confunde com o de personalidade.
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Em artigo: A SITUAÇÃO JURÍDICA DO NASCITURO: UMA PÁGINA A SER VIRADA NO DIREITO BRASI-
LEIRO, autor Flávio Tartuce.
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A personalidade jurídica é uma aptidão genérica. Toda pessoa tem personalidade, e por
consequência toda pessoa tem capacidade, seja um adulto, seja uma criança. Capacidade
neste sentido se relacionaria com a personalidade como faces da mesma moeda.
CAPACIDADE DE EXERCÍCIO OU DE FATO: é a aptidão para exercer PESSOALMENTE
os direitos, de agir juridicamente, por atos próprios ou mediante representante voluntário,
praticando atos da vida civil. Diferentemente da capacidade de direito, nem todas as
pessoas a possuem. É o caso dos incapazes, cujos atos jurídicos são praticados por meio
de representantes ou assistentes. A capacidade de fato é medida de proteção ao incapaz,
que, destituído da plenitude de discernimento, necessita de auxílio para a prática dos atos
da vida civil (representação ou assistência).
A primeira é estática, a segunda, dinâmica. Reunidas as duas, fala-se em CAPACIDADE
CIVIL PLENA.
Ressalte-se que ambas diferenciam-se da LEGITIMAÇÃO ou LEGITIMIDADE. A
legitimação consiste em se averiguar se uma pessoa, perante determinada situação
jurídica, tem ou não capacidade para estabelecê-la. Assim é que o cego não pode fazer
testamento particular, o juiz não pode comprar bens da hasta que presidir, o tutor não pode
adquirir bens do tutelado, irmãos não podem se casar, ainda que dotados de capacidade
civil plena. Portanto, a capacidade é a aptidão para a prática em geral dos atos
jurídicos, enquanto a legitimidade é específica de determinado ato.
INCAPACIDADE: A ausência da capacidade de fato (e não a capacidade de direito, que é
genérica) gera a incapacidade civil.
Esta incapacidade civil é também desdobrável em:
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade: (Redação conferida pela Lei nº 13.146/2015, DOU 7.7.2015, em vigor após
180 dias de sua publicação oficial): Hipótese antes tratada no art. 3º, como causa de
incapacidade civil absoluta.
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.
(Pablo Stolze Gagliano): A disciplina normativa dos silvícolas está, agora, na
legislação especial. A Lei 6.001/73 considera-o, em princípio, “agente absolutamente
incapaz, reputando nulos os atos por eles praticados sem a devida representação”.
Ressalta a lei, todavia, a hipótese do índio demonstrar discernimento, aliado à inexistência
de prejuízo em virtude do ato praticado, pelo que, aí, poderá ser considerado plenamente
capaz para os atos da vida civil (...).
EMANCIPAÇÃO:
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EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE:
Nos termos do artigo 6º, ocorre com a morte, exclusivamente (não há morte civil),
evento que se caracteriza pela cessação de toda e qualquer atividade vital do indivíduo
(para fins de transplante, considera-se suficiente a morte encefálica).
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No CC/16, o ausente era considerado absolutamente incapaz, o que não foi repetido pelo
NCC, afinal, só por estar desaparecida, a pessoa não deixa de ter capacidade para a vida
civil onde esteja.
O fato de ter um representante (curador) decorre da impossibilidade de administrar seus
bens.
No que diz respeito à tutela dos bens, o instituto da ausência é tratado em três etapas:
Curadoria do ausente: inicia-se com a petição inicial de qualquer interessado (parentes
sucessíveis, sócios, credores, pessoas que têm pretensão contra o ausente) ou do MP. O
juiz deverá, em seguida, arrecadar os bens abandonados e nomear curador. Isso ocorrerá,
ainda que o ausente tenha deixado procurador, se este não puder ou não quiser exercer o
mandato. O curador será, em primeiro lugar, o cônjuge do ausente, desde que não separado
judicialmente ou de fato, por mais dois anos. Subsidiariamente, serão nomeados os
ascendentes e, em seguida, os descendentes. Não havendo nenhuma dessas pessoas, o
juiz escolherá um curador. Este, nomeado, receberá do juiz poderes e obrigações especiais,
ficando responsável pela administração e conservação do patrimônio do ausente, pelo que
receberá uma gratificação e terá ressarcido o que gastou no exercício da curadoria. É
vedado ao curador adquirir bens do ausente. Depois da arrecadação, serão publicados
editais de dois em dois meses, durante um ano, para chamar o ausente a retomar seus
bens, cessando a curadoria caso reapareça (1), caso compareça seu procurador (2) ou,
ainda, haja notícia inequívoca de seu óbito (3).
Sucessão provisória: Ocorre após 01 ano da arrecadação ou, caso o ausente tenha
deixado procurador, passados 03 anos. Consiste em uma administração (não mero
depósito) para preservar os bens do ausente, de modo que não sejam alterados mais do
que o necessário, já que o desaparecido pode estar vivo. Depende de pedido dos
interessados. Não havendo qualquer dos interessados mencionados, o MP pode requerer
a sucessão provisória. A sentença que a determina produz efeitos depois de 180 dias de
sua publicação; mas, tão logo transite em julgado, ocorre a abertura do testamento e do
inventário, como se o ausente fosse falecido. Não comparecendo herdeiro ou
interessado para requerer a abertura do inventário, após 30 dias do trânsito em
julgado, a massa de bens do ausente será considerada como herança jacente. Os
herdeiros que se imitirem na posse dos bens devem prestar garantia pignoratícia ou
hipotecária, com exceção do cônjuge, dos ascendentes e dos descendentes. Aqueles que
não puderem ter a posse dos bens, por não prestarem a devida garantia, receberão a
metade dos rendimentos da cota de seus bens. Cônjuges, ascendentes e descendentes
receberão a integralidade dos frutos produzidos pelos bens que administram. Os outros
herdeiros, a metade. Reaparecendo o ausente e provado que a ausência foi injustificada e
voluntária, ele perderá os frutos em favor do sucessor. Não se poderá alienar os imóveis do
ausente.
Sucessão definitiva: após 10 anos do trânsito em julgado da sentença que concedeu a
abertura da sucessão provisória. Na mesma oportunidade, levantam-se as garantias
prestadas. Ela ocorre em menor prazo, caso o ausente tenha 80 anos e esteja sumido há,
pelo menos, cinco anos. Após o trânsito em julgado da sentença que concede a
sucessão definitiva dos bens, declara-se a morte presumida. Retornando o
desaparecido ou algum de seus descendentes ou ascendentes, nos 10 anos seguintes à
abertura da sucessão definitiva, receberá os bens nos estado em que se encontrarem,
os sub-rogados em seu lugar ou o preço que os herdeiros houverem recebido. Efeitos
familiares da ausência: se o ausente deixar filhos menores e outro cônjuge tiver falecido
ou não tiver direito de exercer o pátrio poder, eles serão considerados órfãos. Se os pais
estiverem ausentes, os menores devem ser postos em tutela. Após a declaração de morte
presumida, o casamento resta dissolvido – consequência inovadora, não tratada no ACC
nem tampouco admitida anteriormente pela doutrina.
21
Direito Civil 2016 22
Características:
• Caráter absoluto: são oponíveis erga omnes. A pretensão é que será dirigida
a certa(s) pessoa(s). Não quer dizer que são ilimitáveis. Nesse aspecto, eles são relativos,
incidindo a razoabilidade, em caso de colisão.
Espécies:
Os direitos personalíssimos não são enumeráveis, porém, entre os mais importantes,
destacam-se:
• VIDA: o mais precioso direito do ser humano. Trata-se de direito à vida e não sobre a
vida, de modo que seu titular não pode cercear esse direito.
24
Direito Civil 2016 25
2. Direito à privacidade: art. 5º, X/CF. Relaciona-se à vida particular da pessoa na-
tural. O direito à intimidade é uma de suas manifestações. Este difere daquele porque está
ligado à não intrusão, ao direito de estar só; é um ambiente da vida privada mais profundo
que a privacidade (nesta se insere a família). É como se esta fosse um círculo grande que
abrangesse o círculo, menor e concêntrico, da intimidade. O elemento fundamental do
direito à intimidade é a exigibilidade de respeito ao isolamento de cada ser humano, que
não pretende abrir certos aspectos de sua vida a terceiros. É o direito de estar só. O direito
à privacidade é tratado no art. 21 do CC, que garante ao lesionado a adoção, pelo juiz, de
providências necessárias para impedir ou estancar a violação à vida privada. Tal
inviolabilidade é garantida somente às pessoas naturais.
CJF, enunciado 405: “As informações genéticas são parte da vida privada e
não podem ser utilizadas para fins diversos daqueles que motivaram seu
armazenamento, registro ou uso, salvo com autorização do titular”.
O DIREITO AO ESQUECIMENTO
CJF, Enunciado 531: A tutela da dignidade da pessoa humana na
sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento.
Em que consiste o direito ao esquecimento? O direito ao esquecimento é o direito que uma
pessoa possui de não permitir que um fato, ainda que verídico, ocorrido em determinado
momento de sua vida, seja exposto ao público em geral, causando-lhe sofrimento ou
transtornos.
Exemplo histórico: “caso Lebach” (Soldatenmord von Lebach)
O exemplo mais conhecido e mencionado é o chamado “caso Lebach”, julgado pelo Tribunal
Constitucional Alemão. A situação foi a seguinte: em 1969, quatro soldados alemães
foram assassinados em uma cidade na Alemanha chamada Lebach. Após o processo,
25
Direito Civil 2016 26
três réus foram condenados, sendo dois à prisão perpétua e o terceiro a seis anos de
reclusão. Esse terceiro condenado cumpriu integralmente sua pena e, dias antes de
deixar a prisão, ficou sabendo que uma emissora de TV iria exibir um programa
especial sobre o crime no qual seriam mostradas, inclusive, fotos dos condenados e
a insinuação de que eram homossexuais.
Diante disso, ele ingressou com uma ação inibitória para impedir a exibição do
programa. A questão chegou até o Tribunal Constitucional Alemão, que decidiu que a
proteção constitucional da personalidade não admite que a imprensa explore, por
tempo ilimitado, a pessoa do criminoso e sua vida privada. (...) Isso porque não haveria
mais um interesse atual naquela informação (o crime já estava solucionado e julgado há
anos). (...) O direito ao esquecimento, também é chamado de “direito de ser deixado em
paz” ou o “direito de estar só”. Nos EUA, é conhecido como the right to be let alone e, em
países de língua espanhola, é alcunhado de derecho al olvido.
No Brasil, o direito ao esquecimento possui assento constitucional e legal, considerando
que é uma consequência do direito à vida privada (privacidade),intimidade e honra,
assegurados pela CF/88 (art. 5º, X) e pelo CC/02 (art. 21). Alguns autores também afirmam
que o direito ao esquecimento é uma decorrência da dignidade da pessoa humana (art. 1º,
III, da CF/88).
Sem dúvida nenhuma, o principal ponto de conflito quanto à aceitação do direito ao
esquecimento reside justamente em como conciliar esse direito com a liberdade de
expressão e de imprensa e com o direito à informação.
A 4ª Turma do STJ, em dois julgados recentes, afirmou que o sistema jurídico brasileiro
protege o direito ao esquecimento (REsp 1.335.153-RJ e REsp 1.334.097-RJ, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgados em 28/5/2013).
Direito ao segredo: seria um círculo, também concêntrico, intermediário entre a intimidade
e a privacidade. Abrange três esferas: segredo das comunicações (correspondência,
telefone e comunicação telegráfica); segredo doméstico (reservado aos recônditos do lar
e da vida privada; relaciona-se também à inviolabilidade do domicílio); segredo
profissional (protege-se a pessoa que revelou algum segredo a terceiro, por circunstância
de sua atividade profissional).
INTEGRIDADE MORAL: nela se inserem:
1. Direito à honra: umbilicalmente associada à natureza humana, manifesta-se sob
duas formas: (1) objetiva – reputação, bom nome e fama que a pessoa possui na sociedade
– e (2) subjetiva – sentimento pessoal de estima, consciência da própria dignidade.
2. Direito à imagem: protege a forma plástica da pessoa natural, mais os seus re-
flexos, principalmente quando há violação, são sentidos mais no âmbito moral que no físico.
É também um direito fundamental (art. 5º, X, CF). O NCC contém previsão (art. 20) de
indenização para o caso de exposição ou utilização da imagem de uma pessoa quando
houver proibição sua e lhe atingirem a honra ou se destinarem a fins comerciais. Tratando-
se de morto ou ausente, podem pedir a devida tutela o cônjuge, os ascendentes ou os
descendentes2. O desvio de finalidade do uso autorizado também caracteriza violação ao
direito à imagem. Como se vê, esse direito admite cessão de uso, porém seus limites
devem ser rigidamente fixados pela autorização expressa do seu titular.
CJF, Enunciado 279: “Art.20. A proteção à imagem deve ser ponderada com
outros interesses constitucionalmente tutelados, especialmente em face do
2
O Enunciado nº 5 da Jornada de Direito Civil prevê em sua segunda parte: “2) as disposições do art. 20 do
novo Código Civil têm a finalidade específica de regrar a projeção dos bens personalíssimos nas situações
nele enumeradas. Com exceção dos casos expressos de legitimação que se conformem com a tipificação
preconizada nessa norma, a ela podem ser aplicadas subsidiariamente as regras instituídas no art. 12.”
26
Direito Civil 2016 27
3. Direito ao nome: tutela o sinal exterior mais visível da pessoa natural. Compre-
ende o prenome e o sobrenome (patronímico3). Pode, ainda, ser integrado pelo pseudônimo
(codinome), que é aquele escolhido pela própria pessoa para o exercício de uma atividade
específica. Ainda que não o integre, goza da mesma proteção (desde que usado para
atividade lícita), tutelando, assim, um verdadeiro direito à identidade pessoal.
3
Apelido: sinônimo de patronímico ou, ainda, de cognome (Xuxa, Pelé, Didi Mocó); Agnome: sinal distintivo
acrescentado ao nome para diferenciá-lo do de parentes mais próximos (Filho, Neto, Júnior).
27
Direito Civil 2016 28
Por ser marca indelével do ser humano, o nome só pode ser alterado em situações
específicas. É necessária a mudança em caso de alteração do estado de filiação (adoção,
reconhecimento de paternidade) ou do próprio nome dos pais. É voluntária em caso de
casamento e, ainda, dependendo de autorização judicial, quando é imotivada (1 ano após
a maioridade), em caso de inclusão de pseudônimo, de substituição do prenome em razão
de proteção à testemunha de crime, de facilitação de identidade no setor profissional, de
erro de grafia e de exposição ao ridículo. A jurisprudência consagra, também, a hipótese de
mudança de sexo. Julgado relativamente recente do STJ sobre os requisitos para alteração
do nome:
28
Direito Civil 2016 29
O NCC tutela o nome na medida em que proíbe o seu uso em propaganda comercial sem
autorização (art. 18). Como dito antes, o art. 17, quando proíbe o emprego do nome de
modo a expor seu titular ao desprezo público, protege, em verdade, a honra. Aquele outro
dispositivo, de certa forma, também objetiva tutelar a honra.
Proteção: pode ser preventiva, fazendo cessar a ameaça (por meio de cautelar ou ordinária
com multa cominatória)4 ou repressiva (por meio de imposição de sanção civil – indenização
– ou ainda penal). O CC prevê tais formas de tutela (art. 12)5. A CF, por sua vez, consagra
garantias específicas (remédios) daqueles direitos da personalidade que configurem
liberdades públicas. Por fim, o Pacto de São José da Costa Rica determina que os Estados
se comprometam a respeitar e garantir os direitos da personalidade.
1.2.6 TUTELA
É o encargo conferido por lei a uma pessoa capaz, para cuidar da pessoa menor e
administrar os seus bens. Ela destina-se a suprir a falta do poder familiar e tem nítido caráter
assistencial.
Dispõe o art. 1728 do CC que os filhos menores são postos em
tutela: a) Com o falecimento dos pais, ou sendo estes julgados
ausentes;
b) Em caso de os pais decaírem do poder familiar. Constitui um sucedâneo do poder
familiar e é incompatível com este. Caso os pais recuperem o poder familiar, ou se
este surgir coma adoção ou o reconhecimento do filho havido fora do casamento,
cessará a tutela. Se o menor ainda se encontra sob o poder familiar, só se só se
admitirá a nomeação de tutor depois que os pais forem destituídos de tal encargo.
Ser tutor é considerado um encargo público e obrigatório, salvo nas hipóteses dos arts.
1736 (a) mulheres casadas; b) maiores de 60 anos; c) aqueles que tiverem sob a sua
autoridade mais de 3 filhos; d) os impossibilitados por enfermidades; e) aqueles que
habitarem longe do lugar onde se haja de exercer a tutela; f) aqueles que já exerceram
tutela ou curatela; g) militares em serviço) e 1737 (quem não for parente do menor não
poderá ser obrigado a aceitar a tutela, se houver no lugar parente idôneo, consanguíneo ou
afim, em condições de exercê-la).
Formas de tutela:
a) Testamentária: é a tratada nos arts. 1729 e 1730 do CC, que atribuem o direito de
nomear tutor somente aos pais, em conjunto, desde que detenham o poder familiar (essa
falta gera nulidade). Não há a prevalência de um sobre o outro. Se estão vivos, a nomeação
deverá ser feita por ambos. Só se admite a nomeação por apenas um deles se o outro for
4
III Jornada de Direito Civil, Enunciado: “A primeira parte do art. 12 do Código Civil refere-se às técnicas de tutela
específica, aplicáveis de ofício, enunciadas no art. 461 do Código de Processo Civil, devendo ser interpretada com
resultado extensivo.”
5
5
O Enunciado nº 5 da Jornada de Direito Civil prevê em sua primeira parte: “1) As disposições do art. 12 têm caráter
geral e aplicam-se inclusive às situações previstas no art. 20, excepcionados os casos expressos de legitimidade para
requerer as medidas nele estabelecidas”.
29
Direito Civil 2016 30
falecido. Se o outro estiver no exercício do poder familiar, não poderá dele ser afastado pela
manifestação unilateral de última vontade do testador. A nomeação é feita por testamento
ou por outro documento autêntico (codi-
cilos, escritura);
b) Legítima: não havendo nomeação de tutor, incumbirá a tutela aos parentes
consanguíneos do menor. Essa tutela obedecerá uma ordem preferencial: 1º) ascendentes,
preferindo o de grau mais próximo ao mais remoto; 2º) colaterais até o 3º grau, preferindo
os mais próximos aos mais remotos, e, no mesmo grau, os mais velhos aos mais moços.
Vale salientar, que o juiz escolherá entre eles o mais apto a exercer a tutela. A bem do
menor, poderá o juiz altera-la e até não nomear nenhum dos parentes, pois prevalecerá o
interesse do incapaz;
c) Dativa: ocorre quando não há a possibilidade nem da tutela testamentária, bem como
da legítima. Ela tem, portanto, um caráter subsidiário. Neste caso, o juiz nomeará pessoa
estranha à família, idônea e residente no domicílio do menor;
d) Do menor abandonado: que terá o tutor nomeado pelo juiz ou será recolhido a
estabelecimento público destinado a esse fim, ficando sob a responsabilidade do Estado.
Essa tutela está regulamentada pelo ECA, inexistindo incompatibilidade entre os dois
diplomas. É uma espécie de tutela estatal;
e) Tutela de fato ou irregular: ocorre quando uma pessoa passa a zelar pelo menor e
por seus bens, sem ter sido nomeada. Os seus atos não têm validade, não passando o
suposto tutor de mero gestor de negócios;
f) Tutela ad hoc ou provisória ou especial: ocorre quando uma pessoa é nomeada
tutora para a prática de determinado ato, sem a destituição dos pais do poder familiar;
g) Tutela dos índios: é também uma espécie de tutela estatal. Atualmente está
regulamentada pelo Estatuto do Índio e é exercida pela União por meio da FUNAI. O índio
pertencente às comunidades não integradas é incapaz desde o seu nascimento, sendo
necessária a participação da FUNAI para a prática de qualquer ato da vida civil. Porém,
para ser liberado dessa tutela, precisa estar adaptado à civilização, preenchendo os
requisitos do EI, mediante solicitação feita à Justiça Federal, com a manifestação da FUNAI.
O exercício da tutela assemelha-se ao do poder familiar, contudo, sofre algumas limitações,
sendo ainda sujeito à inspeção judicial. O tutor é obrigado a prestar contas de 2 em 2 anos.
Essas contas serão verificadas pelo promotor e julgadas pelo juiz. A quitação dada pelo
menor, finda a tutela pela emancipação ou maioridade, não produzirá efeitos antes de
aprovadas as contas.
A venda de imóveis pertencentes ao menor só poderá ser feita mediante autorização judicial
e quando houver manifesta vantagem, mediante prévia avaliação judicial.
Determinados atos, nem mediante autorização judicial, o tutor poderá praticar sob pena de
nulidade: a) adquirir por si, ou por interposta pessoa, mediante contrato particular, bens
móveis ou imóveis pertencentes ao menor; b) dispor dos bens do menor a título gratuito; c)
constituir-se cessionário de crédito ou de direito, contra o menor.
O CC/02 inova ao autorizar o juiz a nomear um protutor para fiscalizar os atos do tutor. O
protutor corresponderá à figura do gestor de negócios do menor ou pupilo.
Cessação da tutela:
1) Em relação ao menor:
a) Com a maioridade;
30
Direito Civil 2016 31
b) Com a emancipação;
c) Ao cair sob o poder familiar, no caso de reconhecimento ou adoção.
2) Em relação ao tutor:
a) Ao expirar o termo em que era obrigado a servir. O tutor é obrigado a servir somente
pelo prazo de 2 anos;
b) Ao sobrevir escusa legítima;
c) Ao ser removido;
d) Quando negligente, prevaricador ou incurso em incapacidade;
e) Se infringir os dispositivos inerentes à proteção do trabalho do menor (art. 436,
parágrafo único, CLT).
1.2.7 CURATELA
É o encargo deferido por lei a alguém capaz para reger a pessoa e administrar os bens de
quem, em regra maior, não pode fazê-lo por si só. Assemelha-se à tutela por seu caráter
assistencial, destinando-se, igualmente, à proteção de incapazes. Por essa razão, a ela são
aplicáveis as disposições legais relativas à tutela, com apenas algumas modificações:
• O cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente ou de fato, é, de
direito, curador do outro quando interdito. Na falta do cônjuge ou companheiro,
será curador o pai ou a mãe e, na falta destes, o descendente mais apto. na
falta dessas pessoas, competirá ao juiz escolher o curador;
• Havendo meio de recuperar o interdito, o curador promover-lhe-á o tratamento
em estabelecimento próprio;
• A autoridade do curador estende-se à pessoa e aos bens dos filhos do
curatelado;
Outras diferenças entre a tutela e a curatela:
TUTELA CURATELA
Destinada a menores de 18 É deferida, em regra, para maiores. Mas poderá ser deferida ao
anos. nascituro, ao relativamente incapaz entre 16 e 18 anos que
sofra das faculdades mentais.
Pode ser testamentária, com a É sempre deferida pelo juiz.
nomeação do tutor pelos pais.
Abrange a pessoa e os bens Poderá compreender somente a administração dos bens do
do menor. incapaz, como no caso dos pródigos.
Obs: Os incisos II (aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua
vontade) e IV (Os excepcionais sem completo desenvolvimento mental) do art. 1767 do
NCC foram revogados pela Lei nº 13.146/2015 (DOU 7.7.2015, em vigor após 180 dias de
sua publicação oficial).
32
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34
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6
III Jornada de Direito Civil: “A liberdade de funcionamento das organizações religiosas não afasta o controle de
legalidade e legitimidade constitucional de seu registro, nem a possibilidade de reexame, pelo Judiciário, da
compatibilidade de seus atos com a lei e com seus estatutos.”
7
Não estão relacionados no art. 44 do CC, mas como diz um recente enunciado da III Jornada de Direito Civil do CJF: “A
relação das pessoas jurídicas de direito privado, estabelecida no art. 44, incisos I a V, do Código Civil, não é exaustiva.”
35
Direito Civil 2016 36
1.3.4 ADMINISTRAÇÃO
As pessoas jurídicas são administradas por quem seus estatutos denominarem. Se os
estatutos forem omissas, serão representadas por seus sócios, administradores ou
gerentes.
Os atos praticados pelos administradores, nos limites de seus poderes, obrigam a pessoa
jurídica. A jurisprudência entende que, ainda que extrapole seus poderes, a pessoa jurídica
será responsabilizada pelos atos de seus administradores, quando o terceiro estiver de boa-
fé, isto é, não haver evidências claras que o ato é praticado com abuso de poder. Neste
caso, a sociedade poderá voltar-se contra o administrador que lhe causou prejuízos.
Nos termos do art. 48 do CC, quando a pessoa jurídica for administrada por órgão coletivo,
as decisões serão tomadas pela maioria dos votos presentes, ressalvadas as hipóteses
legais (vide sociedades simples, empresárias e anônimas).
Na falta de administradores, o juiz poderá nomear administrador, a pedido de qualquer
interessado.
Por fim, o parágrafo único do art. 48 do CC prevê prazo decadencial de três anos para que
qualquer dos sócios questionem ou busquem a anulação das decisões tomadas pela
maioria dos sócios ou administradores, quando o fizerem com violação de lei, estatuto ou
com erro, dolo, simulação ou fraude.
Art. 47. Obrigam a pessoa jurídica os atos dos administradores, exercidos
nos limites de seus poderes definidos no ato constitutivo.
Art. 48. Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva, as decisões se
tomarão pela maioria de votos dos presentes, salvo se o ato constitutivo
dispuser de modo diverso.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular as decisões a que
se refere este artigo, quando violarem a lei ou estatuto, ou forem eivadas
de erro, dolo, simulação ou fraude.
Art. 49. Se a administração da pessoa jurídica vier a faltar, o juiz, a
requerimento de qualquer interessado, nomear-lhe-á administrador
provisório.
requerimento da parte ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que
os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens
particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.”
Sobre a matéria, há dois enunciados do CJF. O nº 7: “Art. 50: só se aplica a
desconsideração da personalidade jurídica quando houver a prática de ato irregular, e
limitadamente, aos administradores ou sócios que nela hajam incorrido”, e um outro recente,
formulado na III Jornada de Direito Civil: “Nas relações civis, os parâmetros de
desconsideração da personalidade jurídica previstos no art. 50 (desvio de finalidade social
ou confusão patrimonial) interpretam-se restritivamente. Observação da comissão: Este
enunciado não prejudica o enunciado n. 07, da 1a.
Jornada de Direito Civil do CEJ/CJF.”
Como se vê, a desconsideração da personalidade jurídica não decorre somente do desvio
dos fins estabelecidos no contrato social ou nos atos constitutivos, podendo o abuso
também consistir na confusão entre o patrimônio social e o dos sócios ou administradores.
Os seus efeitos são meramente patrimoniais e sempre relativos a obrigações determinadas,
pois a pessoa jurídica não entra em processo de liquidação. O emprego da expressão
“relações de obrigação” demonstra que o direito do demandante tanto pode ser fundado em
contrato como em um ilícito civil.
O STJ subdivide a teoria nas vertentes FORTE (MAIOR) ou FRACA (MENOR), sendo a
primeira adotada pelo Código Civil, a exigir prova do abuso (seja por desvio de finalidade
ou confusão patrimonial), não se contentando com a mera insolvência da pessoa jurídica.
No STJ, Informativo nº 554/2015, decidiu-se que: “O encerramento das atividades da
sociedade ou sua dissolução, ainda que irregulares, não são causas, por si sós, para
a desconsideração da personalidade jurídica a que se refere o art. 50 do CC. Para a
aplicação da teoria maior da desconsideração da personalidade social – adotada pelo CC
–, exige-se o dolo das pessoas naturais que estão por trás da sociedade, desvirtuando-lhe
os fins institucionais e servindo-se os sócios ou administradores desta para lesar credores
ou terceiros. É a intenção ilícita e fraudulenta, portanto, que autoriza, nos termos da teoria
adotada pelo CC, a aplicação do instituto em comento. (…) Ressalte-se que não se quer
dizer com isso que o encerramento da sociedade jamais será causa de desconsideração
de sua personalidade, mas que somente o será quando sua dissolução ou inatividade
irregulares tenham o fim de fraudar a lei, com o desvirtuamento da finalidade institucional
ou confusão patrimonial. Assim é que o enunciado 146, da III Jornada de Direito Civil,
orienta o intérprete a adotar exegese restritiva no exame do artigo 50 do CC, haja vista
que o instituto da desconsideração, embora não determine a despersonalização da
sociedade – visto que aplicável a certo ou determinado negócio e que impõe apenas a
ineficácia da pessoa jurídica frente ao lesado –, constitui restrição ao princípio da autonomia
patrimonial. Ademais, evidenciando a interpretação restritiva que se deve dar ao dispositivo
em exame, a IV Jornada de Direito Civil firmou o enunciado 282, que expressamente
afasta o encerramento irregular da pessoa jurídica como causa para desconsideração de
sua personalidade: “O encerramento irregular das atividades da pessoa jurídica, por si
só, não basta para caracterizar abuso da personalidade jurídica”.”
Para a segunda teoria (fraca), a simples insolvência é suficiente para autorizar a
desconsideração (Adotada pelo CDC).
Há, também, a DESCONSIDERAÇÃO INVERSA, que vem sendo reconhecida pelo STJ
principalmente em casos de direito de família, a autorizar o juiz desconsiderar a pessoa
natural para atingir o patrimônio da pessoa jurídica da qual ele seja sócio (provado o abuso,
por óbvio). CFJ, Enunciado 283 – Art. 50. “É cabível a desconsideração da personalidade
jurídica denominada “inversa” para alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa
jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros”.
37
Direito Civil 2016 38
DESCONSIDERA
ÇÃO DA
PERSONALIDAD
E JURÍDICA NO
ORDENAMENT
O BRASILEIRO
ART. 34, LEI
ART. 4°, LEI 10.2.529/2011
ART. 50, ART.28, ART.28, § 5º,
9.605/98 (LEI (LEI
NCC CAPUT, CDC CDC
AMBIENTAL) ANTITRUST)
38
Direito Civil 2016 39
-abuso de -abuso de
direito; direito;
-excesso de -excesso de
poder; poder;
-infração da lei; -infração da lei;
-fato ou ato -fato ou ato
ilícito; -sempre que -quando ilícito;
-violação dos personalidade personalidade -violação dos
estatutos ou for, de alguma for obstáculo estatutos ou
contrato social; forma, ao contrato social;
HIPÓTESE DE -abuso da -falência; -falência;
obstáculo ao ressarcimento
CABIMENTO personalidade. -estado de -estado de
ressarcimento de prejuízos
insolvência; de prejuízos causados à insolvência;
-encerramento causados aos qualidade do -encerramento
ou inatividade consumidores. meio ambiente. ou inatividade
da pessoa da pessoa
jurídica jurídica
provocados por provocados por
má má
administração. administração.
1.3.6 ASSOCIAÇÕES
As associações são pessoas jurídicas que reúnem pessoas e para fins não econômicos,
mas não é necessário que suas finalidades sejam altruístas; o fim a ser buscado pode ser
de interesse apenas do associado. Sempre se discutiu se no quadro de associados poderia
ou não haver pessoas jurídicas. Classicamente, estava restrita a pessoas naturais; o CC/02
não estabelece essa restrição, mas os doutrinadores defendem que pelo regramento
exposto não é possível a participação de pessoas jurídicas. Podem até gerar renda, mas é
revertida para a própria associação. Não se veda a participação em operações negociais,
mas a reversão dos lucros aos sócios. Exemplo: associações de bairro, terceiro setor.
Não podem adotar qualquer das formas empresariais, visto que lhes faltam intuito
especulativo.
Associação não tem sócio.
As disposições relativas às associações tem aplicação subsidiária às sociedades.
ENUNCIADO N. 280 – JORNADA CJF: Arts. 44, 57 e 60. Por força do art.
44, § 2º, consideram-se aplicáveis às sociedades reguladas pelo livro ii da
parte especial, exceto às limitadas, os arts. 57 e 60, nos seguintes termos:
a) Em havendo previsão contratual, é possível aos sócios deliberar a
exclusão de sócio por justa causa, pela via extrajudicial, cabendo ao
contrato disciplinar o procedimento de exclusão, assegurado o direito de
defesa, por aplicação analógica do art. 1085;
b) As deliberações sociais poderão ser convocadas pela iniciativa de
sócios que representem 1/5 (um quinto) do capital social, na omissão do
contrato. A mesma regra aplica-se na hipótese de criação, pelo contrato,
de outros órgãos de deliberação colegiada.
A associação já nasce com um quadro associativo, mas é possível aos associados dispor
em seus atos constitutivos: se, como e quando será admitida a participação de novos
associados. Aqui cabe uma importante ressalva feita pela CF (o CC não faz), as exigências
de associação não ser discriminatórias injustificadamente.
Direitos dos associados: os associados devem ter os mesmos direitos, mas o estatuto
poderá instituir categorias com vantagens especiais (ex.: sócio remido). Não será possível
a diferenciação no exercício dos direitos básicos. O impedimento do exercício de direito ou
39
Direito Civil 2016 40
função pelo associado somente poderá ocorrer nos casos e pela forma prevista em lei ou
estatuto.
A qualidade de associado é intransmissível, salvo disposição contrária do estatuto. A
transferência de fração ideal do patrimônio da associação, por si só, não atribui a qualidade
de sócio.
O associado pode ser obrigado a deixar a associação, ou seja, ser excluído / expulso na
forma que o estatuto deliberar, quais os motivos e condições, razões de sua expulsão. Note-
se que deve haver também uma razoabilidade no estabelecimento desses motivos. O artigo
57 prevê que mesmo diante da inexistência de previsão do estatuto, o associado pode ser
expulso diante da prática de motivo grave (trata-se de aplicação do princípio da eticidade,
pois, o associado não pode ser excluído sem justa causa).
IMPORTANTE: Sempre que haja a deliberação extrema de expulsão, haverá a
possibilidade de recurso para o órgão máximo (assembleia geral), nos termos do parágrafo
único do artigo 57. Note-se que deve haver respeito ao princípio do contraditório e da ampla
defesa.
Durante a permanência do associado na associação, o artigo 55 garante que aos
associados se assegurem iguais direitos, embora possam os estatutos instituir categorias
com vantagens especiais. Ou seja, determinados direitos são básicos a todos os
associados, o que o estatuto da associação pode fazer é estabelecer categorias de sócios
(remido).
Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá
instituir categorias com vantagens especiais.
O órgão máximo da associação é a Assembleia Geral, que tem sua competência definida
no artigo
59, o qual estabelece quais os assuntos deverão ser tratados somente pela assembleia
geral (primeira convocação, quorum de instalação de maioria absoluta; segunda e demais
convocações, 1/3 dos convocados):
• Eleger os administradores;
• Destituir os administradores; (2/3 dos presentes);
• Aprovar contas;
• Alterar os estatutos (2/3 dos presentes)
Dissolução da associação:
Formas de dissolução:
a) Convencional: extinção na forma do ato constitutivo.
b) Legal: decorre da disposição legal: desvio de finalidade; associação por prazo
determinado; e condição resolutiva.
A dissolução da associação será feita na forma que o estatuto estabelecer e extinção por
questões legais.
1.3.7 FUNDAÇÃO
As fundações têm objetivos externos, estabelecidos pelo instituidor. Nas fundações o
patrimônio é elemento essencial. Diz-se que a fundação é um patrimônio personificado.
As fundações constituem um acervo de bens, que recebe personalidade jurídica para a
realização de fins determinados. Compõem-se de dois elementos: o patrimônio e o fim
(estabelecido pelo instituidor e não lucrativo). Antes das alterações promovidas no NCC
pela Lei nº 13.151/2015, as fundações somente poderiam constituir-se para fins religiosos,
morais, culturais ou de assistência. Atualmente, os incisos do parágrafo único do art.
62 preveem: “I – assistência social; II – cultura, defesa e conservação do patrimônio
histórico e artístico; III – educação; IV – saúde; V – segurança alimentar e nutricional;
VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do
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Direito Civil 2016 42
DOMICÍLIO
2.1 DOMICÍLIO
O CC/02 manteve as mesmas regras do CC/16, organizando-as melhor. A palavra domicílio
tem raiz na palavra domus, que significa casa; para os romanos era o lugar em a pessoa
se estabelecia permanentemente. Inclusive, se cultuavam os antepassados (eis que os
mesmos eram enterrados na propriedade familiar – daí, inclusive, a noção inicial do bem de
família). Os franceses complicaram essa noção, estabelecendo uma relação entre o
indivíduo e a casa. É preciso que sejam diferenciados três conceitos:
morada – é o lugar onde a pessoa se estabelece temporariamente; exemplo: morar em
Salvador por 06 meses, é passageiro; residência – é o lugar onde a pessoa se estabelece
habitualmente, ou seja, é permanente; exemplo: pessoa que reside na cidade e passa finais
de semana com frequência em sua casa de campo, terá 02 residências; o indivíduo pode
ter várias residências. domicílio – é o lugar onde a pessoa estabelece residência, com
ânimo definitivo, transformando-o em centro de sua vida jurídica. O conceito de domicílio
compreende o conceito de residência, porque há também a exigência de habitualidade
(elemento objetivo). Mas é preciso também a existência do ânimo definitivo, de ficar com
interesse de transformar o lugar em centro de sua vida jurídica (elemento subjetivo).
Exemplo: pessoa que passa os fins de semana no sítio, mas tem a sua vida jurídica na
residência da cidade.
DOMICÍLIO = RESIDÊNCIA (quid facti) + QUALIFICAÇÃO LEGAL (quid juris)
Comum / voluntário / geral (art. 70) – É a residência mais o animus / vontade / opção de
que ela seja o local principal de suas atividades (centro). Elemento material = residência;
elemento anímico ou psicológico = ânimo de permanência (oposto de transitoriedade).
Domicílio é um centro de referência jurídica.
Pluralidade de domicílios (artigos 71 e 72) – É admitida no Brasil, seguindo a doutrina
alemã. Qualquer um dos locais pode ser caracterizado como domicílio (pessoa que tem
dois domicílios).
STF Súmula nº 483. É dispensável a prova da necessidade, na retomada do
prédio situado em localidade para onde o proprietário pretende transferir
residência, salvo se mantiver, também, a anterior, quando dita prova será
exigida.
Domicílio Profissional: (artigo 72 não tem correspondente no CC/16) local onde é exercida
a profissão, ou seja, é uma especial modalidade de domicílio restrita a aspectos da vida
profissional da pessoa física. O domicílio profissional não afasta o domicílio geral.
Domicílio aparente ou ocasional (art. 73) – essa teoria foi desenvolvida por HENRI DE
PAGE (civilista belga). Criado por ficção da lei em face de pessoas que não tenham
residência habitual; será seu domicílio o local em que se encontrarem. EXEMPLO:
andarilhos, pessoas que trabalham no circo.
Mudança de domicílio (artigo 74) – ocorre com a mudança da residência, aliada ao ânimo
de mudar.
Domicílio da pessoa jurídica (art. 75) – fala da regra genérica do domicílio da pessoa
jurídica de direito público, as regras específicas estão na CF/88. As pessoas jurídicas de
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Direito Civil 2016 43
direito privado terão seu domicílio no local previsto no estatuto ou no contrato social, sendo
o local de sua sede.
STF Súmula nº 363 A pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada
no domicílio da agência, ou estabelecimento, em que se praticou o ato.
O artigo 100 do CPC trata dessa questão afirmando que será competente o foro do local no
qual a pessoa jurídica tenha celebrado relações jurídicas com autonomia.
Espécies de domicílio:
CONVENCIONAL – é o comum, é aquele que se fixa por ato de vontade própria, ou seja,
a pessoa fixa por ato de vontade, ao se mudar.
LEGAL OU NECESSÁRIO – é o determinado por lei e previsto no artigo 76; trata-se de
domicílio obrigatório da pessoa natural: 1) do incapaz (domicílio de seu representante ou
assistente); 2) do preso (onde cumpre pena; preso cautelar não tem domicílio legal no lugar
onde esteja preso; enquanto o preso estiver cumprindo simples prisão cautelar, ainda não
está cumprindo sentença, não havendo domicílio legal); 3) do servidor público (onde exerce
permanentemente as suas funções, ou seja, só tem domicílio o servidor que exerce função
permanente); 4)do juiz (comarca onde judica); 5) do militar (onde está servindo); 6) do
marítimo (marinheiro da marinha mercante) (local da matrícula do navio).
O artigo 77 também fala de um tipo de domicílio necessário, qual seja, o domicílio dos
agentes diplomáticos; que é o local no Brasil e não no exterior.
DE ELEIÇÃO OU ESPECIAL (artigo 78, CC e 111, CPC) – é o domicílio previsto em um
contrato. A cláusula eletiva de foro, se atentatória aos direitos do consumidor, é nula de
pleno direito (artigo 51, IV, CDC). Em geral, no contrato de consumo há um desequilíbrio
contratual, os contratos são de adesão.
LEMBRAR que o art. 112, P.U., do CPC, prevê que “a nulidade da cláusula de eleição de
foro, em contrato de adesão, pode ser declarada de ofício pelo juiz, que declinará de
competência para o juízo de domicílio do réu”. (STF Súmula nº 335 É válida a cláusula de
eleição do foro para os processos oriundos do contrato.)
Ressalvas à validade do foro de eleição: deve ser fruto de escolha real; nos contratos de
adesão não pode haver uma imposição em prejuízo do aderente. É possível escolher um
foro, mas não um juízo.
2.2 BENS
2.2.1 NOÇÕES GERAIS
Atentando-se para a divisão do direito subjetivo, os bens são: objeto do direito. Tanto o
significado semântico quanto o jurídico coincidem, ou seja, bem é o interesse juridicamente
tutelado pela norma, é o que o titular do direito quer alcançar. Todos os autores fazem uma
bagunça na conceituação de bens. Existem duas posições solidificadas que distinguem
coisa de bem: 1ª corrente: coisa – tudo que está externo ao homem; bem – tudo que é
jurídico; que tenha valoração econômica e que pode ser apropriado.
CRÍTICA: não há como enquadrar os não patrimoniais no conceito de bem (direito à vida,
à integridade física).
2ª corrente: bem – é gênero. Tudo que possa estar na relação jurídica como objeto, tendo
ou não valor econômico; coisa – é espécie, sendo bem que tem valor econômico.
Crítica: as coisas fora de comércio não têm valor econômico e fala-se mesmo assim em
coisa. (TRF1: lua e estrelas são coisas, mas não são bens, porque insuscetíveis de
apropriação)
Essa corrente foi adotada pelo novo CC/02, que traz somente o conceito de bens e as
coisas como as dotadas de valor econômico. Godoy: o novo CC acabou com essa
celeuma jurídica e passou a utilizar a terminologia única de BENS, assim, essa
discussão está superada (posição de
Washington de Barros Monteiro)
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Direito Civil 2016 44
PATRIMÔNIO: conceito que engloba todos os bens, com conteúdo pecuniário. Composto
por todas as relações jurídicas dotadas de valor econômico. Mas a doutrina mais nova tem
repensado esse conceito, para conceber a expressão patrimônio de maneira adjetiva:
patrimônio jurídico, que é mais ampla em relação à gama de relações jurídicas tuteladas
pelo direito.
2.2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS BENS
I- BENS CONSIDERADOS EM SI
MESMOS a) BENS CORPÓREOS E
INCORPÓREOS
Não estão previstos na lei. Os primeiros têm existência física, concreta. Os últimos não são
percebidos pelos sentidos.
b) BENS MÓVEIS E IMÓVEIS (arts. 79 a 84):
MÓVEIS, nos termos do artigo 82, são os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de
remoção por força alheia, sem alteração de sua substância ou da destinação econômico-
social. A movimentação pode ser por força própria (semovente) ou por força alheia.
SUBCLASSIFICAÇÃO DOS BENS MÓVEIS:
* Pela própria natureza: semoventes e os sem movimento próprio
*Por antecipação: “atualmente” são imóveis, mas possuem finalidade última como móveis,
de modo que se antecipa sua mobilidade (ex: plantações para corte)
*Por determinação legal: São considerados bens móveis para efeitos legais (artigo 83): 1)
as energias que tenham valor econômico; (novidade no CC, mas já constava no sistema
jurídico, quando se falava de furto de energia, ou seja, já considerando-a como bem móvel).
2) os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes; 3) os direitos
pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações.
OBS:O PENHOR AGRÍCOLA não é considerado bem móvel, porque a colheita e a safra se
agregam ao solo e por definição de lei é considerado bem imóvel; assim, o PENHOR
AGRÍCOLA é direito real sobre objetos IMÓVEIS, sendo assim, uma exceção à regra do
artigo 83, inciso III. Além disso, o seu registro se dá no Registro de Imoveis.
Pelo artigo 84, os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem
empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os
provenientes da demolição de algum prédio.
ATENÇÃO: Os navios e aeronaves apesar de serem móveis pela natureza ou essência,
são tratados pela lei como imóveis.
IMÓVEIS: são os que não podem ser mobilizados, transportados ou removidos sem a
sua destruição.
SUBCLASSIFICAÇÃO DOS BENS IMÓVEIS:
*por natureza (não podem ser movimentados sem ruptura), são o solo e tudo que lhe
agregue naturalmente; e
* por acessão física (plantações e construções, que se prendam por fundação ao solo, p.
ex., a tenda não se prende ao solo; o que foi feito pelo homem); artigo 81, I, afirma que as
edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para
outro local. *por acessão intelectual (são coisas móveis que são imobilizadas, por exemplo,
o maquinário na fazenda agrícola e o estabelecimento empresarial, ou seja, são os móveis
enquanto estiverem a serviço do imóvel) artigo 79 afirma que são bens imóveis o solo e
tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente; (há enunciado do CJF dizendo que
esse conceito está afastado do direito, mas os examinadores podem continuar cobrando,
já que a doutrina tradicional ainda cita. Enunciado n. 11 CJF/STJ: “Não persiste no novo
sistema legislativo a categoria dos bens imóveis por acessão intelectual, não obstante a
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Direito Civil 2016 45
expressão ‘tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente’, constante da parte final
do art. 79 do CC”.) e
*por determinação legal: artigo 80 afirma que se consideram imóveis para efeitos legais: I
– os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram e II – o direito à sucessão
aberta. Não perdem também o caráter de imóveis os materiais provisoriamente separados
de um prédio, para nele se reempregarem, inciso II, do artigo 81.
Não se pode mais usar a expressão outorga UXÓRIA. Independentemente da época BENS
imóveis por determinação legal demandam a outorga CONJUGAL da aquisição do bem. c)
BENS FUNGÍVEIS E INFUNGÍVEIS
Base: possibilidade de substituição por outro igual.
FUNGÍVEIS: sempre serão bens móveis, que têm como característica poderem ser
substituídos por outros de mesma qualidade, quantidade e espécies (artigo 85)
INFUNGÍVEIS: Os infungíveis por outro lado não podem ser substituídos dessa forma.
Esse conceito é muito importante para o Direito das Obrigações (assunto será retomado).
Também tem relevância na distinção entre os contratos de comodato e mútuo.
- A INFUNGIBILIDADE pode se dar por ato de vontade do titular ou em função do valor
histórico do bem.
d) BENS CONSUMÍVEIS E INCONSUMÍVEIS (art. 86)
Sob duas vertentes pode ser considerado o bem consumível ou inconsumível:
materialmente consumíveis – são os fisicamente consumíveis, os que perdem substância
logo em seu primeiro uso, p. ex., giz, sabão, alimento. juridicamente consumíveis – são os
bens de consumo, ou seja, são os destinados à alienação. Há no CDC a classificação de
bens em duráveis e não-duráveis, relevante para efeitos do art. 26 do CDC (prazo
decadencial do direito de reclamar pelos vícios aparentes). e) BENS DIVISÍVEIS E
INDIVISÍVEIS (arts. 87 e 88)
Base: possibilidade ou não de fracionamento do bem sem a perda do seu valor econômico
ou de sua finalidade. A indivisibilidade pode ser:
física – não poderão ser fracionados em várias partes, mantendo as mesmas qualidades
das partes divisas,
legal – bens podem ser materialmente divisíveis, mas, por aspectos legais não podem ser
divididos (ex.: Lei de uso e ocupação do solo de um município estipula a metragem mínima
de um lote).
convencional – bens podem se tornar indivisíveis por acordo entre as partes (ex.:
estipulação de cláusula de solidariedade em contrato de mútuo com dois devedores)
economicamente indivisíveis – é a novidade trazida pelo novo CC, p. ex., dividir o terreno,
respeitando os requisitos legais, mas deixando em uma das partes somente pedra, logo,
não haverá o aproveitamento econômico ou utilitário, sendo assim, não podem ser
divisíveis.
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CONCEITO EXEMPLO
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DIREITO DE DIREITO DE
DIREITO DE LEVANTAR
RETENÇÃO INDENIZAÇÃO
Pelas voluptuárias, se
não trouxer prejuízo
Pelas para a substância do
POSSUIDOR benfeitorias Pelas benfeitorias bem. Salvo se o novo
DE BOA-FÉ necessárias e necessárias e úteis possuidor quiser
úteis indenizar o seu valor
para mantê-las no bem
principal
POSSUIDOR
- benfeitorias necessárias -
DE MÁ-FÉ
Essa classificação é importante para a definição dos: direitos de retenção, de indenização
e do\dever de restituição, previstos nos Direitos Reais:
Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem sem
a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor.
III- BENS EM RELAÇÃO AO SEU TITULAR
Os bens podem ser públicos ou particulares. BASE: titularidade do domínio.
1) Bens particulares – pertencentes aos particulares.
2) Bens públicos – São públicos os bens de domínio nacional pertencentes às pessoas
jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa
a que pertencerem. Todavia, prevê o Enunciado n. 287 CJF/STJ que “O critério da
classificação de bens indicado no art. 98 do Código Civil não exaure a enumeração dos
bens públicos, podendo ainda ser classificado como tal o bem pertencente à pessoa jurídica
de direito privado que esteja afetado à prestação de serviços públicos”. Os bens públicos
não estão sujeitos a usucapião (artigo 102). Os bens públicos são pertencentes ao poder
público e podem ser: (arts. 98/103)
• De uso comum: não sofrem restrição quanto ao acesso (todo qualquer cidadão pode
usar). Nada impede que se cobre um valor para sua conservação ou utilização, fato
que não o descaracteriza, nos termos do artigo 103. São impenhoráveis e
inalienáveis, enquanto conservar a sua qualificação, na forma que a lei determinar;
e imprescritíveis (Exemplos: rios, mares, estradas, ruas praças. Artigo 99, I)
• De uso especial: pertencentes a um órgão, são utilizados pelo poder público, para
o desempenho da atividade pública. Também são impenhoráveis e inalienáveis,
enquanto afetados, ou seja, enquanto conservarem sua qualificação, na forma que
a lei determinar. Também são imprescritíveis. (Exemplos: edifícios ou terrenos
destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, inclusive de suas
autarquias. Artigo 99, II)
• Bens dominicais: constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público,
como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. Fazem parte
do “patrimônio comum” dessas pessoas jurídicas, identificáveis por exclusão. São
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Direito Civil 2016 49
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Dizer o Direito (LC 150/2015 proíbe penhora de bem de família para pagamento de dívidas trabalhistas ou
previdenciárias do empregador com empregadas domésticas): “O art. 46 da LC 150/2015, que revogou o inciso I do
art. 3º da Lei n.°8.009/90, é uma norma de caráter processual. As normas processuais têm aplicação imediata aos
processos em curso (art. 1.211 do CPC 1973) (art. 1.046 do CPC 2015). Aplicação imediata, contudo, não se confunde
com aplicação retroativa. Em outras palavras, a lei processual aplica-se imediatamente aos processos em
50
Direito Civil 2016 51
curso, mas não retroage para alcançar atos processuais validamente praticados antes de sua vigência.
(…) Apesar de acreditar que a posição acima é a mais acertada, reconheço que ela não deverá ser adotada
pela jurisprudência. Isso porque o tema não é novo e já foi enfrentado quando a Lei n.° 8.009/90 foi editada,
tendo o STJ afirmado que esta lei teve incidência imediata, cancelando as penhoras que já tinham sido
realizadas. Nesse sentido, foi aprovado, inclusive, um enunciado com a seguinte redação: Súmula 205-STJ:
A Lei 8.009/90 aplica-se à penhora realizada antes de sua vigência. Assim, é firme o entendimento consagrado
no STJ no sentido de que a Lei n.° 8.009/90 ao entrar em vigor e considerar impenhoráveis os bens de família,
teve eficácia imediata, atingindo os processos judiciais em andamento, motivo pelo qual o STJ entendeu, na
época, que deveriam ser canceladas as penhoras efetuadas antes de sua vigência (REsp 63.866/SP, Rel.
Min. Vicente Leal, julgado em 17/05/2001). ”
fiador de contrato de locação.” (Informativo nº 571/2015).
- o STF também entende que a proteção da Lei 8.009/90 aplica-se mesmo a penhoras
determinadas antes da vigência da referida lei, eis que a penhora é fase do procedimento
de expropriação do bem, ou seja, enquanto não ocorrer a expropriação (alienação) do
51
Direito Civil 2016 52
imóvel penhorado, o ato não se concretizou, sendo possível a incidência da norma protetiva.
(RE 497850 /
SP - SÃO PAULO – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – 26/04/2007)
O STJ, no caso de indicação de bem a penhora, vem entendendo que tal simples indicação
não implicaria em renúncia ao benefício da impenhorabilidade do bem de família. Isso não
seria possível no caso de hipoteca, devido a expressa previsão legal.
O STJ já sumulou o entendimento (Súmula 364) no sentido de que o devedor solteiro
também goza da proteção do bem de família.
O Superior Tribunal de Justiça entendeu recentemente que o rol das exceções à proteção
do bem de família é meramente exemplificativo (numerus apertus). Em julgado do ano de
2012, acabou por deduzir a Corte que a proteção da citada impenhorabilidade não pode
prevalecer nos casos em que o devedor atua de má-fé, alienando todos os seus bens e
fazendo restar apenas o imóvel de residência (STJ, REsp 1.299.580/RJ, 3.ª Turma, Rel.
Min. Nancy Andrighi, j. 20.03.2012).
DECISÕES -
IMPENHORABILIDADE. BEM DE FAMÍLIA.
A exceção prevista no art. 3º, V, da Lei n. 8.009/1991, que deve ser
interpretada restritivamente, somente atinge os bens que foram dados
em garantia de dívidas contraídas em benefício da própria família. No
caso, a hipoteca foi constituída em garantia de dívida de terceiro, o
que não afasta a proteção dada ao imóvel pela lei que rege os bens
de família. Precedentes citados:REsp 268.690-SP, DJ 12/3/2001;
REsp 1.022.735-RS, DJe 18/2/2010, e AgRg no AgRg no Ag
1.094.203-SP, DJe 10/5/2011. REsp 997.261-SC, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 15/3/2012. 4ª Turma.
PENHORA. NUA PROPRIEDADE. IMÓVEL UTILIZADO COMO
RESIDÊNCIA DA GENITORA DO DEVEDOR. BEM DE FAMÍLIA
A Turma firmou o entendimento de que a nua propriedade é suscetível
de constrição judicial, salvo se o imóvel do executado for considerado
bem de família. Na hipótese dos autos, a proteção conferida pela Lei
n. 8.009/1990 foi estendida ao imóvel do nu-proprietário (executado),
onde reside sua genitora na condição de usufrutuária vitalícia.
Segundo se asseverou, a Constituição Federal alçou o direito à
moradia à condição de desdobramento da própria dignidade humana.
Em especial atenção ao idoso conferiu-lhe expectativa de moradia
digna no seio da família natural, situando-o, por conseguinte, como
parte integrante desse núcleo familiar. Assim, quer por considerar a
genitora do nu-proprietário como membro dessa entidade familiar,
quer por vislumbrar o devido amparo à mãe idosa – pois o
nuproprietário habita com sua família direta outro imóvel alugado –
reputouse devidamente justificada a proteção legal ao imóvel em
questão. REsp 950.663-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado
em 10/4/2012. 4ª Turma.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. LIMITES À IMPENHORABILIDADE
DO BEM DE FAMÍLIA NO CASO DE IMÓVEL RURAL.
Tratando-se de bem de família que se constitua em imóvel rural, é
possível que se determine a penhora da fração que exceda o
necessário à moradia do devedor e de sua família. É certo que a Lei
8.009/1990 assegura a impenhorabilidade do imóvel residencial
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“ toda conduta humana com intenção específica de gerar efeitos jurídicos ao adquirir,
resguardar, modificar ou extinguir direitos.
Observe-se que enquanto o Código Civil adotava a teoria unitária do ato jurídico (sistema
francês), não fazendo distinção entre o ato e o negócio jurídico, o Código Civil de 2002
adotou a teoria dualista (sistema alemão), distinguindo, explicitamente, os atos jurídicos
stricto sensu dos negócios jurídicos, dada a autonomia conceitual de cada espécie.
O NCC, ao contrário do negócio jurídico (arts. 104 a 184), não tratou especificamente do
ato jurídico em sentido estrito, dispondo em seu art. 185 que “Aos atos jurídicos lícitos, que
não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições do Título anterior”.
NEGÓCIOS JURÍDICOS (TEORIAS) – durante muito tempo, a doutrina se digladiou sobre
as teorias que explicam a existência do negócio jurídico. São duas as teorias (Antônio
Junqueira de Azevedo): VOLUNTARISTA – defende que o núcleo do negócio é a vontade
interna. É a vontade de produção dos efeitos. Foi a que mais influenciou o direito brasileiro
(artigo 112), porque há uma regra interpretativa que favorece a intenção.
OBJETIVISTA – defende que o núcleo do negócio é a vontade externa, ou seja, a vontade
declarada e não o que a pessoa pensou. Em eventual debate entre a vontade e a
declaração, há predominância da declaração objetiva sobre a vontade subjetiva. Teoria
oposta à teoria voluntarista é a teoria objetiva denominada por Scognamiglio de TEORIA
PRECEPTIVA (preceito da autonomia privada dirigido a interesses concretos próprios de
quem o estabelece), são seguidores dessa teoria: BULLOW, HENLE, LARENZ e BETTI.
Para essa teoria o negócio jurídico constitui um comando concreto ao qual o ordenamento
jurídico reconhece eficácia vinculante. Por outro lado, existe a TEORIA NORMATIVISTA
(KELSEN) que reconhece o negócio jurídico como fato criador do Direito. Há previsão nos
Códigos francês, espanhol e italiano de que os negócios jurídicos têm força normativa
(Planiol). Orlando Gomes expõe que o Princípio da Força Obrigatória consubstancia-se na
regra de que o contrato é lei entre as partes.
QUADRO-RESUMO:
FATO NÃO : Sem conseqüência jurídica
JURÍDICO
FATO JURÍDICO
Com conseqüência jurídica.Todo acontecimento natural
FATO ou humano que determina a produção de efeitos na
Qualquer acontecimento da vida (voluntário ou natural) órbita
jurídica, ou seja, tem conseqüência jurídica.
Acontecimento hábil a modificar, criar ou extinguir
direitos. Que seja
relevante para o Direito
aqueles que tanto podem ser gratuitos como onerosos, o que depende da intenção das
partes. Exemplos: depósito e mandato, que podem assumir as duas formas.
2)Quanto às formalidades:
Solenes, se requerem para sua existência forma especial prescrita em lei (testamento), e
nãosolenes, se não exigirem forma legal para sua efetivação (compra e venda de bem
móvel). Nos termos do art. 107, são regra em nosso ordenamento jurídico.
3) Quanto ao conteúdo:
PATRIMONIAIS, se versarem sobre questões suscetíveis de aferição econômica;
EXTRAPATRIMONIAIS, se atinentes aos direitos personalíssimos e ao direito de família.
4) Quanto ao número e sentido da manifestação da vontade:
UNILATERAIS, se a declaração provier de um ou mais sujeitos, desde que estejam na
mesma direção colimando um único objetivo. Subdividem-se em receptícios, se os seus
efeitos só se produzirem após o conhecimento da declaração pelo destinatário, e não-
receptícios, se sua efetivação independer do endereço a certo destinatário; Testamento,
promessa de recompensa. BILATERAIS, quando a declaração volitiva emanar de duas ou
mais pessoas, coincidentes sobre o objeto, mas em sentidos opostos. Podem ser simples,
quando concederem benefício a uma das partes e encargo à outra, e sinalagmáticos,
quando conferirem vantagens e ônus a ambos os
sujeitos;
PLURILATERAIS: são os atos que envolvem mais de duas partes, com declarações no
mesmo sentido, como o contrato social de constituição de sociedade com mais de dois
sócios. 5) Quanto ao tempo em que produzem efeitos: em inter vivos e mortis causa.
6) Quanto aos seus efeitos:
CONSTITUTIVOS, se sua eficácia operar-se ex nunc; DECLARATIVOS, aqueles em que
a eficácia é ex tunc.
7) Quanto à sua existência:
PRINCIPAIS, se existirem por si mesmos; ACESSÓRIOS, se sua existência subordinar-se
à dos principais.
8) Quanto ao exercício dos direitos:
Em negócios de DISPOSIÇÃO, se implicarem o exercício de amplos direitos sobre o objeto
(doação), e de simples ADMINISTRAÇÃO, se concernentes ao exercício de direitos
restritos sobre o objeto, sem que haja alteração em sua substância (locação de uma casa).
9) Quanto às condições pessoais especiais dos negociantes:
Negócios jurídicos impessoais – não dependem de qualquer condição especial dos
envolvidos (v.g., compra e venda).
Negócios jurídicos personalíssimos ou intuitu personae – dependentes de uma
condição especial de um dos negociantes. Exemplo: contratação de um pintor com arte
única para fazer um quadro.
10) Quanto à sua causa determinante:
Negócios jurídicos causais ou materiais – o motivo consta expressamente do seu
conteúdo como ocorre, por exemplo, em um termo de divórcio.
Negócios jurídicos abstratos ou formais – aqueles cuja razão não se encontra inserida
no conteúdo, decorrendo dele naturalmente. Exemplo: termo de transmissão de
propriedade.
11) Quanto ao momento de aperfeiçoamento:
Negócios jurídicos consensuais – geram efeitos a partir do momento em que há o acordo
de vontades entre as partes, como ocorre na compra e venda pura.
Negócios jurídicos reais – são aqueles que geram efeitos a partir da entrega do objeto.
Exemplos: comodato e mútuo, que são contratos de empréstimo.
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como requisito de validade, o negócio será solene ou formal. EXEMPLO: artigo 1089. Não
há liberdade negocial em relação à forma quando haja determinação da lei.
A exigência de formas especiais se justifica quando os bens em questão sejam importantes,
garantindo a liberdade de manifestação de vontade da parte e facilitando a prova do negócio
jurídico.
Observações:
Negócio jurídico formal é feito por qualquer instrumento, não somente o instrumento de
escritura pública, ou seja, ele pode ser feito por instrumento particular, mas permanece com
a característica de solenidade (ex.: fiança deve ser escrita);
A lei pode prever mais de uma forma para o negócio jurídico, p. ex., testamento pode ser
feito ordinariamente, como testamento público, testamento particular ou testamento
cerrado. Por vezes, a lei exige uma forma para a prova do negócio jurídico, mas não a
considera como substância do negócio jurídico, p. ex.:
a) Artigo 401, CPC, os negócios jurídicos que envolvam valores maiores que 10 vezes o
SM somente ser provados por escrito.
b) Artigo 758, CC, o seguro é um negócio jurídico que somente pode ser provado pela
apólice, pelo bilhete do seguro ou pelo recibo de pagamento do prêmio.
2.3.4 INTERPRETAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
A interpretação foi um tema pouco explorado pelo novo CC/02 (artigos 112 a 114)
A declaração de vontade foi privilegiada, mas não acima de tudo. É preciso se atentar à
intenção do agente, que deve de alguma maneira ter se manifestado na declaração. O art.
112 abandonou a Teoria Pura da Vontade. O NCC conseguiu um equilíbrio entre as
Teorias da vontade e da Declaração, agora, é aplicada a Teoria da Auto-
Responsabilidade, que consiste no prestígio da vontade (ainda é uma mola propulsora),
atribuindo a responsabilidade do emissor dessa vontade, mas deve-se procurar um lastro
na declaração.
Essa regra de interpretação é objetiva. A boa-fé que se fala aqui é a OBJETIVA, que em
cada livro do CC se renova; ela é uma regra de conduta, um padrão de comportamento leal,
o que se espera de pessoas leais e solidárias. Ela é objetiva porque, para verificar se
alguém está de boa-fé ou não, não importa mais o que está na cabeça do agente, basta a
verificação se sua conduta está adequada ou não ao padrão objetivo ideal. Trata-se de uma
manifestação do Princípio da Eticidade. A boa-fé objetiva desempenha várias funções no
CC, e aqui está funcionando como uma regra interpretativa. Entendimento predominante:
sempre deve ser feita a interpretação com os aspectos subjetivos, não dando certo, parte-
se para os aspectos objetivos, (Godoy discorda, acredita que as duas formas de
interpretação devem coexistir). (art. 114, cc)
RESERVA MENTAL (art. 110, CC)
Parte da doutrina entende que é um vício do negócio jurídico (artigo 110). É uma proposital
divergência entre a vontade interna e a vontade declarada, assim, o indivíduo reserva
mentalmente o que quer; a manifestação da vontade não coincide com a real vontade do
sujeito. Ressalte-se que o CC fala que o negócio jurídico é válido (SUBSISTE).
Não se trata de dolo porque não obriga ninguém a celebrar o negócio jurídico, ou seja, não
há ninguém induzido a erro. Existem duas pessoas celebrando um negócio jurídico e UMA
delas manifesta algo diferente do que realmente quer. Está no plano da manifestação da
vontade. Se a RESERVA MENTAL não for conhecida do destinatário, ela não tem
9
STJ, Informativo nº 562/2015:
PREVALÊNCIA DO VALOR ATRIBUÍDO PELO FISCO PARA APLICAÇÃO DO ART. 108 DO CC.
Para a aferição do valor do imóvel para fins de enquadramento no patamar definido no art. 108 do CC – o qual exige
escritura pública para os negócios jurídicos acima de trinta salários mínimos –, deve-se considerar o valor atribuído pelo
FISCO, e não o declarado pelos particulares no contrato de compra e venda.
58
Direito Civil 2016 59
do negócio jurídico. Por outro lado, a regra do artigo 117 estabelece que, salvo se o permitir
a lei ou o representado, é ANULÁVEL o negócio jurídico que o representante, no seu
interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo. Para esse efeito, tem-se como
celebrado pelo representante o negócio realizado por aquele em quem os poderes
houverem sido estabelecidos.
2.3.6 CONDIÇÃO, TERMO E ENCARGO
O plano da eficácia estuda os elementos acidentais dos negócios jurídicos: CONDIÇÃO,
TERMO, MODO ou ENCARGO, que são fatores que interferem na eficácia dos negócios
jurídicos.
PLANO DA EFICÁCIA
Eficácia: A eficácia é verificada em nível superior, ou seja, somente depois que o negócio
existe, somente depois de válido. Ou seja, a análise no plano da eficácia exige que o
negócio seja existente e válido.
Em que pese a distinção entre atos ineficazes e inválidos, vale registrar que os atos ou
negócios anuláveis serão eficazes até que lhes seja decretada a anulação, tanto é que o
negócio pode ser convalidado pelo decurso do tempo.
Observe-se, entretanto, que em algumas hipóteses (raras), os atos jurídicos nulos também
produzem efeitos, como por exemplo, o casamento putativo. Assim, nos termos do artigo
156110. No plano da eficácia, há distinção entre os atos jurídicos stricto sensu e os negócios
jurídicos, conforme leciona Francisco Amaral: Quanto aos efeitos, no ato jurídico em sendo
estrito é a própria lei a determiná-los, enquanto no negócio jurídico é a vontade dos
particulares.
No que concerne ao plano de eficácia, devem ser aplicadas as normas incidentes no
momento da produção de seus efeitos (“mas os seus efeitos, produzidos após a vigência
deste Código, aos preceitos dele se subordinam” – questões relativas à condição, ao termo,
aos juros, às multas, às perdas e danos, à rescisão contratual e ao regime de bens de
casamento: aplicam-se as regras do CC de 2002.)
