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Caderno de Direito Penal

SUMÁRIO

AULA 01 - PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL E A JURISPRUDÊNCIA DOS


TRIBUNAIS SUPERIORES......................................................................................................4

1) EVOLUÇÃO RECENTE DO DIREITO PENAL...........................................................4

2) FINS DO DIREITO PENAL...........................................................................................5

3) PENA COMO RESPOSTA ESTATAL AO DESVIO, NÃO COMO VINGANÇA......5

4) DIREITO PENAL MÍNIMO, SIM; ABOLICIONISMO, NÃO.....................................6

5) FINS DA PENA...............................................................................................................7

6) PRINCÍPIOS....................................................................................................................8

7) A SUPERAÇÃO DO POSITIVISMO.............................................................................9

8) PRINCÍPIOS PENAIS...................................................................................................10

9) O SISTEMA GARANTISTA (SG) DE LUIGI FERRAJOLI – 10 AXIOMAS GO


GARANTISMO PENAL......................................................................................................17

1) ORDENAÇÕES DO REINO.........................................................................................19

2) CARACTERÍSTICAS DO LIVRO V DAS ORDENAÇÕES FILIPINAS..................21

3) CONSTITUIÇÃO DO IMPÉRIO (1824)......................................................................21

4) CÓDIGO CRIMINAL DO IMPÉRIO (1830)...............................................................21

5) CARACTERÍSTICAS DO CÓDIGO CRIMINAL DO IMPÉRIO 1830......................22

6) FIM DO IMPÉRIO........................................................................................................24

7) CÓDIGO PENAL REPUBLICANO (1890).................................................................25

8) CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS PENAIS (1832)...........................................................26

9) CONSTITUIÇÃO DE 1934...........................................................................................26

10) CONSTITUIÇÃO DE 1837 – A POLACA...............................................................27

11) CÓDIGO PENAL DE 1940 (DECRETO LEI 2.848, de 07 de dezembro de 1940)..27


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12) CÓDIGO PENAL DE 1969.......................................................................................28

13) REDEMOCRATIZAÇÃO.........................................................................................28

AULA 03 – APLICAÇÃO DA LEI PENAL............................................................................29

1) TEMPO DO CRIME......................................................................................................29

2) LEI PENAL NO ESPAÇO............................................................................................36

3) A LEI PENAL RELATIVA ÀS PESSOAS..................................................................39

AULA 04 - DIREITO PENAL DO INIMIGO.........................................................................43

AULA 05 – SISTEMAS PENAIS............................................................................................44

1) Causalismo naturalista...................................................................................................44

2) NEOKANTISMO – “CAUSALISMO NORMATIVISTA”(MEZGER)......................45

3) Finalismo........................................................................................................................46

4) Funcionalismo................................................................................................................47

AULA 06 – IMPUTAÇÃO OBJETIVA...................................................................................50

1) TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA E SISTEMAS PENAIS..............................50

2) Teorias de imputação objetiva: critérios de aplicação...................................................53

AULA 07 – ILICITUDE E ERRO DE TIPO...........................................................................56

1) TEORIA PSICOLÓGICA DA CULPABILIDADE......................................................56

2) Teoria Normativa da Culpabilidade (Psicológico-Normativa)......................................56

3) Teoria Normativa Pura da Culpabilidade (Teoria Extrema ou Estrita da Culpabilidade)


56

4) Teoria Limitada da Culpabilidade.................................................................................57

5) ERRO DE TIPO.............................................................................................................57

6) ERRO DE PROIBIÇÃO................................................................................................59

AULA 08 – CULPABILIDADE..............................................................................................60

AULA 09 – TEORIA GERAL DA PENA...............................................................................65

1) CARACTERÍSTICAS DA PENA.................................................................................65

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2) FINALIDADES DA PENA...........................................................................................65

AULA 10 – PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE...............................................................71

1) INTRODUÇÃO – BREVE ANÁLISE HISTÓRICA....................................................71

2) BRASIL.........................................................................................................................72

3) ESPÉCIES DE PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE (PPL).....................................73

4) Definição do regime inicial de cumprimento de pena...................................................74

5) Aplicação da pena..........................................................................................................75

6) Regime inicial em leis especiais....................................................................................76

7) Regimes penitenciários..................................................................................................78

8) LIMITE DE CUMPRIMENTO DE PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE E SUAS


IMPLICAÇÕES....................................................................................................................80

AULA 11 – PENAS ALTERNATIVAS..................................................................................82

AULA 12 - MEDIDAS ALTERNATIVAS À PRISÃO (TRANSAÇÃO PENAL, SURSIS


PENAL E PROCESSUAL, LIVRAMENTO CONDICIONAL).............................................90

AULA 13 – MEDIDAS DE SEGURANÇA..........................................................................111

AULA 14 – PUNIBILIDADE E PRESCRIÇÃO...................................................................116

AULA 15 - CONCURSO DE CRIMES. EFEITOS DA CONDENAÇÃO. REABILITAÇÃO


CRIMINAL.............................................................................................................................124

AULA 16 – AÇÃO PENAL...................................................................................................138

AULA 17 – APLICAÇÃO DA PENA...................................................................................145

AULA XX - DIGNIDADE SEXUAL...................................................................................150

AULA XX – TUTELA PENAL DO PATRIMÔNIO............................................................154

AULA 01 –
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PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL E A JURISPRUDÊNCIA DOS TRIBUNAIS


SUPERIORES

O STJ tem a competência de interpretar as leis penais. O Direito Penal, nas suas
configurações atuais, surgiu com o Iluminismo.

1) EVOLUÇÃO RECENTE DO DIREITO PENAL

1.1. DO ANTIGO REGIME AO ILUMINISMO

A) Irracionalismo punitivo e confusão entre: Direito e moral; Estado e Igreja; Crime e


Pecado; O Direito Penal se restringia a normas relacionadas à moral religiosa.

No caso de Tiradentes, além da morte, ele foi esquartejado, seus restos corporais
expostos ao público, e sua casa recebeu sal.

A pena de prisão de liberdade era mais utilizada como forma de guardar a pessoa até o
momento da morte.

Nos casos de crime de heresia, a Igreja declarava a sentença de morte, e o Estado


realizava a execução.

1.2. DIREITO PENAL PÓS-ILUMINISMO (MEADOS DO SÉCULO XVIII)

Marquês de Beccaria (Dos delitos e das penas, 1764)  marco divisor do Direito
Penal. Principais idéias: finalidade preventiva das penas, presunção de inocência, proibição de
tortura, certeza e não severidade da punição como freio ao crime, humanidade na execução
das penas, legalidade, proporcionalidade, necessidade e utilidade da pena, processo público e
célere, leis claras.

A tortura era meio legítimo para a obtenção de provas.

1.2.1. Características
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 Limitações ao poder punitivo;


 Prisão como novo paradigma das punições: dos suplícios corporais para a privação de
liberdade passa-se a punir mais a alma (pelo tempo e sofrimento do cárcere) do que o
corpo. A prisão passa a ser a inovação humanizadora da pena;
 Positivação dos direitos naturais em códigos;
 Discrição na execução da pena: “No fim do século XVII e começo do XIX, a despeito
de algumas grandes fogueiras, a melancólica festa de punição vai-se extinguindo”
(FOUCAULT);

2) FINS DO DIREITO PENAL

a) Limitar o papel punitivo e repressivo do Estado (pune o violador e impede que o


próprio Estado abuse do poder;
b) Prevenir crimes e reações informais da sociedade;
c) Tutelar positivamente os bens jurídicos e interesses sociais, nos limites da primeira
função assinalada;

3) PENA COMO RESPOSTA ESTATAL AO DESVIO, NÃO COMO VINGANÇA

Opinião dos jusnaturalistas (e acolhida por retributivistas e utilitaristas). A pena é, por


primeiro, o produto da socialização e, ao depois, da estatização da vingança privada.

FERRAJOLI critica: Historicamente, o direito penal nasce não como


desenvolvimento, mas sim como negação da vingança, não com o propósito de garanti-la, mas
sim de impedi-la. “[...] Nesse sentido, podemos dizer que a história do direito penal e da pena
corresponde a uma longa luta contra a vingança [...]”; “o direito penal nasce, precisamente,
neste momento, quando a relação bilateral ofendido/ofensor é substituída por uma relação
trilateral, que coloca em posição imparcial uma autoridade judiciária”.

4) DIREITO PENAL MÍNIMO, SIM; ABOLICIONISMO, NÃO

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“Precisamente, monopolizando a força, delimitando-lhe os pressupostos e as


modalidades e precluindo-se o exercício arbitrário por parte dos sujeitos não autorizados – a
proibição e a ameaça penal protegem os possíveis ofendidos contra os delitos, ao passo que o
julgamento e a imposição da pena protegem, por mais paradoxal que pareça, os réus (e os
inocentes suspeitos de sê-lo), contra as vinganças e outras reações mais severas. Assim, a lei
penal se justifica como a lei do mais fraco, voltada para a tutela dos seus direitos contra a
violência arbitrária do mais forte”.

“[...]E sob esta base que as duas finalidades preventivas - a prevenção dos delitos e
aquela das penas arbitrárias - são, entre si, conexas, vez que legitimam, conjuntamente, a
"necessidade política" do direito penal enquanto instrumento de tutela dos direitos
fundamentais, os quais lhe definem, normativamente, os âmbitos e os limites, enquanto bens
que não se justifica ofender nem com os delitos nem com as punições. Esta legitimidade [...]
não é "democrática" no sentido que não provém do consenso da maioria. É, sim, "garantista",
e reside nos vínculos impostos pela lei à função punitiva e à tutela dos direitos de todos [...]. o
monopólio estatal do poder punitivo é tanto mais justificado quanto mais baixos forem os
custos do direito penal em relação aos custos da anarquia punitiva [...]” (FERRAJOLI).

O direito penal traz uma relação de forças, seja do infrator com a vítima, seja do
infrator com o Estado.

DIREITO PENAL MÍNIMO: condicionado e limitado ao máximo, corresponde não


apenas ao grau máximo de tutela das liberdades dos cidadãos frente ao arbítrio punitivo, mas
também a um ideal de racionalidade e de certeza.

DIREITO PENAL MÁXIMO: incondicionado e ilimitado, é o que se caracteriza, além


de sua excessiva severidade, pela incerteza e imprevisibilidade das condenações e das penas.
Ele trabalha com a ideia de quanto maior a punição, menor o cometimento de crimes.

Um sistema que trabalha com o direito penal máximo costuma ser o que mais comete
erros judiciários.

“A certeza perseguida pelo direito penal máximo está em que nenhum culpado fique
impune, à custa da incerteza de que também algum inocente possa ser punido. A certeza
perseguida pelo direito penal mínimo está, ao contrário, em que nenhum inocente seja punido
à custa da incerteza de que também algum culpado possa ficar impune” (FERRAJOLI).

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5) FINS DA PENA

Teorias dos fins da pena Verbos/ Expressões verbais

Retribuição Responder, pagar,

A lei penal pretende desestimular, inibir,


Prevenção geral negativa
intimidar, a prática de novos crimes;

Jakobs; quando se tem um direito penal


respeitado, a sociedade vive melhor; afirmação
Prevenção geral positiva
da norma, reforço de valores, produzir
confiança, dar credibilidade às instituições;

Prevenção especial negativa

Prevenção especial positiva

A geral volta-se para toda a coletividade, enquanto a especial para um indivíduo


específico para que não volte a delinquir.

A METÁFORA DOS CINCO ESTUDANTES (Louk Hulsman) – um deles destrói a


televisão do grupo. Seus companheiros reagem de formas diversas:

Um se enfurece e exige a prisão do que causou o estrago (deve ser punido –


meramente retributiva);

Um exige a compra de uma nova TV (reparação do dano);

Um fica chocado e pede que o amigo seja levado ao médico (visão terapêutica);

Um pensa em analisar todo o convívio dos estudantes e ver quais atitudes e motivos
causaram a reação de seu amigo (versão mais filosófica e observadora dos acontecimentos);

6) PRINCÍPIOS

Os princípios, de um modo geral, asseguram a interpretação e a aplicação do Direito,


tendo como referência valores e fins reconhecidos, explícita ou implicitamente, pela ordem

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jurídica de um dado país. No caso do Brasil, a CF, já em seu preâmbulo, afirma que somos
um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a
liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia
social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das
controvérsias.

Os princípios, como acentua R. ALEXY, operam com um mandado de otimização,


visto que ordenam que algo seja realizado dentro da realidade existente e na medida das
possibilidades. Por isso, a maioria dos princípios não conduz a uma única, linear e inflexível
interpretação, mas, ao contrário, devem estar sempre abertos a construções judiciais que
assegurem sua progressiva implementação.

A propósito, vale sempre recordar a lição de Alexy quanto à classificação dos


princípios e das regras como espécies do gênero normas. Havendo colisão entre duas regras,
uma elimina a outra, por juízo de validade (tudo ou nada). Se dois princípios, porém,
aparentemente estão em conflito, um deles prepondera, mediante juízo de proporcionalidade,
sobre o outro no momento da resolução do embate, ante as condições fáticas e jurídicas da
situação concreta.

6.1. FUNÇÕES DOS PRINCÍPIOS

a) Programática ou diretiva (vinculante e não meramente abstrata): são instruções que o


legislador emite para servir como norte de atuação para os agentes públicos;
b) Integrativa (na ausência de lei clara e expressa);
c) Interpretativa (no processo judicial de aplicação das normas em geral, inclusive dos
princípios);
d) Fundamentadora: “Os princípios são o oxigênio das Constituições na época do pós-
positivismo” (Paulo Bonavides); “Os princípios são fundamento de regras, isto é, são normas
que estão na base ou constituem a ratio de regras jurídicas, desempenhando, por isso, uma
função nomogenética fundamentante” (J.J. GOMES CANOTILHO).

6.2. LIMITAÇÃO INTERPRETATIVA AO JUIZ NO POSITIVISMO

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 Confiança maior nos legisladores;


 Prevalece o direito positivado em Códigos e leis;
 Na tradição do civil Law imaginou-se que a lei e os códigos deveriam ser tão claros e
completos que não poderiam suscitar quaisquer dúvidas ao juiz;
 Juiz “Bouche de La Loi” – boca da lei - os juízes da nação não são mais do que a
boca que pronuncia as palavras da lei, seres inanimados que não podem moderar
nem a força nem o rigor das leis (MONTESQUIEU, século XVIII);
 Beccaria (século XVIII): em nome da segurança jurídica, “nem mesmo a autoridade de
interpretar as leis pode caber aos juízes criminais, pela própria razão de não serem eles
os legisladores”;
 Século XIX: positivação dos direitos naturais nos códigos e limitação ao poder judicial
de interpretar a norma;

7) A SUPERAÇÃO DO POSITIVISMO

Com o positivismo jurídico os princípios ferais do Direito passaram a integrar o


ordenamento, passando a servir como recursos para o preenchimento de lacunas do Direito.
Exemplo nos dá a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, cujo art. 4º dizia:
“Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais de direito”.

