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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

LEI DE CRIMES HEDIONDOS

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LEI DE CRIMES HEDIONDOS

Sumário
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI DE CRIMES HEDIONDOS.............................................................................. 3
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................. 4
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA................................................................................................................................... 4
3. CRITÉRIOS PARA A DEFINIÇÃO DE HEDIONDEZ ............................................................................................. 5
4. ANÁLISE DO ROL DE CRIMES HEDIONDOS .................................................................................................... 7
5. CRIMES HEDIONDOS PREVISTOS NO ART. 1º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 8.072/90 ........................... 28
5.1 Crimes Equiparados a Hediondos .......................................................................................................... 35
5.1.1 Tráfico de Drogas ............................................................................................................................ 36
5.1.2 Tortura ............................................................................................................................................ 36
5.1.3 Terrorismo ...................................................................................................................................... 37
6. ESPECIFICIDADES DOS CRIMES HEDIONDOS ............................................................................................... 37
6.1 Insuscetibilidade de Graça, Anistia e Indulto ........................................................................................ 37
6.2 Insuscetibilidade de Fiança .................................................................................................................... 38
6.3 Regime Inicial Fechado para o Cumprimento da Pena Privativa de Liberdade ..................................... 38
6.4 Critérios Diferenciados para Concessão de Livramento Condicional. ................................................... 41
6.5 Progressão de Regime ........................................................................................................................... 41
6.6 Direito de Recorrer em Liberdade ......................................................................................................... 44
6.7 Estabelecimentos Penais De Segurança Máxima .................................................................................. 44
6.8 Prioridade no Trâmite dos Processos .................................................................................................... 45
7. PRISÃO TEMPORÁRIA E CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS ................................................................. 45
8. CAUSA DE AUMENTO DO §9º DA LEI DE CRIMES HEDIONDOS ................................................................... 46

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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI DE CRIMES HEDIONDOS

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

LEI 8072/90 INTEIRA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL
⦁ Art. 5º, XLIII, CF/88
⦁ Art. 142 e 144, CF/88

CÓDIGO PENAL
⦁ Art. 121, §2º e 2º-A
⦁ Art. 129, §2º e §3º
⦁ art. 155, § 4º-A (Cuidado para não confundir com o art. 155, §7º)
⦁ Art. 157, §2º, V
⦁ Art. 157, §2º-A, I
⦁ Art. 157, §2º-B e §3º
⦁ Art. 158, §3º (art. 158, §2º não é mais considerado hediondo)
⦁ Art. 159, §§1º, 2º e 3º
⦁ Art. 213, caput, §§1º e 2º
⦁ art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o
⦁ art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º
⦁ art. 267, § 1o (caput não é hediondo)
⦁ art. 273, caput e § 1º, § 1º-A e § 1º-B

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 1º, 2º e 3º da Lei 2889/56
⦁ Art. 16, §2º, Estatuto do Desarmamento
⦁ Art. 17 e 18, Estatuto do Desarmamento
⦁ Lei 9455/97 (Lei de tortura – crime equiparado a hediondo)
⦁ Lei 13.260/16 (Lei de terrorismo – crime equiparado a hediondo)
⦁ Lei 11.343/06 (Lei de tráfico de drogas – crime equiparado a hediondo)

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!


⦁ Art. 5º, XLIII, CF/88
⦁ Art. 155, § 4º-A e 7º, CP
⦁ Art. 157, CP
⦁ Art. 158, §3º, CP

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⦁ Art. 16, §2º Estatuto do Desarmamento

PRINCIPAIS ARTIGOS DA LEI 8072/90:


⦁ Art. 1º, caput, inc. II, III, IV e IX
⦁ Art. 1º, parágrafo único (muito importante!)
⦁ Art. 2º, inc. I e II
⦁ Art. 4º (leitura conjunta com a lei 7960/89)

1. INTRODUÇÃO

A definição semântica do termo hediondo está ligada a tudo aquilo que apresenta deformidade, que
causa horror, repulsa ou aversão, sendo, portanto, os crimes dessa natureza aqueles que, por algum critério
específico, são considerados de alto potencial de causar dano à sociedade.
Tal orientação encontra guarida na Constituição, uma vez que o artigo 5º, em seu inciso XLIII orienta
a criação de uma forma de tratamento mais enérgica do estado para com os agentes ativos dos crimes desta
natureza.

Art. 5º, CF. (...) XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça
ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Trata-se de verdadeiro mandado de recrudescimento e criminalização por parte do Poder


Constituinte Originário, que impõe um regime jurídico mais gravoso aos crimes de tortura, tráfico de
entorpecentes e terrorismo, assim como aos delitos – definidos em lei - como crimes hediondos.

Obs.: Dos Mandados Constitucionais de Criminalização decorre a diminuição da liberdade de


conformação do legislador e de interpretação do julgador, evitando normas ou interpretações que ensejam
insuficiente proteção estatal.
Obs.: Estamos diante de uma norma constitucional de eficácia limitada e de aplicabilidade mediata,
pois depende de complementação por lei ordinária.

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA

A nossa Constituição Federal é de 1988 e a Lei de Crimes Hediondos é de 1990, e há uma razão
histórica para isso.
As décadas de 80 e 90 no Brasil, especificamente no Rio de Janeiro, foram marcadas por uma onda
de criminalidades absurdamente violentas. No final da década de 80, houve uma onda de extorsões mediante
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sequestro, instalando uma enorme criminalidade. (Curiosidade: dois fatos marcaram a história da
criminalidade no Rio de Janeiro nesse interregno temporal: o sequestro de Roberto Medina juntamente com
o sequestro do empresário Abílio Diniz.)
Foi dentro desse contexto histórico que a Constituição trouxe os crimes etiquetados de hediondos e
equiparou três crimes aos crimes hediondos: tráfico, tortura e terrorismo. E, apenas dois anos depois, surgiu
a Lei de Crimes Hediondos, que nada mais é do que resultado de manifestações de movimentos penais no
mundo inteiro, mais especificamente nos Estados Unidos.
O primeiro movimento foi capitaneado por Ralf Dahrendorf chamado de “Movimento de Lei e
Ordem” que surgiu como consequência do movimento do Direito Penal Máximo buscando reprimir o
aumento dos índices de criminalidade. O Direito Penal Máximo apresenta fundamento oposto ao do Direito
Penal Mínimo, pois entende ser o Direito Penal a solução para todos os problemas da sociedade, ocasionando
o aumento excessivo da tutela penal. Assim, é possível dizer que tal movimento baseia-se na ideia de
repressão e castigo, e de que somente leis endurecidas, que imponham longas penas privativas de liberdade
ou até mesmo a pena de morte, possuem aptidão para controlar e inibir a prática de crimes.
Soma-se a isso estudo feito em 1982 realizado por dois cientistas chamados James Wilson e George
Kelling que criaram a “The broken Windows theory” (Teoria das Janelas Quebradas), a qual estabelecia uma
relação entre desordem e criminalidade.
Foi nesse clima de Direito Penal do Terror que surgiu a Lei de Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90),
trazendo preceitos severos, tanto de natureza penal quanto de natureza processual penal.

3. CRITÉRIOS PARA A DEFINIÇÃO DE HEDIONDEZ

Em regra, a doutrina e a análise do direito comparado indicam a existência de três critérios possíveis
para definir um crime como hediondo:
● Critério legal – Somente o legislador pode definir os delitos considerados hediondos, que devem estar
previstos em um rol exaustivo e com previsão legal.
● Critério judicial – Cabe ao juiz definir os delitos classificados como hediondos, a luz das circunstâncias
em concreto.
● Critério misto – Estabelece ao legislador a atribuição de um rol exemplificativo de delitos de natureza
hedionda, podendo o juiz analogicamente atribuir hediondez a outros delitos, de acordo com as
circunstâncias em concreto.

Vamos esquematizar?
SISTEMA LEGAL SISTEMA JUDICIAL SISTEMA MISTO
Compete ao legislador, em um O juiz quem, na apreciação do caso No primeiro momento, o legislador
rol taxativo, enumerar quais os concreto, decide se a infração é apresenta um rol exemplificativo de
delitos considerados hediondos. hedionda ou não. O juiz analisando o crime hediondos, permitindo ao juiz,

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Será hediondo aquilo que o caso concreto ele irá determinar se o na análise do caso concreto
legislador disse em um rol caso é hediondo ou não. Apreciação encontrar outros fatos
taxativo. Sistema adotado pelo do caso concreto. assemelhados. Trabalha com a
Brasil. interpretação analógica.

Crítica: Crítica: Crítica:


O sistema Legal trabalha com a Não traz a segurança jurídica, Reúne o que tem de ruim nos dois
gravidade abstrata, ao invés de podemos ser surpreendidos com um outros sistemas.
adotar a gravidade concreta crime considerado hediondo por
(ignora a gravidade do crime no análise do juiz. Fere o princípio da
caso concreto). taxatividade ou mandado de certeza.
Arbítrio do Juiz.

Em respeito ao princípio da legalidade, o direito brasileiro utiliza o Critério ou Sistema legal. Ora,
não se pode admitir que a definição de um crime fique a cargo do magistrado e de seu livre convencimento,
de modo que só a lei pode decidir quais condutas são consideradas criminosas, bem como definir quais
crimes são hediondos. É o que se extrai do art.5º XLIII, CF.

Art. 5º, CF. (...) XLIII - a LEI considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça
ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Nesse sentido, a lei 8.072 estabeleceu, em seu art. 1°, um ROL TAXATIVO de crimes como hediondos,
que terão essa característica ainda que na modalidade tentada (pegadinha de prova!).

Obs.1: A natureza tentada de um crime rotulado pela lei não exclui a sua hediondez. A tentativa não
altera a classificação do crime como hediondo, funcionando como uma mera causa de redução de pena (1/3
a 2/3). Dessa forma, temos que, para fins de reconhecimento da natureza hedionda, pouco importa que o
delito seja consumado ou tentado. Isso, inclusive, está expresso no art. 1º, caput da Lei 8.072/90.

Art. 1º, Lei nº 8.072/90. São considerados hediondos os seguintes crimes, todos
tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal,
consumados ou tentados:

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Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte assertiva: À luz do que dispõe o direito brasileiro
sobre os crimes hediondos, somente recebem essa classificação os crimes consumados em razão do princípio
da reserva legal.

Obs.2: Crimes militares: o CPM traz o latrocínio. É crime hediondo? Não. Os crimes correspondentes
no CPM não são considerados hediondos por falta de previsão legal.

4. ANÁLISE DO ROL DE CRIMES HEDIONDOS

ATENÇÃO! O rol de crimes hediondos é frequentemente cobrado nas provas. Tem que decorar e saber
na ponta da língua!
ATENÇÃO! O rol de Crimes Hediondos foi substancialmente alterado pelo Pacote Anticrime! Portanto,
tenha atenção redobrada, pois certamente será objeto de questionamento nas próximas provas!

Art. 1º, Lei nº 8.072/90. São considerados hediondos os seguintes crimes, todos
tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal,
consumados ou tentados:

I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de


extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art.
121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII); (Redação dada pela Lei nº 13.964, de
2019)

I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal
seguida de morte (art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente
descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo
até terceiro grau, em razão dessa condição; (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)

II - roubo: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)


Circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso
V); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo
emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º)
Qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º); (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)

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III - extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão


corporal ou morte (art. 158, § 3º); (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

IV - Extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ 1o,


2o e 3o);

V - Estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o);

VI - Estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o);

VII - Epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o).

