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PPA 10 - PEÇA PRÁTICA

José Carlos, residente no Rio de Janeiro, é devedor de instituição financeira, por crédito
constante de título executivo extrajudicial. Iniciada a execução, foi penhorado um veículo de
José Carlos, que figurou como depositário. Diante do perecimento do bem (em um acidente
veicular com perda total), o banco requereu a prisão civil do devedor por considerá-lo
depositário infiel.

O juiz de 1º grau indeferiu o pedido, ao argumento de inexistência de culpa do devedor.


Inconformado, o banco interpôs agravo de instrumento, afirmando que houve culpa do
depositário (imprudência), mas que o juiz de 1º grau não permitiu que fosse produzida prova
nesse sentido e que, portanto, a prisão seria cabível.

O TJRJ, em decisão colegiada, deu parcial provimento ao agravo, para determinar nova
análise da questão pelo juízo de origem, de modo a se produzir prova em 1º grau para
verificar se, de fato, teria havido culpa.

Como advogado de José Carlos, atue em seu favor, de modo a tentar afastar desde logo a
possibilidade de prisão civil – que, como se percebe, não é iminente.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO


EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

José Carlos, já qualificado nos autos do agravo de instrumento, por seu


advogado que esta subscreve, não se conformando com a respeitável decisão de
fls., que contrariou o artigo 5o, inciso LVII, da Constituição Federal, vem,
respeitosamente, perante Vossa Excelência, interpor

RECURSO EXTRAORDINÁRIO

com fundamento no art. 102, III, alínea “a”, da Constituição Federal e Lei
8.038 / 90. Requer seja recebido e processado o presente recurso e
encaminhado, com as inclusas razões, ao Colendo Supremo Tribunal Federal.

Nesses termos,
pede deferimento.

(local e data).

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advogado – OAB no

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

RAZÕES DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO


RECORRENTE: José Carlos
RECORRIDA: Justiça Pública
APELAÇÃO no

Supremo Tribunal Federal,


Colenda Turma,
Douto Procurador da República,

Em que pese o indiscutível saber jurídico da Colenda Câmara Criminal do


Egrégio Tribunal de Justiça de Goiás, impõe-se a reforma do venerando acórdão,
pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:

I – DO CABIMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Das causas decididas em única ou última instância pelos Tribunais


Superiores dispõe a Constituição Federal que cabe Recurso Extraordinário para o
Supremo Tribunal Federal, quando a decisão recorrida “contrariar dispositivo
desta Constituição”, (art. 102, III, alíneas ‘a’, da CF).
Ora, no caso, o venerando acórdão do Egrégio Tribunal de Justiça de Goiás
infringiu o disposto no artigo 5o, LVII da Constituição Federal, pois proferiu um
decreto condenatório sem observância do princípio constitucional da presunção
da inocência.
Tendo havido o pré-questionamento da matéria, em sede de embargos de
declaração, e, assim, esgotando todas as vias recursais, é cabível o presente
Recurso Extraordinário, interposto em tempo útil e forma regular.

II – DOS FATOS

O Recorrente foi processado e condenado pelo crime de furto qualificado.


Ocorre que a pena foi fixada acima do mínimo legal em razão do recorrente estar
sendo processado, em outra vara criminal, por crime de estelionato.
Tendo apelado dessa decisão, o Egrégio Tribunal de Justiça de Goiás negou
provimento ao recurso, ocasião em que o Recorrente interpôs embargos de
declaração, sendo que o Tribunal novamente negou provimento.

III – DA REPERCUSSÃO GERAL

Impende destacar, de início, a repercussão geral da matéria em debate.


Conforme preconiza o artigo 543-A, § 3o, do CPC, com redação dada pela Lei
no 11.418/06:
“Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar decisão
contrária à súmula ou jurisprudência dominante no Tribunal”.
No caso em tela insurge-se a Recorrente contra decisão do Egrégio
Tribunal de Justiça que fixou a pena base acima do mínimo legal, considerando
como maus antecedentes o fato do Recorrente estar sendo processado, em outra
vara criminal, pelo crime de estelionato.
Tal entendimento, no entanto, contrária a posição firmada nessa Corte, no
sentido de que, em homenagem ao princípio da presença de inocência, apenas
sentenças condenatórias com trânsito em julgado podem ser consideradas para
efeitos de maus antecedentes.
Confira-se à respeito, a ementa:
“A mera existência de investigações policiais (ou de processos penais em
andamento) não basta, só por si, para justificar o reconhecimento de que o réu
não possui bons antecedentes” (STF – HC 84687/MS).

De modo que, nos termos da legislação vigente, encontra-se demonstrada


a repercussão geral da matéria em debate.
IV – DO DIREITO

Com efeito, o artigo 5o, inciso LVII, da Constituição Federal preceitua que:
“Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória.”

Analisando-se o caso em tela, é de se concluir que houve manifesta


violação ao supracitado dispositivo constitucional, já que o Recorrente foi
condenado, tendo sua pena aumentada apenas e tão-somente porque estava
respondendo processo em outra vara criminal.
Ora, Nobres Julgadores, o reconhecimento de maus antecedentes contra o
Recorrente, no presente caso, é, “data venia”, inadmissível, porque não leva em
conta o referido preceito constitucional, considerando-o culpado por ser
meramente processado.
Nesse sentido, pertinente é a lição do ilustre Julio Fabbrini Mirabete ao
ensinar que:
“(...) o acusado é inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado
só se modifica por uma sentença final que o declare culpado.” (Processo Penal –
10ª edição, Editora Atlas, pág. 42)

Na mesma linha de entendimento, é a construção jurisprudencial, “in


verbis”:
“A majoração da pena-base acima do mínimo legal fundada nos maus
antecedentes, em razão da existência de inquéritos policiais e ações penais em
andamento contra o acusado, viola o princípio constitucional da não
culpabilidade, pois, enquanto não houver sentença penal condenatória transitada
em julgado não há que se falar em antecedentes criminais.” ( TACRIMSP-11ª AP
– Rel. Ricardo Dipp – RT 754/652)

“Em prol de qualquer acusado milita a presunção de inocência, e não de culpa.”


(STF – HC – Rel. Marco Aurélio – RT 688/388)

IV – DO PEDIDO

Portanto, diante da flagrante violação a nossa Carta Magna, não merece


prosperar a respeitável decisão proferida.
Diante do exposto, requer seja conhecido e provido o presente recurso,
fixando-se a pena no mínimo legal, como medida de inteira justiça.

(local e data).
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advogado – OAB no

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