Somente a partir da segunda metade do século XX os princípios passaram a a ter a


devida dimensão, com a constitucionalização de muitos deles.

Com isso assumem eles, não somente no Direito Constitucional, mas em todo o
Direito, uma valoração e eficácia nunca ocorrida, pois passam a ser as “normas-chave” de
todo o sistema jurídico (BONAVIDES).

8) PRINCÍPIOS PENAIS

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Já os princípios penais, em particular, refletem a evolução das ciências jurídico-penais


(dogmática penal, criminologia e política criminal) ao longo dos últimos dois séculos, período
em que, progressivamente, o mundo ocidental foi plasmando, em normas escritas ou não,
comandos informadores de um Direito Penal compatível com as conquistas civilizatórias pós-
iluministas.

Esses princípios, analisados em conjunto, constituem as “normas fundantes e nucleares


de um sistema” (Celso Antônio Bandeira de Melo), no caso o penal, a pressupor, portanto, a
convivência harmoniosa entre eles. São, enfim, diretrizes, normas, fins ou valores dos quais
deve sujeitar-se o direito penal caracterizado pela racionalidade punitiva.

8.1. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Exemplos de regras e princípios que decorrem da dignidade da pessoa humana e dos


valores que a ela subjazem:

a) A punição às discriminações atentatórias dos direitos e liberdades fundamentais


(inciso XLI);
b) A incriminação da prática de racismo (inciso XLII);
c) A inafiançabilidade e a insuscetibilidade de graça ou anistia dos crimes de tortura
(inciso XLIII);
d) A intranscendência da pena (inciso XLV);
e) A individualização da pena (inciso XLVI);
f) A proibição de penas desumanas, cruéis e infamantes (inciso XLVII);
g) A individualização executiva da pena (XLVIII e L);
h) A dignidade do acusado (inciso XLIX);

Julgado do STJ – AgRg no HC 297.069/RS – Relator Ministro Rogério Schietti:

“1. Na situação em que o apenado submetido ao regime semiaberto ou


aberto estiver cumprindo pena de modo mais gravoso, por inexistência
de vaga em local próprio, é permitida, excepcionalmente, a concessão
de prisão em regime aberto ou, persistindo a falta de vaga, de prisão
domiciliar. Isso porque é inadmissível a submissão do apenado a um

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regime mais gravoso do que o fixado na execução penal por


deficiência do sistema carcerário estatal, em afronta ao princípio da
dignidade da pessoa humana. 2. Agravo regimental não provido.”

8.2. LEGALIDADE (RESERVA LEGAL)

8.2.1. Fundamentos

a) Político: tem como fonte a Teoria da Separação dos Poderes, de Montesquieu,


e implica a ideia de que somente o Poder Legislativo está legitimado a definir o que é infração
penal. Com isso também se proíbe a criação de crimes e a punição com base em costumes ou
com uso de analogia.
b) Jurídico: a prévia definição de quais são os crimes e de quais são as respectivas
penas, pelo legislador é condição para a convivência em sociedade que necessita da segurança
jurídica, de modo a permitir aos homens saberem quais são as normas que regem suas
condutas e quais as consequências para a sua desobediência.

No sistema garantista de FERRAJOLI, o princípio da legalidade é destacado em uma


função mais ampla. “[...] Enquanto o axioma de mera legalidade se limita a exigir a lei como
condição necessária da pena e do delito (nulla poena, nullum crimen sine lege), o princípio da
legalidade estrita exige todas as demais garantias como condições necessárias da legalidade
penal (nulla lex poenalis sine necessitate, sine injuria, sine actione, sine culpa, sinejudicio,
sine accusatione, sine probatione, sine defensione) [...]”.

8.2.2. Desdobramentos/especificações do Princípio da Legalidade

a) “nulla poena, nullum crimen sine lege”: Não há crime nem pena sem lei prévia. Só se
pode punir alguém por algo se a lei estiver na vigência no momento do cometimento, logo,
pendendo de vacatio legis, ao indivíduo não pode ser imputada a determinada conduta;

Se uma lei nova alterar o crime, pode ocorrer abolitio criminis ou a lei pior. Sendo lei
que piore a situação do réu, ela jamais irá retroagir ao momento dos fatos. Porém, se a lei

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nova extinguir o crime ou trouxer qualquer benefício, irá retroagir para beneficiar o réu.
Efeitos ultrativos da lei melhor e não retroativos da lei pior.

Há vedação do direito consuetudinário para edição de leis.

A analogia não pode ser utilizada para prejudicar o réu.

A lei anterior deve ser certa, não pode gerar dúvidas ao indivíduo nem ao intérprete.
Os seus conceitos devem ser compreensíveis, não podem ser abstratos, deixando brechas à
várias interpretações.

8.3. INTERVENÇÃO MÍNIMA (ULTIMA RATIO)

Segundo JUZARES TAVARES, o princípio da intervenção mínima não coincide com


os princípios da subsisdiariedade e da fragmentariedade do Direito Penal, ou mesmo com o
princípio da intervenção mínima “... constitui, antes de mais nada, um princípio de ordem
política, que vincula o legislador, previamente a qualquer elaboração legislativa, de modo que
esse se veja obrigado a verificar se a lei que irá propor, formular, discutir, redigir ou
promulgar se harmoniza com os postulados dos direitos humanos”.

8.4. SUBSIDIARIEDADE E FRAGMENTARIEDADE

A primeira exige que somente se qualifique como crime aquelas condutas que
ofendam significativamente os bens jurídicos tutelados pela norma penal. Deve ser uma
ofensa que traga risco de perecimento do bem jurídico.

A segunda traz a ideia de que o direito, como um complexo normativo que se desdobra
em diversos ramos, pode encontrar soluções pra punir certas condutas que violem de diversas
formas, sem que seja necessário valer-se do direito penal, mas, por exemplo, do direito civil
ou administrativo.

Costumam vir articulados com o princípio mais amplo, o da intervenção mínima, e


implicam reconhecer que o Direito Penal, pelo seu caráter fragmentário, “só pode intervir
quando se trate de tutelar bens fundamentais e contra ofensas intoleráveis, o que justifica a
imposição da medida extrema da pena e seus maléficos efeitos”.

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Já o caráter subsidiário significa que a norma penal exerce uma função meramente
suplementar da proteção jurídica em geral, só valendo a imposição de suas sanções quando os
demais ramos do Direito não mais se mostrem eficazes na defesa dos bens jurídicos (JUAREZ
TAVARES).

A mesma ideia vem exposta por BUSTOS RAMIREZ, que salienta o aspecto
policialesco que o Estado pode assumir na hipótese de pretender impor, pela violência do
controle formal, a solução punitiva. Em semelhante situação, as pessoas viveriam sob
permanente tensão e ameaça de serem punidas, o que seria a própria negação do Estado de
Direito.

BINDING, o formulador inicial do princípio da fragmentariedade, em seu Tratado de


Direito Penal Alemão Comum, de 1896, afirmava que o Direito Penal desempenhava uma
função tuteladora fragmentária de bens jurídicos, somente justificável nas hipóteses em que a
conduta fosse merecedora de pena.

8.5. NECESSIDADE

“Toda pena que não derive da necessidade é tirânica” (MONTESQUIEU).

Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789: “a lei apenas deve


estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias”, texto repetido na Constituição
Francesa de 1791.

Alguns autores SILVA SANCHEZ, HASSEMER e MUNOZ CONDE afirmam que há


ofensa a intervenção mínima pelo judiciário ao impedir a determinação, no caso concreto, da
pena abaixo do mínimo cominado, quando se revela excessivo para o crime praticado. E na
execução penal também se verificaria a violação a esse princípio na hipótese em que o
apenado já se encontra totalmente apto a retornar ao convívio antes do término de sua
reprimenda, e nada se pode fazer a não ser aguardar o tempo pré-fixado.

8.6. PROPORCIONALIDADE

Diz respeito à aplicação da pena, a sua quantidade a ser aplicada.

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Se punir  intervenção mínima, necessidade da pena, fragmentariedade e


subsidiariedade do Direito Penal.

Quanto (em que medida) de pena a ser imposta  proporcionalidade

Há proporcionalidade na:

 Cominação das penas (legislador);


 Exposição das penas (juiz da condenação);
 Execução das penas (juiz da execução);

O STJ (HC 177.972-BA) considerou inconstitucional o preceito secundário do art. t.


273, § 1º-B, V, do CP, por ofensa aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

8.7. OFENSIVIDADE

O princípio da lesividade ou ofensividade, de acordo com o qual o direito penal só


deve incriminar condutas materialmente lesivas ao bem jurídico protegido, possui quatro
funções, segundo NILO BATISTA:

I – Proíbe a incriminação de uma atitude interna: ideias, crenças e convicções não


podem ser punidas, pois existentes apenas no plano psicológico, nem em casos em que se
orientem para a prática de um delito;

II – A norma penal não pode incriminar a conduta que não exceda o âmbito do próprio
autor;

III – Proíbe a incriminação de simples estados ou condições existenciais. No dizer de


ZAFFARONI, “um direito que reconheça e ao mesmo tempo respeite a autonomia moral da
pessoa jamais pode apenas o ser, senão o fazer dessa pessoa, já que o próprio direito é uma
ordem reguladora de conduta”;

IV – Proíbe a incriminação de comportamentos que, embora desviados do padrão


social, não provocam lesão a interesse ou bem jurídico;

8.8. INSIGNIFICÂNCIA PENAL


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É um princípio de aplicação judicial, na analise concreta do caso. Sua origem mais


remota vem do Direito Romano, e passou a ser difundido por Claus ROXIN, na década de 60
do século passado.

No Brasil foi popularizado sobretudo por Francisco Assis TOLEDO, quando, em


conhecida obra, pontuou que “segundo o princípio da insignificância, que se revela por inteiro
pela sua própria denominação, o direito penal, por sua natureza fragmentária, só vai até onde
seja necessário para a proteção do bem jurídico. Não deve ocupar-se de bagatelas”.

Trata-se, assim, de instrumento de interpretação restritiva da conduta humana, de


modo a afastar de punição aquelas que, embora formalmente estejam descritas em um tipo
penal, não atingem, de modo relevante o bem jurídico tutelado pela norma jurídica. Quer
como exclusão da tipicidade material, quer como exclusão da punibilidade do agente, certo é
que o princípio da insignificância afasta do âmbito do Direito Penal as condutas humanas que
não possuem significância.

STF – Ministro Celso de Melo:

o sistema jurídico há de considerar a relevantíssima circunstância de


que a privação da liberdade e a restrição de direitos do indivíduo
somente se justificarão quando estritamente necessárias à própria
proteção das pessoas, da sociedade e de outros bens jurídicos que
lhes sejam essenciais, notadamente naqueles casos em que os valores
penalmente tutelados se exponham a dano, efetivo ou potencial,
impregnado de significativa lesividade.

O direito penal não se deve ocupar de condutas que produzam


resultado cujo desvalor – por não importar em lesão significativa a
bens jurídicos relevantes – não represente, por isso mesmo, prejuízo
importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à
integridade da própria ordem social.”

(RTJ 192/963-964, Rel. Min. CELSO DE MELLO)

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O postulado da insignificância – que considera necessária, na


aferição do relevo material da tipicidade penal, a presença de certos
vetores, tais como (a) a mínima ofensividade da conduta do agente,
(b) a nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo
grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade
da lesão jurídica provocada – apoiou-se, em seu processo de
formulação teórica, no reconhecimento de que o caráter subsidiário
do sistema penal reclama e impõe, em função dos próprios objetivos
por ele visados, a intervenção mínima do Poder Público em matéria
penal.

8.9. CULPABILIDADE

Ele decorre que ninguém pode ser condenado ser que seja culpado. Não há crime, nem
pena, sem culpabilidade (nulla poena sine culpa).

Encontra-se implícito na atual CF, art. 5, inciso XLV, sob a ótica material.

Para a ocorrência de crime e imposição de sanção ao seu autor é preciso que se


demonstre tenha agido com dolo ou culpa (se prevista para a hipótese).

A responsabilidade penal é, portanto, subjetiva, não se presume e não decorre de mero


exercício de cargo, mandato ou profissão, sendo também necessário comprovar o liame causal
entre a ação ou omissão dolosa do paciente e a suposta ilicitude penal.

HC 177.293/ SP – Ministra Maria Tereza:

“[...] É ilegal a aplicação de sanção de caráter coletivo, no âmbito da


execução penal, diante de depredação de bem público quando,
havendo vários detentos num ambiente, não for possível precisar de
quem seria a responsabilidade pelo ilícito. O princípio da
culpabilidade irradia-se pela execução penal, quando do
reconhecimento da prática de falta grave, que, à evidência, culmina
por impactar o status libertatis do condenado" (STJ/HC 177.293/SP,
relª. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 24.4.2012).”
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9) O SISTEMA GARANTISTA (SG) DE LUIGI FERRAJOLI – 10 AXIOMAS GO


GARANTISMO PENAL

PENA  Quando e como punir

A1. Nulla poena sine crimine Retributividade

A2. Nullum crimem sine lege Legalidade

A3. Nulla Lex poenalis sine necessitate Necessidade

CRIME  Quando e como proibir

A4. Nulla necessitas sine injuria Lesividade

A5. Nulla injuria sine actione Materialidade

A6. Nulla actio sine culpa Culpabilidade

PROCESSO  Quando e como julgar

A7. Nulla culpa sine judicio Jurisdicionalidade

A8. Nullum judicium sine accusatione Acusatório

A9. Nulla accusatio sine probatione Ônus da prova

A10. Nulla probatio sine defensione Contraditório

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Caderno de Direito Penal

AULA 02 - HISTÓRIA DO DIREITO PENAL POSITIVO BRASILEIRO

Livro indicado: Códigos Penais do Brasil – José Henrique Pierangeli.

Onde há convívio social, há Direito. Inclusive entre os nativos brasileiros, podendo


identificar também o Direito Penal.

A sistemática cultural do Direito Brasileiro, e em particular, do Direito Penal, vem de


origem Portuguesa.

1) ORDENAÇÕES DO REINO

Em 1500, em Portugal estavam vigentes as Ordenações Afonsinas (1446/47- 1521)


que eram divididas em cinco livros, sendo o Direito Penal tratado no último, o Livro V. Tendo
em vista o lapso temporal, não chegaram a serem aplicadas em território brasileiro.