ELEMENTOS ACIDENTAIS (ou MODALIDADES DO NEGÓCIO JURÍDICO)
CONDIÇÃO (arts. 121 a 130 CC)
É o acontecimento FUTURO e INCERTO, que subordina a produção dos efeitos de um
negócio jurídico. Ou seja, é sempre designada por um SE nos negócios jurídicos. Essa
condição é a chamada CONDIÇÃO PRÓPRIA, porque resulta de uma convenção das
partes. Há as condições impróprias, que já fazem parte integrante da natureza do negócio
jurídico; exemplo: o testamento somente terá eficácia de transmissão causa mortis se o
de cujus morrer antes do beneficiário.
Há negócios jurídicos que não podem ser subordinados a nenhuma espécie de
condição, que somente é cabível em negócios patrimoniais. Sendo assim, não é cabível
condição:
• Celebração de casamento
• Adoção de filho
• Reconhecimento de filho
• Aceitação ou renúncia de herança CLASSIFICAÇÃO DAS CONDIÇÕES
10
Art. 1561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento em relação a estes
como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.
60
Direito Civil 2016 61
CONDIÇÕES CONSEQUÊNCIA
POSSÍVEIS VÁLIDAS
61
Direito Civil 2016 62
CONDIÇÕES quanto
CONSEQUÊNCIA
à ORIGEM
O evento futuro e incerto, que independe da vontade humana, ou seja, depende da natureza, é
CASUAIS
um evento da natureza, p. ex., se chover, se não chover
O evento futuro e incerto está condicionado à vontade de uma das partes e da vontade de um
MISTAS terceiro. (venda por experimentação, que dependerá da vontade do comprador)
62
Direito Civil 2016 63
11 Até o evento o negócio jurídico é válido, assim, o comprador é o dono, o vendedor somente tem uma expectativa
de direito, ou seja, se chover em uma semana o bem voltará para o vendedor, os papéis ficam invertidos, no exemplo
acima.
TERMO
É elemento acidental do negócio jurídico, que subordina a sua eficácia a EVENTO FUTURO
E CERTO (ou seja, vai acontecer). Esse evento pode ser datado previamente, porque já se
sabe que vai ocorrer (termo certo); mas pode ser também não datado (morte – termo
incerto). O termo pode ser inicial (a quo) ou final (ad quem).
O termo inicial equivale (mais ou menos) à condição suspensiva, porque o negócio jurídico
ainda não está gerando efeitos antes de chegar o termo; mas o termo inicial já gera direito
adquirido (na condição não gera, por que o evento é incerto, no termo ele é certo). O termo
inicial não impede o pagamento antecipado da obrigação, por isso que se pode pagar
antecipadamente o financiamento do carro, com abatimento dos juros, o denominado
deságio.
O termo final, por outro lado, equivale (mais ou menos) à condição resolutiva, porque o
termo final encerra o negócio jurídico. O termo inicial suspende o exercício, mas não a
aquisição do direito. Ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições
relativas à condição suspensiva e resolutiva.
63
Direito Civil 2016 64
PRAZO é o intervalo de tempo entre o termo inicial (início da locação) e final (fim da
locação).
Artigo 134.
Regras de contagem de prazo – regras básicas estão previstas no artigo 132
• salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos,
excluindo o dia do começo e incluído o do vencimento;
• se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o
seguinte dia útil;
• meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia;
• os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no
imediato, se faltar exata correspondência;
• os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto; desde que se saiba o
horário do início (na Lei de Falências, como há muitos prazos contados em horas, o
juiz estabelece o horário da decretação da falência).
Quando há negócio jurídico a termo, presume-se que o prazo foi fixado em benefício do
devedor, o que significa que, como regra, o devedor pode cumprir sua obrigação antes de
alcançado o termo final. (art. 133 CC)
Quanto à origem o termo pode ser:
LEGAL – estabelecido em lei;
CONVENCIONAL – estabelecido pelas partes;
DE GRAÇA – é o termo judicial, ocorre muito dos acordos formalizados, quando o juiz
estabelece o prazo para pagamento.
ENCARGO
O encargo é a imposição de uma obrigação ao beneficiário de uma liberalidade (testamento
e doação), um ônus que limita a liberalidade. Exemplo: doar a casa com obrigação de cuidar
de crianças. É elemento típico de negócios gratuitos. É um ônus que se atrela a uma
liberalidade maior. O encargo não impede a aquisição do direito (artigo 136)
O encargo pode ser uma obrigação de dar, fazer ou não-fazer. Ele também deve sempre
ser lícito. O encargo não é uma contrapartida da liberalidade; se ele não for cumprido:
• DOAÇÃO: expresso no CC/02, o beneficiário pode ser acionado para cumprir o
encargo pelo doador. Em sua falta, sendo o encargo de finalidade social, pelo MP.
Mas o doador pode também pedir a revogação da doação, que sempre se dará por
sentença judicial com EFEITO EX NUNC.
• TESTAMENTO: caso não estiver expresso, haverá a necessidade de se explicitar no
testamento qual o efeito do não cumprimento do encargo.
Se ele não for possível de ser cumprido (artigo 137) e o motivo do contrato tiver sido o
encargo, o contrato perde a validade, nos termos do art. 136.
O encargo ilícito (viola a lei) ou impossível (física ou juridicamente) será afastado,
mantendo-se o negócio jurídico.
Note-se que o tratamento dispensado à condição ilícita é diferente do dispensado ao
encargo, na medida em que, nela há a invalidação de todo o negócio, já no encargo, ele é
afastado e será mantido o negócio jurídico. Ou seja, diferentemente da condição suspensiva,
regra geral, o encargo ilícito ou impossível deve ser desconsiderado, mantendo-se o negócio
jurídico. (Artigo 137)
2.3.7 DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
O defeito pode se iniciar já desde o processo mental da vontade até a declaração da
mesma. Os defeitos da vontade podem ser aqueles que o agente não declararia ou não
declararia daquele jeito. Outras vezes, o defeito está nos efeitos que se pretende alcançar
64
Direito Civil 2016 65
Para Venosa, foi correta a supressão do requisito escusabilidade porque, na nova lei, o
negócio só será anulado se o erro for passível de reconhecimento pela outra parte. A
escusabilidade, nesse caso, torna-se secundária. O que se levará em conta é a diligência
normal da pessoa para reconhecer o erro, em face das circunstâncias que cercam o
negócio. Sob tal prisma, há que se ver a posição de um técnico especializado e de um leigo
no negócio que se trata. Avultam de importância as condições e a finalidade social do
negócio que devem ser avaliadas pelo juiz Não interessa se o erro é escusável ou não,
prevalece o princípio da confiança- valorização da eticidade-Enunciado 12 CJF/STJ. Essa
questão ainda não é pacífica- Enunciado 12 do CJF: “Na sistemática do art. 138, é
irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo adotou o princípio da
confiança”.
ERRO PERCEPTÍVEL ou CONHECÍVEL OU COGNOCILIDADE DO ERRO
Erro perceptível ou conhecível ou cognocilidade do erro: requisito voltado para a pessoa
que recebe a declaração de vontade (artigo 138 – erro perceptível por quem recebe a
declaração da vontade), aplicação da Teoria da Auto-Responsabilidade, como falado no
item de interpretação do negócio jurídico. Assim, se o erro não poderia ter sido percebido
por quem recebe a declaração, não é capaz de anular o negócio jurídico, visando assim, a
proteger a segurança.
66
Direito Civil 2016 67
67
Direito Civil 2016 68
12
STJ, Informativo nº 556/2015: “Tratando-se de relação contratual paritária – a qual não é regida pelas
normas consumeristas –, a maxidesvalorização do real em face do dólar americano ocorrida a partir de janeiro
de 1999 não autoriza a aplicação da teoria da imprevisão ou da teoria da onerosidade excessiva, com intuito
de promover a revisão de cláusula de indexação ao dólar americano.
13
Nota (Dizer o Direito): Teoria da imprevisão x Teoria da base objetiva do negócio jurídico:
Teoria da imprevisão: Surgida na França, no pós 1ª Guerra. É uma teoria subjetiva. Prevista nos arts. 317 e
478 do CC. Exige a imprevisibilidade e a extraordinariedade do fato superveniente. Exige a extrema vantagem
para o credor.
Teoria da base objetiva do negócio jurídico: Surgida na Alemanha, também no pós 1ª Guerra. É uma teoria
objetiva. Prevista no art. 6º, V do CDC. Dispensa a imprevisibilidade e o caráter extraordinário dos fatos
supervenientes. Somente exige um fato superveniente que rompa a base objetiva. Não exige extrema
vantagem para o credor.
REQUISITOS SUBJETIVOS
NECESSIDADE ou INEXPERIÊNCIA.
Existe controvérsia sobre a necessidade do dolo de aproveitamento na lesão.
Para Venosa, “o requisito subjetivo consiste no que a doutrina chama de dolo de
aproveitamento e afigura-se na circunstância de uma das partes aproveitar-se da outra pela
inexperiência, leviandade ou estado de premente necessidade. Tais situações psicológicas
são aferidas no momento do contrato. Não há necessidade de o agente induzir a vítima à
pratica do ato, nem é necessária a intenção de prejudicar. Basta que o agente se aproveite
dessa situação de inferioridade em que é colocada a vítima, auferindo lucro desproporcional
e anormal”.
Para Cristiano Chaves, o requisito subjetivo se caracteriza pela inexperiência
(compreendida a partir das condições pessoais do contratante, como a sua situação social,
cultural ou educacional) ou premente necessidade (impossibilidade de evitar o negócio,
exclusivamente considerada em relação àquela contratação específica) do lesado no
momento da contratação, levando a outra parte a um lucro exagerado, dispensado o
chamado dolo de aproveitamento da parte beneficiada.
Basta, portanto, que a parte que se beneficia conheça a situação de inferioridade, sendo
desnecessária a intenção do agente de obter lucro exagerado.
Pablo Stolze: o legislador NÃO exigiu o DOLO DE APROVEITAMENTO. Por isso, Moreira
Alves afirma que a lesão é objetiva. O CC/02 não o exige para a configuração da lesão.
Assim a inexperiência ou o estado de necessidade não precisam ser conhecidos de quem
está levando vantagem.. Estado de necessidade
É o mesmo instituto do direito penal, SALVO, se decorrer de risco à pessoa, porque aí é
estado de perigo e não lesão.
Exemplo: a loja está pegando fogo, mas não há risco de vida para ninguém o indivíduo
busca o carro pipa que está na rua e manifesta o seu interesse em comprar a água, o dono
do carro pipa vende a água por valor absurdo e o dono da loja concorda, há nítida lesão.
Inexperiência (ou Inocência)
69
Direito Civil 2016 70
Não pode ser confundida com incapacidade, não é que o lesado é incapaz, ele é
plenamente capaz; também não é uma hipótese de erro (percepção errônea da realidade),
o inexperiente entende bem os fatos, mas avalia mal a extensão e as conseqüências da
obrigação que está assumindo, por ser um indivíduo pouco versado no negócio que está
entabulando.
Em regra, a doutrina prevalente tem entendido que a lesão, como causa de anulabilidade
dos negócios jurídicos, é aplicável aos contratos nos contratos oneroso comutativos.
Cristiano Chaves, no entanto, entende que a lesão pode ser aplicada também nos contratos
aleatórios, quando, por exemplo, os riscos consideráveis do negócio são imputados a uma
das partes, sendo inexpressivos para a outra, explorando-se situação de inferioridade.
Por último, observa-se que o § 2º do art. 157 do Código Civil estabelece que não será
declarada a anulação do negócio por lesão, caso seja oferecido suplemento suficiente ou
se a parte favorecida concordar com a redução de seu (exagerado) proveito.
ESTADO DE PERIGO
Trata-se da aplicação do estado de necessidade no direito civil, configurando-se quando o
agente, diante de um situação de perigo, conhecida pela outra parte, assume obrigação
excessivamente onerosa. É uma novidade no CC/02 (não no sistema jurídico). É causa de
anulação do negócio jurídico, apesar de em outros ordenamentos não ser assim.
O estado de perigo causará a anulação do negócio jurídico (artigo 172). Mas é muito usual
ajustarse o negócio jurídico à realidade, com redução de valores, tornando as prestações
mais equiparáveis. Está associado a PERIGO FÍSICO, perigo voltado para as pessoas e
não para as coisas.
Artigo 156. configura-se o ESTADO DE PERIGO quando alguém, premido
da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano
CONHECIDO PELA OUTRA PARTE, assume OBRIGAÇÃO
EXCESSIVAMENTE ONEROSA.
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do
declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias.
REQUISITO OBJETIVO NÃO-TARIFADO Obrigação excessivamente
onerosa
REQUISITO SUBJETIVO EM RELAÇÃO Estado de perigo
LESADO
REQUISITO SUBJETIVO EM RELAÇÃO AO Grave dano conhecido pela
APROVEITADOR outra parte / dolo de
aproveitamento
O estado de perigo traduz um perigo concreto e real de danos à saúde biopsicológica do
declarante ou de pessoa próxima. Exemplo: exigência de garantia na porta dos hospitais.
Observa-se que existe uma certa similitude entre o estado de perigo e a coação (moral). É
que em ambas as figuras o agente não manifesta livremente sua vontade. No entanto,
distinguem-se porque na coação a ameaça é oriunda de pessoa interessada na pratica do
ato (uma das partes do negócio ou terceiro), enquanto no estado de perigo a ameaça
provém de simples circunstância fática (apenas conhecida da outra parte), que exerce
contundente influência sobre a vontade do agente que declarará a vontade.
Frise-se ainda que, embora o Código Civil não tenha estabelecido para o estado de perigo
regra similar a do art. 157, § 2º, que trata do instituto da lesão, e autoriza a não decretação
da anulabilidade se a parte favorecida concordar com a redução de seu proveito, existe
posição doutrinária no sentido de que tal possibilidade é perfeitamente aplicável ao estado
de perigo, uma vez que as partes poderão acordar de tal forma, conservando negócio.
Nesse sentido, Enunciado nº 148 do Conselho Federal de Justiça:
Enunciado nº 148 - Art. 156: Ao “estado de perigo” (art. 156) aplica-se, por
analogia, o disposto no, § 2º do art. 157.
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Direito Civil 2016 72
72
Direito Civil 2016 73
Há processo judicial em
andamento, tratando-se de
instituto de direito processual.
Pode ser uma ação executiva ou
Não há processo judicial em andamento. É ação condenatória. Prevalece o
instituto de direito material. entendimento pelo qual, para a
sua caracterização, deve o
fraudador ter sido ao menos
citado.
73
Direito Civil 2016 74
concretamente pretendida por elas. Enfim, o desajuste entre vontade real e a vontade
afirmada negocialmente. Ressalte que no Código Civil de 1916, ao contrário do CC/2002,
a simulação era causa de anulabilidade.(a simulação será tratada com mais detalhes
adiante).
Em virtude da gravidade do vício infringido, violado, considera o ordenamento jurídico que
o ato ou negócio nulo não produza qualquer efeito jurídico, podendo, inclusive, ser
reconhecido como tal ex officio, pelo próprio juiz, ou a requerimento do interessado ou do
Ministério Público, quando tenha de intervir.
Como se trata de vício não convalidável, o negócio jurídico não é suscetível de confirmação,
nem convalesce pelo decurso do tempo (art. 169).
A imprescritibilidade estaria justificada porque a nulidade absoluta envolve preceitos de
ordem pública. Neste sentido, tem-se Álvaro Villaça Azevedo, Sílvio de Salvo Venosa,
Jones Figueirêdo Alves e Mário Luiz Delgado, Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald. Na jurisprudência superior, cita-se STJ, REsp 1.353.864/GO, Rel. Min. Sidnei
Beneti, 3.ª Turma, j. 07.03.2013, DJe 12.03.2013.
Porém, há outra corrente que entende que os atos nulos estão sujeitos ao maior prazo de
prescrição previsto em lei para a sua declaração de nulidade, especialmente no que toca
aos efeitos patrimoniais. Assim, aplicar-se-ia o prazo geral de prescrição de dez anos,
previsto no art. 205 da atual codificação (Gustavo Tepedino, Maria Celina Bodin de Moraes
e Heloísa Helena Barboza, citando Caio Mário da Silva Pereira e outros julgados do STJ).
Há uma tendência de se tutelar terceiros ou negociantes de boa-fé em face dos atos nulos.
Seguindo tal esteira, o preciso Enunciado n. 537, da VI Jornada de Direito Civil, in verbis:
“A previsão contida no art. 169 não impossibilita que, excepcionalmente, negócios jurídicos
nulos produzam efeitos a serem preservados quando justificados por interesses
merecedores de tutela”. Tartuce adere a este entendimento, sob o argumento de que a
eticidade é um dos fundamentos da atual codificação, devendo os negócios ser preservados
em face das partes que agiram de boa-fé. Note-se, porém, que o art. 170 do Código Civil
trouxe o instituto da conversão substancial, admitindo uma verdadeira recategorização de
determinado negócio para outro de diferente espécie, respeitadas determinadas
circunstâncias e os requisitos de validade quanto ao “novo” NJ. Assim, se o negócio nulo
contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir
supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade. (arts. 169 e 170 CC)
NULIDADES
Podem gerar EFEITOS INDIRETOS (p. ex. compra e venda nula não gera
efeitos diretos de compra e venda, mas pode justificar a posse do comprador)
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PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Introdução. Nosso Código Civil reservou o termo “prescrição” apenas para a extintiva (ou
liberatória), adotando, para a prescrição aquisitiva da propriedade, o termo “usucapião”.
Baseando-se na corrente dualista, separou-as como institutos autônomos, localizando a
prescrição extintiva na parte geral e a aquisitiva na parte especial, como figura jurídica
pertinente ao direito das coisas. Se aplicam ao instituto da usucapião as regras gerais da
prescrição extintiva, como, por exemplo, as hipóteses de suspensão e interrupção do prazo
prescricional, obstando a aquisição da propriedade em tais circunstâncias (vide STJ, AC. 4ª
T., Resp. 149.186/RS, Rel. Min. Fernando
Gonçalves, j. 4.11.03). (DUALIDADE CONCEITUAL)
A causa eficiente da prescrição é a inércia do titular da ação, e seu fator operante é o tempo.
Só pode ter por objeto a ação, e não o direito, ainda que este também sofra seus efeitos (a
prescrição, extinguindo a ação, o torna inoperante).
Definição: há três teorias básicas sobre a prescrição: i) aquela que diz que ela atinge o
próprio direito material (de origem imanentista, segundo a qual o direito de ação seria
imanente ao direito material); ii) aquela que diz que o que é atingido é o direito de ação e,
por via reflexa, o direito material, que ficaria sem proteção (Câmara Leal); e iii) aquela
adotada pelo novo Código Civil que afirma que a prescrição atinge a pretensão¸ que é a
faculdade de exigir de outrem uma determinada prestação, extinguindo-a (fruto dos estudos
pandectistas alemães e suas teorias abstratas). Segundo o CC/2002, a prescrição não
atinge o direito de ação, mas apenas a pretensão (instituto de direito material), confirmando
o caráter de direito autônomo, abstrato, público e subjetivo daquele (art. 5º, XXXV, CF).
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Direito Civil 2016 79
A última das teorias dizia que, na verdade, a prescrição não fulminaria a pretensão, mas
abriria ensejo a que o interessado pudesse alegar a sua extinção como matéria de defesa,
já que era defeso ao juiz conhecer de ofício a prescrição, salvo se beneficiasse
absolutamente incapaz. Porém, com a publicação da lei n.º 11.280/2006, que introduziu o
§ 5º, no art. 219 do CPC (“§ 5º O juiz pronunciará, de ofício, a prescrição.”) e revogou o art.
194 do CC, essa tese caiu por terra, pois, agora, a prescrição extingue a pretensão mesmo,
uma vez que é dever do juiz pronunciá-la, salvo se tiver havido expressa ou tácita
renúncia11. Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald entendem que a prescrição, por referir-
se a direitos subjetivos patrimoniais, não deveria poder ser conhecida de ofício pelo juiz,
considerando atécnica a alteração promovida pela Lei 11.280/06.
A prescrição pode ser alegada a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição (art. 193,
CC), ou seja, é possível suscitá-la pela primeira vez em grau de recurso. Não obstante isso,
o réu deve suscitá-la na primeira oportunidade, sob pena de arcar com as despesas
supervenientes (art. 22, CPC). Por evidente não pode ser alegada pela primeira vez em
sede de REsp e RE, pois que implica inovação da lide, sem prequestionamento (2a Turma,
seguindo precedente da Corte Especial, confirmou que “mesmo as matérias de ordem
pública precisam ser prequesitonadas” (EDcl nos EDcl no AgRg no AREsp 32.420/PB, rel.
Min. Humberto Martins, j. 21/6/2012, DJe 28/6/2012).
Não obstante, como as relações jurídicas por ela reguladas são de ordem privada, este fato
lhe empresta, também, um caráter privado, dando-se uma natureza mista. Daí os
fenômenos, virtualmente antagônicos, que apresenta contemporaneamente: como norma
pública, tem sempre efeito retroativo, ficando a prescrição em curso sujeita às alterações
da nova lei; mas, como norma privada, pode ser renunciada a prescrição pelo prescribente,
uma vez consumada.
3.1.1 Requisitos da prescrição:
a) Existência de pretensão exercitável – Fenômeno objetivo ou subjetivo: discute-se, na
doutrina, se a prescrição é um fenômeno puramente objetivo, decorrendo o seu início do
fato da violação, independentemente da ciência ou do conhecimento do titular; ou se é um
fenômeno subjetivo, ficando o início da prescrição dependendo da condição de que seu
titular tenha conhecimento da violação.
11
Enunciado n.º 295 da IV Jornada de Direito Civil do CJF – Art. 191. A revogação do art. 194 do Código Civil pela Lei
n. 11.280/2006, que determina ao juiz o reconhecimento de ofício da prescrição, não retira do devedor a possibilidade de
renúncia admitida no art. 191 do texto codificado.
79
Direito Civil 2016 80
ação de indenização contra o Estado não é a data do acidente, mas aquela em que a vítima
teve ciência inequívoca de sua invalidez e da extensão da incapacidade de que restou
acometida (STJ, AgRg no REsp 931.896/ES, Rel. Min. Humberto Martins, 2.ª Turma, j.
20.09.2007, DJ 03.10.2007, p. 194); Súmula 278 do mesmo STJ: “O termo inicial do prazo
prescricional, na ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca
da incapacidade laboral”; “o termo a quo da prescrição da pretensão indenizatória pelo erro
médico é a data da ciência do dano, não a data do ato ilícito.” (STJ, REsp. 1.020.801/SP,
Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 26.04.2011). Ademais, em sede legislativa, a teoria foi
adotada pelo art. 27 do Código de Defesa do Consumidor, atendendo às ideias de eticidade
e socialidade, valorizando-se a questão da informação.
d) Ausência de algum fato ou ato a que a lei atribua eficácia impeditiva, suspensiva ou
interruptiva do curso prescricional: As causas impeditivas são aquelas que, como o próprio
nome diz, impedem que o prazo se inicie. Atuam concomitantemente ao nascimento da
pretensão (ex.: violação de direito subjetivo de uma pessoa interditada por ser
absolutamente incapaz). Na interrupção, o prazo só correrá depois de cessada a causa
interruptiva. Já as causas suspensivas são aquelas que fazem parar o fluxo do prazo
prescricional já iniciado, em razão de determinado fato jurídico. Na suspensão, o prazo
anterior ao evento suspensivo, tão logo este desapareça, volta a correr pelo saldo. Ambas
são previstas taxativamente na lei.
15
80
Direito Civil 2016 81
importantes: importantes:
1) Entre ascendentes e 1) Por DESPACHO DO JUIZ, mesmo
descendentes, durante o poder familiar – incompetente, que ordenar a citação, se o
é irrelevante nesse caso ser o menor interessado a promover no prazo e na forma
absoluta ou relativamente incapaz, pois da lei processual – modificação dos arts. 219
para suspender/impedir a fluência da e 617 do CPC, que afirmavam decorrer a
prescrição basta que esteja submetido interrupção da prescrição da citação válida. A
ao poder familiar. interrupção decorrente do despacho do juiz
2) Contra os incapazes de que trata retroage à data da propositura da ação (Súm.
o art. 3º - apenas os ABSOLUTAMENTE 106/STJ). Nos JEC’s, onde não há despacho
incapazes; contra os relativamente o liminar, a interrupção se realiza, diretamente,
prazo flui normalmente. com a simples propositura da demanda,
3) Contra os ausentes do País em motivo pelo qual é irrelevante se o processo
serviço público da União, dos Estados será extinto com ou sem resolução do mérito.
ou dos Municípios – não haverá 2) Por protesto, nas condições do inciso
paralisação do prazo contra aqueles que antecedente – trata-se aqui da ação cautelar
estão a passeio ou prestando serviços à do protesto. Aplicam-se as regras do
iniciativa privada. 4) Contra os que se despacho judicial.
acharem servindo nas Forças Armadas, 3) Por protesto cambial – protesto
em tempo de guerra – não se aplica em realizado extrajudicialmente. Superada Súm.
tempo de paz. 153/STF.
4) Por qualquer ato inequívoco, ainda
que extrajudicial, que importe
reconhecimento do direito pelo devedor – por
exemplo, a confissão de dívida.
Outras hipóteses: ATENÇÃO! A interrupção única a que se
refere o caput do art. 202 do CC somente
• Ausentes declarados
atinge as causas extrajudiciais (protesto
judicialmente – aqui o termo
cambial e confissão de dívida), não sendo
inicial será o desaparecimento.
possível incidir sobre as hipóteses judiciais
• Ação civil ex delito enquanto não interruptivas (FARIAS, p. 732; Cristiano
transitada em julgado a decisão Chaves, Nelson Rosenvald e também Arruda
penal (art. 200 do CC). Alvim). Assim sendo, feito o protesto cambial
e ajuizada ação de execução, com o
• Súmula 229 do STJ –
despacho citatório, a prescrição será
harmonização com a boa-fé
novamente interrompida. Obs.: Sustenta-se
objetiva.
que, nos casos de protesto (judicial ou
extrajudicial) a citação para o procedimento
definitivo (ação para cobrança, por exemplo)
não perde o efeito interruptivo (dualidade de
interrupções da prescrição). Diz Caio Mário,
para chegar a essa conclusão, que
“nenhuma lei pode receber interpretação que
conduza ao absurdo”. Ademais, pode-se
entender que a ação proposta suspende a
prescrição, conforme o art. 199, I, do CC, eis
que a ação é uma condição suspensiva.
81
Direito Civil 2016 82
Não esquecer que, em relação às causas interruptivas judiciais, o prazo refere-se a cada
tipo de pretensão, ou seja, a pretensão executória tem autonomia, contando com o mesmo
prazo da pretensão cognitiva (Súmula 150, STF).
O art. 203, CC, assegura que a prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado
(Ex: herdeiro do credor, credor do credor). Princípio da operabilidade - cabe ao juiz, dentro
das regras de equidade e razoabilidade, apontar quem seria o interessado referido no
dispositivo. O modelo atual é aberto (numerus apertus), e não mais fechado (numerus
clausus).
Os efeitos da prescrição são pessoais, logo, regra geral, a interrupção por um credor não
aproveita aos demais, assim como contra um devedor/seu herdeiro não prejudica os demais
(art. 204, caput, CC). Exceções:
• Interrupção por um credor solidário/ contra um devedor solidário aproveita/
prejudica os demais (art. 204, §1º).
• Interrupção contra herdeiros do devedor solidário não prejudica os outros
herdeiros ou devedores salvo quando se tratar de direitos/ obrigações
indivisíveis (art. 204, §2º, CC).
• Interrupção contra o devedor principal prejudica o fiador (art. 204, §3º, CC)
Do mesmo modo, a suspensão da prescrição por um dos credores solidários não aproveita
aos demais, salvo quando a obrigação for indivisível (art. 201, CC).
3.1.2 Prescrição da exceção
O novo Código Civil afirma que a exceção prescreve no mesmo prazo em que prescreve a
ação. No entanto, há de se fazer uma distinção indispensável. É que há exceções próprias
– aquelas em que a parte apenas se defende, sem atacar a parte autora (ex.: pagamento
em ação de cobrança) –, que somente são manejáveis pela via de defesa (contestação e
exceção em sentido estrito). Estas, por não envolverem uma pretensão e serem apenas
faculdades processuais, seriam imprescritíveis e poderiam ser alegada sempre que fosse
necessário.
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Direito Civil 2016 83
a) Art. 205 - cláusula geral de 10 anos (tanto para ações reais quanto pessoais, ao
contrário do CC/16, que fazia distinção entre ambas).
b) Art. 206 - prazos específicos.
Observações importantes
Imprescritibilidade
Em razão do mesmo fundamento social, não se admitem em matéria civil, em regra, direito
subjetivos imprescritíveis.
Porém, há exceções, como os direitos de personalidade que por dizerem respeito ao núcleo
da proteção da dignidade da pessoa humana são absolutos e, assim, imprescritíveis.
Alguns autores defendem a prescrição da pretensão reparatória decorrente da violação de
tais direitos (ex.: dano moral por ofensa à imagem), mas a moderna doutrina do direito civil
constitucionalizado defende que toda ofensa a um direito de personalidade é sempre atual,
o que renovaria a todo momento o termo inicial do prazo de prescrição da pretensão
reparatória, o que tornaria tal pretensão imprescritível.
Em matéria de direito administrativo, tem-se que pretensões de reparação de danos
causados ao Erário são imprescritíveis (art. 37, § 5º, CF/88).
3.2 Decadência.
Legislação básica: arts. 207 a 211, CC.
Definição: “decadência é a extinção do direito pela inércia de seu titular, quando sua eficácia
foi, de origem, subordinada à condição de seu exercício dentro de um prazo prefixado, e
este se esgotou sem que esse exercício se tivesse verificado”.
Também chamada de caducidade, é a perda do direito potestativo em razão do seu não
exercício no prazo legal ou contratualmente estabelecido (DIDIER, p. 571). Estão
relacionados com aquelas ações que visam a constituir positiva ou negativamente atos e
negócios jurídicos.
A decadência (legal) não pode ser renunciada pelas partes, nem depois de consumada,
diferentemente da prescrição, que pode ser renunciada depois de consumada.
A ação ajuizada, para obstar a decadência, não pode ser proposta perante juiz
absolutamente incompetente.
3.2.1 Conclusões. TESE ADOTADA PELO NOVO CÓDIGO CIVIL
Primeira regra - estão sujeitas a prescrição todas as ações condenatórias (e somente elas).
Segunda regra - estão sujeitas a decadência (indiretamente, isto é, em virtude da
decadência do direito a que correspondem): as constitutivas que têm prazo especial de
exercício fixado em lei. Terceira regra - são perpétuas (ou imprescritíveis) todas as ações
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Direito Civil 2016 85
declaratórias, e também aquelas ações constitutivas para as quais a lei não fixa prazo
especial de exercício.
Várias inferências imediatas podem ser extraídas daquelas três proposições. Assim:
a) não há ações condenatórias perpétuas (imprescritíveis)12, nem sujeitas à decadência;
b) não há ações constitutivas sujeitas à prescrição;
c) não há ações declaratórias sujeitas à prescrição ou a decadência.
PRESCRIÇÃO DECADÊNCIA
Fulmina a pretensão de ver reparado Atinge o direito potestativo em si,
um direito subjetivo patrimonial. podendo alcançar relações não
patrimoniais.
Pressupõe o não exercício do direito Pressupõe prazo para o exercício do
de defesa. próprio direito material.
Admite interrupção, suspensão A decadência legal, salvo disposição
e renúncia. legal, não admite.
Deriva apenas da lei. A decadência convencional pode
derivar da vontade das partes.
Somente se inicia com a violação ao Se inicia juntamente com o direito.
direito.
Deve ser conhecida de ofício. A decadência legal deve ser conhecida
de ofício, a convencional não.
Atinge as ações condenatórias17. Atinge as ações constitutivas (positivas
ou negativas) se houver prazo fixado na
lei.
Após a consumação, pode ser A decadência legal não admite
renunciada, desde que não prejudique renúncia, nem após a sua consumação.
a terceiros.
PRECLUSÃO E PEREMPÇÃO
São institutos de direito processual que
não se confundem com prescrição e
decadência, institutos de direito material.
Vejamos:
1. Preclusão diz respeito à perda de
uma faculdade processual,
podendo ser temporal, lógica ou
consumativa.
2. Perempção concerne à perda do
direito de propor uma ação em
virtude de ter a parte dado causa
por 3 vezes à extinção do
processo sem julgamento do
mérito, tendo em vista a mesma
demanda.
12
Com exceção daquela visando ao ressarcimento do Erário, nos casos de improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 5º, da CF/88.
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Direito Civil 2016 86
17
SÚMULA 443 do STF: “A prescrição das prestações anteriores ao período previsto em lei
não ocorre, quando não tiver sido negado, antes daquele prazo, o próprio direito reclamado
ou a situação jurídica de que ele resulta”.
SÚMULA 85 do STJ: “Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda Pública
figure como devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito reclamado, a
prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do quinquênio anterior à propositura
da ação.”
SÚMULA 106 do STJ: “Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na
citação, por motivos inerentes ao mecanismo da Justiça, não justifica o acolhimento da
arguição de prescrição ou decadência.”
Obs. Cuidado. A súmula 119 do STJ foi editada em 1994 e não está mais em vigor,
considerando que utilizava como parâmetro o CC-1916. Atualmente, a ação de
desapropriação indireta prescreve em 10 anos. Foi o que decidiu a 2ª Turma do STJ no
REsp 1.300.442-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/6/2013. O fundamento é o
prazo da usucapião extraordinária, levando em conta a posse-trabalho. Segundo o Dizer o
Direito, o tema é ainda polêmico, pois a decisão foi adotada por uma turma, mas em
concursos Cespe, adotar 10 anos (data desta atualização – 4/2/2015).
SÚMULA 142 do STJ (Marca comercial): “Prescreve em vinte anos a ação para exigir a
abstenção do uso de marca comercial.“ (cancelada) V. Súmula 143, abaixo. Atenção!
REsp418580/SP
2002/0026981-9 T3 – TERCEIRA TURMA – DJ 11/02/2003Nome comercial.
Abstenção de uso. Prescrição. Cancelamento da Súmula nº 142 da Corte.1.
Com o cancelamento da Súmula nº 142, a Corte afastou o prazo de prescrição
de vinte anos para a ação que tenha por objetivo a abstenção do uso do nome
ou da marca comercial; a anterior jurisprudência já afastava, de todos os
modos, a incidência do art. 178, § 10, IX, do Código Civil, isto é, o prazo de
cinco anos; em conclusão, aplicável o art. 177, segunda parte, do Código Civil,
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SÚMULA 194 do STJ: “Prescreve em vinte anos a ação para obter, do construtor,
indenização por defeitos da obra”. Atenção!
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. VÍCIOS DE CONSTRUÇÃO.
PRAZO. GARANTIA. PRESCRIÇÃO. PRAZO. DEZ ANOS. CLÁUSULA DE
RESERVA DE PLENÁRIO.1. "O prazo de
cinco (5) anos do art. 1245 do Códigol, relativo à responsabilidade do
Civi construtor pe-
la solidez e segurança da obra é de garantia e não de prescrição ou
efetuada, decadên-
cia. Apresentados aqueles defeitos no referido período, o construtor poderá
ser acionado no prazo prescricional de vinte (20) anos" (REsp 215832/PR, Rel.
Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em
06/03/2003, DJ 07/04/2003, p. 289).2. Prescreve em vinte anos a ação para
obter, do construtor, indenização por defeito da obra, na vigência do Código
Civil de 1916, e em 10 anos, na vigência do Código atual, respeitada a regra de
transição prevista no art. 2.028 do Código Civil de 2002. 3. Não se aplica o
prazo de decadência previsto no parágrafo único do art. 618 do Código Civil
de 2012, dispositivo sem correspondente no código revogado, aos defeitos
verificados anos antes da entrada em vigor do novo diploma legal.4. Agravo
regimental a que se nega provimento.(AgRg no REsp 1344043/DF, Rel. Ministra
MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 17/12/2013, DJe
04/02/2014)
SÚMULA 405: A ação de cobrança do seguro obrigatório (DPVAT) prescreve em três anos.
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SÚMULA 503 do STJ: “O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente
de cheque sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de emissão
estampada na cártula.”
SÚMULA 504 do STJ: “O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente
de nota promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao
vencimento do título.”
SÚMULA 547/STJ: “Nas ações em que se pleiteia o ressarcimento dos valores pagos a
título de participação financeira do consumidor no custeio de construção de rede elétrica, o
prazo prescricional é de vinte anos na vigência do Código Civil de 1916. Na vigência do
Código Civil de 2002, o prazo é de cinco anos se houver previsão contratual de
ressarcimento e de três anos na ausência de cláusula nesse sentido, observada a regra de
transição disciplinada em seu art. 2.028”.
3.2.3 Jurisprudência:
DCC - PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO FUNDADA EM CONTRATO DE
RESSEGURO.
Prescreve em 1 ano a pretensão de sociedade seguradora em face de
ressegurador ba-
seada em contrato de.
resseguro
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89
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14 – Art. 189: 1) o início do prazo prescricional ocorre com o surgimento da pretensão, que
decorre da exigibilidade do direito subjetivo; 2) o art. 189 diz respeito a casos em que a
pretensão nasce imediatamente após a violação do direito absoluto ou da obrigação de não
fazer.
50 - A partir da vigência do novo Código Civil, o prazo prescricional das ações de reparação
de danos que não houver atingido a metade do tempo previsto no Código Civil de 1916
fluirá por inteiro, nos termos da nova lei (art. 206).
154 – Art. 194: O juiz deve suprir de ofício a alegação de prescrição em favor do
absolutamente incapaz.
155 – Art. 194: O art. 194 do Código Civil de 2002, ao permitir a declaração ex officio da
prescrição de direitos patrimoniais em favor do absolutamente incapaz, derrogou o disposto
no § 5º do art. 219 do CPC.
156 – Art. 198: Desde o termo inicial do desaparecimento, declarado em sentença, não
corre a prescrição contra o ausente.
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295 – Art. 191. A revogação do art. 194 do Código Civil pela Lei n. 11.280/2006, que
determina ao juiz o reconhecimento de ofício da prescrição, não retira do devedor a
possibilidade de renúncia admitida no art. 191 do texto codificado.
296 – Art. 197. Não corre a prescrição entre os companheiros, na constância da união
estável.
299 – Art. 2.028 – Iniciada a contagem de determinado prazo sob a égide do Código Civil
de 1916, e vindo a Lei nova a reduzi-lo, prevalecerá o prazo antigo, desde que transcorrido
mais da metade deste na data da entrada em vigor do Novo Código. O novo prazo será
contado a partir de 11 de janeiro de 2003, desprezando-se o tempo anteriormente decorrido,
salvo quando não aproveitamento do prazo já decorrido implicar aumento do prazo
prescricional previsto na lei revogada, hipótese em que deve ser aproveitado o prazo já
decorrido durante o domínio da lei antiga, estabelecendo-se uma continuidade temporal.
311 - Caso não seja pago o preço fixado para a desapropriação judicial, e ultrapassado o
prazo prescricional para se exigir o crédito correspondente, estará autorizada a expedição
de mandado para registro da propriedade em favor dos possuidores.
368 - Art. 496: O prazo para anular venda de ascendente para descendente é decadencial
de dois anos (art. 179 do Código Civil).
415- O art. 190 do Código Civil refere-se apenas às exceções impróprias (dependentes/não
autônomas). As exceções propriamente ditas (independentes/autônomas) são
imprescritíveis.
416 - Art. 202: A propositura de demanda judicial pelo devedor, que importe impugnação
do débito contratual ou de cártula representativa do direito do credor, é causa interruptiva
da prescrição.
417 - O art. 202, I, do CC deve ser interpretado sistematicamente com o art. 219, § 1º, do
CPC, de modo a se entender que o efeito interruptivo da prescrição produzido pelo
despacho que ordena a citação é retroativo até a data da propositura da demanda.
418 – Art. 206: O prazo prescricional de três anos para a pretensão relativa a aluguéis
aplica-se aos contratos de locação de imóveis celebrados com a administração pública.
419 - Art. 206, § 3º, V: O prazo prescricional de três anos para a pretensão de reparação
civil aplicase tanto à responsabilidade contratual quanto à responsabilidade extracontratual.
420 - Art. 206, § 3º, V: Não se aplica o art. 206, § 3º, V, do Código Civil às pretensões
indenizatórias decorrentes de acidente de trabalho, após a vigência da Emenda
Constitucional n. 45, incidindo a regra do art. 7º, XXIX, da Constituição da República.
3.3 Prova
Arts. 212 a 232, CC.
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3.3.2 Conceitos
O art. 333 do CPC adota a teoria estática do ônus da prova, estabelecendo, de logo, de
quem é o ônus. Entretanto, há uma simpatia de parte da doutrina e da jurisprudência pela
teoria da carga probatória dinâmica, que se constitui numa alteração ope judicis do ônus da
prova segundo o critério de quem tem melhores condições de produzir a prova no caso
concreto.
CDC: no art. 6º, VIII permite expressamente a inversão do ônus da prova ope judicis se
presentes os requisitos ali afirmados. Por sua vez, no art. 38 há uma hipótese de inversão
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Direito Civil 2016 94
ope legis. O STJ decidiu recentemente que se trata de uma regra de procedimento e não
de julgamento, devendo ocorrer durante o saneamento processual.
Espécies de prova. Ressalvada a hipótese de a lei exigir forma especial ou solene, o fato
jurídico pode ser provado, segundo reza o artigo 212 do CC/02 mediante:
• Confissão
• Documento
• Testemunha
• Presunção
• Perícia
a) Confissão. Mesmo que a parte tenha alegado a inexistência de negócio jurídico, mas
afirmou fatos que desacreditam aquela alegação, é confitente. Ex. se Antonio pretende em
juízo a declaração de inexistência de determinada relação negocial, mas, ao depor perante
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Direito Civil 2016 95
o juiz, afirmar ter feito a declaração de vontade constitutiva dessa relação, a prova da
existência do negócio jurídico decorre de confissão.
A confissão é o reconhecimento livre da veracidade do fato que a outra parte da relação
jurídica ou do próprio negócio pretende provar, conforme discorre o artigo 212 do CC/02.
De acordo com o artigo 348 do CPC:
“ á con issão, uando a parte admite a verdade de um ato, contrário ao seu
interesse e avorável ao adversário. A con issão é judicial ou extrajudicial”.
Se o depoente não é capaz para dispor do direito a que se referem os fatos confessados,
a confissão é ineficaz (CC, art. 213). Em consequência da ineficácia da confissão, a
existência do negócio jurídico não se reputa provada pelo depoimento do incapaz. Isso não
significa, porém, que o negócio será também ineficaz ou que não exista. Outras provas
podem demonstrar a sua existência. Se a confissão é feita pelo representante da parte, a
eficácia probatória limita-se pelos poderes de que se encontrava investido (CC, art. 213.
parágrafo único). É ineficaz a confissão feita pelo advogado, por exemplo, que recebera
poderes ad judicia (que o habilitam a postular em juízo por seu cliente), mas não os
especiais para confessar.
De acordo com o artigo 214 do CC/02, a confissão é irrevogável, podendo ser anulada por
coação (por violência psicológica sofrida) ou erro de fato (quando o declarante se equivoca
sobre a natureza do negócio, suas qualidades essenciais, seu objeto ou quanto à pessoa
do outro declarante e culmina por confessar, por engano, fato inverídico, não condizente
com a realidade). Há que se ressaltar, ainda, o caráter da indivisibilidade da confissão
consagrada no artigo 354 do CPC (A confissão é, de regra, indivisível, não podendo a parte,
que a quiser invocar como prova, aceitá-la no tópico que a beneficiar e rejeitá-la no que Ihe
for desfavorável. Cindir-se-á, todavia, quando o confitente lhe aduzir fatos novos,
suscetíveis de constituir fundamento de defesa de direito material ou de reconvenção.).
Observe-se, ainda, o Enunciado 157 da III Jornada de Direito Civil que dispõe:
“Art. 212- O termo ‘con issão’ deve abarcar o conceito lato de depoimento
pessoal, tendo em vista que este consiste em meio de prova de maior
abrangência, plenamente admissível no ordenamento jurídico brasileiro”
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Direito Civil 2016 96
negócio jurídico não existiu, já que o documento particular cria a presunção de sua
existência. Outros documentos elaborados pelos particulares podem, nos limites legais,
servir de prova da existência de negócios jurídicos, assim os telegramas (CC. art. 222) e a
escrituração dos empresários e sociedades empresárias (CC. art. 226).
Ressalte-se que a formalização de um ato jurídico em instrumento particular somente terá
eficácia erga omnes após o seu necessário registro público em cartório, conforme reza o
artigo 221 do CC/02.
De acordo com a Súmula 489 do STF há o seguinte entendimento:
“a compra e venda de automóvel não prevalece contra terceiros, de boa-fé, se
o contrato não oi transcrito no Registro de ítulos e ocumentos”.
No entanto, pelo fato de a compra e venda não haver sido registrada, o vendedor não
poderá ser responsabilizado pelo comportamento nocivo, causador de acidente, atribuído a
adquirente do veículo, é o que diz a Súmula 132 do STJ :
“a ausência de registro da trans erência não implica a responsabilidade do
antigo proprietário por dano resultante de acidente que envolva o veículo
alienado”
A lei também admite para efeito de prova do ato jurídico as certidões textuais de qualquer
peça judicial (artigo 261 do CC/02), dos traslados e certidões extraídas por oficial público
(artigo 217 CC/02), a cópia fotográfica de documento conferida por tabelião de notas (artigo
223 do CC/02), as reproduções fotográficas artigo 223 do CC/02, dos livros e fichas dos
empresários (artigo 226 do CC/02). O Código de Processo Civil ainda tratou sobre o tema
das provas dos artigos 364 a 399.
c) Testemunhas. De acordo com o artigo 212, III, do CC/02, a testemunha também poderá
provar o fato jurídico. Por imperativo de segurança, não se pode, contudo, provar
exclusivamente por testemunhas a existência do negócio jurídico cujo valor ultrapasse dez
vezes o maior salário mínimo. Para os negócios dessa envergadura, a prova testemunhal
é subsidiária ou complementar da prova escrita, exceto se a lei a considerar plena em casos
específicos (CC, art. 227). Entretanto, qualquer que seja o valor de negócio, especialmente
quando houver começo de prova por escrito ou o credor tiver dificuldade em obter a prova
escrita da obrigação, admite-se subsidiariamente a prova testemunhal (artigo 402 do CPC).
São denominadas instrumentárias as testemunhas que presenciam determinado negócio
jurídico celebrado entre as partes e judiciais as testemunhas que depõem em juízo.
O artigo 228 do CC/02 enumera a admissibilidade de testemunhas em nosso ordenamento
jurídico, referindo-se às testemunhas instrumentárias e judiciais. Certas pessoas estão
impedidas de testemunhar, seja em razão da falta de amadurecimento, seja por obstáculo
físico ou carência de isenção. Os menores absolutamente incapazes, os cegos e surdos,
quando a ciência do fato depender dos sentidos deficientes, bem como os interessados no
litígio, o amigo íntimo ou o inimigo capital das partes, o cônjuge e parentes até certo grau
não são confiáveis o suficiente para que o relato deles ao juiz prove a existência do negócio
jurídico. Há, também, pessoas que estão dispensadas de servir de testemunhas, ainda que
conheçam os fatos que a justiça quer esclarecer. São as que devem guardar segredo sobre
eles em razão do estado ou profissão, as que não possam falar sem se expor à desonra,
risco de vida, demanda ou dano patrimonial imediato, ou sem que exponham a esses riscos
o cônjuge, parente em grau sucessível ou amigo íntimo (CC, art. 229). Os artigos 405, 406,
407 e 408 do CPC também dispõem sobre este tema. Por fim, se o juiz entender
estritamente necessário, poderá ouvir testemunhas impedidas ou suspeitas,
independentemente de compromisso, dando aos seus depoimentos o valor que possam
merecer (artigo 405, §4º, do CPC).
96
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Direito Civil 2016 99
*A ampliação dos poderes probatórios do juiz é tendência do processo civil moderno e está
assegurada no art. 130 do CPC (TRF 3ª Região, AgInstr. 950331772-0/SP).
* A prova do direito estrangeiro deve ser providenciada pela parte interessada ou
diretamente pelo juiz, de ofício (STJ, REsp 254544). Trata dos casos excepcionais em que
é admitida a aplicação da lei estrangeira e considera, também, a vedação ao non liquet (daí
a necessidade de que o juiz ordene a prova do direito estrangeiro de ofício).
* A ilicitude da prova se transmite, por repercussão, a outros dados probatórios que nela
se apoiem ou nela encontrem fundamento causal (STF, HC 69912-0).
* A confissão é mero meio de prova a ser analisado pelo juiz diante do contexto
probatório colacionado aos autos, não implicando presunção absoluta de veracidade dos
fatos (STJ, REsp 54809).
* A presunção juris tantum de veracidade do conteúdo de instrumento particular é
invocável tãosomente em relação aos seus subscritores (STJ, REsp 33200).
* Reprografia de documento particular, autenticada por servidor publico municipal, que
tem o original sob sua guarda, merece fé, até que se demonstre o contrário (CPC arts. 365
e 383) (STJ, REsp 89741).
* Não se conhece do agravo regimental transmitido via fax que se encontra incompleto
ou ilegível, ou ainda, quando o original apresenta diferenças em relação ao material
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encaminhado por esse sistema, a teor do disposto no art. 4.º da Lei n.º 9.800/99 (STJ, AgRG
no Ag 1283868).
*A utilização de fac-símile, para a veiculação de petições recursais, não exonera a parte
recorrente do dever de apresentar, dentro do prazo adicional a que alude a Lei nº 9.800/99
(art. 2º, “caput”), os originais que se referem às peças transmitidas por meio desse sistema,
sob pena de nãoconhecimento, por intempestividade, do recurso interposto mediante “fax”.
Precedentes. (STF, AI 535340).
* O devido processo legal não se compadece com a preparação de armadilhas para as
partes. (...) Não é possível é dispensar as provas requeridas pelo réu por se entender
desnecessárias e depois se concluir por sua responsabilidade (STJ, REsp 1128086).
* O princípio jura novit curia aplica-se inclusive às normas do direito estadual e municipal.
A parte não está obrigada a provar o conteúdo ou a vigência de tal legislação, salvo quando
o juiz o determinar (CPC, art. 337) (STJ, REsp 1174310).
* Não há restrição aos meios de prova para a comprovação da condição de ganhador
de prêmio de loteria na hipótese de extravio do bilhete premiado (STJ, REsp 717507).
* O Superior Tribunal de Justiça possui entendimento no sentido de não considerar
extrato de conta telefônica prova hábil a afastar o conteúdo de certidão de juízo, para efeito
de tempestividade de recurso transmitido via fax (STJ, EDcl no AgRg no AREsp 96516).
3.3.4 Enunciados:
• Enunciado 297 das Jornadas de Direito Civil: “O documento eletrônico tem valor
probante, desde que seja apto a conservar a integridade de seu conteúdo e idôneo a
apontar sua autoria, independentemente da tecnologia empregada”.
• Enunciado 158 das Jornadas de Direito Civil: “A amplitude da noção de ‘prova plena’
(isto é, completa) importa presunção relativa acerca dos elementos indicados nos
incisos do § 1º (art. 215), devendo ser conjugada com o disposto no parágrafo único do
art. 219”.
• Enunciado 298 das Jornadas de Direito Civil: “Os arquivos eletrônicos incluem-se no
conceito de ‘reproduções eletrônicas de fatos ou de coisas’, do art. 225 do Código Civil,
aos quais deve ser aplicado o regime jurídico da prova documental”.
100
Direito Civil 2016 101
4.1 Conceito
Conceito do Direito Tradicional das Obrigações. Conjunto de regras e princípios jurídicos
reguladores das relações patrimoniais entre um credor (sujeito ativo) e um devedor (sujeito
passivo), a quem incumbe o dever de cumprir, espontânea ou coativamente, uma prestação
de dar, fazer ou não fazer.
Conceito dinâmico ou moderno: a obrigação é vista como um processo, isto é, uma série
de atos exigíveis do credor e do devedor até que suas pretensões sejam satisfeitas. Este
conceito reconhece o princípio da boa-fé objetiva como parte da estrutura da relação jurídica
obrigacional (Clóvis Couto e Silva). Logo, além da prestações, como núcleo da relação
jurídica obrigacional, existem também os deveres anexos que devem ser cumpridos por
ambos os polos da relação. Conceito de “obrigação”. Washington de Barros Monteiro:
“obrigação é a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor,
cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica (a doutrina moderna já aceita que
a obrigação pode ter conteúdo exclusivamente moral: ex: citar a fonte bibliográfica em um
trabalho; devolver uma carta recebida por engano), positiva ou negativa, devida pelo
primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento através de seu patrimônio”.
Distinções conceituais: a) dever jurídico: conceito mais amplo de todos, é a necessidade
que corre a todo indivíduo de obedecer às ordens ou aos comandos do ordenamento
jurídico, sob pena de incorrer em uma sanção (Orlando Gomes). Pode ser geral ou especial,
conforme se concentre em uma certa pessoa ou se refira à universalidade das pessoas; b)
obrigação: decorre do conceito de dever jurídico em sua acepção especial, e consiste em
vínculo especial entre pessoas determinadas ou determináveis, de modo que uma delas
tem o poder de exigir da outra (direito subjetivo) uma prestação de dar, fazer ou não fazer;
c) responsabilidade: obrigação derivada (dever jurídico sucessivo), surgida em ocorrência
de um fato jurídico lato sensu, consequente à violação de um dever jurídico obrigacional
originário; d) sujeição jurídica: relacionada aos direitos potestativos, em que sujeito passivo
nada tem que fazer para satisfazer o interesse do sujeito ativo, havendo apenas uma
subordinação inafastável à vontade desse; e) ônus: necessidade de observância de
determinado comportamento para a obtenção ou conservação de uma vantagem para o
próprio sujeito – e não para a satisfação de interessas alheios (Maria Helena Diniz), como
ocorre no caso do dever e da sujeição.
4.2 Elementos constitutivos das obrigações
A estrutura da obrigação é composta pelos seguintes elementos: elemento subjetivo
(sujeitos ou partes); elemento objetivo (objeto ou prestação) e elemento ideal (vinculo ou
relação jurídica).
(a) ELEMENTO SUBJETIVO: sujeitos ou partes – SUJEITO ATIVO (credor): quem tem o
direito de exigir o cumprimento da obrigação; SUJEITO PASSIVO (devedor): quem assume
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Direito Civil 2016 102
um dever, na ótica civil, de cumprir o conteúdo da obrigação, sob pena de responder com
seu patrimônio.
Devem ser capazes (artigo 104). Ao contrário do direito real (que comporta sujeito
indeterminado, havendo uma sujeição passiva indeterminada), no direito obrigacional, os
102
Direito Civil 2016 103
4.3 Modalidades
4.3.1 Obrigação natural ou imperfeita.
As obrigações classificam-se em civis e naturais, na medida em que sejam exigíveis ou
apenas pagáveis (desprovidas de exigibilidade jurídica).
A obrigação natural é um debitum em que não se pode exigir judicialmente a
responsabilização patrimonial (obligatio). Tal inexigibilidade é derivada de algum óbice legal
com finalidade de preservação da segurança e da estabilidade jurídica. Não obstante, uma
vez cumprida espontaneamente, dá-se a irrepetibilidade do pagamento. Vale salientar que
a obrigação natural não se identifica com o mero dever moral, pois representa uma dívida
efetiva, proveniente de uma causa precisa. O objeto de sua prestação pertence, do ponto
de vista ideal, ao patrimônio do credor, de modo que, não cumprida a obrigação, sofre ele
um prejuízo, o que não se verifica quando há o descumprimento de um dever moral.
As obrigações naturais classificam-se: a) quanto à tipicidade, em típicas e atípicas, na
medida em que é prevista em texto legal como relação obrigacional inexigível; b) quanto à
origem, em originária e derivada ou degenerada, conforme o momento em que se torna
inexigível; c) quanto aos efeitos produzidos, pode ser comum ou limitada.
Estabelece o art. 882 do CC:
EXEMPLO 02: no condomínio comum, os condôminos têm a obrigação propter rem (que
está ligada à fração ideal) de contribuir para a manutenção do bem.
EXEMPLO 03: no condomínio edilício (que é condomínio especial porque mescla as
propriedades de áreas exclusivas e áreas comuns), cada titular de unidade autônoma tem
o dever de contribuir com as despesas da área comum; quando deixa de ser proprietário
da unidade autônoma, o sujeito deixa de ser responsável pela obrigação proter rem. STF
vem considerando que o pagamento dos valores condominiais pode ser cobrado do
condômino que seja PROMISSÁRIO COMPRADOR (mesmo sem o título registrado, desde
que tenha pago o valor do bem e o promitente comprador tenha se imitido na posse do bem
e condomínio tenha conhecimento inequívoco da transferência da propriedade - STJ. 2ª
Seção. REsp 1.345.331-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/4/2015 9 (recurso
repetitivo) (Info 560 ). Quem compra unidade autônoma responde pelos valores passados,
por determinação legal, não por ser devedor de obrigação propter rem.
O promitente comprador e o promitente vendedor de imóvel têm legitimidade passiva
concorrente em ação de cobrança de débitos condominiais posteriores à imissão
daquele na posse do bem, admitindo-se a penhora do imóvel, como garantia da
dívida, quando o titular do direito de propriedade (promitente vendedor) figurar no
polo passivo da demanda. Há premente necessidade, portanto, de se firmar uma
adequada interpretação da tese firmada pelo rito do art. 543-C do CPC, de modo a
afastar interpretações contrárias à natureza e à finalidade da obrigação propter rem.
Uma interpretação interessante pode ser obtida com a aplicação da teoria da
dualidade do vínculo obrigacional à hipótese de pluralidade de direitos subjetivos
reais sobre a coisa. Segundo essa teoria, a obrigação se decompõe em débito
(Schuld), o dever de prestar, e responsabilidade (Haftung), a sujeição do devedor,
ou terceiro, à satisfação da dívida. Aplicando-se essa teoria à obrigação de pagar
despesas condominiais, verifica-se que o débito deve ser imputado a quem se
beneficia dos serviços prestados pelo condomínio, no caso, o promitente comprador,
valendo assim o brocardo latino ubi commoda, ibi incommoda. A grande diferença é
que o proprietário não se desvincula da obrigação, mantendo-se na condição de
responsável pelo pagamento da dívida, enquanto mantiver a situação jurídica de
proprietário do imóvel. Essa separação entre débito e responsabilidade permite uma
solução mais adequada para a controvérsia, preservando-se a essência da
obrigação propter rem. Restauram-se, desse modo, as conclusões de um
entendimento já trilhado por esta Corte Superior, em voto proferido pelo Min. Ruy
Rosado de Aguiar no REsp 194.481-SP, Quarta Turma, DJ 22/3/1999. É certo que
esse julgado acabou sendo superado, ante os questionamentos do Min. Sálvio de
Figueiredo Teixeira nos EREsp 138.389-MG, o que influenciou a jurisprudência desta
Corte a partir de então. Cabe, portanto, enfrentar os referidos questionamentos. O
primeiro diz respeito à possibilidade de o proprietário do imóvel ficar vinculado à
obrigação por longos anos, caso o promitente comprador não providencie a lavratura
da escritura e o devido registro. Esse questionamento, entretanto, diz respeito
exclusivamente à relação obrigacional estabelecida entre o proprietário (promitente
vendedor) e o promitente comprador, os quais podem estabelecer prazo para a
ultimação do negócio jurídico, inclusive com fixação de multa. Se não o fazem,
deixam aberta a possibilidade de o negócio jurídico ficar pendente de exaurimento
por longos anos, devendo arcar com as consequências de seus atos. O outro
questionamento diz respeito à possível falta de interesse do proprietário, ou melhor,
“quase ex-proprietário”, em contestar a ação de cobrança de despesas condominiais,
uma vez que o interesse direto seria do promitente comprador, já imitido na posse
do imóvel. Sobre esse ponto, cabe ressaltar que o proprietário do imóvel responde
pelos débitos condominiais com todo o seu patrimônio, não somente com o imóvel,
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Direito Civil 2016 105
pois a obrigação propter rem não se confunde com os direitos reais de garantia. Não
se pode afirmar, portanto, que faltaria interesse ao proprietário em contestar a
demanda, pois correrá o risco de sofrer constrição em seu patrimônio pessoal, uma
vez que dinheiro e depósitos bancários têm preferência sobre a penhora do imóvel
(art. 655, I, do CPC). De outra parte, o promitente comprador poderá, a qualquer
tempo, ingressar na demanda como assistente litisconsorcial (art. 54 do CPC), para
assumir a defesa de seus interesses. Por último, não restam dúvidas de que, entre
o risco de o condômino inadimplente perder o imóvel e o risco de a comunidade de
condôminos ter que arcar com as despesas da unidade inadimplente, deve-se
privilegiar o interesse coletivo dessa comunidade em detrimento do interesse
individual do condômino inadimplente. Conclui-se, portanto, que os questionamentos
referidos no EREsp 138.389MG não obstam a interpretação da tese à luz da teoria
da dualidade da obrigação. REsp 1.442.840-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 6/8/2015, DJe 21/8/2015. (info 565)
É a visão moderna do Direito das Obrigações, com origem no Direito Alemão – foi adotada
pelo nosso Código Civil.
A finalidade do direito obrigacional é o adimplemento – Conceito moderno de OBRIGAÇÃO:
“processo na busca do adimplemento”.
O Código Civil trata da obrigação como um processo, conforme se pode ver da posição
topográfica dos títulos – Título I: das modalidades; Titulo II: da transmissão das obrigações;
Título III: do adimplemento e extinção; Título IV: do inadimplemento.
Clóvis do Couto e Silva escreveu o livro “A obrigação como processo” e esteve na comissão
que formulou o novo CC - seu livro se baseou nos estudos de KARL LARENZ, entendendo
que a obrigação seria o conjunto de atividades necessárias à satisfação dos interesses do
credor.
Manto principiológico: a) proteção contra influências externas – função social dos
contratos -
“tutela externa do crédito” - toda a sociedade possui o dever de respeitar um processo
105
Direito Civil 2016 106
Princípios incidentes sobre as relações obrigacionais: função social dos contratos, boa-fé
objetiva, cooperação, proteção, informação.
Há constatação de que existem no vínculo obrigacional o que a doutrina tem chamado dos
DEVERES INSTRUMENTAIS, DEVERES SECUNDÁRIOS, DEVERES ANEXOS ou
DEVERES COLATERAIS.
Essa função supletiva da BOA-FÉ OBJETIVA pode ser verificada no ordenamento jurídico
pátrio:
• CF/88 (implicitamente) – artigo 3º: constituem objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e SOLIDÁRIA. As relações
entre as pessoas devem ser solidárias.
• CDC – todo ele está construído sobre dois DEVERES ANEXOS: informação /
transparência e segurança.
• CC/02 – artigo 422: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão
do
contrato, como em sua execução, os princípios da probidade”.
106
Direito Civil 2016 107
Por vezes, esses deveres COLATERAIS podem surgir antes da formação da obrigação
principal (EXEMPLOS: aconselhamento dado pelo advogado antes de ser contratado ou
informação dada pelo vendedor antes de concretizar a venda) ou depois de finalizada essa,
o que se chama de PÓSEFICÁCIA (EXEMPLO: patrão demite seu empregado doméstico,
sem justa causa e paga tudo certo; a obrigação principal não surte mais efeitos. Depois, ele
procura o patrão para pedir declaração objetiva de que trabalhou como copeiro, o que não
consta no seu contrato de trabalho e nem na carteira de trabalho. Como o patrão tem o
dever de informação, deve fornecer a declaração solicitada).
Todo o acima exposto decorre da principal alteração principiológica das obrigações advinda
com o novo CC/02: a obrigação passou a ser tida como um processo – uma série de atos
relacionados entre si – que desde o início se encaminha a uma finalidade: a satisfação do
interesse na prestação (Nelson Rosenvald). A obrigação deve ser encarada como um
processo de colaboração contínua entre as partes (Clóvis Couto e Silva).
Essa é a classificação básica das obrigações, que, inspirada no Direito Romano (dare,
facere, non facere), foi adotada pela legislação brasileira desde o esboço de Teixeira de
Freitas. (a) Obrigação de dar
As obrigações de dar, que têm por objeto prestações de coisas, consistem na atividade de
dar (transferindo-se a propriedade da coisa), entregar (transferindo-se a posse ou a
detenção da coisa) ou restituir (quando o credor recupera a posse ou a detenção da coisa
entregue ao devedor). Subdividem-se, todavia, em obrigações de dar coisa certa e
obrigações de dar coisa incerta.
Obrigações de dar coisa certa. O devedor obriga-se a dar, entregar ou restituir coisa
específica, determinada, certa. Não poderá o credor ser constrangido a receber outra senão
aquela descrita no título da obrigação. Nesse sentido, clara é a dicção do art. 313 do CC:
ATENÇÃO: em relação aos títulos de crédito, o credor não pode recusar-se ao recebimento
do pagamento parcial, nos termos do artigo abaixo:
Aplica-se também para as obrigações de dar coisa certa o princípio jurídico de que o
acessório segue o principal. Dessa forma, não resultando o contrário do título ou das
circunstâncias do caso, o devedor não poderá se negar a dar ao credor aqueles bens que,
sem integrar a coisa principal, secundam-na por acessoriedade (art. 233).
Até a tradição, a coisa pertence ao devedor, com os seus melhoramentos e acrescidos,
pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor
resolver a obrigação (art. 237). Quanto ao risco de perecimento ou deterioração do objeto,
há que se invocar a milenar regra do res perit domino suo (essa regra, cuja raiz assenta-se
no Código de Hamurabi, significa que, em caso de perda ou deterioração da coisa, por caso
fortuito ou força maior, suportará o prejuízo o seu proprietário).
Em caso de perda ou perecimento (prejuízo total), duas situações diversas podem
acontecer:
a) se a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente
condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes, suportando o
prejuízo o proprietário da coisa que ainda não a havia alienado (art.234);
b) se a coisa se perder, com culpa do devedor, responderá este pelo equivalente
(valor da coisa), mais perdas e danos. Entenda-se por perdas e danos apenas a
expectativa patrimonial frustrada – lucros cessantes -, pois os danos emergentes,
evidentemente, compensam-se na devolução dos valores pagos. Invariavelmente,
haverá uma presunção de culpa do devedor inadimplente quanto ao fato que gerou a
perda do objeto, tendo ele o ônus probatório de desconstituí-la.
c) Em caso de deterioração (prejuízo parcial), também duas hipóteses são
previstas em lei:
d) se a coisa se deteriora sem culpa do devedor, poderá o credor, a seu critério,
resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu (art.
235);
e) se a coisa se deteriora por culpa do devedor, poderá o credor exigir o
equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em
um ou outro caso, a indenização pelas perdas e danos.
Obs.: É a culpa que implica a responsabilização por perdas e danos.
Em caso de simples deterioração, o art. 240 estipula que: “se a coisa restituível se
deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a
indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239”. Este art. 239
dispõe que: “se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente,
mais perdas e danos”. Entretanto, segundo o Enunciado 15 do CJF, “as disposições do art.
236 do novo Código Civil também são aplicáveis à hipótese do art. 240, in fine”, o que quer
dizer que se a coisa se deteriorar por culpa do devedor, o credor também poderá optar por
aceitar a coisa no estado em que se acha, mais perdas e danos.
Ocorre lembrar que, se o interessado na restituição da coisa estiver em mora para
recebê-la, mesmo nas hipóteses de perda acidental pelo depositário, culminará por ser
responsabilizado a ponto de efetuar o pagamento, conforme se depreende do art. 492, §2°,
do CC. Em sentido inverso, se o atraso for debitado àquele a quem incumbia a entrega da
coisa, mesmo que a sua perda resulte de caso fortuito/força maior (art. 399), recairá contra
o devedor a condenação em perdas e danos. De fato, a mora gera uma expansão da
responsabilidade do devedor, alcançando mesmo as situações de perda ou deterioração
da coisa alheia aos seus cuidados normais. Excepcionalmente, o devedor isentará a sua
responsabilidade se demonstrar que, mesmo se a entrega fosse tempestiva, o evento ainda
assim ocorreria.
Por fim, cumpre fazer referência aos melhoramentos, acréscimos e frutos
experimentados pela coisa, nas obrigações de restituir. Se tais benefícios se agregaram à
coisa principal, sem concurso de vontade ou despesa para o devedor, lucrará o credor,
desobrigado da indenização (art. 241). Se, todavia, tais melhoramentos (cômodos
obrigacionais) exigiram concurso de vontade ou despesa para o devedor, o CC determina
que sejam aplicadas as regras atinentes aos efeitos da posse, quanto às benfeitorias
realizadas (art. 242). Quanto aos frutos, aplicam-se também as regras previstas pelo
legislador ao tratar dos efeitos da posse.
