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Profa.

Raniella Ferreira Leal


Direito Trabalhista e Legislação Social
NOÇÕES PRELIMINARES

1. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA LEGISLAÇAO SOCIAL

1.1 Conceito e denominação

A expressão legislação social é uma expressão relativamente recente e designa uma


disciplina jurídica, ministrada nos Cursos de Administração, Ciências Contábeis,
Economia, Engenharia, Serviço Social, entre outros, cujos objetivos é ministrar noções
gerais de Direito do Trabalho e de Direito Previdenciário.

Há autores que se referem unicamente ao Direito do Trabalho ou, ainda, “Direito Social”,
por ter sido oriundo da “questão social” e por constituir um sistema de proteção ao
hipossuficiente.

Atualmente, entretanto, há uma tendência a incluir na disciplina noções de Direito


Previdenciário, dada a sua importância social.

O campo de atuação da legislação social é o trabalho subordinado, não se estudando o


funcionário público, o qual interessa ao direito administrativo, nem o trabalho autônomo,
que é regido pelas leis civis, mas sim o chamado “celetista”.

1.2 Posição no campo do direito, relação com os demais ramos do direito e com
outras áreas de conhecimento.

O Direito enquanto sistema jurídico é uno e indivisível, todavia, para fins didáticos é
dividido em ramos e disciplinas. Inicialmente é dividido em dois grandes ramos: Direito
Público e Direito Privado

a) Direito Público – parte do Direito que regula os interesses gerais da sociedade.


Sempre há a participação do Estado, como órgão da sociedade, quer como sujeito
ativo (titular do poder jurídico) quer como sujeito passivo (destinatário do dever
jurídico), mas sem renunciar a sua supremacia.

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Fazem parte do Direito Público:

- Direito Constitucional;
- Direito Administrativo;
- Direito Tributário;
- Direito Financeiro;
- Direito Penal;
- Direito Processual;
- Direito Internacional público;
- Direito Previdenciário.

b) Direito Privado – parte do Direito que regula os interesses particulares. O Estado


pode até participar, mas agindo como particular despido do seu “ius imperium”.
Pertencem ao Direito Privado:

- Direito Civil;
- Direito comercial;
- Direito Internacional Privado;
- Direito do trabalho.

Esta divisão não é unânime, há autores que visualizam um terceiro gênero, os Direitos
Mistos ou Sociais, reunindo os ramos do Direito cujas normas são uma mescla de Direito
Público e Direito privado, como é o caso, por exemplo, do Direito do Trabalho.

Nossa disciplina se situa, pois tanto no Direito Privado como no campo do Direito
Público.

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Direito Constitucional;
Direito Administrativo;
Direito Tributário;

Direito Público
Direito Financeiro;
Direito Penal;
Direito processual;
Direito Internacional público;
Direito

Direito Previdenciário.

Direito Civil; Legislação Social


Direito comercial;
Privado
Direito

Direito Internacional Privado;


Direito do trabalho.

Tal qual as demais ciências, a legislação social não é um compartimento estanque,


relaciona-se com os demais ramos da ciência jurídica. Sobretudo com o Direito
Constitucional (temos hoje um verdadeiro direito constitucional do trabalho – art. 7º e
ss.), com o Direito Civil (o contrato de trabalho teve origem no direito civil, começou por
ser uma locação de serviços – locatio operarum - art. 1216 e ss. do CC), com o Direito
Penal (do qual busca determinados conceitos, por exemplo, culpa e dolo), com o Direito
Internacional (normas da OIT), com o Direito Tributário (incidência de tributos, base de
cálculo, etc), com o Direito administrativo (as normas de medicina e segurança do
trabalho, bem como as de fiscalização do trabalho pertencem à administração do Estado
– DRT), com o Direito Processual (que é o que assegura o cumprimento do direito), etc.

Relaciona-se, também, com outros ramos do saber como a Sociologia, a Biologia, Física
e Química (medicina e segurança do trabalho), a Economia, a Contabilidade (cálculos
trabalhistas), etc.

