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DIREITO

PROCESSUAL PENAL

TEMAS PARA DEFENSORIA ESTADUAL

Investigação criminal defensiva

1. Investigação criminal

A investigação criminal é o gênero do qual é espécie o inquérito policial. Essa é a forma


mais comum de colher elementos de informações. Todavia, não é a única. É o que se
extrai da leitura do art. 4º, parágrafo único, do Código de Processo Penal (CPP).

Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de


suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua
autoria. (Redação dada pela Lei nº 9.043, de 9.5.1995.)
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de
autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função. (Grifos
nossos.)

2. Formas de investigação

Como visto anteriormente, a iniciativa investigativa não é uma atribuição exclusiva da


polícia judiciária.

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Sobre o tema, podemos citar diversas outras formas de investigações, como aquelas a
cargo das Comissões Parlamentares de Inquérito (art. 58, § 3º, da Constituição Federal
de 1988 – CF/1988), o Inquérito Policial Militar (art. 8, do Código de Processo Penal
Militar – CPPM), a Investigação pelo Ministério Público (Procedimento de Investigação
Criminal – PIC), o Inquérito civil (art. 8, § 1º, da Lei nº 7.347/1985), o Termo
Circunstanciado (TCO) (art. 69 da Lei nº 9.099/1995), a investigação por detetive
particular (Lei nº 13.432/2017) e, por fim, a investigação criminal defensiva.

E é, exatamente, esta última forma investigação que interessa ao estudo desta Unidade
de Aprendizagem.

3. Conceito

A doutrina de Renato Brasileiro de Lima, citando André Boiani e Azevedo e Édson Luís
Baldan, conceitua essa forma de investigação como sendo

o complexo de atividades de natureza investigatória desenvolvido, em


qualquer fase da persecução criminal, inclusive na ante judicial, pelo
defensor, com ou sem assistência de consulente técnico e/ou investigador
privado autorizado, tendente à coleta de elementos objetivos, subjetivos e
documentais de convicção, no escopo de construção de acervo probatório
lícito que, no gozo da parcialidade constitucional deferida, empregará
para pleno exercício da ampla defesa do imputado em contraponto a
investigação ou acusações oficiais (LIMA, 2019, p. 197).

Pelo conceito, percebe-se que a investigação defensiva pode ser realizada a qualquer
momento da persecução penal e também da fase judicial.

4. Previsão legal

O tema é muito pouco discutido na doutrina e está previsto no artigo 13 do Projeto de


Lei (PL) nº 156/2009, o “Novo Código de Processo Penal”.

5. Legitimados

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São legitimados o advogado (leia-se defensor) ou outros mandatários com poderes
expressos. Como estabelece o art. 13 do PL nº 156/2009:

“Art. 13. É facultado ao investigado, por meio de seu advogado, de defensor público ou
de outros mandatários com poderes expressos, tomar a iniciativa de identificar fontes
de prova em favor de sua defesa, podendo inclusive entrevistar pessoas.”

6. Vítima

Conforme redação do art. 13, caput, do PL nº 156/2009 será possível, inclusive, a


entrevista de pessoas. Todavia, deverão ser precedidas de esclarecimentos sobre seus
objetivos e do consentimento formal das pessoas ouvidas (art. 13, § 1º, do PL nº
156/2009).

Importante notar que, em regra, a vítima não poderá ser interpelada para os fins de
investigação defensiva, salvo se houver autorização do juiz das garantias, sempre
resguardado o seu consentimento. Observação: A figura do juiz das garantias foi
inserida no atual Código de Processo Penal (Decreto-Lei 3.689/1.941) entre os artigos
3-B a 3-F. Contudo, no julgamento de medida cautelar nas Ações Diretas de
Inconstitucionalidade n. 6.298, 6.209 e 6.300, o
Ministro Dias Toffoli, suspender-se a eficácia dos arts. 3º-B, 3º-C, 3º-D, caput, 3º-E e 3º-
F do CPP, inseridos pela Lei nº 13.964/2019.

Art. 13. É facultado ao investigado, por meio de seu advogado, de defensor público ou
de outros mandatários com poderes expressos, tomar a iniciativa de identificar fontes
de prova em favor de sua defesa, podendo inclusive entrevistar pessoas.
§ 1º As entrevistas realizadas na forma do caput deste artigo
deverão ser precedidas de esclarecimentos sobre seus objetivos
e do consentimento formal das pessoas ouvidas.
§ 2º A vítima não poderá ser interpelada para os fins de
investigação defensiva, salvo se houver autorização do juiz das
garantias, sempre resguardado o seu consentimento.
§ 3º Na hipótese do § 2º deste artigo, o juiz das garantias
poderá, se for o caso, fixar condições para a realização da
entrevista.
§ 4º Os pedidos de entrevista deverão ser feitos com discrição e
reserva necessárias, em dias úteis e com observância do horário
comercial.

