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Caros, boa tarde.

Gostaria de chamar atenção para um julgado e um voto do Ministro Luis Felipe Salomão.

No primeiro caso, extrai-se da leitura do acórdão (anexo) que a 12ª Câmara de Direito
Privado do TJSP entendeu que existe a hipótese de penhorar bem de família cujo valor seja
exacerbado:

"EMENTA: Cumprimento de sentença – Penhora sobre imó vel – Arguiçã o de


impenhorabilidade sob a égide da Lei n. 8.009/90 – Imó vel urbano que é a
residência do devedor e da unidade familiar – Imóvel, no entanto, muito
superior às necessidades essenciais e ao endividamento do devedor –
Casa de alto padrão, com mais de 670,00m² de á rea construída em terreno de
mais de 1.460,00m², avaliado em R$ 2,84 milhõ es – Impenhorabilidade da
Lei do Bem de Família cujo fim social é garantir a moradia e não o
conforto, o luxo e a suntuosidade ao devedor contumaz – Impenhorabilidade
que recai sobre o que sobejar da venda do imó vel, a ser empregado na compra,
a critério do executado, de outra moradia mais modesta – Recurso do devedor
desprovido, com ressalva."
(TJSP; Agravo de Instrumento 2074064-83.2019.8.26.0000; Relator(a):
Cerqueira Leite; Ó rgã o Julgador: 12ª Câ mara de Direito Privado; Data da
Decisã o: 20/02/2020; Data de Publicaçã o: 21/02/2020)

Encontrei também um acórdão (anexo) no qual o voto do Ministro Relator Luis Felipe Salomão
dissertou os motivos pelos quais se faz necessário “uma interpretação mais atualizada e
consentânea com o momento evolutivo da sociedade brasileira ” e, portanto, uma nova
leitura acerca a questão da impenhorabilidade do bem de família. No entanto, o voto do
ministro foi vencido, de modo que a ementa não é favorável. Ainda assim, achei o voto muito
interessante uma vez que “o e. Relator Ministro Luis Felipe Salomão propôs uma
reinterpretação do instituto do bem de família e dos seus efeitos. Prelecionou o afastamento da
absoluta impenhorabilidade determinada pela lei a fim de possibilitar a penhora de fração
ideal de imóvel de alto valor econômico, objetivando com isso, mediante a razoabilidade,
salvaguardar tanto a satisfação ainda que parcial do crédito do devedor, bem como
preservando a dignidade do devedor.”

Assim sendo, destaco o seguinte trecho:

“4. No entanto, penso que é chegado o momento de uma interpretação


mais atualizada e consentânea com o momento evolutivo da sociedade
brasileira. Com efeito, a Lei n. 8.009/1990 - que dispõ e sobre a
impenhorabilidade do bem de família, independentemente de ato de vontade
do titular -, surgiu no ordenamento jurídico como mais uma norma, dentre
outras que já existiam, tendente a ampliar a proteçã o do devedor, por via direta
ou indireta. De fato, esta proteçã o, por exemplo, previsto no Có digo Civil, por
meio da instituiçã o voluntá ria de bem de família, as clá usulas de
inalienabilidade impostas em testamentos e doaçõ es ou mesmo a
impenhorabilidade processual do art. 649 e 650 do CPC, surgiram por motivos
de ordem moral e social, com o escopo de garantir condições dignas de
sobrevivência para as famílias dos indivíduos em dificuldade econômica,
evitando que se chegasse "ao extremo ético de condenar o devedor com
sua família à fome, ao desabrigo e à miséria". (CZAJKOWSKI, Rainer. A
impenhorabilidade do bem de família. 4. ed. rev., ampl. Curitiba: Juruá , 2001, p.
16). Para Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald, "a natureza jurídica do bem de
família é de forma de afetaçã o de bens a um destino especial, qual seja
assegurar a dignidade humana dos componentes do nú cleo familiar" (Curso de
direito civil. v. 1. 11. ed. Salvador: JusPodivm, 2013, p. 545) O art. 1º da Lei n.
8.009/1990 informa que o imó vel residencial pró prio do casal, ou da entidade
familiar, é impenhorável e nã o responderá por qualquer tipo de dívida civil,
comercial, fiscal, previdenciá ria ou de outra natureza, contraída pelos cô njuges
ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietá rios e nele residam, salvo nas
hipó teses previstas pela pró pria lei. “

Por ora, encontrei apenas isso, porém sigo à disposição.

Abraços,

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