VII-A – (VETADO)

VII-B - Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a


fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a
redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998).

VIII - Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de


criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º).

IX - Furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause


perigo comum (art. 155, § 4º-A). (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou


consumados: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

I - o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de


outubro de 1956; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto


no art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei nº


10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

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IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição,


previsto no art. 18 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)

V - o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de crime


hediondo ou equiparado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Vamos começar esquematizando as mudanças que ocorreram com o Pacote Anticrime?

ANTES DA LEI 13.964/2019 DEPOIS DA LEI 13.964/2019


Homicídio (art. 121), quando praticado em atividade Homicídio (art. 121), quando praticado em atividade
típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por típica de grupo de extermínio, ainda que cometido
um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, §
incisos I, II, III, IV, V, VI e VII); 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII);
Latrocínio (art. 157, § 3º, in fine) Roubo:
a) Circunstanciado pela restrição de liberdade da
vítima (art. 157, § 2º, inciso V);
b) Circunstanciado pelo emprego de arma de fogo
(art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de
arma de fogo de uso proibido ou restrito (art.
157, § 2º-B);
c) Qualificado pelo resultado lesão corporal grave
ou morte (Latrocínio) (art. 157, § 3º);
Extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º); Extorsão qualificada pela restrição da liberdade da
vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte (art.
158, § 3º);

-------- Furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de


artefato análogo que cause perigo comum (art. 155,
§ 4ºA)

Consideram-se também hediondos: Consideram-se também hediondos:


⦁ Genocídio ⦁ Genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº
⦁ Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso 2.889, de 1º de outubro de 1956;
restrito ⦁ Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso
proibido, previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de
22 de dezembro de 2003;

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⦁ Comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art.


17 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
⦁ Tráfico internacional de arma de fogo, acessório
ou munição, previsto no art. 18 da Lei nº 10.826,
de 22 de dezembro de 2003;
⦁ Organização criminosa, quando direcionado à
prática de crime hediondo ou equiparado

CRIMES HEDIONDOS ≠ EQUIPARADOS A HEDIONDOS:


Os crimes de tortura, tráfico de drogas e terrorismo não são crimes hediondos, mas são crimes
equiparados a hediondos justamente por sofrerem as mesmas consequências legais ofertadas aos crimes
hediondos.

Inciso I: HOMICÍDIO (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que
cometido por um só agente, e HOMICÍDIO QUALIFICADO (art. 121, § 2º, I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII); (Redação
dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

Todas as hipóteses de homicídio qualificado são consideradas crime hediondo, incluindo o


feminicídio e o homicídio praticado contra agentes de segurança pública!
Questão relevante trata da possibilidade de consideração do homicídio simples como hediondo na
hipótese de ser praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que realizado por apenas um
agente.

Considerações importantes:
● Para ser hediondo, não precisa que o homicídio seja praticado por grupo de extermínio. Basta que seja
praticado em atividade típica de grupo de extermínio (ideia de limpeza social), o que permite a prática
por uma única pessoa (não exigindo o concurso de pessoas).

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte alternativa: É considerado crime hediondo o
homicídio, quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, exceto se cometido por um só
agente.

● Não abrange milícia privada, sob pena de configurar analogia “in malam partem”!!!
● Homicídio híbrido ou Homicídio qualificado-privilegiado: aquele em que há, ao mesmo tempo, a
presença de uma qualificadora e de uma hipótese de privilégio, não é considerado crime hediondo
pela jurisprudência.

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STJ: “(...) Entendendo não haver contradição no reconhecimento de qualificadora


de caráter objetivo (modo de execução do crime), e do privilégio, sempre de
natureza subjetiva”. (STF, 1º Turma, HC 89.921|PR). O homicídio qualificado-
privilegiado não pode ser considerado hediondo (STJ, HC 153.728|SP)

Relembrando...

É importante lembrar que só há “homicídio qualificado privilegiado” quando umas das causas
especiais de diminuição de pena coexiste com uma qualificadora objetiva (não é possível
coexistir com qualificadora de ordem subjetiva).

Causas especiais de diminuição de pena do homicídio:


- Motivo de relevante valor social.
- Motivo de relevante valor moral
- Sob domínio de violenta emoção, logo após injusta provocação da vítima.

Qualificadoras de ordem objetiva que admitem o privilégio:


- Emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou
de que possa resultar perigo comum;
- Por emboscada ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido;
- Feminicídio (embora para a doutrina majoritária se trate de uma qualificadora de ordem
subjetiva, os Tribunais Superiores entendem que se trata de uma qualificadora de ordem
objetiva).

Obs.: O Pacote Anticrime conferiu nova redação ao inciso I do art. 1º da Lei nº 8.072/90 para também
rotular como hediondo o crime de homicídio qualificado previsto no inciso "VIII - com emprego de arma de
fogo de uso restrito ou proibido" (art. 121, §2º, CP). O Presidente da República vetou essa alteração, contudo
o veto foi derrubado pelo Congresso Nacional. Portanto, o crime de homicídio cometido com o emprego de
arma de fogo de uso restrito ou proibido é considerado hediondo.

Esquematizando:
HOMICÍDIO SIMPLES. Regra - NÃO É hediondo.
Exceção- é hediondo quando praticado em atividade típica de grupo
de extermínio, ainda que cometido por um só agente.
HOMICÍDIO PRIVILEGIADO NÃO é hediondo

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HOMICÍDIO QUALIFICADO É hediondo.

HOMICÍDIO HÍBRIDO NÃO É crime hediondo.


(QUALIFICADO-PRIVILEGIADO)

Inciso I-A: LESÃO CORPORAL DOLOSA DE NATUREZA GRAVÍSSIMA (art. 129, § 2º) e LESÃO CORPORAL
SEGUIDA DE MORTE (art. 129, § 3º), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e
144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo
até terceiro grau, em razão dessa condição; (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)

A referida hipótese legal fora acrescentada com o advento da Lei 13.142/2015, que alterou o Código
Penal e a Lei de Crimes Hediondos.
A lesão corporal, em regra, não é crime hediondo. Atualmente, apenas em duas hipóteses é que a
lesão corporal será considerada crime hediondo:
1) Lesão corporal gravíssima
2) Lesão corporal seguida de morte

PEGADINHA– lesão corporal grave não será hediondo, somente a gravíssima!!!

Quando praticadas, no exercício da função ou em decorrência dela, contra:


⦁ Autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal
⦁ Integrantes do sistema prisional
⦁ Integrantes da Força Nacional de Segurança Pública
⦁ Contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição.

Obs.: Na eventualidade de um crime de lesão corporal gravíssima ou seguida de morte ser cometido
contra autoridades ou agentes não elencados no inciso I-A do art. 1º da Lei n. 8.072/90, como, por exemplo,
Promotores de Justiça ou membros do Poder Judiciário, não nos parece possível o etiquetamento como crime
hediondo, sob pena de indevida analogia “in malam partem”.
Esquematizando:

SÃO CRIMES REQUISITO 1: CONDIÇÃO DA VÍTIMA REQUISITO 2:


HEDIONDOS: NEXO FUNCIONAL
1) Autoridade, agente ou integrante da: Desde que o crime tenha sido
⦁ Forças Armadas praticado:

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Lesão corporal ⦁ Polícia Federal ⦁ No exercício da função da


gravíssima ⦁ Polícia Rodoviária Federal vítima; ou
(art. 129, §2º) ⦁ Polícia Ferroviária Federal ⦁ Em decorrência dela.
⦁ Polícias Civis
Lesão corporal seguida ⦁ Polícias Militares
de morte ⦁ Corpo de Bombeiros Militares
(art. 129, §3º) ⦁ Guardas Municipais (doutrina majoritária)
⦁ Sistema prisional
⦁ Força Nacional de Segurança Pública
⦁ Polícias Penais

2) Contra seu cônjuge, companheiro ou


parente consanguíneo até terceiro grau.

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte assertiva: o crime de lesão corporal dolosa, em
nenhuma de suas modalidades, é, para efeito da lei brasileira, hediondo.

Inciso II: ROUBO:


- Circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima
- Circunstanciado pelo emprego de arma de fogo ou pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou
restrito
- Qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte

Trata-se de inovação legislativa introduzida pelo “pacote anticrime” (Lei 13.964/19).


O Pacote Anticrime ampliou sobremaneira as hipóteses de hediondez relativas ao crime de roubo.
Antes da Lei 13.964/2019, o único crime de roubo que era considerado hediondo era o roubo qualificado
pela morte da vítima, chamado pela doutrina de latrocínio. Com o advento do Pacote Anticrime, outras
modalidades de roubo também passaram a ser etiquetadas como hediondas. Vejamos cada uma delas
separadamente:

Art. 157, CP - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave
ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à
impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. (...)

→ ROUBO CIRCUNSTANCIADO PELA RESTRIÇÃO DA LIBERDADE DA VÍTIMA


§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: (...)

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V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. (...)

De acordo com o disposto no art. 157, §2°, inciso V, do Código Penal, aumenta-se a pena do crime
de roubo de 1/3 (um terço) até metade se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua
liberdade.
Ressalta-se que a restrição da liberdade da vítima deve perdurar por tempo juridicamente
relevante, ou seja, o autor do delito deve permanecer com a vítima em seu poder por tempo superior àquele
estritamente necessário para a execução do roubo, quer para assegurar o produto do crime, quer para não
ser localizado pela Polícia.
De se notar que o roubo circunstanciado pela restrição da liberdade da vítima foi a única figura
delituosa constante do §2° do art. 157 do CP alçada à natureza hedionda.

→ ROUBO CIRCUNSTANCIADO PELO EMPREGO DE ARMA DE FOGO


Art. 157, CP. (...) § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; (...)

De acordo com o art. 157, §2º-A, inciso I, do CP, a pena do crime de roubo aumenta-se de 2/3 (dois
terços) se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo.
Atenção, a lei foi taxativa em dizer “arma de fogo”, logo, o emprego de violência ou grave ameaça
para subtração de coisa alheia com arma branca, não será considerado hediondo.

Vale salientar que a Lei 13.964/2019 reestabeleceu a majorante da pena, se a violência ou grave ameaça é
exercida com emprego de “arma branca”, nesse caso, porém, o delito não será considerado hediondo e
majorante será de 1/3 a ½.

→ ROUBO MEDIANTE O EMPREGO DE ARMA DE FOGO DE USO PROIBIDO OU


RESTRITO
Art. 157, CP. (...) § 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego
de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista
no caput deste artigo.

Se a violência ou grave ameaça for exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou
proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput do art. 157. Essa causa de aumento de pena funciona
como verdadeira norma penal em branco heterogênea, pois a definição do que seja arma de fogo de uso
restrito ou proibido está inserida em ato administrativo, notadamente no Anexo I do Decreto nº 10.030/19,
que aprova o “Regulamento de Produtos Controlados”.

