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Art. 1.717. “O prédio e os valores mobiliários, constituídos como bem da família, não podem ter
destino diverso do previsto no art. 1.712 ou serem alienados sem o consentimento dos interessados e
seus representantes legais, ouvido o Ministério Público”.
NOVAS FORMAS DE TESTAMENTO.
Art. 1.711. “Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pública ou testamento, destinar
parte de seu patrimônio para instituir bem de família, desde que não ultrapasse um terço do patrimônio
líquido existente ao tempo da instituição, mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel
residencial estabelecida em lei especial. Parágrafo único. O terceiro poderá igualmente instituir bem de
família por testamento ou doação, dependendo a eficácia do ato da aceitação expressa de ambos os cônjuges
beneficiados ou da entidade familiar beneficiada.”
Art. 1.715, caput, do CC. “O bem de família é isento de execução por dívidas posteriores à sua
instituição, salvo as que provierem de tributos relativos ao prédio, ou de despesas de condomínio.
"Art. 1.720. Salvo disposição em contrário do ato de instituição, a administração do bem de família compete a ambos
os cônjuges, resolvendo o juiz em caso de divergência. Parágrafo único. Com o falecimento de ambos os cônjuges, a
administração passará ao filho mais velho, se for maior, e, do contrário, a seu tutor".
"Art. 1.721. A dissolução da sociedade conjugal não extingue o bem de família. Parágrafo único. Dissolvida a
sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges, o sobrevivente poderá pedir a extinção do bem de família, se for
o único bem do casal".
A Lei 8.009/90 considera como impenhorável, de forma automática, o imóvel destinado à residência da entidade familiar.
O instituto tem origem no trabalho doutrinário de Álvaro Villaça de Azevedo (EUA – Texas -“Homestead”).
CF, art. 6º: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição”
O STJ estendeu essa proteção à pessoa solteira, viúva ou separada:
Bem de família indireto: é impenhorável o único imóvel locado a terceiros, cujos aluguéis são destinados para a locação
de outro imóvel (Súmula 486, STJ).
Súmula n. 486 do STJ: “É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros, desde
que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família”.
A Súmula 364 do STJ e a Súmula 486 do STJ são exemplos de interpretações extensivas que têm o objetivo de tutelar a
moradia.
Súmula 449 do STJ: “A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não constitui bem de família
para efeito de penhora”.
E se a pessoa tiver dois ou mais imóveis destinados à residência? Será impenhorável o imóvel de menor valor.
Lei 8.009/1990, art. 5º, parágrafo único: “Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis
utilizados como residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para
esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do art. 70 do Código Civil”.
b) Credor de pensão alimentícia, ressalvados os direitos do seu coproprietário – proteção da meação de casamento ou
união estável.
d) Execução de hipoteca quando o imóvel é oferecido em garantia do interesse da entidade familiar (Ag.Rg. no Ag.
597.243/GO). Houve debate recente no Congresso para ampliar essa exceção, o que acabou não prevalecendo.
EMENTA: “AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CARIMBO DE PROTOCOLO LEGÍVEL. BEM
DE FAMÍLIA. IMPENHORABILIDADE. DÍVIDA CONTRAÍDA PELA EMPRESA FAMILIAR. 1. A data de interposição
do recurso especial, conforme se depreende da leitura do carimbo de protocolo, foi 22 de setembro de 2003, sendo, portanto,
tempestivo. Não há, por outro lado, qualquer manifestação nos autos que leve a crer estar incorreta essa conclusão. 2. A
exceção do inciso V do art. 3º da Lei 8.009/90 deve se restringir às hipóteses em que a hipoteca é instituída como garantia da
própria dívida, constituindo-se os devedores em beneficiários diretos, situação diferente do caso sob apreço, no qual a dívida
foi contraída pela empresa familiar, ente que não se confunde com a pessoa dos sócios. 3. Agravo regimental improvido.”
