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Vitimologia
SISTEMA DE ENSINO
Livro Eletrônico
CRIMINOLOGIA
Vitimologia
Mariana Barrerias
Sumário
Vitimologia...........................................................................................................................................................................4
Conceito..................................................................................................................................................................................4
Evolução Histórica...........................................................................................................................................................5
Principais Nomes da Vitimologia............................................................................................................................6
Hans Gross............................................................................................................................................................................6
Benjamin Mendelsohn.. ..................................................................................................................................................6
Hans Von Hentig................................................................................................................................................................9
Consolidação da Vitimologia...................................................................................................................................13
Contribuições da Vitimologia.. .................................................................................................................................14
Outras Classificações Vitimárias..........................................................................................................................15
Cifras da Criminalidade.. ..............................................................................................................................................17
Cifra Negra..........................................................................................................................................................................17
Cifra Dourada.....................................................................................................................................................................18
Cifra Cinza............................................................................................................................................................................18
Cifra Amarela.....................................................................................................................................................................18
Cifra Verde...........................................................................................................................................................................19
Cifra Rosa............................................................................................................................................................................19
Classificações da Vitimização.................................................................................................................................19
Vitimização direta x Vitimização indireta. ........................................................................................................19
Vitimização Primária, Secundária e Terciária.................................................................................................19
Heterovitimização..........................................................................................................................................................21
Vitimologia Clássica x Vitimologia Solidarista ou Humanitária.........................................................21
Lei n. 9.099/1995.. ..........................................................................................................................................................22
Lei n. 11.106/2005. . ........................................................................................................................................................22
Violência Doméstica e Feminicídio...................................................................................................................... 22
Lei n. 13.431/2017 – Direitos da Criança e do Adolescente..................................................................23
Vítimo-Dogmática.. ........................................................................................................................................................23
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Desmaterialização da Vítima.................................................................................................................................. 24
Seletividade da Vitimização....................................................................................................................................25
Síndromes Relacionadas à Vitimização............................................................................................................25
Síndrome de Estocolmo. . ............................................................................................................................................25
Síndrome de Lima...........................................................................................................................................................26
Síndrome de Londres.. ..................................................................................................................................................26
Síndrome da Mulher de Potifar..............................................................................................................................27
Declaração dos Princípios Básicos de Justiça Relativos às Vítimas da Criminalidade e
de Abuso de Poder........................................................................................................................................................27
Resumo................................................................................................................................................................................30
Mapas Mentais. . ..............................................................................................................................................................38
Questões de Concurso................................................................................................................................................43
Gabarito...............................................................................................................................................................................60
Gabarito Comentado.....................................................................................................................................................61
Referências........................................................................................................................................................................95
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Vitimologia
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VITIMOLOGIA
Conceito
O termo Vitimologia deriva da união das palavras vítima e logos e refere-se, portanto, ao
estudo das vítimas. Esse termo foi cunhado em 1947 por Benjamin Mendelsohn, advogado
egresso do campo de concentração nazista, sobre quem falaremos mais adiante.
Vítima pode ser qualquer pessoa, física ou jurídica, desde que sofra uma desventura, uma
ofensa, uma lesão decorrente de um crime. A lesão pode ser de vários tipos, como corpórea,
psíquica ou econômica.
A vítima pode ser direta ou indireta. A vítima direta, ou imediata, é a pessoa propriamente
lesada, detentora do bem jurídico atacado. Em um crime de homicídio, a pessoa morta é vítima
direta. A vítima indireta, ou mediata, é aquela que suporta indiretamente as consequências do
delito. É o caso, por exemplo, do Estado. Como titular da grande maioria das ações penais, é
considerado vítima mediata. E pode, naturalmente, ser também considerado vítima imediata,
como nos crimes contra a Administração Pública.
Alguns autores defendem que a Vitimologia é uma ciência. Outros, que é um ramo da Cri-
minologia. De qualquer maneira, a Vitimologia se dedica a jogar luz sobre o papel fundamental
que a vítima desempenha no fenômeno criminal. Analisa, entre outras coisas, a contribuição
do ofendido como causa ou condição do evento delituoso. Preocupa-se com a vítima, buscan-
do restaurar o seu papel no cenário criminal. Além de tentar entender qual o papel da vítima no
delito, defende programas de intervenção em crises, compensação, restituição, ressarcimento
do dano, assistência médica, psicológica e jurídica, seja na etapa de mediação como no pro-
cesso criminal ou cível eventualmente instaurado. Movimentos de defesa dos direitos da mu-
lher, da criança e do adolescente, dos indígenas, dos condenados e de grupos especialmente
vulneráveis têm sido citados como importantes propulsores da Vitimologia.
Além de procurar entender o papel desempenhado pela vítima no fenômeno criminal e o
tipo de assistência necessária para fazer frente aos traumas deixados pelo evento criminoso, a
Vitimologia desempenha importante papel no descobrimento das taxas reais de criminalidade,
como veremos mais adiante.
Lola Aniyar de Castro, criminóloga venezuelana, sintetiza os seguintes objetos da
Vitimologia:
• Estudo da personalidade da vítima, tanto vítimas de delinquentes, ou vítima de outros
fatores;
• Descobrimentos dos elementos psíquicos do complexo criminógeno existente na dupla
penal, isto é, o potencial de receptividade vitimal;
• Análise da personalidade das vítimas sem intervenção de um terceiro (como é o caso
do suicídio);
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• Estudo dos meios de identificação dos indivíduos com tendência a se tornarem vítimas
(e inclusão de métodos psicoeducativos necessários para organizar sua própria defesa);
• Busca dos meios de tratamento curativo, para prevenir a recidiva da vítima.
Evolução Histórica
A vítima é um dos objetos da Criminologia, como analisamos na primeira aula. Ali, tive-
mos a oportunidade de analisar que, em relação à vítima, os estudos criminais passaram por
três grandes momentos. Vamos agora, retomar e aprofundar os conhecimentos sobre essas
três fases:
• Idade de ouro da vítima: perdurou desde os primórdios da civilização até o fim da Alta
Idade Média. Nessa época havia a possibilidade de composição e de autotutela, ou seja,
de fazer justiça pelas próprias mãos. Havia, ainda, a possibilidade de aplicação da lei de
talião, de que já falamos anteriormente. Conhecida pela máxima “olho por olho, dente
por dente”, essa lei traz a ideia de correspondência entre o mal causado a alguém e o
castigo que deve receber. A um homicida, por exemplo, poderia ser imposta a pena de
morte. Durante a era de ouro da vítima se desenvolveu o processo penal acusatório,
em que as funções de acusar, julgar e defender estavam em mãos distintas. As partes
tinham iniciativa probatória, diante de um juiz inerte, que não podia produzir as provas
independentemente da provocação do autor e do réu.
• Neutralização do poder da vítima: essa fase teve início com a Baixa Idade Média, com
a crise do feudalismo, o início das Cruzadas, e a adoção do processo penal inquisitivo,
no século XII. Em oposição ao processo acusatório, o processo inquisitivo concentra as
funções de acusar e julgar nas mãos do juiz. Também chamado de processo inquisitó-
rio, acabou se revelando problemático por dificultar a imparcialidade do juiz, que deixou
de ser um árbitro e passou a ser um inquisidor. Nessa fase de neutralização, a vítima
perdeu o poder de reação ao fato delituoso, que passou para as mãos da administração
pública. A pena não era mais dirigida a compensar a dor da vítima ou determinada em
função dessa dor. A sanção penal passou a ser uma garantia para o grupo social de que
eles podiam ter expectativa na norma, pois a frustração de seus comandos geraria uma
consequência.
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• Revalorização do poder da vítima: essa fase teve início no século XVIII e perdurou até
os dias atuais. Considera-se que a vítima havia sido esquecida pelo processo criminal
e que é necessário recuperar certa parcela de seu protagonismo. Os autores penalistas
clássicos (séculos XVIII e XIX) começam a mencionar a importância da vítima, mas é
com a consolidação da Criminologia que os discursos de que a vítima deve ter proemi-
nência ganham força. Apesar do forte apelo da Vitimologia à doutrina de direitos huma-
nos, um dos problemas verificados nessa etapa de revalorização do poder da vítima é
a pressão que as vítimas ou seus parentes exercem em nossa sociedade, em nossos
legisladores e julgadores para que haja punições extremamente severas em função da
dor que estão sentindo, o que pode levar a um movimento de punitivismo exacerbado.
Muitos criminólogos conservadores, de viés punitivista, têm se apoiado nas vítimas com
o intuito de fortalecer o argumento de que se deve robustecer o poder repressivo, ale-
gando que quanto mais se protege o vitimador, mais dano se faz à vítima. García-Pablos
de Molina adverte que, nessa fase, não se pode pretender um retorno à idade de ouro da
vítima, afinal já se percebeu que uma resposta institucional a serena ao delito não pode
se subordinar aos estados emocionais da vítima. Reconhece-se que a natureza pública
do delito, da pena e do processo foram avanços civilizatórios históricos, aos quais não
se pretende renunciar. Mas é necessário proceder a uma redefinição global do status
da vítima, com identificação de suas expectativas e do papel que pode desempenhar na
busca de concreta justiça.
Benjamin Mendelsohn
O discurso de revalorização do poder da vítima se verificou de maneira pronunciada com
Benjamin Mendelsohn, advogado israelita que utilizou o termo Vitimologia em 1947 para des-
crever o sofrimento dos judeus nos campos de concentração de Alemanha nazista.
Considerado um dos pais da Vitimologia, Mendelsohn sustentou a autonomia científica
desse saber. Para cuidar das vítimas, defendia Mendelsohn, é necessário ir além do Direito
Penal, pois o arsenal jurídico é estranho a elas. Daí a importância de escapar das armadilhas
jurídicas e daí, também, a defesa de uma Vitimologia geral (não exclusivamente jurídico-penal).
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Mendelsohn argumentava ser impossível realizar justiça sem atentar para o papel da ví-
tima. Para ele, o objetivo da Vitimologia deveria ser: menos vítimas em todos os domínios
em que a sociedade está interessada, e na medida desse interesse. Não se deve restringir o
domínio da Vitimologia às vítimas de delitos. A vítima da delinquência não é a única que deve
despertar interesse na sociedade, e o seu sofrimento não é a única praga social pela qual a
sociedade deve se interessar. Meldelsohn se valia amplamente do conceito de vitmidade (vic-
timité): trata-se da capacidade de ser vítima de fatores endógenos ou exógenos, ou, dito de
outro modo, da totalidade de características biopsicossociais comuns às diferentes categorias
de vítimas que a sociedade tem interesse de prevenir e curar, quaisquer que sejam os fatores
determinantes.
A noção de vitimidade, acrescentava, não é o inverso da noção de criminalidade. A vitimida-
de compreende uma esfera muito mais ampla, que inclui, por exemplo, as vítimas de acidentes
de trânsito, de acidentes de trabalho, de vícios, de suicídios, do doenças laborais, dentre outras.
Essa noção ampla de vitimidade, aliás, seria determinante para diferenciar o objeto da Vitimo-
logia – vítima em seu conceito amplo – de um dos objetos da Criminologia – vítima de delitos.
Assim como a Sociologia se ocupa de todos os problemas sociais; a Medicina, de todas
as doenças; a Criminologia, de todos os delitos; a Vitimologia deveria se ocupar de todas as
categorias de vítimas e todos os problemas de vitimidade, sem ignorar nenhum dos fatores
determinantes que interessam à sociedade.