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Art. 3º, Decreto nº 10.030/19. As definições dos termos empregados neste


Regulamento são aquelas constantes deste artigo e do Anexo III. (Redação dada
pelo Decreto nº 10.627, de 2021) Vigência
Parágrafo único. Para fins do disposto neste Regulamento, considera-se: (Incluído
pelo Decreto nº 10.627, de 2021) Vigência (...)
II - ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO - as armas de fogo automáticas, de qualquer
tipo ou calibre, semiautomáticas ou de repetição que sejam: (Incluído pelo
Decreto nº 10.627, de 2021) Vigência
a) não portáteis; (Incluído pelo Decreto nº 10.627, de 2021) Vigência
b) de porte, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum, atinja, na
saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou mil
seiscentos e vinte joules; ou (Incluído pelo Decreto nº 10.627, de 2021) Vigência
c) portáteis de alma raiada, cujo calibre nominal, com a utilização de munição
comum, atinja, na saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e duzentas
libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules; (Incluído pelo Decreto nº 10.627, de
2021) Vigência
III - ARMA DE FOGO DE USO PROIBIDO: (Incluído pelo Decreto nº 10.627, de
2021) Vigência
a) as armas de fogo classificadas como de uso proibido em acordos ou tratados
internacionais dos quais a República Federativa do Brasil seja signatária; e (Incluído
pelo Decreto nº 10.627, de 2021) Vigência
b) as armas de fogo dissimuladas, com aparência de objetos inofensivos; (Incluído
pelo Decreto nº 10.627, de 2021)

Conclusão: A utilização de QUALQUER ARMA DE FOGO (de uso permitido, restrito ou proibido) torna
o roubo hediondo. Mas não se esqueça: o roubo com arma branca não é crime hediondo!

Vamos esquematizar?
A violência ou grave ameaça do crime de roubo é exercida com emprego de arma de É crime hediondo
fogo.
A violência ou grave ameaça do crime de roubo é exercida com emprego de arma de É crime hediondo
fogo uso restrito ou proibido.
A violência ou grave ameaça do crime de roubo é exercida com emprego de arma NÃO É crime hediondo
branca.

→ ROUBO QUALIFICADO PELA LESÃO CORPORAL GRAVE


Art. 157, CP. (...) § 3º Se da violência resulta:

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I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e


multa;
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa.

De acordo com a doutrina, a expressão "lesão corporal grave" abrange não apenas a lesão corporal
grave propriamente dita, mas também a lesão corporal gravíssima (CP, art. 129, §§1° e 2°, respectivamente).
O resultado agravador pode ter sido suportado pela vítima da subtração ou por terceiro.

DICA DD: O crime de roubo somente será qualificado se o resultado agravador, “lesão corporal grave”,
resultar do emprego de violência. Logo, se a lesão corporal grave for fruto do emprego de grave ameaça, o
crime de roubo não será qualificado e, por conseguinte, também não será crime hediondo!

→ ROUBO QUALIFICADO PELA MORTE (LATROCÍNIO)


Art. 157, CP. (...) § 3º Se da violência resulta: (...)
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa.

Ocorre quando, da violência empregada no roubo, ocorre a morte da vítima, podendo ser a título de
dolo ou de culpa.
Em relação ao latrocínio, é importante lembrar que:
● Para que haja latrocínio é necessário que a morte decorra da violência empregada durante e em
razão do roubo (fator tempo e o fator nexo).
● À luz do entendimento dos Tribunais Superiores, o crime se consuma com a morte da vítima, ainda
que o agente não subtraia o bem:

Súmula 610 – STF - Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda


que não se realize o agente a subtração de bens da vítima.

● Por se tratar de um crime contra o patrimônio, a competência é do juiz singular, e não do Tribunal
do Júri:

SÚMULA 603 – STF: A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do


juiz singular e não do tribunal do júri.

Um crime preterdoloso pode ser crime hediondo?


R.: SIM. No crime hediondo (Lei nº 8.072/90, art. 1 º, VII) de epidemia com resultado morte (CP, art.
267, § 1°), no qual a morte é provocada a título de culpa. Outro exemplo, é a hipótese do coautor que, de
maneira consciente, participa de um crime de roubo armado, responde pelo crime hediondo de latrocínio,

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mesmo que o disparo fatal tenha sido efetuado por seus comparsas. Afinal, se tinha consciência de que o
crime de roubo seria executado com o emprego de arma de fogo, era no mínimo previsível a superveniência
do resultado morte.

Inciso III: EXTORSÃO QUALIFICADA PELA RESTRIÇÃO DA LIBERDADE DA VÍTIMA, OCORRÊNCIA DE LESÃO
CORPORAL GRAVE OU MORTE (ART. 158, § 3º);

Dispõe o §3º do art. 158, do Código Penal:

Art. 158, CP. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o
intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer,
tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. (...)
§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa
condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de
reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave
ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente.

Trata-se de inciso que sofreu alteração importante pela Lei nº 13.964/19.

● Antes das alterações promovidas pelo PAC: a Lei de Crimes hediondos previa apenas a extorsão
qualificada pela morte (art. 158, §2º do CP) como crime hediondo.

● Após a Lei 13.964/2019: o legislador alterou o inciso III da Lei nº 8.072/90, passando a prever que será
hediondo a “extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal ou
morte (art. 158, § 3º)”.

PARA PROVA DISCURSIVA:

Antes do Pacote Anticrime discutia-se se o crime de extorsão com restrição da liberdade, qualificado pelo
resultado lesão grave ou morte, era ou não hediondo, já que o art. 1º, III, da Lei 8.072/90 fazia remissão
expressa ao art. 158, §2º, sendo silente acerca do §3º.

1ª posição - Majoritária: “Defendendo uma interpretação restritiva da lei, como forma de preservar a
garantia da legalidade penal e evitar a analogia, muitos juristas afastavam o caráter hediondo do “sequestro-
relâmpago” com resultado morte”. Argumentavam que o Brasil adotou o sistema legal, elencando um rol

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exaustivo de crimes etiquetados como tal, de modo que não seria possível considerar o sequestro relâmpago
com resultado morte como hediondo em apreço ao Princípio da Legalidade Penal.

2ª posição - LFG e Sanches: Defendiam tratar-se de hediondo, com base nos seguintes argumentos:
- O art. 158, §3º é desdobramento formal e apenas exemplificativo de uma das possíveis formas de se praticar
o crime de extorsão que podem culminar no evento morte (art. 158, §2º). Não é crime autônomo. A
qualificadora “com resultado morte” já está presente no art. 158, §2º. O §3º apenas disciplina um meio de
execução específico. A interpretação literal tem que ser acompanhada da interpretação teleológica, racional,
da norma. Assim, as regras aplicadas ao delito geral (art. 158, §2º) devem ser igualmente aplicadas ao crime
específico (art. 158, §3º) permanecendo hediondo quando ocorre o evento morte.
- Para a admissão do sequestro relâmpago com resultado morte (art. 158, §3º) como hediondo basta utilizar
a interpretação extensiva, que não é vedada pelo Direito Penal, ainda que utilizada contra o réu, desde que
seja essa a inequívoca vontade do legislador.
- Posição em sentido diverso contraria o princípio da proporcionalidade: é aceitar que a extorsão simples
com resultado morte configura crime hediondo, ao passo que a extorsão qualificada pelo meio executório
empregado (restrição da liberdade) com resultado morte – que sinaliza o maior reprovabilidade do
comportamento – não é etiquetada como hediondo.

Essa discussão foi sepultada com a Lei nº 13.964/19. De acordo com a doutrina majoritária, com o advento
do Pacote Anticrime, passaram a ser consideradas hediondas todas as formas de extorsão mediante a
restrição da liberdade da vítima, independentemente de haver resultado qualificador ou não. Ou seja, são
hediondos:

(1) Extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima;


(2) Extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima com ocorrência de lesão corporal;
(3) Extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima com morte.

Mas e o crime de extorsão qualificada previsto no art. 158, §2°, do Código Penal? Continua sendo
hediondo diante das mudanças produzidas pelo Pacote Anticrime?

R.: NÃO! E é aí que entra a crítica doutrinária acerca da mudança trazida pelo Pacote Anticrime. O
art. 158, §2º, trata da extorsão praticada mediante violência com resultado lesão corporal grave ou morte.
Observe que no art. 158, §2º, do CP não há restrição da liberdade da vítima, mas há lesão corporal grave ou
morte, decorrentes do emprego de violência.
A extorsão com restrição da liberdade da vítima sem resultados especialmente agravadores (ou seja,
sem que produza morte ou lesão corporal grave) tem pena de 6 a 12 anos de reclusão (§ 3º) é considerado
crime hediondo, ao passo que a extorsão mediante emprego de violência, qualificada pelo resultado (lesão

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grave ou morte), prevista no § 2º, que possui penas maiores (quando há lesão grave, a pena é de 7 a 18 anos
e quando há morte, reclusão, de 20 a 30 anos) não é etiquetada como hediondo.
Em outras palavras: no § 3º, temos crime hediondo (pena de 6 a 12); no § 2º, não, apesar de as
sanções penais serem mais severas (pena de 7 a 8 ou 20 a 30 anos). Ou seja, há uma clara violação ao princípio
da proporcionalidade!

Veja a explicação do Professor Renato Brasileiro sobre o assunto:

“De fato, ao promover a alteração do inciso III do art. 1 ° da Lei n. 8.072/90 para
incluir a extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de
lesão corporal ou morte, citando entre parênteses o art. 158, §3°, do CP, o
legislador, deliberadamente (ou não) - pensamos que foi um erro grosseiro mesmo
- excluiu do rol dos crimes hediondos a extorsão qualificada pela morte, tipificada
no art. 158, §2°, do Código Penal. Por mais absurdo e desproporcional que possa
parecer - tome-se como exemplo o fato de o roubo qualificado pelo resultado
morte ser hediondo -, a extorsão - e não a extorsão qualificada pela restrição da
liberdade da vítima -, que sempre recebeu igual tratamento dispensado ao roubo,
inclusive no tocante à sua gravidade, não é delito hediondo, nem mesmo se
qualificado pela morte.”

Resumindo:
● Extorsão qualificada pela morte (§2º) – DEIXOU DE SER HEDIONDO com o PAC.
● Extorsão qualificada pela LC grave (§2º) – continua NÃO SENDO HEDIONDO
● Extorsão mediante restrição da liberdade da vítima – PASSOU A SER HEDIONDO.
● Extorsão mediante restrição da liberdade qualificada pela LC grave – PASSOU A SER HEDIONDO
● Extorsão mediante restrição da liberdade qualificada pela morte – PASSOU A SER HEDIONDO

Vamos esquematizar?

ANTES DA LEI 13.964/2019 DEPOIS DA LEI 13.964/2019

Extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º); ou São hediondos:


seja: ● Extorsão qualificada pela restrição da
● Extorsão simples com resultado morte (art. 158, liberdade da vítima;
§2º) era crime hediondo. ● Extorsão qualificada pela restrição da
liberdade da vítima com ocorrência de lesão
corporal;

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● Extorsão qualificada pela restrição da


liberdade da vítima com morte.