Obs.: Exceções ao res perit domino – Vícios Redibitórios (art. 441 CC); Evicção:
perda de um bem em virtude de um contrato oneroso por uma decisão judicial ou
administrativa que conceda o direito sobre esse bem a um terceiro estranho à relação
contratual oringinária – STJ: a decisão administrativa (Ex.: apreensão em blitz policial)
também pode ser fator de deflagração da evicção.
como valor da moeda o valor nominal que lhe atribui o Estado, no ato de
emissão ou cunhagem. De acordo com o referido princípio, o devedor de uma
quantia em dinheiro libera-se entregando a quantidade de moeda mencionada
109
Direito Civil 2016 110
Nada impede, outrossim, a adoção de cláusulas de escala móvel, para que se realize a
atualização monetária da soma devida, segundo critérios escolhidos pelas próprias partes.
Entretanto, ao lado das dívidas de dinheiro, a doutrina, influenciada pela
instabilidade de nossa economia, elaborou o conceito das chamadas dívidas de valor. Estas
não teriam por objeto o dinheiro em si, mas o próprio valor econômico (aquisitivo) expresso
pela moeda.
Obrigações de dar coisa incerta. Ao lado das obrigações de dar coisa certa, figuram as
obrigações de dar coisa incerta, cuja prestação consiste na entrega de coisa especificada
apenas pela espécie e quantidade. Trata-se das chamadas obrigações genéricas. Nesse
sentido, clara é a norma do art. 243 do CC:
a coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela uantidade”.
Ressalte-se, entretanto, que essa indeterminabilidade do objeto há que ser
meramente relativa.
A operação, por meio da qual se especifica a prestação, convertendo a obrigação genérica
em determinada, denomina-se “concentração do débito” ou “concentração da prestação
devida”. A escolha, por princípio, cabe ao devedor, uma vez que o CC, em quase todas as
suas normas, prefere o devedor, quando a vontade das partes não houver estipulado a
quem assiste determinado direito. Essa liberdade de escolha, contudo, não é absoluta, eis
que o devedor não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a dar a melhor (art. 244) -
princípio da equivalência das prestações. Por óbvio, se nas obrigações de dar coisa incerta
a prestação é inicialmente indeterminada, não poderá o devedor, antes de efetuada a sua
escolha, alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito
(art. 246). O gênero, segundo tradicional entendimento, não perece jamais.
Entretanto, se o Projeto de Lei n. 6960/02 converter-se em lei, essa regra será relativizada,
nos seguintes termos: “antes de cientificado da escolha o credor, não poderá o devedor
alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito, salvo se
se tratar de dívida genérica limitada e se extinguir toda a espécie dentro da qual a prestação
está compreendida”.
Contudo, para Nelson Rosenvald, “se a obrigação referir-se à entrega de coisas genéricas,
porém previamente indicadas e localizadas, há de falar-se em prestação de dar coisa certa,
aplicando-se as regras dessa modalidade. Exemplificando: contrato para a entrega de arroz
situado em um depósito ou dos cavalos que se encontram em um estábulo. É o que a
doutrina chama de dívida de gênero limitado”.
Feita a escolha, as regras que passarão a ser aplicadas serão aquelas previstas para as
obrigações de dar coisa certa.
4.3.5 Obrigações de fazer.
Nas obrigações de fazer, interessa ao credor a própria atividade do devedor. Pretende o
credor a prestação de um fato, e não o bem que eventualmente dele resulte. Em tais casos,
a depender da possibilidade ou não de o serviço ser prestado por terceiro, a prestação do
fato poderá ser fungível ou infungível.
A obrigação de fazer será fungível quando não houver restrição negocial no sentido de que
o serviço seja realizado por outrem. Atento a isso, o CC admite a possibilidade de o fato ser
executado por terceiro, havendo recusa ou mora do devedor. Nos termos do seu art. 249:
110
Direito Civil 2016 111
“se o ato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo
executar à custa do devedor, avendo recusa ou mora deste, sem prejuí o da
indeni ação cabível”.
A grande novidade do CC, no que tange às obrigações de fazer, é a possibilidade de deferir-
se ao credor o exercício da auto-executoriedade, em caso de urgência na obtenção da
obrigação de fazer fungível (art. 249, parágrafo único). Cuida-se de evidente aplicação do
paradigma da operabilidade. Quanto poderá ser cobrado do devedor, pelo trabalho do
terceiro, não está previsto no CC. Se for judicialmente, o impasse estaria resolvido graças
à aplicação do procedimento quase licitatório. PARTE DA DOUTRINA: o credor pode pagar
diretamente ao terceiro, em face da urgência (e o terceiro não tem nenhuma relação com o
inadimplemento). Depois, deve requerer ao juiz o arbitramento do valor, suportando
qualquer diferença, já que assumiu o risco dessa forma de execução coativa. Assim, o
credor pode procurar terceiro, mas o valor a ser pago deve ser o arbitrado judicialmente.
GODOY: mais justa é a interpretação de que se a lei autorizou o credor a procurar terceiro,
mais lógico que, em princípio, possa o credor cobrar do devedor exatamente aquilo que
teve que pagar ao terceiro; note-se que essa é a posição EM PRINCÍPIO, já que para ser
assim deve no caso estar aplicada a BOA-FÉ OBJETIVA (EXEMPLO: não pode o credor
chamar o arquiteto mais famoso do Brasil para executar o serviço do pedreiro;
independentemente de existir ou não intenção do credor).
Por outro lado, se ficar estipulado que apenas o devedor indicado no título da obrigação
possa satisfazê-la, estaremos diante de uma obrigação infungível. Trata-se das chamadas
obrigações personalíssimas (intuitu personae), cujo adimplemento não poderá ser realizado
por qualquer pessoa, em atenção às qualidades especiais daquele que se contratou. Tais
pessoas não poderão, sem prévia anuência do credor, indicar substitutos, sob pena de
descumprirem a obrigação personalíssima pactuada.
Poderá a prestação de fazer ser naturalmente infungível, com base nas qualidades
pessoais do devedor, v.g., pintura de tela por artista; será ainda contratualmente infungível,
caso o credor queira impor natureza personalíssima a uma obrigação em tese fungível.
Aliás, o art. 247 refere-se a ambas as modalidades de obrigações infungíveis (“incorre na
obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta
– infungível por convenção, ou só por ele exeqüível – infungível por natureza”).
Impende observar que, em algumas situações intermediárias – sobremodo aquelas em que
da atividade resulte uma obra ou um objeto – poderá o intérprete ter alguma dificuldade em
determinar uma obrigação como de dar ou de fazer. Assim, se A prometer entregar um
imóvel a B, a obrigação será de fazer, caso a atividade seja a própria construção da coisa;
consistirá, porém, em obrigação de dar coisa certa, se o imóvel já estiver pronto e acabado
ao tempo da contratação. Em suma, nas obrigações de dar, o credor procura um objeto já
existente ao tempo do nascimento da obrigação. Se, porventura, houver incidência conjunta
de prestações de coisas e atividades pessoais, há de buscar-se a tipificação da obrigação
pelo critério da preponderância. Exemplificando, há uma polêmica na jurisprudência acerca
da natureza da obrigação do devedor que envolve a correção monetária de saldos e
creditamento de dinheiro em contas vinculadas ao FGTS. A discussão avulta, pois a
classificação dada permitirá ou não a imposição de multa diária contra o devedor por recusa
ao cumprimento. Para ROSENVALD, trata-se de obrigação de dar, pois o que prepondera
na espécie é a entrega de coisa (pecúnia), e não o fato ou a atividade que será
desempenhada pela instituição financeira devedora. Com efeito, toda obrigação de dar
requer o desempenho de um certo fazer, mas ele só será acessório à finalidade principal.
A esse respeito, foi editado o Enunciado 160 na III Jornada de Direito Civil:
“a obrigação de creditar din eiro em conta vinculada de é obrigação de dar,
obrigação pecuniária, não afetando a natureza da obrigação a circunstância
de a disponibilidade do dinheiro depender da ocorrência de uma das
hipóteses previstas no art. 20 da ei n. 8. 3 9 ”.
111
Direito Civil 2016 112
Vale ressaltar que as obrigações de fazer podem ainda ser classificadas em duradouras ou
instantâneas. As instantâneas aperfeiçoam-se em um único momento; nas duradouras, a
execução da obrigação protrai-se no tempo de forma continuada, ou de modo periódico,
mediante trato sucessivo.
Interessa, ainda, a análise da modalidade de obrigação de fazer que envolve a promessa
de fato de terceiro (art. 439). Pelo princípio da relatividade contratual, as avenças realizam-
se res inter alios acta. Assim, em princípio, o terceiro é um estranho à relação obrigacional,
sendo a sua conduta objeto da prestação. Porém, o objeto da obrigação em si é a promessa
do próprio devedor; isto justifica o seu sancionamento. Mas se o terceiro aceitar a prestação,
exonera-se o devedor de responsabilidade, já que a promessa foi cumprida e o terceiro
assumiu o contrato, vinculando-se aos seus termos.
Finalmente, cumpre analisar as consequências do descumprimento de uma obrigação de
fazer. Se a prestação do fato se torna impossível sem culpa do devedor, resolve-se a
obrigação, sem que haja a conseqüente obrigação de indenizar. Entretanto, se a
impossibilidade decorrer de culpa do devedor, este poderá ser condenado a indenizar a
outra parte pelo prejuízo causado. Nesse sentido, dispõe o art. 249:
A obrigação de não fazer tem por objeto uma prestação negativa, um comportamento
omissivo do devedor. Implica uma abstenção, impedindo que o devedor pratique um ato
que normalmente não lhe seria vedado, tolere ato que normalmente não admitiria ou,
mesmo, obrigue-se a não praticar um ato jurídico que em princípio ser-lhe-ia lícito. Ex.: não
construir muros, não possuir animais. Depreende-se ter sempre a natureza infungível, haja
vista que toda omissão é uma atitude pessoal e intransferível do devedor. Difere, portanto,
da obrigação de fazer que pode comumente ser satisfeita por terceiros, na base da
fungibilidade.
Dividem-se as obrigações negativas em obrigações de não fazer instantâneas – posto
impossível o desfazimento da nova situação com restituição ao estado originário; e
permanentes -, quando, mesmo após o descumprimento, admitem a recomposição ao
status quo ante. O art. 251 refere-se às obrigações permanentes, posto passíveis de
desfazimento (“Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode
exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado
perdas e danos”). O parágrafo único do art. 251 autoriza o credor, em caso de urgência,
desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do
ressarcimento devido.
As relações jurídicas que criam obrigações de não fazer são aquelas que mais cerceiam a
liberdade do contratante. Assim, poderá haver uma deliberação judicial no sentido de
restringir o conteúdo de tais prestações, quando ofensivas à ordem econômica ou a direitos
fundamentais do ser humano.
112
Direito Civil 2016 113
Nos termos do art. 250, “extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do
devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar”.
Obs.: um devedor poderá ser adimplente sendo omisso? Correto, nas obrigações negativas.
4.3.7 Tutela processual das obrigações de dar.
Nas obrigações de dar coisa certa, a execução seguia o rito dos arts. 621/628 do CPC,
fosse ela proveniente de título executivo judicial ou extrajudicial. Com a recente reforma
imprimida pela Lei 10.444/02, desloca-se a execução da sentença condenatória das
referidas obrigações para o livro do processo de conhecimento.
Com efeito, com a redação do art. 461-A, permite-se que a sentença de procedência no
processo de conhecimento ostente eficácia executiva lato sensu, sendo suficiente que o
magistrado estipule na sentença um prazo para cumprimento espontâneo da obrigação de
dar coisa certa, com previsão de expedição, em prol do autor, de mandado de busca e
apreensão da coisa móvel ou imissão na posse da coisa imóvel, em caso de recusa ao
cumprimento pelo réu no prazo fixado no decisório.
A outro lado, para os títulos executivos extrajudiciais, com obrigação líquida, certa e exigível
de entregar coisa (art. 585 do CPC), mantém-se a tutela erigida pelo art. 621 do CPC,
mediante o ajuizamento de ação de execução, capaz de propiciar ao credor a imissão na
posse do bem imóvel ou a busca e apreensão do bem móvel desejado, caso o réu recuse-
se a entregar voluntariamente a coisa no prazo de 10 dias contados da citação.
Outra novidade da L 10444/02 concerne ao parágrafo único do art. 621, que permite ao juiz
a fixação de multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação. As astreintes possuem
finalidade coativa, constrangendo o devedor a cumprir a tutela específica. Pela nova
sistemática, resta superada a necessidade de caracterizar o tipo de obrigação para a
aplicação da multa cominatória. Agora, para qualquer hipótese de infungibilidade da
prestação – casos em que só o devedor poderá cumpri-la – a lei admite a imposição de
multa diária ao réu, até a satisfação da obrigação determinada (só cuidado com a exibição
de documentos no processo, caso em que não se pode fixar astreintes – súmula 372 do
STJ, já que nesse caso, não apresentados os documentos, serão considerados verdadeiros
os fatos que com eles se pretendia provar).
Havendo obrigação de dar coisa incerta, enfatiza-se a mesma distinção operada quanto à
forma de execução das obrigações de dar coisa certa. Na reforma, a execução de título
judicial dar-se-á nos moldes do art. 461-A, §1°. Tratando-se de dívida de gênero baseada
em título executivo extrajudicial, a execução impõe-se na forma dos arts. 629/631 do CPC,
sendo indispensável o incidente de individualização do objeto da prestação.
Caberá ainda a execução por quantia certa (art. 646 do CPC), restrita às obrigações
pecuniárias. Diversamente das demais modalidades de execuções de obrigações de dar, a
decorrente de dívida por quantia certa é conhecida como execução genérica, pois o credor
detém livre acesso a qualquer um dos bens que compõem o patrimônio do devedor, visando
a convertê-los em dinheiro. Já nas modalidades de dar coisa certa e incerta, fala-se de
execuções específicas, eis que o credor circulará restritamente pelo patrimônio do devedor,
sendo-lhe apenas facultado buscar os bens voluntariamente recusados.
A execução por quantia certa é igualmente oportunizada quando restar frustrada a
execução específica – consistente na busca da prestação in natura -, por haver o objeto da
obrigação sido extraviado ou danificado.
4.3.8 Tutela processual das obrigações de fazer e não fazer.
A visão tradicional do direito das obrigações, pelo seu cunho intrinsecamente
patrimonialista, sempre defendeu que seria uma violência à liberdade individual da pessoa
a prestação coercitiva de condutas, ainda que decorrentes de disposições legais e
contratuais. Na concepção civilística do pacta sunt servanda, o magistrado apenas
asseguraria à parte lesada a recomposição dos danos consequentes ao descumprimento
113
Direito Civil 2016 114
contratual. Jamais lhe seria facultado penetrar nas relações privadas, que seriam leis entre
particulares. Assim, pela convicção de que a liberdade humana é o valor maior na
sociedade, a resolução em perdas e danos seria a única consequência para o
descumprimento das obrigações de fazer e não fazer.
Hodiernamente, contudo, o vigente ordenamento jurídico brasileiro reconhece que a
incoercibilidade da vontade humana não é um dogma inafastável, desde que respeitados
os direitos fundamentais. Agora, o legislador procura antecipar-se à ocorrência dos danos,
impondo meios hábeis a impedir ou remover o próprio ilícito legal ou contratual, enfatizando
a tutela inibitória das obrigações, em detrimento da tutela ressarcitória.
O art. 461 do CPC (art. 84 do CDC) permite ao juiz impor ao devedor a observância estrita
do que foi objeto da convenção entre as partes, concedendo ao credor duas formas
alternativas de implementação da tutela inibitória. Primeiramente, a tutela específica da
situação a que originariamente o autor faria jus. Sendo materialmente impossível o
cumprimento da prestação originária, ou entendendo o magistrado que outra medida poderá
atender ao credor, porém de maneira menos gravosa ao devedor, conceder-se-á resultado
prático equivalente ao autor da ação, por meio da tutela assecuratória (inespecífica),
mediante providências alternativas exigidas ao réu. As tutelas específica e assecuratória
serão alcançadas pela imposição de meios coercitivos indiretos, sobremaneira pelas
astreintes.
O STJ enfatiza a eficácia do aludido provimento, mesmo em face do Poder Público: “em
conformidade com o entendimento assentado em ambas as turmas da 3ª seção, o juiz, de
ofício ou a requerimento da parte, pode fixar as denominadas astreintes contra a Fazenda
Pública, com o objetivo de forçá-la ao adimplemento da obrigação de fazer no prazo
estipulado” (AGA n° 476719/RS). Ainda, “é possível a fixação de multa diária por atraso na
implantação de benefício previdenciário, em razão de tratar-se de obrigação de fazer”
(AGRESP 374502/SP).
Em arrimo à prestigiada tutela inibitória, não se olvide ainda da letra dada ao art. 287 do
CPC que permite a imposição de sanção pecuniária para o eventual descumprimento da
sentença ou da decisão antecipatória de tutela.
A tutela inibitória não é a única conquista em matéria de efetividade das obrigações de fazer
e não fazer. Paralelamente a ela foi instituída a denominada tutela de remoção do ilícito (art.
461, §5°), também conhecida como medidas de apoio. Trata-se de demanda executiva lato
sensu, verdadeiro meio de coerção direta promovido em sub-rogação ao demandado.
Importante lembrar que, apesar de mal localizado, o artigo 475 do CC/02 também traz
previsão relativa à tutela específica:
Enfim, torna-se a exceção às perdas e danos, razão pela qual faz-se mister propugnar por
uma interpretação mais consentânea e lógica do art. 248 do CC, ou seja, tal regra somente
pode ser aplicada quando não é mais possível o cumprimento da obrigação ou, não tendo
o credor mais interesse na sua realização – ante o inadimplemento do devedor -, o autor da
ação assim o pretender. Obviamente, a busca da tutela específica não exclui a indenização
pelas perdas e danos ocorridos até a data da realização concreta da obrigação de fazer
submetida à apreciação judicial.
114
Direito Civil 2016 115
• fracionárias;
• conjuntas;
• disjuntivas; solidárias.
Considerando o elemento objetivo (a prestação) – além da classificação básica, que
também utiliza esse critério (prestações de dar, fazer e não fazer) -, podemos apontar a
existência de modalidades especiais de obrigações, a saber:
• alternativas;
• facultativas;
• cumulativas;
• divisíveis e indivisíveis; líquidas e ilíquidas.
Quanto ao elemento acidental, encontramos:
• obrigação condicional; obrigação a termo; obrigação modal.
Finalmente, quanto ao conteúdo, classificam-se as obrigações em:
a. obrigações de meio;
b. obrigações de resultado;
c. obrigações de garantia.
passiva). Nada impede que se fale também em solidariedade mista, ainda que não haja
previsão legal específica.
Principais postulados:
b. a solidariedade só se manifesta nas relações externas (só se aplica entre os
pólos), eis que cada credor poderá exigir o pagamento de qualquer devedor no todo,
como se fosse o único existente, assim como o devedor poderá exonerar-se pagando o
total a qualquer credor. Já nas relações internas, prevalece o direito apenas fracionário
de reembolso dos co-credores que não receberam suas partes e o direito de regresso
do devedor que pagou o preço em face dos co-devedores;
c. observe-se que existe unidade objetiva da obrigação (o objeto é único), embora
concorram mais de um credor ou devedor, cada um deles com direito ou obrigado a toda
a dívida. É isto o que defende a teoria unitária (majoritária), possibilitando que qualquer
um que receba ou pague, extingue a obrigação. Também há a teoria plural (min.), que
defende a existência de vários vínculos;
d. a solidariedade não se presume (art. 265 do CC). Nasce em virtude de
convenção das partes ou imposição legal (arts. 932 e 942, parágrafo único, CC e art. 2°,
§2°, CLT). Ressalte-se que apesar de constituir exceção na atual codificação civil, a
solidariedade é regra no Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), o qual
prescreve em seu artigo 7º: “tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão
solidariamente pela reparação de danos previstos nas normas de consumo”. Também
para a responsabilidade civil o art. 942 traz a previsão da solidariedade. Não se presume
solidariedade passiva (art. 265 do Código Civil) pelo simples fato de duas ou mais
pessoas jurídicas integrarem o mesmo grupo econômico (Enunciado n. 22 da I Jornada
de Direito Comercial, promovida pelo Conselho da Justiça Federal e pelo Superior
Tribunal de Justiça em 2012).
Não se deve confundir as obrigações solidárias com as obrigações in solidum. Nessas
últimas, posto concorram vários devedores, os liames que os unem ao credor são
totalmente distintos, embora decorram de um único fato (ex: suponhamos um caso de
incêndio de uma propriedade segurada, causada por culpa de terceiro. Tanto a seguradora
como o autor do incêndio devem à vítima indenização pelo prejuízo, porém não existe uma
origem comum na obrigação.
Para verificação da solidariedade não interessa a natureza jurídica do bem, por isso, não
se confunde com a idéia de indivisibilidade. A solidariedade é criada pelo direito para facilitar
o recebimento pelo credor, é um artifício jurídico.
Solidariedade ativa. Traduz um concurso de credores na mesma obrigação, cada um com
direito a exigir a dívida por inteiro (art. 267 do CC). É instituto pouco utilizado, pelo risco de
os co-credores não obterem ressarcimento daquela que recebeu o pagamento, seja por
incorrer em insolvência ou simples desonestidade. Muitos credores optam pela outorga de
mandato, eis que os mandatários agem em nome alheio e em caráter revogável.
Vencida a dívida, poderá o devedor oferecer o pagamento a qualquer um dos credores,
desonerando-se da prestação (art. 269 do CC). Todavia, se um dos credores antecipar-se,
acionando o devedor, surge o fenômeno da prevenção judicial (art. 268 do CC).
Conseqüentemente, o devedor só poderá obter liberação pagando ao autor da ação, não
lhe sendo lícito exigir o litisconsórcio ativo entre os demais credores, sob pena de
desvirtuamento do instituto.
Poderá ocorrer, todavia, que um dos credores solidários, em vez de exigir a soma devida,
haja perdoado a dívida (art. 272 do CC). Nesse caso, assim como ocorre quando recebe o
pagamento, o credor remitente responderá perante os demais credores pela parte que lhes
caiba. Contudo, se a remissão for motivo suficiente para o credor remitente cair em
insolvência, não podendo ressarcilos, poderão ajuizar a ação revocatória ou pauliana (art.
158 do CC).
116
Direito Civil 2016 117
A primeira parte do artigo 274 não é novidade, pois a derrota do credor que tenha ajuizado a
ação não vincula os outros credores, que podem propor outras ações: a derrota não se
comunica com os demais credores (Tepedino: extensão da coisa julgada secundum eventum
litis, os credores que não participaram do processo apenas podem ser beneficiados com a
coisa julgada, jamais prejudicados).
A segunda parte do artigo é que é nova, porque garante que se o julgamento for favorável,
haverá o aproveitamento aos outros credores. Se o credor que propôs a ação ganha, a sua
vitória poderá aproveitar os demais credores, exceto se se fundar em uma exceção pessoal
(é defesa alegada pelo devedor: comum afeta a todos os credores e pessoal somente ao
credor que ajuizou a ação).
Assim, se o juiz rejeitou uma defesa comum, não é preciso submeter os outros credores à
necessidade de ajuizamento de ação. Mas se o juiz rejeita uma exceção pessoal (ou seja,
formulada somente perante o credor que ajuizou a ação), os credores deverão ajuizar outra
ação, na medida em que não podem se aproveitar da defesa pessoal contra o credor que
ajuizou a ação. Entretanto, tem surgido na doutrina processualista, entendimento de que a
parte final do art. 274 do CC não tem sentido. De fato, segundo Fredie Didier Jr:
Com este mesmo posicionamento, José Carlos Barbosa Moreira. A interpretação proposta
pelo primeiro processualista citado é a seguinte: se o credor vai a juízo e ganha, essa
decisão beneficiará os demais credores, salvo se o devedor tiver exceção pessoal que
possa ser oposta a outro credor não participante do processo, pois em relação àquele que
promoveu a demanda o devedor nada mais pode opor.
Hipótese corriqueira de solidariedade ativa surge em contratos bancários de conta conjunta.
Também há casos (raros) de solidariedade ativa por força de lei, a exemplo dos arts. 2° da
Lei 8245/91 (Lei do Inquilinato: Art. 2º Havendo mais de um locador ou mais de um locatário,
entende - se que são solidários se o contrário não se estipulou) e 12 da Lei 209/48.
Solidariedade Ativa
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. DANO MORAL. CONTA CONJUNTA. CHEQUE
EMITIDO POR UM DOS CORRENTISTAS. INSCRIÇÃO EM SERVIÇOS DE
PROTEÇÃO AO CRÉDITO. Tratando-se de conta conjunta, tão-só o emitente
da cártula pode ser responsabilizado pelo débito, uma vez que a conta
corrente estabelece solidariedade ativa entre seus titulares apenas perante o
banco, mas não diante de terceiros. A solidariedade de que trata o artigo 51,
da Lei 7.357/51, é de todos os correntistas, mas apenas quanto à instituição
bancária, pois as cláusulas ue regem o contrato de conta corrente são “res
inter alios”. Precedentes deste Tribunal e do STJ. Dano moral ¿in re ipsa¿.
Apelações desprovidas.
(APELAÇÃO CÍVEL Nº 70010396059, QUINTA CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DO RS, RELATOR: UMBERTO GUASPARI SUDBRACK, JULGADO
EM 17/02/2005)
Obs.: Estatuto do Idoso – traz hipótese de solidariedade legal entre filhos na obrigação de
prestar alimentos aos pais enquadrados nas regras do estatuto. Ex.: 3 filhos – pode cobrar
alimentos de um só deles, ficando este com direito de regresso em relação aos demais,
observado o binômio necessidade/possibilidade.
118
Direito Civil 2016 119
O devedor que for demandado poderá opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais
e, bem assim, as defesas que forem comuns a todos os devedores. Não lhe aproveita,
contudo, as defesas pessoais de outro devedor.
Saliente-se ainda que se o credor aceitar o pagamento parcial de um dos devedores, os
demais só estarão obrigados a pagar o saldo remanescente. Da mesma forma, se o credor
perdoar a dívida em relação a um dos devedores solidários, os demais permanecerão
vinculados ao pagamento da dívida, abatida, por óbvio, a quantia relevada (art. 277).
Destaque-se que a hipótese é de remissão ou pagamento de parte da dívida, e não
simplesmente de exclusão do devedor solidário, pelo seu não-acionamento, o que é direito
potestativo do credor, ultima ratio (processualmente, esta última afirmação é relativizada
pela figura do chamamento ao processo13 ).
Quanto à responsabilidade dos devedores solidários, se a prestação se impossibilitar por
dolo ou culpa de um dos devedores, todos permanecerão solidariamente obrigados ao
pagamento do valor pelo equivalente. Entretanto, pelas perdas e danos só responderá o
culpado (art. 279). Na solidariedade ativa a situação é diferente, mantendo-se a
solidariedade também pelas perdas e danos.
Diferentemente do que ocorre com a obrigação indivisível, todos os devedores solidários
sempre respondem pelo débito, mesmo não havendo descumprimento por parte de um ou
de alguns. Dessa forma, a solidariedade quanto ao valor da dívida permanece em todos os
casos. Porém, quanto às perdas e danos somente será responsável o devedor que agiu
com culpa estrita (imprudência, negligência, imperícia) ou dolo (intenção de
descumprimento).
Não se deve esquecer que, apesar de as obrigações solidárias estarem dirigidas à
satisfação do mesmo interesse, são obrigações distintas, no sentido que cada uma delas
pode ser apreciada isoladamente no tocante aos requisitos de existência, validade e
eficácia.
Nítida autonomia das obrigações dos devedores solidários é evidenciada no parágrafo
único do art. 333 do CC, ao afastar-se o vencimento antecipado do débito dos co-devedores
solventes na hipótese de insolvência de um deles.
Como ocorre com a solidariedade ativa, no caso de falecimento de um dos devedores
solidários, cessa a solidariedade em relação aos sucessores do de cujus, eis que estes
somente serão responsáveis até os limites de seus quinhões correspondentes (salvo se
obrigação for indivisível). Mas veja que o próprio artigo 276 estabelece que todos os
herdeiros reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais
devedores. Assim, há que se distinguir a situação antes e depois da partilha. Proposta a
ação de cobrança pelo credor antes da partilha, responde o monte pela dívida, não se
aplicando o dispositivo em exame, já que todos os herdeiros se encontram reunidos em
condomínio forçado. A regra incidirá, contudo, se já concluída a sucessão hereditária, cada
herdeiro ficando então obrigado pela sua parte.
Além da tradicional solidariedade derivada de negócio jurídico, várias situações de
coresponsabilidade resultam de disposição expressa em lei, como, v.g., o disposto nos art.
13
Mas há setores abalizados da doutrina processualista que procuram interpretar o instituto processual do
chamamento ao processo de forma a não aniquilar o instituto civil da solidariedade. Assim, segundo Nelson Nery Jr,
“Chamamento ao processo é a ação condenatória exercida pelo devedor solidário que, acionado sozinho para responder
pela totalidade da dívida, pretender acertar, na ação secundária de chamamento, a responsabilidade do devedor
principal ou dos demais co-devedores solidários, estes na proporção de suas quotas (...) Em suma, não se pode misturar
a ação principal com a secundária de chamamento ao processo. Com isso resguarda-se o instituto da solidariedade,
propiciando que o credor cobre de apenas um dos co-devedores solidários (o que ele, credor, escolheu para pagar) a
totalidade da dívida, como fora de sua vontade ao mover ação contra apenas um deles, mas facilita-se a situação
daquele que pagar, que pode reaver dos demais co-devedores suas cotas de responsabilidade conforme fixado na
sentença. Assim, dá-se ao processo o seu verdadeiro papel de instrumento de realização do direito material.” (Código de
Processo Civil Comentado, 9ª edição, 2006).
119
Direito Civil 2016 120
120
Direito Civil 2016 121
não lhe são aplicáveis disposições legais cabíveis à fiança, o que afasta a
necessidade da outorga uxória. Precedentes citados: REsp 6.268-MG, DJ
20/5/1991, e REsp 3.238-MG, DJ 19/11/1990. REsp 538.832-RS, Rel. Min. Carlos
Alberto Menezes Direito, julgado em 10/2/2004. Terceira Turma– Informativo
198. O TJMG e TJSP entendem que a nomenclatura adotada é irrelevante,
sendo na verdade um avalista “Ao anuir aos termos do contrato de mútuo,
concordou o avalista em figurar como garantidor solidário da dívida, sendo
irrelevante se o contrato o intitula como avalista ou como fiador”.
121
Direito Civil 2016 122
Por fim, impende salientar que é possível a retratação do devedor, desde que prove que
incorreu em erro substancial, ignorando que a prestação era alternativa.
De fato, a grande maioria da doutrina (Álvaro Villaça Azevedo, Maria Helena Diniz, Sílvio
de Salvo Venosa, Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias), interpretando o § 2º de
acordo com o caput do art. 263 (“Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se
123
Direito Civil 2016 124
resolver em perdas e danos”), afirma que, havendo perda da prestação por culpa de apenas
um dos devedores, não há isenção ou redução da responsabilidade dos demais, que, de
maneira divisível, respondem pelo equivalente e só o culpado, pelas perdas danos. Nesse
sentido, Sílvio de Salvo Venosa afirma: “mas pelo valor da prestação, evidentemente,
responderão TODOS” (Direito Civil, v. 2, 11ª ed. São Paulo: Atlas, p. 108). No entanto,
Flávio Tartuce pontua:
124
Direito Civil 2016 125
caracterize enriquecimento sem causa do credor, eis que apenas a exigibilidade está
suspensa.
125
Direito Civil 2016 126
No que se refere ao devedor, não é necessária sua participação ou concordância para que
a cessão seja válida, mas a mesma não terá eficácia se o devedor dela não for notificado.
Essa notificação pode ser judicial ou extrajudicial, admitindo-se, inclusive, a notificação
presumida, a qual ocorre quando o devedor, em escrito público ou particular, declara-se
ciente da cessão feita (aplicação do princípio da boa fé objetiva e teoria dos atos próprios –
venire contra factum proprium). Admite-se, também, que a citação inicial para a ação de
cobrança equivale à notificação, produzindo os mesmos efeitos.
Ressalte-se, no entanto, que conforme exposto por Mário Luiz Delgado:
Conforme disposto no artigo 294 do CC, o devedor só poderá alegar contra o cessionário
as defesas que tinha contra o cedente à época da notificação da cessão, jamais as
incorporadas posteriormente. Além disso, deverá alegá-las no momento em que é
notificado, sob pena de preclusão. Já as defesas pessoais contra o cessionário, poderão
ser alegadas a qualquer tempo. A razão de ser dessa norma reside no fato de que a cessão
não poderia tornar os direitos do cessionário mais amplos, podendo o devedor opor as
exceções justamente para impedir a utilização da cessão como expediente para obter
favorecimento indevido.
Vale notar que se tratou aqui das exceções pessoais, pois as referentes ao crédito podem
ser invocadas a qualquer tempo, tanto contra o cedente como contra o cessionário. Isto
porque o crédito mantém-se inalterado com a transmissão da obrigação, que opera apenas
do ponto de vista subjetivo.
O cedente é responsável pela existência do crédito ao tempo que cedeu, sendo tal
existência não apenas a material, mas aquela em condições de permitir ao adquirente desse
crédito o exercício dos direitos de credor (vez que o crédito pode ser, por exemplo, de difícil
ou impossível cobrança: devedor que mora em país que não cumpre carta rogatória do
Brasil). Mas em se tratando de cessões gratuitas, o cedente só terá responsabilidade pela
existência do crédito se tiver agido de má-fé. É a chamada garantia de direito.
126
Direito Civil 2016 127
No que se refere à solvência do devedor, não estará o cedente, em regra, responsável pela
liquidação do crédito, a menos que tenha agido com má-fé, induzindo o cessionário a
celebrar o negócio já ciente da insolvência do devedor. Portanto, para o Direito Civil
brasileiro, a cessão de crédito é pro soluto. Mas nada impede que as partes venham a
consignar essa responsabilidade, chamada pela doutrina de garantia simplesmente de fato.
De qualquer forma, o cedente não responderá, neste caso, por mais do que do cessionário
recebeu, acrescido dos respectivos juros, despesas da cessão e gastos por estes
despendidos com a cobrança do crédito. Havendo previsão de responsabilidade pela
solvência do crédito no instrumento obrigacional, a cessão é denominada pro solvendo.
Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os seus
acessórios, como no caso de juros, da multa e das garantias em geral (artigo 287, CC). A
cessão desses acessórios é caso de cessão legal. Estabelece o artigo 292 do CC que:
Ou seja, no caso de mais de uma cessão notificada, o devedor deve pagar ao cessionário que se
apresenta munido do instrumento da cessão e do crédito, mas quando o crédito constar de
documento público prevalecerá a prioridade da notificação. Observe-se, outrossim, que como a
citação supre a notificação, uma vez demandado judicialmente pelo cessionário, o devedor não
poderá efetuar pagamento válido ao devedor primitivo.
Finalmente, não se pode deixar de mencionar que não há, na cessão, a extinção do vínculo
obrigacional, razão pela qual deve a mesma ser diferenciada em relação à sub-rogação e
à novação, formas especiais de pagamento. As diferenças são expostas de forma clara no
quadro a seguir:
127
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128
Direito Civil 2016 129
Em verdade, neste caso deveria ser dispensada a anuência do credor, pois sua
segurança reside muito mais na garantia em si do que na pessoa do devedor.
Essa regra foi inserida com uma finalidade social, qual seja, facilitar o acesso dos
indivíduos aos bens imóveis, já que quando alguém transfere uma dívida decorrente da
aquisição de imóvel, quer, na verdade, transferir o imóvel que está hipotecado para garantia
do pagamento da dívida, para que outra pessoa assuma o financiamento.
Mas, em que pese bem intencionada, a norma trouxe um problema de conflito de
leis: as dívidas para aquisição da casa própria normalmente são feitas por meio do SFH,
regulado pela Lei 8004/90, a qual estabelece a exigência de anuência expressa do agente
financeiro (credor hipotecário – banco), que fará um refinanciamento para o novo devedor.
Daí surge a dúvida: será que o artigo 303 revogou o disposto na Lei 8004/90, em relação a
essa exigência de anuência expressa? Prevalece na jurisprudência que não revogou, na
medida em que a Lei 8004/90 trata de uma regra ainda especial em relação este dispositivo
(art. 303, CC), pois regula a assunção de dívida para aquisição de imóvel por meio do SFH.
Ressalte-se que conforme exposto no Enunciado 16 do CJF:
Assim, nos termos do enunciado citado, são possíveis duas situações na assunção
cumulativa ou co-assunção: (i) dois novos devedores se responsabilizam pela dívida ou (ii)
o antigo devedor continua responsável, em conjunto com o novo devedor.
Entretanto, ficará sem efeito a exoneração do devedor primitivo se ao tempo da assunção
o novo devedor era insolvente e o credor o ignorava.
Segundo o CC, com a assunção, consideram-se extintas as garantias especiais
originariamente dadas pelo devedor primitivo ao credor, sendo consideradas como tais
aquelas que não são da essência da dívida e que foram prestadas em atenção à pessoa
do devedor, como por exemplo, a fiança, o aval, a hipoteca de terceiro. Neste caso, só
subsistirão com a concordância expressa do devedor primitivo e, em alguns casos, também
do terceiro que houver prestado a garantia. Já quanto às garantias reais prestadas pelo
próprio devedor originário, entende parte minoritária da doutrina (Maria Helena Diniz, por
exemplo) que não são atingidas pela assunção, a não ser que o credor abra mão delas
expressamente. Há certa controvérsia acerca das garantias legais, mas, considerando que
costumam ser impostas em razão de uma tutela específica do credor, sua permanência pós
a assunção parece em harmonia com sua função (Luiz Roldão de Freitas Gomes).
Para esclarecer o teor do dispositivo, na IV Jornada de Direito Civil foi aprovado o
Enunciado n. 352, prevendo que:
Ato contínuo de explicação, na V Jornada de Direito Civil foi aprovado o seguinte enunciado:
“A expressão ‘garantias especiais’ constantes do artigo 3 do 2 2 re ere-se
a todas as garantias, quaisquer delas, reais ou fidejussórias, que tenham sido
prestadas voluntária e originariamente pelo devedor primitivo ou por terceiro,
vale dizer, aquele que dependeram da vontade do garantidor, devedor ou
terceiro, para se constituírem” (Enunciado n. 422).
129
Direito Civil 2016 130
De acordo com o art. 301 do CC, se anulada a assunção de dívida, restaura-se o débito
com relação ao devedor primitivo, com todas as suas garantias, salvo aquelas prestadas
por terceiros, exceto se o terceiro conhecia o vício da obrigação.
O art. 301 também tem incidência para os negócios nulos, sendo esse o sentido de
enunciado aprovado na V Jornada de Direito Civil:
Apesar de não ser regulamentada em lei, a cessão de contrato tem existência jurídica como
negócio jurídico atípico. De fato, a mesma pode enquadrar-se no artigo 425 da atual
codificação, segundo o qual “É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as
normas gerais fixadas neste Código”.
A cessão de contrato pode ser conceituada como sendo a transferência da inteira posição
ativa ou passiva da relação contratual, incluindo o conjunto de direitos e obrigações de que
é titular uma pessoa. Por conseguinte, por intermédio deste negócio jurídico, há o ingresso
de um terceiro no contrato-base, em toda titularidade de relações que envolvia a posição
do cedente no citado contrato.
Para que a cessão de contrato seja válida, é necessária a autorização do outro contratante,
como ocorre com a cessão de débito, vez que a posição de devedor é cedida com o
contrato. Essa forma de transmissão ocorre, em regra, em contrato de duração, como
contratos de cessão de locação, contratos de fornecimento ou de financiamento.
“Contrato de gaveta”. Exemplo prático muito comum da cessão de contrato diz respeito aos
chamados “contratos de gaveta”, que são aqueles de incorporação imobiliária em que o
comprador cede a sua posição contratual a outrem, sem a ciência ou concordância do
vendedor. A jurisprudência sempre se mostrou dividida quanto à validade ou não desta
cessão contratual, mas em 2005 o Superior Tribunal de Justiça entendeu pela legitimidade
do cessionário, a quem foi transferido o contrato de gaveta, em requerer a revisão de
financiamento efetuado pelo Sistema Financeiro de Habitação (Resp. 705.231/RS, Rel. Min.
Eliana Calmon, DJU de 16.05.05).
Em 2009 o STJ deu outro tratamento à questão:
130
Direito Civil 2016 131
O terceiro dito interessado corresponde à pessoa que tem interesse patrimonial na extinção
da dívida, como o fiador, o avalista e o adquirente de imóvel hipotecado. Havendo o
pagamento por essa pessoa, há sub-rogação automática ( sub-rogação legal) nos direitos
do credor, com a transferência de todas as ações, exceções e garantias que detinha o
credor primitivo.
No que se refere ao terceiro não interessado, não tem o mesmo interesse jurídico na
solução da dívida, mas mero interesse moral ou econômico. O terceiro não interessado tem
direito de reembolso do que pagar, se o fizer em seu próprio nome, mas não se sub-roga
nos direitos do credor. Assim, se este terceiro fizer o pagamento em nome e em conta do
devedor, sem oposição deste, não terá direito a nada, pois é como se fizesse uma doação,
um ato de liberalidade. Observe-se que o Código fala em direito a pagamento pelo terceiro
não interessado salvo oposição do devedor. A questão é controvertida, havendo
entendimento na doutrina de que há inoperância da oposição do devedor, se o credor
desejar receber (Washington de Barros); e outro de que a referida recusa não só tem efeito
de impedir o pagamento, como pode ter razões morais ou jurídicas (Pablo Stolze e Rodolfo
Pamplona). A solução, contudo, deve levar em conta os interesses em conflito, do credor,
do devedor, e do terceiro que pretende realizar o pagamento, de modo a verificar se é
merecedora de tutela a recusa manifestada pelo devedor e pelo credor. Em qualquer
hipótese, deve-se atentar para o disposto no artigo 306 do CC, in verbis:
ratificado pelo credor; (ii) se reverter em proveito do credor ou (iii) feito a credor putativo.
Em qualquer hipótese, deve ser feito a pessoa capaz de fornecer a devida quitação, sob
pena de não valer. A quitação sempre poderá ser dada por instrumento particular.
No que se refere ao pagamento feito ao credor putativo, a lei condiciona a eficácia da solutio
a dois requisitos: ter o accipiens a aparência de verdadeiro credor (Exemplos: herdeiro
aparente, procurador cujo mandato foi revogado sem conhecimento de terceiros, o herdeiro
que vem a ser afastado por indignidade, etc) e estar o solvens de boa-fé.
Ainda, no que se refere ao pagamento feito a menor, o Código fala em “pagamento
cientemente feito ao credor incapaz de quitar”, donde se conclui que “se o solvens
desconhecia, sem culpa, a incapacidade do credor, o cumprimento será válido, ainda que
o accipiens tenha dissipado ou malbaratado a prestação” (Antunes Varela).
Estabelece o artigo 311 que:
A lei fixa, portanto, a presunção juris tantum de que o portador da quitação seja autorizado
a receber o pagamento, salvo se as circunstâncias afastarem a presunção relativa deste
mandato tácito (como por exemplo, constar na quitação assinatura aparentemente
falsificada).
Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora sobre o crédito, ou da
impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que
poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra
o credor.
Extrai-se dessa regra legal, o princípio do nominalismo (ver item acima: “obrigações de dar
dinheiro).
133
Direito Civil 2016 134
O parágrafo único inovou ao estabelecer que mesmo sem os requisitos a quitação fará
prova, se do instrumento constar informações suficientes para identificar o que pagou.
Enunciado 18 do CJF:
“a ‘ uitação regular’, re erida no art. 319 do novo ódigo ivil, engloba a uitação
dada por meios eletrônicos ou por uais uer ormas de ‘comunicação à
distância’, assim entendida aquela que permite ajustar negócios jurídicos e
praticar atos jurídicos sem a presença corpórea simultânea das partes ou de
seus representantes”.
Artigo 323. Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes
presumem-se pagos.
- Entrega do título, que já estava previsto no CC/16, e consiste na presunção inferida pela
posse do devedor do título:
No que se refere à última hipótese de presunção, surge uma dúvida se confrontada com o
disposto no artigo 386 do CC, o qual prevê que:
134
Direito Civil 2016 135
Artigo 329. Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no
lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o
credor.
Caso as partes não acordem quanto a este prazo, o juiz deverá fazê-lo.
Não pode o credor reclamar pagamento no último dia do prazo, pois o devedor dispõe desse
dia por inteiro.
O estabelecimento de prazo tem a presunção de que foi feito em benefício do devedor.
Desta forma, o devedor poderá fazer o pagamento antecipado, havendo, inclusive, regra
expressa no CDC, com o abatimento dos valores referentes à antecipação. Todavia, não
se pode esquecer que excepcionalmente, o prazo pode ser estabelecido em favor do credor.
A regra de que a obrigação deve ser cumprida no vencimento, sofre, entretanto, duas
exceções: uma relativa à antecipação do vencimento, nos casos expressos em lei; outra,
referente ao pagamento antecipado, quando o prazo houver sido estabelecido em favor do
devedor.
Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no
contrato ou legalmente estabelecido no caso de falência do devedor, ou de concurso de
credores; se os bens hipotecados ou empenhados forem penhorados em execução por
outro credor e ainda quando se tornarem insuficientes as garantias do débito e o devedor
se negar a reforçá-las. Registre-se que, nos casos citados, se houver, no débito,
solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos outros devedores solventes.
Obs.: pagamento antecipado – juros remuneratórios – natureza jurídica de frutos civis –
direito a abatimento no preço, pois o período de privação do capital será menor (proibição
de enriquecimento sem causa).
4.6.2 Extinção das Obrigações sem Pagamento
O pagamento traduz o fim natural de toda obrigação. Todavia, existem outras formas
especiais de extinção das obrigações, as quais a doutrina costuma chamar de pagamentos
especiais ou indiretos. Nesses casos, o devedor se eximirá de responsabilidade, embora
nem sempre o crédito haja sido plenamente satisfeito, a exemplo da remissão. Conclui-se,
portanto, que a extinção da obrigação não necessariamente significará satisfação do credor.
Enumerando as formas especiais de pagamento, temos: 1) consignação em pagamento; 2)
pagamento com sub-rogação; 3) imputação do pagamento; 4) dação em pagamento; 5)
novação; 6) compensação; 7) transação; 8) compromisso (arbitragem); 9) confusão e 10)
remissão.
Ressalte-se que a transação e o compromisso não são mais elencados no CC/2002 como
formas de extinção das obrigações, tendo este destacado sua natureza jurídica como formas contratuais.
Serão tratados no Ponto 06.
I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar
quitação na devida forma;
136
Direito Civil 2016 137
Nessa hipótese, é necessário que tenha havido oferta real, efetiva, incumbindo ao autor
prová-la, bem como a recusa injustificada do credor. A este incumbe, ao contrário, o ônus
de provar a existência de justa causa para a recusa.
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos;
A regra geral no ordenamento jurídico, no que diz respeito ao lugar de pagamento das
obrigações, é a de que este deve ser feito no domicílio do devedor. Se o credor não
comparecer ou mandar terceiro para exigir a prestação, isso não afasta, por si só, o
vencimento e a exigibilidade da dívida, pelo que se autoriza a consignação do devido.
Este inciso comporta várias situações fáticas distintas. Em relação ao incapaz, este nunca
pode mesmo receber, em razão de sua condição, devendo o pagamento ser feito ao seu
representante.
Se este estiver impossibilitado, pode ser feita a consignação. Outra situação é se o credor
se tornar desconhecido, o que ocorre, v.g., se o credor vier a falecer, não se sabendo quem
são seus efetivos herdeiros. A ausência, por sua vez, é situação fática, qualificada
juridicamente como morte presumida, em que alguém desaparece, sem deixar notícias de
seu paradeiro ou representante para administrar-lhe os bens. Nesse caso, sem saber a
quem pagar, pode o devedor realizar a consignação, se o curador não tiver poderes para
oferecer quitação.
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do
pagamento;
Exemplo dessa hipótese vem descrito no art. 345 do CC, in verbis: “Se a dívida se vencer,
pendendo litígio entre credores que se pretendem mutuamente excluir, poderá qualquer
deles requerer a consignação”. Assim, exonera-se o devedor, pouco importando qual dos
credores seja reconhecido como o detentor legítimo do direito creditório. Esta hipótese
contida no artigo 345 é a única em que o credor, e não o devedor, pode tomar a iniciativa
da consignação.
138
Direito Civil 2016 139
em pagamento, se ainda não provocou conseqüências irreversíveis, pois tal ação pode ser
usada tanto para prevenir como para emendar a mora.14
Possibilidade de levantamento do depósito pelo devedor. A possibilidade de
levantamento do depósito pelo devedor depende do momento em que este pretender
realizar tal ato, buscando retornar as coisas ao status quo ante. Assim, temos:
a) antes da aceitação ou impugnação do depósito: nesse momento, tem o devedor total
liberdade para levantar o depósito, uma vez que a importância ainda não saiu do seu
patrimônio jurídico. Dispõe o art. 338: “enquanto o credor não declarar que aceita o
depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as
respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as conseqüências de direito”.
b) depois da aceitação ou impugnação do depósito pelo credor: o depósito só poderá ser
levantado com a anuência do credor, que perderá a preferência e a garantia que lhe
competia sobre a coisa consignada, com liberação dos fiadores e co-devedores que não
tenham anuído (art. 340).
c) julgado procedente o depósito: o devedor já não poderá levantá-lo, ainda que o credor
consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores (art. 339).
Consignação de coisa certa e de coisa incerta. Embora a maioria esmagadora das
situações de consignação em pagamento envolva obrigações pecuniárias, a sua disciplina
não se limita a elas. Nesse caso, na forma do art. 341 do CC,
“se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que deva ser entregue no mesmo
lugar onde está, poderá o devedor citar o credor para vir ou mandar recebê-la,
sob pena de ser depositada”.
Obviamente, só não cabe a consignação nas obrigações de fazer ou não fazer, pois o
próprio art. 334 refere-se ao depósito de coisa devida, e não da atividade ou abstenção
devidas.
Todavia, se a coisa for incerta, é preciso se proceder à sua certificação, pela operação
denominada “concentração do débito” ou “concentração da prestação devida”. Quando a
escolha cabe ao devedor, nenhum problema se dará, pois é ele que pretende ofertar o
pagamento. Caso a escolha caiba ao credor, deve ele ser citado para tal fim, sob cominação
de perder o direito e de ser depositada a coisa que o devedor escolher. Nesse sentido,
dispõe o art. 894 do CPC:
14
“CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO – PRESTAÇÕES DEVIDAS AO SFH (CEF) – PURGAÇÃO DA MORA –
TEMPESTIVIDADE – ART. 974 DO CC. 1 .
O devedor não está obrigado a consignar, podendo exercitar o direito sob o timbre da conveniência, ‘enquanto o credor não haja
diligenciado para se livrar das conseqüências do retardamento’ (‘mora creditoris’). 2. A consignação pode abranger inclusive os casos
de ‘mora debitoris’, servindo para purgá-la. Divisada a mora do credor, irrelevante a questão temporal, pela permanência da recusa”
(RESP 1426 – MS – REL. MIN. ATHOS CARNEIRO).
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Direito Civil 2016 140
O prazo de 10 dias deve ter seu termo inicial a partir da data em que foi efetivamente
cientificado o credor, e não do retorno do aviso de recebimento.
A hipótese de recusa está prevista no §3° do art. 890, que determina que esta deve ser
manifestada por escrito ao estabelecimento bancário. Entende-se que a fixação do prazo
de 30 dias constitui somente uma limitação temporal para ser considerada elidida a mora,
na hipótese de haver recusa, eis que não se pode tolher, inconstitucionalmente, o acesso
ao Judiciário.
Em resumo, na consignação extrajudicial, o silêncio do credor caracterizará a aceitação do
depósito; a inércia do devedor, não promovendo a ação no prazo, a sua mora.
Consignação judicial em pagamento. A competência territorial para julgar a ação de
consignação continua se dando pelo local indicado para ser procedido ordinariamente o
adimplemento da obrigação (art. 891 do CPC). Saliente-se, porém, que tratando-se de ação
140
Direito Civil 2016 141
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Direito Civil 2016 142
É o que ocorre no caso do fiador ou ainda quando um dos devedores solidários paga a
dívida comum. Vale salientar que o terceiro não interessado que paga a dívida em seu
próprio nome tem direito a reembolsar-se, embora não se sub-rogue nos direitos do credor.
Pagamento com sub-rogação convencional.
Art. 347. A sub-rogação é convencional (A outro giro, a sub-rogação
convencional resulta do pagamento do débito por parte do terceiro
desinteressado):
I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe
transfere todos os seus direitos;
Conforme acima mencionado, a lei determina neste caso a aplicação analógica das regras
de cessão.
II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para
solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos
direitos do credor satisfeito.
satisfazer ambos (art. 351). A sub-rogação, sob o vértice processual, caracteriza-se pela
proposição de uma ação regressiva do sub-rogado contra o devedor. Encontra guarida nos
institutos da denunciação da lide e do chamamento ao processo.
Indaga a doutrina sobre a possibilidade de ampliar este rol de vícios, concluindo, todavia,
pela sua taxatividade, privilegiando-se a interpretação restritiva dos comportamentos
expressamente reprovados pelo dispositivo.
Sendo omissa a quitação, serão imputadas as regas da imputação legal. Fazendo a
interpretação conjunta dos arts. 354 e 355, podemos estabelecer a seguinte ordem
preferencial:
143
Direito Civil 2016 144
Por tais razões, o art. 1422 do CC particulariza a excussão judicial da coisa (ou extrajudicial
na alienação fiduciária), como forma de o credor recuperar o valor do empréstimo, em caso
de inadimplência.
Requisitos: a) a existência de uma dívida vencida; b) o consentimento do credor; c) a
entrega de coisa diversa da devida; d) o ânimo de solver.
É preciso ainda que o bem seja dotado de “existência atual”, pois se a prestação “versar
sobre coisa de existência futura, ou se for um compromisso de entregar coisa no futuro,
implicará a criação de uma obrigação, sem caráter de pagamento, e terá como efeito ou a
realização de uma novação, se a primitiva obligatio ficar extinta, ou em uma obrigação
paralela, se aquela subsistir até a execução da nova”.
O artigo 357 do CC estabelece que:
144
Direito Civil 2016 145
4.6.7 Novação.
É a constituição de uma obrigação nova, em substituição de outra que fica extinta. Seu
principal efeito é a extinção da dívida primitiva, com todos os acessórios e garantias, sempre
que não houver estipulação em contrário. Tinha grande prestígio no Direito Romano, pois
dentre eles vigia a regra da intransmissibilidade das obrigações. Com a novação, o devedor
exonera-se sem cumprir a obrigação, enquanto o credor adquire um novo crédito, em
substituição ao antigo. É modo extintivo não satisfatório. O que se deve salientar é que toda
novação tem natureza jurídica negocial. Ou seja, por princípio, nunca poderá ser imposta
por lei. Nesse sentido, podemos afirmar não existir, em regra, novação legal. Há
entendimento de que o artigo 59 da Lei de Falência é exceção a essa vedação à novação
legal.
Requisitos.
a) Consentimento: para que seja válido, reclama-se não só a capacidade genérica, como
a específica para o ato;
b) Existência da antiga obrigação: inclusive, se a obrigação for nula ou estiver extinta, não
pode ser novada. A anulável, contudo, pode ser confirmada pela novação. Nada impede a
novação de uma obrigação natural por outra que não o seja (obrigação civil) e vice-versa;
c) A criação de uma nova obrigação válida, substancialmente diversa da primeira: é
preciso que haja diversidade substancial entre a obrigação antiga e a nova. Em outras
palavras, o conteúdo da obrigação há que ter sofrido modificação substancial, mesmo que
o objeto da prestação não haja sido alterado (se houver alteração de partes, por exemplo,
poderá ser reconhecida a diversidade substancial necessária para se caracterizar a
novação, mesmo que o objeto da obrigação permaneça o mesmo). Aliás, simples
145
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Efeitos da novação:
O principal efeito é o liberatório, ou seja, a extinção da primitiva obrigação, por meio
de outra, criada para substituí-la;
Extingue os acessórios e as garantias da dívida, a não ser que haja aquiescência do
terceiro fiador ou proprietário dos bens dados em garantia (Súmula 214 do STJ: “o
fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual
não anuiu”); Importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso como
devedor principal (art. 366)
Se a obrigação é solidária, a novação concluída entre o credor e um dos devedores
exonera os demais, subsistindo as preferências e garantias do crédito novado
somente sobre os bens do devedor que contrai a nova;
Se a solidariedade for ativa, extingue-se a dívida perante os demais credores,
devendo estes se entender com o credor operante;
Se ela for indivisível, pela impossibilidade da prestação parcial, a novação acaba
beneficiando os demais devedores;
No caso de novação objetiva, o perecimento do objeto não dá ao credor o direito de
perseguir o da antiga;
A anulabilidade oponível à antiga obrigação não cabe após a novação (na verdade,
um dos principais préstimos da novação é justamente confirmar obrigações
anuláveis).
4.6.8 Compensação.
É uma forma de extinção das obrigações, quando duas pessoas forem, reciprocamente,
credoras e devedoras.
Espécies: a) legal; b) convencional; c) judicial (exemplo: art. 21 do CPC).
a) Compensação legal: é aquela que decorre de lei e independe de convenção entre os
sujeitos da relação obrigacional, operando-se mesmo que uma das partes não queira a
extinção das dívidas. Para que ocorra a compensação legal, é necessário que sejam
preenchidos os seguintes requisitos:
1. Dualidade de obrigações entre as mesmas partes: Exceção: art. 371 do CC (o fiador
pode compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado);
2. Fungibilidade das prestações: mas não basta que sejam do mesmo gênero, é
necessária, ainda, a identidade de espécie e qualidade, de modo que possam substituir-se
uma à outra (fungibilidade entre si). Como exemplo, a jurisprudência já manifestou-se no
sentido da impossibilidade de compensar os créditos de indenização (pensionamento)
decorrente do acidente de trânsito com o que a vítima há de perceber em razão de sua
vinculação a sistema previdenciário ou securitário (STJ, RESp 61.303, Rel. Nilson Naves,
DJ 04.09.00) e do saldo em conta corrente bancária com créditos da instituição financeira
(STJ, Resp 192.195, Min. Ari Pargendler, 13.05.02). Controverte-se acerca da possibilidade
de compensação de obrigações de fazer fungíveis: prevalece a tese da negativa (CC fala
em compensação de coisas).
147
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d) Possível renúncia de um dos devedores à compensação, que deve ser prévia. Aliás,
é lícito aos interessados ajustarem compensação fora dos requisitos legais,
operando a extinção recíproca de obrigações ilíquidas, por exemplo, (compensação
convencional – espécie de transação).
O art. 337 dispõe que a diferença de causa não impede a compensação, com exceção
das situações descritas nos seus incisos de I a III. Assim, são hipóteses de
impossibilidade de compensação:
(a) provenientes de esbulho, furto ou roubo;
(b) se uma delas originar-se de comodato, depósito (exceto o depósito irregular) ou
alimentos. O comodato e o depósito obstam a compensação por serem objeto de
contratos com corpo certo e determinado, inexistindo, a fungibilidade entre si;
(c) se uma delas for de coisa não suscetível de penhora;
(d) em relação às dívidas fiscais e parafiscais, a compensação passaria a ser regida
pelo disposto no CC. Entretanto, revogado o art. 374, restaura-se o regime do CC/1916,
pelo qual a compensação, em matéria tributária, poderia ser ressalvada pelas
Administrações Federal, Estadual e Municipal, com base em legislação especial. De
qualquer jeito, ressalve-se a legislação especial que permite a compensação
convencional entre o contribuinte e a Fazenda Pública (Leis 9.430/96 e Decreto
2.138/97), também chamada compensação administrativa, para aqueles casos em que
não seja possível a compensação legal. (Enunciado n. 19 da I Jornada de Direito Civil:
“a matéria da compensação no que concerne às dívidas fiscais e parafiscais de Estados,
do Distrito Federal e de Municípios não é regida pelo art. 374 do Código
Civil”);
(e) se a compensação se fizer em prejuízo de direitos de terceiro – ex: incidência
de penhora sobre o crédito, torna-o incompensável.
e) Havendo pluralidade de débitos compensáveis, aplicam-se as regras da imputação
em pagamento. Assim sendo, a impugnação caberá: 1) ao devedor; 2) ao credor; 3)
à lei – imputação legal (pela ordem: juros, dívida que venceu em primeiro lugar,
divida mais onerosa, imputação proporcional).
f) Por ser legal a compensação, não há cogitar da capacidade das partes.
g) Embora opere ipso iure, como é lícito ao devedor renunciar à compensação, ele
deverá opô-la em juízo (não é conhecível de ofício) através da exceptio
compensationes. Como opera ipso iure, a sentença que a reconhece opera efeitos
ex tunc.
h) Há duas importantes instituições mercantis fundadas no princípio da compensação:
a conta corrente e as câmaras de compensação.
4.6.9 Confusão
Ocorre quando as figuras do devedor e do credor se reúnem na mesma pessoa, extinguido-
se, conseqüentemente, a relação obrigacional. Pode derivar de sucessão mortis causa ou
ato inter vivos.
4.6.10 Remissão.
Ocorre a remissão de uma dívida quando o credor libera o devedor, no todo ou em parte,
sem receber pagamento. A remissão é o ato ou efeito de remitir, perdoar uma dívida. Não
se confunde com remição, ato ou efeito de remir, resgatar, que é instituto de direito
processual.
Seus requisitos são: a) ânimo de perdoar; b) agente capaz para alienar gratuitamente, além
da legitimação para dispor do crédito; c) aceitação do perdão;
- A remissão somente pode operar-se inter partes, não sendo esta admitida em
prejuízo de terceiros;
- A remissão distingue-se da doação, eis que nesta o doador transfere bens de
seu patrimônio para o donatário. É típico contrato de natureza gratuita e unilateral;
- O perdão pode ser expresso ou tácito, quando decorre de uma atitude do credor
incompatível com a conservação de sua qualidade creditória. Não se presume fora
dos casos admitidos em lei, nem a inatividade do credor permite induzi-lo. Um
exemplo é a entrega voluntária do título da obrigação quando por escrito particular
(mas lembre-se que, nos termos do artigo 324 do CC, a entrega de título de crédito
faz presumir o pagamento – não remissão -, tratando o artigo 386 de instrumentos
particulares ou contratos que traduzem dívidas). Atente-se que esta presunção é
relativa, podendo o credor provar a ausência de animus em remitir a dívida. Outro
caso é a remissão da garantia que se presume com a entrega do objeto empenhado
(a dívida remanesce, ficando quirografária). - A remissão apenas terá o caráter de
negócio jurídico unilateral quando efetuada em testamento, assemelhando-se a um
verdadeiro legado em prol do devedor;
- A remissão pode ser revogada unilateralmente, desde que não tenha ainda
gerado um direito contrário.
- O perdão não pode ser acompanhado de prestação do devedor, caso contrário
haverá, conforme o caso, dação em pagamento, transação ou mesmo novação, se
modificado o objeto (mas pode ser condicionado ou a termo).
- Somente as obrigações patrimoniais de caráter privado comportam perdão.
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É o caso do sujeito que, obrigando-se a não levantar o muro, realiza a construção, tomando-
se inadimplente a partir da data em que realizou a obra. Nessa última hipótese (obrigações
negativas), deve-se observar que o legislador de 2002 optou corretamente por inserir a
referida norma no capítulo dedicado às disposições gerais do Título IV (“Do Inadimplemento
das Obrigações”), e não no capítulo específico sobre a mora, como fazia a legislação
revogada.
Obs.: as obrigações negativas não dão ensejo a mora, mas somente ao inadimplemento
absoluto.
I. O inadimplemento culposo da obrigação. Conforme mencionado, o desfecho
normalmente esperado de uma obrigação dá-se por meio de seu adimplemento
(cumprimento) voluntário. Entretanto, pode ocorrer que a obrigação se frustre por culpa do
devedor, que deixa de realizar a prestação pactuada, impondo-se-lhe o dever de indenizar
a parte prejudicada. Nesse sentido o art. 389 do CC dispõe, expressamente, que
“Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais
juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente
estabelecidos, e honorários de advogado”.
O inadimplemento tratado pela norma do art. 389 é o denominado absoluto, ou seja, aquele
que impossibilita, total ou parcialmente, o credor de receber a prestação devida (ex.: a
destruição do cereal que seria entregue pelo devedor), convertendo-se a obrigação
principal, na falta de tutela jurídica específica, em obrigação de indenizar 16. O referido art.
16
A velha fórmula das “perdas e danos” não deve ser remédio para tudo. Aliás, a falta de concretude das normas jurídicas no
Brasil, aliada ao infindável número de recursos e instrumentos protelatórios albergados pelas leis processuais brasileiras, além de
incrementar o descrédito do Poder Judiciário, incentiva alguns devedores a descumprir a prestação convencionada, preferindo optar
pelas perdas e danos. Esse tipo de comportamento difundiu-se entre especuladores do mercado imobiliário, que, diante da
supervalorização do imóvel, que prometeram alienar ao promitente-comprador, em um compromisso irretratável e totalmente quitado,
optavam por indenizar a parte adversa, cientes de que poderiam vender o imóvel por valor muito superior à indenização paga. Isso se
não preferissem o litígio judicial, por confiarem na morosidade oxigenada pela lei brasileira. Essa situação só fora solucionada com a
edição do Decreto-Lei 58/1937, que permitiu, para as promessas irretratáveis de compra e venda registradas, integralmente quitadas,
em caso de recusa da outorga da escritura pelo promitente-vendedor, a adjudicação compulsória do bem, por meio de ação específica.
A moderna legislação processual civil seguiu a mesma tendência, qual seja, não dimensionar exageradamente as perdas e danos,
quando existirem meios específicos e mais satisfatórios de tutela, permitindo a execução específica mesmo no caso de a promessa não
estar registrada.
152
Direito Civil 2016 153
389 do CC é visto pela doutrina como a base legal da responsabilidade civil contratual, já a
responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana repousaria no art. 927 do CC. É de se
salientar, contudo, que muito embora a expressão responsabilidade contratual se tenha
estabelecido com sucesso, não é necessário que a obrigação cujo descumprimento lhe dá
azo tenha por fonte precisamente um contrato, podendo ela residir em outro negócio
jurídico, do qual decorram obrigações.
Quem infringe dever jurídico lato sensu fica obrigado a reparar o dano causado. Esse dever
passível de violação pode ter, assim, como fonte, tanto uma obrigação imposta por um
dever geral do direito ou pela própria lei, quanto por um negócio jurídico preexistente. O
primeiro caso caracteriza a responsabilidade civil aquiliana 22, enquanto o segundo, a
responsabilidade civil contratual. E quais as diferenças básicas entre essas duas formas de
responsabilização?
Três elementos diferenciadores podem ser destacados, a saber, a necessária preexistência
de uma relação jurídica entre lesionado e lesionante; o ônus da prova quanto à culpa; e a
diferença quanto à capacidade23. Com efeito, para caracterizar a responsabilidade civil
contratual, faz-se mister que a vítima e o autor do dano já tenham se aproximado
anteriormente e se vinculado para o cumprimento de uma ou mais prestações, sendo a
culpa contratual a violação de um dever de adimplir, que constitui justamente o objeto do
negócio jurídico, ao passo que, na culpa aquiliana, viola-se um dever necessariamente
negativo, ou seja, a obrigação de não causar dano a ninguém. Justamente por tal
circunstância é que, na responsabilidade civil aquiliana, a culpa deve ser sempre provada
pela vítima, enquanto, na responsabilidade contratual, ela é, em regra, presumida 24,
invertendo-se o ônus da prova, cabendo à vítima comprovar, apenas, que a obrigação não
foi cumprida, restando ao devedor o ônus probandi, por exemplo, de que não agiu com
culpa ou que ocorreu alguma causa excludente do elo de causalidade. O Enunciado n. 548,
da VI Jornada de Direito Civil (2013), expressa que, caracterizada a violação de dever
contratual, incumbe ao devedor o ônus de demonstrar que o fato causador do dano não lhe
pode ser imputado.
