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APELAÇÃO

 E  TÉCNICA  DE  
REDAÇÃO  JURIDICA
Saulo foi regularmente processado, pelo juiz de direito da
8.ª Vara Criminal de Fortaleza, como incurso nas penas do
art. 155, caput, c/c o art. 14, II, ambos do CP. Foi, ao final,
condenado a cumprir pena de 4 meses de reclusão, em
regime inicial fechado, em virtude da reincidência, pela
condenação anterior por delito de estelionato, negando-­‐
se, pela mesma razão, a substituição da prisão por pena
restritiva de direitos. Consta dos autos que Saulo,
“punguista”, tentou subtrair para si a carteira da vítima,
colocando a mão no bolso desta. Só não conseguiu
consumar a subtração porque a vítima não portava a
carteira, já que a esquecera em casa.
Questão: Como advogado de Saulo, apresentar o que
melhor lhe couber, justificando a medida.
EXCELENTISSIMO  SENHOR  DOUTOR  JUIZ  DE  DIREITO  DA  
8A VARA  CRIMINAL  DA  COMARCA  DE  FORTALEZA  

Saulo, já qualificado nos autos do processo crime n ... que


lhe move a Justiça Pública, por seu advogado que esta
subscreve, vem respeitosamente à presença de Vossa
Excelência, não se conformando com a respeitável
sentença condenatória, interpor RECURSO DE APELAÇÃO
com fulcro no artigo 593, I do Código de Processo Penal.

Requer seja recebido e processado o presente recurso e


remetido com as inclusas razões ao Egrégio Tribunal de
Justiça do Estado do Ceará
Termos  em  que,  
pede  deferimento,  

Local...  Data...

ADVOGADO....
OAB  N.  ...  
RAZÕES  DE  APELAÇÃO
APELANTE:  SAULO
APELADA:  JUSTIÇA  PÚBLICA
PROCESSO  N.  ...

Egrégio  Tribunal  de  Justiça,


Colenda  Câmara,
Douta  Procuradoria  de  Justiça

Em que pese o notável saber jurídico do MM. Juiz “a quo”


merece reforma a respeitável sentença condenatória
pelas razoes de fato e direito a seguir expostas.
I -­‐ DOS  FATOS

O apelante foi condenado pelo delito de furto simples, na


modalidade tentada, tendo-­‐lhe sido ao final cominada
pena de quatro meses de reclusão. Consta da denuncia,
julgada procedente pelo MM. Juízo de primeiro grau, que
o apelante teria tentado subtrair a carteira da vitima, não
tendo logrado êxito por motivos alheios à sua vontade
uma vez que a vitima não a portava consigo, por tê-­‐la
esquecido em casa. A pena final ficou acomodada em 4
meses de reclusão estabelecendo-­‐se o regime inicial
fechado em virtude da reincidência do Apelante, por
delito anterior de estelionato, sendo-­‐lhe pela mesma
razão negada a substituição da penal privativa de
liberdade por restritiva de direitos.
II  -­‐ DO  DIREITO

Apesar  dos  consistentes  argumentos  deduzidos  pelo  MM.  


Juízo  de  piso,  o  respeitável  decreto  condenatório  merece  
reparos.
Já de inicio força reconhecer o equivoco na condenação
do apelante, porquanto a conduta narrada na exordial e
comprovada durante a instrução enquadra-­‐se
perfeitamente no conceito de crime impossível por
absoluta impropriedade do objeto e como tal é
inteiramente atípica. Senão vejamos:
Segundo a dicção do artigo 17 do Estatuto Penal
Repressivo não se pune a tentativa quando por absoluta
ineficácia do meio ou absoluta impropriedade do objeto
é impossível consumar-­‐se a infração. Conforme abalizada
doutrina ocorre absoluta impropriedade do objeto
quando o objeto material exigido pelo tipo está ausente
no momento da conduta. Dessa forma o atentado contra
a vida de pessoa que já está morta não constitui tentativa
de homicídio e sim crime impossível uma vez que o
objeto material reclamado pelo tipo, ou seja, o ser
humano vivo, esta ausente.
No caso em testilha imputa-­‐se ao apelante o crime de
furto tentado. No entanto o objeto material exigido pelo
tipo, qual seja, coisa alheia móvel, estava ausente. O
conjunto probatório coligido durante a instrução é
uníssono e coerente, revelando que vitima não levava
consigo, no momento da conduta, a carteira contendo
seus pertences. Em outras palavras, não portava coisa
alheia móvel passível de subtração.
Dessarte, exsurge cristalina a figura do crime impossível,
cujo reconhecimento resulta na atipicidade material da
conduta por ausência de qualquer lesividade, impondo-­‐
se a absolvição do apelante com fulcro no artigo 386, III
do CPP.
Ainda que assim não se entenda, o que só se admite “ad
argumentandum tantun”, o regime inicial de
cumprimento de pena, qual seja, o fechado, exige
revisão.

Conforme a inteligência da súmula 269 do STJ o


condenado reincidente cuja pena não exceder 4 anos
poderá começar a cumpri-­‐la em regime semi-­‐aberto.
Significa que a reincidência não implica,
necessariamente, o estabelecimento e regime fechado,
sobretudo para pena de pequena monta.
No caso em apreço a pena foi fixada em 4 anos de
reclusão, de forma que plenamente adequado o regime
semi-­‐aberto, que só poderia ser afastado por motivação
idonea, o que não ocorreu na espécie.

Desta feita, caso mantida a condenação do apelado é de


rigor a imposição de regime inicial semi-­‐aberto.
Por fim também quanto ao indeferimento do pedido de
substituição da pena privativa de liberdade por pena
restritiva de direito o respeitável decreto condenatório
colidiu com os ditames da lei.

Segundo reza o artigo 44 do CP a substituição da penal


privativa de liberdade por restritiva de direito somente é
obstada se o réu for reincidente no mesmo crime
(chamada reincidência especifica). Com base no texto
legal pacificou-­‐se o entendimento doutrinário no sentido
de que a reincidência comum, ou seja, em crimes
diversos, ainda que doloso, não é óbice para a aplicação
das penas alternativas.
No caso em análise o apelante foi condenado por furto
simples e a reincidência deve-­‐se a condenação anterior
por estelionato. Trata-­‐se portanto de reincidência comum
e não especifica, restando autorizada a concessão do
beneficio.

Deste modo, caso seja mantida a condenação, pugna-­‐se


pela substituição da penal privativa de liberdade por
restritiva de direito, nos termos da lei.
III  -­‐ DO  PEDIDO

Diante do exposto requer seja conhecido e provido o


presente recurso, decretando-­‐se a absolvição do apelante
com fulcro no artigo 386, III da Lei Penal Adjetiva. Em
caso de manutenção da condenação requer seja
estipulado regime inicial semi-­‐aberto, conforme sumula
269 do STJ e substituída da pena privativa de liberdade
por restritiva de direito conforme artigo 44 do CP. Requer
por fim que seja garantido o direito do apelante de
recorrer em liberdade.
Local...,  Data....

ADVOGADO  ....
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