INCISO IV: EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO E NA FORMA QUALIFICADA (ART. 159, CAPUT, E §§ 1º, 2º E
3º);

O delito de extorsão mediante sequestro é etiquetado como hediondo, seja na modalidade simples
ou na modalidade qualificada, na forma tentada ou consumada.

Art. 159, CP. Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é
menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido
por bando ou quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.

INCISO V: ESTUPRO (ART. 213, CAPUT E §§ 1º E 2º);

Art. 213, CP. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter
conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor
de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2o Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos

O delito de estupro é considerado hediondo independentemente da modalidade.

INCISO VI: ESTUPRO DE VULNERÁVEL (ART. 217-A, CAPUT E §§ 1O, 2O, 3O E 4O);

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Art. 217-A, CP. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de
14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento
para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer
resistência.
§ 2o (VETADO)
§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
§ 4o Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
§ 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se
independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido
relações sexuais anteriormente ao crime. (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)

ANTES DA LEI 12.015/09 APÓS A LEI 12.015/09


1ª Corrente: estupro com violência presumida não é Prevê como hediondo o estupro de vulnerável, não
hediondo. importando se com ou sem violência.

2ª Corrente: estupro com violência presumida, a


exemplo do estupro com violência real é crime
hediondo.

O estupro com violência presumida (vulnerável), praticado antes da Lei 12.015/09


é hediondo.
“Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor praticados anteriormente à Lei
n.º 12.015/2009, ainda que mediante violência presumida, configuram crimes
hediondos. Precedentes desta Corte e do Supremo Tribunal Federal. 2. Embargos
de divergência acolhidos a fim de reconhecer a hediondez do crime praticado pelo
Embargado”. (STJ, REsp. 1225387/RS, rel. Min. Laurita Vaz, Dje 04/09/2013 –
Disponível no Informativo 519).

INCISO VII: EPIDEMIA COM RESULTADO MORTE (ART. 267, § 1º).

Art. 267, CP. Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos:


Pena - reclusão, de dez a quinze anos.
§ 1º - Se do fato resulta MORTE, a pena é aplicada em dobro.
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§ 2º - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a dois anos, ou, se resulta


morte, de dois a quatro anos.

Epidemia é a difusão de doença mediante a propagação de genes patogênicos.


Ressalta-se que somente a propagação de doença humana é que configura o crime do art. 267, §1º
do Código Penal, já que, em se tratando de enfermidade que atinja animais ou plantas, o crime será o do art.
61, Lei nº 9.605/98, não hediondo por falta de previsão legal. Somente o §1º do art. 267 é rotulado como
hediondo.
A epidemia, por si só, não é crime hediondo. Exige-se que seja qualificada pela morte (crime
preterdoloso).
Ressalta-se que o crime de epidemia com resultado morte desafia a prisão temporária (Lei nº
7.960/09).

INCISO VII: B - FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE PRODUTO DESTINADO A


FINS TERAPÊUTICOS OU MEDICINAIS (ART. 273, CAPUT E § 1º, § 1º-A E § 1º-B, COM A REDAÇÃO DADA
PELA LEI Nº 9.677, DE 2 DE JULHO DE 1998).

Art. 273, CP. Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins
terapêuticos ou medicinais:
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa.
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em
depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o
produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado.
§ 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere este artigo os medicamentos,
as matérias-primas, os insumos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de
uso em diagnóstico.
§ 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no § 1º
em relação a produtos em qualquer das seguintes condições:
I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente
[DISPENSA PERÍCIA, BASTA A AUSÊNCIA DE REGISTRO NA ANVISA]
II - em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior;
III - sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua
comercialização;
IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade;
V - de procedência ignorada (não há dados quanto a origem do produto, o que
dificulta a fiscalização);

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VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente


(o produto não é necessariamente corrompido, mas originário de estabelecimento
clandestino, o que dificulta a fiscalização).

A hediondez conferida ao art. 273 estende-se à todas às suas modalidades, exceto


à modalidade culposa.
Importa salientar, ainda, que este crime admite a PRISÃO TEMPORÁRIA. Apesar de não estar
expressamente no rol de crimes que admitem prisão temporária previsto no art. 1º, inciso III da Lei 7.960/89,
não se pode esquecer o art. 2º, §4º da Lei 8.072/90, de acordo com a doutrina majoritária e a jurisprudência
dos Tribunais Superiores, ao prever o prazo de 30 dias de duração da prisão temporária no caso de ser crime
hediondo, acabou ampliando o rol de cabimento dessa modalidade de prisão, de modo que para todo crime
hediondo e equiparado – esteja ou não elencado no art. 1º, III, da Lei nº 7.960/09 – caberá prisão temporária.

Vamos relembrar alguns aspectos importantes acerca deste crime?


De acordo com a doutrina e com a jurisprudência, o preceito secundário do art. 273 (Pena - 10 a 15
anos de reclusão), é inconstitucional por violar a proporcionalidade, tendo em vista prever uma reprimenda
demasiadamente exagerada para o bem jurídico em questão. Na visão dos Tribunais Superiores, impõe-se
ao legislador o dever de observância do princípio da proporcionalidade como proibição de excesso e como
proibição de proteção insuficiente.
O § 1º-B foi inserido no art. 273 do CP por força da Lei 9.677/98. O objetivo do legislador foi o de
punir pessoas que vendem determinados “produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais” e que,
embora não se possa dizer que sejam falsificados, estão em determinadas condições que fazem com que seu
uso seja potencialmente perigoso para a população. A pena prevista pelo legislador para o § 1º-B foi de 10 a
15 anos de reclusão. Ocorre que essa pena é muito alta e, por conta disso, começou a surgir entre os
advogados que militam na área a constante alegação de que essa reprimenda seria inconstitucional por violar
o princípio da proporcionalidade.
A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do HC 239.363/PR, considerou
inconstitucional o preceito secundário do art. 273, § 1º-B, inciso V, do CP, autorizando a aplicação analógica
das penas previstas para o tráfico de drogas. Apesar da divergência1 entre as turmas que compõem a Terceira
Seção, o Tribunal tem admitido a aplicação a diminuição da pena com base no art. 33, §4º, da Lei nº
11.343/06, até mesmo em sede de revisão criminal.

1. A intervenção estatal por meio do Direito Penal deve ser sempre guiada pelo
princípio da proporcionalidade, incumbindo também ao legislador o dever de
observar esse princípio como proibição de excesso e como proibição de proteção
insuficiente. 2. É viável a fiscalização judicial da constitucionalidade dessa atividade

1
5ª Turma – pela possibilidade; AgRg no REsp 1810273/SP. 6ª Turma: Pela impossibilidade - AgRg no REsp 1740663/PR.
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legislativa, examinando, como diz o Ministro Gilmar Mendes, se o legislador


considerou suficientemente os fatos e prognoses e se utilizou de sua margem de
ação de forma adequada para a proteção suficiente dos bens jurídicos
fundamentais. 3. Em atenção ao princípio constitucional da proporcionalidade e
razoabilidade das leis restritivas de direitos (CF, art. 5º, LIV), é imprescindível a
atuação do Judiciário para corrigir o exagero e ajustar a pena cominada à conduta
inscrita no art. 273, § 1º-B, do Código Penal. 4. O crime de ter em depósito, para
venda, produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais de procedência
ignorada é de perigo abstrato e independe da prova da ocorrência de efetivo risco
para quem quer que seja. E a indispensabilidade do dano concreto à saúde do
pretenso usuário do produto evidencia ainda mais a falta de harmonia entre o
delito e a pena abstratamente cominada (de 10 a 15 anos de reclusão) se
comparado, por exemplo, com o crime de tráfico ilícito de drogas – notoriamente
mais grave e cujo bem jurídico também é a saúde pública. 5. A ausência de
relevância penal da conduta, a desproporção da pena em ponderação com o dano
ou perigo de dano à saúde pública decorrente da ação e a inexistência de
consequência calamitosa do agir convergem para que se conclua pela falta de
razoabilidade da pena prevista na lei. A restrição da liberdade individual não pode
ser excessiva, mas compatível e proporcional à ofensa causada pelo
comportamento humano criminoso. 6. Arguição acolhida para declarar
inconstitucional o preceito secundário da norma” (AI no HC 239.363/PR, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, DJe 10/4/2015).

Declarada a inconstitucionalidade do preceito secundário previsto no art. 273, § 1º-


B, do Código Penal pela Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, no
julgamento da Arguição de Inconstitucionalidade no Habeas Corpus 239.363/PR, as
Turmas que compõem a Terceira Seção do STJ passaram a determinar a aplicação
da pena prevista no crime de contrabando ou no crime de tráfico de drogas do art.
33 da Lei de Drogas. A partir da solução da quaestio, verifica-se oscilação na
jurisprudência desta Corte. Destarte, a maioria dos julgadores da Terceira Seção
passou a adotar a orientação de aplicação da minorante prevista no § 4º do art. 33
da Lei n. 11.343/2006 nos crimes previstos no art. 273, § 1º-B, do Código Penal.
Assim, embora não tenha havido necessariamente alteração jurisprudencial, e sim
mudança de direcionamento, ainda que não pacífica, a respeito do tema, a
interpretação que deve ser dada ao artigo 621, I, do CPP é aquela de acolhimento
da revisão criminal para fins de aplicação do entendimento desta Corte mais
benigno e atual.” (RvCr 5.627/DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 13/10/2021)

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O STF julgou inconstitucional a pena cominada à conduta de importar medicamento sem registro na
ANVISA (art. 273, § 1º-B, inciso I, do CP) e decidiu repristinar, a pena (de 1 a 3 anos, multa) cominada ao art.
273, antes da Lei nº 9.677/93:
STF (RE 979.962 - tese com repercussão geral): “É inconstitucional a aplicação do
preceito secundário do artigo 273, do Código Penal, com a redação dada pela Lei
9.677/98 (reclusão de 10 a 15 anos), na hipótese prevista no seu parágrafo 1º-B,
inciso I, que versa sobre importação de medicamento sem registro no órgão de
vigilância sanitária. Para essa situação específica, fica repristinado o preceito
secundário do artigo 273, na redação originária (reclusão de 1 a 3 anos, multa)”.

INCISO VIII: FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU DE OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE


CRIANÇA OU ADOLESCENTE OU DE VULNERÁVEL (ART. 218-B, CAPUT, E §§ 1º E 2º).

Art. 218-B, CP. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de


exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou
deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato,
facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.
§ 1º Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se
também multa.
§ 2º Incorre nas mesmas penas:
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18
(dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste
artigo;
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as
práticas referidas no caput deste artigo.

Com o advento da Lei nº 12.978, que entrou em vigor no dia 22 de maio de 2014, para além da
mudança do nome jurídico do art. 218-B do Código Penal, também foi acrescentado ao art. 1º da Lei nº
8.072/90 o inciso VIII para rotular tal crime como hediondo.
Nas modalidades submeter, induzir, atrair e facilitar, consuma-se o delito no momento em que a
vítima passa a se dedicar à prostituição, colocando-se, de forma constante, à disposição dos clientes, ainda
que não tenha atendido nenhum. Trata-se, portanto, de um crime instantâneo, ainda que de efeitos
permanentes.
Já na modalidade de impedir ou dificultar o abandono da prostituição, o crime consuma-se no
momento em que a vítima delibera por deixar a atividade e o agente obsta esse intento, protraindo a
consumação durante todo o período de embaraço (crime permanente). Ou seja, aqui, temos um crime
permanente. Assim, considerando a natureza permanente do crime, quem antes da lei, dificultou o
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abandono, persistindo o embaraço na vigência da nova lei, vai ser alcançado pela mudança legislativa,
conforme o entendimento da Súmula 711, STF

Súmula 711, STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência.