(Ag.Rg. no Ag. 597.243/GO. Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES. Quarta Turma. Julgado em 03/02/2005. DJ
07/03/2005 p. 265).
e) Atos ilícitos em geral: produto de crime ou execução de sentença penal condenatória (REsp 711.889/PR). Em sentido
contrário, há o REsp 1.091.236/RJ.
EMENTA: “DIREITO CIVIL. IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA. LEI EXCEPCIONAL. ART. 3.º, INC. VI,
DA LEI 8.009/90. INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA. AFASTAMENTO DA EXIGÊNCIA DE SENTENÇA PENAL
CONDENATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Não há omissão no
acórdão que decide a lide nos limites em que proposta. 2. A indenização, no caso, decorre de erro médico, sobrevindo
condenação civil a reparação do dano material e moral, sem obrigação de prestar alimentos. Não incide, portanto, a exceção
de impenhorabilidade de bem de família prevista no inciso III, do art. 3.º, da Lei 8.009/90
. 3. De outra parte, não é possível ampliar o alcance da norma prevista no art. 3.º, inciso VI, do mesmo diploma legal, para afastar a
impenhorabilidade de bem de família em caso de indenização por ilícito civil, desconsiderando a exigência legal expressa de que haja
"sentença penal condenatória". 4.Recurso especial parcialmente provido.” (REsp 711.889/PR. Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO.
Quarta Turma. Julgado em 22/06/2010. DJe 01/07/2010).
É inconstitucional? Em 2005, surgiu uma decisão monocrática no STF (Min. Carlos Velloso) que afirmou ser inconstitucional
(RE 352.940/SP). Em 2006, houve uma decisão do Pleno do STF dizendo que a norma não é inconstitucional (RE n.
407.688/SP).
Em 2015, o STJ editou a Súmula 549 com o mesmo entendimento do Pleno do STF.
EMENTA: “Locação. Ação de despejo. Sentença de procedência. Execução. Responsabilidade solidária pelos débitos do
afiançado. Penhora de seu imóvel residencial. Bem de família. Admissibilidade. Inexistência de afronta ao direito de moradia,
previsto no art. 6º da CF. Constitucionalidade do art. 3º, inc. VII, da Lei nº 8.009/90, com a redação da Lei nº 8.245/91.
Recurso extraordinário desprovido. Votos vencidos. A penhorabilidade do bem de família do fiador do contrato de locação,
objeto do art. 3º, inc. VII, da Lei nº 8.009, de 23 de março de Súmula 549, STJ: “É válida a penhora de bem de família
pertencente a fiador de contrato de locação”. 1990, com a redação da Lei nº 8.245, de 15 de outubro de 1991, não ofende o
art. 6º da Constituição da República.” (STF – RE 407.688-8/SP – Tribunal Pleno – Rel. Min. Cezar Peluso – DJU 1
13.10.2006).
Súmula 549, STJ: “É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação”.
Em 2018, uma das turmas do STF se manifestou dizendo que a norma é inconstitucional (RE 605.709/SP) no caso de
contratos de locação não residencial (Informativo 906, STF).
E M E N T A: “RECURSO EXTRAORDINÁRIO MANEJADO CONTRA ACÓRDÃO PUBLICADO EM 31.8.2005.
INSUBMISSÃO À SISTEMÁTICA DA REPERCUSSÃO GERAL. PREMISSAS DISTINTAS DAS VERIFICADAS EM
PRECEDENTES DESTA SUPREMA CORTE, QUE ABORDARAM GARANTIA FIDEJUSSÓRIA EM LOCAÇÃO
RESIDENCIAL. CASO CONCRETO QUE ENVOLVE DÍVIDA DECORRENTE DE CONTRATO DE LOCAÇÃO DE
IMÓVEL COMERCIAL. PENHORA DE BEM DE FAMÍLIA DO FIADOR. INCOMPATIBILIDADE COM O DIREITO À
MORADIA E COM O PRINCÍPIO DA ISONOMIA. 1. A dignidade da pessoa humana e a proteção à família exigem que se
ponham ao abrigo da constrição e da alienação forçada determinados bens. É o que ocorre com o bem de família do fiador,
destinado à sua moradia, cujo sacrifício não pode ser exigido a pretexto de satisfazer o crédito de locador de imóvel comercial
ou de estimular a livre iniciativa. Interpretação do art. 3º, VII, da Lei nº 8.009/1990 não recepcionada pela EC nº 26/2000. 2.