Como observa SÉRGIO CAVALIERI FILHO,
“essa presunção de culpa não resulta do simples ato de estarmos em sede de
responsabilidade contratual. O que é decisivo é o tipo de obrigação assumida
no contrato. Se o contratante assumiu a obrigação de alcançar um
determinado resultado e não conseguiu, haverá culpa presumida, ou, em
alguns casos, até responsabilidade objetiva; se a obrigação assumida no
contrato foi de meio, a responsabilidade, embora contratual, será undada na
culpa provada”25.
poderá, em tal hipótese, em virtude de evento não imputável à sua vontade, cumprir a
obrigação avençada.
22
“Onde se realiza a maior revolução nos conceitos jus-romanísticos em termos de responsabilidade civil é com a Lex Aquilia, de
data incerta, mas que se prende aos tempos da República. Tão grande revolução que a ela se prende a denominação de aquiliana para
designar-se a responsabilidade extracontratual em oposição à contratual. Foi um marco tão acentuado, que a ela se atribui a origem do
elemento ‘culpa’, como fundamental na reparação do dano” (Caio Mário da Silva Pereira, Responsabilidade Civil, 9. ed., Rio de Janeiro:
Forense, 2001, p. 3).
23 Sérgio Cavalieri Filho, Programa de Responsabilidade Civil, 2. ed., 3. tir., São Paulo: Malheiros
Ed., 2000, p. 197-9.
24
Como regra especial, registre-se a previsão do art. 392 do CC, pela qual nos “contratos benéficos, responde por simples culpa o
contratante, a quem o
contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça; nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as
exceções previstas em lei”.
154
Direito Civil 2016 155
Sem dúvida, esta é a mais freqüente espécie de mora. Ocorre quando o devedor retarda
culposamente o cumprimento da obrigação. Na hipótese mais comum, o sujeito se obriga a
pagar a quantia de R$ 100,00, no dia 15, e, chegado o vencimento, simplesmente não paga.
Interessante notar que, se a obrigação for negativa (não fazer) e o indivíduo realizar a
prestação que se comprometeu a não efetivar, não se poderá dizer ter havido mora, mas
sim inadimplemento absoluto. Por isso, fez bem o legislador de 2002, ao deslocar a regra
do art. 390 do CC26 para o capítulo dedicado às disposições gerais do Título IV (Do
Inadimplemento das Obrigações), retirando-a do capítulo específico sobre a mora, como
fazia a legislação revogada. É o caso do sujeito que, obrigando-se a não levantar o muro,
realiza a construção, incorrendo em inadimplência absoluta, e não simplesmente em mora,
a partir da data em que realizou a obra. Posto isso, com base no ensinamento de CLÓVIS
BEVILÁQUA, podemos apontar os seguintes requisitos da mora do devedor:
a) a existência de dívida líquida e certa
b) o vencimento (exigibilidade) da dívida
c) a culpa do devedor - não há mora sem a concorrência da atuação culposa do devedor.
Será visto à frente que esse raciocínio não se aplica bem à hipótese de mora do credor.
Mesmo se afirmando que o retardamento já firma uma presunção juris tantum de culpa, o
fato é que, sem esta, o credor não poderá pretender responsabilizar o devedor (art. 396 do
CC)27.
155
Direito Civil 2016 156
26 “Art. 390. Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente desde o dia em que executou o ato de que se devia abster”.
27
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. BUSCA E APREENSÃO. DEPÓSITO. É possível arredar a ‘mora solvendi’ se demonstrado, com
fundamentos
relevantes, que o credor fiduciário está cobrando encargos ilegais. Permanecendo o devedor fiduciante como depositário judicial do
bem, a garantia do credor fica reforçada. Agravo provido” (TJRS, j. 5-11-1998).
28
“CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO - MORA DO DEVEDOR. A mora do devedor não lhe retira o direito de saldar seu débito,
devendo o credor receber, desde que o pagamento se faça com os encargos decorrentes do atraso e a prestação ainda lhe seja útil. A
recusa injustificada de receber configura ‘mora accipiendi’, autorizando a consignatória” (3ª T., REsp 39.862/SP, Rel. Min. Eduardo
Ribeiro, j. 30-11-1993).
Ressalte-se que, nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em
mora desde que o praticou, na forma do art. 398 do CC.
A regra nos indica que, em caráter excepcional, o devedor poderá ser responsabilizado pela
impossibilidade da prestação, ainda que decorrente de caso fortuito ou de força maior.
156
Direito Civil 2016 157
Embora menos comum do que a mora do devedor, nada impede que o próprio sujeito
ativo da relação obrigacional, recusando-se a receber a prestação no tempo, lugar e forma
convencionados, incorra em mora. Trata-se da mora do credor.
O entendimento dominante é que a mora do credor prescinde da aferição de culpa.
Desde que não queira receber a coisa injustificadamente, isto é, no tempo, lugar e forma
que a lei ou a convenção estabelecer, sem razão plausível, o credor estará em mora, não
sendo necessário que o devedor demonstre a sua atuação dolosa ou culposa. Pode ocorrer,
entretanto, que o credor esteja transitoriamente impedido de receber, por fato plenamente
justificável, situação esta que, obviamente, não caracterizaria a sua mora. Esta somente se
configura quando a devedor faz uma oferta real, e não simplesmente uma promessa, nos
estritos termos da obrigação pactuada, e o credor, sem motivo justo ou aparente, recusa-
se a receber. Aí não importa se atuou com dolo ou culpa: recusando-se, está em mora.
Assim, pode-se concluir que os requisitos da mora do credor são: i) a oferta regular do
devedor (completa, no lugar e tempo oportunos); e ii) a recusa, sem justa causa, do credor
em recebê-la ou a prestar a cooperação necessária para o adimplemento,
29
quando esta se fizer necessária. Mas não se pode deixar de mencionar que vozes
abalizadas, como o próprio Caio Mário, acima citado, e Serpa Lopes, defendem que a culpa
é também requisito da mora accipiendi.
Frequentemente, diante da recusa do credor, o devedor, pretendendo exonerar-se
da obrigação, utiliza-se da consignação em pagamento, cujo procedimento vem regulado
pelos arts. 890 a 900 do CPC, que é uma forma especial de extinção de obrigações.
Não se deve confundir, outrossim, a mora accipiendi com situações em que a ausência da
colaboração necessária do credor produz a desoneração definitiva do devedor, porque este
se obrigou, por exemplo, a oferecer a prestação em determinado momento (prazo fixo),
sendo o próprio credor (por fato a ele imputável) que não a recebeu. A prestação não é, em
si mesma, impossível, mas não poderá mais beneficiar aquele credor. É o caso do sujeito
que se inscreve num cruzeiro, paga a inscrição, mas falta à partida do barco (porque
resolveu não ir ou por qualquer outra razão). Nesse caso, tendo pago a inscrição, era o
sujeito credor da prestação, mas, por ato unicamente imputável a si, não permitiu a
realização do objeto da obrigação, o que desonera, definitivamente, o devedor, sem o
obrigar às perdas e danos.
a) subtrai do devedor o ônus pela guarda da coisa, ressalvada a hipótese de ter agido
com dolo;
b) obriga o credor a ressarcir o devedor pelas despesas de conservação da coisa;
c) sujeita o credor a receber a coisa pela estimação mais favorável ao devedor, se houver
oscilação entre o dia estabelecido para o pagamento (vencimento) e o dia de sua efetivação.
Quando as moras são simultâneas – mora do devedor e do credor em uma mesma situação
–, uma elimina a outra, como se nenhuma das partes houvesse incorrido em mora. Ocorre,
nesse sentido, uma espécie de compensação dos atrasos.
A purgação ou emenda da mora consiste no ato jurídico por meio do qual a parte neutraliza
os efeitos do seu retardamento, ofertando a prestação devida (mora solvendi) ou aceitando-
a no tempo, lugar e forma estabelecidos pela lei ou pelo título da obrigação (mora
accipiendi).
Por parte do devedor, a purgação da mora efetiva-se com a sua oferta real, devendo
abranger a prestação mais a importância dos prejuízos decorrentes do atraso (juros de
mora, cláusula penal, despesas realizadas para a cobrança da dívida etc.). Tratando-se de
prestação pecuniária deverá ser corrigida monetariamente, caso seja necessário (art. 401,
I, CC).
Por parte do credor, a emenda se dá oferecendo-se este a receber o pagamento, e
sujeitando-se aos efeitos da mora até a mesma data. Esses efeitos foram vistos acima, ao
analisarmos o art. 400 do CC. O credor deverá indenizar o devedor por todos os prejuízos
que este experimentou por força de seu atraso (art. 401, II, do CC).
Vale mencionar também que a eficácia da purgação da mora é para o futuro (ex nunc), de
forma que os efeitos jurídicos até então produzidos deverão ser observados (os juros
devidos pelo atraso, até o dia da emenda, por exemplo).
Importa ainda diferenciarmos a purgação da cessação da mora. A primeira, como visto,
traduz uma atuação reparadora do sujeito moroso, neutralizando os efeitos de seu
retardamento. A segunda, por sua vez, é mais abrangente, e decorre da própria extinção
da obrigação. É o que se dá, por exemplo, quando se opera a novação ou a remissão de
dívida. A sua eficácia é retroativa (ex tunc).
A possibilidade de purgação da mora deverá vir prevista em lei 17 ou no contrato, eis que
implica restrição à liberdade negocial e ao direito do credor, devendo ocorrer até o momento
da contestação da lide, na falta de dispositivo legal expresso em contrário.
17
Algumas leis que admitem a emenda ou purgação da mora: art. 62, III, e parágrafo único da Lei n. 8.245/91 (locação), 1.071, § 2º, do
CPC, art. 14 do Decreto-Lei 58/37 (promessa irretratável de compra e venda), etc.
158
Direito Civil 2016 159
Finalmente, é bom que se diga que o Código Civil atual, contornando uma impropriedade
do Código anterior, suprimiu o inc. III do revogado art. 959, o qual fazia referência à
purgação da mora de ambos os contraentes, quando houvesse renúncia recíproca por parte
dos sujeitos da relação jurídica obrigacional. Certa a conclusão de SÍLVIO VENOSA no
sentido de que, nesse caso, “estando ambos em mora, elas se anulam, já que as partes
colocam-se em estado idêntico e uma nada pode imputar à outra”. É como se os efeitos da
mora simultânea de uma parte e de outra se eliminassem reciprocamente, não havendo
que se cogitar de renúncia.
Obs.: momento limite para a purgação da mora – a) doutrina clássica: até a propositura da
ação pela parte pontual; b) doutrina moderna e STF: a qualquer momento, até mesmo no
curso da ação, desde que a prestação ainda seja útil.
Obs.: as partes podem suprimir via contrato a possibilidade de purgação da mora (cláusula
resolutiva expressa)? A doutrina moderna entende que não, em razão da função social dos
contratos, que faz da possibilidade de emenda da mora uma norma de ordem pública
Sobre a purgação da mora em contratos de alienação fiduciária regidos pelo DL 911-69,
ver item específico na compilação de Direito Civil.
18
Cf. Lei 8.078/90 (arts. 12 e s., arts. 18 e s.). 32
Nesse sentido, Maria Helena Diniz: “A responsabilidade contratual funda-se na culpa, entendida em sentido amplo “ (Curso de
Direito Civil Brasileiro - Teoria Geral das Obrigações, 16. ed., São Paulo: Saraiva, 2002, v. 2, p. 358)
159
Direito Civil 2016 160
19
Em geral, havendo inadimplemento relativo, a parte morosa compensa a outra pagando os juros da mora, não havendo
óbice de que as partes pactuem
ainda uma cláusula penal moratória, estudada alhures.
160
Direito Civil 2016 161
4.7.4 Juros.
Conceito. Juros são os rendimentos do capital. São considerados frutos civis da coisa,
assim como os aluguéis. Representam o pagamento pela utilização de capital alheio.
Integram a classe das coisas acessórias (art. 95).
Espécies. Em linhas gerais, os juros fixados, legais (determinados por lei) ou convencionais
(fixados pelas próprias partes), subdividem-se em:
a) compensatórios: objetivam remunerar o credor pelo simples fato de haver desfalcado
o seu patrimônio, concedendo o numerário solicitado pelo devedor;
b) moratórios: traduzem uma indenização devida ao credor por força do retardamento
culposo no cumprimento da obrigação.
Assim, celebrado um contrato de empréstimo a juros (mútuo feneratício), o devedor pagará
ao credor os juros compensatórios devidos pela utilização do capital (ex.: se tomou 10,
devolverá 12). Se, entretanto, no dia do vencimento, atrasar o cumprimento da prestação,
pagará os juros de mora, que são contabilizados dia a dia, sendo devidos
independentemente da comprovação do prejuízo.
ARNOLDO WALD lembra, ainda, que
“os juros compensatórios são geralmente convencionais, por dependerem de
acordo prévio das partes sobre a operação econômica e as condições em que
a mesma deveria ser realizada, mas podem decorrer de lei ou de decisão
jurisprudencial (Súmula 164 do STF), enquanto que os juros moratórios
podem ser legais ou convencionais conforme decorram da própria lei ou da
convenção”.
Juros compensatórios – Juros moratórios
remuneratórios - (juros-frutos)
- devidos como compensação - devidos em razão do inadimplemento
pela utilização de capital absoluto ou parcial do contrato (incidem em
pertencente a outrem caso de retardamento na restituição do
(utilização consentida de capital ou de descumprimento de obrigação)
capital alheio) - correm a partir da constituição em
mora
- a sentença que julgar procedente o
pedido deve condenar o vencido nos juros
legais, mesmo que não tenha sido formulado
pedido expresso na inicial (art. 293 do CPC);
ainda que omissa a condenação, os juros
161
Direito Civil 2016 162
Limite da taxa de juros. O Decreto 22.626, de 1933 (Lei da Usura), em seu art. 1º, vedou
que qualquer espécie de juros fosse estipulada com taxa superior ao dobro da taxa legal.
Sob o CC/1916, a taxa legal era de 6% a.a., perfazendo, assim, um teto de 12% a.a. para
a estipulação de taxas de juros. Porém, no CC/2002, a taxa legal é de 12% a.a. (art. 406,
interpretado de acordo com o Enunciado 20 da I Jornada de Direito Civil do CJF). Assim,
hoje, o limite para a estipulação de juros é de 24% a.a.
A Lei da Usura proibia a cobrança de juros sobre juros, denominada anatocismo ou
capitalização dos juros. Mas o art. 591 do novo CC permite a capitalização anual no mútuo
destinado a fins econômicos (e se for expressamente pactuada, essa capitalização de
menor periodicidade que a anual - Súmula 539 STJ).
Termo inicial para a incidência dos juros. Na responsabilidade contratual, os juros de mora
devem ser contados desde a citação (art. 405). Já na responsabilidade extracontratual, os
juros de mora fluem a partir do evento danoso (STJ 54), com base no art. 398, que afasta
a aplicação do art. 405. Se, por exemplo, o passageiro de um ônibus sofre danos em
decorrência de um acidente com o coletivo, os juros moratórios são devidos a partir da
citação inicial, por se tratar de responsabilidade contratual (contrato de adesão, celebrado
com a transportadora). Mas, se a vítima é um pedestre, que foi atropelado pelo ônibus, os
juros são contados desde a data do fato (responsabilidade extracontratual).
Nos termos do art. 407 do CC “ainda que não se alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos
juros da mora que se contarão assim às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra
natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor pecuniário por sentença judicial,
arbitramento, ou acordo entre as partes”.
162
Direito Civil 2016 163
163
Direito Civil 2016 164
164
Direito Civil 2016 165
Um contrato pode conter, em tese, três cláusulas penais de valores diferentes: uma, de
valor elevado, para o caso de total inadimplemento da obrigação (compensatória); outra,
para garantir o cumprimento de alguma cláusula especial, como, p.ex., a cor do veículo
adquirido (moratória); e outra, ainda, somente para evitar atraso (também moratória).
Quando o contrato não se mostra muito claro, costuma-se atentar para o montante da multa,
a fim de apurar a natureza da disposição. Se de valor elevado, próximo do atribuído à
obrigação principal, entende-se que foi estipulada para compensar eventual
inadimplemento de toda a obrigação. Se, entretanto, seu valor é reduzido, presume-se que
é moratória, pois os contratantes não iriam fixar um montante modesto para substituir as
perdas e danos decorrentes da inexecução total da avença.
Cláusula penal e pluralidade de devedores. Quando a obrigação é indivisível e há
pluralidade de devedores, basta que um só a infrinja para que a cláusula penal se torne
exigível. Do culpado, poderá ela ser reclamada por inteiro. Mas dos demais co-devedores
só poderão ser cobradas as respectivas quotas, ficando-lhes reservada a ação regressiva
contra aquele que deu causa à aplicação da pena (art. 414). Quando a obrigação for
divisível, só incorre na pena o devedor, ou herdeiro do devedor que a infringir, e
proporcionalmente à sua parte na obrigação (art. 415).
Cláusula Multa
penal penitencial
- instituída em benefício do credor, a - instituída em benefício do devedor, a quem compete
quem compete escolher entre escolher entre pagar a multa penitencial ou cumprir a
cobrar a multa compensatória ou prestação.
exigir o cumprimento da prestação.
Cláusula Arras
penal penitenciais
165
Direito Civil 2016 166
A parte que descumpriu o contrato perde o sinal dado (ou devolve o sinal recebido mais o
equivalente, conforme o caso) para a parte inocente. Além disso, a parte inocente pode:
a) pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa
mínima; ou
166
Direito Civil 2016 167
b) exigir a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras como o mínimo
da indenização.
Juros Moratórios
DCC - TERMO INICIAL DOS JUROS MORATÓRIOS EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).
Os juros de mora incidem a partir da CITAÇÃO do devedor no processo de
CONHECIMEN
TO da ação civil pública quando esta se fundar em responsabilidade
contratual, cujo
nadimplemento já produza a mora, salvo a configuração da mora em
momento anterior
i-
.
(…) na ação civil pública visando à composição de lide de diretos
homogêneos, também ocorre válida citação, como em todo e qualquer
processo
167
Direito Civil 2016 168
168
Direito Civil 2016 169
169
Direito Civil 2016 170
Súmula 362: A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a
data do arbitramento (exceção à súmula 43, segunda a qual o termo a quo é o momento do
ato danoso) SÚMULA 296: Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a comissão
de permanência, são devidos no período de inadimplência, à taxa média de mercado
estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada ao percentual contratado.
SÚMULA 295: A Taxa Referencial (TR) é indexador válido para contratos posteriores à Lei
n. 8.177/91, desde que pactuada.
SÚMULA 288: A Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) pode ser utilizada como indexador
de correção monetária nos contratos bancários.
SÚMULA 287: A Taxa Básica Financeira (TBF) não pode ser utilizada como indexador
de correção monetária nos contratos bancários.
SÚMULA 283: As empresas administradoras de cartão de crédito são instituições
financeiras e, por isso, os juros remuneratórios por elas cobrados não sofrem as limitações
da Lei de Usura.
SÚMULA 271: A correção monetária dos depósitos judiciais independe de ação específica
contra o banco depositário.
SÚMULA 252: Os saldos das contas do FGTS, pela legislação infraconstitucional,
são corrigidos em 42,72% (IPC) quanto às perdas de janeiro de 1989 e 44,80% (IPC)
quanto às de abril de 1990, acolhidos pelo STJ os índices de 18,02% (LBC) quanto as
perdas de junho de 1987, de 5,38% (BTN) para maio de 1990 e 7,00%(TR) para fevereiro
de 1991, de acordo com o entendimento do STF (RE 226.855-7-RS).
SÚMULA 54: Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de
responsabilidade extracontratual. -
SÚMULA 43: Incide correção monetária sobre divida por ato ilícito a partir da data do efetivo
prejuízo.
Exceção: Súmula 362 SÚMULA 36: A correção monetária integra o valor da restituição, em
caso de adiantamento de câmbio, requerida em concordata ou falência.
SÚMULA 35: Incide correção monetária sobre as prestações pagas, quando de sua
restituição, em virtude da retirada ou exclusão do participante de plano de consórcio.
SÚMULA 30: A comissão de permanência e a correção monetária são inacomodáveis.
SÚMULA 29: No pagamento em juízo para elidir falência, são devidos correção monetária,
juros e honorários de advogado.
SÚMULA 14: Arbitrados os honorários advocatícios em percentual sobre o valor da causa,
a correção monetária incide a partir do respectivo ajuizamento.
170
Direito Civil 2016 171
No CPC de 2015 a ação monitória passa a ser utilizada para exigir que o réu cumpra
obrigação de fazer ou não fazer pela qual esteja inadimplente.
171
Direito Civil 2016 172
No estudo da disciplina, o codificador inovou ao tratar de temas não regulados pelo CC/16,
a exemplo do contrato preliminar, do contrato com pessoa a declarar, da resolução por
onerosidade excessiva, da venda com reserva de domínio, da venda sobre documentos e
do contrato estimatório.
Ao longo da história, o contrato mudou seu matiz ideológico, o que foi acompanhado por
sua teoria geral. Não é possível, no entanto, fixar data específica para o seu surgimento,
haja vista que ele acompanha o desenvolvimento moral da humanidade. Trata-se do
primeiro grande instrumento de harmonização de interesses contrapostos (primeira função
social do contrato, segundo Clóvis Beviláqua).
Pilares da teoria clássica do contrato (até o século XIX): autonomia privada, igualdade entre
as partes e força obrigatória.
Durante o século XX, inúmeras foram as variáveis para a modificação da teoria clássica do
contrato (revoluções socialistas, as duas guerras mundiais, mudança na economia global
etc). O período foi marcado pelo avanço tecnológico e pela sociedade de massa e o Estado,
por sua vez, sentiu a necessidade de limitar a autonomia privada, que até então
pressupunha a igualdade dos contratantes. O contrato de adesão34, criado em 1901 por
Raymond Saleis, exemplifica essa necessidade, na medida que é ditado por uma das partes
na relação contratual, gerando desequilíbrios e abuso de poder econômico.
34
Sobre o contrato de adesão. Ele possui as seguintes características:
• Uniformidade: as cláusulas são gerais e homogêneas para todas as pessoas.
• Pré-determinação unilateral: o conteúdo do contrato é pré-determinado.
• Rigidez: não há discussão sobre as cláusulas.
• Superioridade material de uma das partes: essa característica está presente em quase todos os contratos de adesão.
Não se pode confundir o contrato de adesão com o contrato obrigatório. O último não é nem tanto um contrato, mas uma determinação
da lei. EXEMPLO: contrato de seguro obrigatório (só é contrato no nome, mas não tem qualquer expressão de vontade); trata-se na
verdade de uma imposição da lei.
O NCC é muito tímido ao regular o contrato de adesão somente trata do assunto em dois artigos 423 e 424. Atenção: Nos contratos
bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas (S. 381/STJ)
A autonomia privada é o poder que os particulares têm de regular, pelo exercício de sua
própria vontade, as relações que participam, estabelecendo-lhe o conteúdo e a respectiva
disciplina jurídica.
“Certo é, portanto, que o princípio da força obrigatória não tem mais encontrado a
predominância e a prevalência que exercia no passado. O princípio em questão está,
portanto, mitigado ou relativizado, sobretudo pelos princípios sociais da função social do
contrato e da boa fé-objetiva” (Tartuce).
c) Princípio da Equivalência Material: é retratado pelo Prof. Paulo Luiz Netto Lôbo.
Corolário da função social dos contratos, princípio busca evitar abusos por uma das partes
em relação à outra, principalmente em razão do poder econômico. Conceito assegura que
haja um equilíbrio entre direitos e deveres de um contrato. Significa que em um contrato as
partes devem guardar equilíbrio entre as prestações pactuadas. Há, contudo, situações em
que o contratante assume o risco, a exemplo dos contratos aleatórios. Possui íntima
conexão com a função social:
Função social traduz uma cláusula geral de conteúdo de natureza principiológica, limitativa
da liberdade de contratar. É ao mesmo tempo cláusula geral e princípio.
Cláusula geral: segundo a prof. Judith Martins Costa, trata-se de uma disposição normativa
dirigida ao juiz para que, a vista do caso concreto, crie, complemente ou desenvolva uma
norma jurídica. Possui conteúdo aberto que impõe ao juiz uma conduta, um comportamento,
no sentido de desenvolver a norma jurídica. Tem conteúdo aberto, mas não se trata de
conceito aberto.
f) Princípio da boa-fé objetiva: a atual doutrina indica como fonte o Direito Alemão,
que traduz o conceito de forma objetiva, tendo por base a lealdade e a confiança. Constitui
174
Direito Civil 2016 175
Antônio Menezes de Cordeiro, na sua clássica obra “Da Boa-fé no Direito Civil”, aborda 03
funções para a boa-fé objetiva:
1. Função Interpretativa (art. 113): foi retratada por Orlando Gomes. Interpretação do
contrato deve resguardar a boa-fé. “O negócio jurídico deve ser interpretado segundo a boa-
fé e os usos do lugar de sua celebração”.
Obs: segundo a classificação proposta pela Prof. Judith Martins Costa, a função
interpretativa é denominada “função hermenêutico-integrativo do contrato”.
2. Função Integrativa (art. 422): segundo tal função a boa-fé objetiva estabelece
deveres anexos, laterais, que estarão presentes no contrato independente da vontade das
partes. Ex: dever de informação, segurança, lealdade... Essa função torna a boa-fé objetiva
em fonte autônoma de obrigações, haja vista a presença dos deveres laterais independe
da vontade das partes.
- Para alguns doutrinadores e, salvo melhor juízo a questão já foi objeto de prova oral
no TRF1 (Des. Olindo Menezes), o art. 422 do CC contém duas imperfeições. É a liberdade
contratual – e não a liberdade de contratar – que está limitada pela função social do contrato,
porquanto a liberdade contratual é ilimitada, já que o sujeito celebra o contrato quando
quiser e com quem quiser. No mais, é a autonomia privada e não a função social a razão
para o contrato. (a sugestão é retirar o termo “em razão” do dispositivo). (Tartuce).
3. Função de Controle (art. 187): coíbe o abuso de direito. “Também comete ato ilícito o
titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu
fim econômico ou social, pela boa-fé, ou pelos bons costumes”.
CIVIL. CONTRATOS. DÍVIDAS DE VALOR. CORREÇÃO MONETÁRIA.
OBRIGATORIEDADE. RECOMPOSIÇÃO DO PODER AQUISITIVO DA MOEDA.
RENÚNCIA AO DIREITO. POSSIBILIDADE. COBRANÇA RETROATIVA APÓS A
RESCISÃO DO CONTRATO. NÃO-CABIMENTO. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ
OBJETIVA. TEORIA DOS ATOS PRÓPRIOS. SUPRESSIO.4. O
princípio da boa-fé objetiva exercer três funções: (i) instrumento
hermenêutico; (ii) fonte de direitos e deveres jurídicos; e (iii) limite ao
exercício de direitos subjetivos. A essa última função aplica-se a teoria
do adimplemento substancial das obrigações e a teoria dos atos
próprios, como meio de rever a amplitude e o alcance dos deveres
contratuais, daí derivando os seguintes institutos: tu quoque, venire
contra facutm proprium, surrectio e supressio.5. A supressio indica a
possibilidade de redução do conteúdo obrigacional pela inércia
qualificada de uma das partes, ao longo da execução do contrato, em
exercer direito ou faculdade, criando para a outra a legítima expectativa
de ter havido a renúncia àquela prerrogativa.6. Recurso especial a que se nega
provimento (REsp 1202514/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 21/06/2011, DJe 30/06/2011).
Qual é a consequência jurídica da quebra da boa-fé objetiva? Segundo doutrina, a
violação de um dos deveres anexos, gera RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA
(Enunciado 24 da I Jornada de Direito Civil). Neste contexto de objetivação de
responsabilidade civil, está também o Enunciado nº 37 do Conselho Superior da Justiça
Federal, cujo teor se reproduz: “a responsabilidade civil decorrente do abuso do direito
independe de culpa, e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico”.
176
Direito Civil 2016 177
O “venire contra factum proprium”, também conhecido como teoria dos atos próprios, é uma
vedação decorrente do princípio da confiança. Trata-se de um tipo de ato abusivo de direito.
Situações de confiança legitimamente criadas nas relações jurídicas contratuais deverão
ser mantidas, vedando-se a adoção de condutas contraditórias.
Trata-se de “uma regra de coerência, por meio do qual se veda que se aja em determinado
momento de uma certa maneira e, ulteriormente, adote-se um comportamento que frustra,
vai contra aquela conduta tomada em primeiro lugar”.
O Superior Tribunal de Justiça aplicou o princípio antes do advento do CC/02, em julgado
que afastou a possibilidade de anulação de compra e venda de um imóvel, celebrado
somente pelo marido sem a outorga uxória, em virtude da existência de declaração pela
esposa, na condição de testemunha em outro processo, de anuência tácita à venda.
Exemplo de “supressio” e “surrectio”, conforme Maria Helena Diniz: art. 330 do Código Civil,
ao dispor que se o devedor efetuar, reiteradamente o pagamento da prestação em lugar
diverso do estipulado no negócio jurídico, há presunção “juris tantum” de que o credor a ele
renunciou, baseado no princípio da boa-fé objetiva e nessas formas de aquisição e perda
de direito pelo decurso do tempo.
Nas palavras de Menezes de Cordeiro surrectio “é o instituto que faz surgir um direito que
não existe juridicamente, mas que tem existência na efetividade social”.
Com relação ao “tu quoque”, é esta expressão que, de fato, revela os deveres anexos de
uma relação contratual, decorrentes da boa-fé. Este conceito quer evitar, à luz da boa-fé e
da confiança, que a parte seja surpreendida no bojo do contrato.
É designativo de uma situação gerada de um abuso de direito, que se verifica quando uma
das partes viola a norma jurídica e, após tenta aproveitar-se dessa conduta em benefício
próprio.
Observa o seguinte brocardo: “o sujeito não pode valer-se da própria torpeza”. Portanto,
quem viola as suas obrigações contratuais não pode se valer da sua própria falta para se
favorecer diante da contra parte.
177
Direito Civil 2016 178
Formais ou reais
Consensuais,
Quanto à forma formais ou
reais
Quanto à designação Nominados e inominados
178
Direito Civil 2016 179
Alienação de bens
Execução imediata
Execução diferida
Intuito personae ou
Quanto à pessoa do contratante impessoal
- BILATERAIS ou UNILATERAIS
Unilaterais: apenas um dos contratantes assume obrigações em face do outro, de tal sorte
que os efeitos são ativos de um lado e passivos do outro, pois uma das partes não se
obrigará, não havendo, portanto, qualquer contraprestação.
Ex: doação pura e simples; depósito; comodato; mútuo; mandato.
Os contratos unilaterais requerem duas manifestações de vontade, mas colocam um só dos
contratantes na posição de devedor, ficando o outro como credor.
179
Direito Civil 2016 180
- ONEROSOS ou GRATUITOS
Gratuitos ou benéficos: contratos em que apenas uma das partes aufere benefício ou
vantagem.
Onerosos: ambos os contraentes obtêm proveito, ao qual corresponde um sacrifício.
A doutrina distingue os contratos gratuitos propriamente ditos dos contratos
desinteressados. Aqueles acarretam uma diminuição patrimonial a uma das partes, como
se dá nas doações puras. Estes, subespécies dos primeiros, não produzem esse efeito,
malgrado beneficiem a outra parte (comodato e mútuo, p.ex.).
“Como decorrência lógica da estrutura contratual, em regra, o contrato oneroso é bilateral,
o gratuito unilateral. Mas pode haver exceção, como é o caso do contrato de mútuo de
dinheiro sujeito a juros – mútuo feneratício – pelo qual além da obrigação de restituir a
quantia emprestada – contrato unilateral - , devem ser pagos os juros – contrato oneroso”
(Tartuce).
- COMUTATIVOS ou ALEATÓRIOS
O CC/2002 consagra duas formas básicas de contratos aleatórios: b1) Contrato aleatório
emptio spei – um dos contratantes toma para si o risco relativo à própria existência da coisa,
sendo ajustado um determinado preço, que será devido integralmente, mesmo que a coisa
não exista no futuro, desde que não haja dolo ou culpa da outra parte (art. 458 do CC). O
risco é maior. No caso de compra e venda, essa forma negocial pode ser denominada venda
de esperança.
b2) Contrato aleatório emptio rei speratae – se o risco versar somente em relação à
quantidade da coisa comprada, pois foi fixado pelas partes um mínimo como objeto do
negócio (art. 459 do CC). Na compra e venda trata-se da venda da esperança com coisa
esperada.
- CONSENSUAIS ou REAIS
180
Direito Civil 2016 181
- NOMINADOS ou INOMINADOS
Contratos nominados são os que têm designação própria. Inominados são as que não a
têm.
Contratos típicos são os regulados pela lei, os que têm o seu perfil nela traçado. Contratos
atípicos são os que resultam de um acordo de vontades, não tendo, porém, as suas
características e requisitos definidos e regulados na lei.
5.3.2 Reciprocamente considerados
Contratos principais: são os que existem por si, exercendo sua função e finalidade
independentemente de outro.
Contratos acessórios: são aqueles cuja existência jurídica supõe a dos principais, pois
visam a assegurar a sua execução. EXEMPLO: a fiança é contrato acessório, estabelecido
para garantir a locação, que é contrato principal.
Contrato derivado x contrato acessório: esses contratos têm em comum com os acessórios
o fato de que ambos são dependentes de outro. Diferem, porém, pela circunstância de o
derivado participar da própria natureza do direito versado no contratobase. Nessa espécie
de avença, um dos contratantes transfere a terceiro, sem se desvincular, a utilidade
correspondente à sua posição contratual. O locatário, por exemplo, transfere a terceiro os
direitos que lhe assistem, mediante a sublocação. O contrato de locação não se extingue,
181
Direito Civil 2016 182
e os direitos do sublocatário terão a mesma extensão dos direitos do locatário, que continua
vinculado ao locador.
Contratos coligados – Carlos Roberto Gonçalves: constitui uma pluralidade, em que vários
contratos celebrados pelas partes apresentamse interligados. Quando o elo entre eles
consiste somente no fato de constarem do mesmo instrumento, não existe propriamente
coligação de contratos, mas, sim, união de contratos. Aquela passa a existir quando a
reunião é feita com dependência, isto é, com um contrato relacionado ao outro, por se
referirem a um negócio complexo. Apesar disso, conservam a individualidade própria,
distinguindo-se, nesse ponto, do misto. Contratos coligados são, pois, os que, embora
distintos, estão ligados por uma cláusula acessória, implícita ou explícita.
“são, pois, os que embora distintos, estão ligados por uma cláusula acessória, implícita ou
explícita. (...) são os que se encontram ligados por um nexo funcional, podendo essa
dependência ser bilateral – vende o automóvel e a gasolina - ; unilateral – compra o
automóvel e arrenda a garagem, ficando o arrendamento subordinado à compra e venda -
. Alternativa – compra a casa na praia ou, se não for para lá transferido, loca-a para
veraneio. Mantém-se a individualidade dos contratos, mas as vicissitudes de um podem
influir sobre o outro” (Tartuce). Os contratos coligados deve ser interpretados segundo os
critérios de hermenêutica do CC, em especial dos arts. 112 e 113, considerada a sua
conexão funcional (Em. n. 421/CJF). Sobre a matéria, já decidiu o STJ:
“(...) Os contratos coligados são aqueles que, apesar de sua
autonomia, se reúnem por nexo econômico funcional, em que as
182
Direito Civil 2016 183
183
Direito Civil 2016 184
A proposta entre presentes é aquela feita entre pessoas que mantêm contato direto e
simultâneo uma com a outra. Entre ausentes, todavia, a proposta pressupõe não haver
contato direto e imediato entre as partes. EXEMPLOS ENTRE PRESENTES: telefone e
internet (MSN, Skype e similares). EXEMPLO ENTRE AUSENTES: por carta ou por e-mail.
Mas, afinal, qual seria a teoria adotada pelo nosso direito positivo?
No Direito brasileiro, parte da doutrina entende que se deve aplicar a subteoria da
EXPEDIÇÃO e outra parte sustenta que se deve aplicar a subteoria da RECEPÇÃO.
184
Direito Civil 2016 185
185
Direito Civil 2016 186
Ações edilícias. Diante da ocorrência dos vícios redibitórios, o adquirente pode propor dois
tipos de ação (não cumuláveis: TRF1), há um concurso de ações:
- ação redibitória: rejeição da coisa. As perdas e danos estão referidas no artigo 443.
Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que
recebeu com perdas e danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá o
valor recebido, mais as despesas do contrato.
- ação estimatória ou ação quanti minoris: abatimento (artigo 442).
Art. 442. Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato (art. 441), pode o
adquirente reclamar abatimento no preço.
Prazos: art. 445. São prazos decadenciais.
*venda de animais - os prazos de garantia por vícios ocultos serão os estabelecidos em lei
especial, ou, na falta desta, pelos usos locais.
BEM 30 DIAS Contado da 15 DIAS da
MÓVEL entrega SE JÁ
Contado
efetiva ESTAVA NA
BEM 6 MESES alienação
01 ANO POSSE
IMÓVEL
186
Direito Civil 2016 187
Inf. 554/STJ
Quando o vício oculto, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde (art. 445,
§ 1°, CC), o adquirente de bem móvel terá o prazo de trinta dias (art. 445, caput, do
CC), a partir da ciência desse defeito, para exercer o direito de obter a redibição ou
abatimento no preço, desde que o conhecimento do vício ocorra dentro do prazo de
cento e oitenta dias da aquisição do bem. O prazo decadencial para exercício do direito
de obter a redibição ou abatimento no preço de bem móvel é o previsto no caput do art. 445
do CC, isto é, trinta dias. O § 1º do art. 445 do CC apenas delimita que, se o vício somente
se revelar mais tarde, em razão de sua natureza, o prazo de 30 dias fluirá a partir do
conhecimento desse defeito, desde que revelado até o prazo máximo de 180 dias, com
relação aos bens móveis. Desse modo, no caso de vício oculto em coisa móvel, o
adquirente tem o prazo máximo de cento e oitenta dias para perceber o vício e, se o notar
neste período, tem o prazo de decadência de trinta dias, a partir da verificação do vício,
para ajuizar a ação redibitória. Nesse sentido, o enunciado 174 do CJF dispõe que: "Em se
tratando de vício oculto, o adquirente tem os prazos do caput do art. 445 para obter redibição
ou abatimento do preço, desde que os vícios se revelem nos prazos estabelecidos no
parágrafo primeiro, fluindo, entretanto, a partir do conhecimento do defeito".
5.6 Evicção
Conceito. Consiste a evicção na perda, pelo adquirente (evicto), da posse ou propriedade
da coisa transferida, por força de uma sentença judicial ou ato administrativo que
reconheceu o direito anterior de terceiro, denominado evictor.
Para o examinador Olindo Menezes (TRF1), tem fundamento no princípio da garantia.
Em nosso Código Civil, a evicção é disciplinada a partir do seu art. 447 (art. 1107, CC-16):
Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção.
Subsiste esta garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta
pública.
Aquisição da coisa em hasta pública: o Código de 2002 apresenta uma inovação no art.
447 retrotranscrito, dispondo que subsiste a garantia da evicção “ainda que a aquisição se
tenha realizado em hasta pública”. A dúvida que o dispositivo suscita, não dirimida pelo
Código, consiste em saber quem responde pela evicção, tendo em vista que a venda não
se dá de modo espontâneo pelo proprietário da coisa, mas forçado pelo Estado, a fim de
que terceiro seja favorecido. Diferente a situação quando o proprietário escolhe livremente
a alienação de bem de sua propriedade em leilão, como sucede com a venda de obras de
arte e de animais em rodeios. Nesse caso, a sua responsabilidade pela evicção permanece,
sem que paire qualquer dúvida a esse respeito. O problema se propõe apenas nas vendas
forçadas realizadas pelo Estado, como se dá, por exemplo, nas hastas públicas de bens
penhorados em execução movida contra o proprietário. Indaga-se se, neste caso,
ocorrendo a evicção, o adquirente do bem deve exigir a indenização do antigo proprietário
ou do credor que obteve o proveito com a venda que veio a ser prejudicada em razão de
um direito anterior.
Parece-nos que o arrematante ou adjudicante que sofreu a evicção total ou parcial pode
exigir a restituição do preço da coisa evicta ou o valor do desfalque, voltando-se contra o
credor ou credores que se beneficiaram com o produto da arrematação ou contra o devedor-
executado, proprietário do bem, se este recebeu saldo remanescente.
Personagens fundamentais:
a) ALIENANTE: que responde pelo risco da evicção.
b) ADQUIRENTE ou EVICTO: que é a pessoa que perde a coisa.
187
Direito Civil 2016 188
A mesma sentença que condena o adquirente a devolver a coisa, determina que o alienante
responda junto ao adquirente. No aspecto processual, há uma discussão afirmando que
esse não seria um caso de denunciação NÃO obrigatória.
Responsabilidade Civil do alienante. A primeira parte do artigo 447 deixa bem claro quem
responde pelos riscos: o alienante. E para que a sua responsabilidade se manifeste, três
requisitos devem se conjugar:
a) aquisição de um bem;
b) perda da posse ou da propriedade; (note-se que a evicção pode ser parcial)
c) prolação de sentença judicial ou execução de ato administrativo.
No entanto, se, por um lado, não pode a lei nova atingir a validade dos negócios jurídicos
já constituídos, por outro, se os efeitos do ato penetrarem o âmbito de vigência do novo
Código, deverão se subordinar aos seus preceitos, salvo se houver sido prevista pelas
partes determinada forma de execução.
Para melhor entendê-lo, cumpre-nos marcar, neste ponto, um divisor de águas: quanto ao
aspecto de sua validade, não poderá o Código de 2002 atingir negócios celebrados antes
da sua vigência; no entanto, quanto ao seu aspecto eficacial, ou seja, de executoriedade
ou produção de seus efeitos, caso estes invadam o âmbito temporal de vigência da nova
lei, estarão a esta subordinados. Um exemplo. Imaginemos um contrato de financiamento
celebrado em 1999, de execução repetida no tempo (trato sucessivo), em que o financiado
se obrigou a pagar, mensalmente, prestações pecuniárias à instituição financeira pelo prazo
de 5 anos. Pois bem.
Entra em vigor o novo Código Civil. Este, por expressa dicção legal, não poderá interferir
na validade do negócio celebrado, embora os efeitos do contrato – de execução protraída
no tempo – se sujeitem às suas normas (art. 2.035). Com isso, regras como as relativas à
“resolução por onerosidade excessiva” (arts. 478 a 480), à “correção econômica das
prestações pactuadas” (art. 317), ao “aumento progressivo de prestações sucessivas” (art.
316), ou às “perdas e danos” (arts. 402 a 405), para citar apenas alguns exemplos, poderão
ser imediatamente aplicadas aos negócios jurídicos já constituídos, por interferirem,
apenas, em seu campo eficacial ou de executoriedade. EXEMPLO: desconsideração da
personalidade jurídica, porque atinge o plano da eficácia.
Entretanto, nos termos da parte final do art. 2.035, se as partes houverem previsto outra
forma de execução, a exemplo da execução instantânea (que se consuma imediatamente,
em um só ato), ou se afastaram a incidência de determinadas regras consagradas na lei
nova – que não tenham substrato de ordem pública – a exemplo do aumento progressivo
das prestações sucessivas, poderá ser evitada a incidência da nova lei.
Mas observe: determinadas normas, como a que prevê a resolução por onerosidade
excessiva ou a correção econômica das prestações pactuadas, em nosso pensamento, por
seu indiscutível caráter publicístico e social, não podem, a prioristicamente, ser afastadas
pela vontade das partes.
Finalmente, o parágrafo único do artigo sob comento, utilizando linguagem contundente,
determina que “nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública,
tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social dos contratos e
da propriedade”.
Utilizando a expressão “nenhuma convenção”, o legislador impõe a todos os negócios
jurídicos, não importando se celebrados antes ou após a entrada em vigor do novo Código,
a fiel observância dos seus preceitos de ordem pública, especialmente a função social da
propriedade e dos contratos. Assim, contratos que violem regras ambientais ou a utilização
econômica racional do solo, assim como as convenções que infrinjam deveres anexos
decorrentes da cláusula de boa fé objetiva (lealdade, respeito, assistência,
confidencialidade, informação), expressamente prevista no art. 422 do novo Código, não
poderão prevalecer, ante a nova ordem civil.
Muitos autores têm defendido que por meio desse dispositivo, há a extinção de toda e
qualquer cláusula leonina.
5.8 Extinção dos contratos
5.8.1 Forma natural
Pelo cumprimento do contrato.
5.8.2 Cláusulas especiais de extinção.
RESILIÇÃO RESOLUÇÃO RESCISÃO
189
Direito Civil 2016 190
Trata-se de aplicação do “tu quoque” (a parte não pode ser surpreendida dentro do
contrato).
Aplica-se aos contratos bilaterais, de modo que nenhum dos contratantes, antes de adimplir
sua obrigação, poderá exigir a do outro.
190
Direito Civil 2016 191
Se a primeira prestação houver sido cumprida de forma defeituosa, ainda assim a outra
parte poderá opor a defesa, mas o nome dela muda para “exceptio non rite adimpleti
contractus”.
Obs: o ordenamento brasileiro, todavia, admite a cláusula “solve et repete” (pague e depois
reclame), que é uma renúncia à “exceptio non adimpleti contractus”.
Sua eficácia consiste precisamente no seguinte: uma vez fixada, parte não pode eximir-se
da prestação, nem retardá-la em razão de exceções subordinadas ao comportamento da
outra contraparte.
5.8.4 A teoria da imprevisão (a resolução por onerosidade excessiva)
A TEORIA DA IMPREVISÃO tem raiz histórica no Código de Hamurabi. Mas,
modernamente, foi cunhada pelos franceses, por meio da LEI FAILLIOT DE 1916.
Requisitos.
191
Direito Civil 2016 192
Inf. 556/STJ
A teoria da base objetiva ou da base do negócio jurídico tem sua aplicação restrita às
relações jurídicas de consumo, não sendo aplicável às contratuais puramente civis. A
teoria da base objetiva difere da teoria da imprevisão por prescindir da imprevisibilidade
de fato que determine oneração excessiva de um dos contratantes. Pela leitura do art. 6°,
V, do CDC, basta a superveniência de fato que determine desequilíbrio na relação
contratual diferida ou continuada para que seja possível a postulação de sua revisão ou
resolução, em virtude da incidência da teoria da base objetiva. O requisito de o fato não
ser previsível nem extraordinário não é exigido para a teoria da base objetiva, mas tão
somente a modificação nas circunstâncias indispensáveis que existiam no momento da
celebração do negócio, ensejando onerosidade ou desproporção para uma das partes.
Com efeito, a teoria da base objetiva tem por pressuposto a premissa de que a celebração
de um contrato ocorre mediante consideração de determinadas circunstâncias, as quais,
se modificadas no curso da relação contratual, determinam, por sua vez, consequências
diversas daquelas inicialmente estabelecidas, com repercussão direta no equilíbrio das
obrigações pactuadas. Nesse contexto, a intervenção judicial se daria nos casos em que o
contrato fosse atingido por fatos que comprometessem as circunstâncias intrínsecas à
formulação do vínculo contratual, ou seja, sua base objetiva. Em que pese sua relevante
inovação, a referida teoria, ao dispensar, em especial, o requisito de imprevisibilidade, foi
acolhida em nosso ordenamento apenas para as relações de consumo, que demandam
especial proteção. Ademais, não se admite a aplicação da teoria do diálogo das fontes
para estender a todo direito das obrigações regra incidente apenas no microssistema do
direito do consumidor. De outro modo, a teoria da quebra da base objetiva poderia ser
invocada para revisão ou resolução de qualquer contrato no qual haja modificação das
circunstâncias iniciais, ainda que previsíveis, comprometendo em especial o princípio
pacta sunt servanda e, por conseguinte, a segurança jurídica. Por fim, destaque-se que,
no tocante às relações contratuais puramente civis, quer dizer, ao desamparo das normas
protetivas do CDC, a adoção da teoria da base objetiva, a fim de determinar a revisão de
contratos, poderia, em decorrência da autuação jurisdicional, impor indesejáveis prejuízos
reversos àquele que teria, em tese, algum benefício com a superveniência de fatos que
atinjam a base do negócio.
O artigo 317 do CC é uma aplicação específica da teoria da imprevisão para fins de revisão
de uma prestação do contrato. O artigo 478 é o artigo que serve para resolver o CONTRATO
e não somente revisar uma prestação específica do contrato.
OBS: Não confundir o instituto da lesão com a teoria da imprevisão. Na lesão, o contrate já
surge viciado. Nesse caso, não se aplica a teoria da imprevisão, a qual só tem uso quando
o contrato nasceu válido, porém, com o decurso do tempo, desequilibrou-se os deveres
entre os contratantes.
192
Direito Civil 2016 193
6 CONTRATOS EM ESPÉCIE
“A compra e venda possui efeito meramente obrigacional. Vale dizer, não transfere a propriedade
20
-Oneroso: aqueles dos quais ambas as partes visam a obter vantagens ou benefícios,
impondo-se encargos reciprocamente em benefício uma da outra. (Caio Mário). -
Sinalagmático: “direitos e deveres proporcionais entre as partes” [Tartuce] - Consensual
- Pode ser comutativo ou aleatório: “são comutativos os contratos em que as prestações
de ambas as partes são de antemão conhecidas, e guardam entre si uma relativa
equivalência de valores. Aleatórios são os contratos em que a prestação de umas das
partes não é precisamente conhecida e suscetível de estimativa prévia, inexistindo
equivalência com a da outra parte. Além disso, ficam dependentes de um acontecimento
incerto”. (Caio Mário). “é, em geral, contrato comutativo, com prestações determináveis e
equivalentes no momento da conclusão. Admite-se, no entanto, a compra e venda aleatória,
quando assim ajustado pelas partes” [Tepedino]. Contrato “emptio spei” é o contrato
aleatório que consiste no risco sobre toda a coisa, inclusive, sobre a essência da coisa.
Contrato “emptio rei speratae” é a venda da esperança quanto à quantidade da coisa ou
venda da esperança com coisa esperada [Tartuce].
Um dos contratantes, na alienação de coisa futura, toma a si o risco
relativo à existência da coisa, ajustando um preço, que será devido
integralmente, mesmo que nada se produza (artigo 458), sem que
EMPTIO SPEI
C haja culpa do alienante; vende-se a esperança ou a probabilidade
(venda da
O de as coisas existirem.
esperança)
N EXEMPLO: comprar de um pescador, por preço certo, os peixes que
Dizem
T este retirar de sua rede, assumindo o risco de nenhum peixe ser
respeit
R apanhado.
o à
A Ocorre que se a álea versar sobre quantidade maior ou menor da
coisa
T coisa esperada (artigo 459), o risco assumido pelo adquirente
futura EMPTIO REI
O determina o pagamento do preço ao alienante, mesmo que venha a
SPERATAE
S existir em quantia mínima ou irrisória, basta que a coisa venha a
(venda da
A existir em qualquer quantidade. É caso de resolução do contrato se
esperança de
L a coisa não vem a existir. EXEMPLO: comprar de um pescador o
coisa esperada)
E produto do lanço de sua rede, assumindo apenas a álea de ele retirar
A maior ou menor quantidade de
T Dizem pescado, o adquirente libertar-se-á da obrigação, se a rede nada
Ó respeit contiver. Para o contrato ser aleatório, deve existir risco de que as coisas se percam,
RI o à danifiquem-se ou ainda, sofram depreciação (artigo 460). E a hipótese de mercadoria
O coisa embarcada que vendida, assumindo o comprador a álea de ela chegar ou não ao seu
S existent destino, mesmo que ela desapareça por ocasião do contrato, devido a naufrágio do
e navio, a venda será válida e o vendedor terá direito ao preço, se ignorava o sinistro;
se sabia do naufrágio, anulada será a alienação competindo ao adquirente a prova
dessa ciência (artigo 461).
Responsabilidade pelo risco
“O CC optou por preservar os interesses do vendedor, estabelecendo uma ordem ao
cumprimento das obrigações das partes no contrato: primeiro o comprador paga o preço,
depois o vendedor entrega a coisa” [Tepedino] (art. 492 do CC).
“Art. 492: constitui, também, modalidade peculiar de tradição a entrega da res vendita a
quem haja de transportá-la, quando expedida por ordem do comprador. Se, porém, o
vendedor contrariar as instruções do adquirente, suporta os riscos ocorridos durante o
transporte, porque, assim procedendo, age como mandatário infiel” [Tepedino] Venda de
ascendente a descendente:
O NCC incorporou a tese da anulabilidade da venda de ascendente a descendente, sem o
consentimento do cônjuge e dos demais descendentes é ANULÁVEL (prazo decadencial
de 2 anos).
(art. 496, CC)
194
Direito Civil 2016 195
“Art. 496: proteção da legítima. Não se admite o consentimento tácito, exigindo-se que este
seja feito expressamente. A doutrina, em sua maioria, entende ser o consentimento
insuprível pelo juiz, por ser este uma prerrogativa do cônjuge ou do descendente. Sendo
algum dos descendentes incapaz, deverá ser nomeado um curador para representá-lo ou
assisti-lo no ato, conforme o caso,
uma vez que é patente a colisão de interesses entre ele e o ascendente” [Tepedino]
OUTORGA UXÓRIA: Não é necessária na união estável
4. A venda de ascendente a descendente sem o consentimento dos demais encerra
hipótese de ato anulável, não havendo como falar em matéria de ordem pública, a ser
reconhecida de ofício pelo Tribunal em sede de embargos infringentes. (REsp 399.574/PR,
Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em 02/03/2010, DJe
05/04/2010)
A venda de ascendente a descendente, sem a anuência dos demais, segundo melhor
doutrina, é anulável e depende da demonstração de prejuízo pela parte interessada.
Precedentes. (EREsp 661.858/PR, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 26/11/2008, DJe 19/12/2008)
Pessoas impedidas de contratar
Art. 497. Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em hasta pública:
I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados à sua
guarda ou administração;
II - pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa jurídica a que
servirem, ou que estejam sob sua administração direta ou indireta;
III - pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros serventuários ou
auxiliares da justiça, os bens ou direitos sobre que se litigar em tribunal, juízo ou conselho,
no lugar onde servirem, ou a que se estender a sua autoridade;
IV - pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam encarregados.
Parágrafo único. As proibições deste artigo estendem-se à cessão de crédito.
Essas pessoas NÃO têm legitimidade para efetuar o contrato de compra e venda, sob pena
de nulidade, mesmo que em hasta pública.
Compra e venda entre cônjuges (Tartuce).
Art. 499. É lícita a compra e venda entre cônjuges, com relação a bens excluídos da
comunhão. Deve ser feito um alerta de que a compra e venda entre cônjuges não poderá
ser celebrada com fraude contra credores, fraude à execução ou simulação. No primeiro
caso será anulável, no segundo caso ineficaz e no terceiro nula.
Compra e venda e os regimes de bens:
No regime da comunhão parcial de bens é possível a venda entre cônjuges quanto aos
bens particulares.
No regime da comunhão universal de bens é possível a venda quanto aos bens
incomunicáveis – art. 1668 do CC.
No regime da participação final dos aquestos é possível a venda em relação aos bens que
não entram na participação.
No regime da separação de bens legal ou convencional é possível a venda, em regra, desde
que não haja ilicitude ou fraude.
A norma não é totalmente restritiva, portanto pode ser aplicada entre companheiros
relativamente aos bens excluídos da comunhão.
Venda ad corpus e venda ad mensuram
VENDA AD CORPUS VENDA AD MENSURAM
195
Direito Civil 2016 196
Venda na qual as dimensões são imprecisas, Venda especificada, venda detalhada por
simplesmente enunciativas. indicação de preço e medida de extensão.
Presunção enunciativa quando, a diferença
não exceder a 1/20 (§ 1o., artigo 500), salvo
se o adquirente demonstrar que, em tais
circunstâncias, não teria realizado o negócio.
Proteção especial do comprador (artigo
500, caput): AÇÃO EX EMPTO
(complemento da área) resolução do
contrato abatimento no preço (Estas duas
últimas, somente em caso de não ser
possível a complementação da área,
segundo Tepedino)
O § 1o do artigo 500, traduz a idéia de que
se a margem de erro é apenas de 5%, o
comprador não poderá ingressar em juízo,
salvo se provar que sem esse percentual
não teria realizado a compra.
Art. 501. Decai do direito de propor as ações previstas no artigo antecedente o vendedor
ou o comprador que não o fizer no prazo de um ano, a contar do registro do título.
As dívidas vencidas decorrentes do ônus real se transmitem ao novo titular do direito real
Venda a condômino. Os condôminos tem preferência na compra.
Muito embora haja enunciado do CJF em sentido contrário, há entendimento doutrinário no
sentido de que o artigo 504 do CC só é aplicável nos casos de condomínio pro indiviso,
quando o bem não se encontra dividido no plano fático (Tartuce).
Cláusulas especiais da compra e venda (são cláusulas acidentais ao contrato, não
essenciais):
Retrovenda (Arts. 505 e ss)
Esta cláusula confere ao vendedor o direito de desfazer a venda, reavendo de volta o bem
alienado dentro do prazo máximo de três anos (prazo decadencial). Deve ficar claro que a
cláusula de retrovenda (pactum de retrovendendo ou cláusula de resgate) somente é
admissível nas vendas de bens imóveis. O direito de resgate poderá ser exercido pelo
devedor ou pelos seus herdeiros e legatários, inclusive em relação a terceiro adquirente.
É possível a sua transmissão causa mortis. Há divergência na doutrina quanto à sua
transmissão inter vivos, entendendo alguns que ela não poderia ocorrer por se tratar de
direito personalíssimo do vendedor.
Exige anuência do cônjuge de ambos contratantes, salvo separação absoluta de bens.
[Tartuce] Venda a contento e da sujeita à prova (Arts. 509 e ss):
“A venda a contento aplica-se a certas coisas a respeito das quais o comprador não pode
dar seu consentimento antes de as haver examinado. São as coisas que precisam ou ser
pesadas, ou ser medidas ou, mesmo, provadas e experimentadas. A aceitação do
comprador pode ser expressa ou tácita” [Tepedino]
“O ponto diferenciador da venda a contento é exatamente a de o negócio se consumar a
critério do comprador, independentemente da qualidade da coisa. Na venda sujeita a prova
o legislador se distanciou deste critério e inseriu uma condição que não está ligada à
satisfação do comprador, mas sim ao fato de a coisa ter ou não as qualidades asseguradas
pelo vendedor e ser ou não idônea para o fim a que se destina” [Tepedino]
Preempção ou preferência (arts. 513 e ss)
196
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198
Direito Civil 2016 199
credor, sendo o restante devolvido ao devedor. Vale ressaltar que, quase sempre, o valor
do imóvel dado em “garantia” é muito superior ao montante da dívida. (INFO-STJ-538)
- É nula a notificação extrajudicial (foi o caso de alienação fiduciária em garantia) se
constar nome diverso do real credor, pois essa informação é essencial (INFO-STJ-550).
- Tratando-se de relação contratual paritária a qual não é regida pelas normas
consumeristas , a maxidesvalorização do real em face do dólar americano ocorrida a partir
de janeiro de 1999 não autoriza a aplicação da teoria da imprevisão ou da teoria da
onerosidade excessiva, com intuito de promover a revisão de cláusula de indexação ao
dólar americano. Com efeito, na relação contratual, a regra é a observância do princípio
pacta sunt servanda, (INFO-STJ-556)
- No caso de rescisão do contrato de compra e venda, o possuidor de boa-fé tem direito
a ser indenizado por benfeitorias. Todavia, as benfeitorias devem ser licenciadas e de
acordo com a lei. Se as benfeitorias não foram licenciadas, deve-se ver se elas ainda podem
ser (vício sanável – quando será indenizável) ou se não podem ser licenciadas (vício
insanável – sem direito à indenização). Se puderem ser sanadas, deve-se abater do valor
da obra o custo das multas que deverão ser pagas para regularizar a construção (INFO-
STJ)
- Em contratos de gaveta de compra e venda de imóvel, no qual não há registro em
cartório e o condomínio é notificado que o promitente comprador adentrou no imóvel e
passa a ter posse, a cobrança das dívidas condominiais (tanto anteriores a compra e venda,
quanto as posteriores), podem ser cobradas de qualquer um dos dois. aplicação da teoria
da dualidade do vínculo. Segundo essa teoria, a obrigação se decompõe em débito (Schuld-
do comprador), o dever de prestar, e responsabilidade (Haftung-do vendedor), a sujeição
do devedor, ou terceiro, à satisfação da dívida. Se o imóvel, no cartório está no nome do
vendedor, o juiz não poderia mandar penhorálo se o vendedor (ainda que não residente do
imóvel) não fosse réu, e se ele é réu e responsável, a dívida pode incidir sobre a totalidade
de seu patrimônio (INFO-STJ-560 e 567)
199
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estando submetidos ao prazo prescricional geral de 10 anos. STJ: tem entendido que
doação inoficiosa é ANULÁVEL estando submetida ao prazo de anulatória de 20 anos.
Obs: Mesmo em decisões proferidas após a entrada em vigor do CC/02, o STF tem afirmado
que o prazo prescricional para anular doação inoficiosa é de 20 anos o que, em tese, afronta
o art. 205 do CC/02. (STJ; T3; AgRg nos EDcl no REsp 1196946/RS; DJe 21/03/2011; STJ;
T4; REsp 259406/PR; DJ 04/04/2005 p. 314).
para atender a uma necessidade moral do doador em compensar o que antes recebeu do
donatário. O efeito da doação remuneratória será de doação pura quanto ao excedente ao
valor dos serviços remunerados. Até o limite do valor dos serviços remunerados, responde
pelos riscos da evicção e pela garantia dos vícios redibitórios. Por isso que a doutrina
classifica a doação remuneratória como imprópria” [Tepedino]. doação conjuntiva: trata-se
da doação feita a mais de uma pessoa. É disciplinada pelo art. 551 do Código Civil.
Doação a nascituro: é doação duplamente condicional, dependendo de dois eventos futuros
e incertos: o nascimento com vida e aceitação do representante (art. 542, do CC). doação
feita em contemplação a casamento futuro: dispondo sobre esta espécie, temos o art. 546
do Código Civil.
doação com cláusula de reversão: prevista esta cláusula, o bem doado pode reverter em
benefício do doador. Disciplinada no art. 547 do Código Civil. “Esta cláusula tem a natureza
jurídica de condição resolutiva. Se o doador morre antes do donatário, o bem dado
permanece, em definitivo, no patrimônio do donatário, passando aos seus herdeiros”
[Tepedino] doação mista (negotium mixtum cum donatione): cuida-se de uma doação
híbrida, com matiz de contrato oneroso: um sujeito paga, livremente, 500 reais por um bem
que vale apenas 100. doação sob forma de subvenção periódica: A seu respeito, veja-se o
545 do Código Civil. “Tal espécie de doação tem a natureza jurídica de constituição de renda
a título gratuito (arts. 803-813)” [Tepedino] Ao contrário dessa espécie de doação, a
constituição de renda pode ser onerosa e a renda pode decorrer de um imóvel (na doação a
renda decorre diretamente do patrimônio do doador). doação real: “quando o bem doado for
móvel e de pequeno valor, por seguir-lhe incontinenti sua tradição. São os chamados 'dons
manuais', como, p. ex., os presentes de aniversário, casamento, de mero agrado, etc”.
[Tepedino]
Doação colacionável: A pessoa pode doar para seus ascendentes, descendentes ou
cônjuges. No entanto, isso será considerado “adiantamento da legítima”, ou seja, um
adiantamento do que o donatário iria receber como herdeiro no momento em que o doador
morresse, salvo se o doador deixar expresso que doou da parte disponível;
Doação fraudulenta: É aquela realizada pelo devedor insolvente ou que, com a doação,
torna-se insolvente. Vale ressaltar que devedor insolvente é aquele cujo patrimônio passivo
(dívidas) é maior que o ativo (bens). A doação, nesses casos, somente é válida se foi
realizada com o consentimento de todos os credores. Se feita sem tal consentimento,
configura fraude contra os credores, sendo, portanto, anulável.;
Doação do cônjuge adúltero a seu cúmplice CC/Art. 550. A doação do cônjuge adúltero ao
seu cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até
dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal. “Qualquer que seja o regime de bens
do casamento, é facultado ao cônjuge traído pleitear a anulação da doação feita pelo seu
consorte em favor do cúmplice.
- O pródigo pode realizar doações? SIM, desde que assistido pelo curador. O PRAZO para
a ação de nulidade de doação inoficiosa (ação de redução) é de 10 anos e só pode ser
proposta pelos herdeiros (INFO – STJ-539)
Extinção da doação
A forma mais comum é o cumprimento do contrato.
O contrato pode ser extinto por revogação (resilição). O direito de revogar cabe ao doador,
é um direito personalíssimo e irrenunciável (art. 556).
Mas há hipóteses nas quais cabe a revogação da doação. Cumpre-nos mencionar que o
Código Civil Brasileiro admite a revogação da doação por duas ordens de motivos (art. 555):
a) por inexecução do encargo, na doação modal;
b) por ingratidão do donatário.
“Distinguem-se os efeitos das duas causas de revogação da doação: o descumprimento do
encargo tem a natureza jurídica de condição resolutiva da doação, pelo que seu advento
202
Direito Civil 2016 203
opera efeitos ex tunc, vale dizer, retroagem à data da celebração da doação; a ingratidão
do donatário tem a natureza jurídica de causa superveniente, produzindo efeitos ex nunc,
isto é, não retroativos”.
[Tepedino]
“Não sendo possível a restituição, por as coisas doadas não mais existirem ou terem sido
alienadas, o donatário deverá indenizar o doador pelo meio-termo de seu valor. Vale dizer:
'pela média entre o valor, que a coisa teve ou podia ter entre a data da tradição ao donatário
e da restituição” [Tepedino]
Revogação da doação
Inexecução do encargo: “A ação do doador será para resolver o contrato em virtude da
condição resolutiva, em que se traduz o encargo, quando estabelecido em seu favor.
Resolvido o contrato, a coisa doada será restituída ao doador. A ação do terceiro e a do
Ministério Público dirigem-se ao cumprimento do encargo, que é uma obrigação como outra
qualquer. A mesma finalidade terá a ação do doador, quando ele não for o beneficiado”.
[Tepedino] O prazo para a ação revogatória por inexecução do encargo não está previsto
na lei. O STJ estava entendendo que o prazo seria de 20 anos. PABLO: esse prazo é
prescricional e a ação revogatória é submetida a prazo decadencial, por se tratar de direito
potestativo. Atualmente, no NCC o prazo máximo de prescrição é de 10 anos. CIVIL.
Ingratidão do donatário: “O rol do art. 557 é taxativo. Não fica ao arbítrio nem do doador
nem do juiz a definição do que seja ingratidão; é o próprio CC que taxativamente elenca as
hipóteses de ingratidão que dão ensejo à revogação. A revogação não se efetiva por
simples manifestação de vontade do doador. Necessário que se proponha a ação judicial,
pleiteando-a. O direito de ajuizar a ação revocatória é personalíssimo. Deve ser exercitado
pelo doador, permitindo a lei apenas que, ajuizada a ação, venha a ser continuada por seus
sucessores. No caso de homicídio doloso, os herdeiros do doador têm legitimidade para o
ajuizamento da ação. A revogação por motivo de ingratidão só é possível a respeito das
liberalidades puras. Na parte em que a doação excede à remuneração, ao encargo, ou à
obrigação natural, convertendo-se em pura liberalidade, é admitida a revogação” [Tepedino]
Para a revogação da doação por ingratidão, exige-se que os atos praticados, além de
graves, revistam-se objetivamente dessa característica, e não apenas subjetivamente
conforme entendimento do doador. (atentado contra a vida, crime de homicídio doloso,
ofensa física, injúria grave ou calúnia, recusa de alimentos - sempre contra o doador -
destacando-se, aliás, expressamente, quanto à exigência de que a injúria, seja grave, o que
também se estende, por implícito à calúnia, inciso III dos dispositivos anotados)" Art. 557.
Podem ser revogadas por ingratidão as doações:
I - se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicídio doloso
contra ele; (HOMICÍDIO TENTADO OU CONSUMADO DISPENSADO O TRÂNSITO EM
JULGADO DA SENTENÇA PENAL21, OU SEJA O FATO PODE SER VERIFICADO
SOMENTE NA ESFERA CÍVEL).