Em seguida, as Ordenações Manuelinas (1521- 1623) também cuidavam do Direito


Penal no Livro V, mas não há registro de aplicação no Brasil.

Nas cartas de doação das capitanias, a Coroa Portuguesa concedia ao donatário o


direito de aplicar naquele território, a lei que ele preferisse. Desse modo, as leis vigentes em
Portugal não chegaram a possuir registro de aplicação nas capitanias hereditárias.

Em seguida, surgiram as Ordenações Filipinas (1603 – 1830).

Em Portugal, ate meados de 1900, aplicavam-se as ordenações do reino no âmbito


cível.

Tiradentes foi condenado pelo crime inscrito no Livro VI, o crime de lesa-majestade.
A pena atingiu a pessoa de Tiradentes e até suas gerações futuras. As partes do corpo de
Tiradentes ficaram expostas em grandes locais de circulação para servir de exemplo.

O caso de Tiradentes é a prova que a delação premiada já existiu no país, porque ele
foi delatado e seu delator foi eximido da penal.

Era comum a “morte para sempre” (indivíduo morre já no sepulcro, sem velório), em
que o corpo ficava pendurado na forca até ficar em estado de decomposição até o dia 01 de

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novembro do ano quando os religiosos retiravam o corpo e no dia seguinte, finados,


enterravam o corpo.

As penas comuns era a morte, o confisco de bens e a declaração de infâmia até a


quarta geração masculina, como aconteceu com Tiradentes.

Uma característica era o Direito Penal do Terror, aquele que trabalha com a ideia do
terror, em que as pessoas ficariam com temor da pena e não cometeriam delitos. Tratava-se de
um Direito penal de grande submissão.

O crime de lesa-majestade possuía um rol de condutas que tipificavam o crime, por


exemplo, derrubar estátuas postas em homenagem ao rei de modo jocoso.

É notório, portanto, total violação à proporcionalidade da conduta com a pena.

Também era crime a prática sexual com judeus e mouros, sendo queimado na fogueira.

O adultério feminino dava ao esposo o direito de matar a esposa e o amante, a não ser
que esse fosse fidalgo ou desembargador. O marido traído podia perdoar a esposa, mas seu
amante seria degredado para o Brasil.

Já o adultério masculino era fato atípico, nada acontecia.

Desse modo, percebe-se o caráter discriminatório.

Existia a figura do marido condescendente, aquele que sabia da infidelidade da esposa


e nada fazia, sendo isso condenado pela Coroa e gerava uma pena desse ter que vestir um
chapéu com dois chifres.

Isso configura a ofensa ao princípio da dignidade humana.

O crime de estupro era chamado de crime de Forçamento, e possuía duas modalidades,


o consentido, que era o sexo feito com mulher solteira ou com viúva honesta; e o violento,
que tem o sinônimo de hoje. Todavia, se fosse cometido contra prostituta não havia pena.

Na ocorrência do estupro violento, porém, a mulher deveria sair gritando “vede o que
fulano me fez”, encontrar duas pessoas e dirigir-se a uma autoridade pública, caso contrário,
não poderia sustentar uma denúncia contra o agressor.

A legítima defesa era prevista em linhas gerais quando tratava do homicídio.

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2) CARACTERÍSTICAS DO LIVRO V DAS ORDENAÇÕES FILIPINAS

a) Procurava intimidar as pessoas pelo “terror”;


b) Concedia diversos privilégios (e preconceitos) em relação ao sexo, a condição
social e a religião;
c) Mesclava normas penais e processuais;
d) Não havia divisão metodológica entre Parte Geral e Parte Especial;
e) Cominava pena de morte a boa parte de infrações;
f) Possuía várias modalidades de pena de morte;

Beccaria: estudando na Franca do século XVIII, absorveu pensamentos iluministas de


valorização dos atos individuais frente ao Estado. Escreveu “Dos Delitos e Das Penas”. É um
marco contra as atrocidades do Direito Penal daquela época.

3) CONSTITUIÇÃO DO IMPÉRIO (1824)

Em 1822 houve a Independência do Brasil, e por uma questão prática, as ordenações


portuguesas permaneceram vigentes no país enquanto não fossem criadas as próprias.

Em 25 de março de 1824, foi outorgada a Constituição do Império por Dom Pedro I. E


mesmo sendo outorgada, ela foi editada pela assembléia constituinte e tinha caráter liberal, e
garantia, inclusive, o Tribunal do Júri para julgar causas cíveis (mas não chegou a ser
regulamentado, e não ocorreu) e criminais.

4) CÓDIGO CRIMINAL DO IMPÉRIO (1830)

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Seis anos após a Constituição do Império, surgiu o Código Criminal do Império


(1830), e o motivo da demora foram as longas discussões parlamentares acerca da
manutenção ou não da pena de morte em tempos de paz.

No final, foi decidido pela manutenção da pena de morte, isso ocorreu muito em
função da escravidão, a pena, portanto, foi utilizada para punir amplamente os escravos.

Exceto pela pena de morte, que é considerada uma mancha, o Código Criminal do
Império era uma legislação bem feita, e chegou a inspirar a elaboração de Códigos da
América Latina e também os Europeus, como o da Espanha.

5) CARACTERÍSTICAS DO CÓDIGO CRIMINAL DO IMPÉRIO 1830

a) Manutenção da pena de morte em tempo de paz;


b) Elaborava uma divisão sistemática entre Parte Geral e Parte Especial;
c) A Parte Geral era divida em duas partes, “Dos Delitos” e “Das Penas”;
d) Legislação influenciada pelo pensamento iluminista;
e) Adotava a técnica de elaboração de tipos penais (preceito primário – conduta;
preceito secundário – pena);
f) Continha menção expressa ao Principio da Legalidade;
g) Responsabilidade sucessiva (Lei 5.250/67) dos crimes de imprensa;
h) Foi a primeira lei penal a instituir o sistema do dia-multa;
i) Previa a responsabilidade penal nos casos de embriaguez (era considerada
atenuante) – Teoria da “Actio libera in causae”.

Os crimes de imprensa deveriam ser processados na comarca onde era impresso. E no


caso de radio ou TV, no local onde se deu a transmissão. A Lei de imprensa foi declara não
recepcionada por inteira pelo STF.

A responsabilidade sucessiva, também chamada “em cadeia”, informava que primeiro


deveria ser julgado o autor do escrito gerador do crime de imprensa, e caso esse não fosse
identificado, em seguida, a responsabilidade recaia sobre o editor do jornal ou outro meio de
comunicação. Identificando-se o primeiro da cadeia, os demais já estavam isentos.

O sistema dias-multa é bifásico, conjuga a gravidade do fato com a condição


econômica do réu.
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Na atualidade, a embriaguez não isenta o agente, somente nos casos de


inimputabilidade, e sendo a embriaguez involuntária.

Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:

I - a emoção ou a paixão;

II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de


efeitos análogos.

§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa,


proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou
da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por


embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía,
ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.

Quando bebe para cometer o crime, é a embriaguez pré-ordenada, que consiste em


agravante.

Tobias Barreto, considerado o Nelson Hungria de sua época, fez comentários críticos
ao Código Criminal do Império:

a) Ausência de previsão do crime culposo;


b) Falta de menção/critério para tratamento de crimes omissivos;

Pela teoria causal ou naturalista da omissão, o omitente responde quando deu causa ao
evento. Para que tenha dado caso basta que ele tenha o poder de agir. É o entendimento de
Tobias Barreto.

O CP atual exige o poder/possibilidade e o dever de agir.

O Código de 1830 ainda pecava por conceder privilégios em função de: cidadãos
livres (em detrimento dos escravos), da religião católica. Apesar disso, deve-se levar em

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consideração que o Código foi elaborado sob a égide da Constituição de 1824, que trazia a
religião católica como a oficial do país.

Um exemplo do privilégio se configurava no crime de perturbação de culto, que


apenas existia se fosse contra a religião católica, então oficial.

No tocante à prostituição, durante as ordenações, havia proibição do lenocínio (ato de


incentivar a prostituição alheia), e a prostituta não podia ser vítima de estupro (Manoelinas),
não era crime.

Já no Código Criminal do Império, o lenocínio não era proibido, e quanto ao estupro


de prostituta, tratava-se de crime com punição máxima de dois anos, ou seja, era punível, mas
com pouco rigor.

Os crimes contra os costumes, segundo Hungria, visavam proteger o padrão sexual


médio dentro do desenvolvimento da sexualidade.

Havia o crime de sedução visava proteger a virgindade da mulher solteira. O crime


consistia em seduzir mulher virgem, solteira, e com promessa de casamento.

Na legislação atual, o Título VI do Código Penal traz os Crimes contra a dignidade


sexual (antigos crimes contra os costumes). No título VI, há o capítulo V que trata do
lenocínio (arts. 231 e 231-a) e tráfico de pessoas para fins de prostituição ou outra forma de
exploração sexual (arts. 227-230).

A dignidade sexual é a dignidade humana sob a ótica da sexualidade, sendo esse o


bem jurídico protegido pelo título.

No Brasil, a prostituição em si nunca foi crime. O código atual não pune a


prostituição, mas as condutas que incentivam e tiram proveito da prostituição, na chamada
prostituição intermediada. Logo, a prostituição autônoma é permitida.

6) FIM DO IMPÉRIO

Alguns fatos históricos como a abolição da escravatura (1888) e a Proclamação da


República (1889) trouxeram a necessidade de reajustamento das normas jurídicas.

Em 1890, foi elaborado o Código Penal Republicano, e em seguida, em 1891, a


Primeira Constituição da República.
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Percebe-se, desse modo, que o código foi feito às pressas, antes mesmo da
Constituição, tendo sido considerado motivo de vergonha, com inúmeras falhas e
incongruências, de modo que, logo publicado, já foi objeto de reformas.

7) CÓDIGO PENAL REPUBLICANO (1890)

Foi o responsável por abolir a pena de morte em tempo de paz, é um ponto positivo
que trouxe. Observações sobre o Código:

a) Teve como características a influência da Escola Clássica;

As Escolas Penais surgiram na Itália no século XIX. As grandes rivais foram: a


Clássica e a Positiva.

A primeira sustentava o método dedutivo (parte do geral para o particular), entendia


que o crime era um ente jurídico, sendo o livre arbítrio o fundamento jurídico de punir, e
finalidade da pena era eminentemente retributiva.

Já a Positiva utilizava o método indutivo (parte do particular para o geral), estuda-se o


crime, o criminoso; um dos expoentes foi Lombroso – afirmava a existência do “criminoso
nato” e passou a descrever o crânio de quem “nasceu para delinquir”. Foi considerado o “pai
da criminologia”. O crime era considerado um “ente de fato”. Em tal escola, a pena tinha
finalidade preventiva.

b) Crimes de imprensa – responsabilidade solidária: é possível responsabilizar


qualquer uma das pessoas envolvidas na publicação do periódico. O órgão acusador escolhia
quem iria processar. Além disso, poderia imputar o crime contra quem nem sabia daquela
publicação, ou seja, alguém que não tenha atuado nem dolosa nem culposamente.

Isso, portanto, veda o Princípio da Responsabilidade Penal Subjetiva e o da


Culpabilidade (CP. Arts. 18 e 19).

c) Multa: previa a multa na Parte Geral, mas não a cominava em nenhum crime na
Parte Especial;
d) Criou a excludente da “privação dos sentidos” (art. 27, §4º): não responde pelo
fato aquele que atua com os sentidos privados.

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Tal excludente foi excluída, criando a excludente da “perturbação dos sentidos”. Isso,
porém, dava ao agente a chance de alegar que as emoções tornaram seus sentidos
perturbados, e que, por isso, não poderia ser condenado. Todavia, quando o individuo
comete um ilícito, os seus sentidos ficam perturbados, a não ser que seja um psicopata ou
similar que não sinta nada.

A constituição de 1891 concedeu o Direito dos Estados criarem sua própria legislação
processual penal.

A excludente a perturbação, em muitos casos, proporcionou a impunidade.

O CP/40 criou uma regra que permanece vigente até hoje: a emoção e a paixão não
excluem o crime. Essa regra surge em resposta à perturbação dos sentidos, que absolveu
muitas pessoas sob tal alegação.

Ainda que a legislação não autorizasse mais o homicídio da mulher adúltera, a


legislação (a lei não permitia, mas ainda era usado culturalmente), por meio da perturbação
dos sentidos, permitia que o esposo traído matasse a esposa e não fosse penalizado. Era
utilizado o argumento de legitima defesa da honra.

8) CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS PENAIS (1832)

Em 1932 houve a consolidação das Leis Penais – trabalho do Desembargador Vicente


Piragibe em compilar todas as alterações do CP. De tão bem feito, o governo transformou o
material em lei para que todos os juízes tivessem acesso ao arquivo.

Ressalte-se, portanto, que é o Código Penal de 1890 com todas as suas alterações.

Com a “Revolução” de 1930, Getúlio Vargas assumiu a presidência da República,


pondo fim à República Velha.

9) CONSTITUIÇÃO DE 1934

Concedeu poderes ao executivo, adotou medidas democráticas e criou as bases da


legislação trabalhista, assim como sancionou o voto secreto e o feminino.

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Anunciando um possível golpe comunista, Vargas anulou a CF e dissolveu o


legislativo, passando a governar com amplos poderes, inaugurando o Estado Novo.

10) CONSTITUIÇÃO DE 1837 – A POLACA

É a segunda constituição outorgada (a primeira foi do império). Foi sob esse momento
que surgiu o atual Código Penal de 1940.

11) CÓDIGO PENAL DE 1940 (DECRETO LEI 2.848, DE 07 DE DEZEMBRO DE


1940)

O Anteprojeto era chamado de Projeto Alcântara (elaborado pelo jurista Alcântara


Machado), cuja comissão revisora era composta por Nelson Hungria, Lyra, Costa e Silva, e
Narcélio de Queiros.

Há quem diga que o projeto original de Alcântara e a versão final dos revisores são
totalmente distintos.