1.3 Origem e evolução.

Se fizermos um esboço histórico do trabalho temos:

a) a escravidão: A primeira forma de trabalho existente foi a escravidão. O escravo


era considerado uma coisa, não tinha qualquer direito, muito menos trabalhista
(vinculação do homem ao homem).

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b) a servidão: À escravidão seguiu-se a servidão (feudalismo), em troca de proteção
militar e política e pelo uso da terra os servos entregavam parte da produção rural aos
senhores. O trabalho era considerado um castigo razão por que os nobres não trabalhavam
(vinculação do homem à terra).

c) as corporações de ofício: Nas corporações de ofício existiam três tipos de


trabalhadores: os mestres, os companheiros e os aprendizes. Os mestres eram os donos
das oficinas, os companheiros eram trabalhadores que recebiam pagamento pelo trabalho
efetuado e os aprendizes eram menores que recebiam do mestre o ensino da profissão
(ficavam sob a responsabilidade deste). Em 1789, as corporações de ofício foram
suprimidas pela Revolução Francesa por serem consideradas incompatíveis com os ideais
de liberdade do homem (época da Idade Média).

d) a Revolução Industrial do séc. XVIII: Além da Revolução Francesa, outra


revolução faz nascerem formas diferentes de trabalho. Trata-se da Revolução Industrial.
O surgimento da máquina a vapor e das máquinas têxteis faz nascer o trabalho assalariado.
Se antes o trabalho era exercido nos campos ou nas pequenas corporações de ofício, agora
ele é exercido nas fábricas, com grande concentração de trabalhadores em um mesmo
local, o que faz surgir uma conscientização e um sentimento de revolta com a exploração
que lhes era imposta.

A revolução industrial desencadeou todo o processo que levou ao surgimento efetivo do


Direito do Trabalho a partir do fator econômico, social ou jurídico e político, resultado
da necessidade intervenção do estado nas relações de trabalho (transformação do Estado
Liberal, abstencionista, em Estado Neoliberal – intervenção estatal na relação de
emprego).

e) a ideia de justiça social e de proletariado: Às causa elencadas acima somou-se


a ideia de justiça social defendida pela Igreja Católica (Encíclica Rerum Novarum – 1891)
e do marxismo, preconizando a união do proletariado.

A Encíclica Rerum Novarum foi a primeira a tratar de matéria trabalhista, sendo que a
Igreja Católica, à época, se pronunciava sobre a exploração dos trabalhadores: “O que é

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vergonhoso e desumano é usar os homens como vis instrumentos de lucro, e não os
estimar senão na proporção do vigor dos seus braços”.

Com esse documento, a Igreja reconhece a injustiça social que ocorria, sugerindo a
intervenção estatal na economia como única forma de se pôr fim aos abusos dos patrões.

f) constitucionalismo social: Ao término da 1ª Guerra Mundial surgiu o chamado


constitucionalismo social, ou seja, a inclusão nas constituições de normas destinadas à
proteção social da pessoa e de garantia de certos direitos fundamentais, incluindo de
Direito do Trabalho.

➢ Constituição do México – 1917 (a primeira Constituição de um país


tratando de matéria trabalhista):

. Delimitou a jornada de trabalho (8 horas);


. Proibiu o trabalho de menor de 12 anos;
. Limitou a jornada de trabalho de menores de 16 anos a 6 horas;
. Estabeleceu um salário mínimo, dentre outros direitos.

➢ Constituição de Weimar (Alemanha) – 1919 (a segunda sobre o tema, com


um capítulo sobre a Vida Econômica e Social, declarando que “a propriedade gera
obrigações”);

➢ Tratado de Versalhes – 1919 – prevendo a criação da OIT (Organização


Internacional do Trabalho);

➢ Carta Del Lavoro – 1927 (teve grande influencia para o desenvolvimento


do direito do trabalho em muitos países, inclusive no Brasil);

➢ Declaração Universal dos Direitos do Homem – 1948 (reconhece, em seu


art. 23º, n. 1, que “toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho,

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a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à proteção contra o
desemprego”);

E no Brasil?