II - se cometeu contra ele ofensa física;
III - se o injuriou gravemente ou o caluniou; (O PROJETO DE REFORMA VAI CORRIGIR
ISSO INSERINDO A DIFAMAÇÃO. Tepedino defende que a ingratidão se configurará
também no caso de difamação).
IV - se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava.
21
Tepedino afirma que Caio Mário é contrário a esse entendimento.
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Art. 570: para ensejar a indenização, é indiferente que o dano provenha de ato seu ou de
seus prepostos ou de sublocatários.
Art. 571 (denúncia pelo locatário): se nada dispuser o contrato a respeito da cláusula penal,
e se não houver consenso entre as partes, a solução será o arbitramento judicial da multa.
Em caso de locação de imóvel urbano, não é admitida a denúncia antecipada do contrato
pelo locador, que deve respeitar o termo final estipulado no contrato. Todavia, ao locatário
é permitido despedir-se antecipadamente do negócio jurídico pactuado, com o pagamento
de multa cominada, seja contratualmente, seja judicialmente (L 8245/91, art. 4º).
A mora constitui-se de pleno direito com o advento do termo contratual; a notificação serve
exclusivamente para afastar a presunção relativa de que, no silêncio do locador, presume-
se prorrogado o contrato.
Art. 573: a posse do locatário, que durante o contrato é justa e de boa-fé, depois da
constituição em mora passa a ser precária, ensejando o direito ao locador de utilizar-se dos
interditos possessórios, especialmente a reintegração de posse, para defender-se.
Ressalte-se que nos casos de locação de imóvel urbano, a ação apropriada será a de
despejo (L 8245/91, art. 5º).
Duas são as condições, então, para que ocorra a prorrogação do contrato por prazo
determinado, uma vez terminado o termo ajustado: a continuação do locatário na posse do
bem e a falta de oposição do locador.
Art. 575 (aluguel-pena): a estipulação de valor totalmente arbitrário acarreta abuso do direito
por parte do locador (art.187). Dois fatores importarão para a fixação do valor do novo
aluguel, sendo eles a contraprestação e a penalidade.
Art. 576: havendo continuação do contrato, o adquirente sub-roga-se em todos os direitos
e obrigações assumidas pelo locador originário, ou seja, o alienante.
STF: salvo estipulação contratual averbada no registro imobiliário, não responde o
adquirente pelas benfeitorias do locatário.
O contrato por tempo indeterminado, em caso de morte de qualquer das partes, poderá ser
denunciado, aplicando-se o disposto nos arts. 574-575.
Só poderá o locatário exercer o direito de retenção estando quite com as obrigações que
lhe competem e, entre elas, a do pagamento do aluguel e da conservação da coisa locada.
O direito de retenção será exercitado sem limitação temporal. Isso é, enquanto não
indenizado o locatário, a retenção será legítima, não importando o decurso de tempo. Em
sentido contrário, entende-se que o direito de retenção termina quando o valor das
contraprestações acumuladas durante o prazo da retenção se equipara ao valor das obras
realizadas.
STJ: não é nula, nos contratos de locação urbana, a cláusula que estabelece a renúncia ao
direito de retenção ou indenização por benfeitorias.
Nas relações de consumo, é nula a cláusula que possibilite a renúncia do direito de
indenizar por benfeitorias necessárias”. [Tepedino]
jurisprudência do STJ, esse dispositivo merece exegese restritiva, não estendendo as suas
normas, restritivas por natureza do direito do locador, à locação de espaço voltado ao trato
administrativo de estabelecimento de saúde.
Nota: Contrato de locação de imóveis e sua abrangência. A locação de prédios urbanos
rege-se pela Lei n. 8.245/91. A locação de prédios rústicos é regulada pelo Estatuto da
Terra.
DCC - LOCAÇÃO COMERCIAL DE IMÓVEL DE EMPRESA PÚBLICA FEDERAL
Empresa pública federal que realize contrato de locação comercial de imóvel de sua
propriedade não pode escusar-se de renovar o contrato na hipótese em que o locatário
tenha cumprido todos os requisitos exigidos pela Lei de Locações (Lei 8.245/1991) para
garantir o direito à renovação. (…) não se pode descaracterizar o contrato de natureza
privada, se foi este o tipo de pacto eleito pela administração, até porque, se ela o desejasse,
firmaria contrato administrativo de concessão de uso”.
Nota: O art. 1º, “a”, “1” da Lei n. 8.245/91 somente exclui do seu âmbito as locações de
imóveis de propriedade da União, dos Estados e dos Municípios, de suas autarquias e
fundações públicas. Logo, as empresas públicas e sociedades de economia mista
submetem-se à Lei n. 8.245/91. (Juiz Federal TRF2 2014 – adaptada) Não se aplica a
ação renovatória se uma das partes é pessoa integrante da administração pública indireta.
ERRADO.
6.6 CONTRATO DE EMPRÉSTIMO
Comodato: empréstimo de uso;
Mútuo: empréstimo de consumo [Tepedino].
“O comodato e o mútuo têm como principal característica a entrega de um bem para que
seja utilizado e posteriormente restituído a seu titular. A principal distinção entre ambos se
dá em relação à natureza do bem dado em empréstimo: se o bem for fungível, tratar-se-á
de um contrato de mútuo; se infungível, será comodato”. [Tepedino]
6.7 CONTRATO DE COMODATO
Conceito: “É um contrato por meio do qual o comodante entrega ao comodatário
determinado bem infungível, móvel ou imóvel, para que dele se utilize de forma gratuita,
tendo a obrigação de restituição a posteriori” [Tepedino] Características
Contrato real; Contrato unilateral; Contrato gratuito; Contrato fiduciário; Contrato
temporário: (art. 581).
“Das circunstâncias do caso concreto é que se deve concluir pela natureza intuitu
personae ou não do contrato” [Tepedino]. Posição do STJ sobre retomada
O comodante pode retomar a coisa, porque o comodatário não tem direito real é um mero
possuidor precário da coisa.
O comodante retoma o bem por meio de ação de REINTEGRAÇÃO DE POSSE.
O STJ tem adotado duas posições a respeito disso:
Comodato por Prazo Indeterminado: a notificação do comodatário é requisito para a
possessória.
(REsp 571.453/MG, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em
06/04/2006, DJ 29/05/2006 p. 230)
Comodato por Prazo Determinado: a retomada do bem é IMEDIATA, não há que haver
notificação, pode ingressar diretamente com a ação de reintegração de posse (mora ex re,
que independe de interpelação).
Direitos e obrigações das partes Art. 582, do CC
Se o comodatário estiver em mora pagará “ALUGUEL”, mas não se converte o comodato
em locação. O que a lei chama de aluguel na verdade são perdas e danos.
O que o comodatário gastar no uso e gozo da coisa emprestada não poderá ser restituído
(art. 584). E as despesas URGENTES e EXTRAORDINÁRIAS tais como uma benfeitoria
206
Direito Civil 2016 207
necessária? O STJ tem entendido que nesses casos pode ser ressarcido o comodatário. O
que a lei veda é a cobrança das despesas ordinárias, mas as extraordinárias podem ser
cobradas. (STJ; RESp 64114/GO, T4; Data do Julgamento 19/09/1995 Data da
Publicação/Fonte DJ 18.12.1995 p. 44580).
6.8 CONTRATO DE MÚTUO
Conceito (art. 587): “O mútuo é o contrato por meio do qual uma pessoa (mutuante)
transfere à outra (mutuário) a propriedade de determinado bem fungível, sendo obrigação
do mutuário a restituição de coisa do mesmo gênero, quantidade e qualidade”. [Tepedino]
“Não poderá ter como objeto bens imóveis, apesar da possibilidade que as partes têm de
caracterizar como fungíveis os lotes de um terreno” [Tepedino]
“O mutuante deve ser proprietário do bem objeto do contrato, na medida em que o que se
pretende com o mútuo é a transferência da propriedade dos bens fungíveis. Isso se dá
devido à incompatibilidade entre a conservação do bem e a faculdade de consumí-lo,
essencial ao contrato de mútuo, por isso mesmo denominado empréstimo de consumo. Se
o mútuo for realizado por pessoa diversa do proprietário do bem mutuado, o negócio será
nulo” [Tepedino] Características
Contrato real: somente se torna perfeito (existente) com a entrega da coisa. “Enquanto no
mútuo feneratício nada impede a configuração consensual, no mútuo dito gratuito, sem
qualquer contraprestação correspectiva, somente a efetiva entrega do bem poderá indicar
a vontade dirigida à contratação. Uma das características essenciais do mútuo é a
transferência do domínio do bem mutuado desde o momento de sua tradição, formando-se
o vínculo contratual. Por ser a coisa mutuada propriedade do mutuário, não cabe a
possibilidade de indenização de eventuais benfeitorias realizadas, nem despesas outras”
[Tepedino]
Contrato unilateral: só quem assume obrigações é mutuário.
Contrato pode ser gratuito ou oneroso: mesmo sem perder a sua característica de
unilateralidade.
Se o mutuário tiver obrigação de devolver exatamente a quantia emprestada, é contrato
gratuito (é contrato benéfico, porque o mutuário não sofre prejuízo em seu patrimônio,
não tendo que remunerar o mutuante). É diferente do que acontece com o mútuo a juros,
que se trata de um contrato oneroso, mas com unilateralidade. Assim: o mútuo é gratuito,
quando o mutuário, ao devolver não sofre qualquer prejuízo; caso, entretanto, tenha que
remunerar o mutuante, o mútuo é unilateral e oneroso. Esse mútuo a juros, que o banco
pratica, é também chamado de MÚTUO FENERATÍCIO.
Recorde-se que, para as Cortes Superiores, as entidades bancárias não estão sujeitas à
Lei de Usura. Contrato temporário: não pode ser eterno, o contrato deve estipular um prazo,
não o fazendo aplica-se o artigo 592, NCC.
Restituição:
“Não cabem, para a restituição do bem, ações possessórias, na medida em que o mutuante
não tem sequer a posse indireta sobre o bem mutuado. Em virtude da transferência de
propriedade, em caso de não restituição do bem mutuado, duas medidas judiciais poderão
ser intentadas: cobrança da obrigação de dar ou fazer e o pagamento de perdas e danos
pelo descumprimento de obrigação” [Tepedino]
Art. 590. O mutuante pode exigir garantia da restituição, se antes do vencimento o
mutuário sofrer notória mudança em sua situação econômica. ( É A CHAMADA
EXCEÇÃO DE INSEGURIDADE). Mútuo feito a menor: arts. 588 e 589
DCC - PRORROGAÇÃO AUTOMÁTICA DE FIANÇA EM CONTRATO DE MÚTUO
BANCÁRIO.
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fungibilidade do objeto não gera necessariamente o depósito irregular, uma vez que é
possível que se ajuste a devolução da mesma coisa, ainda que fungível. Para ele, são dois
os fatores que tornam irregular o depósito: a possibilidade conferida ao depositário de
consumir a coisa (fator material) e o propósito de beneficiar o depositário (fator anímico)”
[Tepedino]. EXEMPLO: depósito bancário. EXECUÇÃO. NOMEAÇÃO DE BENS À
PENHORA. BANCO. DINHEIRO DISPONÍVEL EM CAIXA. POSSIBILIDADE. ART. 655, I,
DO CPC. – Classificando-se o depósito de dinheiro em banco como contrato de depósito
irregular, que ao mútuo se equipara, por ele a instituição financeira recebendo a propriedade
do bem, não há ilegalidade na penhora do numerário em caixa, desde que não recaia sobre
as “Reservas Bancárias” a que alude o art. 68 da Lei n. 9.069, de 29.6.1995 (REsp's n.
98.623-MG; 208.114-SP e 234.239-SP). Recurso especial conhecido e provido. (RESP
256900/RS, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA, julgado em 08.06.2004,
DJ
27.09.2004 p. 361) II –
Depósito necessário:
Conceito: “Denomina-se necessário o depósito que se realiza por uma necessidade que
atua imperiosa sobre a vontade do dono da coisa depositada. Se imposto por lei, diz-se
legal; se de situação imprevista, miserável.
As hipóteses do inciso II do art. 647, CC, são manifestamente exemplificativas, dando-se o
depósito miserável em quaisquer condições análogas. Indispensável que o depósito seja
imposto por acontecimento imprevisto que não permita ao depositante outra deliberação,
sequer a escolha do depositário.
A prova da realização legal é a prevista na lei que o institui, mas o princípio é que deve ser
provado por escrito. Já o depósito miserável admite qualquer meio de prova.
Ao contrário do depósito voluntário, em que se presume a sua gratuidade, nos depósitos
necessários a presunção é de remuneração, na medida em que lhes falta o caráter de
liberalidade, de serviço, de amizade ou relações antigas” [Tepedino]
6.12 CONTRATO DE MANDATO
Conceito: “Relação contratual mediante a qual uma das partes (o mandatário) se obriga a
praticar, em nome e por conta da outra parte (mandante), um ou mais atos jurídicos. O
mandato é uma espécie de representação voluntária, em que o representante (mandatário)
atua em nome do representado (mandante)”. [Tepedino]
“A despeito das controvérsias em torno do tema, admite-se que o mandatário possa
efetivamente praticar atos que não revistam a forma de negócio jurídico. Em regra, qualquer
ato jurídico poderá ser objeto do contrato de mandato, exceto aqueles que somente pela
própria pessoa podem ser praticados, em relação aos quais não é admissível a
representação. São os denominados atos personalíssimos” [Tepedino]
“O mandato é contrato intuitu personae, pois se celebra em razão da pessoa do mandatário.
O mandato presume-se gratuito se não for estipulada remuneração. No entanto, caso o seu
objeto corresponda ao daqueles que o mandatário trata por ofício ou profissão lucrativa,
presumir-se-á oneroso.
Não há dúvida de que o mandato, sobretudo quando oneroso, produz obrigações
recíprocas.
A confiança que o permeia, contudo, impede que o mandatário vincule o cumprimento de
sua obrigação ao cumprimento das obrigações atribuídas ao mandante. Sua natureza
unilateral resulta precisamente da inexistência de sinalagma entre as obrigações de ambas
as partes. Ou seja, inexiste nexo de causalidade ou de funcionalidade entre as obrigações,
de forma que uma seja a razão jurídica da outra. Não se aplica, por isso mesmo, no caso
do mandato, a exceção do contrato não cumprido, extinguindo-se o mandado tão-somente
nas hipóteses previstas pelo legislador. Registre-se, ainda, a classificação do mandato
212
Direito Civil 2016 213
como um contrato preparatório, habilitando o mandatário para a prática de certos atos que
não estão nele contidos, de modo a conferir-lhe poderes para executá-lo.
Repete o CC a autorização para que os menores relativamente incapazes possam atuar
como mandatários, independentemente da assistência de seus representantes legais”. O
incapaz pode ser mandante ou mandatário. Mas para outorgar o mandato, deve ser
assistido. [Tepedino] Procuração: “A procuração constitui-se negócio jurídico autônomo,
abstrato e unilateral, pelo qual o representado outorga ao representante os poderes de
representação: é o instrumento22 de outorga da representação” [Tepedino]
“A procuração não cria uma obrigação para o procurador de praticar atos, mas o poder de
agir em nome do outorgante, diferenciando-se, nesse aspecto, do mandato, em que o
mandatário tem a obrigação de praticar atos jurídicos no interesse do mandante. A
procuração torna-se o expediente pelo qual o mandatário faz ver a terceiros, com quem
contrata, o conteúdo e a extensão dos poderes de representação que lhe foram conferidos
pelo mandante. Em rigor, a procuração constitui-se instrumento da representação e não do
mandato”
“O CC estabeleceu, no art. 657, a regra da atração da forma, determinando que a
procuração se revista da mesma formalidade do ato a ser praticado pelo mandatário.
Embora da literalidade do art. 655 se extraia a idéia de que o substabelecimento poderá
revestir a forma particular em qualquer hipótese, deve-se interpretar o dispositivo
sistematicamente com o art. 657, entendendo que o substabelecimento poderá revestir a
forma particular tão-somente nas hipóteses em que o ato objeto do mandato e, por
conseguinte, a procuração, não exigir a forma pública, tendo sido ela utilizada apenas
facultativamente pelos interessados” [Tepedino]. De efeito, “o mandato outorgado por
instrumento público previsto no art. 655 do CC somente admite substabelecimento por
instrumento particular quando a forma pública for facultativa e não integrar a substancia do
ato” (Enunciado 182/CJF, II jornada).
O NCC não exige que seja feito o reconhecimento de firma. Mas pode o terceiro exigir.
Assim, em regra, a procuração particular não tem mais reconhecimento de firma da
assinatura.
Contrato consigo mesmo: “O negócio celebrado consigo mesmo é anulável, salvo se houver
autorização da lei ou do representado. A jurisprudência consagrou o entendimento de que
o contrato consigo mesmo deve ser admitido, desde que não haja patente conflito de
interesses ou vedação pelo mandante”. [Tepedino]
Mandatário x Comissário: “Ambos agem por conta de outrem, mas só o mandatário atua
em nome alheio”[Tepedino] Pluralidade de partes
Havendo pluralidade de mandantes, haverá solidariedade entre eles (art. 680). “O vínculo
de solidariedade limita-se à relação interna do mandato, ou seja, aos mandantes em relação
ao mandatário, não se estendendo à relação externa, isto é, aos terceiros com quem o
mandatário contrata em nome dos mandantes” [Tepedino]
Havendo pluralidade de mandatários, há as seguintes situações:
MANDATO EM CONJUNTO: todos os mandatários têm que fazer juntos, deve haver
determinação expressa nesse sentido;
MANDATO DISJUNTIVO: qualquer um dos mandatários pode cumprir, se não houver
determinação contrária, presume-se que todos os mandatários tem plenos poderes;
MANDATO SUCESSIVO: somente poderá ser cumprida a obrigação depois que uma
primeira obrigação for cumprida, cada um tem a sua obrigação, mas existe uma ordem de
preferência.
Classificação do mandato:
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2. Após o CC/02, a disposição contida em seu art. 725, segunda parte, dá novos
contornos à discussão, visto que, nas hipóteses de arrependimento das partes, a comissão
por corretagem permanece devida. Há, inclusive, precedente do STJ determinando o
pagamento de comissão em hipótese de arrependimento.
3. Pelo novo regime, deve-se refletir sobre o que pode ser considerado resultado útil, a
partir do trabalho de mediação do corretor. A mera aproximação das partes, para que se
inicie o processo de negociação no sentido da compra de determinado bem, não justifica o
pagamento de comissão.
A desistência, portanto, antes de concretizado o negócio, permanece possível.
4. Num contrato de compra e venda de imóveis é natural que, após o pagamento de
pequeno sinal, as partes requisitem certidões umas das outras a fim de verificar a
conveniência de efetivamente levarem a efeito o negócio jurídico, tendo em vista os riscos
de inadimplemento, de inadequação do imóvel ou mesmo de evição. Essas providências se
encontram no campo das tratativas, e a não realização do negócio por força do conteúdo
de uma dessas certidões implica mera desistência, não arrependimento, sendo, assim,
inexigível a comissão por corretagem.5. Recurso especial não provido. (REsp 1183324/SP,
Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
18/10/2011, DJe 10/11/2011)
RESUMO DAS DIFERENÇAS ENTRE ESSES CONTRATOS:
MANDATO: é um pessoa (JOÃO-mandatário) representar a outra (PEDRO-mandante).
Quando o
JOÃO assina o contrato com terceiro, quem se vincula é o PEDRO
COMISSÃO: Há um contrato entre comitente (PEDRO) e o comissário (JOÃO) para
realização de negócios com terceiros. Quando o comissão (JOÃO) assina um contrato com
terceiro, ele assina em nome próprio e responde perante o terceiro/cliente em nome próprio.
Muitas vezes o terceiro nem sabe que ele tem contrato com o comitente. Na relação entre
comitente/comissário, se o terceiro/cliente não paga, o comissário (JOÃO) não assume o
prejuízo perante o comitente, salvo se houver cláusula del credere, quando ele “avaliza” o
cliente que conseguiu.
AGÊNCIA/DISTRIBUIÇÃO: é como se fosse um mandato não eventual e limitado a uma
área geográfica onde o agente/distribuidor tem exclusividade de representação. É chamado
de distribuição quando é referente a venda de mercadorias corpóreas. É agência quando
são serviços ou outras coisas. Geralmente, as coisas vendidas tem a marca do empresa
matriz, da qual o distribuidor se usa e divulga.
CORRETAGEM: O corretor só aproxima as partes que tem interesse em contratar, sem que
ele assine ou se comprometa por quem quer que seja.
6.16 CONTRATO DE TRANSPORTE
“O contrato de transporte é aquele pelo qual uma pessoa se obriga, em troca de uma
contraprestação, a receber pessoas ou coisas, animada ou inanimadas, e levá-las até o
lugar de destino, com segurança, presteza e conforto, por meio terrestre, marítimo ou aéreo.
No contrato de fretamento, atribuem-se o uso e a fruição do navio, automóvel, ônibus,
aeronave ou outro meio de transporte. Por outro lado, no contrato de transporte, o
transportador assume o dever de conduzir, de um lugar para outro, pessoas e/ou coisas.
Não se confunde, igualmente, com o contrato de praticagem, o qual consiste no serviço
auxiliar do transporte aquaviário, que tem por fim a condução de embarcações em zonas
perigosas à navegação (trechos de costa, barras, portos, canais, lagoas, rios), realizadas
por pessoas conhecedoras do local, denominadas 'práticos'. Trata-se de uma locação de
serviços formada pela troca de sinais, que se conclui quando o prático, percebendo o sinal
de chamada do capitão, se dirige ao encontro da embarcação.
219
Direito Civil 2016 220
Obs: Ainda que a jurisprudência do STJ seja pacífica no sentido de que o CDC é aplicável
nas ações de responsabilidade civil envolvendo transporte aéreo (AgRg no AREsp 145212
/ RJ; DJe 10/08/2012), com afastamento, portanto, da Convenção de Varsóvia e matéria
correlata, é válido registrar que o STF, em 22.10.09, reconheceu a repercussão geral da
matéria, estando o recurso pendente de apreciação (AI 762184 RG). Atenção para o julgado
colacionado acima no qual o STJ fez a distinção da destinação da mercadoria.
OBS2: No caso de transporte aéreo de mercadorias entre empresas onde não se configure
relação de consumo, aplica-se a convenção de Varsóvia (INFO-STJ-540)
220
Direito Civil 2016 221
Art. 742: não se trata de penhor legal, como ocorre em relação aos hoteleiros (art. 1467, I,
CC), mas de direito de retenção sobre a bagagem do passageiro.
II – Do transporte de coisas.
O contrato de transporte de coisas pode ser definido como aquele pelo qual uma das partes
(expedidor ou remetente) encarrega outra (transportador) de deslocar determinada
mercadoria de um local para outro e de entregá-la pontualmente ao destinatário, mediante
retribuição.
O destinatário, apesar de não ser parte integrante da relação contratual, é sujeito de direitos
e obrigações, em especial quando observada uma estipulação em favor de terceiros. Tal
estipulação não se presume, sendo necessária anuência inequívoca do destinatário.
O instrumento do contrato, em se tratando de transporte de coisas, denomina-se
conhecimento de transporte, conhecimento de carga ou conhecimento de frete, e é contra
a sua apresentação que o bem é entregue ao expedidor ou ao destinatário, ou qualquer
reclamação é atendida. Como título de crédito, o conhecimento de transporte goza dos
princípios cambiários da literalidade e autonomia, sendo impróprio, já que por este se pode
exigir a prestação do serviço (CC, arts. 894 e 895). Trata-se, normalmente, de título
negociável, podendo ser transferido por simples endosso ou por cessão de crédito quando
contiver a expressão 'não à ordem' ou outra equivalente. Como não se trata de contrato
solene, contudo, o conhecimento não é da sua substância, eis que expedido ad probationem
tantum. Na hipótese de perda ou destruição, poderá ser emitida uma segunda via, com o
mesmo efeito da primeira.
O remetente se responsabiliza pelas declarações inexatas que fizer, diante do que o
transportador fará jus à reparação do prejuízo que eventualmente sofrer, decorrente de tal
inexatidão.
Art. 745: o preceito tem dicção confusa. Para se evitar uma interpretação que levaria a uma
redução abrupta e injustificada de prazo para a ação de responsabilidade civil, bem como
a erro grosseiro do legislador na distinção entre prescrição e decadência, poder-se-ia
cogitar de uma ação própria de retificação de dados, no prazo de 120 dias. Nesta esteira, o
legislador teria sobreposto o direito potestativo à apuração da informação ou descrição
222
Direito Civil 2016 223
estimado de indenizações decorrentes de danos sofridos durante certo período por uma
massa de segurados (titulares de interesses segurados homogêneos), guardando, neste
compasso, perfeita equivalência com a obrigação de garantia que incumbe à companhia
seguradora. Para a concepção tradicional, o seguro é contrato aleatório, uma vez que o
segurador assume riscos, sem equivalência entre as prestações recíprocas, ainda que se
conheça o valor global as obrigações do segurado.
Dentre os fundamentos objetivos do contrato de seguro, merecem ser destacados a
mutualidade e o cálculo de probabilidades. A mutualidade verifica-se em razão de haver no
seguro um caráter de cooperação, onde um conjunto de diversas contribuições permite a
formação de um fundo de recursos para o pagamento futuro das indenizações. É mais fácil
suportar coletivamente as conseqüências danosas dos riscos individuais do que deixar o
indivíduo só e isolado, exposto a essas conseqüências. Já o cálculo de probabilidades, ao
qual recorre o segurador para fixar o prêmio a ser pago pelo segurado, permite estimar,
com grande aproximação, o número provável de sinistros de um determinado tipo que pode
ocorrer em determinada localidade, dentro de certo prazo.
Somente entidade para tal fim legalmente autorizada pode figurar como seguradora.
O CC não contemplou a figura do resseguro, o qual consiste na operação pela qual um
segurador descarrega sobre outrem, mediante o pagamento de um prêmio, no todo ou em
parte, os riscos de que se fez garante (seguro do seguro). Da mesma forma, não foi
contemplada a retrocessão, consistente em um resseguro em segundo grau, ou seja, a
operação pela qual o ressegurador transfere a outros o que exceder da sua capacidade, o
que normalmente ocorre em sede de riscos mais vultosos, que saturem a capacidade do
segurador e do ressegurador.
Como causa suspensiva da prescrição, o STJ firmou entendimento na Súmula 229 no
sentido de que a comunicação do segurado à seguradora, para receber o pagamento do
seguro, em virtude da constatação do fato que lhe deu causa, irá suspender o curso do
prazo prescricional até a data da ciência, pelo segurado, da resposta negativa da
seguradora, quando o prazo voltará a correr. A prova da existência do contrato de seguro
deve ser escrita: exibição da apólice ou do bilhete do seguro, ou, na falta desses, de
documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio. Se o segurador não aceitar
acobertar determinado risco constante da proposta de contratação, deverá,
obrigatoriamente, dar ciência deste fato ao segurado, a fim de que este se manifeste sobre
a contratação, ou não, do seguro. A ausência de manifestação por escrito no prazo de 15
dias caracterizará a aceitação tácita da proposta.
Os riscos devem ser minudentemente descritos e expressamente assumidos pelo
segurador. Consiste a apólice geral, aberta ou flutuante naquela que compreende em
abstrato um seguro pactuado que só entra em vigor quando as coisas consideradas no
contrato se acham sujeitas a certos riscos.
As apólices flutuantes, que admitem a possibilidade de se efetuarem substituições com
relação ao objeto do seguro e às pessoas seguradas, se contrapõem às apólices simples,
as quais fixam com precisão o objeto do seguro, como ocorre, p. ex., no contrato incidente
sobre a vida de uma pessoa. Na apólice flutuante, o risco não se individualiza de plano,
mas mediante atos sucessivos (normalmente designados 'averbações') que se incorporam
ao contrato, permanecendo indefinida a quantificação do seguro e a sua determinação
temporal; ocorre, portanto, um risco variável, por oscilar o instante e o volume do risco.
A figura do co-seguro ocorre quando uma pluralidade de seguradores empresta cobertura
simultânea ao mesmo risco (seguro múltiplo). Nessa hipótese, a apólice deverá indicar a
seguradora-líder, a qual assume a administração do contrato e representa as demais para
todos os efeitos, inclusive em juízo. Cada um dos seguradores assume uma porcentagem
do risco, e a ação de cobrança deve ser movida contra todos, representados pela
seguradora-líder, nos respectivos limites da obrigação individual. Não se pode falar em
224
Direito Civil 2016 225
responsabilidade solidária por todo o valor do contrato, salvo se houver cláusula expressa
do contrato que assim disponha, eis que a solidariedade não se presume, sendo o CC
omisso a tal respeito. Art. 762: a culpa, ainda que grave, não enseja a nulidade do contrato.
Em caso de inadimplemento do segurado no pagamento do prêmio, não é devida a
indenização por sinistro ocorrido no intervalo de tempo que perdurar a mora.
A falta de pagamento do prêmio não autoriza o cancelamento automático do seguro, ficando
suspensa a exigibilidade da indenização enquanto não purgada a mora. A jurisprudência
tem entendido que é possível purgar a mora, com o pagamento de todos os seus
consectários, inclusive os juros moratórios, obrigando o segurador ao pagamento de
indenização por sinistro ocorrido durante o período de mora, contanto que esta se restrinja
à última parcela.
Prevaleceu na 2ª Seção do STJ o entendimento de que é necessária a interpelação do
segurado para a constituição em mora.
Não pode o segurado se furtar ao pagamento do prêmio, sob a alegação de que o risco não
se verificou ou se aliviou. Porém, se o risco não existe, ou na hipótese de perecimento do
objeto, de forma a que não esteja este mais sujeito a risco, o prêmio não é devido.
A jurisprudência do STJ tem se inclinado por considerar que o segurador não pode se eximir
do pagamento de indenização sob a alegação da omissão do segurado acerca da doença
preexistente, caso não tenha exigido exames médicos previamente à aceitação da
proposta.
Art. 766: a reticência nas declarações do segurado, por si só, não implica necessariamente
a aplicação das penas deste dispositivo, o que somente se verifica quando estas falsas
declarações ou reticências possam ser suscetíveis de induzir o segurador em erro, influindo
sobre a previsão do risco ou sobre os cálculos da taxa do prêmio a cobrar.
Art. 766, parágrafo único: parece que esta dupla opção (resolver o contrato ou adequá-lo
ao seu justo valor) somente poderá ser exercida pelo segurador caso o sinistro ainda não
tenha ocorrido; se o risco já se implementou, então tudo quanto o segurador poderá fazer
é cobrar a diferença do prêmio, sendo-lhe vedado dar por resolvido o contrato.
Seguro à conta de outrem: hipótese que excepciona o princípio da relatividade das
convenções, pesando o risco do negócio não sobre o estipulante, mas sobre interesses de
outrem, caso em que o contratante interfere em negócio que não afeta seu patrimônio ou
sua pessoa.
Segundo a teoria mais aceita, o estipulante do seguro à conta de outrem figura como um
mandatário ou gestor de negócios em relação ao segurado, não se confundindo, portanto,
com a estipulação em favor de terceiro, que ocorre freqüentemente nos seguros de vida,
hipótese em que o estipulante, mediante o pagamento do prêmio, obtém do segurador a
promessa de pagar a um terceiro beneficiário por ele indicado, em virtude de um sinistro,
uma importância em dinheiro. Isso se justifica na medida em que a lei não confere ao
estipulante do seguro à conta de outrem poder de exigir o cumprimento da obrigação, a
substituição do beneficiário ou a exoneração do segurador.
Art. 769: a hipótese, em verdade, é de resilição unilateral, ou seja, de afastamento dos
efeitos do contrato ainda não cumprido, ou não totalmente executado, pela atuação da
mesma vontade que funcionou com gênese. A resolução pressupõe ter o devedor faltado
ao cumprimento de sua obrigação.
Art. 771: antes mesmo do aviso, o segurado tem a obrigação de proteger os salvados, ou
seja, os despojos da coisa segurada, tomando as medidas para tanto. Os salvados, em
regra, pertencem ao segurador, sendo levados em conta por ocasião do cálculo da taxa de
prêmio.
Quando configurar um verdadeiro intermediário independente, isto é, sem nenhum
vinculação com o segurador, o corretor não será considerado um agente daquele, de
225
Direito Civil 2016 226
maneira que o segurador não poderá ser responsabilizado pelos atos e omissões dolosas
ou culposas do corretor, o qual terá responsabilidade própria.
- NÃO HOUVE ALTERAÇÃO LEGISLATIVA SOBRE A MATÉRIA. ADICIONO
JURISPRUDÊNCIA
RELEVANTE DO STJ: - Para fins de percepção da indenização por incapacidade total e
permanente prevista em contrato de seguro privado, a concessão de aposentadoria por
invalidez pelo INSS não desobriga o beneficiário de demonstrar que se encontra
efetivamente incapacitado. Isso porque a concessão de aposentadoria pelo INSS faz
prova apenas relativa da invalidez, daí a possibilidade da realização de nova perícia
com vistas a comprovar, de forma irrefutável, a presença de incapacidade. A
seguradora não se vincula a prova da qual não participou da produção (INFO-STJ-534)
- Nos contratos de seguro, o segurando não pode confessar culpa no acidente, mas em
alguns casos, onde não houve má-fé e se reduziu a indenização na transação, o STJ
entende que a cláusula não pode ser aplicada (INFO-STJ-548)
I – Do seguro de dano:
II – Do seguro de pessoas:
O seguro de pessoa diferencia-se do seguro de dano especialmente por não desempenhar
a função indenizatória própria deste, motivo pelo qual pode ser pactuado em favor de
terceiros, bem como seu valor pode ser livremente pactuado.
Somente os seguros de vida e acidentes pessoais podem ter o capital livremente estipulado
pelo proponente. Despesas hospitalares ou de tratamento médico, bem como custeio de
despesas de luto e funeral do segurado, embora possam ser considerados seguros de
pessoa, têm regulamentação especial.
Art. 790: o interesse pode ser tanto material, como ocorre no caso do credor, quanto de
afeição, sendo a este último que a lei especialmente atende.
O beneficiário designado pelo segurado tem apenas uma expectativa de direito, podendo
ser substituído pelo segurado a qualquer tempo, até a ocorrência do óbito, salvo os casos
de renúncia do segurado e de garantia da obrigação.
Art. 793: rejeitam os tribunais a admissão do benefício no caso de relações adulterinas,
fazendo a distinção entre a companheira e a concubina.
As importâncias decorrentes de seguro de vida ou de acidentes pessoais são
absolutamente impenhoráveis.
No seguro de vida, ocorrido o sinistro, a importância segurada é devida integralmente, não
comportando redução por via de transação.
No caso de seguro de vida, há regra específica: a falta de pagamento do prêmio, nos prazos
previstos e conforme estipulado no contrato, acarreta a resolução do contrato, com a
restituição da reserva já formada ou a redução do capital garantido proporcionalmente ao
prêmio pago. No caso dos seguros coletivos, os segurados não serão prejudicados se o
estipulante, responsável pelo recolhimento dos prêmios, recebendo-os regularmente, não
os verter à sociedade seguradora no prazo devido. Neste caso, importâncias seguradas
deverão ser normalmente pagas pela seguradora, que, por sua vez, poderá lançar mão de
todos os meios legais para haver os prêmios indevidamente retidos.
Art. 797, par. Único: caso venha a ocorrer o sinistro no prazo de carência, o segurador é
obrigado a devolver ao beneficiário o montante da reserva técnica já formada. A reserva
técnica consiste num capital garantidor de todas as obrigações do segurador, de
conformidade com os critérios fixados pelo Conselho Nacional de Seguros Privados. Os
227
Direito Civil 2016 228
bens garantidores da reserva técnica são registrados na SUSEP, não podendo ser
alienados ou gravados sem prévia e expressa autorização dessa autarquia.
O suicídio, nos primeiros 2 anos, é regra objetiva, pelo que exclui a indenização securitária,
mas dá direito à reserva técnica (segundo a jurisprudência atual do STJ). Mas tem alguns
julgados que dizem que, se o beneficiário provar que o suicídio não foi premeditado, ele
teria direito de indenização.
Art. 799: embora possam as partes excluir determinadas causas da morte do segurado da
cobertura do seguro, esta exclusão será inválida com relação às situações previstas neste
artigo, salvo em caso de transporte proibido ou esporte ilegal.
O seguro de vida ou seguro pessoal em grupo é o negócio que se estabelece entre um
estipulante e a seguradora. Entre o estipulante e o grupo segurado deve haver um vínculo,
como uma relação de emprego ou profissional, sociedade civil ou comercial, associação
religiosa ou de classe. Art. 21, par. 2º do DL 73/66: o estipulante deve ser considerado
mandatário dos segurados, salvo cláusula expressa em contrário.
Jurisprudência 2014 STJ e STF:
DCC - MANUTENÇÃO DA GARANTIA SECURITÁRIA APESAR DE TRANSAÇÃO
JUDICIAL
REALIZADA ENTRE SEGURADO E TERCEIRO PREJUDICADO.
No seguro de responsabilidade civil de veículo, não perde o direito à indenização
o segurado que, de boa-fé e com probidade, realize, sem anuência da
seguradora, transação judicial com a vítima do acidente de trânsito (terceiro
prejudicado), desde que não haja prejuízo efetivo à seguradora.
De fato, o § 2º do art. 787 do CC disciplina que o segurado, no seguro de
responsabilidade civil, não pode, em princípio, reconhecer sua responsabilidade,
transigir ou confessar, judicial ou extrajudicialmente, sua culpa em favor do
lesado, a menos que haja prévio e expresso consentimento do ente segurador,
pois, caso contrário, perderá o direito à garantia securitária, ficando
pessoalmente obrigado perante o terceiro, sem direito do reembolso do que
despender.
Entretanto, como as normas jurídicas não são estanques e sofrem influências
mútuas, embora sejam defesos, o reconhecimento da responsabilidade, a
confissão da ação ou a transação não retiram do segurado, que estiver de boa-
fé e tiver agido com probidade, o direito à indenização e ao reembolso, sendo os
atos apenas ineficazes perante a seguradora (enunciados 373 e 546 das
Jornadas de Direito Civil).
ENUNCIADO Nº 373: Embora sejam defesos pelo § 2º do art. 787 do Código
Civil, o reconhecimento da responsabilidade, a confissão da ação ou a transação
não retiram ao segurado o direito à garantia, sendo apenas ineficazes perante a
seguradora. ENUNCIADO Nº 546: O § 2º do art. 787 do Código Civil deve ser
interpretado em consonância com o art. 422 do mesmo diploma legal, não
obstando o direito à indenização e ao reembolso.
A vedação do reconhecimento da responsabilidade pelo segurado perante
terceiro deve ser interpretada segundo a cláusula geral da boa-fé objetiva
prevista no art. 422 do CC, de modo que a proibição que lhe foi imposta seja
para posturas de má-fé, ou seja, que lesionem interesse da seguradora.
DCC - CONTRATAÇÃO DE SEGURO COM COBERTURA PARA MORTE
ACIDENTAL E POSTERIOR MORTE DO SEGURADO POR CAUSAS
NATURAIS.
Contratado apenas o seguro de acidentes pessoais (garantia por morte
acidental), não há falar em obrigação da seguradora em indenizar o beneficiário
228
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232
Direito Civil 2016 233
Não poderá o devedor opor ao credor as exceções do fiador; assim é que a remissão da
dívida concedida ao devedor principal extingue a fiança, mas se for dada ao fiador, libera-
o, sem fazer cessar a relação fundamental.
Por moratória entende-se a espera, a concessão de prazo ao devedor, após o vencimento
da dívida. - É válida a cláusula que prevê a prorrogação automática da fiança em
caso de prorrogação do contrato principal? 1ª corrente: NÃO. Posição da 3ª Turma do
STJ. 2ª corrente: SIM. Posição da 4ª Turma do STJ. No caso de locação de imóvel, tem
artigo específico dizendo que ocorre a prorrogação. Fiança é formal (tem de ser escrita),
gratuita (de regra, presume-se que o fiador não cobra) e unilateral (o fiador só tem
obrigações). No caso de fiança sem prazo, o fiador deve notificar sua resilição com 60 dias
de antecedência. Não pode notificar se for contrato de locação.
(INFO-STJ-534)
- O fiador de mútuo bancário não tem legitimidade para, exclusivamente e em nome próprio,
pleitear em juízo a revisão e o afastamento de cláusulas e encargos abusivos constantes
do contrato principal. Seu interesse é econômico e reflexo, não jurídico (INFO-STJ-560)
233
Direito Civil 2016 234
Serpa Lopes, como contrato e sem ofensa à sua natureza de força de sentença, a transação
pode conter o princípio geral da cláusula resolutória tácita.
Na transação judicial, só se anula a sentença homologatória mediante a proposição de ação
anulatória prevista no art. 486, CPC. Já a transação extrajudicial impede a reabertura da
discussão acerca do objeto sobre o qual se transigiu, enquanto não anulado o ato negocial.
6.22 CONTRATO DE COMPROMISSO
Designa-se por compromisso o ato jurídico pelo qual as partes, em vez de recorrerem ao
Poder Judiciário, escolhem juízes árbitros para decidirem as suas questões.
Na dicção do art. 1º da Lei 9307/96, o compromisso arbitral somente poderá ter por objeto
litígio relativo a direitos patrimoniais disponíveis.
O compromisso não tem o escopo de obstar o surgimento, bem como o prosseguimento
dos conflitos, através do sacrifício mútuo de direitos, ou de parte de direitos, como ocorre
na transação. Ele apenas transfere o poder de julgar, que, via de regra, pertence do Poder
Judiciário, ao árbitro. No compromisso não há o menor sacrifício dos direitos das partes, as
quais precisamente perante os árbitros irão sustentar os seus próprios direitos.
O compromisso apresenta-se agora como um contrato típico, aplicando-se a ele os
princípios e requisitos que se apõem aos contratos.
A lei 9307/96 equiparou a sentença arbitral à decisão judicial, reconhecendo-lhe força de
título executivo. Deste modo, a decisão arbitral não estará mais sujeita à homologação do
Poder Judiciário. O compromisso se consolida, definitivamente, como instituto de direito
material. Lei 9307/96: o compromisso arbitral judicial é aquele celebrado por termo nos
autos, perante o juízo ou tribunal em que tem curso a demanda. O compromisso arbitral
extrajudicial é aquele celebrado por escrito particular, assinado por 2 testemunhas ou
instrumento público.
Não podem transigir/firmar compromisso os menores, os absolutamente incapazes, bem
como os relativamente incapazes, salvo se assistidos pelos seus representantes legais e
devidamente autorizados pelo juiz.
Art. 852: os efeitos patrimoniais do estado são disponíveis, mas não o estado em si. Alguns
dos direitos de família têm caráter patrimonial. Há, atualmente, duas categorias de direitos
de família: os direitos patrimoniais de família, que podem ser objeto de contrato e se
submetem ao arbítrio da autonomia privada, fazendo com que as lides relacionadas a eles
possam ser solucionadas por via do compromisso; e também os direitos pessoais de família,
cujas pendências não são dirimíveis pelo compromisso, por se revelarem indisponíveis em
virtude da defesa da família, principalmente pelo que ela representa para o desenvolvimento
completo da pessoa humana.
Lei 9307/96: cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um
contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir,
relativamente a tal contrato. Compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes
submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser judicial ou
extrajudicial.
A arbitragem poderá basear-se em regras de direito ou apenas na equidade, a critério das
partes. O Poder Judiciário é competente para o exame da existência, validade e eficácia da
convenção de arbitragem. A melhor doutrina brasileira já negava caráter absoluto do
chamado princípio do kompetenz/kompetenz, entendendo que a competência dos Tribunais
arbitrais não exclui o exame preliminar judicial de existência e validade da cláusula
compromissória.
O CDC veda a instauração compulsória de arbitragem, mas não exclui a hipótese em que
o próprio consumidor toma a iniciativa de instituir o procedimento arbitral, nos termos da Lei
9307/96”.
[Tepedino]
234
Direito Civil 2016 235
A Lei nº. 13.129/2015 fez profundas alterações na lei de arbitragem, em especial: (a) agora,
indubitavelmente, a Fazenda pode utilizar-se da arbitragem de DIREITO (nunca por
equidade); (b) a instituição da arbitragem interrompe a prescrição, que retroage a data do
requerimento de instituição; (c) o poder judiciário pode determinar medida cautelar
enquanto não instituída a arbitragem, devendo o beneficiário requer a instituição em até 30
dias da efetivação da cautelar; (d) instituída a arbitragem, o árbitro pode revogar a cautelar;
(e) o árbitro pode expedir a carta arbitral, para que o órgão judiciário destinatário pratique
ato na sua jurisdição; (f) os árbitros podem prolatar sentenças parciais de mérito; (g) a ação
anulatória da arbitragem deve ser proposta em até 90 dias de cada decisão que se quer
anular (se a decisão for dada em sentença parcial, é dela que se conta o prazo, não da
sentença final) (STJ); (h) a sentença arbitral estrangeira pode ser homologada pelo STJ,
desde que a matéria seja passível de arbitragem, no Brasil, e não ofenda a ordem pública.
6.23 ATOS UNILATERAIS
São fontes de obrigações tal como os contratos, os atos ilícitos e o abuso de direito.
Espécies: promessa de recompensa, gestão de negócios, enriquecimento sem causa
(gênero) e pagamento indevido (espécie).
Promessa de recompensa (arts. 854/860, do CC)
Art. 854. Aquele que, por anúncios públicos, se comprometer a recompensar, ou gratificar,
a quem preencha certa condição, ou desempenhe certo serviço, contrai obrigação de
cumprir o prometido. Requisitos da promessa de recompensa: a) capacidade da pessoa
que emite a declaração de vontade; b) a licitude e possibilidade o objeto; e c) o ato de
publicidade. A revogação está prevista no art. 856, do CC.
Art. 856. Antes de prestado o serviço ou preenchida a condição, pode o promitente revogar
a promessa, contanto que o faça com a mesma publicidade; se houver assinado prazo à
execução da tarefa, entender-se-á que renuncia o arbítrio de retirar, durante ele, a oferta.
Parágrafo único. O candidato de boa-fé, que houver feito despesas, terá direito a
reembolso.
Gestão de negócios (arts. 861/875, do CC)
“Entende-se por gestão de negócio a atuação de um indivíduo, sem autorização do
interessado, na administração do negócio alheio, segundo o interesse e a vontade
presumível de seu dono, assumindo a responsabilidade civil perante este e as pessoas com
que tratar” [STOLZE].
É uma atuação sem poderes. Não é contrato, não há acordo de vontades:
O gestor age sem mandato. Fica diretamente responsável perante o dono do negócio e
terceiros com quem contratou; age conforme a vontade presumível do dono (art. 861,do
CC); NÃO tem direito à remuneração; responderá por caso fortuito ou força maior, se atua
contra a vontade manifesta ou presumível do dono do negócio, podendo este exigir a
restituição do estado das coisas ou a indenização do que exceder os prejuízos superiores
ao seu proveito (art. 862/863, do CC); comunicará, em homenagem ao princípio da boa-fé
objetiva, a gestão ao dono, aguardando a resposta, se não resultar perigo (art. 864, do CC);
deve prestar informações aos herdeiros do dono do negócio, em caso de falecimento do
dono do negócio (art. 865, do CC); em regra, somente pode ser responsabilizado se tiver
agido com culpa, havendo RESPONSABILIDADE SUBJETIVA do mesmo (art. 866, do CC);
responde OBJETIVAMENTE no caso de falta de seu substituto, ainda que seja pessoa
idônea e sem prejuízo (arts. 867, 932, inciso III e 933, do CC).
Ao retornar o dono do negócio, há duas opções: concordando com a atuação do gestor, o
dono deverá ratificar a gestão, convertendo-se a atuação em mandato (art. 869, do CC). A
ratificação RETROAGE ao dia do começo da gestão.
Desaprovando a atuação do gestor, o dono poderá pleitear perdas e danos, havendo, em
regra, responsabilidade subjetiva daquele (art. 874, do CC).
235
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RESPONSABILIDADE CIVIL
CONCEITO: Responsabilidade civil é uma obrigação que incumbe uma pessoa de ter de
reparar os danos causados a outra (indenizar) pela transgressão de uma norma jurídica
preexistente, contratual ou extracontratual.
Em síntese, a violação de um dever jurídico configura o ilícito, que, quase sempre, acarreta
dano para outrem, gerando um novo dever jurídico, qual seja, o de reparar o dano. Há,
assim, um dever jurídico originário, chamado por alguns de primário, cuja violação gera um
dever jurídico sucessivo, também chamado de secundário, que é de indenizar o prejuízo.
(Cavalieri Filho)
Tartuce destaca que a responsabilidade civil avança para a responsabilidade pressuposta,
indicando tese de livre docência da USP, que consiste no pronto-atendimento das vítimas
dos danos pela atribuição a alguém do dever de indenizá-los. Opõe-se à realidade atual,
que, pela falta de solução rápida de litígios, deixa lesionados sem reparação (Questão oral
no Concurso XV TRF1).
Há distinção entre responsabilidade civil contratual e extracontratual:
a) RESPONSABILIDADE CONTRATUAL – tem origem na INEXECUÇÃO
CONTRATUAL, decorre da relação contratual existente.
- ônus da prova: basta comprovar o INADIMPLEMENTO.
- mora: mora é automática.
b) RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL – tem origem na VIOLAÇÃO DE
UM DEVER GERAL DE ABSTENÇÃO pertinente aos direitos reais ou de
personalidade.
- Também denominada de RESPONSABILIDADE AQUILIANA.
- Afundamento da nomenclatura: a lex aquilia foi o diploma romano que previu a
responsabilidade independentemente da existência de uma relação contratual.
- ônus da prova: deve-se demonstrar: DANO + CONDUTA CULPOSA + NEXO DE
CAUSALIDADE.
- mora: não é automática.
7.1 ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL
De acordo com o art. 186, CC, são: conduta humana (ação ou omissão); dano (prejuízo);
culpa genérica* – dolo (intenção ou vontade de causar o prejuízo) ou culpa
(reprovabilidade – inobservância de um dever de cuidado)23; e nexo de causalidade
(relação de causa e efeito). *OBS: Para parcela da doutrina moderna (Pablo Stolze e
Rodolfo Pamplona), a culpa genérica
(elemento subjetivo) seria um elemento acidental da responsabilidade civil, pois a
responsabilidade objetiva prescinde dela. Por isso, não seria elemento essencial.
7.1.1 Conduta humana
CONCEITO: É o comportamento voluntário e consciente humano que pode ser positivo
(ação) ou negativo (omissão) causador do prejuízo, ambos serão idôneos para justificar a
responsabilidade civil, com obrigação de indenizar.
23
A indenização mede-se pela extensão do dano, não pela culpa ou dolo (artigo 944). Grande novidade é
o parágrafo único do artigo 944 (equidade), pelo qual “se houver excessiva desproporção entre a gravidade
da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização”.
237
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24
Enunciado 46: Art. 944: A possibilidade de redução do montante da indenização em face do grau de culpa do agente,
estabelecida no parágrafo único do art. 944 do novo Código Civil, deve ser interpretada restritivamente, por representar
uma exceção ao princípio da reparação integral do dano[,] não se aplicando às hipóteses de responsabilidade objetiva.
(Alterado pelo Enunciado 380 – IV Jornada).
239
Direito Civil 2016 240
Não se aplica ao Direito Civil a legítima defesa putativa, não excluindo a responsabilidade
civil (REsp 513.891/RJ).
7.2.2 Estrito cumprimento do dever legal e Exercício regular de direito
Segundo FREDERICO MARQUES, o estrito cumprimento do dever legal (art. 188, I, in fine,
CC) é uma modalidade de exercício regular de direito (não está expresso no CC).
É óbvio que o estrito cumprimento do dever legal não pode gerar responsabilização, desde
que não haja abuso (art. 187, CC – hipótese de responsabilidade objetiva). Somente atua
em exercício regular de direito quem não está cometendo abuso. Ex.: Inscrição de
inadimplente em cadastros restritivos é exercício regular de direito, se observadas as
prescrições legais (STJ, AgR em AI 555.171)
7.2.3 Caso fortuito e força maior
Assim, a doutrina brasileira não é uniforme quanto à distinção teórica entre caso fortuito e
força maior (Maria Helena Diniz, Álvaro Villaça, Silvio Rodrigues) embora, segundo autores
como Pablo Stolze, melhor é o entendimento segundo o qual força maior é o acontecimento
inevitável – ainda que previsível – e o caso fortuito o acontecimento imprevisível.
Relevante, porém, é afirmação de que, para a lei brasileira, o legislador adotou uma posição
neutra. O p.u do artigo 393 adota postura neutra, delegando à doutrina o labor de diferenciar
os institutos. A regra geral é a de que o devedor não responde por caso fortuito ou força
maior, salvo se a parte se obrigar (autonomia da vontade – art. 393, CC). Outros exemplos
de responsabilidade ainda que configurada força maior ou caso fortuito: mora (art. 399, CC),
perda do objeto nas obrigações de dar coisa certa (art. 246, CC), fortuito interno (doutrina
e jurisprudência), contrato de comodato (art. 583, CC).
7.2.4 Fortuito interno e externo
Essa distinção de AGOSTINHO ALVIM é, sobretudo, importante para o Direito do
Consumidor. CONCEITO: Fortuito interno é aquele que integra o próprio processo de
elaboração do produto, ou de execução do serviço, não tendo o condão de excluir a
responsabilidade civil. Se é fortuito, não há o elemento culpa. Ele integra a própria
elaboração do produto ou serviço e, por conta de integrar a atividade do réu, não exclui a
responsabilidade.
CONCEITO: Fortuito externo é aquele que é exógeno ou estranho à própria atividade do
réu, de maneira que a sua responsabilidade civil é afastada, como o STJ reiteradamente
tem decidido ao considerar fortuito externo roubo ocorrido em ônibus, excluindo a
responsabilidade da empresa viária, até porque compete ao Estado a segurança das
pessoas e não às empresas de ônibus (AgRg no RESP 620.259/MG, AgRg no AG
711.078/RJ; também o julgado de 13.08.2010, do TRF1, 5º turma (AC– 200438000180970),
isentando a responsabilidade civil da CEF pelo extravio de correspondência por esta
empresa pública, em razão de roubo.
Ressalte-se que o STJ entende que a Caixa Econômica Federal não tem legitimidade para
figurar no polo passivo da ação que objetive reparar danos morais e materiais causados por
roubo ocorrido no interior de agência lotérica (REsp 1.317.472 – 3a turma).
7.2.5 Fato exclusivo da vítima
A boa técnica recomenda utilizar fato exclusivo da vítima, em vez de culpa exclusiva.
Pode romper o nexo de responsabilidade. A prova da culpa da vítima deve ser
necessariamente feita pelo réu (RESP 439.408/SP).
Segundo Silvio Rodrigues, o aparente causador do dano é mero instrumento do acidente.
Deve-se falar em isenção da responsabilidade do causador direto do dano, não se devendo
tratar como ausência de culpa deste.
Culpa exclusiva da vítima VS Culpa concorrente
241
Direito Civil 2016 242
Não confundir a culpa exclusiva da vítima com a culpa simplesmente concorrente, que
apenas atenua a responsabilidade civil (art. 945, CC) – não importando necessariamente
em distribuição igualitária da indenização.
7.2.6 Fato de terceiro
Em geral, o fato de terceiro exclui o nexo.
Exceção: A Súmula 187 do STF e o art. 735, CC proíbem a exclusão de responsabilidade
por fato de terceiro por empresa transportadora. Se o fato de terceiro se equiparar a fortuito
externo, não haverá a responsabilização. Ex.: roubo de carga transportada.
7.2.7 Anuência da vítima
O consentimento da vítima, em regra, exclui, previamente, a responsabilidade civil do
agente. Para que o consentimento da vítima seja eficaz, é preciso que, além da capacidade
do agente, o bem jurídico seja disponível.
7.2.8 Cláusula de não indenizar
Decorre da autonomia da vontade. É pré-excludente da obrigação de reparar o dano.
Hipótese em que os riscos são contratualmente transferidos para a vítima. Segundo
CAVALIERI, não afasta a responsabilidade em si, mas apenas a indenização; não se
confunde com a cláusula de irresponsabilidade que decorre da lei. Ex.: Súmula 130/STJ –
contrato de depósito de veículo por estacionamentos; Súmula 161/STF – nula em contratos
de transporte.
São requisitos de validade, conforme VENOSA: (i) bilateralidade no consentimento; (ii) não
é existir normas de ordem pública; (iii) igualdade entre as partes.
Não possui incidência no âmbito consumerista, tendo em vista o disposto nos artigos 25 e
51, I do Código de Defesa do Consumidor.
7.3 RESPONSABILIDADE POR FATO DE OUTREM
Espécie de responsabilidade civil objetiva indireta ou impura, ao lado da responsabilidade
pelo fato da coisa e do animal. Prevista no art. 932, CC, em rol taxativo.
Ato de terceiro – O motivo da existência dessa responsabilidade estendida residiu
inicialmente com os deveres jurídicos de vigilância ou de escolha sobre os agentes. Assim,
foi ampliado o leque de proteção à vítima, já que em determinados casos (art. 932), a vítima
terá ação contra quem praticou o ato e contra terceiro por ele responsável. A priori, terá a
vítima o poder de escolher contra quem quer demandar: se contra o agente, se contra o
terceiro ou se contra ambos. A responsabilidade das pessoas elencadas no art. 932
independe de culpa, tendo sido adotada a teoria do risco-criado (art. 933), ou seja,
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. A culpa não é exigida daquele que responde pelo ato
(objetiva), sendo suficiente a demonstração da conduta, nexo e resultado para a
indenização, embora seja necessária a comprovação da culpa daquele que pratica o ato
ilícito para a ação de regresso (Tartuce).
O art. 932 é uma mudança em relação ao CC/16, que exigia a demonstração de
concorrência de culpa própria do responsável (culpa in vigilando e culpa in eligendo), mas,
a doutrina afirmava que essas culpas eram PRESUMIDAS, por se tratar dessa prova de
prova diabólica, ou seja, era quase impossível para a vítima fazer essa prova. Entretanto,
mesmo com a presunção, não perdiam a condição de elementos constitutivos da
responsabilidade. Depois a jurisprudência caminhou, afirmando que se tratava de uma
presunção iure et de iure (absoluta).
Portanto, as antigas presunções de culpa (culpa in eligendo, in vigilando...) simplesmente
DESAPARECERAM com o CC/02 (Enunciado 451 CJF). É que o novo CC, ao tratar do
tema, nos artigos 932 e 933 baniu estas presunções de culpa consagrando uma
responsabilidade objetiva do representante pelo ato do representado.
A responsabilidade entre o agente causador direto do dano e o terceiro é, perante a vítima,
SOLIDÁRIA (art. 942, parágrafo único, CC) – legal e passiva.
242
Direito Civil 2016 243
A responsabilidade por ato de terceiro não afasta a responsabilidade por ato próprio; em
linhas gerais, ambas as responsabilidades coexistem e ambos os indivíduos devem
responder solidariamente. Exceção: Note-se que, no caso do incapaz (art. 932, I), por força
do artigo 928, a sua responsabilidade é SUBSIDIÁRIA, alcançando o menor e o maior
incapaz. Registre-se que, na forma do artigo 928, parágrafo único, na hipótese de
responsabilização do incapaz, “a indenização prevista neste artigo, que deverá ser
equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele
dependem”.
Há DIREITO DE REGRESSO (regra), pois nos termos do artigo 934 do Código Civil, “aquele
que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem
pagou, SALVO se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente
incapaz”. “Na via regressiva, a indenização atribuída a cada agente será fixada
proporcionalmente à sua contribuição para o evento danoso” (Enunciado 453 CJF).”
7.3.1 Pais pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e companhia
Prevista no art. 932, I, CC.
O CC/16, em seu artigo 156 estabelecia que os menores relativamente incapazes seriam
equiparados aos maiores pelos ilícitos cometidos e, os absolutamente incapazes, por sua
vez, seriam INIMPUTÁVEIS. O CC/02 inovou e contemplou a responsabilidade civil do
incapaz, quer seja a incapacidade absoluta ou relativa, ainda que tal RESPONSABILIDADE
seja SUBSIDIÁRIA.
A responsabilidade civil do incapaz é juridicamente possível em duas hipóteses: (i) Se o
seu representante legal não tiver condição econômica de indenizar a vítima; (ii) Se o seu
representante não tiver a obrigação de indenizar a vítima.
O menor no estabelecimento de ensino está sob a responsabilidade da escola, que não
poderá, por força da lei, regredir contra os pais; mas, o contrato pode prever que os pais
responderão perante a escola pelos danos causados pelos filhos.
Interesse de agir e legitimidade do menor
O filho menor não tem interesse nem legitimidade para recorrer da sentença condenatória
proferida em ação proposta unicamente em face de seu genitor com fundamento na
responsabilidade dos pais pelos atos ilícitos cometidos pelos filhos menores (STJ – REsp
1.319.626 – julgado em 2013). Relembre-se: não há direito de regresso (art. 928, parágrafo
único).
Responsabilidade do genitor que não detenha a guarda
Antigo julgado do STJ interpreta a norma em sua literalidade para excluir a responsabilidade
do pai que não detenha a guarda nem tenha o menor em sua companhia (RESP
540459/RS).
Todavia, julgado mais recente reconheceu a responsabilidade de ambos os pais mesmo
quando separados (RESP 1074937/MA). A razão é que como o dever de educar cabe a
ambos, a responsabilidade também.
“Considerando que a responsabilidade dos pais pelos atos danosos praticados pelos filhos
menores é objetiva, e não por culpa presumida, ambos os genitores, no exercício do poder
familiar, são, em regra, solidariamente responsáveis por tais atos, ainda que estejam
separados, ressalvado o direito de regresso em caso de culpa exclusiva de um dos
genitores.” (Enunciado 450 CJF) Responsabilização dos pais no caso de filhos com
emancipação voluntária concedida por ato do pai A REGRA é a de que os pais não se
responsabilizam no caso de filho já emancipado. EXCEÇÃO: no caso de EMANCIPAÇÃO
VOLUNTÁRIA, concedida por ato dos pais, estes respondem (REsp 763.488/MT). Nessa
situação, há responsabilidade solidária entre o emancipado e os pais (Enunciado 41 CJF).
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Direito Civil 2016 244
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Direito Civil 2016 245
estiver caracterizada a relação de consumo – ex.: empresário individual. Há, pois, extensão
da proteção do CDC pelo CC.
OBS.: Responsabilidade civil da pessoa jurídica de direito privado por ato de
terceiros
Responderá por ato de terceiro, como se fosse pessoa natural. O CC/02 não repetiu o texto
de 1916, por absoluta desnecessidade, porque é lógico que a pessoa jurídica
independentemente de sua finalidade irá responder civilmente pelos atos praticados por
terceiros, desde que enquadrados nas circunstâncias do artigo 932.
SILVIO RODRIGUES (posição minoritária) dá a entender que a pessoa jurídica não
responde automaticamente por ato de terceiro, deveria haver a comprovação da culpa da
pessoa jurídica pela prática do ato de terceiro.
7.5 TEORIAS SUBJETIVA E OBJETIVA DA RESPONSABILIDADE CIVIL
A responsabilidade civil subjetiva ou clássica está estruturada na TEORIA DA CULPA,
pressupondo o ato ilícito culposo ou doloso. Ela estruturava o CC/16, influenciado pelo
Código Francês (faute). Assim, a definição do ato ilícito possuía como elementos: o dolo e
a culpa, ou seja, era imprescindível a comprovação dos dois para a configuração da
responsabilidade.
Nesta concepção clássica, todavia, a vítima só obterá a reparação do dano se provar a
culpa do agente, o que nem sempre é possível na sociedade moderna. O desenvolvimento
industrial, bem como o crescimento populacional geraram novas situações que não podiam
ser amparadas pelo conceito tradicional de culpa.
Nesse contexto, importantes trabalhos vieram à luz, sustentando uma responsabilidade
objetiva, sem culpa, baseada na chamada TEORIA DO RISCO, que acabou sendo também
adotada pela lei brasileira em um primeiro momento e é atualmente adotada pelo CC/02 em
alguns casos. No Brasil, a primeira lei que cuidou a responsabilidade objetiva foi o DL
2682/12 (Estradas de Ferro), que determinada que a estrada de ferro deveria
responsabilizar-se pelos danos causados aos proprietários dos terrenos vizinhos. Houve
outras disposições que tratavam da responsabilidade objetiva:
Principais Hipóteses de Responsabilidade Aquiliana Objetiva fora do Código Civil
- Estradas de ferro (Decreto 2681/12, art. 26)
- Código de Mineração (Decreto-lei 227/67, art. 47, VIII)
- DPVAT (Lei 6.194 /74)
- Meio ambiente (Lei Federal 6.938/81, art. 14, § 1º)
- Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei Federal 7565/86, arts. 268 e 269)
- Estado (CF/88, art. 37, § 6º)25
- Pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos (CF/88, art. 37,
§ 6º)
- Danos Nucleares (CF/88, art. 21, XXIII, “d”, Lei Federal 6.453/77, arts. 4º a 18)
- Código de Defesa do Consumidor (Lei Federal 8.078/90, arts. 12, § 3º, 14, § 3º, e 17)
- Acidente do trabalho (Lei 8.213/91 – INSS; empregador é subjetiva, art. 7º, XXVIII,
CF/88)
7.5.1 Responsabilidade Objetiva no Código Civil de 2002
O CC/2002, embora tenha mantido a responsabilidade subjetiva, optou pela
responsabilidade objetiva em hipóteses tais como: abuso de direito (art. 187), o exercício
de atividade de risco ou perigosa (parágrafo único do 927), danos causados por produtos
(art. 931), responsabilidade pelo fato de outrem (arts. 932 c/c 933), responsabilidade pelo
25
O Supremo Tribunal Federal firmou entendimento no sentido de que excluir da responsabilidade do Estado os danos
causados aos próprios agentes públicos acabaria por esvaziar o preceito do art. 37, § 6º, da Constituição Federal,
estabelecendo distinção nele não contemplada (AG. REG. NO RE N. 435.444-RS).
246
Direito Civil 2016 247
fato da coisa e do animal (arts. 936, 937 e 939), responsabilidade dos incapazes (art. 928),
dentre outras. Cavalieri chega a apontar que pouco restou para a responsabilidade
subjetiva.
As duas principais cláusulas gerais de responsabilidade civil objetiva previstas no CC são
o abuso do direito (arts. 187 c/c 927, caput) e desempenho de atividade de risco (parágrafo
único do 927).
7.5.2 Abuso de direito
Informado pela teoria dos atos emulativos. Parte-se da premissa de que todas as situações
jurídicas, que se conceituam como direito subjetivo, atualmente, são reconhecidas e
protegidas pela norma tendo em vista uma finalidade, que se poderá chamar de finalidade
econômica e social do direito. Quando o titular exorbita no exercício de seu direito, agindo
em desacordo com os fins almejados, haverá responsabilidade civil quando causar dano a
outrem, independente de culpa (objetiva).
CONCEITO: Abuso de direito é o exercício antissocial do direito. O artigo 187, CC consagra
os limites a serem observados no exercício do direito. Ou seja, o abuso de direito configura-
se caso o exercício do direito afronte qualquer uma dos 4 conceitos indeterminados: (i) fim
social; (ii) fim econômico; (iii) boa-fé; e (iv) bons costumes. Portanto, o próprio conceito de
abuso de direito é aberto e dinâmico, na medida em que o intérprete deverá identifica a
violação das normas elencadas.
O abuso de direito aproxima-se do princípio da eticidade (norteador do CC/02), ao
consubstanciar função de controle nas relações igualitárias, exigindo a conduta leal, proba
e integradora nas relações negociais.
7.5.3 Responsabilidade pelo desempenho de atividade de risco
A segunda cláusula geral de responsabilidade objetiva, consta no art. 927, parágrafo único.
Nos termos deste dispositivo – haverá responsabilidade objetiva também em duas
hipóteses: (i) nos casos especificados em lei (como vimos acima um rol de hipóteses) OU
(ii) no desempenho de atividade de risco.
O dispositivo exige uma interpretação cautelosa a fim de que não ocorra um
superdimensionamento da noção “atividade de risco”. Uma boa diretriz é a noção de
riscoproveito que embasa a referida norma.