Obs.: Vamos relembrar alguns entendimentos recentes do STJ sobre esse crime?

● Nos termos do art. 218-B do Código Penal, são punidos tanto aquele que capta a vítima, inserindo-a na
prostituição ou outra forma de exploração sexual (caput), como também o cliente do menor prostituído ou
sexualmente explorado (§ 1º). STJ. 5ª Turma. HC 371633/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/03/2019
(Info 645).
● A vulnerabilidade no caso do art. 218-B do CP é relativa. No art. 218-B do Código Penal não basta aferir a
idade da vítima, devendo-se averiguar se o menor de 18 (dezoito) anos ou a pessoa enferma ou doente
mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou por outra causa não pode oferecer
resistência. STJ. 5ª Turma. HC 371633/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/03/2019 (Info 645).
● O tipo penal não exige habitualidade. Basta um único contato consciente com a adolescente submetida
à prostituição para que se configure o crime. Trata-se de crime instantâneo. (STJ, Informativo 754).

INCISO IX: FURTO QUALIFICADO PELO EMPREGO DE EXPLOSIVO OU DE ARTEFATO ANÁLOGO QUE CAUSE
PERIGO COMUM (ART. 155, § 4º-A).

O ingresso do parágrafo 4º do art. 5º do Código Penal no art. 1º da Lei nº 8.072 é uma novidade
oriunda do “pacote anticrime” Lei nº 13.964/2019.

Furto
Art. 155, CP - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Furto qualificado
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver
emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.

Até a entrada em vigor do Pacote Anticrime, nenhuma modalidade de furto era rotulada como
hedionda, justamente por não envolver violência e grave ameaça contra a pessoa e por tutelar única e
exclusivamente o patrimônio da vítima (bem jurídico considerado disponível).

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No entanto, com base no critério de maior reprovabilidade da conduta do agente que utiliza
instrumentos que possam resultar em perigo comum, a Lei nº 13.964/19 conferiu caráter hediondo ao crime
de furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.
Crítica doutrinária: O crime de furto mediante a utilização de explosivos ou artefato análogo é crime
hediondo, ao passo que o roubo mediante o emprego de explosivos não foi considerado hediondo, mesmo
sendo claramente mais grave que o furto, indicando uma evidente violação ao princípio da
proporcionalidade. Nas palavras de Renato Brasileiro (2020):

Interessante notar que o Pacote Anticrime rotulou como hediondo o crime de furto
qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo
comum - CP, art. 155, §4°-A, incluído pela Lei n. 13.654/18 -, porém,
inexplicavelmente, olvidou-se de fazer o mesmo com o crime de roubo
circunstanciado pela destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego
de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum - CP, art. 157, §2°-A,
inciso II, também incluído pela Lei n. 13.654/18 -, delito este inegavelmente muito
mais grave do que o furto em questão. Sem embargo do evidente equívoco do
legislador, como se adota o sistema legal como critério para determinação dos
crimes hediondos, ao magistrado não se defere a possibilidade de considerá-lo
hediondo sob o argumento de que as circunstâncias fáticas dos crimes são
semelhantes - e até mais gravosas -, sob pena de evidente violação ao princípio da
legalidade.

DICA DD: Somente será crime hediondo quando o agente empregar explosivo ou artefato análogo que cause
perigo comum como instrumento do crime de furto. Quando o agente furtar substâncias explosivas
(enquanto objeto material do crime de furto), incidindo no art. 155, §7º, não será crime hediondo!

→ Art. 155, §4º-A – furto mediante emprego de explosivo - crime HEDIONDO.

→ Art. 155, §7º – furto de explosivo – NÃO é crime hediondo.

Adentraremos agora, na maior alteração ocorrida na lei, introduzida pelo “pacote anticrime” Lei nº
13.964/2019, qual seja, o parágrafo único do art. 1º. Particularmente, acreditamos que as alterações feitas
no parágrafo único organizaram e facilitaram o entendimento sobre o tema, sendo bastante preciso e
taxativo naquilo que pretendeu o legislador.

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5. CRIMES HEDIONDOS PREVISTOS NO ART. 1º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 8.072/90

Art. 1º, Lei nº 8.072/90. (...) Parágrafo único. Consideram-se também hediondos,
tentados ou consumados: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - o crime de GENOCÍDIO, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de
outubro de 1956; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - o crime de POSSE ou PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PROIBIDO,
previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)
III - o crime de COMÉRCIO ILEGAL DE ARMAS DE FOGO, previsto no art. 17 da Lei
nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV - o crime de TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO, ACESSÓRIO OU
MUNIÇÃO, previsto no art. 18 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de
2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
V - o CRIME DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA, quando DIRECIONADO À PRÁTICA DE
CRIME HEDIONDO OU EQUIPARADO. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

ANTES DO PACOTE ANTICRIME APÓS O PACOTE ANTICRIME


Consideram-se também hediondos: Consideram-se também hediondos:
⦁ Genocídio ⦁ Genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº
⦁ Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso 2.889, de 1º de outubro de 1956;
restrito. ⦁ Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso
proibido, previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de 22
de dezembro de 2003;
⦁ Comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art.
17 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
⦁ Tráfico internacional de arma de fogo, acessório
ou munição, previsto no art. 18 da Lei nº 10.826,
de 22 de dezembro de 2003;
⦁ Organização criminosa, quando direcionado à
prática de crime hediondo ou equiparado.

→ INCISO I: CRIME DE GENOCÍDIO

O inciso I do parágrafo único da Lei 8.072/90 estabelece o crime de genocídio, nas modalidades
constantes dos art. 1º, 2º e 3º, da Lei 2.889/56, como crime hediondo, sendo consumados ou tentados.
Vejamos:

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Art. 1º, Lei nº 2.889/56. Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte,
grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal:
a) matar membros do grupo;
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo;
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de
ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial;
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo;
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo; (...)

Art. 2º, Lei nº 2.889/56. Associarem-se mais de 3 (três) pessoas para prática dos
crimes mencionados no artigo anterior.
Pena: Metade da cominada aos crimes ali previstos.

Art. 2º, Lei nº 2.889/56. Incitar, direta e publicamente alguém a cometer qualquer
dos crimes de que trata o art. 1º:
Pena: Metade das penas ali cominadas.
§ 1º A pena pelo crime de incitação será a mesma de crime incitado, se este se
consumar.
§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando a incitação for cometida
pela imprensa.

Portanto, são considerados crimes hediondos:


(1) Crime de genocídio – art. 1º
(2) Crime de associação para a prática de genocídio – art. 2º
(3) Crime de incitação ao genocídio – art. 3º

Perceba que as condutas que caracterizam o crime de genocídio como crime hediondo vão além do
crime propriamente dito, pois será considerada também como hedionda a conduta de quem associa-se para
praticá-lo, assim como quem promove a sua incitação.
Ressalta-se que o art. 8º da Lei 8.072/90 prevê uma pena de 3 (três) a 6 (seis) anos para o crime de
associação criminosa quando se tratar de crimes hediondos. Ora, considerando-se que, por força do art. 1º,
parágrafo único, da Lei nº 8.072/90, o crime de associação para a prática de genocídio previsto no art. 2°
da Lei nº 2.889/56 também é considerado crime hediondo, a ele deve ser aplicada a pena cominada no art.
8° da Lei nº 8.072/90, que prevê a pena de três a seis anos de reclusão para toda forma de associação para
a prática de crime hediondo.
Fato que merece nossa atenção é a distinção do crime de genocídio para o crime de homicídio
praticado por grupo de extermínio. Há características próprias entre os mesmos que os diferem de forma
clara.
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GENOCÍDIO GRUPO DE EXTERMÍNIO


✔ Dolo específico de destruir, no todo ou em parte,
✔ Eliminar apenas alguns de seus integrantes;
determinado grupo;
✔ Visam um grupo específico nacional, étnico, racial ou
✔ Visam qualquer grupo por características econômicas,
religioso. sociais, raciais, religiosas, etc.
✔ Caracteriza-se não somente pela morte, mas também
✔ Caracteriza-se, obrigatoriamente, pela morte de
pela lesão grave à integridade física ou mental de alguém do grupo.
membros do grupo, submissão intencional do grupo
a condições de existência capazes de ocasionar-lhes a
destruição física total ou parcial, bem como adoção
de medidas destinadas a impedir os nascimentos no
seio do grupo e, por fim, efetuar a transferência
forçada de crianças do grupo para outro grupo.
✔ Na hipótese de morte, no todo ou em parte, do grupo,
✔ Crime doloso contra a vida de competência do Tribunal
não se trata de crime contra a vida, mas tem natureza do Júri, para processá-lo e julgá-lo.
supranacional. Aqui cuida-se da preservação da
pessoa humana, devendo ser julgado e processado
por um juiz singular.

Vale relembrar!
Cumpre recordarmos que o genocídio é um típico exemplo de norma penal em branco “ao avesso”, isto é,
temos as condutas criminosas, mas faltam as respectivas penas, o preceito secundário está incompleto.
A norma penal em branco ao avesso é aquela em que o preceito primário é completo, mas o preceito
secundário carece de complemento normativo, sendo certo que este complemento deve derivar da lei, sob
pena de lesão ao princípio da reserva legal.

● INCISO II: POSSE OU PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PROIBIDO

Trata-se da posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso PROIBIDO, prevista no art. 16 da Lei no
10.826, de 22 de dezembro de 2003.
Ocorre que o Pacote Anticrime também promoveu alterações no Estatuto do Desarmamento,
ocasião em que o legislador passou a diferenciar as condutas que envolvem arma de fogo de uso restrito e
proibido, colocando essa última como qualificadora do delito em questão, no §2º. Veja:

Art. 16, Lei nº 10.826/03. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em
depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter,

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empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição
de uso restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
I – Suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma
de fogo ou artefato;
II – Modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a
arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer
modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;
IV – Portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com
numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou
adulterado;
V – Vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo,
acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e
VI – Produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de
qualquer forma, munição ou explosivo.
§ 2º Se as condutas descritas no caput e no § 1º deste artigo envolverem ARMA DE
FOGO DE USO PROIBIDO, a pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze)
anos. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Nesse tipo penal, não há a necessidade de diferenciar a posse do porte de arma de uso proibido, vez
que ambas as condutas se encontram tipificadas no mesmo §2º.

REDAÇÃO ANTIGA REDAÇÃO NOVA


Art. 16, Lei nº 10.826/03. Possuir, deter, portar, “Art. 16, Lei nº 10.826/03. Possuir, deter, portar,
adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, transportar, ceder, ainda que gratuitamente,
emprestar, remeter, empregar, manter sob sua emprestar, remeter, empregar, manter sob sua
guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou
munição de uso proibido ou restrito, sem munição de uso restrito, sem autorização e em
autorização e em desacordo com determinação legal desacordo com determinação legal ou
ou regulamentar: regulamentar:
§ 1º (...)