11.1.CARACTERÍSTICAS

a) O CP não se filiou a nenhuma Escola Penal, mas adotou critério de ambas;


b) Adotou o sistema de duplo binário, ou seja, a aplicação de pena e medida de
segurança (tal sistema foi abandonado em 1984, quando foi adotado o Sistema Vicariante, só
se aplicando uma das duas). Em 1985, aqueles que estavam presos sob aquele sistema antigo
foram automaticamente soltos, inclusive aqueles de alta periculosidade.
c) Previa dois tipos de pena criminal, a pena privativa de liberdade (reclusão e
detenção) e a pena de multa, prefixada e cominada no tipo penal. Com a Reforma de 1984 que
alterou a Parte Geral, a PPL foi mantida em suas formas, sendo introduzidas as Penas
Restritivas de Direitos, que foram ampliadas em 1998, em decorrência da Lei 9.714. No
tocante à multa, houve o retorno ao sistema do dias-multa, assim como os valores prefixados

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foram removidos do Código. Houve também a criação da multa vicariante (ou substitutiva),
aquela que o juiz aplica em substituição a ppl.
d) O Estupro não distinguia mais se a vítima era ou não prostituta; mas alguns
crimes informava que apenas a mulher honesta (no tocante ao comportamento sexual, aquela
que não se prostituíam), poderia figurar como vítima de determinados crimes. Desse modo,
persistia o tratamento desigual entre a prostituta e a não prostituta. A expressão “mulher
honesta” foi retirada em 2005.

12) CÓDIGO PENAL DE 1969

Em 1964 houve a instalação da Ditadura Militar, e cinco anos depois, em 1969, surge
uma tentativa de mudança da legislação penal, o Código Penal de 1969 (DL 1.004/69), e
como iria impor grandes mudanças, o seu vacatio legis foi de nove anos (1978). Porém, após
tanto tempo em vacância, já estava desatualizado e foi revogado sem mesmo entrar em vigor.

13) REDEMOCRATIZAÇÃO

Em 1984 houve a Reforma do Código Penal, inserido a nova e atual Parte Geral (Lei
nº 7.209/84). Nesse ano também houve a publicação da Lei de Execução Penal (Lei nº
7210/84). Os anos seguintes foram marcados pela constituinte e, em seguida, com a
Promulgação da Constituição de 1988.

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AULA 03 – APLICAÇÃO DA LEI PENAL

1) TEMPO DO CRIME

A aplicação da lei penal pressupõe a definição do momento em que ocorreu o delito,


ou seja, do tempo do crime1 e no CP esta definição vem no art.4º, que adotou a teoria da
atividade, ou seja, o tempo do crime é o tempo da ação ou omissão do agente. As teorias do
RESULTADO e a mista não foram adotadas em nosso ordenamento.

1.1 RELAÇÕES DO TEMPO DO CRIME COM SUAS ESPÉCIES E OUTROS


INSTITUTOS PENAIS

A) CRIMES PERMANENTES

No sequestro (art. 148 do CP), que é um crime permanente, o tempo do delito é o


tempo de duração deste sequestro, ou seja, da manutenção da vítima com sua liberdade
privada.

Súmula nº 711 do STF “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao
crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência.”

B) CRIMES HABITUAIS: O tempo do crime segue a mesma regra do crime permanente


(art. 284, CP).

C) CRIMES OMISSIVOS

O tempo do crime será o tempo da omissão do agente, quando tinha o dever de


solidariedade imposto pela norma para agir (omissivos próprios), ou quando tinha o dever de
garantidor, de impedir a produção do resultado (omissivos impróprios ou comissivos por
omissão), consoante a regra do art. 13, § 2º, do CP.

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D) CONCURSO DE PESSOAS: O tempo do crime é definido pela participação de cada


pessoa, pelo momento da contribuição individual de cada agente do delito.

E) CRIME CONTINUADO: O tempo do crime se define pela prática de cada ação ou


omissão do agente, levando-se em consideração a prática do último ato.

F) MENORIDADE PENAL:

Cumpre ainda salientar, em relação à menoridade penal, aspecto fundamental no


tocante ao tempo do crime: o CP define o tempo do crime como o momento da ação ou da
omissão do agente. Consequentemente, caso menor que possua, por exemplo, 17 anos, 11
meses e 20 dias de vida cometa uma tentativa de homicídio e a vítima venha a falecer em
decorrência dessa ação quando o praticante do crime tenha completado 18 anos e dois dias de
vida, responderá o jovem na forma do ECA, posto que, ao momento da ação, era menor, não
podendo responder pelas regras do CP.

1.2. APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO

1.2.1 A REGRA GERAL – IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL

A Constituição Federal estabelece, em seu art. 5º, inciso XL que: “a lei penal não
retroagirá, salvo para beneficiar o réu”, trata-se do princípio da irretroatividade da lei penal
mais gravosa, que se conjuga, para efeito de interpretação dos conflitos intertemporais do
Direito Penal, com o princípio da ultratividade da lei penal previsto no art. 2º, caput, do CP e
da retroatividade da lei penal mais benéfica, constante do art. 2º, parágrafo único, do CP. A
regra geral é, portanto, de que a lei penal não deve retroagir, salvo no caso das hipóteses em
que ela venha beneficiar de alguma maneira o agente. Quais são as hipóteses em que se
demonstra a aplicabilidade do princípio da retroatividade penal benéfica? Existe alguma
situação em que não se aplicaria esse princípio, fazendo-se a norma mais gravosa retroagir?
Vejamos as seguintes situações hipotéticas:

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A) LEI NOVA QUE CRIMINALIZA CONDUTA ANTERIORMENTE ATÍPICA

Os fatos anteriores, não regidos pela lei nova, são atípicos, “toda lei penal nova que se
apresenta como prejudicial não retroage”.4 Ex: Novatio legis
incriminadora, que criou o art. 154-A do CP, dos delitos informáticos.

B) LEI NOVA QUE AUMENTA A PENA DE UM DELITO

C) LEI NOVA QUE ALTERA O REGIME DE CUMPRIMENTO DE PENA

D) LEI NOVA QUE CRIA UMA CIRCUNSTÂNCIA QUE AGRAVE OU AUMENTE A


PENA: Hipótese de lei nova que impõe causa de aumento de pena ou agravamento do art. 61
do CP.

E) LEI NOVA QUE ALTERE O PRAZO PRESCRICIONAL OU VENHA REVOGAR


ALGUMA CAUSA DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

F) VACATIO LEGIS E LEI NOVA INCRIMINADORA: na hipótese de uma lei penal nova,
de caráter incriminador, trazer prejuízo ao réu, seja publicada e esteja em período de vacatio
legis, não se aplicará aos fatos ocorridos neste período, em virtude de seu caráter prejudicial.

G) CRIME CONTINUADO, PERMANENTE E IRRETROATIVIDADE PENAL

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Neste caso, em hipótese de crime permanente e continuado, regula-se a matéria pela


Súmula 711 do STF. Súmula 711 STF “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado
ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência.”

1.2.2 A RETROATIVIDADE BENÉFICA

“Art. 2º Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo
único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos
anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.”

1.2.2.1 ABOLITIO CRIMINIS

Ocorre quando uma lei posterior a determinado fato deixa de considerá-lo como um
crime, consoante a disposição do caput do art. 2º do CP, cessando, em virtude de sua
incidência, todos os efeitos penais da sentença condenatória Com a incidência da abolitio
criminis, deve ser extinta a punibilidade do agente na forma do art. 107, inciso III do CP,
devendo-se incidir esta causa de extinção da punibilidade em qualquer circunstância como
a)inquérito em andamento; (b) processo em andamento; (c) execução da pena; (d) pena
cumprida, mas com efeitos da sentença condenatória em plena vigência.

Abolitio Criminis Temporária: é um fenômeno que traz a suspensão da tipicidade


penal da norma por um período específico. Isso pode ser feito, inclusive por Medida
Provisória. O STF diz que a MP pode tratar de assuntos penais quando for para beneficiar o
réu.

SÚMULA nº 513 do STJ: A 'abolitio criminis' temporária prevista na Lei n.


10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento) aplica-se ao crime de posse de arma de fogo de uso
permitido com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido
ou adulterado, praticado somente até 23/10/2005.

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Na hipótese do crime habitual, vai se levar em consideração o último momento em que


comete o ato delitivo.

Toda e qualquer decisão favorável ao réu, será aplicada em qualquer momento.

O PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE NORMATIVA TÍPICA ocorre quando a lei é


alterada, mas a conduta regulada permanece delituosa. Para que seja configurado, a conduta
pode até mudar de nome, mas as condutas devem ser as mesmas, por exemplo, o atentado
violento ao pudor que foi absorvido pelo crime de estupro.

1.2.2.2 LEI MAIS FAVORÁVEL (NOVATIO LEGIS IN MELLIUS)

O art. 2º, parágrafo único, do CP determina que a lei posterior, que de qualquer modo
favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença
condenatória transitada em julgado. A regra, portanto, será sempre a de aplicar-se a lei penal
mais favorável, independentemente, inclusive, de ter ocorrido ou não uma sucessão de leis
penais no tempo que leva, por exemplo, a passagem de três leis diferentes até a aplicação da
pena

1.2.2.3 COMBINAÇÃO DE LEIS PENAIS

É possível combinar-se duas leis em seus aspectos mais favoráveis? Alguns


argumentam que poder-se-ia arguir que o juiz não poderia proceder à combinação, pois estaria
ferindo o princípio da separação de poderes.

Segundo Frederico Marques “a norma do caso concreto é construída em função de um


princípio constitucional, com o próprio material fornecido pelo legislador.

Se ele pode escolher, para aplicar o mandamento da lei Magna, entre duas séries de
disposições legais, a que lhe pareça mais benigna, não vemos porque se lhe vede a
combinação de ambas, para assim aplicar, mais retamente, a Constituição. Se lhe está afeto
escolher o ‘todo’, para que o réu tenha tratamento penal mais favorável e benigno, nada há
que lhe obste selecionar parte de um todo e parte de outro para cumprir uma regra
constitucional que deva sobrepairar a pruridos de lógica formal. Primeiro a Constituição e

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depois 5 “Art. 107 – Extingue-se a punibilidade: [...]; III – pela retroatividade de lei que não
mais considera o fato como criminoso;” o formalismo jurídico, mesmo porque a própria
dogmática legal obriga a essa subordinação, pelo papel preponderante do texto constitucional.
A verdade é que não estará retroagindo a lei mais benéfica, se, para evitar-se a transação e o
ecletismo, a parcela benéfica da lei posterior não for aplicada pelo Juiz; e este tem por missão
precípua velar pela Constituição e tornar efetivos os postulados fundamentais que ela garante
e proclama os Direitos do homem”.

A combinação de duas normas penais, em nosso entendimento, não demanda nenhuma


violação ao princípio da separação dos poderes, tendo em vista que este princípio não é
absoluto sendo relativizado em diversos momentos, como, por exemplo, nos poderes que
possui o presidente da república de editar MP(s).

O STJ, entretanto, em 2013, resolveu criar a Súmula 501, que veda a combinação de
leis penais: “É cabível a aplicação retroativa da Lei nº 11.343/2006, desde que o resultado da
incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da
aplicação da Lei nº 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis.”

Há quem diga que se o juiz tiver que ficar combinando as leis para aplicá-la, irá acabar
legislando porque criaria uma lei nova.

1.2.2.4 NORMAS PENAIS EM BRANCO E RETROATIVIDADE PENAL

É possível a aplicação da retroatividade benéfica, quando da revogação de norma


complementar da norma penal, ou seja, do complemento proveniente de outro texto
normativo.

A doutrina e a jurisprudência não se opõem à aplicabilidade dos efeitos de norma


penal mais benéfica em caso de revogação de texto normativo de norma penal em branco.

As normas penais em branco podem ser Homogêneas, dentro do mesmo seguimento,


ou heterogêneas, quando precisam ser reguladas por órgão diverso, por exemplo, a lista de
substâncias tóxicas é editada pela ANVISA.

1.2.2.5. LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA –

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“Art. 3º A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou


cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua
vigência.”

Lei temporária - possui prazo determinado em lei para sua exigência, vigora até
cessada esta vigência.

Lei excepcional - Foi criada para vigorar em face de situações extraordinárias, tais
quais guerra, calamidade pública, estado de emergência e situações similares.

Exemplo: Crime militar em tempo de guerra, constante do CPM, tal qual o delito do
art. 355, sob a rubrica de traição.

1.2.2.6. SUCESSÃO DE LEIS PENAIS

Não se tratando de lei excepcional ou temporária, irá aplicar e retroagir a lei mais
benéfica ao réu. Todavia, se a norma anterior excepcional ou temporária for mais gravosa, a
mais benéfica não irá retroagir.

1.2.2.7. RETROATIVIDADE BENÉFICA E JURISPRUDÊNCIA. SÚMULA


VINCULANTE E A RETROATIVIDADE DA NORMAL PENAL.

Diante de uma súmula (não vinculante), a doutrina garantista entende que é possível
fazer retroagir a jurisprudência mais benéfica para atingir fatos passados, mas uma mais
prejudicial não. Ela pode ser aplicada, mas essa aplicação não pode ser imposta.

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Caderno de Direito Penal

2) LEI PENAL NO ESPAÇO

2.1. LUGAR DO CRIME

Art. 6º Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação


ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou
deveria produzir-se o resultado.

A Teoria da ubiquidade é adotada pelo Direito penal Brasileiro, apontando que lugar
do crime tanto pode ser o local onde ocorreu a ação ou omissão do agente, quanto o lugar em
que se produziu o resultado.

2.2. CONCEITO DE TERRITÓRIO

Territorialidade

“Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções,


tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no
território nacional.

§ 1º Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território


nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública
ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem
como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo
correspondente ou em alto-mar.

§ 2º É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo


de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada,
achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no

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Caderno de Direito Penal

espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do


Brasil.”

“Art. 355. Tomar o nacional armas contra o Brasil ou Estado aliado,


ou prestar serviço nas forças armadas de nação em guerra contra o
Brasil: Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau
mínimo.”

Qualquer crime praticado no Brasil terá a aplicação da lei penal brasileira incidindo
sobre ele, excetuando-se, por exemplo, situações provenientes de tratados ou convenções. O
território é o espaço em que o Estado exerce sua soberania, sendo este um conceito de caráter
jurídico-político, compreendendo tanto o espaço terrestre – superfície – quanto as águas
territoriais e o espaço aéreo, submetendo à jurisdição do país em que o fato foi praticado o
agente do delito.

O território abarca todo o espaço terrestre, tanto quanto o mar territorial, o espaço
aéreo sobrejacente, bem como ao seu leito e subsolo, conforme o art. 2º da Lei nº 8.617/93.

Na zona contígua, o país também pode exercer uma atividade fiscalizatória, buscando
evitar o descumprimento de leis, regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou sanitários,
no seu território, ou em seu mar territorial.