Não é qualquer atividade de risco que justifica responsabilidade objetiva, conforme
Enunciado 38 da I jornada de Direito Civil: “a responsabilidade fundada no risco da
atividade, como prevista na segunda parte do parágrafo único do art. 927 do novo Código
Civil, configura-se quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano causar
a pessoa determinada um ônus maior do que aos demais membros da coletividade”. Assim,
o risco é criado pelo autor do dano para que ele tenha algum beneficio.
7.5.4 Casos jurisprudenciais
Furto ou roubo de veículo
A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo
ocorridos em seu estacionamento (Súmula 130/STJ).
Empréstimo de veículo
O STJ já firmou entendimento no sentido de que o dono do veículo é solidariamente
responsável pelo dano causado por seu condutor pelo risco criado (REsp 343649/MG e
577902/DF). Locação de Veículos
Súmula 492 STF: A empresa locadora de veículos responde, civil e solidariamente com o
locatário, pelos danos por este causados a terceiro, no uso do carro locado. Essa
solidariedade, em tese, tem base no art. 942 do CC.
Veículos alienados cujo registro ainda não foi realizado
A súmula 132 do STJ (A ausência de registro da transferência não implica a
responsabilidade do antigo proprietário por dano resultante de acidente que envolva o
247
Direito Civil 2016 248
este requisito (certeza) ao permitir a indenização a vítima quando esta sofre a perda de uma
probabilidade que lhe seja favorável para a melhora da sua situação atual.
Conforme o STJ, o dano deve ser REAL, ATUAL e CERTO, dentro de um juízo de
probabilidade e não mera possibilidade, porquanto o dano potencial ou incerto, no espectro
da responsabilidade civil, em regra, não é indenizável (REsp 1.104.665). Os ministros
Mauro Campbell Marques e Eliana Calmon defendem a aplicação da teoria da perda de
uma chance às relações de direito público. Hipóteses reconhecidas na jurisprudência:
- Show do Milhão (REsp 788.459);
- candidato a Vereador que deixa de ser eleito por reduzida diferença de oito votos após
atingido por notícia falsa publicada por jornal, resultando, por isso, a obrigação de indenizar.
(REsp 821.004/MG)
- o erro médico tenha reduzido possibilidades concretas e reais de cura de paciente que venha
a falecer em razão da doença tratada de maneira inadequada pelo médico; Há aqui
variação da teoria original porque, nesta a extensão do dano é incerta, enquanto aqui
o dano já é certo (morte, geralmente), a dúvida recai sobre a conduta do réu
(concausa) (REsp 1254141 - Info 513)
- programa televisivo de perguntas e respostas deve indenizar, pela perda de uma chance, o
participante que, apesar de responder corretamente a pergunta sobre determinado time de
futebol, tenha sido indevidamente desclassificado, ao ter sua resposta considerada errada.
(REsp 1383437 - Info 528);
- A criança que, em razão da ausência do preposto da empresa contratada por seus pais para
coletar o material no momento do parto, não teve recolhidas as células-tronco embrionárias.
(REsp
1.291.247-RJ - Info 549).
250
Direito Civil 2016 251
por herança, mas sim por causa de direito próprio deles (STJ – REsp 1.143.968 – 4a turma
– julgado em 2013 e REsp 1.209.474 – 4a turma – julgado em 2013). Veja o Quadro-resumo:
Ofensa a direito da personalidade da
pessoa enquanto VIVA, tendo esta ajuizado O espólio é legitimado a prosseguir na
ação de indenização, mas falecido antes do demanda.
trânsito em julgado.
251
Direito Civil 2016 252
- A divulgação não autorizada de foto de pessoa física em campanha publicitária promovida por
sociedade empresária com o fim de, mediante incentivo à manutenção da limpeza urbana,
incrementar a sua imagem empresarial perante a população, ainda que a fotografia tenha sido
capturada em local público e sem nenhuma conotação ofensiva ou vexaminosa (REsp
1.307.366-RJ).
254
Direito Civil 2016 255
O CDC admite expressamente a reparação dos danos morais coletivos, tendo em vista o
seu art. 6º, VI. Geralmente, tem sido admitido na jurisprudência nacional, nas searas
trabalhista e ambiental. Inicialmente refutado pelo STJ, através de sua 1ª Turma, por
entendê-lo como de caráter individual, uma vez que deve causar um sofrimento psíquico,
incompatível com a noção de transindividualidade (RESP 598.281/MG, Rel. Ministro Luiz
Fux, Rel. p/ Acórdão Ministro Teori Albino Zavaski, Primeira Turma, julgado em 02.05.2006,
DJ 1º. 06.2006, p. 147). Entretanto, mais recentemente, o STJ admitiu-os no famoso caso
das pílulas de farinha (Microvlar). Precedente: STJ, REsp 866.636/SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, 3ª Turma, j. 29.11.2007, DJ 06.12.2007, p. 312). Ressalte-se que “não é qualquer
atentado aos interesses dos consumidores que pode acarretar dano moral difuso, que dê
ensanchas à responsabilidade civil. Ou seja, nem todo ato ilícito se revela como afronta aos
valores de uma comunidade. Nessa medida, é preciso que o fato transgressor seja de
razoável significância e desborde os limites da tolerabilidade. Ele deve ser grave o suficiente
para produzir verdadeiros sofrimentos, intranquilidade social e alterações relevantes na
ordem extrapatrimonial coletiva”. (REsp 1.221.756⁄RJ)
7.6.3 Danos Sociais
Dano social não é sinônimo de dano moral coletivo.
O dano social é uma nova espécie de dano reparável, que não se confunde com os danos
materiais, morais e estéticos, e que decorre de comportamentos socialmente
reprováveis, que diminuem o nível social de tranquilidade.
Para que haja condenação por dano social, é indispensável que haja pedido expresso.
Na visão do STJ, a condenação por danos sociais somente pode ocorrer em demandas
coletivas e, portanto, apenas os legitimados para a propositura de ações coletivas poderiam
pleitear danos sociais. Em suma, não é possível discutir danos sociais em ação individual.
(REPETITIVO – STJ, 2ª Seção. Rcl 12.062-GO – Info 552).
No mesmo sentido, se orienta o Enunciado 456, CJF: a expressão “dano” no art. 944
abrange não só os danos individuais, materiais ou imateriais, mas também os danos sociais,
difusos, coletivos e individuais homogêneos a serem reclamados pelos legitimados para
propor ações coletivas.
7.7 INDENIZAÇÃO
Em REGRA, o ressarcimento do dano deve observar a reparação integral (restitutio in
integrum ou princípio da indenizabilidade plena). Todavia, a cláusula não é absoluta
comportando exceções decorrentes, notadamente da equidade, como no caso do art. 944,
parágrafo único, CC (inferno da severidade – desproporção entre gravidade da culpa e
dano) e a reparação do incapaz (art. 928, parágrafo único, CC), quando privar do
necessário.
7.7.1 Sistemas de mensuração do dano moral
Existem dois sistemas: (i) livre ou do arbitramento e o (ii) do tarifamento legal.
a) Sistema livre ou do arbitramento
É defendido por autores como Carlos Alberto Bitar, Ronald Andrade, e tem base no artigo
4º e 5º da LICC (quando o juiz aplica a norma ele deve observar a sua função social). É o
sistema preponderante no Brasil.
CONCEITO: o juiz, segundo o critério de razoabilidade e parâmetros da própria
jurisprudência, quantificará a indenização devida à vítima. Esse sistema não aceita um
tarifamento do legislador. b) Sistema do tarifamento legal
255
Direito Civil 2016 256
Após a CF/88, não há mais que se falar em INDENIZAÇÃO TARIFADA para o DANO
MORAL (Questão oral no Concurso XV TRF1).
O STJ, mesmo antes do STF reconhecer que a Lei de Imprensa (Lei n. 5.250/67) não foi
recepcionada pela CF/88 (ADPF 130), já havia editado a Súmula 281-STJ (A indenização
por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na Lei de Imprensa).
Não cabe ao legislador fixar critérios apriorísticos.
- A partir do julgamento proferido no RE nº 172.720-RJ pelo Colendo Supremo Tribunal
Federal firmou-se o entendimento de que a indenização tarifada da Convenção de
Varsóvia não exclui a compensação relativa aos danos morais assegurada pela CF de
1988, em seu artigo 5º, V e X (Questão oral no Concurso XV TRF1).
- STJ também não admite tarifação no caso de DANO MATERIAL.
7.7.2 Fixação do dano moral
A lei de imprensa definia critérios no art. 53, todavia com a não-recepção há lacuna
legislativa, de modo que doutrina e jurisprudência embatem quanto aos critérios a serem
utilizados.
Segundo o STJ (REsp 1.120.971-RJ), no momento da fixação do valor da indenização por
danos morais deve-se levar em consideração as circunstâncias objetivas e subjetivas da
ofensa. Assim, devem ser analisadas:
a) As consequências da ofensa;
b) A capacidade econômica do ofensor;
c) A pessoa do ofendido.
Outro aspecto que deve ser levado em conta no momento da definição da indenização
devida é a condição socioeconômica do causador do dano devendo ser definido valor
razoável, equânime e proporcional, mas que seja suficiente para dissuadir novas práticas.
7.7.2.1 Teoria do punitive damage
É uma teoria muito aplicada nos EUA. A principal função da indenização por danos morais
é reparadora/compensatória, no entanto pode assumir um caráter punitivo, disciplinador
(natureza de pena privada), de forma reflexa/indireta – natureza meramente acessória
(teoria do desestímulo mitigada). Não há como atribuir à reparação moral uma natureza
punitiva pura. Tal orientação tem imperado no STJ, que entende o valor do dano deve ter
uma dupla função, de reparar o dano, buscando minimizar a dor da vítima e punir o ofensor,
para que não volte a reincidir. Na mesma linha, o próprio STF já aplicou tal teoria: (STF, AI
455.846, Rel. Min. Celso de Mello, Informativo 364), bem como consta no Enunciado 379,
CJF.
Essa teoria NÃO é generalizada no Brasil, mas existe PROJETO DE LEI 6960/02 que
poderá acrescentar um § 2o. no artigo 944, trazendo o efeito pedagógico.
Não se aplica aos danos ambientais, consoante o STJ em recurso REPETITIVO. Para a
Corte, é inadequado pretender conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter
punitivo imediato, pois a punição é função que incumbe ao direito penal e administrativo.
Assim, não há que se falar em danos punitivos (punitive damages) no caso de danos
ambientais, haja vista que a responsabilidade civil por dano ambiental prescinde da culpa e
revestir a compensação de caráter punitivo propiciaria o bis in idem (REsp 1.354.536-SE,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/3/2014 pela 2ª Seção - Info 538).
7.7.3 Definição da indenização em caso de morte
Segundo o art. 948, CC, a indenização compreende, além de outras reparações (dano
moral):
i) pagamento das despesas com TRATAMENTO da vítima, FUNERAL e o LUTO da família
(dano emergente); ii) prestação de ALIMENTOS às pessoas a quem o morto os devia,
levando-se em conta a duração provável da vida da vítima (lucros cessantes).
256
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REGRA – Nas obrigações ILÍQUIDAS, se inicia com a CITAÇÃO INICIAL (mora ex persona;
art. 405, CC; art. 219, CPC).
No caso das obrigações LÍQUIDAS, se inicia com o VENCIMENTO (mora ex re).
EXCEÇÃO – a contagem dos JUROS MORATÓRIOS em responsabilidade
EXTRACONTRATUAL tem início A PARTIR DO EVENTO DANOSO (Súmula 54 STJ; art.
398, CC). Isso porque o agente que causa o prejuízo deve pagar o ressarcimento
imediatamente, se assim não o faz, deve ser reconhecida a sua mora – é forma de
estímulo ao pagamento espontâneo.
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POSSE
8 Ponto 8 - Posse.
8.1 Posse (art. 1196 a 1224 do CC)
- Definição
A posse é um fenômeno fático. A vantagem de ser considerado possuidor é ter direito aos
efeitos da posse. O conceito de posse varia conforme a teoria adotada:
TEORIA SUBJETIVA OU TEORIA DA POSSE (Friedrich Carl von SAVIGNY): trabalha com
o aspecto subjetivo da posse. A posse apresentaria 2 elementos constitutivos: corpus +
animus. Corpus é o elemento objetivo que consiste no poder físico da pessoa sobre a coisa.
Animus é o elemento subjetivo, que consiste na intenção de ser o proprietário da coisa
(“animus domini”). A posse, na perspectiva de Savigny, era autônoma em relação à
propriedade, consistindo no poder físico direto (de disposição) que se exerce sobre o
bem com a intenção de ser proprietário. Essa teoria só ganha relevância na
usucapião, pois neste caso o CC/02 exige animus domini.
261
Direito Civil 2016 262
263
Direito Civil 2016 264
Inf.556, STJ:
DAA - INDENIZAÇÃO PARA FINS DE DESAPROPRIAÇÃO QUANDO A ÁREA MEDIDA
FOR MAIOR DO QUE A ESCRITURADA.
Se, em procedimento de desapropriação por interesse social, constatar-se que a área
medida do bem é maior do que a escriturada no Registro de Imóveis, o expropriado
receberá indenização correspondente à área registrada, ficando a diferença
depositada em Juízo até que, posteriormente, se complemente o registro ou se defina
a titularidade para o pagamento a quem de direito.
A indenização devida deverá considerar a área efetivamente desapropriada, ainda que o
tamanho real seja maior do que o constante da escritura, a fim de não se configurar
enriquecimento sem causa em favor do ente expropriante. Nota: Fundamentação para o
depósito:
L3365, Art. 34. O levantamento do preço será deferido mediante prova de propriedade,
de quitação de dívidas fiscais que recaiam sobre o bem expropriado, e publicação de
editais, com o prazo de 10 dias, para conhecimento de terceiros.
Parágrafo único. Se o juiz verificar que há dúvida fundada sobre o domínio, o preço
ficará em depósito, ressalvada aos interessados a ação própria para disputá-lo.
8.1.1 - DETENÇÃO
Conceito legal: art. 1198 do CC/02. Trata-se de uma desqualificação da posse. O detentor
é aquele que tem o poder sobre a coisa, mas não é considerado possuidor. Só pode haver
detenção nos casos previstos em lei, uma vez que, ordinariamente, o poder físico sobre a
coisa caracteriza posse. Para Savigny (teoria subjetiva) há detenção quando há somente
264
Direito Civil 2016 265
corpus. Para Ihering (teoria objetiva), a posse e a detenção têm os mesmos elementos
(corpus e animus), porém a detenção, para Ihering é uma posse, que em virtude da lei, se
avilta/desqualifica. Ou seja, é o legislador quem decide o que será posse e o que será
detenção. Detenção é espécie de posse cujo ordenamento jurídico não concede proteção.
O detentor não pode fazer uso dos interditos possessórios (deverá o detentor nomear a
autoria o real possuidor, sob pena de responsabilidade – art. 62/63 do CPC – o novo CPC
extinguiu a nomeação à autoria, optando o legislador pela simples correção do polo passivo
da ação pelo autor, aproveitando-se o processo: art. 338, novo CPC), mas nada impede
que ele utilize o desforço imediato (autodefesa da posse) para proteger o bem daquele que
recebe ordens (Enunciado 493 da V JDC).
O detentor não tem direito ao usucapiao e à indenização por benfeitorias e acessórios –
Resp 1.183.266/PR.
Detenção difere de tença (termo utilizado por Pontes de Miranda). Tença é mera situação
material de apreensão física do bem, sem qualquer consequência jurídica protetiva.
São casos de detenção previstos expressamente no CC:
1º hipótese- FÂMULO/SERVO DA POSSE (gestor ou administrador da posse - artigo 1198).
é aquele que apreende a coisa em nome de outrem. O contato físico que ele mantém com
a coisa não é em nome próprio, mas em nome de outrem, por força de uma relação
subordinativa com terceiro. Ex: caseiro, veterinário, adestrador de animais.
2º hipótese - ATOS DE MERA TOLERÂNCIA (artigo 1208, 1ª parte): atos de permissão e
tolerância não induzem posse, mas mera detenção. Ex: A natureza jurídica da posse do
comodatário é de detenção.
3º hipótese – Art.1.208, 2ª parte: não induzem posse, antes do convalescimento, os atos
violentos ou clandestinos. A transferência a terceiro de veículo gravado como propriedade
fiduciária, à revelia do proprietário (credor), constitui ato de clandestinidade, incapaz de
induzir posse, logo impossível usucapião (REsp n. 881270/RS).
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não
autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a
violência ou a clandestinidade.
4ª hipótese - PERMISSÃO e CONCESSÃO DE USO DE BEM PÚBLICO. Posse de bem
público de uso comum ou especial tem natureza de mera detenção – Resp 1.003.708/PR.
Ex: ocupação irregular de áreas públicas não induz posse, mas mera detenção Resp
556.721/DF.
• Posse indireta: é o dono da coisa ou assemelhado, que entrega seu bem a outrem.
266
Direito Civil 2016 267
A posse direta ou indireta pode ensejar usucapião? NÃO. O possuidor direto só tem a coisa
consigo por força de um contrato, lhe faltando animus domini Já o possuidor direto já e dono
da coisa, portanto, não há interesse em usucapir a coisa.
Posse injusta:
posse violenta: esbulho; roubo. Admite convalescimento ou interverção.
OS VÍCIOS DA POSSE:
Violenta – é a posse que adquire-se pelo uso da força (vis absoluta) ou pela ameaça (vis
compulsiva). Ex: roubo. A ameaça deve ser séria e injusta. Logo, não constituem atos de
violência o exercício regular de um direito ou temor reverencial. Entende-se
majoritariamente que a posse é injusta se a violência é praticada contra a pessoa ou
contra a coisa.
Clandestina – é a posse que adquire-se às ocultas de quem exerce a posse atual, sem
publicidade ou ostensividade. Ex: a posse que decorre do furto.
Precária – o possuidor recebe a coisa coma obrigação de restituí-la e, abusando da
confiança, deixa de devolvê-la. Ex. apropriação indébita.
RELATIVIDADE DOS VÍCIOS (efeito “inter partes”): a posse será injusta em face do
legítimo possuidor; será justa e suscetível de proteção em relação a terceiros estranhos
ao vício. Os vícios da posse só podem ser arguidos pela vítima, que pode se valer da
autotutela ou dos interditos possessórios.
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Direito Civil 2016 268
• Posse de má-fé: quando o possuidor está convencido de que sua posse não tem
legitimidade jurídica, e nada obstante, nela se mantém. Ou seja, o possuidor conhece a
existência de vício que pesa sobre a coisa A posse injusta é que pode ser de boa ou
de má-fé.
O art. 490, parágrafo único, cria presunção relativa de boa-fé para o possuidor de justo
título. Justo titulo é causa jurídica que justifica a posse. Difere de justo título para fins de
usucapião, que deve ser título potencialmente hábil para transmissão da propriedade, mas
que não o faz pela existência de vício substancial ou formal.
Quanto ao tempo:
• Posse nova: é a de menos de ano e dia.
• Posse velha: é a de ano e dia ou mais.
268
Direito Civil 2016 269
A aquisição pode ser i) originária quando a pessoa e coisa tem contato direto (ex.
apreensão de coisa sem dono / “res nullius” ou abandonada / “res derelictae”) ou ii)
derivada quando há intermédio de outrem (ex. tradição).
Enunciado 77 do CJF: “Art. 1205: A posse de coisas móveis e imóveis também pode ser
transmitida pelo constituto possessório”.
Constituto possessório: em geral, se verifica na “cláusula constituti”. Trata-se da operação
jurídica em que aquele que possuía em nome próprio passa a possuir em nome
alheio. É modo de aquisição e de perda da posse.
Transmissão da posse: a posse tem valor patrimonial e por isso pode ser transmitida. Os arts.
1203 e 1206 tratam do princípio da continuidade do caráter da posse (caráter relativo). O art. 1207
determina que: na sucessão universal (sucessio possessionis) há a transmissão de todo o
patrimônio ou fração ideal dele. O sucessor continua de direito a posse do seu antecessor (há
continuidade). Transmissão “ex lege”. Ex: herança legítima ou transferência de estabelecimento
comercial, casamento com regime de comunhão universal de bens.
A transmissão da posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a das coisas móveis
que nele estiverem (princípio da gravitação jurídica) (art. 1209).
8.1.6 - Efeitos da posse
Como a posse é um fato protegido pelo Direito, dela decorrem múltiplos
efeitos. I. Responsabilidade civil do possuidor.
269
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Benfeitorias são acréscimos na coisa, melhoramentos com alguma finalidade. Podem ser
necessárias, úteis ou voluptuárias.
Tipos de benfeitorias (critério finalístico):
Necessárias: são aquelas que garantem a integridade da finalidade da coisa. Sem elas a
coisa não atinge a sua finalidade.
Úteis: garantem a comodidade no uso da coisa, conforto.
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Direito Civil 2016 273
Provando esses requisitos, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar
de manutenção ou de reintegração, caso contrário, determinará que o autor justifique
previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada.
Essa audiência é para colheita de prova oral, devendo o réu ser citado, mas não poderá
produzir provas. Nessa audiência apenas se confere ao autor a possibilidade de produzir
prova oral (art.562, Novo CPC). Concedida ou não a liminar, o juiz intima o réu para
promover a defesa, seguindo o processo, a partir daí, o rito ordinário.
O art.928, CPC ou art.562, §único, Novo CPC, estabelece que não podem ser concedidas
liminares contra pessoas jurídicas de direito público sem prévia audiência dos respectivos
representantes judiciais. O STJ entende que, em se tratando de empresas pública e SEM
não se exige a prévia audição para eventual concessão de liminar contra seus interesses,
já que ambas possuem natureza de direito privado.
Consoante o art.559, Novo CPC, deferida a liminar de reintegração ou de manutenção na
posse, e demonstrado pelo réu que o autor carece de idoneidade financeira para, no caso
de sucumbência - caso a demanda seja julgada improcedente – responder por perdas e
danos, o juiz designar-lhe-á o prazo de 5 (cinco) dias para requerer caução, real ou
fidejussória, sob pena de ser depositada a coisa litigiosa, ressalvada a impossibilidade da
parte economicamente hipossuficiente.
O novo CPC (art.565) detemrina, ainda que, no caso de litígio coletivo pela posse de imóvel,
quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial houver ocorrido há mais de ano
e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá designar
audiência de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias. Concedida a liminar, se essa
não for executada no prazo de 1 (um) ano, a contar da data de distribuição, caberá ao juiz
designar audiência de mediação. O juiz poderá comparecer à área objeto do litígio quando
sua presença se fizer necessária à efetivação da tutela jurisdicional.
Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, de Estado ou
do Distrito Federal e de Município onde se situe a área objeto do litígio poderão ser
intimados para a audiência, a fim de se manifestarem sobre seu interesse no processo e
sobre a existência de possibilidade de solução para o conflito possessório (art.565, §4º).
Características do procedimento especial possessório:
A. Proibição da exceptio domini ou exceptio proprietatis (art.923, CPC e art.1210, §2º,
CC): trata-se da proibição de alegação de propriedade ou de domínio. O juiz julgará a ação
em favor do melhor possuidor, pouco importanto quem seja o proprietário. O novo CPC,
art.557, determina que Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto
ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for deduzida em
face de terceira pessoa. Não obsta à manutenção ou à reintegração de posse a alegação
de propriedade ou de outro direito sobre a coisa.
Enunciados 78 e 79, JDC: Enunciado 78 - Art. 1.210: Tendo em vista a não-recepção pelo
novo Código Civil da exceptio proprietatis (art. 1.210, § 2º) em caso de ausência de prova
suficiente para embasar decisão liminar ou sentença final ancorada exclusivamente no ius
possessionis, deverá o pedido ser indeferido e julgado improcedente, não obstante eventual
alegação e demonstração de direito real sobre o bem litigioso.
Enunciado 79 - Art. 1.210: A exceptio proprietatis, como defesa oponível às ações
possessórias típicas, foi abolida pelo Código Civil de 2002, que estabeleceu a absoluta
separação entre os juízos possessório e petitório.
ATENÇÃO: a súmula 487 não mais tem aplicação, por perda do objeto, uma vez que não
se discute propriedade em ação possessória.
273
Direito Civil 2016 274
Comum ou ordinário: quando o esbulho ou turbação tem mais de ano e dia. É chamada de
ação de força velha.
Instala-se um juízo petitório, ou seja, é possível discutir, além da posse, outras questões,
como por exemplo ,a propriedade. O procedimento é mais lento, moroso. O procedimento
ordinário possui 05 fases: Postulatória; Conciliatória; Saneatória; Instrutória; Decisória.
Aqui, não há possibilidade de concessão de liminar, mas há a possibilidade de concessão
de tutela antecipada = Enunciado 238, JDC: Art. 1.210: Ainda que a ação possessória seja
intentada além de “ano e dia” da turbação ou esbulho, e, em razão disso, tenha seu trâmite
regido pelo procedimento ordinário (CPC, art. 924), nada impede que o juiz conceda a tutela
possessória liminarmente, mediante antecipação de tutela, desde que presentes os
requisitos autorizadores do art. 273, I ou II, bem como aqueles previstos no art. 461-A e
parágrafos, todos do Código de Processo Civil.
ATENÇÃO: a ameaça é sempre de força nova e, por isso, o interdito proibitório sempre será
de procedimento especial.
274
Direito Civil 2016 275
ATENÇÃO: ainda que outras ações tenham como fundamento a posse, só existem três
ações possessórias – reintegração; manutenção e interdito proibitório.
Ações possessória
Proteção preventiva e reparatória da
posse.
PROTEÇÃO
POSSESSÓRIA
Interditos possessórios Autotutela
Ameaça Interdito proibitório Legítima defesa
(violência (protege)
iminente)
275
Direito Civil 2016 276
• composse pro diviso ou divisível: é aquela que normalmente recai sobre bens divisíveis.
Bens que podem ser divididos ou bens que se encontram juridicamente em estado de
indivisão, todavia de fato foram divididos. Ex. Bem que já foi divido pelos herdeiros, mas
que ainda não foi feita a partilha ou arrolamento judicialmente; A divisão é fática e a
indivisão é jurídica.
separação entre os juízos possessório (em que se discute a posse) e petitório” (em que se
discute propriedade).
A jurisprudência somente admite a "exceptio proprietatis” quando (a) duvidosa a posse de
ambos os litigantes ou (b) as partes disputam a posse a título de proprietárias.
AÇÕES DE FORÇA NOVA E FORÇA VELHA: na posse nova segue-se o rito especial,
sendo cabível liminar. Já na posse velha segue-se o rito ordinário, cabendo antecipação de
tutela (E. 238 da III JDC). Entende-se que a liminar na possessória, por ter requisitos mais
abrangentes, continua a ter sentido a sua existência.
O juiz não poderá conceder liminar sem antes ouvir o representante judicial da
pessoa jurídica de direito público se essa for a ré. Lembre-se que as empresas públicas
e sociedades de economia mista não são de direito público.
Interdito proibitório (art. 932/3 do CPC – art.567/568, Novo CPC): tem caráter preventivo
em favor do possuidor com justo receio de ser molestado (turbado) ou esbulhado de sua
posse. Busca proteção contra violência iminente.
Manutenção de posse (art. 926/31 do CPC – art.560/566, Novo CPC): cabível nos casos
de TURBAÇÃO (molestamento sem privação da posse) atual.
Reintegração de posse (art. 926/31 do CPC – art.560/566, Novo CPC): é conferida ao
possuidor que foi ESBULHADO (privado de sua posse de forma injusta).
Enunciado n. 239 da III JDC: “Na falta de demonstração inequívoca de posse que atenda à
função social, deve-se utilizar a noção de ‘melhor posse’, com base nos critérios previstos
no parágrafo único do art. 507 do CC/1916”. Crítica ao E. 239: a melhor posse é a que
atende a função social. Porém, o parágrafo único do art. 507 do CC/16, prevê que tem a
melhor posse aquele com justo título ou, na falta ou sendo iguais, a mais antiga ou se da
mesma data, a posse atual.
Embargos de terceiro (art. 1046 e ss do CPC – art.674/681, Novo CPC): podem tutelar
a posse de forma preventiva ou repressiva. Pressuposto é o ato de apreensão judicial
(esbulho processual), fato que o distingue das demais possessórias.
Ação de nunciação de obra nova (art. 934/40 do CPC – extinta pelo Novo CPC): cuida-
se de ofensa à posse por obra vizinha. Objetivo da ação é impedir a continuação de obra
que prejudique prédio vizinho ou esteja em desacordo com os regulamentos
administrativos. Situa-se na proteção dos direitos de vizinhança. A ação tem natureza
pessoal, de modo que se dispensa o consentimento do outro cônjuge. Descumprimento do
embargo configura atentado e desobediência
Ação de dano infecto (art. 1277 a 1281 do CC): Quem tiver justo receio de sofrer dano
em seu imóvel em decorrência de ruína em prédio ou obras vizinhas pode pedir que o
proprietário ou responsável preste caução, para garantir eventual indenização, se ocorrer
dano. Nesse caso, protege-se o bem possuído de dano potencial, ainda não ocorrido.
Ação de imissão na posse: dela podem se valer: (a) os adquirentes de bens para haverem
a respectiva posse; (b) administradores e demais representantes das pessoas jurídicas para
haverem de seus antecessores a entrega dos bens; (c) mandatários para haver os bens
dos mandantes das mãos de seus antecessores. A ação tem sido utilizada, também, pelos
arrematantes dos imóveis para haverem a sua posse das mãos dos devedores. Trata-se de
ação petitória voltada para quem nunca teve a posse.
Autotutela: legítima defesa da posse e o desforço imediato. Art. 1210, § 1º, do CC.
Quando houver ameaça ou turbação, cabe legítima defesa. Já quando houver esbulho,
277
Direito Civil 2016 278
cabe desforço imediato. A autotutela engloba tanto os móveis quanto imóveis. Para o uso
da autotutela, o possuidor deve agir tão logo a violação a seu direito se mostre (requisito da
imediatidade na repulsa). Passadas a oportunidade e conveniência da autodefesa, cabe ao
sujeito recorrer às vias judiciais, sob pena de praticar o ilícito penal tipificado no art. 345 do
CP (exercício arbitrário das próprias razões). Além disso, a autotutela deve ser exercida
com moderação. Excesso é abuso de direito.
8.3 Propriedade
8.3.1 - Definição
CONCEITO (art. 1228 do CC): a propriedade é o direito que a pessoa tem, dentro dos
limites normativos, de usar, gozar, dispor de um bem corpóreo ou incorpóreo, bem como
de reivindicá-lo de quem injustamente o detenha (MHD). A propriedade recai sobre bem
determinado, é direito fundamental (art. 5º XXII), mas deve sempre atender sua função
social, sendo um poder-dever. O direito de propriedade, ordinariamente, é um direito
subjetivo que se compõe pelo poder de uma pessoa sobre uma coisa, com oponibilidade
erga omnes.
A relação jurídica proprietária é uma relação de pessoa x coletividade, sendo a coisa o
objeto dessa relação.
- Poderes que compõem o direito de propriedade (Art.1228, CC):
• Uso
• Gozo ou fruição
• Livre disposição
• Reivindicação
O direito de propriedade é um feixe de poderes conferidos ao titular. Trata-se de um direito
complexo, pois possui 04 diferentes poderes compondo um mesmo direito. Além desses 04
poderes, o direito de propriedade exige o título do registro no Cartório de Imóveis. Esse
título corresponde ao registro em cartório para que se garanta a oponibilidade erga omnes
a terceiros. Sem o título, o titular tem o poder sobre a coisa mas não pode opor a terceiros.
Assim, quem tem os 04 poderes, mas não tem título, não tem propriedade, e sim DOMÍNIO,
QUE É EXERCIDO SOBRE A COISA, ENQUANTO A PROPRIEDADE É EXERCIDA
PERANTE A COLETIVIDADE. Quem tem domínio, mas não propriedade é o usucapiente.
278
Direito Civil 2016 279
Quem tem apenas 01 só dos poderes sobre a coisa (uso ou gozo) tem posse, mas não
domínio e nem propriedade.
O direito de propriedade será protegido por meio de ação reivindicatória. Segundo o STJ,
essa ação é imprescritível. Essa ação tem como requisito a prova da existência do título.
Essa ação não precisa de imediatidade, mas sim de tempo, para que se garanta o direito
de propriedade. O procedimento dessa ação é comum ordinário. Só irá propor ação
reivindicatória quem quer discutir o título ou, já não podendo se valer do procedimento
especial possessório, quer recuperar a posse através da afirmação da propriedade.
Quem quer proteger a posse vai se valer das ações possessórias – reintegração,
manutenção e interdito proibitório. Além disso, a ação possessória necessita de
imediatidade.
Quem quer proteger o domínio vale-se da ação publiciana, que tem procedimento ordinário,
não havendo a possibilidade de concessão de liminar. Essa ação só será promovida por
quem não pode se valer de ação possessória. A sentença que julga procedente o pedido
contido na ação publiciana poderia ser levada a registro no cartório de imóveis? NÃO,
porque essa sentença declarou apenas o domínio, não reconhecendo a propriedade.
Assim, o interessado deve propor ação de usucapião para que se obtenha o título. Enquanto
não se obtiver o título não há aquisição de propriedade, mas apenas o reconhecimento do
domínio.
Para alguns, não há distinção entre as expressões “domínio” e “propriedade”, até em razão
do princípio da operabilidade. Porém, outros distinguem: os 4 poderes + o título =
PROPRIEDADE.
• os 4 poderes sem título = DOMÍNIO
• só 1 atributo = POSSE
ação reivindicatória (art. 1228 do CC): direito de reaver o imóvel do poder de quem
injustamente o possua ou detenha. É imprescritível cedendo apenas à usucapião – Resp
216.117/RN. Súmula 237 do STF (“O usucapião pode ser argüida em defesa”).
1ª corrente (tradicional, majoritária e seguida pelo STJ): na usucapião
extraordinária ou
ordinária de imóvel, a sentença que acolha a alegação de usucapião como
defesa não constituirá título hábil para registro, sendo necessária a ação
direta de usucapião, pois i) não se fará coisa julgada quanto à declaração de
usucapião que constituirá apenas questão prejudicial (art. 469, III, do CPC) e ii)
os confinantes do imóvel não terão sido partes na lide, tampouco as fazendas
públicas, além de o ministério público não haver atuado como custos legis,
requisitos exigidos nos arts. 942 a 944 do CPC para a ação direta de usucapião
(STJ - REsp 652.449/SP). Exceção: usucapião especial urbano ou rural, que
admitem que a sentença que acolha a alegação arguida em contestação
constituirá título hábil para fins de registro por expressa disposição legal
constante do art. 7º da Lei 6.969/81 e do art. 13 da Lei 10.257/01. Isso ocorre
porque a lei considera a arguição dessas modalidades especiais de usucapião
não propriamente como uma defesa, mas como verdadeiro pedido contraposto
em ação de natureza dúplice, apto a integrar a coisa julgada da lide (REsp
233.607/SP). Apesar da omissão legal em regular o procedimento do usucapião
especial arguido como defesa, a doutrina indica ser recomendável a observância
das cautelas da ação direta de usucapião) para evitar futura nulidade do registro
decorrente da sentença.
279
Direito Civil 2016 280
• exclusivo: a coisa não pode pertencer a mais de uma pessoa, salvo os casos de condomínio
ou copropriedade, o que também não retira o caráter de exclusividade26.
• complexo.
• fundamental: art. 5º, XXII, CF/88. O direito de propriedade e sua função social são aplicados
diretamente nas relações entre particulares (eficácia horizontal dos direitos fundamentais).
8.3.2 - Elementos
Os elementos que formam o conceito de propriedade são: Gozar, Reaver, Usar e Dispor –
GRUD.
8.3.3 - Classificação
Tendo em vista os atributos (GRUD), a propriedade pode ser:
a) Propriedade plena ou alodial: todos os direitos elementares que a formam se
acham reunidados na pessoa do proprietário.
b) Propriedade limitada ou restrita: recai sobre a propriedade algum ônus
(hipoteca, servidão ou usufruto) OU quando a propriedade for resolúvel, dependente
de codição ou termo (art. 1359 do CC). Neste caso, o direito de propriedade é
composto pela/o:
26
Art. 1231: a propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário.
Art. 1232: Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando separados, ao seu proprietário,
salvo se por preceito jurídico especial, couberem a outrem.
280
Direito Civil 2016 281
281
Direito Civil 2016 282
situado no Brasil, não poderá ser usucapido. Também não corre prescrição contra o
absolutamente incapaz.
Não é apenas a propriedade que pode ser adquirida por usucapião; outros direitos reais
suscetíveis de posse também o poderão, como por exemplo, enfiteuse, servidão, superfície.
Súmula 193, STJ: O direito de uso de linha telefônica pode ser adquirido por usucapião.
O art.103, CC, proíbe usucapião de propriedade de terras públicas. Porém, o STJ vem
reconhecendo a possibilidade de usucapião de direitos reais na coisa alheia de terras
públicas, que não importa na aquisição da propriedade, mas na aquisição de direitos reais
na coisa alheia (Resp 154.123/PE e REsp 575.572/RS). Assim, pode-se entender possível
o usucapião de enfiteuse de terras públicas – NAO HÁ AQUISIÇÃO DE PROPRIEDADE,
MAS APENAS AQUISIÇÃO DE DIREITO REAL NA COISA ALHEIA DE BEM PÚBLICO.
REQUISITOS DO USUCAPIÃO:
Obrigatórios:
Posse qualificada (requisito formal): posse mansa, pacífica, ininterrupta e com animus
domini. É a posse que se mantém no tempo com o possuidor se comportando como se
efetivamente fosse o proprietário do bem.
O ordenamento jurídico admite a soma de posses para fins de usucapião – o usucapiente
pode somar, à sua, a posse dos seus antecessores, que pode decorrer de ato inter vivos
(acessio possessionis – compra de posse) ou ato causa mortis (sucessio possessossionis).
A posse, ainda que haja ação contra o usucapiente, continua mansa e pacífica, desde que
saia vitorioso na mesma.
STJ: a citação promovida em ação possessória julgada improcedente não interrompe o
prazo para aquisição da propriedade pela usucapião (AgR no RESP n. 94.61/MG)
Aquele que possui a posse direta não pode usucapir, pois falta animus domini, já que está
na posse da coisa por força de um contrato. Ex: locatário.
Lapso temporal: os prazos exigidos se contam por anos, desprezando-se o 1º dia e
incluindo-se o último. Aplicam-se ao possuidor todas as hipóteses de impedimento,
suspensão e interrupção da prescrição (art. 197 a 202) no que tange a usucapião.
Regras de direito intertemporal:
- até 2 anos após a entrada em vigor do CC/02 Código serão acrescidos 2 anos aos novos
prazos da usucapião por posse-trabalho ordinária e extraordinária e da desapropriação judicial
privada por posse-trabalho, qualquer que seja o tempo transcorrido na vigência do anterior CC/16
(art. 2029 do CC).
- demais formas de usucapião aplicam-se os prazos da lei anterior, quando reduzidos pelo
CC/2002, e se na data da sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo
estabelecido na lei revogada (art. 2028).
282
Direito Civil 2016 283
edilício na qual um dos condôminos exerce a posse por determinado período de tempo.
Não pode ter usucapião, mas pode ter supressio.
Os bens públicos são insuscetíveis de usucapião (art. 183, § 3º e 191 da CF), já os bens
de sociedades de economia mista e empresas públicas são usucapíveis. Tese minoritária
defende a possibilidade de usucapião de bens públicos dominicais (ex. terras devolutas),
pois são alienáveis, logo também são prescritíveis e usucapíveis. O STF (REnº 220.906)
faz distinção entre as paraestatais prestadoras de serviço público e exploradoras de
atividade econômica, incluindo os bens afetados à finalidade pública como submetidos ao
regime jurídico de Direito Público. Bem com cláusula de inalienabilidade só pode sofrer
usucapião extraordinário. Bem de família, voluntário ou legal, pode ser usucapido. Também
é possível a usucapião de propriedade resolúvel. As terras tradicionalmente ocupadas pelos
índios são inalienáveis, indisponíveis e insuscetíveis de usucapião. No caso da usucapião
em favor de remanescentes das comunidades de quilombos, puderam os moradores e
descendentes que começaram a possuir tais terras em posse tranqüila e pacífica com
animus domini até a edição da CF/88, transmiti-la para as futuras gerações, e nesse caso
recaiu até mesmo em bens públicos. O condômino tem legitimidade para usucapir em nome
próprio o todo, desde que exerça a posse exclusiva com “animus domini” e sejam atendidos
os requisitos legais da usucapião (REsp 668.131/PR). Vaga de garagem, por sua vez, se
for autônoma em relação ao imóvel, com matrícula individual e designação numérica própria
é suscetível de usucapião. A sentença de usucapião tem natureza declaratória.
O Tribunal Regional Federal da 1.ª Região tem entendimento consolidado no sentido de que
imóvel financiado pelo SFH não pode ser objeto de usucapião. Isso porque tais imóveis
possuem a finalidade
de atendimento à política habitacional do Governo Federal, estando, pois, submetidos a regime
de direito público. Ainda, a invasão ou ocupação visando à posse de imóvel financiado
pelo SFH configura crime de ação pública, com pena prevista de seis anos de prisão, de
acordo com o artigo 9º
283
Direito Civil 2016 284
ESPÉCIES DE USUCAPIÃO
Usucapião ordinária
Usucapião extraordinária
Usucapião especial:
Usucapião administrativa
Requisitos comuns: bens suscetíveis de usucapião, “animus domini”, posse mansa, pacífica
e ininterrupta.
USUCAPIÃO ORDINÁRIA (art. 1242)_________________________________
• 10 anos
• Justo título
• Boa-fé Subjetiva (presume-se de boa-fé quem tem justo título – art. 1201 do CC)
Tem prazo de 10 anos. O juiz pode reduzir esse prazo, inclusive de ofício, para 05 anos, quando o
usucapiente estiver cumprindo a função social da posse – morando ou tornando a terra produtiva –
e se o seu justo título for de escritura pública. No usucapião ordinário exige-se, além dos requisitos
obrigatórios, os requisitos facultativos.
284
Direito Civil 2016 285
Doutrina e jurisprudência não admitem, nesse tipo de usucapião, a adição da posse, pois requer
requisitos personalíssimos incompatíveis com a aludida soma. Há presunção absoluta de justo título
e boa-fé.
Enunciado n. 313: “Quando a posse ocorre sobre área superior aos limites legais, não é possível a
aquisição pela via da usucapião especial, ainda que o pedido restrinja a dimensão do que se quer
usucapir”.
Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua
como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona
rural, não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou
de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Parágrafo
único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.
Inf.566, STJ:
DCC DAGG - POSSIBILIDADE DE USUCAPIÃO DE IMÓVEL RURAL DE ÁREA
INFERIOR AO MÓDULO RURAL.
285
Direito Civil 2016 286
Presentes os requisitos exigidos no art. 191 da CF, o imóvel rural cuja área seja inferior
ao “módulo rural” estabelecido para a região (art. 4º, III, da Lei 4.504/1964) poderá ser
adquirido por meio de usucapião especial rural.
De fato, o art. 65 da Lei 4.504/1964 (Estatuto da Terra) estabelece que “O imóvel rural não
é divisível em áreas de dimensão inferior à constitutiva do módulo de propriedade rural”.
(…) Realmente, o Estatuto da Terra foi pensado a partir da delimitação da área mínima
necessária ao aproveitamento econômico do imóvel rural para o sustento familiar, na
perspectiva de implementação do princípio constitucional da função social da propriedade,
importando sempre e principalmente, que o imóvel sobre o qual se exerce a posse
trabalhada possua área capaz de gerar subsistência e progresso social e econômico do
agricultor e sua família, mediante exploração direta e pessoal - com a absorção de toda a
força de trabalho, eventualmente com a ajuda de terceiros.
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 191, cujo texto se faz idêntico no art. 1.239
do CC, disciplinou a usucapião especial rural, nos seguintes termos: “Aquele que, não
sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos
ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinquenta
hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia,
adquirir-lhe-á a propriedade”. Como se verifica neste artigo transcrito, há demarcação de
área máxima passível de ser usucapida, não de área mínima, o que leva os
doutrinadores a concluírem que mais relevante que a área do imóvel é o requisito que
precede a ele, ou seja, o trabalho realizado pelo possuidor e sua família, que torna a
terra produtiva e lhe confere função social.
(…) Assim, a partir de uma interpretação teleológica da norma, que assegure a tutela do
interesse para a qual foi criada, conclui-se que, assentando o legislador, no ordenamento
jurídico, o instituto da usucapião rural, prescrevendo um limite máximo de área a ser
usucapida, sem ressalva de um tamanho mínimo, estando presentes todos os requisitos
exigidos pela legislação de regência, não há impedimento à aquisição usucapicional de
imóvel que guarde medida inferior ao módulo previsto para a região em que se localize.
Nota: O entendimento do STJ acima exposto está de acordo com o que o STF decidiu
por ocasião do julgamento do RE 422.349-RS (DJe 29/4/2015), no qual a Corte analisou
um caso parecido, mas envolvendo usucapião especial urbana. Na ocasião, o STF fixou
a seguinte tese: “Preenchidos os requisitos do art. 183 da CF, o reconhecimento do
direito à usucapião especial urbana não pode ser obstado por legislação
infraconstitucional que estabeleça módulos urbanos na respectiva área onde situado
o imóvel (dimensão do lote)”.
Inf.561, STF:
DAMBB - REQUISITO PARA REGISTRO DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DE
USUCAPIÃO.
Para que a sentença declaratória de usucapião de imóvel rural sem matrícula seja
registrada no Cartório de Registro de Imóveis, é necessário o prévio registro da
reserva legal no Cadastro Ambiental Rural (CAR).
(…) O novo Código Florestal instituiu o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que passou a
concentrar as informações ambientais dos imóveis rurais, sendo dispensada a
averbação da RESERVA LEGAL no Registro de Imóveis (art. 18, § 4º).
286
Direito Civil 2016 287
Nota: Reserva Legal. Quem tem o dever de preservar a área de reserva legal? Só o
proprietário? NÃO. A Reserva Legal deve ser conservada com cobertura de vegetação
nativa não apenas pelo proprietário, como também pelo possuidor ou por qualquer outra
pessoa que ocupe, a qualquer título, a área, seja ele uma pessoa física ou jurídica, de direito
público ou privado (art. 17, caput). Admite-se algum tipo de atividade econômica na área
de reserva legal? SIM. Admite-se a exploração econômica da Reserva Legal mediante
manejo sustentável, previamente aprovado pelo órgão competente do Sisnama (art. 17, §
1º). Qual é o tamanho da área de reserva legal? Será um percentual do imóvel baseado
na região do país onde ele está situado e na natureza da vegetação. A Lei n.
12.651/2012 (Código Florestal) prevê os percentuais de cada imóvel rural que deverão ser
separados e protegidos como área de reserva legal. CAR. Em que consiste? O Código
Florestal (Lei n. 12.651/2012) criou algo muito importante chamado de Cadastro Ambiental
Rural – CAR. Em que consiste? O CAR é um registro público eletrônico de âmbito
nacional, no qual todos os imóveis rurais devem estar inscritos com a finalidade de
reunir, em um só local, as informações ambientais das propriedades e posses rurais,
formando uma base de dados que servirá para controle, monitoramento,
planejamento e combate ao desmatamento. De quem é o dever de inscrever o imóvel
no CAR? Dos proprietários e possuidores rurais. Os proprietários e possuidores rurais
têm um prazo até maio de 2016 para inscrever seus imóveis no CAR. Para isso, eles
deverão apresentar uma lista de documentos previstos no Decreto 7.830/2012. A área de
Reserva Legal precisa ser inscrita no CAR? SIM. Com certeza. O Código Florestal
determinou que a área de Reserva Legal deve ser inscrita no CAR. Antes de existir o CAR,
onde era inscrita a Reserva Legal? Como as pessoas sabiam que um determinado
imóvel possuía parte de sua extensão como área de Reserva Legal? Antes da Lei n.
12.651/2012 (novo Código Florestal), a Área de Reserva Legal era inscrita na matrícula
do imóvel, ou seja, essa informação ficava no cartório de Registro de Imóveis (art. 167, II,
22, da Lei n. 6.015/73). Depois da Lei n. 12.651/2012 (novo Código Florestal), a Área de
Reserva Legal ainda precisa ser inscrita no registro de imóveis? NÃO. O registro da
Reserva Legal no CAR desobriga a averbação no cartório de Registro de Imóveis. Desse
modo, desde a vigência do novo Código Florestal, a Área de Reserva Legal não é mais
averbada no cartório de Registro de Imóveis. A inscrição da Reserva Legal no CAR
possui natureza constitutiva ou declaratória? Se a Área de Reserva Legal não estiver
registrada, o possuidor/proprietário estará desobrigado de respeitá-la? NÃO. A
inscrição da Reserva Legal possui natureza declaratória. O dever de respeitar as
limitações impostas pela Área de Reserva Legal decorre da lei (e não do registro). A
inscrição no CAR tem por objetivo dar publicidade a esse fato.
287
Direito Civil 2016 288
• 5 anos
Inf.783. STF:
DAA - Usucapião de imóvel urbano e norma municipal de parcelamento do solo:
Preenchidos os requisitos do art. 183 da CF (“Aquele que possuir como sua área urbana
de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e
sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio,
desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural”), o reconhecimento
do direito à usucapião especial urbana não pode ser obstado por legislação
infraconstitucional que estabeleça módulos urbanos na respectiva área em que
situado o imóvel (dimensão do lote).
possível usucapião especial urbana de apartamentos (nesse caso, quando for calcular se
o tamanho do imóvel é menor que 250m2 não se incluirá a área comum, como salão de
festas etc, mas tão somente a parte privativa); O título de domínio e a concessão de uso
serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado
civil.
(Promotor MP/BA 2015) Dar-se-á a usucapião especial de imóvel urbano quando o
interessado possuir como sua área ou edificação urbana de até 200 (duzentos metros)
quadrados, por 5 (cinco) anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua
moradia ou de sua família, adquirindo-se, assim, o domínio, desde que não seja proprietário
de outro imóvel urbano ou rural. ERRADO
• Imóvel urbano integrante da meação do casal (imóvel comum do casal) e não superior a 250
m². Há divergência sobre a aplicação para imóvel rural; pois a lei não previu para imóvel rural.
• Posse direta com exclusividade. Propriedade dividida com ex que abandonou o lar. Direito
não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
Enunciado 497/CJF: “a fluência do prazo de 2 anos previsto pelo art. 1240-A para a nova
modalidade de usucapião nele contemplada tem início com a entrada em vigor da Lei
12.424/11”.
• MAIS de 250 m²
A ação de usucapião, nesse caso, pode ser ajuizada pelos possuidores, em conjunto ou
separadamente, ou por uma associação de moradores, como substituto processual.
O que significa população de baixa renda? A grande maioria dos autores (SILVIO VENOSA,
MÁRIO DELGADO e outros) tem entendido que se trata de um conceito aberto, que será
definido pelo juiz diante do caso concreto. Entretanto, há julgados indicando alguns critérios
objetivos: a) renda familiar de até 03 SM; b) bolsa-família, quando a renda per capita
máxima seja de R$100,00. O prazo de 05 anos deve ser contado a partir do vigor da lei.
Objetivo: solucionar problemas de distribuição de imóveis urbanos.
289
Direito Civil 2016 290
290
Direito Civil 2016 291
O artigo 1.071 do Novo CPC, acrescentou o artigo 216-A à Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/73),
que trata do usucapião extrajudicial. Tal dispositivo permite o pedido da usucapião extrajudicial,
perante o cartório de imóveis onde se situa o bem, não impedindo a utilização da via jurisdicional,
todavia, não mais submetida tal pretensão a um procedimento especial de jurisdição contenciosa,
mas a um procedimento comum (o novo CPC excluiu a previsão constante dos artigos 941 a 945
do atual CPC).
O usucapião extrajudicial será requerido pelo interessado ao registrador de imóveis da situação do
bem. A ele compete conduzir o procedimento administrativo que levará ao registro do usucapião,
se forem provados os seus requisitos legais e não houver litígio. Cabe à parte optar pela via
extrajudicial ou judicial. O procedimento se inicia a requerimento do usucapiente, respeitando o
princípio da instância que rege o direito registral imobiliário. A parte deverá ser assistida por
advogado. Deve-se apresentar, na petição, prova documental pré-constituída, para comprovar a
posse prolongada pelo tempo exigido no suporte fático de usucapião invocado, bem como as
certidões negativas de distribuição, que comprovam a natureza mansa e pacífica da posse.
Dentre os documentos acostados aos autos, inclui-se o justo título, se houver, prova da quitação de
tributos e taxas e quaisquer outros que evidenciem a posse, como, correspondências, etc. O
legislador refere-se, também, à apresentação de ata notarial como meio de prova (artigo 384, novo
CPC – ata notarial é o instrumento público por meio do qual o tabelião atesta a existência e o modo
de existir de algum fato. Difere da escritura declaratória porque nesta, é um terceiro que atesta o
fato perante o tabelião, que colhe a manifestação de vontade e a formaliza. Assim, para lavrar a ata,
o notário ou seu preposto devidamente autorizado deverá se deslocar até o imóvel e lá poderá
verificar a exteriorização da posse, diante das circunstâncias do caso. Nada obsta a que testemunha
da posse do requerente compareça ao tabelionato e declare sob as penas da lei os fatos que
presenciou, sendo a escritura declaratória lavrada e apresentada ao oficial de registro de imóveis).
O requerimento também deverá ser acompanhado da planta do imóvel, com memorial descritivo e
anotação de responsabilidade técnica, que devem ser elaborados por profissional habilitado perante
o conselho profissional competente.
Recebida a petição devidamente instruída, o oficial de registro procederá à prenotação no livro de
protocolo e a autuará. Se faltar algum documento, formulará nota devolutiva entregue ao requerente,
para que supra a ausência. Se algum interessado não tiver assinado a planta, procederá à sua
notificação, para que se manifeste em quinze dias. A Fazenda Pública, municipal, estadual e federal,
deverá ser notificada para deduzir eventuais impugnações em igual prazo de quinze dias. Em
seguida, publicará edital em jornal de grande circulação, às expensas do requerente, para dar
ciência a terceiros que, em prazo de trinta dias, poderão impugnar o pedido.
A impugnação da Fazenda Pública consiste em alegar que o imóvel é público, se for o caso, e
portanto inusucapível. Os terceiros poderão apresentar quaisquer impugnações contrárias à
consumação do usucapião. Já aos confinantes ou titulares de direitos reais sobre o imóvel, cabe
impugnar a pretensão ou prestar a anuência que não foi outorgada mediante assinatura na planta.
A ausência de manifestação do confinante ou titular de direitos reais não presume sua anuência.
291
Direito Civil 2016 292
Prevê o legislador ainda que o registrador poderá realizar diligências in loco, para elucidar dúvidas
que tenham restado da análise da documentação. Se qualquer das partes interessadas apresentar
impugnação, o registrador remeterá os autos ao juízo competente, para apreciação. Nesse caso,
cabe a emenda da inicial, para ajustá-la às exigências do processo judicial. Se a documentação é
insuficiente e o requerente não se conformou com as exigências formuladas, pode requerer a
suscitação de dúvida (Lei de Registros Públicos, artigo 198), para que o juiz decida, no âmbito
administrativo.
Se não houver impugnação caberá ao registrador apreciar o pedido. A decisão do registrador
pressupõe a qualificação, atividade administrativa vinculada privativa de profissional do direito em
que são examinados os títulos apresentados a registro e verificado o preenchimento dos requisitos
legais do ato registral. No procedimento de usucapião extrajudicial, se a qualificação for positiva, o
oficial procederá ao registro da aquisição do direito real na matrícula. Se o imóvel não for
matriculado, efetuará a abertura da matrícula e o registro. Se negativa, terá de fundamentar a
decisão, indicando quais dos requisitos legais não foi atendido. A decisão que negar o pedido
administrativo não obsta o ingresso com ação judicial de usucapião.
OBS: Usucapião como meio de defesa – Súmula 237, STF – todos os diferentes tipos de
usucapião pode ser alegado como matéria de defesa. S.237, STF. O usucapião pode ser
argüido em defesa. Será possível fazer o registro quando o usucapião for alegado como
matéria de defesa? NÃO. Para gerar registro é necessário seguir todo um procedimento
especificado pela lei. Contudo, o usucapião especial urbano ou rural pode gerar registro.
Requisitos obrigatórios;
Usucapião extraordinário – art.1238, CC Prazo de 15 anos, podendo ser reduzido para 10.
292
Direito Civil 2016 293
Usucapião especial rural – art.191, CF Prazo de 05 anos; imóvel rural não superior a 50
hectares; inexistência de outra propriedade (rural ou
urbana); fixação de moradia ou produtividade da terra.
Pode ocorrer mais de uma vez.
8.3.6.2 Acessão
ACESSÃO (art. 1248) é modo originário aquisitivo de propriedade em razão do qual o
proprietário de um bem passa a adquirir a titularidade de tudo que a ele se adere por ação
humana ou causa natural. Em alguns casos, o titular desfalcado do domínio será
indenizado, em respeito ao princípio que veda o enriquecimento sem causa. Pode se dar:
i) de imóvel a imóvel (natural) ou ii) de móvel a imóvel (artificial).
Acessões são acréscimos ao volume de uma coisa que se dividem em:
Físicas: oriundas da natureza. Não têm a intervenção humana. Podem ser:
293
Direito Civil 2016 294
do rio continuam a pertencer aos proprietários dos terrenos à custa dos quais se
constituíram.
Abandono de álveo: álveo é o leito do rio, que fica encoberto pelas águas. Quando
o álveo emerge, seja por mudança do curso do rio, seja sevido a seca, haverá
acréscimo de terras pelos proprietário ribeirinho correspondente de forma
proporcional. Art. 1.252. O álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários
ribeirinhos das duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos
por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se que os prédios marginais se
estendem até o meio do álveo.
294
Direito Civil 2016 295
8.3.6.3 Registro
Registro é modo de aquisição derivado da propriedade imobiliária. O direito registral
brasileiro atual não segue exatamente o sistema alemão (natureza constitutiva), nem o
sistema francês (natureza declaratória). O Brasil criou um modelo novo. Trata-se do único
modo aquisito derivado de propriedade. Decorre de negócios jurídicos inter vivos (ex:
doação) ou causa mortis (ex: testamento). A transferência da propriedade ocorre com o
registro em cartório de imóveis. O primeiro registro de um imóvel é chamado de
MATRÍCULO. Todos os registros sequenciais são chamados de registro.
Em regra tem natureza constitutiva (só existe direito real a partir do registro), mas
excepcionalmente o terá natureza declaratória (ex. registro da usucapião, do formal de
partilha – princípio da saisine – e a acessão).
No registro com natureza constitutiva, o Brasil adotou o sistema romano do título e do modo
para transferência da propriedade imobiliária e mobiliária. Para transferência da
propriedade é necessário título translativo (ex. escritura) + modo (registro/tradição).
Exceção: registro com natureza declaratória. Os contratos de direitos reais sobre imóveis
devem ser feitos por escritura pública se o imóvel tiver valor superior a 30 salários mínimos
(art. 108 do CC). A escritura (plano da validade) é lavrada no Tabelionato de Notas de
qualquer local do país, pouco importando a localização do imóvel. O registro (plano da
eficácia) no Cartório de Registro de Imóveis do local da coisa transfere a propriedade.
Enunciado 87 do CJF: “Art. 1245: Considera-se também título translativo, para fins do art.
1245 do NCC, a promessa de compra e venda devidamente quitada (arts. 1417 e 1418 do
CC e §6º da lei 6.766/79)”.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO REGISTRO IMOBILIÁRIO NO BRASIL
1ª Fase: Sistema de Transcrição: transcrição significa copiar. Este sistema era baseado
nos negócios/pessoas (fólio pessoal). Existiam diversas transcrições separadas,
organizadas com base nos negócios/pessoas por tipo de ato e data. Havia
despreocupação com o imóvel, que era descrito de forma vaga (ex. “vai até a árvore
alta”), isso gerava sobreposição de bens.
2ª Fase: Sistema de Matrícula: A Lei nº 6.015/73 revolucionou o sistema registral
brasileiro, tanto que sua “vacatio legis” durou 3 anos. Este sistema se baseia nos imóveis
(fólio real). A LRP determina a transformação paulatina das transcrições em matrículas. A
matrícula é o registro principal do imóvel e tem como 1ª preocupação descrevê-lo; depois
trata sobre o titular do direito.
Hoje tudo que envolve o imóvel é unificado em uma matrícula por meio da averbação ou
registro. Hoje, com a LRP temos um sistema mais seguro.
Atributos do registo:
a. Constitutividade: o registro em regra gera a aquisição da propriedade.
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Tema polêmico: usucapião de bem objeto de furto ou roubo. 1ª corrente: não é possível,
pois a má-fé não gera direito a favor de ninguém. 2ª corrente: é possível, pois a) a
usucapião extraordinária de bens imóveis e móveis não pede o requisito da boa-fé e b) o
usucapião proveniente de aquisição violenta da posse é viável no tocante aos bens
imóveis e o termo inicial da prescrição aquisitiva é o instante da cessação da violência
(art. 1.208, CC).
8.3.7.4 Especificação
Art. 1269. É a transformação da coisa em uma espécie nova, diante do trabalho do
especificador, não sendo mais possível o retorno à forma anterior. Ex. Escultura na pedra,
pintura em relação à tela, a poesia em relação ao papel. O especificador indenizará o
valor da matéria-prima ao seu dono. No caso de possível retorno ao estado anterior e no
caso de má-fé sendo impraticável o retorno, pertencerá a coisa ao dono da matéria prima.
8.3.7.5 Confusão, comistão e adjunção
Coisas de pessoas diversas se misturam de tal forma que é impossível separá-las (art.
1272):
• Confusão: mistura entre coisas líquidas ou gases. Ex. Mistura de água e vinho. Difere da
confusão obrigacional (art. 382). É confusão real.
• Comistão: mistura de coisas sólidas e secas. Ex. Areia e cimento. (HÁ ERRO NO CC/02
CONSTANDO O TERMO “COMISSÃO”)
297
Direito Civil 2016 298
• Adjunção: sobreposição ou justaposição de uma coisa sobre outra. Ex. Tinta e parede.
A regra é que se der para separar as coisas indevidamente juntadas, assim deve ser feito.
Mas se não der, cada um dos donos tem quinhão ideal proporcional sobre o valor da
coisa. O dono da parte mais valiosa será considerado dono de tudo, devendo indenizar os
demais pelo seu quinhão. Ex. Cimento (mais caro) e areia. Se a operação ocorreu por má-
fé, a parte de boa-fé pode adquirir a propriedade do todo, pagando o que não for seu,
abatida indenização, OU renunciar ao que lhe pertence, e ser indenizada integralmente.
Conforme doutrina, se a mistura resultou em algo novo, se aplicam as regras de
especificação (apesar do CC ter remetido de forma errada a aplicação).
8.3.7.6 Tradição (“traditio rei”) (art.1267/8)
É modo derivado de aquisição da propriedade móvel, consistindo na entrega de bem
móvel pelo transmitente ao adquirente, com a intenção de transferir-lhe a propriedade. A
tradição pode ser real, simbólica ou ficta. A alienação “a non domino” (realizada por quem
não é o dono da coisa móvel) (art. 1268): a tradição não aliena a propriedade. O caso é
de ineficácia da venda (RESp 39.110/MG), salvo se a coisa, oferecida ao público, em
leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em circunstâncias tais que, ao
adquirente de boa-fé o alienante pareça dono. Da sucessão hereditária de bens móveis
(art. 1784).
8.4 Propriedade móvel
8.4.1 - Propriedade resolúvel e fiduciária
8.4.1.1 DA PROPRIEDADE RESOLÚVEL
Art.1359 e art.1360, CC.
O direito de propriedade foi concebido para ser perpétuo, de modo que o proprietário
continua com essse status até o seu óbito, quando então a titularidade da propriedade será
transmitida aos seus herdeiros.
Apesar de ser um direito perpétuo, o CC admite hipóteses excepcionais na qual o direito de
propriedade se extingue, se resolve:
Propriedade resolúvel de forma originária: art.1359.
Art. 1.359. Resolvida a propriedade pelo implemento da condição ou pelo advento
do termo, entendem-se também resolvidos os direitos reais concedidos na sua
pendência, e o proprietário, em cujo favor se opera a resolução, pode reivindicar
a coisa do poder de quem a possua ou detenha.
A propriedade será resolúvel com causa originária quando a sua causa extintiva constar do
próprio título aquisitivo da propriedade – o titular adquire a propriedade sabendo que ela vai
se extinguir. Nesse caso, o terceiro não pode alegar boa-fé, uma vez que a causa extintiva
consta do próprio título aquisitivo.
Ex: retrovenda – art.505, CC. A cláusula de retrovenda é uma cláusula expressa que consta
em um contrato de compra e venda que estabelece que o vendedor tem o direito potestativo
de comprar a coisa de volta no prazo máximo de 03 anos. Durante esse prazo, a
propriedade do comprador será resolúvel.
Ex.2: alienação fiduciária – enquanto não se quitar a dívida, a propriedade do bem será do
Banco. Quando quitada, a propriedade passa a ser daquele que quitou a dpivida.
Ex.3: fideicomisso – só é permitido no testamento em favor de prole eventual (filho que
alguém ainda vai ter, mas que ainda não foi concebido) a ser concebido no prazo de 02
anos, contados a partir da morte do titular do testamento. Enquanto não concebido, a
propriedade dos bens da prole eventual ficará a cargo de um substituto, transmitindo para
ele a propriedade resolúvel, que será extinta com o nascimento da prole eventual.
298
Direito Civil 2016 299
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Direito Civil 2016 300
Propriedade fiduciária no CC
Quando vendida a coisa, o produto não bastar para o pagamento da dívida e das
despesas de cobrança, continuará o devedor obrigado pelo restante (art. 1.366). O credor
deixa de ter direito real e passa a ser um credor quirografário/comum. O terceiro,
interessado ou não, que pagar a dívida, se sub-rogará de pleno direito no crédito e na
propriedade fiduciária (art. 1.368 – é exceção à regra da teoria geral das obrigações pela
qual o 3º não interessado que paga a dívida no seu próprio nome tem direito de
reembolso, mas não se sub-roga nos direitos do credor/art. 305). As disposições do CC se
aplicam subsidiariamente às hipóteses especiais de alienação fiduciária (art.
1.368-A).
Inf.804, STF -
DEE - Alienação fiduciária de veículos e registro em cartório: É desnecessário o
registro do contrato de alienação fiduciária de veículos em cartório.
300
Direito Civil 2016 301
A Lei 13.043/2014 alterou muitos pontos deste instituto, segue abaixo considerações do site
Dizer o Direito (item todo reformado, pois no resumo do 1 essa lei não era
considerada).
302
Direito Civil 2016 303
Constitui-se a propriedade fiduciária de coisa imóvel mediante registro do contrato que lhe
serve de título no competente Registro de Imóveis (art. 23 da Lei). Com o pagamento da
dívida integral, resolve-se a propriedade fiduciária. Em 30 dias contados do pagamento, o
credor deve fornecer termo de quitação ao devedor, sob pena de multa em favor do
devedor (0,5% ao mês ou fração sobre o valor do contrato). O devedor deve levar este
termo ao Registro de Imóveis que efetuará o cancelamento da propriedade fiduciária.
Vencida e não paga, no todo ou em parte, o fiduciante ou seu representante legal será
intimado, a requerimento do fiduciário, pelo oficial do competente Registro de Imóveis, a
satisfazer, no prazo de 15 dias, a prestação vencida e as que se vencerem até a data do
pagamento, os juros convencionais, as penalidades e os demais encargos contratuais, os
encargos legais, inclusive tributos, as contribuições condominiais imputáveis ao imóvel,
além das despesas de cobrança e de intimação. O contrato definirá o prazo de carência
após o qual será expedida a intimação. A intimação pode ser promovida, por solicitação do
oficial do Registro de Imóveis, por oficial de Registro de Títulos e Documentos da comarca
da situação do imóvel ou do domicílio de quem deva recebê-la, ou pelo correio, com aviso
de recebimento. Se não for encontrado o fiduciante, o oficial certificará o fato, cabendo,
então, ao oficial do competente Registro de Imóveis promover a intimação por edital.
Decorrido o prazo sem a purgação da mora, o oficial do competente Registro de Imóveis,
certificando esse fato, promoverá na matrícula do imóvel a averbação (antes a lei falava
em registro, a correção técnica foi feita pela Lei 10.931/2004) da consolidação da
propriedade em nome do fiduciário, à vista da prova do pagamento por este do imposto de
transmissão inter vivos e, se for o caso, do laudêmio. Consolidada a propriedade em seu
nome, o fiduciário, no prazo de 30 dias contados da data do registro, promoverá público
leilão para a alienação do imóvel.