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Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.


(...)
Sem correspondência. § 2º Se as condutas descritas no caput e no § 1º
deste artigo envolverem arma de fogo de USO
PROIBIDO, a pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 12
(doze) anos.” (NR)

Assim, antes do Pacote Anticrime, considerava-se hediondo o crime "de posse ou porte ilegal de
arma de fogo de uso restrito previsto no art. 16 da Lei n. 10.826/03”, suscitando, inclusive, controvérsias
sobre a abrangência ou não dos incisos I a VI do referido artigo.
No entanto, com o advento do Pacote Anticrime e as alterações promovidas no próprio Estatuto do
Desarmamento, que deslocou todas as condutas referentes ao “uso proibido” do caput para o §2º, passou-
se a considerar hediondo apenas o PORTE OU POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PROIBIDO.
Ressalta-se que a Lei de crimes hediondos fala somente em ARMA DE FOGO DE USO PROIBIDO, não
mencionando os demais objetos materiais previstos no art. 16, quais sejam, acessório ou munição. Por este
motivo, a doutrina majoritária entende que O PORTE/POSSE ILEGAL DE ACESSÓRIO OU MUNIÇÃO DE USO
PROIBIDO NÃO É CONSIDERADO CRIME HEDIONDO, sob pena de caracterizar analogia “in malam partem”
e consequente violação ao princípio da legalidade. Explica o professor Renato Brasileiro:
“Fosse a intenção do legislador de tratar como hedionda toda e qualquer conduta
relativa a artefatos de uso proibido, o inciso II ora sob comento deveria ter sido
redigido nos seguintes termos: "O crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo,
acessório ou munição de uso proibido ". In casu, não se pode querer aplicar o
mesmo raciocínio anteriormente desenvolvido (itens 1 e 2 acima) quanto ao antigo
crime hediondo de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (redação
do parágrafo único do art. 1 º da Lei n. 8.072/90 dada pela Lei n. 13.497/17), de
modo a se concluir que toda e qualquer conduta atinente a artefatos de uso
proibido seria hedionda por uma razão muito simples: posse ou porte ilegal de arma
de fogo de uso proibido não é o nomen iuris do delito, mas sim uma mera
qualificadora do crime do art. 16, doravante inserida no §2°, que, portanto, há de
ser interpretada restritivamente, sob pena de odiosa violação ao princípio da
legalidade.

Obs.: pensamos que a referida norma possuiu natureza dúplice. Isso porque:
✔ A norma será benéfica em relação àqueles praticaram a conduta de posse ou porte ilegal de arma de
fogo de uso restrito, pois essa modalidade não é mais considerada hedionda (“novatio legis in mellius”
e caráter retroativo).

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✔ A norma será maléfica em relação àqueles que cometerem o porte de arma de fogo de uso proibido,
considerando que, além de ser tratada como hediondo, tornou-se qualificadora do delito previsto no
artigo 16 do Estatuto do Desarmamento, com pena maior de 4 a 12 anos de reclusão.

● INCISO III: CRIME DE COMÉRCIO ILEGAL DE ARMAS DE FOGO, ACESSÓRIO OU MUNIÇÃO

Art. 17, Lei nº 10.826/03. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar,
ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda,
ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 1º Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo,
qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou
clandestino, inclusive o exercido em residência. (Redação dada pela Lei nº 13.964,
de 2019)
§ 2º Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de fogo, acessório ou
munição, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou
regulamentar, a agente policial disfarçado, quando presentes elementos
probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

REDAÇÃO ANTIGA REDAÇÃO NOVA


Art. 17, Lei nº 10.826/03. (...) “Art. 17, Lei nº 10.826/03. (...)
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. Pena - reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, e multa.
§ 1º
Sem correspondência. § 2º Incorre na mesma pena quem vende ou entrega
arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização
ou em desacordo com a determinação legal ou
regulamentar, a agente policial disfarçado, quando
presentes elementos probatórios razoáveis de
conduta criminal preexistente.” (NR)

Trata-se de atualização introduzida pela Lei nº 13.964/19, incluindo, no rol taxativo dos crimes
hediondos, o comércio ilegal de arma de fogo previsto no art. 17 do Estatuto do Desarmamento.

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Assim, todas as modalidades deste delito, incluindo as previstas no §2º, passam a ser consideradas
como hediondas.
Explica Renato Brasileiro (2020):

Por conseguinte, todas as figuras delituosas previstas no art. 17 e 18 são


consideradas hediondas, não apenas aquelas previstas no caput, mas também as
equiparadas. A uma porque o legislador fez referência ao crime de comércio ilegal
de arma de fogo e ao delito de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou
munição, porque estas são as rubricas marginais (nomen iuris) constantes dos arts.
17 e 18 do Estatuto do Desarmamento. A duas porque, quisesse o legislador
conferir natureza hedionda apenas a determinadas condutas ali previstas, deveria
ter feito menção explícita ao caput do art. 17 (ou ao do art. 18). Se não o fez, não é
dado ao intérprete fazê-lo. Enfim, hão de ser consideradas hediondas tanto as
condutas do caput, quanto aquelas equiparadas.

● INCISO IV: CRIME DE TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO, ACESSÓRIO OU MUNIÇÃO

Art. 18, Lei nº 10.826/03. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do


território nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem
autorização da autoridade competente:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 16 (dezesseis) anos, e multa. (Redação dada pela Lei
nº 13.964, de 2019)
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de fogo,
acessório ou munição, em operação de importação, sem autorização da autoridade
competente, a agente policial disfarçado, quando presentes elementos probatórios
razoáveis de conduta criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

REDAÇÃO ANTIGA REDAÇÃO NOVA


Art. 18, Lei nº 10.826/03. (...) Art. 18, Lei nº 10.826/03. (...)
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e Pena - reclusão, de 8 (oito) a 16 (dezesseis) anos, e
multa. multa.
Sem correspondência. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem
vende ou entrega arma de fogo, acessório ou
munição, em operação de importação, sem
autorização da autoridade competente, a agente
policial disfarçado, quando presentes elementos

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probatórios razoáveis de conduta criminal


preexistente.” (NR)

Com a Lei nº 13.964/19, o crime de tráfico internacional de armas de fogo, acessórios e munições
passou a ser rotulado como crime hediondo.

● INCISO V: CRIME DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA, QUANDO DIRECIONADO À PRÁTICA DE CRIME


HEDIONDO OU EQUIPARADO

Art. 1º, Lei nº 12.850/13. Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a
investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas
e o procedimento criminal a ser aplicado.
§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de
qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas
sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.

A Lei 13.964/19 acrescentou o inciso V ao parágrafo único do art. 1º da lei ora em comento,
etiquetando como hediondo o crime de organização criminosa, quando esta tiver por finalidade a prática de
crime hediondo ou equiparado.
Veja bem, a Lei 13.964/19 não tornou o crime de organização criminosa, em si, um delito hediondo,
mas tão somente quando se destinar à pratica de crime hediondo ou equiparado.
Lembre-se que o crime de organização criminosa independe da prática efetiva de crimes, bastando
que haja a reunião estável, permanente e hierárquica das pessoas para a prática de crimes. E se ela for para
a prática de crime hediondo ou equiparado, aí sim, será hediondo.
Ressalta-se outras formas de associação, como, por exemplo, a associação criminosa (CP, art. 288) e
a constituição de milícia privada (CP, art. 288-A, incluído pela Lei n. 12.720/12), não devem ser rotuladas
como hediondas, ainda que direcionadas à prática de crime hediondo ou equiparado, sob pena de evidente
violação ao princípio da legalidade. (Não esqueça da exceção comentada acima acerca da associação para a
prática de genocídio!)

5.1 Crimes Equiparados a Hediondos

TRÁFICO
3T TORTURA
TERRORISMO

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Frente à expressa determinação da Constituição Federal, são equiparados aos crimes hediondos os
delitos de tráfico de droga, tortura e terrorismo.
Tal conceituação é exaustivamente cobrada em provas objetivas, uma vez que, mesmo ensejando o
procedimento de recrudescimento idêntico aos dos crimes hediondos, eles são considerados equiparados, e
não propriamente hediondos pela doutrina, fique atento!

5.1.1 Tráfico de Drogas

Encontra-se tipificado pela Lei 11.343/03, mas são todos os tipos penais ali elencados que
caracterizam tráfico de drogas. Segundo doutrina majoritária e jurisprudência do STF e STJ:

SÃO CONSIDERADOS SÃO EQUIPARADOS NÃO SÃO NÃO SÃO


TRÁFICO DE A CRIMES CONSIDERADOS EQUIPARADOS A
DROGAS HEDIONDOS TRÁFICO DE CRIMES HEDIONDOS
DROGAS
1) Art. 33, caput 1) Art. 28
2) Art. 33, §1º 2) Art. 33, §2º
3) Art. 34 – delito de maquinário 3) Art. 33, §3º
4) Art. 36 – o delito de financiamento 4) Art. 33, §4º - tráfico
ao tráfico privilegiado!
5) Art. 35 – associação para o tráfico
6) Art. 37 – o delito de colaboração
como informante
7) Art. 38
8) Art. 39.

De acordo com o STF, o tráfico privilegiado de drogas não tem natureza de crime hediondo, por
conseguinte não são exigíveis requisitos mais severos para o livramento condicional e para a progressão de
regime. (HC 118533, STF, Pleno).
Ademais, as alterações providas pelo Pacote Anticrime (Lei n. 13.964/2019) apenas afastaram o
caráter hediondo ou equiparado do tráfico privilegiado, previsto no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006, nada
dispondo sobre os demais dispositivos da Lei de Drogas. AgRg no HC 748.033-SC, Rel. Min. Jorge Mussi,
Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 27/09/2022, DJe 30/09/2022. (Info 754)

5.1.2 Tortura
Encontra-se previsto ao teor da Lei nº 9.455/97.
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De acordo com a doutrina majoritária, o crime de tortura por omissão NÃO é considerado crime
equiparado a hediondo!
Art. 1º, Lei 9.455/97. Constitui crime de tortura: (...)
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-
las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.

5.1.3 Terrorismo
O crime de terrorismo é definido pelo art. 2°, caput, da Lei nº 13.260/16

6. ESPECIFICIDADES DOS CRIMES HEDIONDOS

O art. 2º da Lei 8.072/90 elenca um rol de consequências legais – de natureza penal e processual
penal – mais gravosas que são aplicáveis os crimes rotulados como hediondos e os crimes equiparados a
hediondos.
Inicialmente, cumpre destacarmos que as consequências/vedações também são aplicadas aos crimes
“equiparados” a hediondos, quais sejam, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tortura e terrorismo.

6.1 Insuscetibilidade de Graça, Anistia e Indulto

Nos termos do art. 2º, inciso I, da Lei nº 8.072/90, os crimes hediondos são insuscetíveis de anistia,
graça e indulto. Nesse sentido, também dispõe a Constituição Federal, senão vejamos.

Art. 2º, Lei nº 8072/90. Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: I - anistia, graça
e indulto;

Art. 5º, CF. (...) XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça
ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.