Esses fatores, que determinam que alguém se torne vítima, provêm de seis espé-
cies de meios:
• Meio endógeno, bio-psíquico, da própria vítima, tais como negligência, desatenção, es-
quecimento, falta de coordenação entre a percepção, o discernimento, a decisão e a
reação muscular;
• Meio natural, físico, imune à influência humana;
• Meio natural ambientalmente modificado pela influência humana;
• Meio social, aí consideradas as ações antissociais individuais ou organizacionais;
• Meio social político, em que se incluem os governos autoritários, ditatoriais, racistas,
genocidas;
• Meio motor, em que se encaixam as máquinas da modernidade que têm alto potencial
vitimizador.
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Mendelsohn defendia que, caso a ação de prevenção vitimal falhasse, a Vitimologia deveria
passar a se preocupar em reduzir ao mínimo a nocividade para as vítimas e em evitar a recidiva
vitimal. Aliás, para Mendelsohn, um dos paradoxos da sociedade contemporânea é o fato de
que quanto mais avançada uma sociedade, mais riscos ela implica. Assim, o complexo do peri-
go avança rapidamente, com muitos riscos sendo criados para a população, enquanto os meios
de evitar os perigos estão sempre atrasados. A vitimidade, portanto, decorre de uma série de fa-
tores e é um problema geral e não individual, que guarda conexão com a evolução da sociedade.
Mendelsohn postulava a formulação de uma Vitimologia Clínica, um elemento vital da nova
ciência, que diria respeito à criação, nos hospitais, de uma seção especial para onde seriam di-
rigidas as vítimas de acidentes. Nesse setor, além de médicos, haveria sociólogos, psicólogos e
outros profissionais habilitados a lidar com as questões relativas às vítimas. Ele também defen-
dia a criação de um Centro de Vitimologia, que se ocuparia das questões vitimológicas que não
fossem clínicas. Para Mendelsohn, portanto, a Vitimologia, além de ampla, devia ter efeitos prá-
ticos, de livrar o ser humano do perigo. Se fosse útil e viável, a Vitimologia seria revolucionária1.
Sua tipologia das vítimas, apresentada na palestra “Um horizonte novo na ciência biopsi-
cossocial”, pronunciada em um hospital de Bucareste, é bastante conhecida. Possui uma base
ao mesmo tempo etiológica e interacionista, já que procura compreender as causas de alguém
se tornar vítima analisando a interação existente entre os integrantes da dupla penal (vítima e
agressor). Foi desenvolvida, portanto, com base na correlação de culpabilidade entre a vítima e
o vitimador (delinquente): quanto maior a culpabilidade de um, menor a culpabilidade do outro.
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• Vítima mais culpada que o delinquente, que o provoca, como, por exemplo, a vítima de
um homicídio privilegiado praticado após injusta provocação. São também chamadas
de vítima por provocação;
• Vítima como única culpada, de que é exemplo a pessoa que se coloca em situação de
completo risco, como o suicida ou um agressor que acaba sendo vítima de legítima
defesa. São também chamadas de vítimas agressoras, simuladas, simuladoras, imagi-
nárias ou pseudovítimas. Nessas hipóteses não se está diante de uma vítima real. Não
se trata de uma pessoa que coopera com o ânimo criminoso de alguém: ao contrário, a
pseudovítima é a única culpada pela situação.
Recurso Mnemônico
NÃO Ideal
- Ignorância
= Voluntária
+ Provocadora
EXCLUSIVAMENTE Pseudo
E para ajudar a memorizar, em aula eu sugiro que os alunos memorizem o começo das no-
menclaturas que Mendelsohn atribui: Id, Ig, Vo, Provo, Pseudo. Isso ajuda a construir a tabela
na hora da prova.
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Ele analisa três grupos de crimes, sob o ponto de vista vitimológico: assassinatos, crimes se-
xuais e estelionatos.
No tocante aos crimes sexuais, Hentig assinala – em viés típico de uma cultura pautada
por valores androcêntricos – que a sedução e o caráter depravado de certas vítimas são fun-
damentais para compreender muitos casos de estupro e incesto (relação sexual com parente
próximo). Em dois exemplos que nos soam absurdos, ele cita casos em que a filha ia dormir
na cama do pai, sendo que em um desses casos a menina havia perdido a mãe recentemente.
Por fim, no que diz respeito aos crimes de estelionato e outras fraudes, Hentig sublinha o
caráter fundamental da cooperação da vítima: a pessoa enganada é tentada a agir em direção
oposta aos seus interesses. Trata-se de um delito cooperativo, um jogo de confiança, do qual
raramente é vítima uma pessoa honesta. A vítima não apenas contribui amplamente para a
consumação do crime com o seu comportamento como impede, em muitos casos, que o deli-
to seja reportado e investigado, já que a demonstração de que estavam dispostas a entrar em
negócios desonestos pode ser bastante prejudicial à alta reputação de certas vítimas.
Em 1948, Hentig lançou o livro “O criminoso e sua vítima.” Para alguns, essa foi a primeira
obra a tentar sistematizar o estudo da Vitimologia. Nela, adiantando um pouco os postulados
interacionistas que seriam definitivamente incorporados à Criminologia na década de 1960,
Hentig explica que a relação entre o agressor e a vítima é muito mais intrincada do que as dis-
tinções simplistas do Direito Penal. São dois seres humanos, entre os quais pode se verificar
uma rica gama de interações, atrações e repulsas. Para o Direito é muito clara a distinção entre
vítima e agressor. O mesmo raciocínio não se aplica na Sociologia e na Psicologia, em que as
duas categorias podem se fundir. Há uma relação de mutualidade entre vítima e agressor. A
vítima forma e modela o criminoso. Em certo sentido, os animais predadores e suas presas se
complementam. Para conhecer uma pessoa, temos que estar familiarizadas com o seu com-
panheiro complementar.
Há, no livro, uma classificação geral das vítimas e os tipos psicológicos de vítimas. Em
ambas, como se verá a seguir, Hentig segue na ótica de corresponsabilização da vítima, com
viés fortemente impregnado de uma visão androcêntrica de mundo.
As classes gerais de vítimas, para Hentig, são:
• A vítima jovem: a juventude é o período mais perigoso da vida. Por isso há tantos dispo-
sitivos impondo o dever de cuidado dos pais sobre os filhos. Mas há algumas ficções,
sobretudo no tocante ao consentimento, que distorcem a realidade. As mulheres jovens
são vítimas de crimes sexuais com mais frequência na lei do que na realidade. Mui-
tas meninas não oferecem qualquer resistência ao ato sexual e tampouco tentam fugir,
numa mistura de medo e curiosidade, castidade e desafio mental.
• A vítima mulher: o gênero feminino é outra forma de fraqueza reconhecida pela lei. Mas
em muitos casos a mulher somente se torna vítima em circunstâncias excepcionais,
como as trabalhadoras domésticas que engravidam dos seus patrões e, por isso, aca-
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bam sendo eliminadas; ou as idosas que, por ganância, são atraídas por estelionatários.
E é incorreto falar de vítima quando tanto o agressor como a vítima estão envolvidos em
um empreendimento criminal.
• A vítima idosa: no idoso, há uma combinação de patrimônio acumulado, fraqueza física
e debilidade mental. Na combinação de riqueza e fraqueza mora o perigo. Qualquer um
que supere a desconfiança e a apreensão dos idosos pode se aproximar, para o bem
ou para o mal. O homem idoso é presa fácil de delinquência sexual, já que as inibições
desaparecem.
• A vítima doente mental ou com perturbações mentais: nos dementes, loucos, viciados
em drogas, alcoólatras o jogo de forças motivacionais não opera de maneira normal.
Eles não têm noção do perigo e se colocam facilmente em situação de vítima. Há neles
tendências suicidas, autoacusações e são comumente vítimas de furto, roubo, estupro
e até mesmo assassinato.
• A vítima imigrante, ignorante ou minoritária: imigrantes e ignorantes são vítimas poten-
ciais de estelionatários. Imigrar é mais do que mudar de país. Relações humanas vitais
ficam prejudicadas. Há dificuldades linguísticas e necessidade de reconstruir laços psi-
cológicos. Leva alguns anos e algumas experiências dolorosas até que isso aconteça.
Antes disso, o imigrante é facilmente vitimizado. A pessoa ignorante ou inocente, segun-
do Hentig, parece ter nascido para ser vitimizado. O sucesso de tantos estelionatários
somente pode ser explicado pela estupidez das suas vítimas, e não pelo brilhantismo
dos criminosos. Essa estupidez psicológica é muito procurada pelos criminosos, porque
se aproxima da infantilidade. Os grupos minoritários não recebem a mesma proteção da
lei do que as classes dominantes. Eles temem a exploração e o abuso e é por isso que
membros do próprio grupo se aproximam deles com mais facilidade. Assim, negros aca-
bam sendo vítimas de outros negros. Além disso, os grupos minoritários são vítimas do
próprio sistema de justiça criminal. Em um levantamento realizado em Virgínia, Estados
Unidos, todos os negros indiciados por matar um branco receberam sentença de prisão
de morte ou perpétua. Mas somente 5,7% dos negros indiciados por matarem outro
negro receberam pena tão severa. A maioria (41,8%) dos negros que mataram negros
recebeu pena inferior a 10 anos de prisão. A cor da vítima influencia, portanto, enorme-
mente, o desfecho do caso.
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um crime apenas tentado. E a vítima, nesses casos, tem a tendência de não reportar
o delito. Mas há muitos casos em que a resistência da vítima pode agravar a situa-
ção. Em crimes sexuais, aliás, a resistência aciona o impulso mórbido do agressor,
acrescentando um estímulo novo, poderoso e perigoso.
Consolidação da Vitimologia
Em 1973 ocorreu o 1º Simpósio Internacional de Vitimologia, em Jerusalém, Israel, presidi-
do por Israel Drapkin Senderey, médico argentino-chileno. Foi o fundador do Instituo de Crimi-
nologia do Chile e ajudou na formação de outras instituições de Criminologia em países latino-
-americanos, como Venezuela, Costa Rica e México. Em 1959, mudou-se para Israel para criar
o Instituto de Criminologia da Faculdade de Direito da Universidade Hebraica de Jerusalém.
Sua vinculação com a América Latina, no entanto, nunca cessou, já que ele visitava frequen-
temente a região para dar cursos e palestras, com especial destaque para as vindas ao Brasil.
Em 1976 ocorreu, em Boston, nos Estados Unidos, o 2º Simpósio Internacional. O 3º Sim-
pósio ocorreu em Münster, na Alemanha, em 1979. Nessa ocasião, decidiu-se pela criação da
Sociedade Mundial de Vitimologia. (World Society of Victimology). Desde então, os Simpósios
Internacionais seguem acontecendo a cada três anos.
Em 1991, o 7º Simpósio Internacional de Vitimologia foi realizado no Rio de Janeiro. A es-
colha do Rio de Janeiro guardou relação com o sólido trabalho que vinha sendo realizado no
País pela Sociedade Brasileira de Vitimologia (SBV), fundada sete anos antes, em 28 de julho
de 1984, na mesma cidade.
