Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Processo disponível em http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4927582
Na interposição de Apelação, o apelante alegou: (i) que a responsabilidade
penal é pessoal, não podendo o réu ser responsabilizado por atos de terceiros; (ii) houve
interpretação equivocada da teoria do domínio do fato, culminando em condenação
por responsabilidade objetiva; (iii) a teoria do domínio do fato não dispensa a prova da
culpa: o mero “ter que saber” não basta; (iv) a denúncia é inepta, pois não descreve a
conduta do réu, mas somente a de terceiros; (v) as conclusões do juiz foram as
constatações de procedimento do TCU em que o apelante sequer é apontado como
responsável e (vi) a sentença incidiu em bis in idem na dosimetria da pena e, apesar de
aplicar a continuidade delitiva, não indicou quais os crimes da mesma espécie
foram praticados pelo apelante.
Na sequência, o Parquet apresentou contrarrazões à apelação interposta pelo
réu RONALDO LESSA, nas quais rebate as alegações defensivas, argumentando, em
suma:
I – Em relação à inépcia:
Não há que se falar em inépcia da inicial, pois os fatos articulados na denúncia
permitiram o exercício do direito de defesa em sua plenitude.
II- Em relação à responsabilização penal ser pessoal
Se, por um lado não se pode responsabilizar o réu por fatos anteriores a
01/01/1999, por outro é igualmente correto concluir que anuiu e deu sequência a todas as
irregularidades iniciadas no governo anterior, tendo inclusive diligenciado a obtenção de
recursos para a conclusão da obra.
III – Em relação à interpretação equivocada da teoria do domínio do fato
A teoria do domínio do fato foi utilizada somente como reforço argumentativo
pelo juízo a quo, a fim de demonstrar que a continuidade do esquema não poderia ter
ocorrido sem a sua participação direta.
IV – Sobre a condenação por responsabilidade penal objetiva (teoria não
adotada pelo Direito Penal brasileiro);
Não foi apenas o fato de ter sido governador que levou à sua condenação, pois
as fraudes perpetradas eram de caráter amadorístico e gritante notoriedade, sendo
impossível que o apelante não tivesse ciência da inidoneidade da empresa e inviabilidade
da obra;
V- Em relação à teoria do domínio do fato não dispensar a prova da culpa;
O MPF alega que havia elementos suficientes na denúncia a apontar a prática
do crime de peculato, pois a simples leitura dos autos de concorrência, contrato com a
empresa GAUTAMA e subcontratação com a empresa CIPESA demonstram, a toda
evidência, as ilegalidades praticadas pelo antecessor de RONALDO LESSA no governo
estadual. O dolo em relação aos desvios públicos é aferido pela constatação de que,
mesmo diante de todas as notícias de irregularidades na obra, deu continuidade ao projeto,
firmando o convênio 003/2005, no qual, inclusive, utilizou o CNPJ da
Secretaria Coordenadora de Infraestrutura e Serviços, a fim de contornar
o impedimento imposto pelo TCU de paralisação de obras, por parte do Estado de
Alagoas, demonstrando que a continuidade do esquema não poderia ter ocorrido sem a
sua participação direta;
VI – Sobre as conclusões do juiz serem constatações de procedimento do
TCU em que o apelante sequer é apontado como responsável;
O MPF não apresentou contestação probatória específica a essa alegação, mas
reafirmou que as irregularidades são “notórias”.
VII – Por fim, sobre a sentença incidir em bis in idem na dosimetria da
pena e, apesar de aplicar a continuidade delitiva, não indicar quais os crimes da
mesma espécie foram praticados pelo apelante.
Nesse tocante, o MPF concorda que merece reparo a dosimetria, pois foi
valorada por duas vezes a condição de Governador de Estado para exasperar a pena.
i
(AP 898, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 12/04/2016, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-097 DIVULG 12-05-2016 PUBLIC 13-05-2016)