Repare que, enquanto a Lei de Crimes Hediondos proíbe a concessão de anistia, graça e indulto, a
CF/88 proíbe apenas anistia e a graça, sem fazer menção expressa ao indulto. Essa vedação do indulto
prevista na lei 8.072/90 (e que não está na CF) é constitucional?

1º corrente: Inconstitucional – A lei extrapolou a vedação constitucional. Considerando que a CF/88 traz
proibições máximas, não pode o legislador ordinário suplantá-las. A concessão do indulto é atribuição do
chefe do Poder Executivo (Presidente da República), não podendo o legislador ordinário limitá-lo.
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2º corrente – STF/ Majoritária - Constitucional. A CF traz vedações mínimas ("a lei considerará"), quem irá
trabalhar é o legislador, a CF/88 dá um PATAMAR MÍNIMO DE PROIBIÇÃO. A vedação da graça abrange
indulto, que nada mais é do que uma graça coletiva.

Obs.: Chama-se indulto humanitário aquele concedido por razões de grave deficiência física ou em
virtude de debilitado estado de saúde do executado. Temos decisões admitindo o indulto humanitário, com
fundamento no princípio da humanidade das penas, até mesmo para condenados por crimes hediondos e
equiparados (STJ). O STF, no HC 118/213 SP, não permitiu indulto humanitário para tráfico de drogas.

6.2 Insuscetibilidade de Fiança

Os crimes hediondos e equiparados são inafiançáveis.

Art. 2º, Lei nº 8.072/90. Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
II - fiança.

Cumpre destacar que, na redação original da Lei dos Crimes Hediondos, também era vedada a
liberdade provisória sem fiança. Essa proibição, contudo, foi abolida pela Lei 11.464/2007.

ANTES DA LEI 11.464/2007 DEPOIS DA LEI 11.464/2007


Vedava: Veda:
1) Fiança 1) Fiança
2) Liberdade provisória
Permite:
1) Liberdade provisória

A doutrina majoritária entende ser possível a concessão de liberdade provisória sem fiança, a
depender do convencimento do juiz, quanto à ausência dos requisitos para a decretação da prisão
preventiva.

6.3 Regime Inicial Fechado para o Cumprimento da Pena Privativa de Liberdade

Art. 2º, Lei nº 8.072/90. (...)


§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime
fechado. 

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Em sua redação original, a Lei dos Crimes Hediondos previa que o regime deveria ser integralmente
fechado, ou seja, iniciaria e terminaria o cumprimento da pena em regime fechado, sem direito à progressão
de regime.
No entanto, no HC 82959, o STF decidiu pela inconstitucionalidade desse regime, haja vista a clara
violação aos princípios da individualização da pena, da proporcionalidade e também da dignidade da pessoa
humana. Nessa esteira, passou-se a admitir a progressão de regime nos termos da LEP.
Ressalta-se que a obrigatoriedade do regime inicial fechado continua no texto da lei, mas a
jurisprudência e doutrina já se manifestaram pela inconstitucionalidade da previsão por entenderem que
viola o princípio da individualização da pena, devendo o juiz analisar o caso concreto para fundamentar sua
decisão (STF, Pleno, HC 111.840, Info 672).
O legislador não pode obrigar o juiz a aplicar um determinado regime prisional. A fixação de regime
inicial mais severo não deve basear-se na gravidade em abstrato do delito, exigindo, do magistrado,
motivação idônea.
Súmula 718 do STF: A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime
não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o
permitido segundo a pena aplicada.

Súmula 719 do STF: A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a


pena aplicada permitir exige motivação idônea.

CESPE/2019 - Júnia, de quatorze anos de idade, acusa Pierre, de dezoito anos de idade, de ter praticado crime
de natureza sexual consistente em conjunção carnal forçada no dia do último aniversário da jovem. Pierre,
contudo, alega que o ato sexual foi consentido. Se Pierre for condenado por estupro, o regime de
cumprimento de pena será integralmente fechado, por se tratar de crime hediondo. Item incorreto.

Obs.: Regime Inicial de Cumprimento de Pena na Lei de Tortura


Art. 1º, Lei nº 9.455/97. (...) § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a
hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.

O § 7º dispõe que o condenado por crime previsto na Lei de Tortura, salvo a hipótese do § 2º (omissão
perante a tortura), iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.
O STF já decidiu que a imposição de regime inicial fechado para os crimes hediondos e equiparados
é inconstitucional por violar o princípio constitucional da individualização da pena (STF, HC 111.840/ES).
Para a doutrina majoritária, é evidente que essa interpretação também deve ser aplicada aos crimes
equiparados a hediondo, a exemplo da tortura. A posição do STJ é nesse mesmo sentido:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME DE TORTURA. REGIME INICIAL


FECHADO FIXADO EXCLUSIVAMENTE COM BASE NO ART. 1º, § 7º, DA LEI 9.455/97.
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INCONSTITUCIONALIDADE DECLARADA. RECONHECIMENTO DA ILEGALIDADE PELO


TRIBUNAL DE ORIGEM. ALTERAÇÃO DO REGIME PARA O SEMIABERTO, COM
FULCRO NO ART. 33 E PARÁGRAFOS DO CÓDIGO PENAL. REFORMATIO IN PEJUS.
AUSÊNCIA. REPRIMENDA FINAL INFERIOR A 4 ANOS DE RECLUSÃO. REGIME INICIAL
SEMIABERTO. CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO
ILEGAL. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. A obrigatoriedade do regime inicial fechado prevista na Lei do Crime de Tortura
foi superada pela Suprema Corte, de modo que a mera natureza do crime não
configura fundamentação idônea a justificar a fixação do regime mais gravoso
para os condenados pela prática de crimes hediondos e equiparados. Para
estabelecer o regime prisional, deve o magistrado avaliar o caso concreto,
seguindo os parâmetros estabelecidos pelo artigo 33 e parágrafos do Código
Penal.
2. O regime inicial fechado foi fixado pelo Magistrado de primeiro grau com base,
exclusivamente, no disposto pelo art. 1°, § 7°, da Lei n° 9.455/97, em manifesta
contrariedade ao hodierno entendimento dos Tribunais Superiores. A Corte de
origem, por sua vez, ao reconhecer a existência de flagrante ilegalidade na
imposição do regime inicial fechado - diante da mera alusão ao § 7° do art. 1° da Lei
n° 9.455/97 -, alterou o regime inicial para o semiaberto à luz do art. 33, §§ 2º e 3º,
do Código Penal, o que não evidencia reformatio in pejus. (...) (RHC 76.642/RN, Rel.
Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
11/10/2016, DJe 28/10/2016).

Em 2015, o Info. 789 do STF, noticia julgamento em que, o Min. Marco Aurélio manifesta posição
pessoal de que o art. 1º, § 7º, da Lei nº 9.455/97 seria constitucional, ou seja, seria legítima a regra que
impõe o regime inicial fechado para o crime de tortura. Todavia, é uma posição minoritária e isolada do Min.
Marco Aurélio. Os demais Ministros acompanharam o Relator mais por uma questão de praticidade em razão
do que de tese jurídica, pois eles não aderiram expressamente à tese do Relator.

CUIDADO COM INF. 789, STF (2015): CRIME DE TORTURA E REGIME INICIAL DE
CUMPRIMENTO DA PENA. O condenado por crime de tortura iniciará o
cumprimento da pena em regime fechado, nos termos do disposto no § 7º do art.
1º da Lei 9.455/1997 - Lei de Tortura. Com base nessa orientação, a Primeira Turma
denegou pedido formulado em “habeas corpus”, no qual se pretendia o
reconhecimento de constrangimento ilegal consubstanciado na fixação, em
sentença penal transitada em julgado, do cumprimento das penas impostas aos
pacientes em regime inicialmente fechado. (...) O Ministro Marco Aurélio (relator)
denegou a ordem. Considerou que, no caso, a dosimetria e o regime inicial de
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cumprimento das penas fixadas atenderiam aos ditames legais. Asseverou não
caber articular com a Lei de Crimes Hediondos, pois a regência específica (Lei
9.455/1997) prevê expressamente que o condenado por crime de tortura iniciará o
cumprimento da pena em regime fechado, o que não se confundiria com a
imposição de regime de cumprimento da pena integralmente fechado. Assinalou
que o legislador ordinário, em consonância com a CF/1988, teria feito uma opção
válida, ao prever que, considerada a gravidade do crime de tortura, a execução da
pena, ainda que fixada no mínimo legal, deveria ser cumprida inicialmente em
regime fechado, sem prejuízo de posterior progressão. Os Ministros Roberto
Barroso e Rosa Weber acompanharam o relator, com a ressalva de seus
entendimentos pessoais no sentido do não conhecimento do “writ”. O Ministro Luiz
Fux, não obstante entender que o presente “habeas corpus” faria as vezes de
revisão criminal, ante o trânsito em julgado da decisão impugnada, acompanhou o
relator. HC 123316/SE, rel. Min. Marco Aurélio, 9.6.2015. (HC-123316)

6.4 Critérios Diferenciados para Concessão de Livramento Condicional.

É possível o livramento para os crimes hediondos e assemelhados (3T – tráfico, tortura e terrorismo),
depois de ter havido o cumprimento de 2/3 da pena e não ser reincidente específico (hediondo ou
assemelhado), independentemente de ser o mesmo delito ou não.
Atente-se que a vedação ao reincidente específico é apenas para a concessão do livramento
condicional, e não para a concessão dos demais benefícios.

LIVRAMENTO CONDICIONAL
Regra geral – art. 83, CP Hediondos – art. 83, V, CP Tráfico de drogas - art. 44, Lei
11.343/06

+ de 1/3 do cumprimento de pena + de 2/3 do cumprimento de pena 2/3 do cumprimento de pena (art.
se não reincidente em crime doloso se não reincidente específico. 44, p.ú., Lei nº 11.343/06 –
e tiver bons antecedentes; VEDADO O LIVRAMENTO princípio da especialidade).
+ de 1/2 do cumprimento de pena CONDICIONAL EM CASO DE
se reincidente em crime doloso. REINCIDENTE ESPECÍFICO!

6.5 Progressão de Regime

Em sua redação originária, a Lei nº 8.072/90 vedava a progressão de regime para os crimes
hediondos, já que era previsto o regime integral fechado de cumprimento da pena (art. 1º, §1º). O STF
declarou a inconstitucionalidade do art. 1º, §1º, da Lei nº 8.072/90. Com isso, a progressão de regime foi
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autorizada e seguia o disposto na LEP, ou seja, o condenado progredia com o tempo comum - 1/6 da pena.
Posteriormente, a Lei nº 11.464 inseriu o §2º ao art.2º da Lei 8.072/90, trazendo parâmetros distintos para
a progressão de regime para condenados por crimes hediondos e equiparados:

Art. 2º, Lei nº 8.072/90. (...) § 2o A progressão de regime, no caso dos condenados
aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois
quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se
reincidente.

Por se tratar de uma inovação legislativa mais prejudicial ao réu, foram editadas as seguintes
súmulas:

Súmula 471 do STJ: Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados


cometidos antes da vigência da Lei n. 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art.
112 da Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a progressão de regime
prisional.

