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16) Habeas corpus contra decisão de decretação da prisão temporária sem necessidade

comprovada
“O” foi indiciado pela prática de estupro (art. 213, CP). Durante as investigações, presumindo que a
liberdade do indiciado poderia atrapalhar o curso das diligências, o delegado representou pela decretação da
temporária, com o que concordou o Ministério Público. O juiz a deferiu, pelo prazo de 30 dias. Promova a
medida adequada.

Excelentíssimo Senhor Desembargador Presidente da Seção Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de ____.1

“G” (nome), (nacionalidade), (estado civil), (profissão), titular de carteira de identidade Registro Geral n. o
____, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas sob o n. o ____,2 domiciliado em (cidade), onde reside (rua,
número, bairro), vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência impetrar a presente ordem de

HABEAS CORPUS,

com pedido liminar,3 em favor de “O” (nome), (nacionalidade), (estado civil), (profissão), titular de carteira de identidade Registro Geral n. o ____, inscrito no
Cadastro de Pessoas Físicas sob o n. o ____, com fundamento no art. 5.º, LXVIII, da Constituição Federal, em combinação com o art. 648, I, do Código de
Processo Penal, apontando como autoridade coatora o MM. Juiz da ____.ª Vara Criminal de ____,4 pelos seguintes motivos:

1. O paciente está sendo investigado pela prática de estupro contra a vítima _____, por tê-la, supostamente, constrangido, mediante violência, a ter
com ele conjunção carnal. Apresentou-se à autoridade policial em todas as oportunidades em que foi chamado, foi indiciado e interrogado.
Entretanto, após a colheita do depoimento da vítima, esta teria sugerido, baseada em mera presunção, que o paciente poderia assediar outras garotas
do bairro, da mesma forma que agiu anteriormente.

2. Diante disso, sem qualquer outra evidência, a autoridade policial representou pela prisão temporária, afirmando ser imprescindível para as
investigações do inquérito policial, além de se tratar de apuração de delito hediondo.

3. Com a concordância do representante do Ministério Público, o MM. Juiz decretou a prisão temporária, por 30 dias, sujeita à prorrogação por
idêntico período.

4. A prisão temporária não difere de outras formas de prisão cautelar, participando do contexto da excepcionalidade e necessariedade de tão drástica
medida, sob pena de afronta ao princípio da presunção de inocência e da dignidade da pessoa humana. No caso presente, inexiste qualquer
indicativo fático de que o indiciado possa conturbar a investigação em andamento ou que possa praticar outros delitos. Ademais, a narrativa da
vítima baseou-se em singelas presunções, desqualificadas e desviadas de elementos concretos.

5. Afastando-se de fatos e apegando-se em ilações sem alicerce em provas, decretou-se a prisão temporária de maneira arbitrária e abusiva. Ao final
do período fixado, se nada for encontrado contra o indiciado, nada poderá reparar o tempo de prisão; pior, ainda, se, no futuro, o inquérito for
arquivado ou o réu for absolvido.

6. Em suma, não deve a autoridade policial representar pela prisão temporária sem apontar elementos concretos de indispensabilidade da medida;
muito menos, pode o magistrado acolher razões vagas e decretá-la.

7. Ademais, o paciente é primário, sem antecedentes, com emprego lícito e residência fixa, não constituindo, de modo algum, perigo à ordem
pública, caso seja mantido em liberdade.5

8. Diante disso, torna-se abusiva e ilegal a prisão decretada, sem qualquer fundamentação idônea, ferindo princípios básicos de dignidade e
cidadania, não mais podendo perdurar.

9. Doutrina6

10. Jurisprudência 7

Da Concessão de Liminar

Requer-se seja concedida a ordem de habeas corpus, liminarmente, em favor de “O”, para o efeito de, reconhecendo-se a ilegalidade praticada, determinar a
imediata expedição do alvará de soltura, para que possa aguardar o deslinde da investigação em liberdade.

Com particular empenho, solicita-se a concessão da liminar, tendo em vista a curta duração da medida restritiva de liberdade. 8

O cabimento da medida liminar justifica-se por ter ficado evidenciado o fumus boni juris (direito de permanecer em liberdade por ausência de necessidade para
a investigação) e o periculum in mora (o réu se encontra preso em cárcere fechado).

Ante o exposto, distribuído o feito a uma das Câmaras Criminais, 9 colhidas as informações da autoridade coatora e ouvido o Ministério Público, requer-se a
definitiva concessão da ordem de habeas corpus, revogando-se a prisão temporária e mantendo-se o acusado em liberdade durante o trâmite da investigação
policial.

Termos em que,

Pede deferimento.
Comarca, data.

_______________

Impetrante10

NOTAS
1. Os pedidos de habeas corpus dirigidos aos tribunais devem respeitar, conforme o Regimento Interno de cada tribunal, a autoridade judiciária
responsável pela sua recepção e análise de eventual concessão de liminar. No Estado de São Paulo, cabe ao relator essa competência. Porém, cabe ao
Presidente da Seção Criminal providenciar a distribuição do feito. Outros tribunais podem estabelecer ser da alçada do Presidente, tanto a
distribuição quanto a apreciação da liminar. Na dúvida, deve-se encaminhar, sempre, ao Presidente do Tribunal.
2. Se o impetrante for advogado, inserir também o número de inscrição na OAB.
3. A liminar, em habeas corpus, foi uma conquista da jurisprudência, não havendo expressa previsão legal para tanto. Consultar a nota 61 ao art. 656
do nosso Código de Processo Penal comentado.
4. Há Estados que mantêm departamentos ou Varas específicas somente para cuidar do acompanhamento de inquéritos. É o que ocorre, por exemplo,
em São Paulo, com a existência do DIPO (Departamento de Inquéritos Policiais). Assim, em lugar de indicar a Vara Criminal, indica-se o
departamento adequado.
5. Ainda que o paciente seja reincidente, tenha antecedentes ou não possua emprego ou residência fixa, deve-se exigir da autoridade policial
motivação suficiente para solicitar a prisão temporária. Com maior importância, aguarda-se possa o juiz decretar a prisão cautelar calcado em fatos
concretos e jamais em presunções ou argumentos de gravidade abstrata do crime.
6. Citar a doutrina pertinente, se entender necessário.
7. Citar a jurisprudência cabível, se entender necessário.
8. Convém destacar a importância que a liminar ganha nos casos de prisão temporária, pois, se negada, até que a Câmara ou Turma aprecie o habeas
corpus, é possível já ter terminado o prazo da prisão, consolidando-se o constrangimento ilegal.
9. Ou Turmas Criminais (depende da composição de cada Tribunal).
10. Como regra, é o advogado ou defensor público, mas pode ser impetrado habeas corpus por qualquer pessoa (art. 654, caput, CPP; art. 1.º, § 1.º,
da Lei 8.906/94).

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