Na zona econômica exclusiva o Brasil exerce também sua soberania, entretanto, com
outra abrangência, qual seja: tem direitos de soberania para fins de exploração e
aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não vivos, das águas
sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e seu subsolo, e no que se refere a outras
atividades com vistas à exploração e ao aproveitamento da zona para fins econômicos, e tem o
direito exclusivo de regulamentar a investigação científica marinha, a proteção e preservação
do meio marítimo, bem como a construção, operação e uso de todos os tipos de ilhas
artificiais, instalações e estruturas, na forma dos arts. 7º e 8º da Lei 8.617/93.

O direito de passagem inocente diz respeito ao direito das embarcações privadas de


passarem pelo nosso mar territorial em direção à outro território. Ocorrendo um delito nesta
embarcação aplica-se a lei da bandeira caso não se afete o interesse nacional, não sendo
prejudicial à paz, à boa ordem ou à segurança do Brasil, conforme o art.3º, § 1º da lei
nº8617/93.

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Caderno de Direito Penal

Consoante o art. 4º da Lei nº 8.617/93, temos que: “Art. 4º A zona contígua brasileira
compreende uma faixa que se estende das doze às vinte e quatro milhas marítimas, contadas a
partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial.”

2.3 EXTRATERRITORIALIDADE

A extraterritorialidade tem por função regulamentar a aplicação da lei penal brasileira


aos fatos ocorridos fora do território brasileiro, sendo classificada em duas espécies, quais
sejam: a extraterritorialidade condicionada e a extraterritorialidade incondicionada.

a) EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA

Trata-se das hipóteses previstas no art. 7º, inciso I, do CP, sendo que as alíneas a, b e c
são positivações do princípio real ou de defesa, e a alínea d é decorrência do princípio da
universalidade. Não existe exceção às regras de extraterritorialidade.

b) EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA

Hipóteses: os crimes: (a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
(b) praticados por brasileiro; (c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam
julgados; e (d) cometidos por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as
condições previstas no § 2º do art. 7º do CP, não foi pedida ou foi negada a extradição e
houve requisição do Ministro da Justiça.

Condições para aplicabilidade das regras da extraterritorialidade condicionada: (a)


entrar o agente no território nacional; (b) ser o fato punível também no país em que foi
praticado; (c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a
extradição; (d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
(e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a
punibilidade, segundo a lei mais favorável.

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Caderno de Direito Penal

2.3.1.PRINCÍPIOS

a) PRINCÍPIO REAL OU DE DEFESA: A lei penal aplicada deve ser do Estado titular do
bem jurídico lesado ou ameaçado de lesão.

b) PRINCÍPIO DA NACIONALIDADE OU DA PERSONALIDADE: Aplica-se a lei penal


do agente do delito, independentemente do lugar em que este se encontre.

c) PRINCÍPIO DA REPRESENTAÇÃO, DA BANDEIRA OU DO PAVILHÃO: Aplica-se a


lei da bandeira ou do país em que está registrada a aeronave ou a embarcação em que ocorreu
o delito e que não foi julgado fora do país.

d) PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE: Princípio de Justiça Universal, aplica-se da lei


penal, quando regulamentada por um tratado, regras ou convenção internacional.

3) A LEI PENAL RELATIVA ÀS PESSOAS

3.1. IMUNIDADES - Classificação: Imunidade parlamentar e imunidade diplomática.

3.1.1. IMUNIDADE PARLAMENTAR: É regulada na CF é uma causa pessoal de isenção de


pena, subdividindo-se em imunidade material e imunidade formal.

A) IMUNIDADE MATERIAL

A imunidade material diz respeito à inviolabilidade, civil e penal, pelas opiniões,


palavras e votos emitidos no exercício do mandato, conforme dispõe o art. 53, caput, da CF. A
imunidade material é irrenunciável, podendo ser suspensa, em caso de Estado de sítio,
mediante o voto de dois terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados

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Caderno de Direito Penal

fora do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida,
isto é, com o próprio Estado de Sítio, na forma do art. 53, § 8º, da CF.

Essa prerrogativa extraordinária busca garantir ao parlamentar absoluta liberdade de


pensamento, de debate e voto,11, restringindo-se ao exercício do mandato.

O exercício do mandato também pode ser realizado fora dos recintos parlamentares, se
relacionados com o mandato. A imunidade material aplica-se a todos os Deputados12 –
Federais e Estaduais –, Senadores e Vereadores.

B) IMUNIDADE FORMAL

Nesta modalidade de imunidade parlamentar, trata-se da aplicação de regras que são


estabelecidas para regulamentar os processos a serem movidos contra parlamentares e,
também, as condições de prisão que os afetarem. A regulamentação dessa matéria encontra-se
disposta na CF, nos parágrafos do art. 53,14. No presente momento, a Constituição estabelece
que o STF não mais precisa de licença do Congresso Nacional para conferir andamento aos
processos contra seus congressistas, apenas devendo dar ciência à casa legislativa da
existência de processo contra seu parlamentar a fim de que, se a Câmara ou o Senado assim
desejar, na forma do § 3º do art. 53 da CF, suste o andamento do processo.

A sustação do processo é vinculada aos fatos ocorridos após a diplomação do


parlamentar, não em relação aos fatos anteriores à sua diplomação.

3.1.2. IMUNIDADE DIPLOMÁTICA

A imunidade diplomática vem regulamentada na Convenção de Viena, que o Brasil


promulgou através do Decreto nº 56.435/65.

A) IMUNIDADE MATERIAL

A imunidade aqui diz respeito à inviolabilidade de sua pessoa, enquanto agente de


relações institucionais diplomáticas entre países, na medida em que as nações devem deferir,
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Caderno de Direito Penal

reciprocamente, condições de absoluta segurança e estabilidade para que seus agentes


diplomáticos possam desenvolver o seu trabalho, bem representando os interesses de seu
Estado.

Essa imunidade vem prevista no art. 29 da Convenção de Viena, que retrata sua
inviolabilidade, salientando que o agente não poderá ser objeto de nenhuma forma de
detenção ou prisão.

B) IMUNIDADE FORMAL

O agente diplomático goza de imunidade formal, de jurisdição penal, não podendo ser
processado no Estado acreditado, mas podendo ser processado no Estado que representa, pela
aplicação do princípio de reciprocidade.

Salientando-se que o país do diplomata poderá também, mediante comunicado formal


de liberação da garantia da imunidade deixar de aplicar as suas normas e permitir que o país
em que o fato ocorreu aplique sua própria legislação.

Os funcionários do corpo administrativo e técnico da missão diplomática e os


membros de suas famílias que com eles vivam, desde que não sejam nacionais do estado
acreditado nem nele tenham residência permanente, gozarão dos privilégios e da imunidade
de jurisdição penal16. A imunidade é uma causa pessoal de isenção de pena.

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Caderno de Direito Penal

AULA 04 - DIREITO PENAL DO INIMIGO

1. Visão da sociedade pós-moderna


2. Os novos sujeitos passivos e os novos gestores da moral
3. Globalização

Transforma a vida das pessoas, e por consequência, o Direito Penal. O crime passa a
ser transnacional.

O celular fez perdermos a noção de tempo e espaço, as informações chegam no mesmo


momento. O professor entende que o celular foi o que possibilitou o verdadeiro acesso de
todos aos meios de comunicação, principalmente aos mais pobres.

4. Mudanças dos sistemas organizacionais, comunicativos e tecnológicos


5. A formatação da sociedade de riscos
6. A institucionalização da insegurança
7. Expressão do Direito Penal na era da Globalização
8. Hipertrofia Legislativa
9. Detalhe brasileiro
10. Dilema do Direito Penal Liberal: aumento da criminalidade de massa e da
criminalidade organizada

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Caderno de Direito Penal

AULA 05 – SISTEMAS PENAIS

1) CAUSALISMO NATURALISTA

 LISZT/BELING – 1910-1915 “método descritivo”;


 Objetivo (descritiva): tipicidade/ antijuridicidade;
 Subjetivo: culpabilidade – dolo e culpa (subjetiva);

A tipicidade é apenas descritiva de um processo causal. Ex: matou alguém.

Quem deve fazer juízo de valor é o legislador. Os juízes não poderiam fazer juízo de
valor.

A tipicidade causalista não aceita juízos de valor. Ex: estelionato – obter vantagem
indevida, o “indevida” é juízo de valor. A resposta para isso é que seria um tipo anormal,
porque para o causalismo, o tipo só deveria conter descrições.

Os tipos com elementares normativos ou subjetivos não são justificados de forma


satisfatória, e por isso, chamados de anormais.

A antijuridicidade apenas reflete o juízo de valor feito pelo legislador.

O fato típico será antijurídico salvo se presente excludente de antijuridicidade arrolada


pelo legislador.

A culpabilidade tem como elementos o dolo e a culpa, e por isso é classificada como
subjetiva.

Se o injusto (fato típico e antijurídico) é a causa física do resultado, a culpabilidade é a


causa psíquica.

Conduta causalista é (Liszt) a modificação causal do mundo exterior perceptível pelos


sentidos (é aquilo que pode ver, sentir, cheirar) e produzida por manifestação da vontade.

 Críticas:

I – A inviabilidade de juízos de valor leva a decisões insatisfatórias;

II – Dificuldades para explicar o crime omissivo;

III – Dificuldade para explicar a imputabilidade (ela estaria dentro da culpabilidade);

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2) NEOKANTISMO – “CAUSALISMO NORMATIVISTA”(MEZGER)

A) Contexto histórico: Alemanha, 1930 – pagamento da dívida da I Guerra Mundial e


o surgimento do nazismo.

B) Contexto filosófico: Neokantismo – dicotomia entre as ciências do ser a as do


dever-ser. As primeiras (biologia, química, física etc.) são empíricas e partem da lógica da
observação e descrição. As ciências do dever-ser compreendem e valoram, como o Direito.

Todo o conhecimento nas ciências do dever-ser é impregnado por juízos de valor.

O juízo de valor altera ou mesmo constrói o seu objeto de conhecimento.

A tipicidade neokantista é um grande juízo de valor.

São justificadas elementares normativas ou substitutivas do tipo, pois foram quebradas


as amarras do causalismo como método objetivo-subjetivo, e a proibição dos juízos de valor.

A antijuridicidade é um grande juízo de valor.

Mezger argumenta que se tanto tipicidade como a antijuridicidade são juízos de valor
não há razão para distinguir as categorias, e por isso, é feita a proposta de um tipo total do
injusto que aglutina tipicidade e antijuridicidade.

O injusto total é a tipicidade e a antijuridicidade. A culpabilidade é formada pela


imputabilidade, dolo e culpa, e exigibilidade de conduta diversa.

Logo, a culpabilidade no neokantismo é psicológico (dolo e culpa) e normativo (dolo e


culpa, exigibilidade de conduta diversa).

O dolo tem consciência, vontade e consciência de ilicitude.

Conceito de conduta: Mezger adota, a princípio, o conceito de Liszt do causalismo, no


entanto, na obra de seus seguidores, o conceito de conduta gradativamente perde importância
sendo absorvido pelo injusto.

 Críticas:

I – Política: A ampla liberdade para a atribuição de sentido a categorias essenciais do


Direito Penal como conduta, vida, pessoa, abre as portas para o Direito Penal do autor nazista.

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Caderno de Direito Penal

II – Técnica: o caso do homem de branco que toca na genitália da criança. Para saber
se há fato típico de estupro é necessário examinar o conteúdo da vontade, ou seja, o dolo que
está na culpabilidade. Não faz sentido condicionar a tipicidade ao elemento da culpabilidade.

3) FINALISMO

Welzel – Meados da década de 1940;

A) contexto histórico: a doutrina nasce na década de 1930, mas passa a ser


preponderante em meados da década de 1940 (derrocada do nazismo).

B) Premissa filosófica: ontologia – estudo da ciência do ser. Categorias pré-jurídicas


têm um sentido, a priori, que não pode ser alterado ou desrespeitado pelo Direito. Tais
categorias são estruturas lógico-objetivas que devem ser reconhecidas pelo Direito. São
premissas a partir das quais devem ser elaborados os juízos de valor.

O conceito de conduta reconhecido pelo finalismo é movimento corpóreo humano


positivo ou negativo consciente e voluntário dirigido a uma finalidade.

A premissa ontológica retira do Estado/jurista o poder de atribuir sentido as categorias


essenciais do Direito Penal, como conduta, vida, causalidade etc. trata-se de importante limite
ao poder de punir.

Se no conceito de conduta encontramos a consciência e a vontade dirigidas a uma


finalidade, é necessário concluir que o dolo (e a culpa) estão no fato típico.

A tipicidade tem uma face objetivo-descritiva, uma face normativa, e outra subjetiva
(por causa do dolo e da culpa).

Pelas três faces, a tipicidade finalista é classificada como tipicidade complexa

A antijuridicidade finalista é tradicionalmente tratada como a consagração do injusto


pessoal, pois o conteúdo da vontade passa a ser objeto do juízo de desvalor da
antijuridicidade.

A culpabilidade continua possuindo imputabilidade e exigibilidade de conduta diversa.

 Fato típico – dolo (consciência e vontade) e culpa;


 Ato jurídico;

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Caderno de Direito Penal

 Culpabilidade (imputabilidade, consciência de ilicitude e exigibilidade de conduta


diversa);

Na culpabilidade não será mais encontrado o que ora é reconhecido na conduta típica,
o dolo finalista tem como elementos a consciência e a vontade, apenas. A consciência da
ilicitude que era elemento do dolo (normativo), no neokantismo permanece na culpabilidade.
Para afastar a dificuldade em provar a consciência real da ilicitude, Wezgel a converte em
potencial consciência de ilicitude.

Como essa culpabilidade tem grande juízo de valor, foi conhecida como culpabilidade
normativa pura.

 Críticas (livro Política Criminal e Sistema Jurídico Penal, de Roxin):

I – Filosófica: se a sociedade não acredita na ontologia, pois a cultura predominante é


a relativista, não faz sentido que o Direito Penal, como produto cultural, tenha premissas
ônticas;

II – Toda a Teoria Geral do Crime finalista foi construída para explicar o homicídio,
que era o grande problema penal da década de 1940. Não é mais. As novas demandas penais
exigem uma modernização de tais estruturas. No entanto, o finalismo impede tal
modernização, pois são verdades ônticas.

4) FUNCIONALISMO

 Roxin, Jakobs – mesmo com fundamentos diversos, ambos quebram o


entendimento ôntico;
 Premissa: todas as estruturas do Direito Penal devem ter seu sentido atribuído
de forma a permitir que o Direito Penal cumpra sua função. “de que adianta um conceito
jurídico belo, claro, lógico, se do ponto de vista político-criminal é inútil (ROXIN)”.

A) FUNCIONALISMO DE ROXIN – TELEOLÓGICO.