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7. Finalidade

A finalidade dessa forma investigativa é embasar a ação penal. Contudo, encontra


ampla limitação em razão dos parcos recursos do cidadão para a colheita de elementos
probatórios.

Percebe-se que se trata de uma maneira de assegurar a igualdade entre as partes da


relação jurídica processual.

Esclarece-se, ainda, que a investigação defensiva pode se desenvolver de maneira


independente do inquérito policial ou procedimento investigativo a cargo do Ministério
Público e deve respeitar os critérios constitucionais e legais pertinentes à obtenção da
prova.

8. Objetivos

Pergunta-se: quais seriam os objetivos dessa forma de investigação?

Segundo informa a doutrina do Professor Renato Brasileiro de Lima, pode-se citar:

a) comprovação do álibi ou de outras razões demonstrativas da inocência


do imputado; b) desresponsabilização do imputado em virtude da ação de
terceiros; c) exploração de fatos que revelam a ocorrência de causas
excludentes de ilicitude ou de culpabilidade; d) eliminação de possíveis
erros de raciocínio a quem possam induzir determinados fatos; e)
revelação da vulnerabilidade técnica ou material de determinadas
diligências realizadas na investigação pública; f) exame do local e a
reconstituição do crime para demonstrar a impropriedade das teses
acusatórias; g) identificação e localização de possíveis peritos e
testemunhas (LIMA, 2019, p. 198).

9. Controle

Como toda forma de investigação, está sujeita ao controle do Poder Judiciário, papel
que será exercido pelo juiz das garantias. Observação: A figura do juiz das garantias
foi inserida no atual Código de Processo Penal (Decreto-Lei 3.689/1.941) entre os

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artigos 3-B a 3- F. Contudo, no julgamento de medida cautelar nas Ações Diretas de
Inconstitucionalidade n. 6.298, 6.209 e 6.300, o Ministro Dias Toffoli, suspender-se a
eficácia dos arts. 3º-B, 3º-C, 3º-D, caput, 3º-E e 3º-F do CPP, inseridos pela Lei nº
13.964/2019.

Art. 13, PL nº 156/2009. É facultado ao investigado, por meio de seu advogado, de


defensor público ou de outros mandatários com poderes expressos, tomar a iniciativa
de identificar fontes de prova em favor de sua defesa, podendo inclusive entrevistar
pessoas.
§ 1º As entrevistas realizadas na forma do caput deste artigo
deverão ser precedidas de esclarecimentos sobre seus objetivos
e do consentimento formal das pessoas ouvidas.
§ 2º A vítima não poderá ser interpelada para os fins de
investigação defensiva, salvo se houver autorização do juiz das
garantias, sempre resguardado o seu consentimento.
§ 3º Na hipótese do § 2º deste artigo, o juiz das garantias
poderá, se for o caso, fixar condições para a realização da
entrevista.

Inclusive, existe previsão de responsabilização pelos excessos.

Art. 13. É facultado ao investigado, por meio de seu advogado, de defensor público ou
de outros mandatários com poderes expressos, tomar a iniciativa de identificar fontes
de prova em favor de sua defesa, podendo inclusive entrevistar pessoas. § 6º As pessoas
mencionadas no caput deste artigo responderão civil, criminal e disciplinarmente pelos
excessos cometidos.

10. Observações finais

Verifica-se que a atividade probatória desenvolvida nessa investigação não pode


obstruir a investigação policial e muito menos destruir fontes de prova.

Os elementos que forem obtidos através dessa forma de investigação devem ser
introduzidos nos autos da persecução penal sob a forma documentada.

Art. 13. É facultado ao investigado, por meio de seu advogado, de defensor público ou
de outros mandatários com poderes expressos, tomar a iniciativa de identificar fontes
de prova em favor de sua defesa, podendo inclusive entrevistar pessoas. (...)

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§ 5º O material produzido poderá ser juntado aos autos do
inquérito, a critério da autoridade policial.

Por fim, é forçoso afirmar que tamanha é a importância desse instrumento


investigatório como forma de se assegurar o respeito à paridade de armas.

Obra coletiva do Curso Ênfase produzida a partir da análise estatística de incidência


dos temas em provas de concursos públicos.
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