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Direito do Trabalho I

1º semestre de 2017- CEUNSP-Cruzeiro do Sul- Campus Salto


Prof. Rosa Maria Marciani. E-mail: rosa_marciani@hotmail.com APOIO 1

1-EVOLUÇÃO HISTÓRICA

-Primeiros trabalhos: alimentação/defesa/conforto próprio

- Nos primórdios da humanidade, a atividade humana se dirigiu ao extrativismo vegetal- (caça/pesca)

- Com a Revolução neolítica houve o assentamento dos nômades mediante o desenvolvimento da agricultura e
domesticação de animais (desenvolvem a pecuária, fabricação de armas e artesanato....trabalho no sentido de
emprego de força física e do intelecto para a obtenção de um fim)

- Escravidão: 1ª forma de trabalho- era condição considerada natural daqueles que deveriam se dedicar aos
trabalhos físicos para a produção de alimentos e bens que a sociedade necessitava.
(1ª Forma de Trabalho com subordinação, quem trabalhava não era sujeito de direito= escravo = coisa =
trabalho desonroso)

- Feudalismo: servidão- em que os servos da exerciam trabalho livre (mas não eram livres) mas estavam ligados
a gleba de terra do senhor feudal pois deveriam fornecer parte de sua produção ao Senhorio em troca de
proteção e comida e moradia.

- Corporações de Ofício: 1ªs regulamentações do trabalho (aqui surgem os primeiros movimentos em


defesa do trabalhador- o trabalho artesanal foi desenvolvendo-se nas cidades, e eram organizados em torno
de corporações, na qual os mestres ensinavam e assalariavam os aprendizes (12 a 14 anos- tradição familiar).
Uma pessoa só podia trabalhar em um determinado oficío - pedreiro, carpinteiro, padeiro ou
comerciante - se fosse membro de uma corporação. Caso esse costume fosse desobedecido, corria o
risco de ser expulso da cidade.

(As regulamentações não se davam em função da proteção do trabalhador, mas para organizar a produção
visando o sucesso da própria Corporação) - Jornada de trabalho de até 18 horas no verão (ou até o pôr-do-sol)
porém nessa fase existia uma maior liberdade ao trabalhador.

- Revolução Francesa: fim das Corporações de Ofício Lei Le Chapelier – lei para terminar com as corporações
de oficio. Nasce a lei do mercado, o liberalismo, sem intervenção estatal nas relações contratuais.

- Revolução Industrial – século XVIII: transformação do trabalho em emprego (trabalho em troca de salário)
Com a máquina a vapor, as máquinas de fiar e as máquinas têxteis, inicia-se a substituição do trabalho manual
pelo trabalho com o uso de máquinas. Pessoas operando máquinas = trabalho assalariado.

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A Rev. Industrial potencializa-se o esforço humano, introduzindo a linha de montagem e a produção em larga
escala, e os frutos da produção passam a ser divididos entre o proprietário das máquinas (empresários ) e o
operário.

PERÍODO DO LIBERALISMO= É o período do Estado liberal, durante o qual a atividade econômica se


desenrolava autonomamente, sem interferência dos poderes públicos. 0 Estado limitava-se apenas a definir o
quadro jurídico que a atividade econômica teria de respeitar.

- Conseqüências do Surgimento da Máquina: divisão da produção, especialização do trabalho, riscos à saúde e


utilização de mulheres e menores

- Condições de trabalho: falta de contrato escrito, jornadas excessivas, exploração, trabalho vitalício, acidentes

- Proletariado: sem crescimento intelectual

- Estruturação do Movimento Trabalhista: Organização Sindical (inicialmente proibida a luta por melhores
condições)
Nesse momento começa a nascer uma causa jurídica, pois os trabalhadores começam, a reunir-se, associar
para reivindicar melhores condições de trabalho e de salários, pois o trabalho dos empregados era uma
verdadeira servidão.

- Intervenção do Estado: normas de condição mínima de trabalho


O Estado passa a intervir nas relações de trabalho para assegurar uma superioridade jurídica ao empregado
em função da sua inferioridade econômica.

Na Inglaterra em 1802- Lei de PEEL- limitou a jornada em 12 horas e impôs normas de higiene e
educação;
Em 1819- Lei que torna ilegal o emprego de menores de 9 anos.

Na França em 1813-Lei proibindo o trabalho de menores em Minas

Nos EUA em 1886- Em Chicago houve greve e manifestações para reduzir a jornada de 13 para 08
horas diárias.