• 1º leilão: o maior lance deve ser igual ou maior ao valor do imóvel, caso contrário
haverá um 2º leilão nos 15 dias seguintes.
304
Direito Civil 2016 305
• 2º leilão:
o o maior lance deve ser igual ou superior ao valor da dívida, das despesas,
dos prêmios de seguro, dos encargos legais, inclusive tributos, e das
contribuições condominiais. Parte da doutrina sustenta a
inconstitucionalidade desta disposição legal (Cristiano Chaves e Nelson
Rosenvald), pois a norma possibilita que o devedor perca a coisa e tudo o
que foi pago. Ex. Imóvel vale 70 mil. A parte pagou 50 mil. No 2º leilão a
coisa pode ser vendida por apenas 20 mil. Assim a parte perderá o imóvel e
tudo o que pagou. Haveria violação à boa-fé e a função social do contrato,
ocorrência de enriquecimento ilícito e abuso de direito apto a ensejar a
nulidade do ato ou negócio jurídico (art. 187 e 166, II do CC). Neste caso, o
credor tem a obrigação de nos 5 dias que se seguirem à venda do imóvel no
leilão, entregar ao devedor a importância que sobejar, considerando-se nela
compreendido o valor da indenização de benfeitorias, depois de deduzidos
os valores da dívida e das despesas e encargos, fato esse que importará em
recíproca quitação.
o se o maior lance oferecido for inferior ao valor da dívida geral, considerar-se-
á extinta a dívida, estando o credor dispensado da obrigação de devolver
quantias.
305
Direito Civil 2016 306
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Direito Civil 2016 307
Enunciado n. 240 da III JDC: “Art. 1.228: A justa indenização a que alude o parágrafo 5º do
art. 1.228 não tem como critério valorativo, necessariamente, a avaliação técnica lastreada
no mercado imobiliário, sendo indevidos os juros compensatórios.” Visa afastar o art. 14 do
DL 3365/41 que regula a desapropriação.
Enunciado n. 241 da III JDC: “Art. 1.228: O registro da sentença em ação reivindicatória,
que opera a transferência da propriedade para o nome dos possuidores, com fundamento no
interesse social
(art. 1.228, § 5o), é condicionado ao pagamento da respectiva indenização, cujo prazo
será fixado pelo juiz.”
Enunciado n. 305 da IV JDC: “Art. 1.228: Tendo em vista as disposições dos §§ 3º e 4º do
art. 1.228 do Código Civil, o Ministério Público tem o poder-dever de atuar nas hipóteses de
desapropriação, inclusive a indireta, que encerrem relevante interesse público, determinado
pela natureza dos bens jurídicos envolvidos”. Ou seja, se o objeto for imóvel que interessa
à coletividade, caso dos bens públicos dominicais, o MP deve atuar (art. 82, III, do CPC).
Enunciado n. 306 da IV JDC: “Art. 1.228: A situação descrita no § 4° do art. 1.228 do Código
Civil enseja a improcedência do pedido reivindicatório”.
Enunciado n. 307 da IV JDC: “Art. 1.228: Na desapropriação judicial (art. 1.228, § 4º),
poderá o juiz determinar a intervenção dos órgãos públicos competentes para o
licenciamento ambiental e urbanístico”.
Enunciado n. 309 da IV JDC: “Art. 1.228: O conceito de posse de boa-fé de que trata o art.
1.201 do Código Civil não se aplica ao instituto previsto no § 4º do art. 1.228.” Ou seja, a
boa-fé que deve estar presente é a objetiva.
Enunciado n. 310 da IV JDC: “Art. 1.228: Interpreta-se extensivamente a expressão “imóvel
reivindicado” (art. 1.228, § 4º), abrangendo pretensões tanto no juízo petitório quanto no
possessório”.
Enunciado n. 311 da IV JDC: “Caso não seja pago o preço fixado para a desapropriação
judicial, e ultrapassado o prazo prescricional para se exigir o crédito correspondente,
estará autorizada a expedição de mandado para registro da propriedade em favor dos
possuidores.” Para alguns, esse entendimento não se aplica quando a administração
pública for responsável pelo pagamento. Enunciado n. 496 V JDC: “O conteúdo do art.
1.228, §§ 4º e 5º, pode ser objeto de ação autônoma, não se restringindo à defesa em
pretensões reivindicatórias”.
8.6 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE
- Evolução social do direito de propriedade: função social da propriedade
- direito romano: caráter individualista
- idade média: dualidade de sujeitos: o dono e o que explora economicamente
- após Revolução Francesa: individualista
- século XX: caráter social
- século XXI: função social.
No CC/16 não existia previsão sobre função social da propriedade, pois o diploma legal
teve por base o Código de Napoleão (Código Civil Francês), que foi editado pós
Revolução Francesa. Desde a CF/46, fala-se na função social da propriedade (ordem
econômica), mas, somente na CF/88
o direito de propriedade foi tratado no artigo 5 o, inc. XXII e XXIII: “é garantido o direito de
propriedade” e “a propriedade atenderá a sua função social”.
Fundamentos:
307
Direito Civil 2016 308
- Norberto Bobbio (Da estrutura à função): o estudo do direito esteve preso à sua
estrutura, ou seja, o que é o direito. Porém, é necessário estudar para que serve o direito,
a sua função, o seu papel promocional.
- Miguel Reale (exposição de motivos do CC/2002): todo instituto do CC precisa cumprir
três diretrizes – eticidade, operabilidade e SOCIALIDADE. Assim, percebe-se a importância
do papel promocional dos institutos jurídicos.
No que tange especificamente à função social da propriedade, a propriedade deve
promover valores existenciais e sociais – STJ, Resp 27.039/SP. A função social da
propriedade não está hospedada na estrutura externa do direito de propriedade, residindo
na estrutura interna. A função social é o conteúdo que modela o exercício do direito de
propriedade. Ademais, a função social da propriedade é atribuir ao proprietério o
cumprimento de deveres sociais e exeistenciais ao exercício do seu direito de propriedade.
O exercício do direito de propriedade se tornou complexo, uma vez que o proprietário
possui, além de direitos, deveres. Ademias, houve uma obrigacionalização do direito de
propriedade, já que o proprietário deve garantir a sua propriedade valores existenciais e
sociais.
ATENÇÃO: a função social da propriedade não pretende corrigir posições de
hipossuficiência e nem distribuir riquezas. A função social é apenas a preocupação com o
exercício de direitos mais humanista, mais social. Ela não pretende retirar a lucratividade
ou efeitos econômicos da propriedade.
Dentro da FSP hospedam-se diferentes funções:
• Ambiental (ex: reserva legal ambiental): art. 1228, §1º, do CC - “o direito de
propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas
e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido
em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o
patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas”
• Econômica.
• Etc...
Função social não é socialização da propriedade, mas sim socialidade, ou seja, não quer a
FSP distribuir renda, mas sim, preocupar com os impactos sociais e existenciais do
exercício do direito de propriedade.
STF: a FSP afirmada constitucionalmente (art.5º, XXII e XXIII) e civilmente (art.1228, §1º)e
possui aplicação imediata, independentemente de qualquer regulamentação - Súmula 668,
STF: É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da Emenda
Constitucional 29/2000, alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se destinada a
assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana.
Tanto a doutrina quanto a jurisprudÊncia reconhecem a existência da função social das
propriedades e não de uma propriedade apenas, uma vez que, toda e qualquer propriedade
tem que cumprir a função social, seja a propriedade imóvel (EX: desapropriação para fins
de reforma agrária), móvel (IPTU progressivo; edificação compulsória), intelectual (direito
autoral), empresarial – Enunciado 53, JDC: Art. 966: Deve-se levar em consideração o
princípio da função social na interpretação das normas relativas à empresa, a despeito da
falta de referência expressa. A função social da propriedade faz com que a propriedade
308
Direito Civil 2016 309
envolva a situação jurídica de mão dupla, ou seja, o proprietário tem direitos e deveres em
relação ao não proprietário.
Função social da propriedade relativiza o caráter autônomo, ilimitado e absoluto do direito
de propriedade. A função social é um conceito indeterminado. A CF/88 sinalizou o que é a
função social nos artigos 182 e 186:
• aproveitamento racional e adequado da propriedade;
III. Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de
sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.
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Direito Civil 2016 310
a responsabilidade. Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo
dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido.
Propriedade aparente
Os institutos básicos de direito agrário (o direito de propriedade e a posse da terra rural) são
regulamentadosdisciplinados e o direito de propriedade é garantido como direito fundamental,
previsto no art. 5º, XXII, da atual Lei Magna.
O direito de propriedade é um direito fundamental previsto na CF/88, art.5º, XXII. Contudo, tal direito
encontra-se mitigado, na medida em que a propriedade tem que atender a sua função social (art.
5º, XXIII), sob pena de o proprietário ficar sujeito à desapropriação para fins de reforma agrária. O
direito de propriedade também está previsto como um dos princípios da ordem econômica, que têm
por fim ”assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social” (art. 170, III).
Segundo a Constituição Federal, art. 186, para que a propriedade rural cumpra sua função social,
ela tem que atender, simultaneamente, a cinco requisitos: aproveitamento racional e adequado;
utilização adequada dos recursos naturais disponíveis; preservação do meio ambiente; observância
das disposições que regulam as relações de trabalho; e exploração que favoreça o bem-estar dos
proprietários e dos trabalhadores.
Assim, o princípio da função social da propriedade na zona rural corresponde à idéia de correta
utilização econômica da terra e sua justa distribuição, de modo a atender ao bem-estar da
coletividade, mediante o aumento da produtividade e da promoção da justiça social.
- REFORMA AGRÁRIA
Considera-se reforma agrária o conjunto de medidas que visem a promover melhor distribuição da
terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de
justiça social e ao aumento de produtividade - §1º, do art. 1º, da Lei 4.504/64 (Estatuto da Terra). A
reforma agrária nada mais é do que o conjunto de notas e planejamentos estatais mediante
intervenção do Estado na economia agrícola com a finalidade de promover a repartição da
propriedade e renda fundiária.
É a própria CF que estipula os casos em que a função social da propriedade rural é cumprida,
devendo esta atender, simultaneamente, aos seguintes critérios e graus de exigência estabelecidos
em lei: I) aproveitamento racional e adequado; II) utilização adequada dos recursos do meio
ambiente; III) observância das disposições que regulam as relações de trabalho; e IV) exploração
que favoreça o bemestar dos proprietários e dos trabalhadores (art. 186, I a IV).
O art. 184, CF/88, determina que a sanção para o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função
social é a desapropriação por interesse social, para fins de reforma agrária, mediante prévia e justa
indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação de seu valor real, resgatáveis
no prazo de até 20 (vinte) anos, a partir do segundo ano de sua emissão, em percentual proporcional
ao prazo, de acordo com os critérios estabelecidos nos incisos I a V, § 3º, do art. 5º da Lei nº.
8.629/93. Entretanto, as benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.
O Decreto que declarar o imóvel rural como de interesse social, para efeito de reforma agrária,
autoriza a União (competência exclusiva) a propor a ação de desapropriação. As operações de
310
Direito Civil 2016 311
transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária bem como a transferência ao
beneficiário do programa, serão isentas (imunes) de impostos federais, estaduais e municipais (art.
26, Lei n. 8.629/93; §5º, do art. 184, da CF/88).
A desapropriação, judicial ou extrajudicialmente, é executada pelo INCRA, autarquia federal
vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Os beneficiários da distribuição de imóveis rurais pela reforma agrária receberão títulos de
domínio ou de concessão de uso, inegociáveis pelo prazo de 10 anos. O título de domínio
e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos,
independentemente do estado civil, nos termos e condições previstos em lei (art. 189, caput
e parágrafo único, da CF). Determina o art. 184, §5º, da CF que são isentas de impostos
federais, estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis desapropriados
para fins de reforma agrária. Segundo o STF, a isenção deve ser entendida como imunidade
e tem por fim não onerar o procedimento expropriatório ou dificultar a realização da reforma
agrária. Ademais, os títulos da dívida agrária constituem moeda de pagamento da justa
indenização devida e, dado seu caráter indenizatório, não podem ser tributados. Todavia,
terceiro adquirente de títulos da dívida agrária não goza da referida imunidade, uma vez
que o benefício alcança tão-somente o expropriado (RE 168.110, Rel. Min. Moreira Alves,
DJ 19/05/2000).
A Constituição Federal traz como pressupostos da desapropriação, a necessidade pública,
a utilidade pública e o interesse social. Há interesse social quando o Estado se vê diante
dos interesses relativos às camadas mais pobres da população, que proporcionem melhoria
nas condições de vida, a equidade na distribuição de riqueza, e a diminuição das
desigualdades sociais. O orçamento da União fixará, anualmente, o volume de títulos da
dívida agrária e dos recursos destinados ao atendimento do Programa de Reforma Agrária,
devendo constar estes recursos do orçamento do Ministério responsável por sua
implementação e do órgão executor da política de colonização e reforma agrária (INCRA).
De acordo com o art. 185 da Constituição Federal, são insuscetíveis de desapropriação para fins de
reforma agrária: a pequena e média propriedade rural, desde que seu proprietário não possua outra;
e a propriedade produtiva. Os conceitos de propriedade rural, pequena propriedade, propriedade
produtiva, estão contidos na Lei nº. 8.629/93, que dispõe sobre a regulamentação dos dispositivos
constitucionais relativos à reforma agrária, previstos na Constituição.
Não se confunde latifúndio e minifúndio com pequena e média propriedade, pois estas são fixadas
em módulos fiscais e aquelas em módulos rurais. Para ser latifúndio, basta ter no mínimo 1 MR e
ser improdutiva. É preciso que o proprietário da pequena ou média propriedade não possua outro
imóvel RURAL. Se o sujeito tiver 40 imóveis urbanos e 1 média propriedade, ela não poderá ser
desapropriada, pois a lei veda este benefício àquele que possuir outro imóvel rural e não urbano.
(Na usucapião especial rural, não pode o indivíduo ter qualquer outro imóvel).
Assim como o art. 184, CF/88, o art. 5º, XXIV, CF, diz que “a lei estabelecerá o procedimento para
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e
prévia indenização em dinheiro”. Dessa forma, as vedações contidas no art. 185, CF/88, fazem
referência somente ao processo de reforma agrária constante do art. 184, e não ao poder geral de
desapropriação do art. 5º, XXIV.
A Lei Complementar nº 76/93 estabelece procedimento contraditório especial, de rito sumário, para
o processo de desapropriação de imóvel rural por interesse social, em conformidade com o
mandamento constitucional do art. 184, §3º.
Vale destacar da LC que as ações concernentes à desapropriação de imóvel rural, para fins de
reforma agrária, têm caráter preferencial e prejudicial em relação a outras ações referentes ao
imóvel expropriando (art. 18, caput). Qualquer ação que tenha por objeto o bem expropriado será
distribuída, por dependência, à Vara Federal onde tiver curso a ação de desapropriação,
311
Direito Civil 2016 312
determinando-se a pronta intervenção da União (§1º). Ainda, o Ministério Público Federal intervirá,
obrigatoriamente, após a manifestação das partes, antes de cada decisão manifestada no processo,
em qualquer instância (§2º).
Enfim, pode-se falar ainda, em desapropriação para fins de necessidade, utilidade pública ou
interesse social, mas nesses casos, qualquer tipo de propriedade pode sofrer a desapropriação,
seja ela: grande, média ou pequena, produtiva ou não, urbana ou rural, não importa, o que interessa
é que essa desapropriação não tenha ligação com qualquer tipo de reforma agrária.
Existem quatro medidas que constituem uma reforma parcial e que juntas denominam a chamada
reforma agrária. Essas medidas possuem a finalidade de melhorar a vida do homem no campo,
fazer com que as terras sejam utilizadas de forma mais coerente, reduzir as desigualdades sociais
e descentralizar a renda, fazendo assim, com que a economia do país também seja investida na
produtividade do trabalho agrícola. São elas:
• 1º - Reforma fundiária: é o Estado redistribuindo a propriedade fundiária, principalmente em
áreas de agricultura tradicional e de pouco produtividade. Essa redistribuição dos direitos de
propriedade é feita por meio da desapropriação e da divisão dos latifúndios improdutivos,
visando uma distribuição mais justa da terra, portanto, devem ser incluídas nessas
operações as terras do governo, ou seja: terras devolutas, terras da Federação, dos Estados
e Municípios. Vale ressaltar que as Terras devolutas (art. 188, CRFB/88) são terras que
pertencem ao patrimônio do poder público, mas por não serem propriedades utilizadas,
podem ser alienadas ou concedidas a particulares.
• 2º - Reforma agrícola: são as medidas destinadas a aumentar a produtividade da terra e da
mão-deobra agrícola, como: iniciação de técnicas avançadas de cultivo e assistência
técnica; crédito fácil e acessível; facilidades para o escoamento dos produtos a preços
compensatórios; e escolas e serviços médico-hospitalares locais.
• 3º - Reforma rural: é a reforma da empresa rural, visto que esta apresenta as melhores
condições de alcançar os grandes mercados, os preços mais acessíveis e os equipamentos
de mais alta tecnologia, para que assim, possa melhorar a utilização da terra.
• 4º - Regime das relações de Poder: os trabalhadores do campo carecem de mecanismos de
defesa legal e reformar as relações de poder é atribuir ao trabalhador do campo os recursos
legais para que os mesmos possam reivindicar seus direitos. Sendo que esses recursos são
as organizações do sindicalismo rural e da justiça agrária.
A Lei nº. 8.171/91, que dispõe sobre a política agrícola, regula que “entende-se por atividade
agrícola a produção, o processamento e a comercialização dos produtos, subprodutos e derivados,
serviços e insumos agrícolas, pecuários, pesqueiros e florestais”. Dispõe ainda o art. 8° que o
planejamento agrícola será feito em consonância com o que dispõe o art. 174 da Constituição, de
forma democrática e participativa, através de planos nacionais de desenvolvimento agrícola
plurianuais, planos de safras e planos operativos anuais, observadas as definições constantes da
referida lei.
A política fundiária tem a finalidade de disciplinar à posse da terra e de adequar o seu uso, ou
seja, a função social da propriedade. “Nesse contexto, a política fundiária deve visar e promover o
acesso a terra daqueles que saibam produzir, dentro de uma sistemática moderna, especializada
e profissionalizada”.
A Constituição Federal criou ainda o chamado “usucapião constitucional” (art. 191) em favor daquele
que, não sendo proprietário de imóvel urbano ou rural, possua como seu, por cinco anos
ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a 50 hectares, tornando-a
produtiva por seu trabalho ou de sua família e tendo nela sua moradia, terá adquirido sua
propriedade. Em contrapartida, vedou qualquer possibilidade de usucapião em imóveis públicos.
ele a apropriação individual de bens não se justifica se os mesmos não tiverem uma
destinação social. Ter-se algo só para ter é pernicioso. 2ª fase: São Tomás de Aquino
desenvolve a tese da função social em sua Suma Teológica, nela, é desenvolvida a
noção do bem comum. É direito de todos adquirir coisas para garantir sua dignidade
desde que o bem comum seja atendido. 3ª fase: Para Leon Duguit, todo o direito
está subordinado a uma finalidade. Se o direito possuído pelo indivíduo não tiver
finalidade, cabe desapropriação. A CF trata da função social em seu art. 186 e para
estar caracterizada deve preencher todos os requisitos constantes naquele
dispositivo: 1º requisito: aproveitamento racional e adequado da terra. Para ser
atingido, devem ser atendidos níveis fixados pelo órgão responsável quanto à
eficiência na exploração e o grau de utilização da terra. (obs: são garantidos os
incentivos fiscais referentes ao Imposto Territorial Rural relacionado com os graus
de utilização e de eficiência na exploração. Obs2: não são consideradas áreas
aproveitáveis no cálculo do grau de utilização da terra as áreas de efetiva
preservação permanente e demais áreas protegidas por legislação ambiental). 2º
requisito: adequada utilização dos recursos naturais e da preservação do meio
ambiente. Isto tem por finalidade o respeito à vocação natural da terra, através da
manutenção do seu potencial produtivo. A preservação do meio ambiente é a
manutenção das características próprias do meio natural e da qualidade dos
recursos ambientais, na medida adequada à manutenção do equilíbrio ecológico da
propriedade e da saúde e qualidade de vida das comunidades vizinhas. 3º requisito:
observância às normas relativas às relações de trabalho. Estas possuem
abrangência elástica, pois permitem a inclusão de relações de emprego e de
contratos agrários (parceria e arrendamento). 4º requisito: bem estar dos
proprietários (ou possuidores) e dos trabalhadores. O bem estar está ligado à
dignidade da pessoa humana. É cumprido pelo atendimento das necessidades
básicas dos que trabalham a terra, pela observância das normas de segurança do
trabalho e por não provocar conflitos e tensões sociais no imóvel. A função social na
CF tem uma perspectiva econômica, social e ecológica.
- Princípio da justiça social: é a justiça distributiva. A política agrária visa à alteração da
estrutura fundiária vigente.
- Princípio da prevalência do interesse coletivo sobre o individual: A política agrária é
composta por normas cogentes de forte interferência no domínio privado. A política
agrária visa ao atingimento de interesses coletivos sobre interesses individuais.
- Princípio da reformulação da estrutura fundiária: É base da política agrícola, permitindo
ao Estado uma série de programas para alteração do homem no campo. Há órgãos
específicos para cuidar desta reformulação. Ex: INCRA e Ministério da Reforma Agrária.
- Princípio do progresso econômico e social: visa ao aumento da produtividade da
propriedade rural, garantindo uma melhoria das condições de vida do
proprietário/possuidor e um aumento na produção primária do país.
OBS: O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Teve origem na aglutinação de
movimentos que faziam oposição ou estavam desgostosos com o modelo de reforma agrária
imposto pelo regime militar, principalmente na década de 1970, o qual priorizava a colonização de
terras devolutas em regiões remotas, com objetivo de exportação de excedentes populacionais e
integração estratégica. Contrariamente a este modelo, o MST declara buscar a redistribuição das
terras improdutivas. Apresentando uma proposta que tem o escopo de melhorar a divisão das terras
brasileiras, exigindo do governo medidas complementares ao simples assentamento, como a
eletrificação e irrigação do campo, concessão de créditos rurais e execução de programas que
visem estimular a atividade agrária e a subsistência do agricultor e de sua família. Sendo que essas
314
Direito Civil 2016 315
A seguinte jurisprudência do STJ demonstra a legitimidade do MST para fazer tais reivindicações:
“Reforma Agrária. Movimento Sem-Terra. Movimento popular visando a implantar a reforma agrária
não caracteriza crime contra o patrimônio. Configura direito coletivo, expressão da cidadania,
visando a implantar programa constante da Constituição da República. A pressão popular é própria
do Estado de Direito Democrático” (HC nº. 5.574/SP – 6ª T. – Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro,
j. 8-4-97).
315
Direito Civil 2016 316
DIREITOS REAIS
O direito de superfície pode transferir-se a terceiros e, por morte do superficiário, aos seus
herdeiros. Não poderá ser estipulado pelo concedente, a nenhum título, qualquer
pagamento pela transferência (como ocorria com o laudêmio na enfiteuse).
317
Direito Civil 2016 318
318
Direito Civil 2016 319
• Sentença judicial: não havendo acordo entre os proprietários, entendendo o juiz que o direito
real deve persistir em ação confessória.
• Servidão negativa: decorre de ato omissivo ou abstenção. Ex:não construir e não abrir
janelas.
Tal classificação é importante a hipótese de extinção pelo seu não uso durante 10 anos (art.
1.389,III, CC). Na 1ª hipótese, conta-se último ato de exercício da servidão. Na negativa,
conta-se do ato do qual era obrigado a se abster.
320
Direito Civil 2016 321
• Servidão não aparente: não revelada no plano exterior. Ex: não edificar acima de
determinada altura.
EXERCÍCIO DAS SERVIDÕES. O dono de uma servidão pode fazer todas as obras necessárias à
sua conservação e uso, e, se a servidão pertencer a mais de um prédio (servidão conjunta), serão
as despesas rateadas entre os respectivos donos. Essas obras devem ser feitas pelo dono do prédio
dominante, se o contrário não dispuser expressamente o título. A servidão pode ser removida, de
um local para outro, pelo dono do prédio serviente e à sua custa, se em nada diminuir as vantagens
do prédio dominante (exige a jurisprudência a anuência do dono do prédio dominante), ou pelo
dono deste e à sua custa, se houver considerável incremento da utilidade e não prejudicar o prédio
serviente. A servidão é regida pelo princípio de menor onerosidade ao imóvel serviente ou pelo
regramento do “civiliter modo”. Restringir-se-á o exercício da servidão às necessidades do prédio
dominante, evitando-se, quanto possível, agravar o encargo ao prédio serviente:
• Constituída para certo fim, a servidão não se pode ampliar a outro. Ex. se a servidão é para
pastagem de gado, não pode incluir a cultura agrícola no mesmo campo rural.
• nas servidões de trânsito, a de maior inclui a de menor ônus, e a menor exclui a mais
onerosa. Ex.
se a servidão é de passagem de carros, inclui a passagem de pessoas.
• Cabe EXTENSÃO da servidão, EXCEPCIONALMENTE se ocorrer NECESSIDADE de
cultura ou da indústria do prédio dominante, mediante INDENIZAÇÃO ao dono do prédio
serviente.
DA EXTINÇÃO DAS SERVIDÕES (art. 1387 a 1389). Salvo nas desapropriações, a servidão, uma
vez registrada, só se extingue, com respeito a terceiros, quando cancelada no registro de imóveis.
O dono do prédio serviente tem direito, pelos meios judiciais, ao cancelamento do registro, embora
o dono do prédio dominante lhe impugne:
III. quando o dono do prédio serviente resgatar a servidão. Este ato de resgate equivale
a uma renúncia expressa, convencional e onerosa (há anuência do dono do prédio
dominante), consiste em escritura pública subscrita por ambos os interessados.
321
Direito Civil 2016 322
I. pela reunião dos dois prédios no domínio da mesma pessoa (confusão real);
II. pela supressão das respectivas obras por efeito de contrato, ou de outro título
expresso;
III. pelo não uso, durante 10 anos contínuos (desuso da servidão, pois se presume
pelo tempo a sua inutilidade). Obs: qualquer tipo de servidão é suscetível de
extinção pelo não uso, ao contrário da aquisição pela usucapião,
exclusivamente cabível nas servidões aparentes.
MEIOS DE DEFESA. As ações possessórias são utilizadas contra qualquer um que
impeça ou embarace o exercício da posse pelo titular do prédio dominante, mediante
esbulho ou turbação. Só há possibilidade de agressão em face de servidões aparentes,
haja vista que as servidões nãoaparentes não deixam vestígios e, portanto, não são
passíveis de tutela por ação possessória (art. 1213 e 1210 do CC), EXCETO quando
titulada e registrada no ofício imobiliário. Ao contrário do que previa o CC/16, o CC/02
não estendeu a vedação ao ajuizamento das possessórias às servidões descontinuas.
• Nu-proprietário: tem os atributos de reivindicar e dispor. É “nu”, pois está despido dos
atributos diretos. É possuidor indireto.
Somente o nu-proprietário pode vender o bem e ingressar com ação reivindicatória. Ambos
podem manejar ação possessória.
OBJETO. O usufruto pode recair em um ou mais bens, móveis ou imóveis, em um
patrimônio inteiro, ou em parte deste, abrangendo-lhe, no todo ou em parte, os frutos e
utilidades. O usufruto de imóveis, quando não resulte de usucapião, constituir-se-á
mediante registro no CRI.
MODOS DE CONSTITUIÇÃO:
a) Por determinação legal ex: art. 1689, CC.
b) Usufruto indígena (art. 231, par. 2º, CRFB)
c) Por ato de vontade, podendo ser inter vivos ou mortis causa.
322
Direito Civil 2016 323
• Usufruto legal: decorre da lei, sendo desnecessário o seu registro no CRI. Ex.: usufruto dos
pais sobre os bens dos filhos menores (art. 1689, I, do CC.
• Usufruto judicial (o CPC tratava “Do Usufruto de Imóvel ou de Empresa”; com a Lei
11.382/06 a hipótese mudou: “Do Usufruto de Móvel ou Imóvel”): o juiz na execução pode
conceder ao credor o usufruto de móvel ou imóvel, quando o reputar menos gravoso ao
executado e eficiente para o recebimento do crédito.
323
Direito Civil 2016 324
c) Quanto à extensão:
d) Quanto à duração:
• Usufruto vitalício: é estipulado a favor de pessoa natural, sem previsão de prazo ou termo
final, extinguindo-se com a morte do usufrutuário ou enquanto não sobrevier causa legal
extintiva. Deve-se atentar ao fato de que a morte do nu-proprietário NÃO é causa de
extinção do usufruto, transmitindo-se tal qualidade aos seus herdeiros.
EXTINÇÃO DO USUFRUTO (art. 1410 do CC). O usufruto extingue-se (se imóvel deve haver
cancelamento do registro no CRI):
I. pela renúncia do usufrutuário, que deve ser feita por escritura pública quando o imóvel tiver
valor superior a 30 salários mínimos (art. 108).
V. pela cessação do motivo de que se origina. Ex. usufruto do pai sobre os bens do filho menor
sob o poder familiar, havendo a extinção do usufruto com a maioridade do filho.
VIII. por culpa do usufrutuário, quando aliena, deteriora, ou deixa arruinar os bens, não lhes
acudindo
com os reparos de conservação, ou quando, no usufruto de títulos de crédito, não dá às
importâncias recebidas a aplicação prevista no parágrafo único do art. 1.395;
IX. Pelo não uso ou não fruição da coisa em que o usufruto recai (arts. 1.390 e 1.399). Qual é
o prazo para a extinção do usufruto pelo não uso?
1ª corrente: aplicação analógica do art. 1389, inc. III, do CC (servidão): 10 anos.
2ª corrente (Marco Aurélio Bezerra de Melo): o prazo será o ordinário de 10 anos do art. 205 do
CC, em virtude da redação do art. 739, VI, do Código Civil de 1916 que dispunha que o usufruto
extingue-se pela prescrição.
4ª corrente: não há prazo certo, devendo ser analisada a extinção caso a caso conforme a
função social. Nesse sentido:
• os prazos extintivos têm por finalidade propiciar segurança e paz social. Aplicar
por analogia o prazo da servidão implica alcançar o reverso do que se pretende
resguardar. Não se aplica prazo decadencial, porque de acordo com a
325
Direito Civil 2016 326
O uso é um direito real sobre coisa alheia, consistente no direito de usar a coisa móvel ou
imóvel, tendo o usuário sobre ela o gozo limitado, podendo perceber os frutos (para
consumo) dentro dos limites das necessidades pessoais suas e de sua família, aferidas pelo
juiz, de acordo com a condição social do usuário e os costumes do lugar em que vive.
Chama-se também de usufruto anão, nanico ou reduzido. São partes do direito real de uso:
i) o proprietário (fez a cessão real da coisa) e ii) o usuário (tem o direito personalíssimo
de uso da coisa). O direito real de uso pode ser constituído de forma gratuita ou onerosa.
Características: é direito personalíssimo e temporário; é indivisível; recai sobre móveis ou
imóveis, coisas singulares ou coletivas.
Distinção do usufruto. O uso não implica o gozo amplo e ilimitado da coisa; é considerado
um usufruto restrito. No uso não cabe cessão do direito em si nem de seu exercício (já o
usufruto é intransferível, mas cabe cessão do seu exercício).
Constituição. Por ato inter vivos ou causa mortis. Se imóvel, deve haver também o registro.
O uso não se adquire por usucapião.
Extinção: Extingue-se pela mesma forma do usufruto (artigo 1.410, CC), com exceção
apenas do não-uso, que não se aplica também ao direito real de habitação.
levados a registro. Pode ser transmissível inter vivos ou causa mortis, levando-se também
a registro.
Concessão de uso especial para fins de moradia (arts. 15 a 20, Estatuto da Cidade –
vetados; posterior edição da MP2.220/2001): é um contrato de direito público pelo qual o
Estado outorga a alguém o direito de uso de um bem público. Esse direito real se diferencia
do direito de uso (Del. 271/67), pois se restringe à finalidade única de moradia, enquanto
aquele se afeiçoa a qualquer ocupação que traduza interesse social (ex: industrialização,
cultivo etc.).
9.5 Habitação
O direito real de habitação consiste em utilizar gratuitamente imóvel alheio para fim
de moradia. O direito real de habitação constitui o mais restrito dos direitos reais de
fruição, eis que apenas é cedida uma parte do atributo de usar, qual seja o direito de
habitar o imóvel. São partes da habitação: a) proprietário – transmite o direito e b) o
habitante – tem o direito de habitar o imóvel a seu favor.
Este direito real pode ser constituído pelo registro no ofício imobiliário, pela via legal (art.
1831), convencional (testamento ou contrato) ou por usucapião. Recaindo sobre imóvel, o
direito real de habitação convencional deve ser registrado no CRI (art. 167, I, n. 7, da Lei
6015/73). Características:
a. Direito personalíssimo;
b. É impenhorável o imóvel;
c. Pode recair sobre o imóvel todo ou parte dele;
d. É temporário;
e. Em caso de existir mais de um titular (direito real de habitação simultâneo), qualquer um pode
habitar a casa sem pagar aluguel ao outro, e este não pode impedi-lo de exercer o direito;
falecendo um dos titulares, o seu direito extingue-se sem beneficiar outros habitadores, salvo
disposição em contrário ou quando se tratar de relação de parentesco ou afetividade, para a
jurisprudência.
Direitos e obrigações (art. 1416 do CC).
Extinção: Extingue-se pela mesma forma do usufruto (artigo 1.410, CC), com exceção
apenas do não-uso.
Direito de habitação e direito das sucessões (art. 1831) Cabe direito de habitação em
favor do cônjuge sobrevivente, enquanto viver e permanecer viúvo, sem prejuízo de sua
participação que lhe caiba na herança ou meação, relativamente ao imóvel destinado à
residência da família, desde que seja o único bem daquela natureza a inventariar. E a
companheira? O direito real de habitação conferido à companheira pelo artigo 7 o. da Lei
9278/96 NÃO foi consagrado em norma expressa do CC/02. Daí, surgirem duas correntes:
1a. CORRENTE (FRANCISCO CAHALI, INÁCIO DE CARVALHO NETO): a companheira
não tem
direito de habitação, porque o CC/02 não previu.
327
Direito Civil 2016 328
REQUISITO SUBJETIVO. Só aquele que pode alienar (o proprietário) poderá empenhar, hipotecar
ou dar em anticrese. Se casado, necessária é outorga conjugal uxória ou marital, salvo separação
absoluta de bens, sob pena de anulabilidade do ato de constrição (art. 1649). Além disso exige-se
capacidade genérica para os atos de alienação.
REQUISITO OBJETIVO. Só os bens que se podem alienar poderão ser dados em penhor, anticrese
ou hipoteca (consuntibilidade jurídica), sob pena de nulidade (art. 166, II ou VI, do CC). Ex. não
pode ser objeto de hipoteca o bem de família convencional, que é inalienável. Por outro lado, o bem
de família legal pode ser hipotecado, pois é apenas impenhorável.
329
Direito Civil 2016 330
HIPÓTESES DE EXTINÇÃO DO PENHOR (art. 1436). Produz efeitos a extinção do penhor depois
de averbado o cancelamento do registro (em regra no Cartório de Títulos e Documentos), à vista da
respectiva prova. Quanto à hipótese V, verifica-se que o CC menciona remiSSão – perdão – o que
está tecnicamente errado.
I. os imóveis e os acessórios dos imóveis conjuntamente com eles (c.c. art. 1474 do
CC).
II. o domínio direto. Caso do antigo direito do senhorio na enfiteuse, instituto que foi
parcialmente banido pelo art. 2038 do CC/02. Há interesse apenas quanto às
enfiteuses anteriores.
III. o domínio útil, como ocorre em relação ao direito do usufrutuário que pode ser
hipotecado.
IV. as estradas de ferro;
V. as jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia
hidráulica e os monumentos arqueológicos, independentemente do solo onde se
acham;
VI. os navios. São bens móveis especiais, pois podem ser hipotecados (Lei 7652/88 e
Decreto 2256/1997 – registro é feito no Tribunal Marítimo).
VII. as aeronaves. São bens móveis especiais, pois podem ser hipotecados (Lei
7565/1986 – Registro Aeronáutico Brasileiro).
330
Direito Civil 2016 331
PRINCÍPIOS
• PUBLICIDADE: Se dá com o registro da garantia.
• ESPECIALIDADE: É um detalhamento de todos os pormenores da dívida e da coisa da em
garantia (art. 1.424 e 1.484):
PLURALIDADE DE HIPOTECAS / SUB-HIPOTECA (art. 1.476): o dono do imóvel hipotecado pode
constituir outra hipoteca sobre o bem, mediante novo titulo, em favor do mesmo ou de outro credor.
REMIÇÃO: Devedor não paga a 1ª dívida. O credor da 2ª hipoteca pode pagar, consignando em
juízo a importância e citando o 1º credor para recebê-la e o devedor para pagá-la. Se o devedor não
pagar, o 2º credor se sub-roga nos direitos da hipoteca anterior. Por outro lado, havendo execução
da hipoteca pelo 1º credor, basta que o 2º credor deposite o valor do débito e as despesas judiciais
para haver a sub-rogação. Hipóteses especiais de remição:
a) Remição da hipoteca pelo adquirente do imóvel (art. 1481). O adquirente paga o valor da
hipoteca e não o valor da dívida. Esse artigo só faz sentido quando o valor da dívida for
superior ao valor da hipoteca. Haverá sub-rogação do adquirente nos direitos de crédito (art.
346; II).
b) Remição da hipoteca pelo próprio devedor ou por seus familiares (art. 1482). Pode ser que o
devedor não esteja extinguindo a divida (que pode ser maior do que a hipoteca), e sim só
remindo a hipoteca.
c) Remição da hipoteca no caso de falência ou insolvência do devedor hipotecário (art. 1483).
331
Direito Civil 2016 332
HIPOTECA LEGAL (art. 1.489 a 1.491). Exige o registro, ao invés de provir de um contrato, a fonte
é legal (art. 1.497). As pessoas, às quais incumbir o registro e a especialização das hipotecas legais,
estão sujeitas a perdas e danos pela omissão. Pode ser constituída para garantia da Fazenda
Pública em razão de determinados tipos de servidor (ex: arrecadador de tributos terá seus bens
hipotecados em favor da Fazenda Pública). Filhos podem constituir hipoteca legal sobre bens dos
pais quando contrair novas núpcias sem efetuar o inventário dos bens. Os prejudicados poderão
constituir hipoteca sobre os bens do delinqüente (fato que gerou crime). Co-herdeiro pode constituir
hipoteca sobre imóvel adjudicado a coherdeiro, para garantir ao seu quinhão. Garantia do imóvel
arrematado se o arrematante não pagar o imóvel de uma única vez (caso em que o arrematando
propõe o pagamento do imóvel em parcelas).
A Lei n. 8935/94 regulamenta o art. 236 da CF e dispõe no art. 1º Serviços notariais e de registro
são os de organização técnica e administrativa destinados a garantir a publicidade,
autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos (Lei n.º 8.935/94 – regulamenta o art. 236
da CF).
333
Direito Civil 2016 334
SERVIÇOS NOTARIAIS são as atividades exercidas pelos notários, pessoas às quais se comete
o encargo de escrever nos livros de notas, segundo a praxe, todos os atos jurídicos e contratos
das partes interessadas no registro.
REGISTRO PÚBLICO é a denominação genérica dada a todo serviço concernentes aos
registros instituídos por lei, para autenticidade, segurança, validade e publicidade dos atos
jurídicos ou contratos. Pode ser de natureza civil ou comercial. Só a União pode legislar
sobre a competência, forma e o regime dos registros públicos. Isto é, só a ela cabe
reger essa função pública. Entretanto, é essa função exercida por órgão estaduais. Assim,
é competente o Estado federado para as normas administrativas referentes aos
registros públicos.
DELEGAÇÃO E FÉ PÚBLICA. Art. 3º Notário, ou tabelião, e oficial de registro, ou
registrador, são profissionais do direito, dotados de fé pública, a quem é delegado o
exercício da atividade notarial e de registro (Lei n.º 8.935/94). Assim, a Administração
Pública, com a delegação:
a) passa a atuar fora de seus quadros, certo que o registrador e o notário não são
servidores da administração direta, mas ocupem cargos públicos, conforme definiu o
Pleno do STF;
b) legitima os delegados para prática de atos que regulam interesses privados ou da
própria administração, dando-lhes eficácia.
exceção a essa regra e prevê que os contribuintes que prestam serviço sob a forma de
trabalho pessoal (pessoas físicas) têm direito ao regime do chamado “ISSQN Fixo”,
segundo o qual é fixada uma alíquota sem relação com o preço do serviço. Para o STJ,
NÃO SE APLICA à prestação de serviços de registros públicos cartorários e notariais a
sistemática de recolhimento de ISS prevista no § 1º do art. 9º do DL 406/68. Desse modo,
os serviços notariais e registrais sofrem a incidência do ISS e a base de cálculo do
imposto é o preço do serviço, ou seja, o valor dos emolumentos. STJ. 1ª Seção. REsp
1.328.384-RS, Rel. originário Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min.
Mauro Campbell Marques, julgado em 4/2/2013.
Ordem judicial, tanto que recebida, sendo legal, deve ser cumprida, diligenciando o
serventuário no sentido de superar eventuais formalidades que retardem o registro.
Segundo Walter Ceneviva, se a ordem é manifestamente ilegal, ou se contraria
determinação expressa do juiz corregedor permanente, o funcionário não pode ser
compelido a cumpri-la. Todavia, encontramos a seguinte jurisprudência:
O oficial é ainda responsável pela rigorosa fiscalização do pagamento do imposto devido
por força de ato que lhe seja apresentado em razão do ofício. Entretanto, o cumprimento
desse dever não obsta a prenotação do título, que há de ser feito sempre que ocorrer
possibilidade de precedência de direito para o apresentante, como usual no registro
imobiliário.
RESPONSABILIDADE: Diferentemente das serventias oficializadas que têm a
responsabilidade objetiva desde a edição da CF/88, por força do art. 37, § 6º, as
serventias não-oficializadas (delegadas) possuem como dispositivo constitucional de
regência da responsabilidade civil na atividade o § 1º do art. 236. Regulamentando o
dispositivo, previu a Lei 6.015/73 a resp. subjetiva (art. 28). Contudo, com a Lei 8.935/94,
passou-se à resp. objetiva (art. 22), ressalvando-se que a atividade do protesto notarial
continua a ser regida pela responsabilidade subjetiva por força do art. 38 da Lei 9.492/97.
REsp 1027925/RJ (j. 21/03/13).
CONTROLE. Os juízes competentes para a fiscalização são os exercentes de função de
corregedor. Correição é a vistoria administrativa em diligência, pelo juiz corregedor, de
livros e papéis pertinentes à atividade do delegado, com o objetivo de assegurar correção
dos serviços e bom atendimento. Fiscalização é a atividade correcional permanente,
aberta às queixas do público, que o juiz desenvolve, sobre a serventia, o oficial e os
funcionários.
335
Direito Civil 2016 336
Opções de nacionalidade.
Sentenças declaratórias de ausência.
Sentença que defere legitimação
adotiva.
• formalidade para mera oponibilidade perante terceiros (eficácia erga omnes). Neste
caso, o contrato é dotado de plena eficácia inter partes. Ex.: para que o contrato de
locação seja oponível a terceiro adquirente do imóvel deve o contrato ser registrado.
336
Direito Civil 2016 337
interesse de terceiros.
Incide em eiva de nulidade o registro lavrado fora das horas regulamentares ou em dias
em que não houver expediente. É nulo, e não anulável. No registro imobiliário, o
expediente se prorroga para a conclusão de ato iniciado, mas o protocolo é encerrado,
mantendo-se inviolada a prioridade (arts. 208 e 209, LRP). A prioridade do registro é
assegurada pela precedência da apresentação dos títulos. Não pode haver recusa ao
recebimento de título, nem recusa a seu lançamento em protocolo, com o respectivo
número de ordem, sob pretexto de dúvida ou exigência fiscal, em qualquer das hipóteses
nas quais da precedência decorrer prioridade de direitos para o apresentante. É
obrigatório, portanto, o recebimento do documento e sua protocolização, suscitando-se,
ulteriormente, as dúvidas que couberem.
337
Direito Civil 2016 338
tiverem prenome igual deverão ser inscritos com duplo prenome ou nome completo diverso,
de modo que possam distinguir-se”. Pode ser simples ou composto.
SOBRENOME. Sobrenome é o sinal que identifica a procedência da pessoa, indicando a
sua filiação ou estirpe. É imutável (LRP, art. 56). Adquire-se com o nascimento (art. 55).
Portanto, não é escolhido. Mesmo que a criança seja registrada somente com o prenome,
o sobrenome faz parte, por lei, de seu nome completo, podendo o escrivão lançá-lo de ofício
diante do prenome escolhido pelo pai (art. 55). Assim, o registro, com indicação do
sobrenome, tem caráter puramente declaratório. Pode ser o do pai, o da mãe ou de ambos.
FILHOS FORA DO CASAMENTO. O registro dos filhos havidos fora do matrimônio é regido
pelos arts. 59 e 60 da LRP: não será lançado o nome do pai sem que este expressamente
autorize. Hoje, a Lei n.º 8.560/92 obriga os escrivães do Registro Civil a remeter ao juiz os
dados sobre o suposto pai, que será convocado para reconhecer voluntariamente o filho.
Não o fazendo, os dados serão encaminhados ao MP, que poderá promover a ação de
investigação de paternidade. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é
irrevogável e será feito pelos modos previstos no art. 1.609 do CC, que admite inclusive que
se faça por escrito particular, a ser arquivado em cartório, e também por qualquer espécie
de testamento.
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Direito Civil 2016 339
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Alguns agraristas defendem outras terminologias como “Direito Rural”, “Direito da Reforma
Agrária”, “Direito da Agricultura” ou “Direito Agrícola”.
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS do Direito Agrário: 1) o monopólio legislativo da União; 2)
a utilização da terra se sobrepõe à titulação dominial; 3) a propriedade da terra é garantida,
mas condicionada ao cumprimento da função social; 4) o Direito Agrário é dicotômico:
compreende política de reforma (Reforma Agrária) e política de desenvolvimento (Política
Agrícola); 5) as normas jurídicas primam pela prevalência do interesse público sobre o
individual; 6) a reformulação da estrutura fundiária é uma necessidade constante; 7) o
fortalecimento do espírito comunitário, através de cooperativa e associações; 8) o combate
ao latifúndio, ao minifúndio, ao êxodo rural, à exploração predatória e aos mercenários da
terra; 9) privatização dos imóveis rurais públicos; 10) a proteção à propriedade familiar, à
pequena e à média propriedade; 11) o fortalecimento da empresa agrária; 12) a proteção
da propriedade consorcial indígena; 13) o dimensionamento eficaz das áreas exploráveis;
14) a proteção do trabalhador rural; 15) a conservação e a preservação dos recursos
naturais e a proteção do meio ambiente; 16) combate a qualquer tipo de propriedade rural
ociosa, sendo aproveitável e cultivável; 17) povoamento da zona rural, de maneira
ordenada; 18) progresso econômico e social do rurícola; 19) fortalecimento da economia
nacional, pelo aumento da produtividade; 20) fortalecimento do espírito comunitário,
mormente da família; 21) desenvolvimento do sentimento de liberdade (pela propriedade) e
de igualdade (pela oferta de oportunidades concretas); 22) implantação da justiça
distributiva; e 23) eliminação das injustiças sociais no campo.
DIREITO AGRÁRIO NO BRASIL. O Tratado de Tordesilhas (1494) assinado por D. João,
rei de Portugal, e D. Fernando e D. Isabel, reis da Espanha, estipulou que as terras
eventualmente descobertas no mundo passariam ao domínio de quem as descobrisse,
conforme linha imaginária traçada (à direita pertence a Portugal, a esquerda a Espanha).
Esse documento é importante para o sistema fundiário brasileiro, pois o Brasil foi descoberto
por Pedro Álvares Cabral de Portugal, que adquiriu o domínio sobre essas terras. Titular do
domínio sobre o território descoberto, a Cora Portuguesa cuidou de ocupar a nova terra e
para tanto, em 1531, incumbiu a Martim Afonso de Souza, a tarefa de colonizar o Brasil.
Tantas eram as terras por distribuir que Portugal começou o processo de colonização
doando, em caráter irrevogável, àquele colonizador uma grande extensão de terras.
REGIME SESMARIAL. Este regime era adotado em Portugal, mas foi aplicado de forma
diferente no Brasil. No Brasil, as sesmarias eram muito similares a enfiteuse, pois só
transferiam o domínio útil. Assim, pela sesmarias eram concedidas terras para pessoas
que aqui viessem e fixassem residência, povoando o Brasil, inclusive com efeito de
transmissão “causa mortis”. Mas, havia cláusula nas cartas de sesmarias segundo a qual
as terras concedidas poderiam ser retomadas e dadas a outras pessoas, caso os
concessionários não as aproveitassem no prazo de 2 anos. Ainda as cartas previam outras
obrigações (colonizar a terra, demarcar limites, pagar tributos e etc.). Se o sesmeiro não
cumprisse essas obrigações, caía em comisso e assim o imóvel devia voltar para o
patrimônio da Coroa para ser redistribuído a outros interessados (terras devolutas). O
regime sesmarial no Brasil vigorou até 17/07/1822, poucos meses antes da proclamação
da independência. O regime sesmarial privilegiou pessoas que não tinham condições de
cumprir com suas obrigações, por outro lado, trabalhadores vindos de Portugal ocuparam
sobras de sesmarias não aproveitadas, ou até invadiam áreas não concedidas. Por um lado
este regime colonizou e povoou o interior do País, consolidando suas dimensões
continentais. Por outro lado, gerou vícios no sistema fundiário até os dias de hoje. A “LEI
DE TERRAS”. Portugal entendeu que as sesmarias trouxeram mais malefícios do que
benefícios, por isso, extinguiu definitivamente este regime em 1822. Mas, isso causou um
mal maior, pois deixou o Brasil sem qualquer legislação sobre terras por 28 anos. Este
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• social: respeito aos direitos trabalhistas e “manter exploração que favoreça o bem-
estar dos proprietários e dos trabalhadores”.
A CF manteve a mesma disciplina inaugurada com o Estatuto da Terra,
acrescentando-lhe, apenas, a preocupação com o meio ambiente. Posteriormente, a Lei
8.629, de 25.02.93 minudenciou os requisitos da função social da propriedade rural,
detalhando objetivamente todas as exigências legais para que se considere cumprida a
função social da propriedade.
27
A Lei 9.138 91, denominada lei da securitização, determinou às instituições financeiras que realizem o
alongamento do pagamento das dívidas oriundas de créditos rurais, sob a garantia de títulos federais, em um claro
benefício ao produtor rural pequeno e médio, já que o montante da dívida não podia superar R$200 mil reais. A
jurisprudência pacificou-se no sentido de que o produtor rural tem direito subjetivo ao alongamento da dívida, não
podendo as instituições financeiras decidir livremente à quais produtores outorgariam a securitização, sob pena de
ofender o princípio da isonomia.
343
Direito Civil 2016 344
fazendo-o cumprir integralmente sua função social”. A empresa rural não se confunde com
a propriedade familiar. Esta é unidade de produção para o conjunto familiar. Aquela é
unidade de produção para uma comunidade mais ampla, onde se associam terra, trabalho,
capital e técnica, tudo dirigido organicamente a um fim econômico. A natureza da empresa
rural depende de como a mesma estiver organizada. Poderá ser de natureza civil,
submetida ao registro no INCRA, ou comercial. Segundo nos ensina Fábio Ulhôa Coelho, o
Código Civil de 2002 reservou para o exercente de atividade rural um tratamento específico
(art. 971). Se ele requerer sua inscrição no registro da empresa (Junta Comercial), será
considerado empresário e submeter-se-á às normas de Direito Comercial. Esta deve ser a
opção do agronegócio. Caso, porém, não requeira a inscrição neste registro, não se
considera empresário e seu regime será o do Direito Civil.
PEQUENA PROPRIEDADE RURAL. A CF fez referência à pequena propriedade rural, a
qual foi definida pela lei 8.629/93, como sendo aquela compreendida entre 1 (um) a 4
(quatro) módulos fiscais. A pequena propriedade rural, “desde que trabalhada pela família,
não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade
produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento”. (art. 5º, XXVI).
MÉDIA PROPRIEDADE RURAL. A lei 8.629/93 definiu a média propriedade rural como
aquela com dimensão superior a 4 (quatro) até 15 (quinze) módulos fiscais. A média
propriedade rural é relativamente insuscetível de desapropriação, com se verá a frente.
COLONIZAÇÃO é instrumento de política agrária, com objetivos básicos de dar sentido
econômico e social a imóveis rurais ociosos. A colonização é forma de política agrária
dirigida ao povoamento de terras desabitadas ou pouco povoadas, virgens ou incultas,
objetivando introduzir nelas a infraestrutura necessária para permitir a organização de um
parcelamento de terras ou permitir o racional aproveitamento ou utilização, bem como a
introdução de serviços púbicos e privados adequados para o assentamento de uma
população. Duas são as espécies de colonização: a) oficial e b) particular. A colonização
oficial tem como colonizador o Poder Púbico, cujos projetos se desenvolvem sobre terras
que já se incorporaram ao seu patrimônio, ou que venham a sê-lo, preferencialmente nas
áreas ociosas, próximas a grandes centros urbanos e de mercado de fácil acesso com
problemas de abastecimento. A colonização particular, como nome indica, é realizada por
empresa particular.
TERRAS DEVOLUTAS E PODER PÚBLICO. Terras devolutas são as terras que, não
sendo bens próprios nem aplicadas a algum uso público, não se incorporam regular e
legitimamente ao domínio privado. As terras devolutas que estiverem localizadas em área
rural devem passar para a iniciativa privada, de modo a promover o desenvolvimento
agrícola. Afinal, é certo que o Poder Público não quer terras para sua exploração direta,
como se for empresário. Não quer competir com a iniciativa privada, cujo estímulo é
postulado constitucional. Nesse sentido, dispõe o artigo 188 da CF de 1988 que “a
destinação de terras públicas e devolutas será compatibilizada com a política agrícola e
com o plano nacional de reforma agrária”. O ET no art. 13 dispõe que “o Poder Público
promoverá a gradativa extinção das formas de ocupação e de exploração da terra que
contrariem sua função” e no art. 14 “o Poder Público facilitará e prestigiará a criação e a
expansão de empresas rurais de pessoas físicas e jurídicas que tenham por finalidade o
racional desenvolvimento extrativo, agrícola, pecuário ou agroindustrial. Também
promoverá a ampliação do sistema cooperativo e a organização daquelas empresas, em
companhias que objetivem a democratização do capital”.
AQUISIÇÃO DE TERRAS POR ESTRANGEIROS. É regulada pela Lei 5.709, de 1971.
Essa lei prevê uma série de restrições, como limitações territoriais e necessidade de
aprovação prévia pelo Incra. A lei se aplica tanto ao “estrangeiro residente no país” como à
345
Direito Civil 2016 346
“pessoa jurídica estrangeira autorizada a funcionar no Brasil”. Entretanto, o seu artigo 1º,
parágrafo 1º, ampliou o seu alcance a pessoas jurídicas brasileiras das quais participem, a
qualquer título, “pessoas estrangeiras físicas ou jurídicas que tenham a maioria do seu
capital social e residam ou tenham sede no Exterior”. A partir de 1988, passou-se a entender
que essa equiparação foi revogada pela Constituição Federal, que trouxe, em seu artigo
171, os conceitos de “empresa brasileira” e “empresa brasileira de capital nacional”. Esse
entendimento foi confirmado pela AGU, que editou dois pareceres, em 1994 e 1998,
concluindo pela revogação do artigo 1º, parágrafo 1º, da Lei 5.709. Por muitos anos, esses
pareceres geraram segurança jurídica para grupos estrangeiros investirem em projetos
agrícolas. Afinal, eles consagraram o entendimento de que empresas brasileiras não
estavam mais sujeitas a restrições para aquisição de terras rurais, pouco importando a
origem de seu capital. Mas, em agosto de 2010, a AGU elaborou um novo parecer,
revogando os pareceres anteriores e entendendo que a norma em questão não havia sido
revogada; ao contrário, o discrímen nela inserido seria plenamente compatível com a
Constituição, de modo que empresas brasileiras com capital social majoritariamente
estrangeiro deveriam, sim, se sujeitar às restrições da Lei 5.709. Esse novo parecer foi
aprovado pelo presidente Lula e passou a vincular a administração pública federal. Seus
impactos na economia foram significativos. Estima-se que, apenas em 2011 e 2012, foram
causados US$ 15 bilhões de prejuízos ao agronegócio. Mais recentemente, a Sociedade
Rural Brasileira ajuizou no STF a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental
342, objetivando a declaração de que o parágrafo 1º do artigo 1º da Lei 5.709/1971 não foi
recepcionado pela Constituição Federal.
PROCESSO DISCRIMINATÓRIO. É o procedimento especial destinado a identificar e
definir em seus contornos e em suas lindes as terras devolutas. Assim, o seu objetivo
precípuo é separar as terras do Poder Público das que pertencem aos particulares,
identificando-as, claramente, para efeito de registro nos CRI e, ao depois, aliená-las ou
aplicá-las nas finalidades previstas no Estatuto da Terra. O processo discriminatório pode
ter lugar no âmbito administrativo ou no âmbito judicial, hoje regulada pela Lei 6.383/76. Por
óbvio, a ação discriminatória de terras da União processar-se-á na Justiça Federal. A
ação discriminatória tem caráter prejudicial em relação às ações em andamento, referentes
a domínio ou posse de imóveis situados, no todo ou em parte, na área discriminada. Assim,
segundo Torminn, com espeque no artigo 23, p. ún., da Lei 6.383, todas as ações atraídas
passam à competência da JF, e, nelas, mesmo que não seja parte, deve a União intervir.
Nesse contexto, pode-se dizer que a ação discriminatória goza de preferência, mas apenas
em relação às demais ações versantes sobre a área discriminada.
A JUSTIÇA AGRÁRIA. O artigo 126 da CF diz que, para dirimir conflitos fundiários, o TJ
proporá a criação de varas especializadas, com competência exclusiva para questões
agrárias. Sempre que necessário à eficiente prestação jurisdicional, o juiz far-se-á presente
no local do litígio (EC 45/2004).
LEGITIMAÇÃO DE POSSE. A legitimação da posse está ligada ao cumprimento de um dos
mais importantes princípios norteadores do direito agrário que é a despublicização de suas
terras, transferindo-as para particulares, para que nela trabalhem e produzam. A
legitimação de posse é a exaração de ato administrativo, através do qual o Poder Público
reconhece ao particular que trabalhava a terra a sua condição de legitimidade, outorgando,
ipso facto, o formal domínio pleno, ou, simplesmente, é a forma de alienação de terras
devolutas.
Atualmente, a legitimação de posse está regulada pela Lei 6.383/76, que dispõe sobre os
procedimentos discriminatórios das terras devolutas da União. Para a expedição do título
de domínio, a Lei 6.383 estabeleceu a necessidade de obtenção de um documento
346
Direito Civil 2016 347
provisório, que denominou de “licença de ocupação”. Para obtê-la, o posseiro deve atender
os seguintes requisitos prévios:
a) serem as terras legitimáveis públicas devolutas;
b) a área não pode ultrapassar a cem (100) hectares;
c) o posseiro deve comprovar morada permanente e cultura efetiva pelo lapso de tempo não
inferior a um (1) ano;
d) o posseiro não pode ser proprietário de imóvel rural;
e) deve ele explorar a atividade agrária com seu trabalho direto e o de sua família.
Preenchido esses requisitos, o posseiro recebe a licença de ocupação, que terá o prazo de
quatro anos. Esse documento representa um título de posse, permite o acesso ao crédito
rural e assegura a seu titular a preferência para a aquisição definitiva do imóvel. É um
documento intransferível por ato inter vivos, é inegociável, e não pode ser objeto de penhora
ou de arresto, tendo o caráter personalíssimo. A licença de ocupação é pré-requisito da
legitimação de posse, pelo que para obter esta o posseiro terá que ter, pelo menos 5 anos
de posse (1 ano para a licença de ocupação e mais os 4 anos de cumprimento da licença).
A CF de 88, em seus artigos 188 e 189, introduziu novos parâmetros para as alienações
das terras devolutas. De acordo com o novo texto constitucional, a transferência das terras
devolutas está condicionada à compatibilização com a Política Agrícola e com a Reforma
Agrária e estabelece a cláusula de inegociabilidade do imóvel pelo prazo de 10 (dez) anos,
a ser inserida, seja no título de domínio, seja no de concessão de uso.
REGULARIZAÇÃO DE POSSE é forma onerosa de aquisição de propriedade, resultando
da preferência para a aquisição do imóvel em virtude da posse agrária. A regularização de
posse é facultativa e onerosa, em contraposição à legitimação que é obrigatória e gratuita.
Tratando-se de um procedimento administrativo com caracteres peculiares à compra e
venda, negócio jurídico tipicamente bilateral e oneroso, não se vislumbra possibilidade de
obtenção do título na esfera judicial, a menos que, preenchidos todos os requisitos legais e
convencionais, o Poder Público se negue a outorgar o título definitivo. Em tal hipótese,
acredita-se que se apresente cabível a ação de adjudicação compulsória, regulada no
Decreto–Lei n. 58, de 10 de dezembro de 1937.
USUCAPIÃO AGRÁRIO. A usucapião agrário ou usucapião especial, também é
denominado de usucapião pro labore e de usucapião constitucional. O usucapião agrário
se funda na possetrabalho, assim entendida como aquela caracterizada pela utilização
econômica do bem possuído. Os requisitos do usucapião agrário estão previstos no artigo
191 da CF. é ponto pacífico na doutrina agrarista que, no usucapião agrário, não se conhece
a figura do preposto, nem se admite que a posse do antecessor se some à do atual, para
efeito de composição do tempo necessário à prescrição aquisitiva. A posse há de ser direta
e pessoal e ininterrupta. Quando muito se concebe a sucessão de posses em caso de morte
do possuidor, porque, no contexto agrário, a chamada propriedade familiar constitui um dos
seus postulados. A competência da ação de usucapião será do foro da situação do bem:
Súmula 11 do STJ: A presença da União ou de qualquer de seus entes, na ação de
usucapião especial, não fasta a competência do foro da situação do imóvel.
REFORMA AGRÁRIA. Art. 1º do ET: reforma agrária é o conjunto de medidas que visem a
promover melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e
uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e ao aumento de produtividade. Temos,
assim, que a reforma agrária não visa apenas a distribuição de terras, mas sim a uma
melhor distribuição, o que evidencia o seu caráter de transformação da distorcida estrutura
agrária do país. A reforma agrária busca atender a um fim específico que é a “justiça social
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Direito Civil 2016 348
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Art. 7º É instituída a concessão de uso de terrenos públicos ou particulares, remunerada ou gratuita, por tempo
certo ou indeterminado, como direito real resolúvel, para fins específicos de urbanização, industrialização, edificação,
cultivo da terra, ou outra utilização de interesse social.
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Direito Civil 2016 350
DIREITO DE FAMÍLIA
A CF, no seu art. 226, no âmbito do direito de família, consagra um sistema normativo aberto, inclusivo
e não discriminatório.
Nessa linha, a moderna doutrina (Maria Berenice Dias, Giselda Hironaka, Paulo Lôbo, etc...) sustenta
que para além do casamento, da união estável e do núcleo monoparental, outros arranjos
familiares, na perspectiva do princípio da afetividade, mesmo não expressamente contemplados
são dignos de tutela.
Nenhum ramo do direito civil sofreu uma metamorfose tão profunda como o direito de família. A linha
que o prof. vai seguir é constitucional.
Afilhado criado pela madrinha. O irmão mais velho cria o menor com a morte dos pais. Não está
expressamente, está implicitamente princípio da afetividade = sistema normativo aberto,
inclusivo e não discriminatório = © família: mutável moldável com a alteração da afetividade
não há hierarquia entre os arranjos familiares
Isso que sustentava a fundamentação do arranjo familiar da homoafetividade.
Caio Mario da Silva Pereira, em uma de suas últimas obras, Direito Civil: Alguns aspectos da sua
evolução, já anunciava que a multiplicidade de fatores não permitiria a fixação de um modelo
social único de família.
©Família: por óbvio, nenhuma definição, neste seara, será definitiva e completa (já se resguarda com
o examinador). Mas, em esforço científico, podemos conceituar a família, base da sociedade
(expressão importante de colocar), como ente despersonificado, potencialmente estável e
moldado pelo vínculo da afetividade.
Namoro não é núcleo familiar, porque é um núcleo instável.
Casamento, união estável, relação entre madrinha que cria afilhado, são núcleos estáveis.
Mesmo registrando ao examinador que não há conceito certo de família, há 3 características
indispensáveis na noção contemporânea de família, segundo a doutrina moderna:
1) Eudemonista: busca imediata da felicidade, da autorealização que decorre do princípio da
função social. dignidade da pessoa humana.
2) Socioafetiva legislador não pode definir família a priori
3) Anaparental família integrada por quem não é parente
©Eudemonista: significa que, como decorrência do princípio da função social, a família deve ser
de ambiência para que seus próprios integrantes realizem-se e busquem a felicidade.
Dec 60 (1962) – Estatuto da Mulher Casa. Antes família era núcleo do varão. A mulher não era
vista como indivíduo, não se tinha na época a noção de eudemonismo para mulher.
Portanto, a característica eudemonista da família é um tributo à dignidade da pessoa humana.
OBS: Discorra sobre a evolução paradigmática da família. (praticamente toda essa primeira
parte da aula.
©socioafetiva: proque a família é moldada pelo vínculo do afeto. Significa que não é o legislador
que vai aprioristicamente definir o que é família. Isso tem relação com a anaparentalidade.
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Direito Civil 2016 351
©Anaparental: a família pode ser integrada, inclusive, por pessoas que não guardem,
tecnicamente vínculo parental entre si.
No CC/2002, não há artigo que consiga reunir os 3 caracteres da família contemporânea. Mas
o art. 5, I, Lei 11.340, se aproxima:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
agregadas;
CASAMENTO
Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na
igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.
Casamento não é mais que união estável, é apenas diferente. A equiparação de direitos não
torna o casamento igual a união estável (objeto da aula do prof. Aguirre).
Conceito
©Casamento: A luz do art. 1.511, CC, o casamento estabelece uma comunhão plena de vida,
com base na igualdade entre os cônjuges. Trata-se de um enlace solene e formalizado mediante
registro público, com a conseqüente alteração do estado civil.
Horizontalidade dos direitos fundamentais No conceito de casamento no art. 1511, é inserido
o princípio da igualdade, não há preponderância entre os cônjuges.
Natureza jurídica e teorias explicativas do casamento
Duas correntes fundamentais tentaram explicar a natureza jurídica do casamento:
CORRENTE 1 – PUBLICISTA: casamento seria um instituto do direito público = ato
administrativo. Como o Estado puxou para si a celebração do casamento e depois concedeu
novamente espaço para a religião, houve quem defendesse essa ideia. Se o casamento fosse
essencialmente um instituto do direito público a aula seria dada pela Marinela! (OMG!!!). Mas cuidado!!!
As normas que disciplinam o casamento são normas de ordem pública!!! Lembrando...
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Direito Civil 2016 352
©Consentimento: por óbvio, o casamento, para existir pressupõe o expresso e livre consentimento
manifestado pelos noivos (art. 1.538, CC) PLANO DA EXISTÊNCIA. Autoridade deve suspender o ato
se um não responde ou faz alguma brincadeira.
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Direito Civil 2016 353
Além do consentimento para que o casamento exista, ele deverá ser celebrado por autoridade
materialmente competente. Vale dizer, ausente competência legal ou material, o matrimônio não tem
existência jurídica, a exemplo do ato celebrado por um policial militar, delegado, bombeiro. Não são
investidos de poderes legais.
Art. 1.554. Subsiste o casamento celebrado por aquele que, sem possuir a competência
exigida na lei, exercer publicamente as funções de juiz de casamentos e, nessa
qualidade, tiver registrado o ato no Registro Civil.