A restrição do direito à moradia do fiador em contrato de locação comercial tampouco se justifica à luz do princípio da
isonomia. Eventual bem de família de propriedade do locatário não se sujeitará à constrição e alienação forçada, para
o fim de satisfazer valores devidos ao locador. Não se vislumbra justificativa para que o devedor principal, afiançado,
goze de situação mais benéfica do que a conferida ao fiador, sobretudo porque tal disparidade de tratamento, ao
contrário do que se verifica na locação de imóvel residencial, não se presta à promoção do próprio direito à moradia. 3.
Premissas fáticas distintivas impedem a submissão do caso concreto, que envolve contrato de locação comercial, às mesmas
balizas que orientaram a decisão proferida, por esta Suprema Corte, ao exame do tema nº 295 da repercussão geral, restrita
aquela à análise da constitucionalidade da penhora do bem de família do fiador em contrato de locação residencial.
4. Recurso extraordinário conhecido e provido.”(RE 605709/SP, rel. Min. Dias Toffoli, red. p/ ac. Min. Rosa Weber, Primeira
Turma, julgamento em 12.6.2018).
Diante dessa decisão, e de outras, o Pleno do Supremo Tribunal Federal reconheceu a repercussão geral a respeito do assunto,
em março de 2021.
Isso se deu nos autos do Recurso Extraordinário 1.307.334 (Tema 1127). Em março de 2022, o STF julgou a questão,
reafirmando sua posição anterior – em prol da livre-iniciativa e da proteção do mercado –, no sentido de ser constitucional
essa previsão legal a respeito da penhora do bem de família do fiador.
Votaram nesse sentido os Ministros Roberto Barroso, Nunes Marques, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, André Mendonça e Luiz
Fux, seguindo-se ainda o argumento de que a Lei de Locação não faz distinção entre fiadores de locações residenciais e
comerciais em relação à possibilidade da penhora do seu bem de família. Em sentido contrário, votaram os Ministros Edson
Fachin, Ricardo Lewandowski, Rosa Weber e Cármen Lúcia, pois o direito constitucional à moradia deveria prevalecer sobre
os princípios da livre-iniciativa e da autonomia contratual, que podem ser resguardados de outras formas. Ao final foi
ementada a seguinte tese em repercussão geral, que deve ser adotada para os devidos fins práticos: “é constitucional a penhora
de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação, seja residencial, seja comercial”.
Acrescente-se que, na sequência, o Superior Tribunal de Justiça cristalizou a mesma posição em julgamento de recursos
repetitivos, ementando que a “tese definida no Tema 1127 foi a de que ‘é constitucional a penhora de bem de família
pertencente a fiador de contrato de locação, seja residencial, seja comercial’. Nessa perspectiva, a Segunda Seção do STJ,
assim como o fez o STF, deve aprimorar os enunciados definidos no REsp Repetitivo 1.363.368/MS e na Súmula 549 para
reconhecer a validade da penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação comercial. Isso porque a lei
não distinguiu entre os contratos de locação para fins de afastamento do bem de família, (art. 3º, inciso VII, da Lei n.
8.009/1990)” (STJ, REsp 1.822.040/PR, 2.ª Seção, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, j. 08.06.2022 – Tema
1091).
O STJ tem entendido que a má-fé na utilização do argumento do bem de família é exceção à impenhorabilidade (REsp
1.299.580/RJ e REsp 1.364.509/RS).