Na fundação da SBV, especialistas das áreas de Direito, Medicina, Psiquiatria, Psicologia,
Sociologia e Serviço Social, além de outros estudiosos das ciências sociais, uniram-se para
consolidar no Brasil os conhecimentos relacionados com a vitimologia.
A SBV realiza estudos, pesquisas, seminários e congressos ligados à pesquisa vitimológi-
ca e mantém contato com outros grupos nacionais e internacionais, sobre aspectos relevantes
da Vitimologia. É, inclusive, membro da Sociedade Mundial de Vitimologia.
Para Ester Kosovski, brasileira, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, orga-
nizadora e autora de obras na área da Vitimologia e expoente da SBV,
2
KOSOVSKI, Ester. Vitimologia e Direitos Humanos: uma boa parceria. Disponível em <http://sbvitimologia.blogspot.com.
br/>. Acesso em 17 abr. 2018.
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A SBV tem sido muito importante na realização de colóquios, simpósios e palestras sobre
Vitimologia no Brasil e no incentivo a iniciativas pragmáticas que transformem o cenário viti-
mológico brasileiro. O Grupo Interdisciplinar de Estudos em Vitimologia, da Universidade Fede-
ral do Rio de Janeiro, foi impulsionado pela SBV como importante local de pesquisas e debates
sobre Vitimologia no meio acadêmico nacional. A criação e o funcionamento de centros de
assistência à vítima em várias unidades da federação foram fomentados pela SBV, na tentativa
de prevenir o processo de vitimização e de auxiliar no processo de assistência às vítimas.
Dentre os nomes de destaque da Vitimologia no Brasil podemos citar ainda: Edgard de
Moura Bittencourt, com sua obra Vítima, Laércio Pellegrino, Heitor Piedade Júnior e Heber
Soares Vargas.
Contribuições da Vitimologia
A Vitimologia, ao retirar a vítima do esquecimento penal e ao atribuir-lhe protagonismo, per-
cebe e demonstra que estudar o ofendido, analisar sua contribuição para a dinâmica criminal
e ouvir e atender suas necessidades é tarefa fundamental e complexa para as atuais ciências
criminais. As principais contribuições da moderna Vitimologia podem ser agrupadas nos se-
guintes eixos3:
• Vítima e dinâmica criminal: a Vitimologia explica que nem sempre a vítima é aleatória,
fungível, acidental ou irrelevante no iter criminis. A contribuição da vítima para a gênese
e dinâmica criminal não é homogênea e uniforme, mas sim variável de acordo com diver-
sos fatores, como a existência de interação prévia entre infrator e vítima;
• Vítima e prevenção do delito: partindo-se da premissa de que o risco de vitimização
(risco de ser vítima de um delito) não é distribuído igualmente na sociedade, admite-se
a possibilidade de prevenção vitimária, que é a prevenção da delinquência voltada para
a vítima em potencial. Como se sabe, por exemplo, que as principais vítimas de delitos
sexuais são as mulheres, podem ser traçadas estratégias para diminuição desse risco
diferenciado de vitimização. É uma prevenção complementar e não substitutiva da pre-
venção criminal. Possui as vantagens de ser uma intervenção não-penal e de ser dese-
nhada especificamente para grupos ou subgrupos que necessitam proteção especial
(mulheres, negros, idosos, jovens, etc.);
• Vítima como fonte alternativa informadora da criminalidade real: as estatísticas oficiais
somente fornecem dados sobre uma parcela da criminalidade: os delitos registrados, no-
ticiados pelo sistema legal. Assim, medem mais a atividade das instâncias de controle
social formal do que as oscilações reais das taxas de criminalidade. Por isso, possuem
relevância central as pesquisas de vitimização, em que se pede diretamente à popula-
ção que relate suas experiências como vítimas de delitos em certo espaço temporal.
3
GARCÍA-PABLOS de Molina. GOMES, Luiz Flávio. Criminologia: introdução a seus fundamentos teóricos. 5 ed. São Paulo: RT,
2006, p. 76 e ss.
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zação da vítima, ele cita como exemplos as pessoas imprudentes ou prepotentes, como
as que exibem objetos de valor nos veículos e nas ruas; ou as mulheres que vão praticar
ginástica à noite em trajes sumários; e os homossexuais.
• Vítima potencial ou latente: aquela que apresenta comportamento, temperamento ou
estilo de vida que atrai o delinquente. É portadora de um impulso irresistível para ser ví-
tima dos mesmos delitos, repetidas vezes. É o caso de prostitutas e usuários de drogas.
• Vítima eventual, real ou inocente: aquela que é verdadeiramente vítima, ou seja, cuja
conduta não contribuiu para a ocorrência do crime. Guaracy Moreira Filho cita alguns
exemplos, tais como as vítimas de infanticídio, de abandono (de incapaz, intelectual,
material), de maus-tratos, de extorsão mediante sequestro.
• Vítima falsa ou simuladora: aquela que, agindo por vingança ou interesse pessoal, impu-
ta falsamente a alguém a prática de um delito contra si, mesmo não tendo sido vítima de
crime algum. Ela simula um delito, se autovitimiza, para obter benefícios.
• Vítima voluntária: aquela que concorda com o crime, como a vítima de eutanásia.
• Vítima acidental: aquela que é vítima de si mesma, geralmente por inobservância do
dever de cuidado, como negligência ou imprudência.
• Vítima indefesa: aquela que se vê privada da ajuda do Estado. Tolera a lesão sofrida,
pois sabe que perseguir o infrator será tarefa ainda mais custosa. É o caso das vítimas
de corrupção policial.
• Vítima imune: aquela que, por ser famosa ou por ocupar algum posto, cargo ou função
de prestígio, os delinquentes evitam vitimar, diante da repercussão que o caso pode ga-
nhar. É o caso de padres, jornalistas, personalidades, políticos etc.
• Vítima atuante ou inconformada: aquela que busca determinadamente a punição dos
autores e a indenização dos danos sofridos, exercendo plenamente a cidadania e co-
municando diligentemente o fato criminoso às autoridades competentes. Essas vítimas
se informam, pesquisam, constituem advogados, unem-se com pessoas que tiveram
os mesmos problemas, fundam associações, tudo para fazer valer o seu direito ou até
mudar a legislação penal.
• Vítima omissa ou ilhada: aquela que se afasta das relações sociais e, por não participar
da sociedade e viver isoladamente, deixa de relatar às autoridades competentes seus
direitos violados. Para Guaracy Moreira Filho, são pessoas que desprezam a cidadania:
não denunciam à autoridade pública quando agredidas ou subtraídas, ainda que sejam,
com frequência, vítimas de furtos, roubos e atentados sexuais.
• Vítima da Política Social: aquela que é vítima do Estado, da negligência do Poder Públi-
co. Para Guaracy Moreira Filho, essa vítima aparece quando o Poder Público se organiza
contra o povo, fenômeno denominado crime branco: inversão de prioridades no Gover-
no, corrupção, ausência de políticas públicas voltadas para o indivíduo. Os exemplos
mais comuns de vítima da política social seriam as crianças desnutridas, as pessoas
analfabetas, as vítimas da seca, os presos em cárceres superlotados, a população sem
assistência médica, as vítimas de enchentes, desabamentos, blecautes.
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Cifras da Criminalidade
No momento histórico em que a Criminologia passou a dar mais atenção à vítima, tornou-
-se possível conhecer melhor as reais taxas de criminalidade. As pesquisas de vitimização, em
lugar de se basearem nas estatísticas oficiais, perguntam às pessoas de um grupo social se
elas foram vítimas de algum delito em certo marco temporal. Na prática, quando isso ocorre, a
pergunta é feita diretamente às possíveis vítimas, por questionadores que não vinculam suas
perguntas à atividade dos órgãos de persecução penal, sendo maior a chance de que as res-
postas correspondam à realidade.
As pesquisas de vitimização têm se revelado imprescindíveis, sobretudo por demonstrar
que as taxas de subnotificação criminal – ou seja, de delitos que não são reportados às au-
toridades ou que não são registrados adequadamente pelo Poder Público – são muito signi-
ficativas em uma série de delitos, como é o caso dos crimes sexuais, em que há vergonha e
sentimento de humilhação; dos crimes de corrupção policial, em que há temor em denunciar
o crime para colegas dos próprios agressores; dos crimes de maus tratos contra crianças,
dentre outros.
Quando se reconhece a importância das pesquisas de vitimização não se está, em nenhum
momento, descartando a validade das estatísticas oficiais baseadas em registros de delitos
pelo Poder Público. Essas estatísticas possuem valor inquestionável para a métrica do proble-
ma criminal. Mas os estudiosos e aplicadores dos saberes penais não podem, jamais, conside-
rar esses registros como reflexo fiel da realidade criminal de um dado grupo social.
Cifra Negra
As taxas reais de criminalidade são, portanto, facilitadas pelos informes que as vítimas
fornecem. Há muitos crimes que não chegam ao conhecimento da polícia. Nos crimes sexuais,
por exemplo, é bastante comum que, por vergonha e temor, se deixe de noticiar o caso às auto-
ridades estatais encarregadas do controle social formal, sobretudo quando o delito é cometido
por um parente. Deixando de haver notícia do crime, o delito não integra as estatísticas oficiais.
A essa diferença entre a criminalidade real – isto é, a totalidade de delitos praticados – e a cri-
minalidade conhecida ou revelada, dá-se o nome de cifra negra, ou cifra oculta. Esses crimes,
que ocorrem, mas não chegam ao conhecimento do poder estatal, integram o que se chama de
“cifra negra” ou cifra oculta da criminalidade. Pesquisas revelam que a diferença entre a cifra
negra dos crimes sexuais é altíssima: a diferença entre os crimes ocorridos e os comunicados
à agência de controle social seria de aproximadamente 90%.
Trata-se do chamado efeito de funil, também conhecido como mortalidade de casos crimi-
nais. Isso é natural e a Criminologia reconhece que o processamento de todos os casos (“total
enforcement”) levaria à falência do próprio sistema penal.
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Cifra Dourada
Os crimes do colarinho branco possuem alta taxa de subnotificação, porque são delitos de
difícil detecção. Há um nome específico para essa diferença entre criminalidade real e conhe-
cida dos poderosos: é a chamada cifra dourada.
Tecnicamente, a cifra dourada equivale aos delitos cometidos pelos poderosos que não
chegam ao conhecimento das instâncias de controle social formal, mas há algumas variações
em torno desse conceito. Há quem, incorrendo em certa imprecisão, diga que a cifra dourada
equivale a delitos do colarinho branco que ficam impunes, mas desconhecimento da ocor-
rência do crime e impunidade são realidades distintas. Já houve, ademais, oportunidades em
que a Vunesp, alargando ainda mais a definição, considerou que o conceito de cifra dourada
equivale ao próprio conceito de crime do colarinho branco, independentemente de o delito ser
conhecido pelas instâncias de controle social.
Cifra Cinza
A cifra cinza consiste nos crimes que são de conhecimento das instâncias policiais, porém
que não chegam a virar um processo penal. São casos, por exemplo, solucionados pelos pró-
prios policiais em sua atividade rotineira; ou na própria delegacia de polícia; ou com a renúncia
da vítima ao direito de queixa ou representação. A cifra cinza demonstra que as polícias têm
papel conciliador de conflitos e é, nesse aspecto, dotada de muito poder, pois exerce suas
competências de tratar o fenômeno delitivo longe da supervisão direta das instâncias que
seriam as intervenientes subsequentes do sistema de persecução, como Ministério Público,
Defensoria Pública, Poder Judiciário.