Em 1891- o Papa Leão XIII através da encíclica Rerum Novarum (das coisas novas) pontifica uma fase de
transição para a justiça social traçando regras para a intervenção estatal nas relações entre trabalhador e
empregador.
- Surgimento da Eletricidade: novas adaptações (novas máquinas)

- Após a 1ª Guerra Mundial: Constitucionalismo Social (normas de proteção social, incluindo regras de trabalho
são introduzidas nas Constituições )
1917: México (- estabelecia a jornada de 8 horas, proibia trabalho de menores de 12 anos, salário
mínimo, direito a sindicalização e greve)
1919: Weimar- Alemã (representação dos trabalhadores na empresa, seguro social)
1927: Itália (“Carta Del Lavoro”)
(limitaram a jornada, instituíram proteção ao menor e à mulher e seguro social, entre outros, criou o sistema
corporativista que inspirou o Brasil. A Carta Del Lavoro organizava a economia em torno do Estado promovendo
o interesse nacional e impunha regras a todos. O Estado regulava tudo, determinando o que seria melhor para
cada um;.

- Tratado de Versalhes (1919): prevê a criação da OIT


(expedindo convenções e recomendações protetivas da rel. trab.)

- Corporativismo Fascista: intervenção direta do Estado


(regulas as ações sociais através de leis)

- Nova Teoria: separação entre econômico e social (no Brasil foi verificado na Constituição de 1988)

2-DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL

No Brasil o contexto é diferente, a escravatura perdurou até 28/09/1871, em que a lei do Ventre Livre
determinou que os filhos de escravos nasceriam livres. Em 1885 – a lei Saraiva Cotagibe, libertou os escravos
com mais de 60 anos. Sendo que em 13/05/1888, a princesa Isabel assinou a lei Áurea abolindo a escravatura.
Este fato trouxe para o Brasil uma nova realidade, pois houve o aumento da demanda no mercado e não havia
trabalho para todos, a mão de obra era numerosa porém desqualificada.

- Antigas Constituições Brasileiras: tratavam apenas da forma de Estado e sistema de Governo. A partir de
1890 surgem algumas leis esparsas trabalhistas. EX: 1891- Decreto 1313/91 proibindo o trabalho de menor de
12 anos em fábrica.

- 1930 – Getúlio Vargas : início de uma política trabalhista


(pressão do aparecimento ao OIT e grupos organizados por trabalhadores imigrantes)
Leis Ordinárias

- 1934: 1ª Constituição a tratar do D. do Trabalho na esfera constitucional.


(influência do constitucionalismo social- trata da garantia a liberdade sindical, salário mínimo, jornada de 8
horas)

- 1937: Golpe Getúlio Vargas (1937/1945- deposto). Constituição inspirada no Corporativismo Italiano- marca a
fase intervencionista do Estado. Ditadura militar.
Sindicato Único vinculado ao Estado
Proibição de Greve- recurso antisocial

- Decreto nº. 5452/43: CLT – reunião de leis esparsas

- Constituição de 1946: redemocratização – mais proteção


(afastamento do Corporativismo). Em 1939 houve a organização da JT na esfera Executiva, porém, em 1946 é
que a JT é incluída no Poder Judiciário, e surgem as juntas de conciliação.

- Constituição de 1967: manutenção de todos os direitos

- Constituição de 1988: arts. 7º a 11º (capítulo próprio)


(antes fazia parte das disposições sobre a ordem econômica e social)

- Emenda Constitucional nº24 de 1999- transforma as juntas de conciliação em Varas do Trabalho, e extingue a
representação dos classistas.

- Emenda Constitucional nº45 de 2004- amplia a justiça do trabalho para abarcar também as controvérsias
oriundas das demais relações de trabalho (representante comercial, profissional liberal).

3-CONCEITO DE DIREITO DO TRABALHO

CONCEITO: DIREITO DO TRABALHO é o complexo de princípios, regras e institutos jurídicos que regulam as
relações de trabalho, englobando, também, os institutos, regras e princípios jurídicos concernentes às
relações coletivas entre trabalhadores e tomadores de serviços, em especial através de suas associações
coletivas.