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Caderno de Direito Penal

O funcionalismo de Roxin é chamado de teleológico ou moderado. Para ROXIN, a


função do Direito Penal é a tutela subsidiária de bens jurídicos no limite dos direitos e
garantias fundamentais.

Conceito de conduta para Roxin: é toda manifestação da personalidade.

Ex: ser judeu é uma conduta, logo, pode ser crime. Mas Roxin responde que não
haveria perigo, porque seu conceito de conduta está no limite dos direitos e garantias
fundamentais.

Para Roxin, o crime é fato típico, antijurídico, mas uma das mais importantes
contribuições do autor é a substituição da culpabilidade pela responsabilidade. Logo, é fato
típico, antijurídico e responsável.

A responsabilidade tem como elementos a culpabilidade e a necessidade da pena, que


se limitam reciprocamente.

A culpabilidade tem como estruturas a imputabilidade e a potencial consciência da


ilicitude. A necessidade da pena tem a exigibilidade de conduta diversa.

 Fato típico
 Antijurídico
 Responsabilidade:
 Culpabilidade (imputabilidade/ potencial consciência de ilicitude);
 Necessidade da pena (exigibilidade de conduta diversa).

B) FUNCIONALISMO DE JAKOBS – SISTÊMICO – PARA QUE SERVE O DIREITO


PENAL

Ele nega a tradicional teoria do bem jurídico. O Direito Penal não pode ter como
função primordial evitar o crime, que faz isso é o sistema policial.

A função precípua do direito penal é a manutenção das expectativas normativas


essenciais da sociedade, ou seja, a configuração social.

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Caderno de Direito Penal

 Crítica:

I – As expectativas estão cristalizadas na norma cujo conteúdo é atribuído pelo Estado,


abrindo as portas para o Direito Penal totalitário;

Livro: “Sociedade, norma, pessoa” (Jakobs).

Onde estão as expectativas mais importantes para uma sociedade? Na Constituição.


Logo, a função do DP é proteger a norma, as expectativas apresentadas na CF.

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Caderno de Direito Penal

AULA 06 – IMPUTAÇÃO OBJETIVA

1) TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA E SISTEMAS PENAIS

Os sistemas penais se desenvolveram desde o Século XIX até hoje.

A) SISTEMA CAUSALISTA: LISZT- BELING: Cometer um crime, era causar uma lesão.

Fato típico Ilicitude Culpabilidade

Conduta Premissa: imputabilidade

Resultado
Formas de imputabilidade: Dolo e culpa
Nexo causal

Fato típico (conduta/ resultado/nexo causal) + ilicitude + culpabilidade (premissa:


imputabilidade; e formas de imputabilidade: dolo/culpa).

Tudo o que era objetivo, externo, estava no fato típico. Enquanto aquilo que se
relacionava ao lado subjetivo estava na culpabilidade. Estava muito ligada às ciências
naturais, por exemplo, matar era causar a morte, nada além disso.

B) SISTEMA NEOKANTISTA: MEGZER

Proximidade com o sistema nazista. O Direito Penal tem a ver com cultura, e não com
as ciências naturais. É aquilo que vai perturbar o convívio social.

É o Direito Penal que cria o crime. Começou a quebrar o paradigma que o tipo era
somente objetivo.

Fato típico Ilicitude Culpabilidade

 Conduta  Imputabilidade

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Caderno de Direito Penal

 Resultado  Dolo e culpa

 Nexo causal
 Exigibilidade de conduta diversa
 Elementos normativos (culturais)

 Elementos subjetivos

Introduziu a exigibilidade de conduta diversa na culpabilidade, e descobriu elementos


subjetivos no tipo.

C) SISTEMA FINALISTA: WELZEL

Criou as estruturas lógico-reais, e não de acordo com a cultura. É um sistema ligado a


psicologia para criar a teoria.

Fato típico Ilicitude Culpabilidade

 Conduta  Imputabilidade

 Resultado  Potencial conhecimento da


ilicitude

 Nexo causal  Exigibilidade de conduta diversa

 Elementos normativos + culpa

 Elementos subjetivos + dolo

Remove o dolo e a culpa da culpabilidade, porque a ação já traz consigo o dolo e a


culpa. No momento da ação, o agente já possui uma motivação, intenção. Tipicidade objetiva
permaneceu sendo composta pelo resultado e o nexo causal.

D) SISTEMA FUNCIONALISTA: ROXIN E JAKOBS

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Caderno de Direito Penal

Década de 1970: homossexualidade era crime na Alemanha.

O Roxin faz uma Reforma do CP Alemão para retirá-lo.

A dogmática penal tem que ser construída a partir da função político-criminal do


Direito Penal. A finalidade do DP é a proteção fragmentária e subsidiária dos bens jurídicos.

O DP voltava-se mais para a sociologia.

O DP deveria ser construído a partir da função que era esperada dele. Nisso, surgem
dois tipos de funcionalismo:

I – FUNCIONALISMO TELEOLÓGICO OU MODERADO (ROXIN): a função do


Direito Penal é proteção fragmentária e subsidiária de bens jurídicos (condições mínimas de
convivência social);

II – FUNCIONALISMO RADICAL OU SISTÊMICO (JAKOBS): a função do DP é


proteger a própria norma penal;

Esquema do Funcionalismo de Roxin:

Princípio da bagatela imprópria (Responsabilidade): ideia de que há pessoas que,


mesmo culpáveis, não devem cumprir pena. É uma situação em que a dogmática penal não
recomenda que seja aplicada pena àquela pessoa.

A culpa foi substituída pela imputação objetiva, porque antes de falar em dolo, fala-se
em imputação objetiva.

Fato típico Ilicitude Responsabilidade:

(Culpabilidade + Necessidade de
pena)

 Conduta  Imputabilidade

 Resultado  Potencial conhecimento da

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Caderno de Direito Penal

ilicitude

 Nexo causal  Exigibilidade de conduta


diversa
 Imputação Objetiva

 Elementos Subjetivos + dolo

2) TEORIAS DE IMPUTAÇÃO OBJETIVA: CRITÉRIOS DE APLICAÇÃO

O problema não é se você deu causa (causa-ação), mas se o evento pode ser imputável
ao autor como um tipo penal. O nexo de causalidade não é suficiente para imputar um crime a
alguém. A imputação antecipa o juízo antes mesmo de chegar a discutir a culpa. A imputação
confere maior sofisticação teórica.

I – A criação ou aumento de um risco proibido

Só é típica a conduta que, de uma perspectiva ex ante (a priori) constitui a criação ou


amento relevante de um risco socialmente não autorizado. Não haverá imputação objetiva em
três situações:

A) Diminuição do risco: se a conduta é dirigida a reduzir um risco já existente.


Ex: uma jovem menor de 14 anos era prostituída pela mãe, de modo violento, sendo obrigada
a manter relações sexuais com vários homens, e um deles a resgata” e leva para viver consigo
como esposa  o TJRS absolveu o homem, mas a professora entende que foi uma aplicação
exagerada da Teoria da Imputação (TJ-RS - Apelação Crime. 70052159621).

B) Aumento irrelevante do risco:

C) Risco permitido: não há imputação objetiva se a conduta, mesmo aumentando


significativamente o risco ao bem jurídico, está dentro dos limites do risco permitido. Haverá
risco permitido quando: forem atendidas as normas de segurança e o princípio da confiança (o
agente realiza a conduta corretamente confiando que os demais envolvidos também o farão).
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Caderno de Direito Penal

II - Materialização do risco no resultado

Para que haja imputação objetiva, é preciso que o resultado corresponda exatamente ao
risco proibido criado. Desta forma, não haverá imputação objetiva em três situações:

A) Resultado aleatório: embora o resultado tenha sido causado pela conduta, ele
não corresponde ao risco proibido criado por ela.
B) Resultado que está fora do âmbito de proteção da norma de cuidado: não há
imputação objetiva se o resultado não corresponde ao fim de proteção da norma de cuidado
violada.

No caso apresentado, não havia alvará, mas esse não serviria de nada para impedir que
o jovem se embriagasse. O alvará serviria apenas para casos como incêndio ou multidões.
Dessa forma, a exigência do alvará não tem finalidade com a morte do jovem.

Todavia, no caso de possuir apenas uma ambulância e que não estava equipada com
UTI, já seria motivo de dúvida no tocante à imputação.

C) Conduta alternativa irrelevante ou Teoria da Evitabilidade : não há imputação


se ficar demonstrado que a conduta correta não teria evitado o resultado. Esse teria acontecido
a qualquer momento. Ex: no caso apresentado, se tivesse uma ambulância com UTI, a morte
teria sido evitada? Mas a reportagem informa que a morte foi instantânea, logo, a ambulância
não teria feito diferença.

III - Âmbito de alcance do tipo

Os eventos que não correspondam à função do Direito Penal não são objetivamente
imputáveis como crime. A função do DP é impedir condutas que ofendam ou ameacem de
forma relevante bens jurídicos alheios.

Não há imputação objetiva nas seguintes situações:

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Caderno de Direito Penal

A) Lesão insignificante: o princípio da Insignificância torna a conduta atípica,


pois constitui situação fora do âmbito de alcance do fato típico.
B) Participação na autocolocação da vítima em risco: para Roxin, se você mesmo
se põe na situação de risco, o Direito Penal não pode interferir porque não está em seu âmbito.
Tal ideia é mais enraizada na Alemanha, onde a instigação ou auxílio ao suicídio não é
penalizado. Tal tese não é amplamente aceita no Brasil, em que existem direitos
indisponíveis.

C) Heterocolocação consentida: um terceiro coloca a pessoa em risco, mas a


pedido ou por consentimento da própria vítima. Ex: que atravessar o rio com um barqueiro
que informa que está perigoso, e o barco vira e a pessoa morre; pessoa que aceita fazer sexo
sabendo que a outra tem Aids. A pessoa entra em risco mediante terceiro porque ela mesma
decidiu. Essa situação também exclui a aplicação da imputação do Direito Penal.

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Caderno de Direito Penal

AULA 07 – ILICITUDE E ERRO DE TIPO

Para a teoria finalista não importa se vai ser aplicado o conceito bipartido ou tripartido.

Tatbestand – Direito Alemão: descrição legal de um comportamento proibido que


traga consigo a ideia de injusto penal.

As ideias de erro estão ligadas à exigibilidade de conduta diversa.

1) TEORIA PSICOLÓGICA DA CULPABILIDADE

A culpabilidade é o nexo psíquico que liga o delito ao seu autor, fazendo-o penalmente
responsável. Para tal teoria, dolo e culpa são espécies de culpabilidade, que tem como
pressuposto a imputabilidade do agente. Todavia, não consegue explicar satisfatoriamente a
coação moral irresistível e obediência hierárquica de ordem não manifestamente ilegal.

Na coação, o coagido atua com dolo, mas sua conduta apresenta um vício de vontade,
ela não foi livre.

2) TEORIA NORMATIVA DA CULPABILIDADE (PSICOLÓGICO-NORMATIVA)

Teve grande importância no inicio do século XX, tendo expoente o autor Frank. É a
teoria adotada pelo Código Penal de 1940, que falava de erro de fato e erro de direito. De
acordo com a teoria, para que o agente seja culpado não basta exclusivamente que o agente
tenha atuado com dolo ou culpa, mas que sua conduta pudesse ter sido realizada conforme o
direito. Ela mescla fatores psicológicos (dolo e culpa) com normativos (exigibilidade de
conduta diversa).

3) TEORIA NORMATIVA PURA DA CULPABILIDADE (TEORIA EXTREMA OU


ESTRITA DA CULPABILIDADE)

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Caderno de Direito Penal

Adotada por Welzel. A culpabilidade é composta pela imputabilidade, pelo potencial


conhecimento da ilicitude e pela exigibilidade de conduta diversa. Foi adotada pela Reforma
penal de 1984.

4) TEORIA LIMITADA DA CULPABILIDADE

É uma subespécie da teoria normativa pura. Sustenta que o erro inevitável exclui o
dolo nas descriminantes putativas, sendo que essas caracterizam erro de tipo. Afirma que
crime é fato típico e culpável.

5) ERRO DE TIPO

É todo aquele que incide sobre os elementos ou as circunstâncias da figura típica (art.
20, CP). Incide sobre os pressupostos de fato (limites) de uma causa de justificação, ou ainda,
aquele que recai sobre fatos secundários (erro de tipo acidental) da norma penal condenatória.

Arts. 73 e 74 do CP – erro de tipo acidental: aberratio ictus e aberratio criminis.

A – ERRO DE TIPO ESSENCIAL: sempre haverá exclusão do dolo.

1) Inevitável (invencível, escusável ou inculpável): além da exclusão do


dolo, haverá também da culpa;
2) Evitável (Vencível, inescusável ou culpável): exclui somente o dolo,
ocorrerá a punição pela culpa, desde que haja previsão legal.

B- ERRO DE TIPO ACIDENTAL: recai sobre dados secundários da norma penal


incriminadora.

1) Sobre o objeto (error in objecto):

Nesse caso, o agente responde como se tivesse praticado a conduta da forma que
desejava. O agente, tendo vontade e consciência de praticar uma conduta que sabe ser

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Caderno de Direito Penal

penalmente ilícita, agindo com vontade de furtar, subtrai pulseira que pensara ser de ouro,
mas na verdade, era bijuteria.

Nesta situação, o agente tinha vontade e consciência de praticar a subtração, ou


seja, dirigiu-se finalisticamente sua conduta no sentido de cometer um delito de furto.
Todavia, equivocou-se quanto ao valor que era atribuído ao bem, fato este que nada influencia
na definição jurídica do fato.

O erro recai sobre o objeto que se destina a conduta do agente.

2) Erro provocado por terceiro (art. 20, §2º)

o agente deseja produzir um resultado, e consegue atingi-lo.

3) Erro sobre a pessoa (error in persona – art. 20, §3ª)

Aqui, o agente pensa cometer crime contra uma pessoa, mas comete contra outra.
O agente não erra sobre qualquer elementar, circunstâncias ou outro dado que se agregue à
figura típica. O seu erro cinge-se especificamente, à identificação da vítima, que em nada
modifica a classificação do crime por ele pretendido.

Nesse caso, queria matar uma pessoa X, mas o confundiu com a pessoa Y e
acabou matando essa. Aqui, o dolo do tipo existe, somente por erro do agente é que atinge-se
pessoa diversa da pretendida.

Não se consideram as condições ou qualidades das vítimas, mas da pessoa que


pretendia atingir. Ou seja, quem objetivava matar o ascendente, mas atinge o vizinho,
responderá como se tivesse matado o familiar.