Cifra Amarela
A cifra amarela consiste nos casos em que as vítimas sofrem algum tipo de violência prati-
cada por servidor público e deixam, por temor, de denunciar o ilícito às unidades competentes
pela apuração.
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Cifra Verde
Trata-se de delitos que têm por objeto o meio ambiente e que não chegam ao conhecimen-
to policial ou não são processados porque impossível tentar descobrir a autoria.
Cifra Rosa
São os crimes de caráter homofóbico que não chegam ao conhecimento das autoridades.
Classificações da Vitimização
Atualmente, a Vitimologia aponta que existem diferentes maneiras de classificar a
vitimização.
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frido. O sistema penal tradicional coisifica a vítima, tratando-a como mero objeto e não
como pessoa titular de direitos e merecedora de dignidade. No sistema tradicional de
justiça criminal, portanto, a vítima é reificada (tratada como res, coisa). É o caso, por
exemplo, da mulher que se dirige a uma delegacia para fazer boletim de ocorrência de
estupro e se sente humilhada, ridicularizada, julgada em função dos procedimentos, dos
comentários, ou da frieza dos policiais. Não há dúvidas, portanto, de que o sofrimento
adicional imposto à vítima pela dinâmica de investigação e julgamento do delito configu-
ram vitimização secundária. Falta consenso, todavia, no que diz respeito à total omissão
estatal. Como se verá em seguida, a omissão completa do Estado também é conside-
rada, por alguns autores, vitimização secundária, pois seria apenas um outro aspecto
do mesmo fenômeno de descaso do Poder Público. Outros autores consideram que a
omissão estatal – que vai além do mero sofrimento adicional do sistema de justiça cri-
minal – configura vitimização terciária.
• Vitimização terciária: trata-se de conceito, todavia, em fase de concretização, sobre o
qual não há consenso. Vamos analisar três linhas de pensamento.
− Para um primeiro grupo de autores, ocorre a vitimização terciária quando a vítima
primária do crime é abandonada ou ridicularizada em seu meio social: pela comuni-
dade, familiares, amigos etc. Há uma exaltação do criminoso e humilhação da vítima
primária pelas instâncias informais de controle social. Para essa linha de pensamen-
to, a falta de amparo dos órgãos estatais às vítimas configuraria vitimização secun-
dária. Essa tem sido a linha adotada pela Vunesp e pela FCC.
− Para um segundo grupo de autores, do qual faz parte Nestor Sampaio Penteado
Filho, a vitimização terciária se verifica igualmente com o abandono das vítimas,
mas esse abandono pode ser praticado tanto pelas instâncias informais como pelas
agências formais de controle social. Para esta corrente, a vitimização terciária con-
siste na “falta de amparo dos órgãos públicos às vítimas; nesse contexto, a própria
sociedade não acolhe a vítima, e muitas vezes a incentiva a não denunciar o delito
às autoridades, ocorrendo o que se chama de cifra negra.” Nessa segunda visão, por-
tanto, o descaso estatal pode ser desdobrado e visto como: vitimização secundária,
se for o caso de uma humilhação, um tratamento insensível, um sofrimento adicio-
nal em função da burocracia de apuração do delito; ou vitimização terciária, se for
o caso de abandono da vítima pelo Estado. No tocante à postura do Estado, haveria
então uma diferença de grau entre a vitimização secundária (sofrimentos adicionais
típicos da burocracia, menos grave) e a terciária (abandono, omissão, mais grave). O
mais importante é compreender que, para essa linha de pensamento, a vitimização
terciária decorre da omissão, seja do Estado, seja da sociedade.
− Para um terceiro grupo, do qual faz parte Shecaira, por exemplo, a vitimização ter-
ciária não atinge a vítima primária do crime, mas sim o seu autor. Ela ocorre nas
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hipóteses em que o autor do ato delitivo acaba por receber um sofrimento excessivo,
como tortura, apedrejamento, linchamento; ou quando ele responde a processos que
não deveriam ter sido a ele imputados. Seria, portanto, a vitimização do vitimizador.
Heterovitimização
Paulo Sumariva menciona outra categoria de vitimização: a heterovitimização. Trata-se da
autorrecriminação da vítima pela ocorrência do crime. A vítima se sente culpada, se autorres-
ponsabiliza, buscando em si mesma as razões para a ocorrência do delito. Como exemplo,
podemos citar o mecanismo psicológico de a vítima de um roubo se sentir culpada pelo delito
por ter transitado sozinha, em local pouco iluminado, no período noturno.
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Lei n. 9.099/1995
A Lei n. 9.099/1995, Lei dos Juizados Especiais Criminais, marcou uma mudança paradig-
mática no ordenamento jurídico brasileiro em direção à consideração da vítima na relação deli-
tiva. Seu art. 62 dispõe expressamente que o processo perante o Juizado Especial orientar-se-
-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade,
objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de
pena não privativa de liberdade.
Heitor Piedade Júnior defende que esse ato normativo foi responsável por outorgar à víti-
ma o status de personagem cidadã.
“Anteriormente ao advento da referida lei, a vítima sofria um duplo processo de vitimização:
a primária, consistente na violência sofrida pelo crime, e a vitimização secundária, que ocorria
quando, na expressão de Raul Cervini, entrando em contato com o sistema policial ou judicial,
(...) sofria o efeito sobrevitimizador do processo penal. A partir de uma nova visão social, à luz
das modernas ciências do comportamento humano, a vítima pode pedir proteção ao poder
público, pode falar em juízo, pode ouvir e ser ouvida, pode contribuir na busca da Justiça, como
sujeito de direitos.”
Lei n. 11.106/2005
A Lei n. 11.106/2005 fez importantes alterações do ponto de vista vitimológico no Código
Penal. Em primeiro lugar, retirou o termo “mulher honesta” do tipo penal de posse sexual me-
diante fraude e atentado violento ao pudor mediante fraude, deixando claro que é irrelevante a
conduta recatada prévia da vítima na configuração do tipo penal. Além disso, retirou, do rol de
causas extintivas da punibilidade, algumas previsões que estavam em completo descompasso
com a realidade do século XXI. Antes do advento da Lei, extinguiam a punibilidade o “casamen-
to do agente com a vítima, nos crimes contra os costumes”, e o “casamento da vítima com
terceiro”, nos mesmos crimes, desde que cometidos sem violência real ou grave ameaça e
desde que a ofendida não requeresse o prosseguimento do inquérito policial ou da ação penal.
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mente citada como exemplo de ato normativo que se preocupa com a diminuição dos efeitos
da vitimização secundária. Seu art. 10-A, prevê, desde 2017, alguns dispositivos para, expres-
samente, evitar a revitimização da depoente. Assim, passou a ser direito da mulher em situa-
ção de violência doméstica e familiar o atendimento policial e pericial especializado, ininter-
rupto e prestado por servidores previamente capacitados, preferencialmente do sexo feminino.
Devem ser evitadas sucessivas inquirições sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal, cível e
administrativo, bem como questionamentos sobre a vida privada. Por isso, o depoimento deve
ser registrado em meio eletrônico ou magnético, e a degravação e a mídia devem integrar o
inquérito.
Nos crimes de feminicídio é muito comum que os filhos sejam vítimas indiretas, tanto
pelo fato de perderem a mãe, como pelo fato de presenciarem o crime. A grande maioria dos
crimes de feminicídio é cometida no local de residência da mulher e em muitos casos o delito
é praticado na presença de outros moradores do lar. Foi por essa razão, aliás, que o legislador
incluiu, em 2018, uma causa de aumento de pena – de 1/3 até a metade – para o feminicídio
praticado na presença física ou virtual de descendente ou ascendente da vítima (Art. 121, §7º,
inciso III, do Código Penal).
Vítimo-Dogmática
Dá-se o nome vítimo-dogmática às implicações que a Vitimologia causou na dogmática
penal, sobretudo a partir da Alemanha na década de 1990. A vitimo-dogmática analisa a con-
tribuição da vítima para a ocorrência de um crime O essencial na discussão desse tema é o
estudo da responsabilidade da vítima na experiência que sofreu e o consequente impacto, na
dosimetria da pena, de sua eventual contribuição. O raciocínio é o seguinte: se a vítima renun-
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Desmaterialização da Vítima
No Direito Penal, os delitos com vítima indeterminada são denominados crimes vagos, ou
ainda multivitimários ou de vítimas difusas. A coletividade é quem sofre os efeitos da prática
delitiva. O sujeito passivo é a comunidade inteira, e não alguém dotado de personalidade jurídi-
ca. É o caso, por exemplo, do crime de porte de arma de fogo e dos crimes de poluição.
Atualmente, vivemos em sociedades de risco. O termo sociedade de risco foi cunhado por
Ulrich Beck e diz respeito à sociedade pós-industrial que se preocupa enormemente com os
perigos, tanto porque sabe que, como destruiu os recursos naturais, catástrofes ecológicas
são uma realidade cada vez mais presente; como porque presencia o desmoronamento dos
sistemas sociais. É uma sociedade em que há intenso desenvolvimento tecnológico, o traba-
lho é precarizado e as instituições duram menos que as pessoas. Trata-se de uma sociedade
em que grandes contingentes de pessoas são empurrados para o mercado informal ou para-
lelo de trabalho, mas que, ao mesmo tempo, pune mais quem tenta se inserir nessa realidade,
seja com trabalhos ocasionais, furtos, contrabandos e mercados negros.
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Na sociedade de risco, a população está com medo, não sabe em que acreditar e sen-
te uma necessidade de consumir segurança. Nessa sociedade, hipertecnológica e global, os
riscos são desconhecidos, incontroláveis, ameaçam as gerações presentes e futuras e dão
origem a uma sensação coletiva de insegurança. Surgem novas modalidades criminosas, de
caráter supraindividual, como a econômica e a ambiental. As estruturas e conceitos básicos
do Direito Penal clássico, de caráter individual, não oferecem boas respostas a esses medos
coletivos.
Nessa realidade contemporânea, existe uma tendência de desmaterialização da vítima e
do bem jurídico. Os legisladores exacerbam a política criminal punitiva e criam tipos preventi-
vos, em que a tutela penal é antecipada para um momento prévio, fornecendo um tratamento
diferenciado e gravoso aos crimes novos e com vítimas difusas, tais como econômico-tributá-
rios, ambientais e relativos a organizações criminosas. Verifica-se uma expansão da proteção
de bens jurídicos coletivos, vagos, imprecisos. A essa tendência, dá-se o nome de desmateria-
lização, liquefação, espiritualização ou dinamização do bem jurídico ou da vítima.
Seletividade da Vitimização
A Vitimologia demonstra que o risco de vitimização é seletivo e diferencial. Alguns grupos
populacionais e segmentos sociais são particularmente propensos à vitimização, seja ela pri-
mária, secundária ou terciária. Fatores pessoais, sociais e situacionais atuam para desenhar
um maior ou menor prognóstico de vitimização.