No Brasil o surgimento do Direito do trabalho sofreu influência de fatores externos e


internos. Externamente foi influenciado pelas transformações que vinham ocorrendo na
Europa com a proliferação de normas de proteção ao trabalhador e o aparecimento da OIT
(1919). Internamente os imigrantes deram origem a movimentos operários reivindicando
melhores condições de trabalho (final de 1800 e início de 1900).

Em 1930 surgiu a política trabalhista de Getúlio Vargas. A Constituição de 1934 foi a 1ª


a tratar especificamente do Direito do Trabalho, garantindo a liberdade sindical, a
isonomia salarial, salário mínimo, jornada de trabalho de 8 horas etc.

Em 1939 foi criada a Justiça do Trabalho.

Em 1943 existiam normas esparsas sobre os diversos direitos trabalhistas daí a


necessidade de reunir essas regras e, assim, surgiu a CLT. Portanto, desde 1934 que o
direito do trabalho tem base constitucional. Atualmente é regulado nos arts. 7º a 11, na
atual Constituição Federal de 1988:

O art. 7º trata dos direitos individuais e tutelares do trabalho:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:
I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa,
nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória,
dentre outros direitos;
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
III - fundo de garantia do tempo de serviço;
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender
a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia,
alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e
previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder
aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo
coletivo;
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem
remuneração variável;

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VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor
da aposentadoria;
IX - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;
XI - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e,
excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em
lei;
XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa
renda nos termos da lei;
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta
e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada,
mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;
XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos
de revezamento, salvo negociação coletiva;
XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em
cinqüenta por cento à do normal;
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais
do que o salário normal;
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a
duração de cento e vinte dias;
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos
específicos, nos termos da lei;
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de
trinta dias, nos termos da lei;
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,
higiene e segurança;
XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou
perigosas, na forma da lei;
XXIV - aposentadoria;
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5
(cinco) anos de idade em creches e pré-escolas;
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;
XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei;
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem
excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou
culpa;
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com
prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o
limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho;
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério
de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;
XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de
admissão do trabalhador portador de deficiência;
XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou
entre os profissionais respectivos;
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de
dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição
de aprendiz, a partir de quatorze anos;
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício
permanente e o trabalhador avulso
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os
direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII,
XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as
condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do cumprimento
das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de

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trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV
e XXVIII, bem como a sua integração à previdência social.

O art. 8º trata do sindicato e suas relações:

Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:


I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato,
ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a
interferência e a intervenção na organização sindical;
II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau,
representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base
territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados,
não podendo ser inferior à área de um Município;
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais
da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas;
IV - a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria
profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo
da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição
prevista em lei;
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato;
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de
trabalho;
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações
sindicais;
VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da
candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que
suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos
termos da lei.
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à organização de
sindicatos rurais e de colônias de pescadores, atendidas as condições que a lei
estabelecer.

O art. 9º trata da greve:

Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir


sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio
dele defender.
§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o
atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.

O art. 10º dispõe sobre a participação dos trabalhadores em colegiados:

Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos


colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou
previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação.

O art. 11º impõe que nas empresas com mais de 200 trabalhadores seja eleito um
representante dos trabalhadores para entendimento com o empregador.

Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição


de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o
entendimento direto com os empregadores.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Constituição


Federal (1988). Brasília, DF: Senado, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm.

BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. CLT. Brasília, DF: Senado, 1943.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm.
LEITE, Carlos Henrique B. Curso de Direito do Trabalho. [Digite o Local da Editora]:
Editora Saraiva, 2022. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786553622944/.

RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho. [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN,


2020. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530989552/.

ROMAR, Carla Teresa M.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Direito do Trabalho.


[Digite o Local da Editora]: Editora Saraiva, 2021. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555591293/.

ZAINAGHI, Domingos S. Curso de legislação social: direito do trabalho. [Digite o


Local da Editora]: Editora Manole, 2020. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555762846/.

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