União estável de mesmo sexo é forma de família + lei diz que deve facilitar a conversão em casamento
= pessoas do mesmo sexo podem ser casar convertendo a união estável em casamento ou diretamente
requerendo o casamento
PRESSUPOSTOS DE VALIDADE DO CASAMENTO (AULA DO TARTUCE)
CAPACIDADE PARA CONTRAIR CASAMENTO: nos termos do art. 1517, CC, a capacidade para o
casamento (capacidade núbil) é adquirida a partir dos 16 anos de idade, embora até os 18 anos o
nubente necessite de uma autorização para o matrimônio.
16 – 18 anos: autorização dos pais
Ou autorização do juiz por discordância entre os pais ou por injusta negação dos pais.
A autorização do casamento pode ser revogada até a celebração do casamento
Menor de 16 anos:
353
Direito Civil 2016 354
CAPÍTULO II
Da Capacidade PARA O CASAMENTO
Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se
autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a
maioridade civil.
Art. 1.518. Até à celebração do casamento podem os pais, tutores ou curadores revogar
a autorização.
Art. 1.519. A denegação do consentimento, quando injusta, pode ser suprida pelo juiz.
Art. 1.520. Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou
a idade núbil (art. 1517), para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso
de gravidez.
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14
(catorze) anos: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
354
Direito Civil 2016 355
DEVERES MATRIMONIAIS
O CC/2002, art. 1.566, elenca os dever matrimoniais. É preciso que se diga não haver uma ordem
hierárquica entre eles, razão pela qual iremos analisar cada um desses deveres autonomamente.
I - fidelidade recíproca;
355
Direito Civil 2016 356
Esse dever está inserido aqui como dever matrimonial. O dever de sustento,
guarda e educação dos filhos não deriva exclusivamente do casamento,
pois não é na sua essência matrimonial, mas sim da própria condição de
pais, deriva do poder familiar.
INVALIDADE DO CASAMENTO
Relação direta com a teoria do fato jurídico.
Casamento inexistente
Casamento nulo = nulidade absoluta
Casamento anulável = nulidade relativa
Introdução
A Teoria da inexistência do negócio jurídico foi desenvolvida para explicar o casamento de
pessoas de mesmo sexo. (desenvolvida na Alemanha, 1808, Zacharias) Todavia, o direito civil
brasileiro não fez opção de regulamentá-la na lei (CC/1916 e CC/2002).
Dizia Sílvio Rodrigues que a Teoria da Inexistente seria inútil, inconvenientes e inapropriada,
pois os seus problemas são resolvidos no plano da validade.
Autores não favoráveis Tartuce, Maria Helena Diniz. Entendem que se resolve tudo na
nulidade (teoria da invalidade, afinal existir existe)
Há autores favoráveis a Teoria da Inexistência Pontes de Miranda, Caio Mário, Marcos
Bernardes de Mello, Venosa, Pablo Stolze, Carlos Roberto Gonçalves
Como a doutrina majoritária é favorável, isso cai em concurso, em especial o casamento
inexistente.
CASAMENTO INEXISTENTE
HIPÓTESES (sem previsão legal, apenas previsão doutrinária, que será com base em Sílvio Venosa e
Carlos Roberto Gonçalves)
a) Casamento entre pessoas do mesmo sexo: #Cuidado! Essa hipótese não serve mais para
o direito brasileiro.
356
Direito Civil 2016 357
Porque o STF no julgamento da ADPF 132-RJ (informativo 625) Que a união homoafetiva é
entidade familiar. Entendeu o STF que todas as regras previstas para a união estável
heteroafetiva aplicam-se por analogia à união homoafetiva (votos vencidos: Gilmar Mendes,
Peluzo e )
Aplica-se o art. 1.726, CC, que trata da conversão da união estável em casamento. Logo,
também é possível o casamento homoafetivo direto no cartório. Seria ilógico permitir apenas
por conversão. (STJ, REsp 1183378/RS, de 2011, até que veio a Resolução do CNJ 175 –
maio de 2013, que prevê a obrigatoriedade dos cartórios realizarem o casamento, não mais
necessitando os casais homoafetivos ajuizarem demanda). OBS: não foi o CNJ que criou o
casamento homoafetivo, mas sim o STF através da ADPF.
O rol das entidades familiares na CF são exemplificativas. Logo, como não há lei aplica-se
por analogia as regras do casamento à união estável homoafetiva.
b) Ausência total de vontade:
Exemplos da doutrina: casamento contraído por pessoa sedada ou hipnotizada. Coação
física, vis absoluta.
c) Casamento celebrado por autoridade absolutamente incompetente: a incompetência
em razão da matéria.
Pela CF/88 a competência é do juiz de paz (eleito, mandato, remunerado). Muitos Estados
não regulamentaram a Justiça de Paz (por exemplo, em SP é Juiz de Casamento, Bahia e
Alagoas é através do Juiz de Direito).
Exemplo de casamento inexistente celebrado por Delegado, Promotor, Autoridade Local
(Coronel).
Autoridade Local (Coronel) Para o Tartuce seria caso de nulidade e cogitaria a
convalidação. Para a Teoria da Inexistência, seria inexistente e incompatível com a
convalidação, seria um nada jurídico.
Efeitos e procedimentos do casamento inexistente.
O ato inexistente é tido como um nada para o direito. E justamente como ato inexistente, não
há qualquer regulamentação legal (como se regulamentaria algo que não existe?) Então o que diz a
doutrina que reconhece o casamento inexistente? A doutrina que admite o casamento inexistente
entende pela aplicação das mesmas regras do casamento nulo. (Por que já não dizer que é nulo? Mais
uma razão para o Tartuce criticar essa teoria). Mas há uma exceção, para a doutrina favorável à
inexistência do casamento, o casamento putativo art. 1561, CC, não se aplica para casamento
inexistente (casamento putativo: embora nulo ou anulável gera efeitos a quem estava de boa-fé)
CASAMENTO NULO
HIPÓTESES – art. 1.548, CC:
357
Direito Civil 2016 358
a) Casamento contraído pelo enfermo / doente mental sem o necessário discernimento para
os atos da vida civil:
É a mesma hipótese do art. 3, II, CC, Enunciado 332 IV JDC. A única diferença é que aqui para
o reconhecimento pode ocorrer nos próprios autos da nulidade do casamento, não há
necessidade de interdição prévia. AgRgAg. 24836-MG
Enunciado 332 – Art. 1.548: A hipótese de nulidade prevista no inc. I do art. 1.548 do
Código Civil se restringe ao casamento realizado por enfermo mental absolutamente
incapaz, nos termos do inc. II do art. 3º do Código Civil.
b) Casamento contraído por infringência a impedimento matrimonial – art. 1.521, CC
Impedimentos decorrentes de:
Parentesco
Parentesco consanguíneo:
Afinidade pela linha reta o vínculo é perpétuo, ou seja, não se pode ser casar
com a mãe da sogra, vó da sogra.
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem
o foi do adotante; é a projeção da sogra na adoção
98 – Art. 1.521, IV, do novo Código Civil: O inc. IV do art. 1.521 do novo
Código Civil deve ser interpretado à luz do Decreto-lei n. 3.200/41, no
que se refere à possibilidade de casamento entre colaterais de 3º grau.
VI - as pessoas casadas;
Crime (tem que ser o condenado, não tem muita aplicação prática)
Não confundir os impedimentos Art. 1.521 com as causas suspensivas art. 1.523.
CAPÍTULO IV
Das causas suspensivas
I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário
dos bens do casal e der partilha aos herdeiros;
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até
dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal;
Para evitar confusão quanto à origem da prole. Confusio sanguinis. Sanção, se ela quiser
casar:
Regime por separação obrigatória.
Por óbvio, caso seja feito o exame de DNA durante a gravidez não precisa haver a causa
suspensiva
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens
do casal;
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes sejam
aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste artigo, provando-se a
inexistência de prejuízo, respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e para a
pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de
filho, ou inexistência de gravidez, na fluência do prazo.
OBS: Súmula 377, STF – aplica-se no final a comunhão parcial. Por isso, as causas
suspensivas se tornaram letra morta. Na prática separação obrigatória é comunhão
parcial e o STF aplica essa súmula também para a união estável.
SÚMULA 377
Por força do art. 169, CC, não convalida, essa ação é imprescritível e não tem decadência.
Nulidade absoluta, matéria de ordem pública.
Art. 1.549, CC. Prevê que essa ação declaratória pode ser proposta por qualquer interessado
ou pelo MP.
Nulidade absoluta, matéria de ordem pública... cabe conhecimento de ofício pelo juiz?
Não pode o juiz conhecer de ofício, com base no princípio da não intervenção que
está no art. 1.513, CC.
#Cuidado! O impedimento patrimonial, para impedir que o casamento seja celebrado, deve
ser conhecido de ofício, isso apenas para impedir o casamento de ser celebrado art.
1.522, Parágrafo Único, CC!!! O que não se confunde com a nulidade. A nulidade não
pode ser declarada de ofício. (O Tartuce não concorda)
#NovoCPC??? A ação de nulidade / anulabilidade, pode ser precedida por medida cautelar de
separação de corpos (art. 1.562, CC, este artigo não foi revogado pelo CPC/2015). Como será
compatibilizado com o novo CPC, não é mais medida cautelar, talvez seja revogado tacitamente.
Mas por ora, ainda é direito posto. #Atualizar.
Art. 1.563, CC. A sentença da ação de nulidade retroage a data de celebração do casamento.
Efeito ex tunc. Porém, essa sentença não pode prejudicar os direitos adquiridos por terceiros de
boa-fé ou a coisa julgada.
Ex: Durante o casamento, foi adquirido imóvel. Posteriormente, foi vendido a terceiro de
boa-fé. Passado o tempo, houve impedimento, porque o sujeito era casado. A venda é
nula?
Não, a venda continua válida. Assim como a boa-fé vence a simulação, aqui a boa-fé
vence a nulidade.
Para Tartuce a boa-fé deveria vencer qualquer forma de nulidade.
CASAMENTO ANULÁVEL
HIPÓTESES – art. 1.550, CC:
Não se aplica aqui a teoria geral das incapacidades!!! Aqui o casamento não é nulo é
anulável!!!
II - do menor em idade núbil (16-18 anos), quando não autorizado por seu
representante legal;
III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;
Art. 1.556. O casamento pode ser anulado por vício da vontade, se houve por
parte de um dos nubentes, ao consentir, erro essencial quanto à pessoa do outro.
Casamento celebrado havendo erro essencial quanto a pessoa do outro cônjuge (cai muito
em prova):
I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro
tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge
enganado;
362
Direito Civil 2016 363
Defeito físico:
A impotência sexual instrumental (couendi) anula o casamento.
A impotência para ter filhos (generandi / concipiendi) não anula.
Moléstia grave: AIDS, hepetite, sífilis...
Hemofilia é debatido se anula ou não.
Quais as diferenças entre a coação da parte geral (art. 151, CC) e a coação do
casamento (art. 1.558, CC)?
Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente
fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz,
com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.
Art. 1558,CC – Somente prevê a coação ao próprio coagido e aos seus familiares.Não
inclui bens e pessoas não pertencentes à família do coagido.
Art. 3, III, CC. entendimento majoritário. Para Tartuce seria caso de nulidade
Art. 4, II e III, CC.
OBS: Art. 4, IV – Pródigo! Não é caso de anulação e não está no art. 1.641, CC. O pródigo pode
se casar livremente. Ele só é interditado para administrar diretamente os bens. Não se impõe o
regime de separação obrigatória de bens!!!
Os incapazes e o casamento
IV – Válido
art. 1550, parágrafo único, CC. Se o mandato for NULO OU ANULÁVEL CASAMENTO
ANULÁVEL (nulo ao anulável = inválido, por não ter, por exemplo, poderes especiais ou por
não ser por escritura pública) será o casamento anulável
364
Direito Civil 2016 365
com a anulação do casamento a pessoa volta a ser solteira, assim como ocorre no casamento
nulo. Polêmica que envolve o art. 177 e o 182, CC.
Art. 1.564. Quando o casamento for (nulo ou) anulado por culpa de um dos
cônjuges, este incorrerá:
O Novo CPC trouxe um capítulo sobre as ações de família. Art. 693... O problema é que o art. 693,
CPC/2015, não fala sobre a invalidade. O Art. 693 se aplica às ações de nulidade ou anulabilidade do
casamento? O entendimento do Tartuce é que sim, porque o rol seria meramente exemplificativo.
Barroso diz que é indiferente.
FILIAÇÃO
O princípio constitucional da isonomia projeta-se na relação filial, de maneira que não
há mais espaço para distinção entre família legítima ou ilegítima.
1) RECONHECIMENTO VOLUNTÁRIO
Reconhecimento voluntário de filho: o art. 1.609, CC, trata do tema e tem especial
aplicação para os filhos havidos fora do casamento, na medida em que para os concebidos
no matrimônio existe uma presunção relativa de paternidade (art. 1.597, CC).
Art. 1.609 (por exemplo, quando se tem filho com namorada)
365
Direito Civil 2016 366
A mãe não pode ir ao registro público e informar o nome do suposto pai. O registrador deve
informar o MP, para que proceda a investigação da paternidade.
E se o suposto pai é menor de idade (17 anos, por exemplo)? Precisa de assistência para isso?
366
Direito Civil 2016 367
Art. 1.614. O filho maior não pode ser reconhecido sem o seu
consentimento, e o menor pode impugnar o reconhecimento, nos quatro
anos que se seguirem à maioridade, ou à emancipação.
O filho maior não pode ser reconhecido sem o seu consentimento (tem que ir junto ao cartório
e o registrador constar a sua anuência). E o menor poderá impugnar esse reconhecimento nos 4 anos
que seguirem à maioridade ou à emancipação.
Existe julgado do STJ que derruba esse prazo de 4 anos, porque pode descobrir posteriormente
a esse prazo que o pai que o registrou não é de fato o seu pai. Esse prazo de 4 anos não deve ser
aplicado na busca da verdade real da filiação (REsp 601997-RS e REsp 939818-RS).
Numa prova objetiva marcar o artigo, prazo de 4 anos. Jogo de cintura na prova.
Há ainda que ser levado em conta o raciocínio da filiação socioafetiva, pode o juiz entender que
devido a esse vínculo sociafetivo não é a descoberta capaz de alterar o registro.
- Ação anulatória de registro (a exemplo do que se dá quando o sujeito alega haver reconhecido
por erro – nenhum dos dois sabia - ou dolo – a mãe enganou);
MP Herdeiros
Obter provimento judicial apenas para declarar que o fulano é seu pai biológico, tal
reconhecimento não traz como consequência o direito à herança ou à pensão alimentícia!!!
O STJ também admite que os netos possam ajuizar ação investigatória para o
reconhecimento de RELAÇÃO AVOENGA. AgRg no Ag 131933-MG. Por exemplo, o meu
pai não é reconhecido como filho do meu avô. Como a ação é personalíssima não posso
ajuizar ação para declaração da paternidade, mas posso sim ajuizar ação para obter
reconhecimento como neto. Inclusive haverá efeitos sucessórios.
E no caso da relação avoenga: se o pai não reconhecido como filho estiver vivo, como
fica a questão sucessória com o reconhecimento da declaração avoenga? O pai não
reconhecido passa também ser herdeiro juntamente com o neto? Ou é necessário o juiz
constar em termo o reconhecimento indireto da filiação do pai, para haver o registro? Mas
neste caso não seria sentença extra petita?
O normal é post mortem. Tem que acompanhar a jurisprudência.
OBS: embora a adoção não seja a nossa temática, vale a pena conferir, pela
excepcionalidade, o Resp 1.448969-SC que admitiu a adoção de neto pelos avós.
Avô e avó não podem adotar neto como filho, nem irmão adotar o outro irmão
como filho! Existe art. 42, §1, ECA. Mas esse julgado foi admitido, porque nesse caso a
mãe biológica de 8 anos foi adotada já grávida e ambos foram criados como filhos.
PATERNIDADE SOCIOAFETIVA
Em visão meramente didática, a paternidade no Brasil passou por três fases:
368
Direito Civil 2016 369
369
Direito Civil 2016 370
ao principio da legalidade estrita, esta é a grande ideia da jurisdição voluntária. Para tanto,
dois requisitos para o alvará judicial:
- Patrimônio consistente, apenas em verbas pecuniárias (dinheiro), não superiores a 500
OTNs, ou seja, o patrimônio não pode exceder em 500 OTN (é uma unidade fiscal que não
mais existe, hoje a OTN tem como referencia a OFIR). Mas quanto vale 500 OTN? Cálculos
do TJSP indica que 500 OTN vale entorno de 15 a 20 mil reais. Ex: verbas trabalhistas,
FGTS, etc.
- Inexistência de outros bens a partilhar.
Obs. A maioria dos Estados do Brasil, inclusive a BA dispensa o tributo, já que o valor é
reduzido.
A lei estabelece que se tiver qualquer outro bem obsta o alvará. Mas de acordo com
o art. 5º, LINDB que diz que ao aplicar qualquer lei o juiz deve levar em conta os fins sociais.
Por conta disso, se não ultrapassar o valor das 500 OTN o juiz pode liberar o alvará, mesmo
que tenha algum bem de pequeno valor, na visão do professor. Pois se o morto tiver um
Chevette velho, por exemplo, o sucessor estaria obrigado a abrir o inventário com incidência
fiscal por conta de um carro velho.
A maioria dos estados do Brasil dispensa – em lei – a inexistência de incidência fiscal.
A lei exige que não existam bens para a propositura de albará. A incidência de qualquer
outro bem obsta o alvará. Cristiano discorda disso. Art. 5º da LIND diz que ao aplicar
qualquer lei o juiz deve levar em conta os fins sociais. Para Cristiano se não ultrapassar o
valor das 500 otn o juiz pode liberar o alvará, senão vai obrigar à pessoa a fazer inventário
por causa de um bem de valor irrisório. Solução: para Cristiano se não ultrapassar 500 otn
libera o alvará.
3 – Terminologias essenciais
Os autores mais antigos - Barros Monteiro, Silvio – estabelecem que toda
compreensão do direito das sucessões está em sua terminologia.
Autor da herança, extinto ou de cujus sucessionis agitur (aquele de quem a sucessão se
trata): é o titular falecido do patrimônio. Não pense que toda pessoa que morre é de cujus.
Ex: pessoa que morre sem deixar patrimônio não pode ser chamada de de cujus. Nem todo
morto é de cujus, mas o de cujus é morto. De cujus ou autor da herança é aquele que morreu
e deixou patrimônio. Se a pessoa morreu e não deixou patrimônio ela é simplesmente uma
pessoa morta, não é de cujus.
Sucessor: é aquele que será convocado para dar continuidade às relações patrimoniais
do falecido.
No nosso sistema o sucessor se divide em dois ramos: O sucessor pode ser herdeiro
ou legatário.
- Herdeiro é o sucessor a titulo universal.
- Legatório é o sucessor a titulo singular.
Se eu deixo 20% do meu patrimônio eu estou deixando herança, pois todo herdeiro é
a titulo universal, todo herdeiro terá um percentual do patrimônio transmitido. A herança e
uma universalidade e o herdeiro recebe uma fração ideal da herança (um pedaço da
universalidade). O herdeiro recebe um quinhão. Então todo herdeiro vai ter um percentual
do patrimônio transmitido (quinhão, fração ideal).
A titulo singular – legatário – é quando recebe um bem certo e determinado (legado).
O legado é um bem singularmente considerado (ex: uma casa, um carro, uma quantia em
dinheiro – 50 mil reais, etc).
Com isso, herdeiro e legatário são espécies de sucessores. Todo legatário é sempre
testamentário (sem exceção). Já o herdeiro pode decorrer da lei (herdeiro legitimo) ou da
vontade do autor da herança (herdeiro testamentário). O herdeiro legitimo é aquele que está
previsto em lei. Ele recebe porque está em lei. A lei o contempla. Já o herdeiro testamentário
372
Direito Civil 2016 373
Juiz do trabalho não pode emitir alvará sucessório, somente e o juiz das sucessões
pode.
Herança x espólio:
Herança é o conjunto de relações jurídica patrimoniais transmitida pelo falecido. Ou
seja, é o complexo de relações jurídicas. No Brasil, a partir da CF a herança é direito
fundamental constitucional (garantia constitucional, art. 5º, XXX, CF) e é também um bem
imóvel, indivisível e universal (art. 80, CC). A herança é um bem imóvel, indivisível e
universal, mesmo que composta de bens moveis, divisíveis e singulares. Bastaria supor
herança formada por dinheiro. Mesmo que a herança seja exclusivamente formada por
dinheiro ela é imóvel, indivisível e universal. A herança é sempre imóvel, indivisível e
universal, independentemente do seu conteúdo. Decorrem aqui todos os efeitos dos bens
imóveis, indivisíveis e universais.
373
Direito Civil 2016 374
Se o titular quiser dispor de sua herança (ex: ceder) e esse titular é casado, ele precisa
do consentimento de sua esposa?
Sim, pois a herança é bem imóvel. Ademais o consentimento precisa ser por
instrumento público, pois trata-se de bem imóvel.
Se existem 5 herdeiros e um deles quer vender a sua parte precisa dar preferencia
aos outros?
Sim, pois trata-se de bem universal, que forma um condomínio.
A herança é um bem jurídico, é uma universalidade de direito e não de fato.
É preciso traçar uma diferença entre herança e espólio.
A herança é bem jurídico mas não tem personalidade, ela é ente despersonalizado,
desprovido de personalidade. Em se tratando de ente despersonalizado quem representa a
herança? É o espólio. O espólio é a representação da herança em juízo e fora dele.
Significa, portanto, que a herança será representada pelo espólio. Eu quero ajuizar
ação contra alguém que faleceu para reclamar a posse. se a pessoa já faleceu ela não pode
constar no polo passivo da demanda (extinguiu a sua personalidade). Não se pode entrar
com ação contra a herança (a herança é o objeto, o bem jurídico). Nesse sentido se quer
entrar com ação contra a herança deve-se ajuizar a ação contra o espólio. Quem representa
o espólio é o inventariante (art. 12, CPC).
O inventariante representa o espólio. O inventariante somente será nomeado pelo juiz
e o juiz somente nomeara inventariante dentro do processo de inventario. Até que nomeia o
inventariante já existe a herança pois a herança se forma automaticamente. Enquanto não
tiver inventariante quem representa o espolio? Quem representa o espolio até a nomeação
do inventariante é o herdeiro que estiver na posse e se mais de um estiver na posse é todos
eles - administrador provisório (Resp 777566/RS, STJ: o STJ afirma que quem representa o
espolio antes da nomeação do inventariante é o herdeiro que estiver na posse da herança e
se mais de um estiver todos eles). Administrador provisório é o herdeiro que representa a
herança antes da nomeação do inventariante.
A herança e espólio cessam automaticamente com a partilha.
OBS: se a ação que se pretende ajuizar contra o falecido disser respeito a relações jurídica
existenciais (não patrimoniais) o espolio é parte ilegítima e nesse caso a ação será ajuizada
contra os herdeiros. O espolio representa a herança (conjunto de relações patrimoniais),
portanto, o espolio somente representar o falecido nas relações patrimoniais. Ex: ação de
investigação de paternidade pós-mortem (ajuíza a ação contra os herdeiros. Os herdeiros
são partes legitimas quando o direito disser respeito a ação existencial). Ex²: o ECA permite
adoção póstuma – adoção que se aperfeiçoa depois da morte do adotante, quando ele já
manifestou inequívoca vontade de adotar. A ação de adoção póstuma será ajuizada contra
os herdeiros. Apesar dessas ações serem cumuladas com a herança essas ações são
dirigidas contra os herdeiros.
Existe uma hipótese em que uma ação versará sobre direitos patrimoniais mas exigirá
a citação dos herdeiros (para querendo promovam suas defesas): art. 12,§1º, CPC. Quem
representa o espolio é o inventariante, só que o CPC permite que o juiz nomeie inventariante
judicial ou dativo. Se o inventariante for judicial ou dativo, obrigatoriamente a citação recairá
sobre todos os herdeiros. Motivo: se o inventariante for judicial ou dativo ele não é nem
herdeiro, nem legatório. E se ele não é nem herdeiro e nem legatário ele não tem interesse
em defender a herança e é exatamente por isso exige-se a citação de todos os herdeiros
para que possam efetivar as suas defesas.
É possível litisconsórcio passivo entre espólio e herdeiros?
Sim, quando se tiver em uma única ação pedidos dirigidos ao espólio e pedidos
dirigidos aos herdeiros. Outrossim, no caso de inventariante dativo ou judicial.
376
Direito Civil 2016 377
Nesses casos de competência exclusiva da justiça brasileira o juiz do Brasil vai julgar
de acordo com a regra do art. 5º, XXXI, CF, que corresponde ao art. 10 da lei de introdução
das normas do direto brasileiro. Esses dispositivos consagram a regra da norma sucessória
mais favorável: quando se tratar de sucessão de bem de estrangeiro aplica-se sempre a
norma sucessória mais favorável ao herdeiro brasileiro. As duas normas sucessórias mais
favoráveis no mundo são do México e Portugal. A partilha de bem imóvel de português no
Brasil deve ser feito por juiz brasileiro, todavia a partilha deve ser feita com base na lei de
Portugal.
Art. 337, CPC: o ônus de prova é da parte, em se tratando de direito estrangeiro
compete à parte qual será a norma sucessória mais favorável. Não pode exigir que o juiz
saiba. O único ordenamento que o juiz tem que saber além do brasileiro é dos países do
Mercosul (protocolo de las lenhas: em se tratando de países do mercosul presume-se que o
juiz conheça o ordenamento). Nesse caso de países do mercosul a parte não é obrigada a
provar.
Os efeitos decorrentes de saisine não alcançam o legatário, somente o herdeiro.
Quando se fala na transmissão automática o legatário não recebe na transmissão
automática. O legatário só vai receber quando da partilha. Ele não recebe porque o legatário
recebe a titulo singular e a transmissão é a titulo universal – há uma incompatibilidade. O
legatário será citado para se habilitar, mas ele não será citado nas ações contra o espolio,
pois ele não integra o espolio.
E se o legatário pleitear tutela antecipada no curso do inventario?
Pode caber tutela antecipada, desde que o legatário preste garantia (caução
muciana). Essa caução pode ser real ou fidejussória. Caução muciana é a garantia prestada
pelo legatário que eventualmente pleiteia tutela antecipada. Essa caução deve ser prestada
porque não se sabe se ao final do processo vai sobrar bens para o legatário (tem que pagar
as dividas primeiro, etc).
377
Direito Civil 2016 378
AULA 20
DIREITO DAS SUCESSÕES: SUCESSÃO EM GERAL
5 – Capacidade sucessória
Capacidade sucessória é a aptidão para ser herdeiro ou legatário. Portanto, a
capacidade sucessória prende-se à ideia de atributo sucessório.
A expressão capacidade sucessória não é muito boa, pois ela acaba induzindo ao
erro: veicula a ideia de capacidade jurídica. Não se confunde capacidade sucessória com
capacidade jurídica (possibilidade de praticar atos jurídicos pessoalmente). A capacidade
sucessória é a aptidão para ser herdeiro ou legatário. Ou seja, garoto com 3 anos não tem
capacidade jurídica, mas tem capacidade sucessória. A capacidade sucessória não se
confunde com a capacidade jurídica, e por isso a melhor nomenclatura seria legitimidade
sucessória.
Quem pode ser herdeiro ou legatário: pessoas nascidas ou concebidas (art. 1798,
CC). A legitimidade sucessória é das pessoas nascidas ou concebidas.
A verificação da capacidade sucessória se dará no momento da abertura da
sucessão, sendo irrelevante eventuais modificações posteriores. Ex: Suzane Rictofen matou
os pais. Ela não tem direito à herança porque ela é indigna. Suponha que depois do
assassinato ela tenha engravidado. O neto não será herdeiro, pois o verificação da
capacidade sucessória se dará no momento da abertura da sucessão.
Abertura da sucessão = se dá com a morte.
Ampliação da capacidade sucessória no que diz respeito à sucessão testamentária.
Quando se tratar de sucessão testamentaria haverá uma ampliação da capacidade
sucessória, além de sucederem as pessoas nascidas ou concebidas, também terá
legitimidade sucessória (Hipóteses de ampliação da capacidade sucessória quando se tratar
de sucessão testamentária, apenas):
1º. Pessoa jurídica.
2º. A pessoa jurídica a ser constituída com patrimônio transmitido (fundações)
3º. Prole eventual (concepturo). Tem prazo para conceber: prazo de 2 anos para
concepção contados da abertura da sucessão. Não é para nascer, é para conceber.
Concepturo (ainda será concebido) x nascituro (já foi concebido).
Seria possível imaginar que ao invés de conceber biologicamente essa prole eventual
poderia ser adotada?
Sim. Não existe qualquer óbice de possibilidade de adoção, haja vista inclusive a
igualdade entre os filhos constitucionalmente garantido, salvo disposição expressa pelo
testador.
Poderia o testador dizer: a prole eventual que fulano vai ter com meu sêmen
congelado. Poderia ele deixar claro que aquele filho também vai ser filho dele?
Não (art. 1799, I, CC). Os pais da prole eventual devem ser pessoas vivas no
momento da abertura da sucessão, assim, o art. 1799, I acaba limitando o benefício em favor
de prole eventual. O testador não pode deixar para caracterizar como prole eventual o filho
dele ainda não concebido.
O único caso no Brasil em que se autoriza o fideicomisso é em favor de prole eventual
(art. 1952, CC).
As pessoas concebidas em laboratório (embrião) também estão alcançadas pela
capacidade sucessória? O embrião de laboratório pode ser abrangida pelo conceito de
pessoa concebida?
O embrião de laboratório não tem personalidade.
1ª corrente: Para alguns autores como Caio Mario e Flávio Tartuce, não. Para estes o
embrião laboratorial não tem capacidade sucessória, pois entendem que somente ao se
tornar nascituro é que se teria o conceito jurídico de concepção. O conceito jurídico de
378
Direito Civil 2016 379
6 – Indignidade e deserdação
A indignidade e deserdação possuem um ponto de afinidade: constituem sanção civil,
é pena, portanto. É uma sanção, pena, imposta àquele que se comportou de forma ignóbil
contra o autor da herança (aquele que se comportou mal contra o autor da herança). É o
sucessor que praticou ato contrário aos interesses do autor da herança.
Indignidade e deserdação são espécies do gênero sanção. Aqui aplica-se portanto o
princípio da intranscendência da pena: a pena não pode passar da pessoa do apenado,
consequentemente o indigno e deserdado não recebe, mas os seus descendentes recebem
em seu lugar como se mortos fossem.
A indignidade e deserdação constituem um dos casos de sucessão por
representação, também chamada de sucessão por estirpe.
379
Direito Civil 2016 380
Casos únicos de sucessão por representação (sucessão por estirpe: quando uma
pessoa recebe no lugar da outra):
- Indignidade.
- Deserdação.
- Pré-morte.
Com isso se nota que a indignidade e deserdação possuem um ponto de afinidade, de
convergência: é uma sanção civil e se submetem ao princípio da intrasncendência. Ademais,
em se tratando de sanção é exigido o devido processo legal. A indignidade e deserdação
somente por decisão judicial, respeitado o devido processo legal.
Indignidade Deserdação
A indignidade é de qualquer Somente dos herdeiros necessários:
sucessor, seja herdeiro, seja art. 1845, CC (descendente,
legatário. Qualquer sucessor pode ascendente, cônjuge ou
ser reputado indigno. companheiro). Herdeiro facultativo
pode ser privado por testamento.
O sucessor pode ser indigno por O ato deve ser praticado antes da
atos praticados antes da abertura da abertura da sucessão.
sucessão (morte). Se o ato foi
praticado depois (ex: vilipendio a
cadáver) já não se pode mais falar
em indignidade.
A indignidade será reconhecida por A deserdação é por testamento. No
meio de ação ordinária de próprio ato de testamento. Esse
indignidade. Portanto possui testamento precisa ser homologado
procedimento comum ordinário. pelo juiz, pois o juiz precisa
confirmar se o ato foi realmente
praticado e se estava previsto como
causa deserdativa.
Qualquer interessado na indignidade Somente o autor da herança é que é
pode promover a ação. Ex: outros o ofendido. Somente ele pode
herdeiros, o descendente do indigno. deserdar.
*
patrimonial, e a jurisprudência só
admite a relativização da coisa
julgada nos casos que não são
patrimoniais).
Toda vez que o código utilizar a
palavra crime ou delito somente
pode reconhecer é o juiz criminal. O
juiz civil pode reconhecer fato
jurídico qualquer, seja ele criminoso
ou não. Se o CC não usar a palavra
crime, em que ela descreva um
crime o juiz civil pode reconhecer
pois o juiz vai declarar a existência
do fato, e não do crime. Agora se a
lei falar em crime, somente o juiz
penal pode declarar. Reconhecer
fato criminoso o juiz civil pode, ele
não pode é reconhecer o crime. Em
se tratando de homicídio não precisa
de prévia condenação criminal pois
o juiz civil pode reconhecer que
houve o homicídio para fins de
dignidade. Agora crime contra a
honra depende de prévia
condenação criminal. Se amanhã
sobrevierem duas leis penais
descriminalizadoras: uma
descriminaliza o homicídio a outra
descriminaliza os crimes contra a
honra. Depois de amanhã será
possível a indignidade por
homicídio? Sim. E a indignidade
contra a honra? Não, pois contra a
honra depende de crime.
Indignidade por homicídio não
depende de crime. E se depois da
sentença civil condenatória por
indignidade veio uma sentença
criminal absolutória por negativa de
autoria: cabe ação rescisória
(devendo ser enquadrada em uma
das hipóteses do art. 485 e prazo
decadencial de 2 anos). Contudo se
não cabe em umas das hipóteses do
art. 485 e no prazo decadencial
haverá coisa julgada – garantia
constitucional: então a pessoa será
absolvida pelo crime e declarada
indigna.
383
Direito Civil 2016 384
384
Direito Civil 2016 385
abertura do inventario ou para propor ação de petição de herança, pois ele passou a ocupar
a posição do cedente, e por isso é que ele adquire essa legitimidade.
A natureza jurídica da cessão de direitos hereditários é aleatória (sorte), ou seja, é
um negócio incerto. Em se tratando de negocio aleatório não incidem aqui vícios redibitórios
e a evicção (cessão onerosa e gratuita). Apesar disso, se sobrevierem bens desconhecidos
pelo cedente, não pertencerão ao cessionário, pois ninguém pode dispor daquilo que não
sabe ter.
OBS: Quando se tratar de cessão onerosa de direitos hereditários, o CC exige o respeito ao
direito de preferencia dos coerderios, sob pena de ineficácia do negócio celebrado em
relação ao coerdeiros prejudicados, (os coerdeiros preteridos terão o prazo de 180 dias para
ajuizar a adjudicação compulsória). Só haverá direito de preferencia se a cessão for onerosa.
Cessão gratuita é liberalidade e liberalidade não tem preferência: cada um dá o que tem pra
quem quiser.
Se eu tenho cessão de direitos hereditários celebrada sob égide do código velho, mas
cuja partilha veio depois do CC/2002, como funciona?
O art. 2035, CC ele dá a regra para direito intertemporal de qualquer relação jurídica
continuativa.
Relações jurídicas continuativas submetem-se à seguinte regra intertemporal:
Existência e validade estão submetidas à norma do tempo da celebração;
Eficácia está submetida à norma atualmente em vigor.
Então se essa cessão foi celebrada antes a validade dela é do CC/1916, mas a
eficácia é do CC/2002 (assim tem que ter direito de preferencia, cujo prazo é de 180 dias).
8 – Aceitação de herança
A aceitação de herança: É um ato jurídica em sentido estrito de natureza confirmatória,
apenas. Portanto, confirma a transmissão automática de saisine. E portanto com efeitos
retroativos. Confirma a transmissão automática que já se operou: efeitos retroativos.
De acordo com o art.1792, CC a aceitação de herança é sempre com benefício de
inventario, por força de lei. Com beneficio de inventário: é dizer que os herdeiros não
respondem por dividas para além das forças da herança. Os herdeiros somente pelas dividas
nos limites das forças da herança.
Toda aceitação de herança é irrevogável e irretratável. A pessoa pode renunciar
depois, só que aí vai ter problema fiscal: suponha que o herdeiro aceito, depois de aceitar
ele renunciou: esse herdeiro vai pagar imposto, pois ocorreu o fato gerador. A renuncia
posterior à aceitação mantem a incidência fiscal.
A aceitação pode ser direta ou indireta. Direta: é aquela que advém de manifestação
de vontade do interessado ou procurador. A indireta: é aquela que decorre do credor do
renunciante. Quando um herdeiro ou legatário renuncia ele pode estar prejudicando os seus
credores, e o código legitima o credor a fazer uma aceitação indireta. Esta aceitação indireta
não será no limite do quinhão da fração ideal, ela será no limite do crédito (o restante
continua na massa hereditária pois o herdeiro renunciou). Se a herança não pagar o crédito
a divida continua no que remanejar.
Espécies de aceitação:
Expressa: é aquela que decorre de manifestação de vontade escrita. Isso é muito raro.
Tácita: é uma aceitação comportamental. Esta é a amis comum. É aquela que decorre
do comportamento. Ex: constituir advogado para requerer abertura do inventário; cessão de
direitos hereditários (se o cara cede é porque ele aceitou antes). O CC adverte que não induz
aceitação tácita a prática de atos oficiosos ou ordinatórios. Ex: pagamento das despesas do
funeral (é um ato oficioso, mais moral do que jurídico).
Presumida: depende de ação. A aceitação presumida é a que está ligada à ação
interrogatória (actio interrogatoria). A ação interrogatória é a ação promovida pelo interessado
385
Direito Civil 2016 386
em saber se uma determinada pessoa vai ou não aceitar uma herança. Ex: credor quer saber
se alguém vai ou não aceitar a herança. Essa ação só pode ser proposta 20 dias depois da
abertura da sucessão. Passado o prazo de 20 dias não havendo aceitação, nem expressa e
nem tácita, vem a ação interrogatória. Na ação interrogatória o herdeiro será citado para no
prazo de 30 dais falar se aceita ou não. o herdeiro pode nos 30 dias: renunciar, aceitar
expressamente ou ficar calado. Se ele se mantiver silente, aceitou presumidamente, pois o
silencio não pode ser interpretado como renúncia.
Em todos esses casos a aceitação será sempre plena e integral, sem possibilidade
de condição ou termo. Motivo: se a aceitação pudesse ser parcial, o herdeiro aceitaria o
crédito e renunciaria o débito. Isso não pode. Exceção: a aceitação pode ser parcial no caso
daquele que sucede com mais de um título (art. 1808). É o exemplo daquele que a um só
tempo é herdeiro e legatário. Para aquele que é herdeiro e legatário ao mesmo tempo ele
pode ser só herdeiro, só legatário ou os dois, e aí tem uma aceitação parcial. Nesse caso o
que há é uma aceitação parcial ou uma aceitação integral de cada um dos títulos
sucessórios? Para Cristiano não parecer haver aceitação parcial.
A legitimidade passiva na ações em que se discute interesse parimonail do falecido é
do herdeiro ou espolio? É do espolio pois o herdeiro não responde pelas divida, quem
responde é o espolio, por isso é que o espolio qiue é legitimado passivo.
9 – Renúncia
A renúncia é ato de despojamento da herança. A renuncia portanto é o repudio à
transmissão automática de saisine. A renúncia tem que se dar com caráter retroativo. Assim
com a aceitação, a renúncia é irrevogável e irretratável.
A renúncia exige escritura pública ou termo judicial, exatamente por se tratar de ato de
despojamento de bem imóvel.
Há uma discussão se é necessário ou não para a renúncia o consentimento do cônjuge.
A Maria Helena Diniz construiu tese dizendo que não. a Maria enquadra a renúncia de
herança como ato personalíssimo, ato pelo qual o herdeiro está renunciado à sua qualidade
hereditária (ação personalíssima). O entendimento dela é minoritário. Prevalece o
entendimento de Tartuce, Venosa, Cristiano, etc: a renuncia é ato de disposição patrimonial
e por isso precisa do consentimento do cônjuge, exceto se o casamento for no regime de
separação absoluta e na participação final dos aquestos se o pacto dispensar.
A doutrina brasileira (Venosa) costuma dividir a renúncia em:
- Abdicativa: renúncia pura e simples. “eu não quero”
- Translativa (in favorem): em favor de terceiro. “eu não quero para mim, mas quero para
fulano”.
Na verdade o que se chama de renuncia translativa tem natureza de cessão de
direitos hereditários. A isso que se da o nome de renúncia translativa na verdade é cessão
de direitos hereditários e se é cessão estará submetida à regra de cessão, inclusive
incidência fiscal. O cara pode estar chamando de renuncia translativa para fugir do fisco
(STJ, Resp 36076/MG: a renuncia abdicativa não tem incidência fiscal, o que leva à
conclusão de que a renuncia translativa tem incidência fiscal). A renúncia abdicativa não
gera efeito fiscal mas não pode prejudicar os credores, sob pena de legitimar a aceitação
indireta.
Efeito jurídico da renuncia: tratar o renunciante como se nunca tivesse existido. O
renunciante simplesmente será eliminado e tratado como se nunca tivesse existido. Moral
da historia: a renuncia não gera a sucessão por representação. O descendente do
renunciante nada pode reclamar, pois o descendente não tem qualquer direito sobre o
patrimônio renunciado (não gera sucessão por representação). O descendente do
renunciante somente recebe se todos de uma mesma classe renunciarem (o descendente
386
Direito Civil 2016 387
receberá por direito próprio e não por representação, caso haja a renuncia de todos os da
mesma classe).
387
Direito Civil 2016 388
AULA 21
1 – Noções conceituais
O testamento é um negocio jurídico pelo qual se dispõe de patrimônio para depois da
morte e se faz outras declarações de vontade. O testamento é negocio jurídico mortis causa.
O testamento além de estipular previsões patrimoniais para depois da morte comporta
também outras manifestações de vontade.
Através do testamento é possível dispor de patrimônio para depois da morte e
também é possível manifestar outras declarações de vontade. As outras declarações de
vontade que podem estar no testamento são, por exemplo: reconhecimento de filho,
deserdação, nomeação de tutor, instituição de bem de família, etc.
No Brasil não é comum encontrar testamento. Zeno Veloso apresenta um diagnostico
desse fenômeno: porque não é comum testamento no Brasil? segundo Veloso, é por questão
econômica (a maioria das pessoas não tem patrimônio para transmitir); por questão cultural,
religiosa talvez (o brasileiro não gosta muito de falar de morte, é como se quem fosse fazer
o testamento fosse morrer) e as pessoas que muito provavelmente o autor da herança
gostaria de contemplar já estão contempladas pela sucessão legítima (assim de certa forma
seria inócuo fazer o testamento). Por tudo isso é que é rara a ocorrência da sucessão
testamentária.
Características do testamento:
1. Natureza negocial: testamento é negocio jurídico.
2. Caráter personalíssimo: só quem pode elaborar é o titular. O testamento é negócio
personalíssimo e por isso pode ser elaborado pelo maior de 16 anos de idade. Se o maior de
16 anos pode elaborar, também pode servir como testemunha testamentária (quem pode mais
pode menos).
3. Revogabilidade: o testamento pode ser revogado a qualquer tempo. Toda e qualquer
derrogativa ou derrogatória é nula. É nulo porque é da essência do testamento a
revogabilidade.
Clausula derrogativa: Clausula que retira do testador o direito de revogar o
testamento.
4. Solenidade: é da essência do testamento. O testamento pe negócio formal e solene,
sob pena de nulidade.
5. Eficácia causa mortis. O testamento só produz efeitos para depois da morte do titular.
6. Possibilidade de inserção de outras manifestações de vontade.
Não esquecer que as outras manifestações de vontade inseridas no testamento serão
interpretadas autonomamente, de modo que a eventual anulabilidade, nulidade, caducidade
ou revogação do testamento não os afetará. Ex: se o testamento contiver o reconhecimento
de um filho, ao se revogar o testamento não se atinge o reconhecimento do filho. O filho
estará reconhecido independentemente da revogação, nulidade, caducidade, etc, do
testamento.
Art. 1863, CC: estabelece a nulidade do testamento conjuntivo.
Testamento conjuntivo: testamento simultâneo (duas pessoas fazendo junto),
recíproco (com concessões mutuas) ou correspectivo (com respectiva retribuição. Ex:
pessoa retribui doação recebida). Em qualquer dessas hipóteses o testamento é nulo
2 – Pressupostos
Para que seja possível sucessão testamentária, são necessários os seguintes
pressupostos:
1. Capacidade testamentária do testador: a capacidade testamentaria do testador é a
aptidão para elaborar o testamento. A capacidade testamentaria é aptidão pra celebrar o
388
Direito Civil 2016 389
testamento. Se a pessoa tem mais de 16 anos e está no gozo das faculdades mentais, ela
pode fazer testamento. Capacidade testamentária é ter mais de 16 anos e capacidade mental.
A capacidade testamentária será aferida no momento da celebração/abertura do
testamento. E não no momento da sucessão.
2. Capacidade sucessória do beneficiário: existência de uma pessoa apta a receber a
herança ou legado. Essa aptidão para receber herança ou legado: art. 1798, CC – são pessoas
capazes de receber herança ou legado: são as pessoas nascidas ou concebidas (nascituro –
que está no ventre materno ou aquele que ainda está no laboratório – que já está concebido
no laboratório).
No que diz respeito ao testamento, especificamente teremos ampliação dessa
capacidade sucessória: em se tratando de sucessão testamentaria, além das pessoas
nascidas ou concebidas, também possuem capacidade sucessória as pessoas jurídicas, as
pessoas jurídicas a serem constituídas com o patrimônio transmitido (fundações) e prole
eventual – filho que alguém vai ter no prazo de 2 anos contados da abertura da sucessão. A
prole eventual deverá ser concebidas nesse prazo de 2 anos contados da abertura da
sucessão (art. 1799). Moral da historia: possuem capacidade sucessória na sucessão
testamentária: as pessoas nascidas, concebidas, pessoa jurídica, pessoas jurídicas a serem
constituídas com o patrimônio transmitido (fundações) e prole eventual, concebidas no prazo
de 2 anos. Essa prole eventual pode ser decorrente de adoção, salvo restrição no testamento
em sentido contrário.
A capacidade testamentaria é verificada no momento da elaboração do testamento.
A capacidade sucessória é verificada na abertura da sucessão. São dois momentos distintos.
3. Respeito às formalidades na elaboração do testamento, sob pena de nulidade. A
eventual nulidade do testamento não afetará as demais manifestações de vontade.
4. Observância do limite da legítima. Aqui é necessário respeitar a legítima (metade do
patrimônio liquido disponível do testador). Para fins de testamento, a legitima vai ser calculada
na abertura da sucessão. Para fins de doação, a legitima será calculada na data da
liberalidade. E para fins de antecipações de herança (quando o pai faz doação para o filho sem
deixar expresso que o bem sairia de sua quota disponível), a legitima será calculada na data
da abertura da sucessão se o bem ainda existe; se o bem não mais existe a legitima será
calculada na data da liberalidade (enunciado 119 da jornada). O fundamento dessa dualidade
de prazo (se o bem ainda existe e se o bem já não mais existe) é a proibição do enriquecimento
sem causa.
119 – Art. 2.004: para evitar o enriquecimento sem causa, a colação será efetuada com
base no valor da época da doação, nos termos do caput do art. 2.004, exclusivamente
na hipótese em que o bem doado não mais pertença ao patrimônio do donatário. Se,
ao contrário, o bem ainda integrar seu patrimônio, a colação se fará com base no valor
do bem na época da abertura da sucessão, nos termos do art. 1.014 do CPC, de modo
a preservar a quantia que efetivamente integrará a legítima quando esta se constituiu,
ou seja, na data do óbito (resultado da interpretação sistemática do art. 2.004 e seus
parágrafos, juntamente com os arts. 1.832 e 884 do Código Civil).
3 - Espécies de testamento
O testamento pode se apresentar a partir de dois grandes grupos de testamento:
Testamentos ordinário: são aqueles feitos nas condições normais.
Os testamentos ordinários podem ser:
- Público;
- Cerrado ou secreto;
- Particular.
Testamentos especiais ou extraordinários: são os testamento elaborados em situações
de excepcionalidade.
Os testamentos especiais podem ser:
389
Direito Civil 2016 390
- Marítimo/aeronáutico;
- Militar.
Todas essas categorias de testamentos terão forma própria.
Todos os testamentos (cerrado, público, militar, aeronáutico, marítimo) exigem duas
testemunhas, com exceção do particular, que exige 3.
Testamento público:
O testamento público é aquele elaborado pelo testador de viva voz* na presença de
duas testemunhas e da autoridade com função notarial
*O testador vai narrar a sua vontade.
Autoridade com função notarial é o tabelião, os cônsules fora do Brasil.
A grande característica do testamento público é a publicidade da declaração. A
declaração será pública. Inclusive, respeitando o art. 13, CF, esse testamento tem que ser
redigido em língua portuguesa, pois esse testamento é publico.
O mudo não pode fazer o testamento público (não tem como o mudo declarar a sua
vontade). Porém o testamento público é permitido ao analfabeto e ao cego. Neste caso do
testamento público elaborado pelo cego e analfabeto além da presença das duas
testemunhas e da autoridade com função notarial, exige-se mais uma pessoa que assinará
o testamento a rogo do cego e do analfabeto (trata-se de regra específica).
Esse testamento público é elaborado de viva voz, mas ele não pode ser feito com
base em perguntas e respostas. Motivo: se o testamento público fosse feito com base em
perguntas e respostas: ex: a autoridade pergunta para o testador: a sua cassa vai ficar para
quem? Nesse caso o testamento teria afrontada a sua essência personalíssima. Ora, em se
tratando de negocio personalíssimo ele não pode admitir a intromissão da autoridade na
vontade do testador.
se o testamento é violado depois da morte do testador ele não tem como elaborar outro,
assim, não haveria nesse caso caducidade, mas mera irregularidade.
Existe somente um caso em que o conteúdo do testamento cerrado será conhecido
por mais alguém além do testador. Essa hipótese é quando o testador sabe ler, mas não
sabe ou não pode escrever. A única hipótese que o conteúdo de um testamento cerrado
será do conhecimento de mais alguém, além do testador, é quando o testador sabe ler, mas
não sabe ou não pode escrever (ex: pessoa perdeu as mãos, que tem mal de parkson).
Neste caso alguém escreve a rogo da pessoa: alguém escreve, mostra para o testador, lacra
e entrega para a autoridade. A autoridade recebe o testamento, vai selar (coser) e somente
o juiz abrirá.
O testamento cerrado pode ser em língua estrangeira, devendo antes da homologação
do juiz ele ser traduzido por tradutor oficial.
Testamento particular:
O testamento particular tem a forma e conteúdo livres. Ele é elaborado como bem
entender o testador.
Ele pode elaborar mecanicamente, de próprio punho, etc. ele apenas precisa ler o seu
conteúdo na presença de 3 testemunhas.
O testamento particular pode ser em língua estrangeira, desde que as 3 testemunhas
entendam o idioma.
O testamento particular precisa ser lido na presença de 3 testemunhas. O testamento
particular traz alto grau de insegurança, pois ele não ficará registrado em nenhum lugar. O
testamento particular será guardado pelo testador. O alto grau de insegurança desse
testamento particular faz com que o código exija homologação judicial em relação à sua
validade. O juiz precisa homologar o testamento particular para garantir a sua segurança e
validade.
Há uma exceção no CC (art. 1879): permite-se ao testador elaborar testamento
particular de próprio punho, sem testemunhas, em casos excepcionais declarados no
testamento. Nesse caso o testamento continuará exigindo homologação judicial. Ex:
Brasileiro da Onu que ficou soterrado no Iraque: poderia ter elaborado testamento sem
testemunha.
Testamento marítimo/aeronáutico:
Este testamento é aquele testamento elaborado à bordo de navios ou aeronaves, pelos
passageiros ou tripulantes, tanto faz. Condição: a aeronave ou embarcação precisa estar
em curso (em viagem). Motivo: se a aeronave tiver pousado ou embarcação atracada, não
há excepcionalidade. Nesse caso o testamento pode ser pelo passageiro ou tripulante,
elaborado de forma pública (ditado para o comandante) ou cerrada perante o comandante.
No caso do testamento cerrado o testamento será entregue ao comandante, o qual fará o
registro no livro de bordo.
Se o testamento é particular, não precisa das peculiaridades do testamento
marítimo/aeronáutico.
Testamento militar:
Testamento militar é aquele elaborado pelos militares ou civis que estejam à disposição das
forças armadas (ex: médico) em tempo de guerra ou praça sitiada. Nesse caso será possível
a elaboração de testamento perante o comandante. Esse testamento elaborado perante o
comandante pode ser de forma pública (ditada verbalmente ao comandante) ou cerrado
(interessado elabora o testamento secretamente e entrega ao comandante).
Testamento militar é entregue perante o comandante da tropa.
391
Direito Civil 2016 392
O testamento militar é o único que permite uma forma oral no direito brasileiro. É o chamado
testamento militar nucumpativo. Somente aquele que estiver ferido ou em situação de
combate pode testar verbalmente.
Todos os testamentos especiais (militar, marítimo/aeronáutico) exigem homologação
judicial, haja vista a excepcionalidade das circunstancias e o alto grau de insegurança.
Os testamentos especiais contam com condição de caducidade: todos os testamentos
especiais exigem que o testador morra durante a circunstancia excepcional. Se ele não
morrer, ele disporá do prazo de 90 dias para ratificar o testamento sob pena de caducidade.
É obvio que pode acontecer de a pessoa não ter condições de manifestar a vontade
no prazo de 90 dias. Ex: pessoa passa mal no navio e sai de lá em coma. Nesse caso o
testamento é valido. A ratificação é necessária quando for possível a manifestação de
vontade.
OBS: O direito brasileiro admite o chamado codicilo (Art. 1881).
Codicilo: pequeno testamento. Codicilo é uma disposição para o funeral (ex: pessoa
quer ser cremada) ou para pequenos legados (ex: pessoa quer deixar uma joia de estimação
para fulano).
Pequeno legado é aquilo que não ultrapasse 10% do patrimônio liquido, segundo a
jurisprudência. O codicilo tem forma livre e não exige testemunha, mas exige a capacidade
testamentária.
É possível a coexistência de testamento e codicilo, cada um tem seu objeto.
É possível que o codicilo revogue o testamento em parte. E o testamento pode revogar o
codicilo no todo.
Havendo testamento ou codicilo, exige-se a intervenção do MP como fiscal da lei (art.
999, CPC).
Não se admite o inventario extrajudicial quando existir disposição de ultima vontade.
O codicilo tem forma livre e dispensa testemunhas.
392
Direito Civil 2016 393
5 - Redução testamentária
Todo testamento tem de respeitar os limites estabelecidos pela legitima. Respeitar a
legitima significa não ultrapassar o limite de 50% do patrimônio liquido do testador no
momento da abertura da sucessão.
Entretanto, não se pode esquecer que deliberadamente ou não, intencionalmente ou
não o testador pode exceder a legítima. Ex: testador elaborado o testamento e só vem a
falecer 15 anos depois. Como a legitima será calculada na abertura da sucessão, é possível
uma oscilação patrimonial entre a data de elaboração do testamento e de abertura da
sucessão. Essa oscilação pode fazer com que a legitima tenha sido violada.
Nesse caso, toda vez que houver violação da legitima (excesso testamentário), é caso
de redução da clausula testamentária.
A redução testamentaria é o ato pelo qual o juiz faz com que o testamento que excede
a legitima volte ao seu limite, restabelece o limite da legitima. A redução testamentaria pode
ser determinada de ofício pelo juiz, independentemente de motivo (isso se dá porque o juiz
tem que homologar o testamento).
O testamento público e o cerrado devem ser homologado, todavia não haverá
discussão sobre o seu conteúdo. Somente nos outros é que haverá discussão do conteúdo.
Regras para a redução testamentária:
Havendo só herança (universalidade) ou só legado (bem individualmente considerado),
o juiz determinará uma redução proporcional;
Havendo herança (universalidade) e legado (bem individualmente considerado),
simultaneamente, o juiz reduzirá primeiro da herança e, posteriormente, se preciso, do legado.
Reduz-se inteiramente a herança, para só depois reduzir o legado. E se o legado exceder 75%
do patrimônio? Se excedeu em 25% (1/4 - + de 75%) o limite permitido, aí cessa o legado, os
herdeiros legítimos recebem o bem e pagam o legado em dinheiro. Se o bem não valia mais
do que 75% o bem permanecerá com o legatário que pagara a diferença em dinheiro. Ex: eu
deixei uma casa para Arlete. Essa casa vale 80% do patrimônio (excedeu a legitima em mais
de 1/4). Nesse caso Arlete não recebe a casa. A casa fica para os herdeiros legítimos e os
herdeiros pagam o legado. Se a casa não excedeu ¼, a casa fica para Arlete e ela paga a
diferença.
6 - Direito de acrescer
394
Direito Civil 2016 395
7 - O testamentário
O testamenteiro é uma pessoa indicada pelo testador para fazer valer a sua
declaração de vontade. O testamenteira portanto, é alguém a quem o testador confiará a
missão de efetivar, fazer valer o seu testamento.
Exatamente por isso o testamenteiro tem a legitimidade para requerer a abertura do
inventario (art. 998, CPC).
O testamenteiro pode até mesmo ser inventariante se assim indicou o testador.
Exatamente porque a função do testamenteiro é fazer cumprir a vontade do testador.
O testamenteiro assume responsabilidades civis e criminais (ex: não pode dar
declaração falsa), mas o testamenteiro não tem privilégios. O testamenteiro não tem
tratamento diferenciado. Exatamente por isso que se o testamenteiro não for nem herdeiro
nem legatário, o juiz fixará para ele uma remuneração chamada de prêmio ou vintena, no
percentual de 1 a 5% sobre o total da herança. Nessa caso o juiz utilizará os mesmos
parâmetros para arbitramento de honorários advocatícios.
O testamenteiro portanto, tem funções processuais e extraprocessuais e não tem
nenhuma prerrogativa, por isso ele tem direito ao premio.
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Direito Civil 2016 396
SUCESSÃO LEGÍTIMA
1 – Ordem de vocação hereditária
A sucessão legitima é aquela que se opera de acordo com a lei, para a sucessão
legitima é irrelevante a vontade do autor da herança. No Brasil a sucessão legitima beneficia
as pessoas que o autor muito provavelmente beneficiária se fizesse um testamento.
A sucessão legitima beneficia os parentes mais próximos em ordem de preferencia. A ideia
é transmitir o patrimônio para a pessoa mais próxima. A sucessão legitima presume a
vontade do autor da herança. Essa presunção é relativa e não absoluta, pois de qualquer
sorte o autor da herança pode elaborar um testamento, razão pela qual já se percebe que a
presunção não é absoluta.
É possível uma concomitância (simultaneidade) de sucessão legitima e testamentária
em dois casos (ao mesmo tempo é possível ter sucessão legitima junto com a
testamentária):
1. Quando houver herdeiro necessário e testamento. É que se há herdeiro necessário
haverá o bloqueio da legítima e se há legítima o testamento só pode dispor de 50%.
2. Quando não há herdeiros necessários, mas também não há testamento dispondo da
integralidade do patrimônio.
A sucessão legitima traz presunção relativa de vontade do autor da herança.
A sucessão legitima se opera de acordo com a ordem vocação hereditária.
A ordem de vocação hereditária é o fundamento da sucessão legitima. Toda sucessão
legitima gravita ao derredor da ordem de vocação hereditária, também chamada de ordem
de vocação sucessória.
A ordem de vocação hereditária é o estabelecimento do rol dos sucessíveis (é a lista
das pessoas que serão chamadas a suceder por força de lei).
Ordem de vocação hereditária no Ordem de vocação hereditária no
CC/1916 CC/2002
Art. 1603 Arts. 1829 e 1729. Premissa do novo
CC: extinguir o usufruto vidual. O
CC/2002 pois fim ao usufruto vidual
e estabeleceu uma nova ordem de
vocação sucessória.
Descendentes Descendentes + cônjuge ou
companheiro
Ascendentes Ascendentes + cônjuge ou
companheiro
Cônjuge sobrevivente/companheiro* Se não tiver nem descendente ou
(supérstite) ascendente aí será chamado o
cônjuge sobrevivente sozinho.
Colaterais até 4º grau Colaterais até 4º grau + o
companheiro.
Fazenda pública Somente se não tiver colateral até 4º
grau aí sim será chamado o
companheiro sobrevivente sozinho.
Essa ordem é preferencial, ou seja, Dessa nova ordem temos 3
tendo os descendentes o conclusões:
ascendente não será chamado e 1 - Os grande privilegiados dessa
assim sucessivamente. nova ordem foram o cônjuge e
*Advieram as leis 8971/94 e 9278/96 companheiro. Há portanto um
que estabeleceram o direito indiscutível privilégio do cônjuge e
sucessório para o companheiro, companheiro.
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Direito Civil 2016 397
2 – Sucessão do descendente
A sucessão do descendente é norteada por 2 regras:
1ª. Inexistência de tratamento discriminatório entre os descendentes. A sucessão do
descendente não pode ter discriminação. Trata-se de uma projeção do princípio constitucional
da igualdade entre os filhos.
No CC/16 o filho adotivo não herdava. Agora, por não poder haver discriminação, o
filho adotivo terá o mesmo direito sucessório do filho biológico.
Os artigos 41 a 49 do ECA reconhecem o direito hereditário do filho adotivo (esses
artigos tratam da irrevogabilidade da adoção, por ser assim, terá o mesmo direito sucessório
do filho biológico).
PAI/viúvo
N1 N2 N3 N4 N5 N6 N7
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Direito Civil 2016 399
demais sucessíveis (quando for por pré-morte segue a ordem dos sucessíveis). Ex: se o filho
2 for indigno, mas deixou descendente - o N3 – o descendente recebe. Mas se o Filho 3 foi
deserdado e não tiver filhos ele é simplesmente aniquilado da sucessão, a parte dele não irá
para o seu ascendente, ela será redistribuída na classe. Agora o filho 1, que é pré-morto,
suponha que ele não tenha deixado filhos, aí a sua parte irá para seu ascendente, se não
houver vai para o cônjuge e assim por diante.
Principio da intranscendência da pena – a pena não pode perpassar a pessoa do
apenado. Como a indignidade e deserdação são penas, aí o descendente vem buscar só
pelo princípio da intranscedência. Agora a pré-morte não é pena, então a transmissão se
opera.
3 – Sucessão do ascendente
A sucessão do ascendente é norteada por 3 regras:
1ª. Aplicação da igualdade de origens (reciprocidade sucessória): se há uma igualdade
entre os filhos, também deve haver igualdade entre os ascendentes. Se o filho adotivo herda
do pai adotivo, o pai adotivo também herda do filho adotivo. Igualdade de origens. Não há
limitação de origens para a sucessão.
2ª. A presença do ascendente mais próximo afastará o mais remoto. Se tem pai não chama
avô, e assim por diante. Na classe dos ascendentes não existe sucessão por representação,
somente sucessão por pré-morte, mas essa sucessão não será por representação, será pela
ordem de vocação que seguiu.
3ª. A sucessão do ascendente é a única dividida em linhas (linha materna e linha paterna).
Suponha que uma pessoa faleceu não deixou filhos e nem pais, mas deixou avós (um paterno
e dois maternos). Suponha que ele tenha deixado uma herança de 100 mil reais. Para o avô
paterno fica 50% e para os dois maternos ficam os outros 50%, que serão repartidos entre
estes. Quando não houver representante em uma linha a outra linha acresce. Ex: se não tem
avô paterno mas tem os maternos estes ficam com tudo, não passa a parte do paterno para
os bisavôs.
C/ C/ Sozinho C/ colaterais
descendente ascendente
Cônjuge - A - Independe Independentement X
Art. 1852, concorrência do regime e do regime de O cônjuge
CC sucessória do de bens. bens o cônjuge não concorre
cônjuge com o Seja qual for recebe todo o com
descendente o regime de patrimônio colateral, ele
depende do bens, sozinho, se não se antecipa
regime de mesmo que houver nem ao colateral e
bens*. seja o da descendentes ou recebe
- Incide comunhão ascendentes. sozinho.
somente sobre universal, o
os bens cônjuge
particulares. sobrevivent
Somente os e terá direito
bens à herança
particulares quando
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Direito Civil 2016 400
metade do que
couber aos
filhos, ou seja
ela terá direito
apenas a 1/5
da herança
(20%). Se for
sucessão
hibrida o CC
nada disse e a
doutrina vai
controvertend
o, assim como
no casamento.
forem híbridos, por exemplo, 3 filhos são dela e 3 filhos não são o CC não responde. Mas a
doutrina responde:
1ªc: Para alguns doutrinadores basta ter um filho para ter a garantia de ¼.
2ª c.: Para outros, precisa que todos sejam filhos para que tenha a garantia de 1/4 (toda
norma que estabeleça privilégios deve ser interpretada restritivamente).
3ª c.: Para outros doutrinadores, que é a corrente majoritária, vai ter que fazer uma
composição: vai ter que aplicar ¼ para o numero de filhos comuns e não aplicar o ¼ para os
filhos que não são comuns. Terá que fazer uma equação.
Para Cristiano esse artigo 1832 é incompatível com a constituição, pois ele trata
desigualmente os filhos. Para Cristiano esse artigo põe-se em rota de colisão com o texto
constitucional.
Além do direito à meação e ao direito à herança, o CC criou um terceiro direito para
o cônjuge: que é o direito real de habitação (art. 1831, CC). Direito real de habitação é um
direito reconhecido ao viúvo ou viúva de continuar morando no imóvel residencial que servia
de lar para o casal.
O direito real de habitação do cônjuge é vitalício (só perde quando morre) e
incondicionado (é incondicionado porque o cônjuge sobrevivente tem o direito real de
habitação mesmo que constitua uma nova família). Para Cristiano isso gera dua agravantes:
1 - Imagine que uma piriguete casa com um velho sob o regime de separação de bens e
espera ele morrer. Os filhos apesar de terem direito sobre o imóvel que ficou de herança,
não terão como repartir pois a piriguete tem o direito de ficar morando no imóvel, ainda que
constitua uma nova família. Para Cristiano isso pode prejudicar os filhos do falecido de outro
casamento – imaginem que eles sejam menores e dependiam de pensão do pai
2 – Uma mulher tem um móvel antes de casar, onde ela morava, ela casa e aluga esse
imóvel. Se o marido morrer ela não tem que voltar par ao imóvel dela, ela continua morando
no imóvel que era residência do casal e continua recebendo aluguel do imóvel dela.
O STJ vem entendendo que o direito real de habitação independe de herança e de
meação. O direito real de habitação além de não estar submetido à herança e meação, ele
é reconhecido mesmo que haja mais de um imóvel residencial a partilhar (art. 1831).
O artigo 1831, CC é uma regra, então havendo necessidade o que se pode sustentar
aqui é a derrotabilidade (forma de superar a aplicação da regra). Humberto Ávila e Tomas
Bustamante foi quem trouxeram a tese de derrotabilidade. Essa regra da derrotabilidade é
para casos excepcionais, nos quais uma regra que é válida, é superada para garantir justiça
social ao caso concreto. A regra é válida, mas ela pode se tornar ruim, então quando ela for
ruim aplica-se a derrotabilidade: resolve o problema casuisticamente e a regra continua no
sistema. Para Cristiano essa é a solução imediata, para ele a solução mediata seria alterar
a lei: dizer que o direito real de habitação deveria ser determinado pelo juiz no caso concreto
e não pela lei.
O direito à herança e o direito de habitação só serão reconhecidos se o cônjuge não
estiver divorciado, separado judicialmente e nem de fato há mais de 2 anos. Mas, segundo
o art. 1830, CC, se o cônjuge estiver separado há mais de dois anos e provar que o
casamento se desfez por culpa do falecido o sobrevivente readquire a herança e habitação
(a doutrina chama isso de culpa mortuária ou culpa funerária). Isso é muito grave pois
imagine que os cônjuges estão separados há mais de 15 anos, um morre e outro aparece
querendo herança falando que a culpa da separação se deu por conta do falecido. A doutrina
brasileira unanimemente diz que essa parte da culpa mortuária ou funerária é não escrita,
dada a impossibilidade de discutir essa culpa. A doutrina não admite essa discussão de
culpa.
Pressuposto da sucessão do companheiro (art. 1790, CC): o companheiro
sobrevivente terá direito à herança sobre os bens adquiridos onerosamente na constância
da união estável. Problema: sobre esses bens o companheiro já tem meação (na união
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