Minorias e grupos marginalizados atraem uma parcela significativa de delitos. No Brasil,
isso é facilmente observável nos delitos violentos. Os jovens negros são as principais vítimas
de homicídio. Segundo dados do Atlas da Violência 2020, do total das vítimas de homicídio em
2018, 75,7% eram negros. Entre eles, a taxa foi de 37,8 por 100 mil habitantes, enquanto entre
os não-negros a taxa foi de 13,9. A chance de uma pessoa negra morrer de forma violenta no
Brasil é 2,7 maior que uma pessoa não-negra. E o homicídio foi a principal causa de mortalidade
de jovens, que são as pessoas de 15 a 29 anos. Fala-se, portanto, em uma juventude perdida.
Os escassos recursos socioeconômicos das vítimas pobres potencializam, ademais, os
efeitos da revitimização, já que lhes é mais custoso enfrentar as dificuldades para fazer girar
com eficiência o sistema de justiça criminal. A população marginalizada, quando vítima, pos-
sui reduzida capacidade de se fazer ouvir com credibilidade, de perseguir seus direitos.
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intimidação. O termo foi cunhado pelo criminólogo e psiquiatra Nils Bejerot. Tem como origem
um assalto a banco realizado em 1973 em Estocolmo, na Suécia. Quatro pessoas foram feitas
reféns por cerca de uma semana. Durante as negociações, pediram que os criminosos fos-
sem deixados em liberdade, deram pistas falsas e alegaram que a culpada pela situação era
a polícia, que tinha efetuado os primeiros disparos. Ao serem liberadas, recusaram ajuda dos
policiais e usaram os próprios corpos para proteger os criminosos. Posteriormente, uma das
vítimas chegou a criar um fundo para ajudar os assaltantes com as despesas judiciais. Após
40 anos, uma das reféns ainda se comunicava com o outro criminoso.
Na Síndrome de Estocolmo, a vítima procura evitar comportamentos que desagradem o
vitimador e, aos poucos, passa a encarar com simpatia os atos gentis do agressor, a quem
pode pensar que deve sua vida. É um afeto, portanto, decorrente do instinto de sobrevivência
da vítima, que sente que, de alguma maneira, o agressor se importa com ela. Verifica-se, com
frequência, em casos de sequestro, cárcere privado e agressões domésticas.
Síndrome de Lima
A Síndrome de Lima é o outro aspecto do mesmo fenômeno de afeição. Nela, os agressores
desenvolvem sentimentos de simpatia e cumplicidade em relação às vítimas, e preocupam-se
com o seu bem-estar. O nome se deve a um sequestro de centenas de pessoas realizado pelo
Movimento Revolucionário Túpac Amaru. O fato ocorreu na Embaixada do Japão em Lima,
capital do Peru, em 1996. Ao final, não houve pedido de resgate: os reféns foram liberados por
sentimentos de compaixão e afeto.
No mesmo episódio de assalto a banco que deu origem ao termo Síndrome de Estocolmo,
Jan Olsson, um dos raptores, afirmou em entrevistas subsequentes que não conseguiu matar
os reféns porque acabou estreitando laço com eles.
Síndrome de Londres
Na Síndrome de Londres, as vítimas adotam postura de enfrentamento com os agressores.
Ela é o oposto da Síndrome de Estocolmo. Trata-se de denominação surgida após sequestro
realizado por terroristas na Embaixada do Irã em Londres, episódio conhecido como Opera-
ção Nimrod. Entre os reféns, havia um funcionário iraniano, chefe de imprensa da Embaixada,
chamado Abbas Lavasani, que adotou postura de embate e discussão com os sequestrado-
res. Dizia, constantemente, que discordava de suas ideias, pois era crente devoto da Revolu-
ção Iraniana.
Na Síndrome de Londres, a vítima, também como estratégia de sobrevivência, adota postu-
ra de desobediência e embate com o agressor, por quem nutre profundo ódio. Esse mecanismo
pode elevar as tensões entre vítima e vitmizador, vindo a ser fatal. No caso da Embaixada do
Irã em Londres, Abbas Lavasani acabou sendo executado e jogado para fora do prédio como
demonstração de força dos raptores.
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As vítimas devem ser tratadas com compaixão e respeito pela sua dignidade. Têm direito
ao acesso às instâncias judiciárias e à obtenção de reparação através de procedimentos, ofi-
ciais ou oficiosos, que sejam rápidos, equitativos, de baixo custo e acessíveis.
Os países devem tomar medidas para minimizar, tanto quanto possível, as dificuldades
encontradas pelas vítimas, proteger a sua vida privada e garantir a sua segurança, bem como
a da sua família e a das suas testemunhas, preservando-as de manobras de intimidação e de
represálias.
Quando se revelem adequados, os meios extrajudiciários de solução de conflitos, incluin-
do a mediação, a arbitragem e as práticas de direito consuetudinário ou as práticas autócto-
nes de justiça, devem ser utilizados, para facilitar a conciliação e obter a reparação em favor
das vítimas.
Os autores de crimes ou os terceiros responsáveis pelo seu comportamento devem, se
necessário, reparar de forma equitativa o prejuízo causado às vítimas, às suas famílias ou às
pessoas a seu cargo. Tal reparação deve incluir a restituição dos bens, uma indenização pelos
prejuízos sofridos, o reembolso das despesas feitas como consequência da vitimização, a
prestação de serviços e o restabelecimento dos direitos.
Em todos os casos em que sejam causados graves danos ao ambiente, a restituição deve
incluir, na medida do possível, a reabilitação do ambiente, a reposição das infraestruturas, a
substituição dos equipamentos coletivos e o reembolso das despesas de reinstalação.
Quando servidores públicos ou outras pessoas, agindo a título oficial ou quase oficial, te-
nham cometido uma infração penal, as vítimas devem receber a restituição por parte do Es-
tado cujos funcionários ou agentes sejam responsáveis pelos prejuízos sofridos. No caso em
que o Governo sob cuja autoridade se verificou o ato ou a omissão na origem da vitimização já
não exista, o Estado ou o Governo sucessor deve assegurar a restituição às vítimas.
Quando não seja possível obter do delinquente ou de outras fontes uma indenização com-
pleta, os Estados devem procurar assegurar uma indenização financeira às vítimas que tenham
sofrido um dano corporal ou um atentado importante à sua integridade física ou mental; ou à
família, em particular às pessoas a cargo das vítimas que tenham falecido ou que tenham sido
atingidas por incapacidade física ou mental como consequência da vitimização. Para tanto,
será incentivado o estabelecimento, o reforço e a expansão de fundos nacionais de indeniza-
ção às vítimas.
A Declaração orienta que os funcionários dos serviços de polícia, de justiça e de saúde, tal
como o dos serviços sociais e o de outros serviços interessados, devem receber uma forma-
ção que os sensibilize para as necessidades das vítimas, bem como instruções que garantam
uma ajuda pronta e adequada a elas.
Alinhada com os ideais de direitos humanos, a Declaração da ONU pretende reduzir a viti-
mização e solicita aos países signatários – dentre os quais se inclui o Brasil:
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• que tomem medidas nos domínios da assistência social, da saúde, incluindo a saúde
mental, da educação e da economia, bem como medidas especiais de prevenção crimi-
nal para reduzir a vitimização e promover a ajuda às vítimas em situação de carência;
• que incentivem os esforços coletivos e a participação dos cidadãos na prevenção do
crime;
• que adaptem as respectivas legislações aos direitos humanos;
• que reforcem os meios necessários à investigação, à persecução e à condenação dos
culpados da prática de crimes;
• que promovam a divulgação de informações que permitam aos cidadãos a fiscalização
da conduta dos servidores públicos e das empresas e a promoção de outros meios de
acolher as preocupações dos cidadãos;
• que haja o respeito de códigos de conduta e normas éticas por parte dos servidores
públicos, incluindo o pessoal encarregado da aplicação das leis, o dos serviços peniten-
ciários, o dos serviços médicos e sociais e o das forças armadas, bem como por parte
do pessoal das empresas comerciais;
• que proíbam as práticas e os procedimentos suscetíveis de favorecer os abusos, tais
como o uso de locais secretos de detenção e a detenção em situação incomunicável;
• que colaborem com os outros Estados, no quadro de acordos de auxílio judiciário e
administrativo, em domínios como o da investigação e o da persecução penal dos delin-
quentes, da sua extradição e da penhora dos seus bens para os fins de indenização às
vítimas.
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RESUMO
Conceituação e Finalidade
Vitimologia é o estudo das vítimas. O termo foi cunhado em 1947 por Benjamin Mendelsohn.
Vítima pode ser qualquer pessoa, física ou jurídica, que sofra uma desventura, uma ofensa,
uma lesão (física, psíquica, econômica, etc.) decorrente de um crime.
Para alguns, a Vitimologia é uma ciência. Para outros, um ramo da Criminologia. Dedica-se a:
• compreender o papel fundamental que a vítima desempenha no fenômeno criminal;
• defender programas de intervenção em crises, ressarcimento do dano e assistência mé-
dica, psicológica e jurídica;
• descobrir das taxas reais de criminalidade;
• mudar a legislação naquilo que for necessário;
• retirar a vítima do papel meramente testemunhal.
Evolução Histórica
Idade de ouro da vítima: desde os primórdios da civilização até o fim da Alta Idade Média.
Possibilidade de composição e de autotutela. Lei de talião: “olho por olho, dente por dente”.
Desenvolveu-se o processo penal acusatório, em que as funções de acusar, julgar e defender
estavam em mãos distintas.
Neutralização do poder da vítima: da Baixa Idade Média (século XII) até século XVII. Pro-
cesso inquisitivo: concentra as funções de acusar e julgar nas mãos do juiz e dificulta a impar-
cialidade do magistrado. A vítima perdeu o poder de reação ao fato delituoso, que passou para
as mãos da administração pública.
Revalorização do poder da vítima: do século XVIII até os dias atuais. Percebe-se que a víti-
ma havia sido esquecida pelo processo criminal e que é necessário recuperar certa parcela de
seu protagonismo. Um dos problemas é a pressão que as vítimas ou seus parentes exercem
para que haja leis e punições extremamente severas.
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ende uma esfera muito mais ampla, que inclui as vítimas de acidentes de trânsito, de acidentes
de trabalho, de vícios, de suicídios, do doenças laborais, dentre outras. Fatores que determi-
nam que alguém se torne vítima provêm de seis espécies de meios:
• Meio endógeno, bio-psíquico, da própria vítima;
• Meio natural, físico, imune à influência humana;
• Meio natural ambientalmente modificado pela influência humana;
• Meio social (ações antissociais);
• Meio social político (governos autoritários, ditatoriais, racistas, genocidas);
• Meio motor (máquinas da modernidade).
Hans Von Hentig: “O criminoso e sua vítima”, 1948. Psicólogo criminal alemão radicado
nos Estados Unidos. Há mutualidade na conexão entre agressor e vítima. Visão de correspon-
sabilização da vítima: a vítima ativamente leva o agressor à tentação. “Se há criminosos natos,
é evidente que também existem vítimas natas”.
Classes gerais de vítimas, para Hentig:
• A vítima jovem: a juventude é o período mais perigoso da vida. Mas algumas ficções
distorcem a realidade. Mulheres jovens muitas vezes consentem com o ato sexual.
• A vítima mulher: gênero feminino é forma de fraqueza reconhecida pela lei. Em muitos
casos a mulher é responsável por sua vitimização, como as trabalhadoras domésticas
que engravidam dos seus patrões e acabam sendo eliminadas.