Súmula Vinculante nº 26: Para efeito de progressão de regime no cumprimento de


pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a
inconstitucionalidade do art. 2º da lei 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo
de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do
benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização
de exame criminológico.

Ocorre que, com o advento da Lei 13.964/19, o “pacote anticrime”, tal dispositivo foi revogado!! A
partir de agora, a progressão de regime voltará a ser guiada pelo art. 112 da Lei de Execução Penal (LEP), que
também sofreu alterações pela referida Lei, estabelecendo novos prazos a serem cumpridos, conforme
esquema abaixo:

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ESQUEMATIZANDO:

CONDENADO POR CRIME HEDIONDO OU


40% EQUIPARADO SE O RÉU FOR PRIMÁRIO
PRIMÁRIO

%%
CONDENADO PELA PRÁTICA DE CRIME
HEDIONDO OU EQUIPARADO, COM VEDADO O
RESULTADO MORTE, SE FOR PRIMÁRIO, LIVRAMENTO
VEDADO O LIVRAMENTO CONDICIONAL CONDICIOANAL

CONDENADO POR EXERCER O COMANDO,


INDIVIDUAL OU COLETIVO, DE
PROGRESSÃO DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA ESTRUTURADA
REGIME NOS
CRIMES
50% PARA A PRÁTICA DE CRIME HEDIONDO OU
EQUIPARADO
HEDIONDOS

CONDENADO PELA PRÁTICA DO CRIME DE


CONSTITUIÇÃO DE MILÍCIA PRIVADA

60% REINCIDENTE SE O APENADO FOR REINCIDENTE NA PRÁTICA


ESPECÍFICO DE CRIME HEDIONDO OU EQUIPARADO

REINCIDENTE SE O APENADO FOR REINCIDENTE EM


ESPECÍFICO COM CRIME HEDIONDO OU EQUIPARADO VEDADO O
70% RESULTADO COM RESULTADO MORTE, VEDADO O LIVRAMENTO
MORTE LIVRAMENTO CONDICIONAL. CONDICIOANAL

PROGRESSÃO DE REGIME NOS CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS


40% - Primário + Crime Hediondo/Equiparado
- Primário + Crime Hediondo/Equiparado, COM RESULTADO MORTE,
VEDADO O LIVRAMENTO CONDICIONAL.
Obs.: Note que o PAC criou uma nova vedação ao livramento condicional
nesse caso. Isso porque, se seguisse a regra geral prevista no CP, caberia o
50 %
livramento condicional.
- Exercer o COMANDO, individual ou coletivo, de organização criminosa
estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado.
- Condenado pela prática do crime de constituição de MILÍCIA PRIVADA.
- Reincidente + Crime Hediondo/Equiparado.
60% Obs.: Embora a LEP não inviabilize o livramento condicional, o CP o faz
quando o agente for reincidente específico em crime hediondo (art. 83, V).

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Reincidente [ESPECÍFICO] + Crime Hediondo/Equiparado, COM RESULTADO


70%
MORTE, VEDADO O LIVRAMENTO CONDICIONAL.

Obs.: O art. 112 da LEP não previu percentual de progressão para o condenado por crime hediondo ou
equiparado que for reincidente comum (reincidente não específico). Diante da ausência de previsão legal, o
julgador deve integrar a norma aplicando a analogia “in bonam partem”, ou seja, aplica-se a mesma fração
do condenado primário, 40% ou 50%, conforme o caso (STJ, HC 581.315/PR, julgado em 10/06/2020 –
Disponível no Informativo 681).

6.6 Direito de Recorrer em Liberdade

Art. 2º, Lei nº 8.072/90. (...) §3º Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá
fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade.

Interpretação conforme a CF: Réu processado preso, recorre preso, salvo se desaparecerem os
fundamentos que determinaram a decretação da prisão preventiva. Por outro lado, réu processado solto,
via de regra, recorre solto, salvo se presentes os fundamentos da prisão preventiva, eis a interpretação
conforme a Constituição.
Ante o exposto, contemplamos que está vedado a imposição da condição de recolhimento ao cárcere
para recorrer, devendo a sua decretação quando necessária ser fundamentada, em observância ao art. 93,
IX, da CF.

6.7 Estabelecimentos Penais De Segurança Máxima

Art. 3º, Lei nº 8.072/90. A União manterá estabelecimentos penais, de segurança


máxima, destinados ao cumprimento de penas impostas a condenados de alta
periculosidade, cuja permanência em presídios estaduais ponha em risco a ordem
ou incolumidade pública.
Obs.: O condenado de alta periculosidade pode não ser necessariamente um condenado por crime
hediondo ou equiparado.

● Condenado federal cumprindo pena em estabelecimento estadual: Competência da execução é do


JUIZ ESTADUAL.

Súmula 192 do STJ - Compete ao juízo das execuções penais do estado a execução
das penas impostas a sentenciados pela justiça federal, militar ou eleitoral, quando
recolhidos a estabelecimentos sujeitos a administração estadual.

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LEI DE CRIMES HEDIONDOS

● Condenado no âmbito estadual, cumprindo pena em estabelecimento federal: A competência para


atuar na execução é da JUSTIÇA FEDERAL.

DICA DD: A lógica é: a competência é de quem fiscaliza o estabelecimento.

6.8 Prioridade no Trâmite dos Processos

Em atendimento ao Código de Processo Penal, haverá prioridade de tramitação dos processos que
versarem sobre crimes hediondos.

Art. 394-A, CPP. Os processos que apurem a prática de crime hediondo terão
prioridade de tramitação em todas as instâncias.

7. PRISÃO TEMPORÁRIA E CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS

Por fim, e com alto índice de cobrança nas provas objetivas, bem como relevância para a confecção
de representações rotineiramente presentes em provas de segunda fase, há a previsão de prazo excepcional
para a prisão temporária nos crimes hediondos.
A prisão temporária é uma modalidade de prisão provisória, decretada antes do trânsito em julgado
da condenação, e tem natureza cautelar. No Brasil a prisão temporária é possível apenas na fase
investigatória, por esse motivo ela não pode ser decretada de ofício pelo juiz, dependendo de requerimento
do MP ou representação da autoridade policial.
Art. 2º, Lei nº 8.072/90. (...) § 4º A PRISÃO TEMPORÁRIA, sobre a qual dispõe a Lei
nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o
PRAZO de 30 DIAS, prorrogável por igual período em caso de extrema e
comprovada necessidade.

PRISÃO TEMPORÁRIA - CRIMES HEDIONDOS E


PRISÃO TEMPORÁRIA - REGRA GERAL
EQUIPARADOS

5 dias, prorrogáveis por igual período. 30 dias, prorrogáveis por igual período

Rol de crimes que aceitam a Prisão Temporária


(previsto pela lei 7.960 de 1989):
II - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria
ou participação do indiciado nos seguintes crimes:
a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°);
b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°);
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c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);


d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único);
g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único);
h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput, e parágrafo único);
i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270,
caput, combinado com art. 285);
l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;
m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de 1956), em qualquer de sua formas típicas;
n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro de 1976);
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho de 1986).

O crime de envenenamento de água potável já foi considerado hediondo, mas hoje em


dia é crime simples, de modo que o prazo da prisão temporária será 5 + 5 dias.

Existem crimes hediondos que não estão previstos no rol de crimes que admitem temporária (art.
1º, III da Lei. 7960/89). Esses crimes admitem essa modalidade de prisão cautelar? Ex.: crimes de estupro de
vulnerável (art.217 CP), falsificação de remédios (art.273 CP) e tortura.
R.: Para a doutrina majoritária, a Lei 7.960 é lei ordinária, assim como a lei 8.072. Nesse sentido, a lei
8.072 poderá aumentar o prazo da prisão temporária (de 5+5 para 30 +30), bem como aumentar o rol de
crimes hediondos.
O §4º do art.2º da lei 8.072/1990 ampliou, não apenas, o prazo da prisão temporária, mas também
o rol dos delitos passíveis de prisão temporária.

8. CAUSA DE AUMENTO DO §9º DA LEI DE CRIMES HEDIONDOS

Explicação retirada do site Dizer o Direito:

Veja a redação do art. 9º da Lei nº 8.072/90:

Art. 9º, Lei nº 8.072/90. As penas fixadas no art. 6º para os crimes capitulados nos
arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º, 213, caput e sua
combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, 214 e sua combinação com o
art. 223, caput e parágrafo único, todos do Código Penal, são acrescidas de metade,

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respeitado o limite superior de trinta anos de reclusão, estando a vítima em


qualquer das hipóteses referidas no art. 224 também do Código Penal.

Essa causa de aumento prevista no art. 9º da Lei de Crimes Hediondos ainda está em vigor?
NÃO. O entendimento do STJ e do STF é o de que o art. 9º da Lei de Crimes Hediondos foi
revogado tacitamente pela Lei nº 12.015/2009, considerando que esta Lei revogou o art. 224 do CP, que era
mencionado pelo art. 9º.
Logo, como não mais existe o art. 224 no CP, conclui-se que o art. 9º da Lei de Crimes Hediondos
perdeu a eficácia (expressão utilizada em um voto do Min. Dias Toffoli).
O art. 9º da Lei de Crimes Hediondos ficou carente de complemento normativo em vigor, razão pela
qual foi revogada a causa de aumento nele consignada.
Imagine que uma pessoa foi condenada, antes da Lei nº 12.015/2009, pela prática de estupro
contra menor de 14 anos com a incidência da causa de aumento do art. 9º da Lei de Crimes Hediondos.
Como ocorreu a revogação tácita do art. 9º, essa pessoa poderá alegar que houve “novatio legis in
mellius” e pedir para retirar de sua condenação a causa de aumento do art. 9º?
SIM. Essa causa de aumento deve ser extirpada da reprimenda já imposta, por força do princípio
da novatio legis in mellius (art. 2º, parágrafo único, do CP):

Art. 2º, CP. (...) Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o
agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença
condenatória transitada em julgado.

Com a revogação expressa do art. 224 do Código Penal pela Lei nº 12.015/2009, há de ser
redimensionada a pena aplicada ao condenado, subtraindo-lhe o acréscimo sofrido em razão do aumento da
pena previsto no art. 9º da Lei nº 8.072/90, considerando-se o princípio da novatio legis in mellius, previsto
no art. 2º, parágrafo único, do CP. STJ. 5ª Turma. HC 428.251/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
17/04/2018.
Em suma:

A causa de aumento prevista no art. 9º da Lei de Crimes Hediondos foi tacitamente


revogada pela Lei nº 12.015/2009, considerando que esta Lei revogou o art. 224 do
CP, que era mencionado pelo referido art. 9º.
Se um indivíduo foi condenado, antes da Lei nº 12.015/2009, pela prática de
estupro contra menor de 14 anos com a incidência da causa de aumento do art. 9º
da Lei de Crimes Hediondos, esta majorante deverá ser retirada de sua condenação
por força da novatio legis in mellius (art. 2º, parágrafo único, do CP).
Diante da revogação do art. 224 do CP pela Lei nº 12.015/2009, ainda que o fato
delituoso seja anterior a esta alteração, é o caso de se decotar da pena do
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condenado o acréscimo baseado no art. 9º da Lei nº 8.072/90. STF. Plenário. HC


100181/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 15/8/2019 (Info 947).

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