- O Direito do Trabalho é um ramo especializado e autônomo (LEGISLAÇÃO PRÓPRIA) das ciências


jurídicas que mantém pontos de contato com outros ramos do direito, entre os quais destacamos o Direito
Previdenciário; o Direito Civil; o Direito Comercial e, destacadamente, o Direito Constitucional, haja vista que
além de estabelecer princípios que orientam a estruturação do Direito do Trabalho, traz nos 34 (trinta e quatro)
incisos e parágrafo único, de seu art. 7º, o conjunto das garantias mínimas ao trabalhador.
** Ver artigo 7º da CF

- Alvo de incidência D. do Trabalho : trabalho subordinado


(empregado x empregador)
As questões trabalhistas são apreciadas pela Justiça Especializada do Trabalho, cuja competência está fixada
no art. 114 e parágrafos da Constituição Federal de 1988, que assim dispõe:
- Afastados da Justiça do Trabalho: trabalhador autônomo, funcionário público estatutário.

- Objetivos: melhoria das condições de trabalho e das condições sociais

4-NATUREZA JURÍDICA DO DIREITO DO TRABALHO

- Direito Público ou Privado? Direito Público voltado ao Estado e de normas obrigatórias de participação
estatal

D. Público: proteção legal do Estado ao trabalhador, não há margem de discussão das cláusulas, normas de
atuação do Estado (fiscalização: higiene,segurança do trabalho, etc) ,irrenunciabilidade das normas e direitos
(possibilidade apenas de transação)

D. Privado : contrato entre particulares (interesse próprio, todos os ramos têm interferência estatal

5- FONTES DO DIREITO DO TRABALHO

- Definição: modo de exteriorização da norma

- Há diversas classificações:
a- Materiais: É o conjunto de fenômenos de ordem social, econômica ou científica, ou com engajamento
moral, político religioso, que leva a criação ou modificação das normas.
As leis, editadas sempre com vistas ao coletivo, são geradas pela necessidade social em um
determinado momento histórico: as normas são sempre contemporâneas ao tempo de sua edição (Ex.
leis. Abolição da escravatura, determinou a necessidade de regramento das relações trabalhistas.

b- Formais: Formas de exteriorização do direito. (leis). Se dividem em :


b.1. heterônomas: são aquelas produzidas por sujeitos diversos dos parceiros sociais, integrantes de uma
estrutura produzida pelo Estado. Composta por lei, Medidas Provisórias, Súmulas; Tratados e convenções
internacionais e pelas sentenças normativas.

b.2- autônomas: elaboradas pelos próprios interessados. Ex: convenção coletiva, acordo coletivo.
Outros institutos que podem orientar a resolução de controvérsias trabalhistas , art. 8º, § único, da CLT
(Consolidação das Leis do Trabalho):

- Fontes: Constituição federal, Leis, Atos do Poder Executivo (Dec-lei, MP, Min. Trab), Sentença Normativa
(TST/TRT – dissídios coletivo), Convenções e Acordos Coletivos, Regulamentos de Empresa, Disposições
Contratuais, Usos e Costumes (Ex.: pagto. Habitual), normas internacionais (Convenção da OIT tem natureza
federal).

- Hierarquia: quando a norma inferior tem seu fundamento de validade em regra superior Pirâmide hierarquia
das normas trabalhistas = NORMA MAIS FAVORÁVEL AO TRABALHADOR
– Art. 619 da CLT - contrato de trabalho fica abaixo das convenções e acordos coletivos.

5.1- Classificação das normas trabalhistas:

A- ORDEM PÚBLICA:

a.1- Absolutas: interesse público sobre o individual. Não podem ser afastadas pelas partes. Exs.: Med. e Seg,
sal. Mínimo, férias.

a.2- Relativas: embora haja interesse do Estado, podem ser flexibilizadas. Exemplos: compensação,
irredutibilidade do salário — Negociação Coletiva

B- DISPOSITIVAS: o Estado estabelece um mínimo, mas há autonomia da vontade das partes sem
estabelecer outras regras. Não estabelecidas outras regras, prevalece o mínimo – o mínimo pode ser
complementado Exemplo: adicionais

C- AUTÔNOMAS INDIVIDUAIS: o Estado não interfere nas regras de conduta no campo trabalhista.

D- AUTÔNOMAS COLETIVAS: acordo ou convenção coletiva estabelecer regras não previstas na lei.
Exemplo: cesta básica

Obs.: Normas autônomas que colidam c/ normas de ordem pública não são válidas
6- PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO

6.1- Conceito de Princípio:


São os alicerces da ciência. Para o Direito, é o seu fundamento, a base que irá inspirar a criação das
normas jurídicas, bem como servir de norma (fonte secundária(, além de auliar o operador do direito a
interpretar a norma jurídica.

