Você está na página 1de 2

Habeas Corpus 177035 de São Paulo

• Relator: Ministro Marco Aurélio

• Representante do Ministério Público: Dr. Paulo Rudenbrandt

• Advogado de defesa: Dr. Alberto Zacarias Toron

Registro da Sessão

O Ministério Público apresentou acusação contra o paciente e outras 11 pessoas, alegando a prática
do crime previsto no art. 333, p.ú da Lei 9613/98, com redação anterior à Lei 12683/2012. O período
em que o crime teria ocorrido é de 1998 a 2002.

De acordo com o Dr. Alberto Zacarias, duas imputações foram dirigidas ao paciente: uma que já havia
sido rejeitada pelo TRF3 (lavagem de dinheiro) e outra que está sendo julgada agora, relacionada à
corrupção ativa. O advogado contesta a acusação, argumentando que a imputação abrange um
período abusivo de 1998 a 2002, considerando que o paciente deixou a empresa em março de 2000,
conforme comprovado por evidências documentais.

O advogado ressalta que a imputação carece de fundamentação empírica, destacando a falta de


vínculo do paciente com os atos posteriores à sua saída. Ele argumenta que, em casos societários, a
colocação no polo passivo de uma ação penal requer a demonstração do vínculo do sócio com o fato,
o que, segundo ele, não ocorre neste caso, já que o paciente não ocupava mais o cargo.

Voto do Min. Marco Aurélio: Considera que a narrativa atende aos requisitos legais, não havendo
inépcia na denúncia. A materialidade e autoria serão esclarecidas durante o processo, e a ausência
de menção a fatos após a saída do paciente, em março de 2000, não justifica o trancamento parcial
do processo, pois seria uma antecipação do desfecho. Afirma que a permanência no cargo não é
indispensável ao cometimento do crime.

Voto do Min. Alexandre de Moraes: Defende que a denúncia é válida, atendendo aos requisitos
legais, e que a alegação de que o réu pode ter continuado a praticar atos ilícitos após sua saída deve
ser apurada no decorrer da ação penal. Considera prematuro o pedido de Habeas Corpus. Indeferiu a
ordem.

Voto do Min. Luís Roberto Barroso: Destaca que o trancamento de ação penal é medida excepcional
e que a alegação da saída do paciente é uma questão de mérito, que deve ser examinada na
instrução da ação penal. Indeferiu a ordem.

Houve levantamento de uma questão de fato pelo advogado, alegando que a denúncia não imputou
nenhum crime ao acusado. No entanto, o Ministro Marco Aurélio afirma não poder entrar nesse
mérito em um Habeas Corpus sem dualidade de defesa.

Voto da Min. Rosa Weber: Sustenta que as questões que levam ao pedido de decote da denúncia
devem ser examinadas na instrução da ação penal, não sendo possível decidir sobre o recorte em um
Habeas Corpus. Indeferiu a ordem.

Indeferido por unanimidade.

1. Questões constitucionais discutidas no processo: O Habeas Corpus é um remédio


constitucional para garantir a liberdade de um indivíduo preso ilegalmente ou sob ameaça de
prisão por ato ilegal ou abuso de poder. O STF julgou o caso, sendo hierarquicamente
superior ao STJ, a autoridade coatora. O pedido de trancamento parcial da ação foi
indeferido, estabelecendo que o trancamento de processo-crime é uma medida excepcional,
exigindo demonstração de ilegalidade manifesta.

2. Atuação dos profissionais da advocacia no caso, especialmente a relevância da sustentação


oral: O advogado argumentou que seu cliente não deveria ser responsabilizado por crimes
ocorridos após sua saída do cargo, mas o tribunal já tinha entendimento de que o
trancamento parcial de ações penais ocorre apenas em casos excepcionais. Apesar de não
obter sucesso no pedido, a sustentação oral do advogado contribuiu para adiar a conclusão
da ação, que já se estende por mais de 20 anos.

Você também pode gostar