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Consolidação da Vitimologia
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Contribuições da Vitimologia
• Vítima e dinâmica criminal: nem sempre a vítima é aleatória, fungível, acidental ou irre-
levante no iter criminis.
• Vítima e prevenção do delito: prevenção vitimária é a prevenção da delinquência voltada
para a vítima em potencial. É uma prevenção complementar e não substitutiva da pre-
venção criminal.
• Vítima como fonte alternativa informadora da criminalidade real: possuem relevância
central as pesquisas de vitimização, em que se pede diretamente à população que relate
suas experiências como vítimas de delitos em certo espaço temporal.
• Vítima e medo do delito: Vitimologia preocupa-se com o medo como estado de ânimo
coletivo e não necessariamente associado a uma prévia experiência vitimária.
• Vítima e política social: a Vitimologia preocupa-se com a ressocialização da vítima, que
não reclama apenas compaixão, mas respeito aos seus direitos.
• Vítima e sistema legal: a vítima tem em suas mãos a chave da movimentação legal, já
que praticamente somente os delitos noticiados são perseguidos.
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• Vítima omissa ou ilhada: aquela que se afasta das relações sociais e, por não participar
da sociedade e viver isoladamente, deixa de relatar às autoridades competentes seus
direitos violados.
• Vítima da Política Social: aquela que é vítima do Estado, da negligência do Poder Público.
Cifras da Criminalidade
Classificação da Vitimização
Vitimização direta x Vitimização indireta: vítima direta é aquela que sofre diretamente os
efeitos de um delito. A vítima indireta é aquela que, por ter alguma relação com a vítima direta,
acaba sofrendo indiretamente as consequências do crime.
Vitimização Primária, Secundária e Terciária: vitimização primária é aquela em que o su-
jeito é atingido pela prática do crime ou de um fato traumático. Vitimização secundária (sobre-
vitimização, revitimização) é aquela em que a vítima primária é objeto da insensibilidade, do
desinteresse e da atuação meramente burocrática dos operadores do sistema criminal estatal.
Sobre o conceito de vitimização terciária não há consenso. Para alguns, ocorre a vitimização
terciária quando a vítima primária do crime é abandonada ou ridicularizada em seu meio so-
cial (Vunesp e FCC). Para outros (Nestor Sampaio Penteado Filho), a vitimização terciária se
verifica igualmente com o abandono das vítimas, mas esse abandono pode ser praticado tanto
pelas instâncias informais como pelas agências formais de controle social. Para um terceiro
grupo(Shecaira), a vitimização terciária não atinge a vítima primária do crime, mas sim o seu
autor, que recebe um sofrimento excessivo, como tortura, apedrejamento, linchamento, ou res-
ponde a processos que não deveriam ter sido a ele imputados.
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ONU, 1985: Declaração dos Princípios Básicos de Justiça Relativos às Vítimas da Crimina-
lidade e de Abuso de Poder.
Conceito amplo de vítima: são as pessoas que, individual ou coletivamente, tenham sofrido
um prejuízo, nomeadamente um atentado à sua integridade física ou mental, um sofrimento de
ordem moral, uma perda material, ou um grave atentado aos seus direitos fundamentais, como
consequência de atos ou de omissões violadores das leis penais em vigor num Estado mem-
bro, incluindo as que proíbem o abuso de poder. O conceito de vítima inclui também a família
próxima ou as pessoas a cargo da vítima direta e as pessoas que tenham sofrido um prejuízo
ao intervirem para prestar assistência às vítimas em situação de carência ou para impedir a
vitimização.
Vítimas devem ser tratadas com compaixão e respeito pela sua dignidade. Têm direito ao
acesso às instâncias judiciárias e à obtenção de reparação através de procedimentos rápidos,
equitativos, de baixo custo e acessíveis.
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MAPAS MENTAIS
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QUESTÕES DE CONCURSO
001. (VUNESP/2018/PC-SP/AGENTE DE TELECOMUNICAÇÕES POLICIAL) Na classifica-
ção de Benjamin Mendelsohn, a vítima imaginária é considerada uma vítima
a) mais culpada que o infrator.
b) voluntária ou tão culpada quanto o infrator.
c) completamente inocente ou ideal.
d) unicamente culpada.
e) de culpabilidade menor ou por ignorância.
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e) causada pelos órgãos formais de controle social, ao longo do processo de registro e apu-
ração do delito, mediante o sofrimento adicional gerado pelo funcionamento do sistema de
persecução criminal.
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c) A Vitimologia nasceu como ramo das ciências jurídicas, por conta das observações fei-
tas pelos estudiosos a respeito do comportamento da vítima perante o ordenamento jurídi-
co em vigor.
d) A Vitimologia surgiu, como ramo da Criminologia, em 1876, por meio da obra “O Homem
Delinquente”, de Cesare Lombroso.
e) O comportamento da vítima sempre contribui para a ocorrência do crime contra si praticado.
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a) Cesare Lombroso.
b) Hans von Hentig.
c) Benjamin Mendelsohn.
d) Kurt Schneider.
e) Hans Gross.
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d) cifras negras
e) cifras cinza
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Considerando os textos apresentados, julgue o item que se segue, pertinentes aos objetos da
criminologia.
A sentença transcrita (texto 1A9-I) exemplifica o que a teoria criminológica descreve como re-
vitimização ou vitimização secundária, que se expressa como o atendimento negligente, o des-
crédito na palavra da vítima, o descaso com seu sofrimento físico e(ou) mental, o desrespeito
à sua privacidade, o constrangimento e a responsabilização da vítima pela violência sofrida.
054. (VUNESP/2018/PC-BA DELEGADO DE POLÍCIA) No que diz respeito aos estudos de-
senvolvidos no âmbito da vitimologia, assinale a alternativa correta.
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a) O linchamento do autor de um crime por populares em uma rua pode ser classificado como
uma vitimização secundária e terciária.
b) A chamada da vítima na fase processual da persecução penal para ser ouvida sobre o crime,
por inúmeras vezes, é denominada de vitimização secundária.
c) A longa espera da vítima de um crime em uma delegacia de polícia para o registro do crime
é denominada de vitimização terciária.
d) A vítima só passa a ter um contorno sistemático em sua abordagem criminológica a partir
do fim da primeira guerra mundial, na segunda década do século XX.
e) As pesquisas de vitimização têm por objetivo principal mensurar a vitimização secundária.
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GABARITO
1. d 37. c
2. e 38. e
3. a 39. c
4. c 40. b
5. e 41. b
6. e 42. d
7. C 43. e
8. b 44. b
9. a 45. C
10. a 46. d
11. a 47. e
12. d 48. e
13. a 49. b
14. c 50. C
15. d 51. C
16. e 52. c
17. d 53. a
18. d 54. b
19. d 55. e
20. b 56. b
21. d 57. d
22. b 58. d
23. e 59. b
24. a
25. b
26. c
27. a
28. c
29. c
30. e
31. b
32. d
33. a
34. b
35. c
36. e
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GABARITO COMENTADO
001. (VUNESP/2018/PC-SP/AGENTE DE TELECOMUNICAÇÕES POLICIAL) Na classifica-
ção de Benjamin Mendelsohn, a vítima imaginária é considerada uma vítima
a) mais culpada que o infrator.
b) voluntária ou tão culpada quanto o infrator.
c) completamente inocente ou ideal.
d) unicamente culpada.
e) de culpabilidade menor ou por ignorância.
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a) Benjamin Mendelsohn.
b) Enrico Ferri.
c) Cesare Bonesana.
d) Cesare Lombroso.
e) Raffaele Garofalo.
Benjamin Mendelsohn foi um advogado israelita que utilizou o termo Vitimologia em 1947
para descrever o sofrimento dos judeus nos campos de concentração de Alemanha nazista.
Segundo sua classificação, a vítima pode ser: totalmente inocente (ou ideal); menos culpada
que o delinquente (ou vítima por ignorância); tão culpada quanto o delinquente (ou voluntária);
mais culpada que o delinquente (ou provocadora); e única culpada. Nas letras B, D e E constam
autores positivistas, preocupados com o delinquente, e não com a vítima. Na letra C, Cesare
Bonesana, ou Marquês de Beccaria, filia-se à escola clássica, que dava enfoque ao crime, e
não à vítima.
Letra a.
A pessoa embriagada que atravessa uma rua movimentada se colocou (ainda que sem ter
consciência) em situação de completo risco. Por isso, a melhor classificação para esse caso é
de vítima como única culpada. Na letra A, a vítima que concorre para a produção do delito pode
ser a vítima por ignorância, a vítima tão culpada quanto o delinquente (ou voluntária), a vítima
mais culpada que o delinquente ou a vítima como única culpada. Mendelsohn não emprega
o termo vítima resistente. Na letra B, a vítima ideal é a vítima totalmente inocente. Na letra D,
a vítima por ignorância é a vítima menos culpada que o delinquente, mas que age de maneira
imprudente e participa, portanto, do evento criminoso. Na letra E, a vítima completamente ino-
cente é a vítima ideal, que não concorre de forma alguma para o evento criminoso.
Letra c.
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Em 1901, Hans Gross, jurista austríaco, analisou a ingenuidade das vítimas de fraude em traba-
lho considerado pioneiro na área da Vitimologia.
Letra a.
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Benjamin Mendelsohn foi um advogado israelita que utilizou o termo Vitimologia em 1947 para
descrever o sofrimento dos judeus nos campos de concentração de Alemanha nazista. Segun-
do sua classificação, a vítima pode ser: totalmente inocente (ou ideal); menos culpada que o
delinquente (ou vítima por ignorância); tão culpada quanto o delinquente (ou voluntária); mais
culpada que o delinquente (ou provocadora); e única culpada.
Letra c.
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d) secundária
e) primária.
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Vitimologia
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c) Émile Durkheim.
d) Benjamin Mendelsohn.
e) Cesare Bonesana.
Benjamin Mendelsohn, advogado israelita, utiliza o termo Vitimologia em 1947 para descrever
o sofrimento dos judeus nos campos de concentração de Alemanha nazista e é considerado
o pai da Vitimologia.
Letra d.
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A Vitimologia se dedica a jogar luz sobre o papel fundamental que a vítima desempenha no
fenômeno criminal. Analisa a contribuição do ofendido como causa ou condição do evento
delituoso. Preocupa-se com a vítima, buscando restaurar o seu papel no cenário criminal. Na
letra A, um dos papeis da Vitimologia é, precisamente, tentar entender qual o papel da vítima no
delito. Na letra C, a Vitimologia nasceu como ramo da Criminologia. As formulações de Men-
delsohn, aliás, partem de um conceito amplo de vítima, que extrapola a mera noção de vítimas
de delitos. Na letra D, a Vítima nasceu como ramo da Criminologia a partir das formulações de
Benjamin Mendelsohn, no contexto pós Segunda Guerra Mundial. Na letra E, o comportamen-
to da vítima pode ou não contribuir para a ocorrência do crime. Tanto é assim que na própria
classificação de Mendelsohn está prevista a categoria de vítima totalmente inocente, também
chamada de vítima ideal, que não tem “culpa” na infração penal, ou seja, não concorre de forma
alguma para o evento.
Letra b.
A questão adotou o conceito de vitimização terciária de Nestor Sampaio Penteado Filho. Para
ele, a vitimização terciária consiste na “falta de amparo dos órgãos públicos às vítimas; nesse
contexto, a própria sociedade não acolhe a vítima, e muitas vezes a incentiva a não denunciar
o delito às autoridades, ocorrendo o que se chama de cifra negra”.