Princípio é o primeiro passo na elaboração de uma regulação. Estabelecem certas limitações, fornece diretrizes
que embasam uma ciência. Informam, orientam e inspiram regras legais.

Os princípios são dotados de uma força normativa, que dão sentido as normas, suprem as lacunas existentes e
orientam quanto a aplicação e interpretação das mesmas.

6.2- Princípios Comuns do Direito :

Exemplos: Dignidade da Pessoa Humana, Enriquecimento sem Causa, Boa-fé dos Contratos, pacta sunt
servanda.

6.3-- Princípios de Direito do Trabalho:

6.3.1-* Razoabilidade : É a faculdade de que dispõe o ser humano de avaliar, julgar, e ponderar as idéias. É
utilizado para solução de conflitos. O indivíduo deve proceder conforme a razão do homem médio.

Ex.: prova da justa causa pelo empregador, já que o homem médio não provocaria sua própria demissão;

Condutas que ferem o princípio da razoabilidade: empregado afirmar que trabalhava 24 hs por dia; um
empregador apresentar cartões uniformes de entrada e saída do funcionário; um cego alegar que foi obrigado a
ser motorista da empresa.

6.3.2-* Boa-Fé nos Contratos: O contrato deve ser firmado com base na boa-fé das partes, sem privilegio ilícito
e oculto decorrente do acerto

* Proteção (superioridade jurídica para compensar a superioridade econômica do empregador. Pode ser
desmembrado em 3:

1.“In dúbio pro operário”: (parcial na JT) :Diante de uma única disposição relativa ao negócio
jurídico suscetível de interpretações diversas e ensejadoras de dúvidas, aplica-se aquela interpretação que é
mais favorável ao empregado.
Ex: contrato de trabalho com cláusula ambígua

2. Aplicação da norma mais favorável ao trabalhador: na elaboração de novas leis sobre o


mesmo assunto, aplica-se a norma mais benéfica –Ex.: adicional de horas extras, exceto quando há proibição.

3. Aplicação da condição mais benéfica ao trabalhador: A condição mais benéfica já


conquistada pelo trabalhador não pode ser suprimida por norma posterior, que só atinge os novos empregados
– (DIREITO ADQUIRIDO)

Súmula 51 TST- Cláusula Regulamentar - Vantagem Anterior


I - As cláusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas
anteriormente, só atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou alteração do
regulamento.
II - Havendo a coexistência de dois regulamentos da empresa, a opção do empregado
por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do sistema do outro.

6.3.4-* Irrenunciabilidade de Direitos (Art. 9º da CLT) O empregado não pode renunciar direitos mínimos
garantidos em lei.
Artigo 9º – Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar,
impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação)-

Renúncia e transação:
Transação: ato bilateral diante do qual os litigantes por meio da dúvida quanto a titularidade ou quanto a
extensão de um direito, resolvem por concessões recíprocas, por fim ao litígio.

Renúncia: ato unilateral em que o renunciante abdica de um direito certo. Ex: Súmula 51, II do TST.
Pode haver renúncia em Juízo, pois diante do Juiz não há coação (porém, há controvérsia quanto aos direitos
irrenunciáveis = Verbas Rescisórias e Aviso Prévio são Irrenunciáveis e o empregado não poderá renunciá-las
nem mesmo diante do juiz)

6.3.5-* Continuidade da Relação de Emprego : A idéia é que a relação de emprego tenha continuidade.
Presume-se que o contrato será por tempo indeterminado.
Esse princípio também ocorre no caso dos artigos 10 e 448 da CLT:
Art. 10 da CLT – Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará os
direitos adquiridos por seus empregados.”
Art. 448 da CLT – A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não
afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados
6.3.6-* Princípio da Primazia da Realidade : Os fatos sobrepõem-se aos documentos.

Alguns aspectos que legitimam a imperatividade de tal princípio:


a) Durante a relação de trabalho, dada sua condição de subordinação e dependência, o trabalhador não
pode opor-se à formalização de alterações contratuais e práticas que, não raro, lhe são lesivas. Exemplo é a
proibição de anotação em cartão de ponto do horário efetivamente trabalhado;
b) É bastante comum verificar alterações nas condições de trabalho pactuadas (através de contrato
escrito) ao longo do tempo, alterações estas que, salvo raras exceções, não são incorporadas formalmente ao
contrato de trabalho;

BIBLIOGRAFIA

MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho, São Paulo: Atlas, sugestão de leitura contida na Bibliografia
Básica e Complementar

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