4) Erro de execução (art. 73 - aberratio ictus)

Um exemplo clássico é a “bala perdida”, é o desvio do golpe. Ainda que ocorra


mais de uma conduta, o agente responderá apenas pela conduta desejada.

Ocorre quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao
invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa.

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Nesse caso, aplica-se a regra do §3º do art. 20 do CP, relativa ao erro sobre a
pessoa, respondendo como se tivesse atingido a vítima que pretendia ofender. Na aberratio
ictus o erro ocorre de pessoa para pessoa.

O que interessa é a vontade que tinha o agente contra a vítima virtual.

Toda vez que a vítima virtual não for atingida, aplica-se a primeira parte do art.
73. Ainda que cometa vários crimes, só responderá por aqueles pretendidos.

Aberratio ictus simples: atinge apenas a vítima efetiva.

Aberratio ictus com unidade complexa: são atingidas tanto a vítima virtual quanto
real a aplica-se o art. 73, segunda parte, que remete à forma de aplicação de pena concurso
formal. Nesse caso, não se reconhece o concurso formal, mas somente o sistema da
exasperação típico do concurso formal, ou seja, existindo mais de um crime, deve-se pegar a
pena do crime mais grave e aumentada de 1/6 até a ½.

5) Erro sobre a posição de garante: nesse caso o agente responderá pela omissão
de socorro qualificado pelo evento morte.

6) Aberratio causae – Erro quanto ao processo causal (Antolisei e Bettiol): A


conduta, que se desenvolve num só ato, provoca o resultado desejado, porém com nexo
diverso. Por exemplo: (o agente quer matar a vítima por afogamento, joga seu corpo em cima
de uma ponte e esta, antes de atingir a água, bate a cabeça numa pedra e morre em razão de
traumatismo craniano).

6) ERRO DE PROIBIÇÃO

O agente conhece a lei, mas o que ele faz é uma interpretação equivocada da lei. Foi
trazido da Alemanha, onde o erro de proibição ocorre com o desconhecimento da lei e com a
interpretação equivocada dessa (erro de subsunção).

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AULA 08 – CULPABILIDADE

São três os sentidos consagrados da culpabilidade:

1) VEDAÇÃO DE RESPONSABILIDADE OBJETIVA: não há crime sem dolo ou culpa.

2) LIMITE DA PENA: NA FUNÇÃO RETRIBUTIVA: ao mal do crime, o mal da pena: a


pena não pode superar a culpabilidade.

3) ESTRUTURA DO CRIME: É a reprovabilidade.

Posição da culpabilidade da estrutura do crime:

Deve ser analisada após o injusto para garantir o sentido fatoautor. Se a


culpabilidade fosse a estrutura em primeiro analisada, o sentido seria invertido, privilegiando
um direito penal do autor.

Com a Escola Clássica, inspirada no Iluminismo antropocentrista e no racionalismo, a


culpabilidade tem sua base no livre arbítrio.

A culpabilidade é assim, um juízo de censura sobre o mau uso da liberdade.

A culpabilidade clássica é confrontada pela periculosidade da Escola Positiva. A base


da Escola Positiva é a negação do livre arbítrio com um determinismo inspirado na biologia
com Lombroso, na sociologia com Ferri ou na psicologia com Garofalo.

Na escola positiva, o autor não pode ser reprovado pelo mau uso de uma liberdade que
não possui. A culpabilidade é substituída pela periculosidade que não justifica a pena, mas
sim medidas para (de) segurança da sociedade.

Ainda que reconhecida a vantagem da análise individual da periculosidade, a categoria


é criticada por sustentar um Direito Penal do autor, com a perda da proporcionalidade da pena
e a troca do vago conceito de justiça por outro tão vago como a periculosidade, que tem
menor aptidão para o contraditório.

No causalismo, entende-se desnecessária uma conclusão definitiva sobre o livre


arbítrio. Liszt reconhece que inúmeros fatores interferem na capacidade do autor, como a
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idade, as emoções, a cultura. A questão coloca por Liszt é: deve o direito penal se preocupar
com isso?

No Neokantismo de Mezger, a culpabilidade tem como base a condução da vida, ou


seja, todos os atos anteriores que permitiram a formação de um determinado caráter, que se
expressa na prática do crime.

Ainda no Neokantismo, a reprovação tem como base o homem médio, dada a


reconhecida inviabilidade de demonstrar o livre arbítrio.

No finalismo de Welzel, o livre arbítrio não é biológico, pois seria um demonstrar,


mas sim existencial.

O funcionalismo Teleológico de Roxin critica o livre arbítrio e argumenta que, por ser
indemonstrável, duvidoso, deveria impor a absolvição à todos os acusados pela falta de provas
sobre a culpabilidade. Propõe, assim, que a base da culpabilidade tem como elemento
empírico a capacidade de autodeterminação e, como elemento normativo, a possibilidade de
comportamento dirigível pela norma: é a acessibilidade normativa.

A culpabilidade de Roxin se fundamenta em duas ficções. A culpabilidade é o limite, e


não a razão, da pena: “eu puno no limite da culpabilidade”.

Roxin assume que a base de sua culpabilidade é uma ficção, mas justifica que a ficção
se legitima porque não fundamenta a pena (o fundamento da pena é apenas preventivo, e não
retributivo), mas somente a limita, ou seja, opera apenas a favor do autor.

Jakobs, em seu Funcionalismo Radical, afasta toda a base individual da culpabilidade,


pois sempre impregnada pelo indemonstrável livre arbítrio. Em Jakobs, a culpabilidade tem
como fundamento a necessidade da pena para manter expectativas, por exemplo, o louco não
recebe pena porque não quebra expectativas.

Zaffaroni: a coculpabilidade já abandonou e a cupabilidade por vulnerabilidade.

Para Zaffaroni, causas sociais condicionam o sujeito a praticar a conduta delituosa.


Não é legítimo sobrecarregar o sujeito reprovando-o isoladamente sem considerar tais causas.
Necessário, assim, reconhecer a divisão de responsabilidade atenuando a reprovação do autor.

Na doutrina, é possível encontrar referencias à coculpabilidade às avessas: a)


na criminologia crítica significa que aquele que deveria ter a responsabilidade atenuada pelas
condições sociais tem, de fato, a reprovabilidade acentuada por discriminação social; b) Nos
tribunais brasileiros, é comum mencionar a coculpabilidade às avessas como fator de
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incremento da pena para aquele que recebeu da sociedade estímulos para uma vida honesta. É
uma tese acusatória.

Zaffaroni, em suas últimas obras, substitui a coculpabilidade pela culpabilidade por


vulnerabilidade.

Nessa culpabilidade por vulnerabilidade, o primeiro passo deve obedecer ao


tradicional juízo de reprovação pela autodeterminação. Em um segundo passo, será feito um
juízo de reprovação pelo esforço que o autor teve de exercer para alcançar a vulnerabilidade
penal concreta, descontando, desde logo, seu estado preexistente de vulnerabilidade.

Quanto “maior o esforço” que o agente faz para ser alvo do Estado, maior a sua
culpabilidade.

A CULPABILIDADE NA ESTRUTURA DO CRIME – Concepção Finalista

ELEMENTOS DA CULPABILIDADE DIRIMENTES (EXCLUDENTES) DE


CULPABILIDADE

Imputabilidade Inimputabilidade

Potencial consciência da ilicitude Erro de proibição inevitável

Exigibilidade de conduta diversa Inexigibilidade de conduta diversa

Na inimputabilidade, são quatro as suas causas: a) menor de 18 (dezoito) anos; b)


silvícola não adaptado (indígena que não aderiu à cultura urbana); c) art. 26 – portador de
doença mental/desenvolvimento mental incompleto ou retardado; d) embriaguez acidental
completa.

EMBRIAGUEZ: É uma intoxicação aguda em razão da ingestão de álcool ou


substância de efeitos análogos capazes de gerar, desde uma ligeira euforia, até o estado
comatoso.

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Graus de embriaguez: 1) incompleta: tem como consequência o afrouxamento de


freios inibitórios; 2) completa: é a perda da liberdade de autodeterminação, seria a amnésia
absoluta, é mais rara; 3) comatosa: sono profundo.

Classificação da embriaguez:

a) Preordenada: se o sujeito se embriaga para praticar o crime, tem como consequência


ser uma circunstância agravante do art. 61 do CP. É agravante porque demonstra
premeditação e caráter vil, pois o sujeito deliberadamente se faz instrumento descontrolado da
própria maldade;

b) Voluntária ou culposa: a voluntária é intencional, o sujeito se embriaga porque quer.


A culposa é por descuido. A consequência

CRISE1:

Se a embriaguez é completa, o autor não tem liberdade de autodeterminação, e sem tal


liberdade, não poderia ser culpado. No entanto, a absolvição de todos os completamente
embriagados seria inadmissível do ponto de vista político-criminal, pelo que a
responsabilização será alcançada na Teoria da Actio libera in causa: ainda que o autor não
tenha liberdade no momento do ato lesivo, era livre na origem da embriaguez, e por tal
liberdade, será censurado.

CRISE 2:

Como explicar o dolo e a culpa na actio libera in causa: 1) A responsabilidade é


objetiva (NUCCI, PRADO – critica, mas acaba por reconhecer); 2) Dolo residual: Hungria
ensina com o apoio em Mezger que sempre resta uma consciência residual suficiente para
reconhecer o dolo. A punição do embriagado e o reconhecimento de um dolo residual é uma
construção consolidada no Direito Consuetudinário; 3) o dolo e culpa devem ser analisados no
momento da embriaguez, ou seja, a análise do dolo e da culpa também deve ser antecipada.

A grande crítica é a abertura dos portões da impunidade, pois são os vários os casos
nos quais é inviável a prova do dolo no momento da embriaguez e ainda assim é necessária a
condenação por crime doloso por necessidade preventiva.

REPOSTA À CRÍTICA: não há perigo de estouro do dique, pois os casos de


embriaguez completa são raros e normalmente associados à culpa.

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c) Acidental: vem de caso fortuito ou força maior (fatos imprevisíveis). Se completa,


afasta a culpabilidade, e se incompleta, diminui a pena. Nesse caso, se for completa, absolve.
São casos raríssimos.

d) Patológica: é a doença mental, o alcoolismo. O álcool deprime. Nesse caso, o


regime jurídico é o do art. 26 do CP, gerando a inimputabilidade.

OBS: nos termos do art. 28, I, CP, a emoção e a paixão não afastam a imputabilidade.

EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA: Tal estrutura foi proposta por Frank,


em 1904, em sua Teoria das Circunstâncias Concomitantes (adaptação do rebus sic stantbus).

Exemplo da carruagem na Alemanha - 1905: cocheiro se negou a colocar cavalo


selvagem, mas seu superior disse que o demitiria, então, aquele decide colocar o cavalo e
acaba atropelando uma pessoa. O cocheiro foi absolvido.

Obediência hierárquica - requisitos: ordem não manifestamente ilegal de superior para


inferior, de vínculo público (não cabe no privado).

AULA 09 – TEORIA GERAL DA PENA

O principal instrumento do direito penal é a pena. Dessa forma, estudar a pena faz
parte do estudo o direito penal.
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I - SANÇÃO PENAL: São duas as espécies de sanção penal: a) pena e b) medida de


segurança.

1) CARACTERÍSTICAS DA PENA

a) Causa sofrimento: é uma característica negativa. O índice de reincidência da pena


privativa de liberdade: 80% a 95%; enquanto o da restritiva de direitos é de 7 a 12%.
b) Referência ao passado;

c) Devido processo legal - Só se pode falar em pena se ela foi imposta por devido processo
legal.

2) FINALIDADES DA PENA

A) TEORIAS ABSOLUTAS OU RETRIBUTIVAS: é pura a referência ao passado, a


pessoa é punida pelo que fez.

I – Pena Vingança:

a) responsabilidade objetiva, ou seja, punição mesmo sem dolo ou culpa;

b) responsabilidade flutuante, ou seja, mais importe que punir o autor do crime, é punir
alguém, remontando ao “bode expiatório”;

c) desmedida: por exemplo, o furto de uma bicicleta tem a mesma pena que o furto de
uma joia. O julgador não pode motivar seus atos afirmando que responde aos anseios sociais
por punição, o que é a própria vingança. A pena de vingança serve também para compensar a
dor.

Crítica: a irracionalidade da vingança dentro do Estado Democrático.

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II – Pena Expiação: a pena tem como objetivo a purificação do condenado, sua salvação e
reintegração à sociedade. Tem clara inspiração religiosa e humanista, pois não quer sacrificar,
mas sim salvar o condenado.

Surgiu com o Direito Canônico, que usava o enclausuramento como forma de punição.
Assim, a penitenciária é o lugar em que deve ser cumprida a sua pena.

A ideia é trancar a pessoa num lugar fechado (cela) onde poderá atingir a sua
redenção.

A exigência de alguns tribunais de sincero arrependimento para a confissão

Crítica: o Brasil é um país laico, e a expiação é um dogma de uma determinada fé.

III – Pena Justiça (Kant): é justo que o autor de um mal sofra um mal.

Kant expressa que a pena não pode ter objetivo futuro.

A pena, em Kant, com o objetivo de evitar crimes no futuro, trata o condenado como
um meio, o que viola sua dignidade.

Vale lembrar que, em Kant, a dignidade se relaciona com a forma-instrumento: o


homem é o fim de todas as coisas e não pode ser um meio para um fim. Já as coisas são o
meio, essas têm valor e o homem dignidade.

Consagrada a metáfora da ilha com a qual Kant busca demonstrar que a pena não se
justifica com o objetivo futuro.

Críticas: trata-se de muita metafísica e não responde quando ou quanto punir. Roxin
critica que a teoria presume o que deveria mostrar.

IV – Pena em Hegel: anulação normativa. Hegel é um dos grandes nomes do idealismo


alemão. A pena anula o crime e reforça o direito. Critica: “muito viajante”.

B) TEORIAS RELATIVAS OU PREVENTIVAS:

Nas teorias preventivas, o objetivo da pena é a prevenção de novos crimes, é a melhora


da sociedade no futuro.

I – Prevenção Geral: a pena quer atingir a comunidade. Pode ser:


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a) negativa: tem como grande expoente o Feuerbach. O objetivo da pena é a


intimidação da coletividade. Mais importante que a pena é a ameaça da pena. A dor da pena
deve ser maior que o prazer do crime, para servir de contra impulso criminoso, ou seja, o
sujeito para de praticar o crime.

Para que funcione a intimidação, o sujeito deve ter certeza da pena, não pode ter
esperança da impunidade.