Letra d.
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O conceito de vitimização terciária está, todavia, em fase de concretização, não havendo con-
senso sobre o significado do termo. Para alguns autores, ocorre a vitimização terciária quan-
do a vítima do crime é abandonada ou ridicularizada em seu meio social: pela comunidade,
familiares, amigos etc. Há uma exaltação do criminoso e humilhação da vítima primária pe-
las instâncias informais de controle social. Como decorrência da vitimização terciária pode
haver o aumento da subnotificação criminal, ou seja, da cifra negra. As vítimas podem, por
exemplo, optar por não registrar uma ocorrência diante do medo de serem ridicularizadas no
grupo social. Esse conceito de vitimização terciária tem sido o mais frequentemente adotado
pela Vunesp.
Letra e.
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A Lei n. 9.099/1995, Lei dos Juizados Especiais Criminais, marcou uma mudança paradigmáti-
ca no ordenamento jurídico brasileiro em direção à consideração da vítima na relação delitiva.
Seu art. 62 dispõe expressamente que o processo perante o Juizado Especial orientar-se-á
pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade,
objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de
pena não privativa de liberdade.
Letra a.
Na classificação de Benjamin Mendelsohn, a vítima pode ser: totalmente inocente (ou ideal);
menos culpada que o delinquente (ou vítima por ignorância); tão culpada quanto o delinquente;
mais culpada que o delinquente (ou provocadora); e única culpada (ou agressora, simulada,
simuladora, imaginária ou pseudovítima). A vítima tão culpada quanto o delinquente é aquela
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que dá causa ao resultado, como, por exemplo, no caso da rixa (briga), da eutanásia, da dupla
suicida, do aborto consentido e dos crimes de estelionato em que a vítima tenta se aproveitar
de uma situação pretensamente muito vantajosa que lhe é apresentada. O golpe do bilhete
premiado se encaixa nesse último exemplo de vítima tão culpada quanto o delinquente.
Letra c.
Não há, todavia, consenso sobre o conceito de vitimização terciária. Para a linha de pensa-
mento adotada pela Vunesp, ocorre a vitimização terciária quando a vítima primária do crime
é abandonada ou ridicularizada em seu meio social: pela comunidade, familiares, amigos etc.
Há uma exaltação do criminoso e humilhação da vítima primária pelas instâncias informais de
controle social.
Letra c.
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Nas primeiras formulações vitimológicas, havia a tendência de analisar os crimes mais co-
muns e de considerar, de certa maneira, a vítima como culpada pelo delito. Era uma Vitimolo-
gia carregada de preconceitos, pré-julgamentos e que tenderia à coculpabilização da vítima.
Atualmente, a tendência da Vitimologia é de adotar um direcionamento mais humanitário ou
solidarista, com a nítida preocupação de conferir à vítima um papel de destaque nos procedi-
mentos de apuração de responsabilidades, de proteger seus interesses e sua dignidade, e de
ressarcir seus prejuízos.
Letra e.
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acionada a polícia, quando então foi lavrado boletim de ocorrência e tomadas as providências
médico-legais, que constatou as lesões sofridas.
II – Após o fato, Maria passou a perceber que seus vizinhos, que já sabiam do ocorrido, a olha-
vam de forma sarcástica, como se ela tivesse dado causa ao fato e até tomou conhecimento
de comentários maldosos, tais como: “também com as roupas que usa (...)”, “também como
anda, rebolando para cima e para baixo” e etc., o que a deixou profundamente magoada, humi-
lhada e indignada.
III – Em novembro, fora à Delegacia de Polícia prestar informações, quando relatou o ocorrido,
relembrando todo o drama vivido. Em dezembro fora ao fórum da Comarca, onde mais uma
vez, Maria foi questionada sobre os fatos, revivendo mais uma vez o trauma do ocorrido.
Os acontecimentos I, II e III relatam, respectivamente processos de vitimização:
a) primária, secundária e terciária.
b) primária, terciária e secundária.
c) secundária, primária e terciária.
d) terciária, primária e secundária.
e) secundária, terciária e primária.
No item I, o foco principal é o abuso sexual sofrido por Maria. Nesse momento ela passou por
um processo de vitimização primária, que é aquela em que é aquela em que o sujeito é atingido
pela prática do crime ou de um fato traumático. No item II, o foco principal é a humilhação por
que passou Maria em seu meio social. Nesse momento, ela foi alvo de vitimização terciária,
que, em uma de suas acepções, diz respeito ao processo de ridicularização que a vítima primá-
ria do crime sofre em seu meio social. Há uma exaltação do criminoso e humilhação da vítima
primária pelas instâncias informais de controle social. No utem III, o foco principal está no fato
de Maria ter que reviver o trauma, relatando os fatos mais de uma vez. Trata-se, nesse ponto,
de um processo de vitimização secundária: a vítima primária é objeto da insensibilidade, do
desinteresse e da atuação meramente burocrática dos operadores do sistema criminal estatal.
Trata-se dos custos adicionais impostos à vítima primária em função da atuação das instân-
cias de controle social formal: espera em delegacia, tomada de depoimento, comparecimento
a inúmeros atos processuais, identificação dos suspeitos, perícia, etc. O sistema penal coisifi-
ca a vítima, tratando-a como mero objeto e não como pessoa titular de direitos e merecedora
de dignidade.
Letra b.
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d) à porcentagem de crimes não solucionados ou punidos porque, num sistema seletivo, não
caíram sob a égide da polícia ou da justiça ou da administração carcerária, porque nos presí-
dios ‘não estão todos os que são’.
e) à porcentagem de criminalização da pobreza e à globalização, pelas quais o centro exerce
seu controle sobre a periferia, cominando penas e criando fatos típicos de acordo com seus
interesses econômicos, determinando estigmatização das minorias.
A cifra negra diz respeito à parcela de crimes que não chegam ao conhecimento da polícia, da
justiça ou da administração carcerária e que, portanto, não são solucionados ou punidos. Tra-
ta-se, portanto, da diferença entre a criminalidade real e a criminalidade conhecida. Ela se deve
a vários fatores, dentre os quais se encontra a seletividade do sistema penal, que direciona sua
engrenagem para a parcela mais marginalizada da população. Assim, nem todas as pessoas
que praticam atos definidos como crimes caem nos filtros do controle social formal.
Letra d.
As cifras negras dizem respeito aos crimes que deixam de ser reportados às instâncias poli-
ciais, dando margem à subnotificação criminal. Quando as cifras negras são muito significati-
vas, as estatísticas deixam de ser confiáveis e o Poder Público encontra séria dificuldade em
equacionar os problemas, já que não conhece sua real dimensão. O maior prejudicado, nesse
caso, é a própria sociedade. Há outras duas alternativas na questão que dizem respeito a cifras
criminológicas. Na letra B, os crimes dos poderosos, também conhecidos como delitos do co-
larinho branco, quando ficam impunes, configuram a chamada cifra dourada. Na letra E, temos
um exemplo de cifra amarela, que corresponde aos casos em que as vítimas sofreram algum
tipo de violência praticada por servidor público e deixaram, por temor, de denunciar o ilícito às
unidades competentes pela apuração. Nas letras C e D, como não é mencionada a diferença
entre a criminalidade real e a criminalidade conhecida, não há sequer que se falar em cifras.
Letra a.
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Vítima imune é aquela que, por ser famosa ou por ocupar algum posto, cargo ou função de
prestígio, os delinquentes evitam vitimar, diante da repercussão que o caso pode ganhar. É
o caso de padres, jornalistas, personalidades, políticos etc. Na letra A, a vítima que deixa de
processar o autor de delito por saber que a perseguição do agressor seria mais infrutífera ou
danosa à própria vítima é denominada vítima indefesa. Na letra C, vítima falsa é aquela que,
agindo por vingança ou interesse pessoal, imputa falsamente a alguém a prática de um crime
contra si, mesmo não tendo sido vítima de delito algum. A vítima de estelionato pode ser, na
classificação de Mendelsohn, catalogada como vítima tão culpada como o criminoso. Na letra
D estão descritas situações de legítima defesa e estrito cumprimento do dever legal, que são
causas de exclusão da ilicitude, não sendo possível dizer que a vítima se transformou em autor
de um delito. Ademais, vítima que se converte em autor não é uma classificação consagrada
na Vitimologia. Na letra E, a pessoa que possui uma tendência natural de se tornar vítima é
denominada vítima nata.
Letra b.
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A vítima falsa ou simuladora é aquela que, agindo por vingança ou interesse pessoal, imputa
falsamente a alguém a prática de um delito contra si, mesmo não tendo sido vítima de crime
algum. Ela simula um delito, se autovitimiza, para obter benefícios. Na letra A está descrita a
vítima voluntária. Na letra B, a vítima indefesa. Na letra D, a vítima nata. E na letra E, a vítima
omissa ou ilhada.
Letra c.
Vítima atuante ou inconformada é aquela que busca determinadamente a punição dos autores
e a indenização dos danos sofridos, comunicando diligentemente o fato criminoso às autori-
dades competentes.
Letra e.
O conceito de cifras negras refere-se à parcela de crimes que não integra as contagens oficiais.
Trata-se da diferença entre a criminalidade real e a criminalidade conhecida. São os crimes que
não chegam ao conhecimento das autoridades, pelas mais diversas razões. Por isso as esta-
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tísticas criminais não refletem a criminalidade real, mas apenas uma parte dela, restando uma
cifra negra, oculta, difícil de decifrar. As pesquisas de vitimização, ou seja, realizadas com a po-
pulação em geral questionando se foram vítimas de algum crime, procuram suprir essa lacuna.
Letra c.
Em Criminologia, as cifras são usadas para expressar uma parcela de criminalidade que, pelas
mais variadas razões, não chegam ao conhecimento das autoridades ou não são apuradas, em
consequência do efeito funil da seleção quantitativa. As cifras douradas correspondem aos
crimes dos poderosos praticados no contexto laboral, também conhecidos como delitos do
colarinho branco, que ficam impunes. A alternativa E não fala da diferença entre criminalidade
real e criminalidade conhecida, mas é a que melhor se encaixa na questão, já que os crimes
de colarinho de branco não são crimes contra a dignidade (em geral são crimes de aspecto
econômico, contra a ordem financeira, contra a relação de consumo, etc.); não são crimes de
menor potencial ofensivo, pois são dotados de penas altas, dada a gravidade da conduta e o
número de pessoas que podem ser lesadas; não estão necessariamente relacionados à cifra
cinza, que consiste nos crimes que são de conhecimento das instâncias policiais, porém que
não chegam a virar um processo penal; não estão relacionados com à cifra amarela, que diz
respeito aos casos em que as vítimas sofreram algum tipo de violência praticada por servidor
público e deixaram, por temor, de denunciar o ilícito às unidades competentes pela apuração;
e, por fim, os crimes de colarinho branco estão, necessariamente, ligados ao conceito de ci-
fra dourada.
Letra e.
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d) Kurt Schneider.
e) Hans Gross.
Crimes que ocorrem, mas não chegam ao conhecimento do poder estatal, integram o que se
chama de “cifra negra” ou cifra oculta da criminalidade, que também pode ser definida como a
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A cifra dourada diz respeito delitos cometidos pelos poderosos que ficam impunes. Quando
alguém dos altos estratos sociais comete um crime contra o sistema financeiro ou um crime
tributário, por exemplo, é possível que fique sem punição porque o sistema penal é desenhado
para selecionar a criminalidade de rua, cometida pelos pobres. A sonegação fiscal é um exem-
plo de criminalidade da elite que, em muitos casos, fica impune e integra a cifra dourada. A
cifra dourada é um subtipo da cifra negra, que é, de maneira mais genérica, a diferença entre a
criminalidade real e a criminalidade conhecida.
Letra b.
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fenômeno, de apenas uma parcela dos crimes reais ser registrada oficialmente pelo Estado, é
o que a criminologia chama de cifra negra da criminalidade.
A cifra negra corresponde àquela parcela de crimes que não integra as contagens oficiais. São
os crimes que não chegam ao conhecimento das autoridades, pelas mais diversas razões. Os
crimes sexuais apresentam altíssimas taxas de subnotificação. Acredita-se que a diferença
entre os crimes sexuais praticados e aqueles que são comunicados é de 90%. Por isso as esta-
tísticas criminais não refletem a criminalidade real, mas apenas uma parte dela, restando uma
cifra negra, oculta, difícil de decifrar. As pesquisas de vitimização, ou seja, realizadas com a po-
pulação em geral questionando se foram vítimas de algum crime, procuram suprir essa lacuna.
Certo.
A cifra negra corresponde àquela parcela de crimes que não integra as contagens oficiais. São
os crimes que não chegam ao conhecimento das autoridades, pelas mais diversas razões. A
omissão das vítimas, por temor de represália, é um dos motivos que estão na base das cifras
negras. Outros motivos podem levar à subnotificação, como a revitimização, a descrença no
aparato repressivo, a falta de recursos ou de tempo, a sensação de vergonha e humilhação
no meio social, o desconhecimento do modo de funcionamento das instâncias de controle
social etc.
Letra d.
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A questão versava sobre o conceito de cifra negra, que é aquela parcela de crimes que não in-
tegra as contagens oficiais. São os crimes que não chegam ao conhecimento das autoridades,
pelas mais diversas razões. Tecnicamente, cifra negra não diz respeito somente aos crimes de
rua, mas a todos tipos de crime. Analisando as demais alternativas, no entanto, fica claro que
a letra E contém a melhor resposta. Na letra A, a ausência de registro de práticas antissociais
do poder político e econômico é a cifra dourada, um subtipo da cifra negra. Nas letras B, C e D,
a criminalidade real é a totalidade de delitos cometidos e não a parcela de crimes que chegou
ao conhecimento do Estado.
Letra e.
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O redescobrimento da vítima teve lugar a partir da 2ª Guerra Mundial, em especial com os es-
tudos de Benjamin Mendelsohn, advogado israelita que utilizou o termo Vitimologia em 1947
para descrever o sofrimento dos judeus nos campos de concentração de Alemanha nazista.
Letra e.
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sistema penal coisifica a vítima, tratando-a como mero objeto e não como pessoa titular de
direitos e merecedora de dignidade.
Letra b.
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crédito na palavra da vítima, o descaso com seu sofrimento físico e(ou) mental, o desrespeito
à sua privacidade, o constrangimento e a responsabilização da vítima pela violência sofrida.
A sentença trasncrita traz exemplo de vitimização secundária, também conhecida como revi-
timização ou sobrevitimização. Na vitimização secundária a vítima primária é objeto da insen-
sibilidade, do desinteresse e da atuação meramente burocrática dos operadores do sistema
criminal estatal. São, portanto, custos adicionais impostos à vítima primária em função da
atuação das instâncias de controle social formal: espera em delegacia, tomada de depoimen-
to, desrespeito à privacidade (procedimentos invasivos, perguntas sobre sua vida pessoal),
comparecimento a inúmeros atos processuais, identificação dos suspeitos, procedimentos de
perícia etc. A vítima se sente maltratada e negligenciada pelo sistema legal, que não dispensa
um tratamento condizente com seu papel e que, por vezes, desconfia de seu relato ou a respon-
sabiliza pelo delito sofrido. O sistema penal coisifica a vítima, tratando-a como mero objeto e
não como pessoa titular de direitos e merecedora de dignidade.
Certo.
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A Organização das Nações Unidas adotou, em 1985, a Declaração dos Princípios Básicos de
Justiça Relativos às Vítimas da Criminalidade e de Abuso de Poder, um dos principais diplo-
mas internacionais no que diz respeito aos direitos das vítimas. Na letra B, os obstáculos e
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sofrimentos vivenciados pela vítima em decorrência da atuação do controle social formal for-
mam a vitimização secundária. Na letra C, a Vitimologia passa a ser sistematizada no Brasil
sobretudo na década de 1980, com a fundação da Sociedade Brasileira de Vitimologia (SBV),
no Rio de Janeiro, em 1984. Na letra D, a agressão infligida à vítima pelo autor do crime é
denominada vitimização primária. Na letra E, o termo Vitimologia foi cunhado por Benjamin
Mendelsohn, egresso do campo de concentração nazista, no contexto de término da Segunda
Guerra Mundial.
Letra a.
054. (VUNESP/2018/PC-BA DELEGADO DE POLÍCIA) No que diz respeito aos estudos de-
senvolvidos no âmbito da vitimologia, assinale a alternativa correta.
a) O linchamento do autor de um crime por populares em uma rua pode ser classificado como
uma vitimização secundária e terciária.
b) A chamada da vítima na fase processual da persecução penal para ser ouvida sobre o crime,
por inúmeras vezes, é denominada de vitimização secundária.
c) A longa espera da vítima de um crime em uma delegacia de polícia para o registro do crime
é denominada de vitimização terciária.
d) A vítima só passa a ter um contorno sistemático em sua abordagem criminológica a partir
do fim da primeira guerra mundial, na segunda década do século XX.
e) As pesquisas de vitimização têm por objetivo principal mensurar a vitimização secundária.
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A vítima ideal é, na classificação de Mendelsohn, a vítima totalmente inocente, que não tem
“culpa” na infração penal, ou seja, não concorre de forma alguma para o evento, como ocorre
no caso do enunciado. Na letra A, a vítima tão culpada quanto o delinquente (ou voluntária, é
aquela que dá causa ao resultado, como, por exemplo, no caso da rixa (briga), da eutanásia,
da dupla suicida, do aborto consentido e dos crimes de estelionato em que a vítima tenta se
aproveitar de uma situação pretensamente muito vantajosa que lhe é apresentada. Na letra C,
a vítima mais culpada que o delinquente (ou vítima por provocação) é aquela que o provoca
o agressor, como, por exemplo, a vítima de um homicídio privilegiado praticado após injusta
provocação. Na letra D, a vítima como única culpada (vítima agressora, simulada, simuladora,
imaginária ou pseudovítima) é aquela que se coloca em situação de completo risco, como um
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agressor que acaba sendo vítima de legítima defesa. Na letra E, a vítima de culpabilidade me-
nor (ou vítima por ignorância), é menos culpada que o delinquente, como, por exemplo, aquele
que anda com a bolsa aberta um lugar perigoso, sendo imprudente.
Letra b.
Vítima latente ou potencial é aquela que aquela que apresenta comportamento, temperamento
ou estilo de vida que atrai o delinquente. Possui, portanto, predisposição para se tornar vítima,
atraindo criminosos, como é o caso de prostitutas e usuários de drogas. Na letra A, vítima
omissa é aquela que se afasta das relações sociais e, por não participar da sociedade e viver
isoladamente, deixa de relatar às autoridades competentes seus direitos violados. Na letra B,
vítima falsa ou simuladora é aquela que, agindo por vingança ou interesse pessoal, imputa
falsamente a alguém a prática de um delito contra si, mesmo não tendo sido vítima de crime
algum. Na letra C, pseudovítima é a vítima exclusivamente culpada, de que é exemplo a pessoa
que se coloca em situação de completo risco, como agressor que acaba sendo vítima de legíti-
ma defesa. Na letra E, a vítima atuante ou inconformada é aquela que busca determinadamen-
te a punição dos autores e a indenização dos danos sofridos, comunicando diligentemente o
fato criminoso às autoridades competentes.
Letra d.
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dade de locomoção ou lesão à sua reputação, configurando, deste modo, uma modalidade de
assédio moral.
b) A teoria de anomia, a teoria da associação diferencial e a escola de Chicago são consideras
teorias de consenso.
c) A figura criminológica conhecida como “síndrome da mulher de potifar” pode ser utilizada
como técnica de aferição da credibilidade da palavra da vítima nos crimes de conotação sexual.
d) A “síndrome de Londres” se evidencia quando a vítima, como instinto defensivo, passa a
apresentar um comportamento excessivamente lamurioso, demasiadamente submisso e com
pedido contínuo de misericórdia.
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Vitimologia
Mariana Barrerias
e) o efetivo respeito ao garantismo penal é capaz de reverter o caráter seletivo do sistema pe-
nal brasileiro e sua consequente gestão autoritária da miséria.
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REFERÊNCIAS
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teóricos. 5 ed. São Paulo: RT, 2006.
HENTIG, Hans Von. The Criminal & His Victim: studies in the Sociobiology of Crime. [s.l.]: Ar-
chon Books, 1967.
HENTIG, Hans Von. Remarks on the Interaction of Perpetrator and Victim. In: Journal of Crimi-
nal Law and Criminology (1931-1951). 31(3):303-309; Northwestern University Press, 1940.
KOSOVSKI, Ester. Vitimologia e Direitos Humanos: uma boa parceria. Disponível em <http://
sbvitimologia.blogspot.com.br/>. Acesso em 17 abr. 2018.
KOSOVSKI, Ester; SÉGUIN, Elida. Temas de Vitimologia. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000.
KOSOVSKI, Ester; PIEDADE Jr., Heitor; ROITMAN, Riva (Orgs.) Estudos de Vitimologia. Rio de
Janeiro: Letra Capital, 2014.
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nationale de criminologie et de police technique, v. 26, n. 3, p. 267-276, jui./sep. 1973.
MOREIRA Filho, Guaracy. Vitimologia: o papel da vítima na gênese do delito. 2 ed. São Paulo:
Editora Jurídica Brasileira, 2004.
PENTEADO Filho, Nestor Sampaio. Manual Esquemático de Criminologia. 7. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.
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Mariana Barreiras
Servidora pública federal desde 2009. Graduada em Direito e Mestre em Direito Penal e Criminologia pela
Universidade de São Paulo (USP). Professora de Legislação de Interesse da Atividade de Inteligência, Direito
Penal e Criminologia em cursos preparatórios para concurso público. Autora do livro “ABIN - Legislação de
Inteligência Sistematizada e Comentada”, publicado pela editora JusPodivm. Foi Assessora Técnica da
Comissão Nacional da Verdade da Presidência da República (2012 a 2014). Foi Agente de Promotoria do
Ministério Público do Estado de São Paulo (2006-2009). Lecionou as disciplinas Direito Penal e Criminologia
na Faculdade de Direito da USP, dentro do Programa de Aperfeiçoamento do Ensino. Foi membro de diversas
coordenações do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, tendo orientado pesquisas do Laboratório de
Iniciação Científica. Coautora do livro “Criminologia e os problemas da atualidade” e autora de artigos nos
temas de Direito Penal e Criminologia.
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