Crítica: 1) a cifra negra (95% dos crimes não chegam ao conhecimento das
autoridades) destrói a certeza da pena. 2) Da mesma forma, a teoria tem como premissa o
homem econômico que pesa custos e benefícios antes de agir. Tal homem não é real! 3) Além
disso, a intimidação fomenta o terrorismo penal.

b) positiva: a pena tem o objetivo de comunicar, é uma pena comunicativa. Ela foi
classificada por Mir Puíg como limitadora (Roxin) ou fundamentadora (Jakobs).

Para a limitadora, a pena tem como objetivo limitar a crença na vigência da norma,
valorizando o bem jurídico subjacente.

É melhor que a intimidação porque não precisa de uma pena alta.

Para Jakobs, a finalidade da pena é a manutenção das expectativas normativas


essenciais para a vida em sociedade.

Em Luhuann (sociólogo), as expectativas podem ser cognitivas ou normativas. As


cognitivas são aquelas que, rompidas, se alteram.

A expectativa normativa é aquela que, mesmo rompida, é mantida.

Tudo aquilo que é tido como essencial pela sociedade, deve ter sua expectativa
normativa mantida.

Para parte da doutrina, a pena em Jakobs tem três fases.

A primeira fase tem influência da psicologia social. O objetivo é exercitar a confiança


nas expectativas do corpo social.

A segunda é uma fase normativa, idealista. A pena confirma a identidade normativa da


sociedade, anulando o crime e confirmando o direito. É uma releitura de Hegel, pois despreza
qualquer função empírica.

Livro: Teoria da Responsabilidade de Klaus Gunther – crítico de Jakobs.

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Na terceira fase, Jakobs argumenta que plano ideal, simbólico, a pena anula o crime.
No entanto, no plano material, das relações sociais, o crime gera efeitos de instabilidade que
devem ser anulados também no plano material. Daí a necessidade da dor da pena para
“cimentação cognitiva”.

Críticas à prevenção geral positiva: 1) instrumentaliza o homem; 2) não explica porque


a pena é um instrumento adequado de comunicação. Não seria melhor uma propaganda?

II – Prevenção Especial: As teorias de prevenção especial querem atingir o condenado.

a) negativa: tem duas funções.

A primeira é a inoquização do condenado. Dentro da inoquização, persiste um objetivo


de perda da agressividade (estímulo) natural. A segunda é intimidação individual.

Crítica: a pena inoquizante é desumana e a intimidação individual ineficaz, pois o


condenado (Matza) neutraliza o próprio crime com justificativas e se adapta a cultura do
cárcere.

b) positiva: o objetivo é a (re) integração social do condenado.

b.1) Tratamento

Crítica: o criminoso não é um doente para que seja submetido a um exame


criminológico feito por psiquiatra ou psicólogo, que tratam doenças.

b.2) Programa máximo, em que o Estado deve impor uma agenda de integração social.
Obriga-se o indivíduo a se educar, a aprender uma nova profissão.

Crítica: viola a autonomia da formação da personalidade.

b.2) Programa mínimo – o Estado deve facultar uma agenda de integração social. Crítica:
muito utópico.

C) TEORIA MISTA OU ECLÉTICA

Essas teorias reúnem duas ou mais finalidades da pena. Elas podem ser aditivas ou
dialéticas.

a) aditiva:
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É aquela que justapõe duas ou mais teorias. O art. 59 do CP adota uma teoria mista
aditiva, pois afirma que a pena serve para reprovar e prevenir.

Crítica: Para Roxin, essa é a pior de todas as teorias, pois: I) finalidades antagônicas se
anulam; II) a falta de uma finalidade preponderante gera extrema insegurança, pois nem a
sociedade nem o acusado poderá ter mínima previsão sobre o resultado do julgamento, sobre
qual pena será fixada; III) é um cheque em branco que o legislador transfere ao julgador para
que faça uma opção político-criminal.

b) dialética:

É aquela segundo a qual deve ser escolhida uma finalidade preponderante, que será
limitada pelas demais.

Para Roxin, as finalidades preventivas variam de acordo com momento: as teorias de


prevenção formam uma teoria diacrônica. Roxin nega finalidade retributiva, a pena não pode
e não tem essa finalidade.

Primeiro momento, na cominação legislativa, a finalidade preponderante é a prevenção


geral, negativa e positiva. No limite da pena, é preponderante a prevenção especial positiva.

Segundo momento, na aplicação da pena, na sentença, prevalece a prevenção geral


negativa, no limite da culpabilidade e da integração social.

Terceiro momento, na execução prevalece a prevenção especial positiva, desde que


respeitado o limite mínimo da prevenção geral positiva e negativa.

D) OUTRAS TEORIAS

I – Ferrajoli – garantismo penal: a pena tem como objetivos a prevenção geral negativa e a
contenção da violência informal.

II – Zaffaroni - Teoria Agnóstica da pena: nega todas as finalidades legitimadoras. A pena


é um instrumento de opressão e força dos poderosos diante dos vulneráveis em uma sociedade
em conflito. Não importa a finalidade da pena porque já se tem certeza do que ela não é. Ele
renuncia ao reconhecimento das funções reais da pena, porque basta saber que elas não são
legítimas.
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AULA 10 – PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

1) INTRODUÇÃO – BREVE ANÁLISE HISTÓRICA

O marco inicial da pena privativa de liberdade foi o Século XVI – House of


Correction (Inglaterra – 1550/1552): a fonte de inspiração foram as penas aplicadas aos
religiosos que se recolhiam em celas para remissão dos pecados praticados.

Os condenados teriam como alternativa à pena de morte, uma pena de recolhimento


para refletirem e se “corrigirem”.

Logo, a penitenciária é o local onde o indivíduo reflete seus atos, realiza sua
penitência.

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No Brasil, as Ordenações do Reino vigoraram até 1830, e tinham a pena de morte


como a pena criminal de regra. A reclusão era utilizada apenas para guardar o indivíduo
enquanto não era executado.

Nos Estados Unidos, em 1775, na Cidade Filadélfia, Estado da Pensilvânia, por


pressões religiosas, criou-se o primeiro Sistema de Penas, chamado de Sistema da Filadélfia
ou Pensilvânico.

Tal sistema tinha como característica o isolamento celular e a regra do silêncio


absoluto.

Ainda nos Estados Unidos, em 1816, surgiu o Sistema Auburniano (cidade de Auburn,
Estado de NY) em que os indivíduos trabalhavam durante o dia, e a noite permaneciam em
isolamento celular.

Na Inglaterra, em 1787, surgiu o Panótico concebido como uma penitenciária modelo,


é um conceito em que um vigilante consegue observar todos os prisioneiros sem que estes o
vejam. A prisão seria uma estrutura circular, com as celas em sua borda, e o meio vazio se
encontra a torre com o vigia “onipresente”.

O sistema progressivo (século XIX) foi criado na Inglaterra para ser aplicado na
Austrália. Tinha como característica as pontuações que eram dadas aos presos “mark system”,
e no momento em que atingissem determinados pontos, teriam direito a progressão de regime.
Logo, por razões de colonização a Inglaterra determinou essa abertura do sistema.

No Sistema Progressivo Irlandês, a pena era cumprida em quatro estágios, do


recolhimento em penitenciária ao livramento condicional.

2) BRASIL

A Constituição Imperial de 1824, em seu art. 179, determinava que as cadeias fossem
limpas, arejadas, separando-se presos perigos e não perigosos, e assim por diante. Todavia, tal
dispositivo não passou de mera utopia, não foi implementado.

Durante o Império e o início da República não existia qualquer tipo de separação entre
os presos, assim como nenhuma limpeza.

O Código Criminal do Império de 1830 não adotou qualquer sistema carcerário.

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Já o Código Penal de 1890 preocupou-se em manter um sistema penitenciário


seguindo o Sistema Pensilvânico, determinando o cumprimento de pena em regime de
isolamento.

O Código de 1940, em sua redação original, rompeu com a metodologia do antecessor,


fazendo com que o Brasil passasse a adotar o Sistema Progressivo de Cumprimento de Pena.

Com a Reforma de 1984, houve um aperfeiçoamento do sistema de cumprimento de


pena, assim como houve a promulgação simultânea da Lei de Execução Penal (Lei nº
7.210/84).

No Brasil, atualmente, portanto, a pena privativa de liberdade é cumprida em estágios:

 1 - Regime fechado: estabelecimentos de segurança máxima ou média;


 2 - Regime semiaberto: colônias penais agrárias ou industriais, ou
estabelecimentos similares;
 3 - Regime aberto: não há rigor de cumprimento, a lei diz que deve ser
cumprido em Casa de Albergado durante as noites e os finais de semana;
 4 - Livramento condicional: arts. 83/90 do CP e art. 131 da LEP, consiste da
antecipação da liberdade do preso;

Não se permite a progressão por saltos.

O Livramento Condicional tem requisitos independentes, não sendo sempre necessário


que o condenado saia do aberto e vá para o livramento, ele pode sair do semiaberto e já ir
direto ao livramento, por exemplo.

3) ESPÉCIES DE PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE (PPL)

No CP existem duas penas privativas de liberdade, a reclusão e a detenção. Já na Lei


de Contravenções Penais há a prisão simples.

A prisão simples é uma pena cominada apenas para contravenções. Ela só admite
regimes aberto e semiaberto para o cumprimento, jamais em regime fechado, ainda que o
sentenciado apresente mau comportamento carcerário.

A pena de detenção jamais poderá será ser iniciada em regime fechado, mas ao longo
da execução pode ocorrer a regressão de regime ao fechado.
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Enquanto na prisão simples não pode cumprir no fechado, na detenção o indivíduo apenas não
pode iniciar o cumprimento no fechado, mas pode ser transferido para ele ao longo da
execução.

I - DIFERENÇAS ENTRE RECLUSÃO E DETENÇÃO

A) Regime inicial de cumprimento de pena: A reclusão admite regimes fechado, semiaberto e


aberto. A detenção admite semiaberto e aberto.

B) Momento de cumprimento:

A Reclusão é executada antes da detenção (art. 76 do CP, as penas mais graves devem
ser cumpridas primeiro que as demais).

C) Cabimento da incapacidade para exercício do poder familiar, tutela ou curatela:

São efeitos extrapenais específicos (somente em alguns crimes) da condenação (Art.


92, II, CP). Só é cabível em crimes apenados com reclusão, e quando cometidos em face do
filho, curatelado ou tutelado. Por exemplo, cabe nos casos de estupro de menor pelo pai.

D) Medida de segurança aplicável (art. 97, CP) (internação em hospital de custódia e


tratamento; tratamento ambulatorial):

Se o fato é punido com reclusão, cabe somente a internação. No caso de detenção, o


juiz pode escolher entre internação ou tratamento ambulatorial.

*Lei 9.296/96 – interceptação das comunicações telefônicas: exige que a apuração


busque somente crimes punidos com reclusão.

4) DEFINIÇÃO DO REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA

RECLUSÃO DETENÇÃO

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NÃO NÃO
REINCIDENTE REINCIDENTE
REINCIDENTE REINCIDENTE

PPL 08 Fechado Fechado Semiaberto Semiaberto

08<PPL>04 Semiaberto* Fechado Semiaberto Semiaberto

PPL 04 Aberto* Semiaberto* Aberto* Semiaberto

*O juiz pode impor regime inicial mais gravoso.

A súmula 719 do STF informa que a escolha de regime inicial mais gravoso que a lei
exige, necessita de fundamentação idônea:

“Pena. Fixação. Regime mais severo do que a pena aplicada


permite. Necessidade de fundamentação idônea. CP, art. 33, § 2º.
A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena
aplicada permitir exige motivação idônea.”

A Súmula 718 do STF diz que a opinião do julgador acerca da gravidade abstrata do
crime não constitui fundamentação idônea pra aplicar regime mais rigoroso que a lei
determina:

Pena. Fixação. Regime mais severo do que o permitido.


Inadmissibilidade. Gravidade em abstrato do crime. Opinião do
julgador. Irrelevância. CP, art. 33, § 2º. A opinião do julgador sobre
a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para
a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena
aplicada.

A Súmula 440 do STJ:

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“Pena. Fixação da pena. Pena-base no mínimo legal. Regime de


cumprimento. Regime prisional mais gravoso. Gravidade abstrata
do delito. CP, arts. 33, §§ 2º e 3º, e 59. Fixada a pena-base no
mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais
gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base
apenas na gravidade abstrata do delito”.

5) APLICAÇÃO DA PENA

I – Predosimetria: verifica os limites abstratos, os mínimos e máximos em que se pautará a


aplicação da pena, se existem qualificadoras, agravantes etc.

II – Dosimetria:

a) Pena Base: calcular a partir das circunstâncias judiciais;

b) Pena Provisória: calcula com os agravantes e os atenuantes;

c) Pena Definitiva: verifica as causas de aumento e de diminuição;

III – Pós-dosimetria:

a) regime inicial;

b) cabimento de pena alternativa;

c) cabimento do “sursis” (art. 77);

d) aplicar a multa cumulativa;

6) REGIME INICIAL EM LEIS ESPECIAIS

Nas leis dos crimes hediondos e equiparados (Lei nº 8.072/90) e da tortura (Lei nº
9.455/97), o magistrado não tem a liberdade de determinar o regime inicial de cumprimento
de pena diverso do fechado.
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Caderno de Direito Penal

Em 2006, o STF (HC 82.959) determinou a inconstitucionalidade do artigo que dizia


que em tais crimes o cumprimento de pena deveria ser feito integralmente em regime fechado,
passando agora para ser o regime inicial, cabendo, portanto, a progressão de regime:

PENA - REGIME DE CUMPRIMENTO - PROGRESSÃO - RAZÃO


DE SER. A progressão no regime de cumprimento da pena, nas
espécies fechado, semi-aberto e aberto, tem como razão maior a
ressocialização do preso que, mais dia ou menos dia, voltará ao
convívio social. PENA - CRIMES HEDIONDOS - REGIME DE
CUMPRIMENTO - PROGRESSÃO - ÓBICE - ARTIGO 2º, § 1º, DA
LEI Nº 8.072/90 - INCONSTITUCIONALIDADE - EVOLUÇÃO
JURISPRUDENCIAL. Conflita com a garantia da individualização da
pena - artigo 5º, inciso XLVI, da Constituição Federal - a imposição,
mediante norma, do cumprimento da pena em regime integralmente
fechado. Nova inteligência do princípio da individualização da pena,
em evolução jurisprudencial, assentada a inconstitucionalidade do
artigo 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90.

(STF - HC: 82959 SP, Relator: MARCO AURÉLIO, Data de


Julgamento: 23/02/2006, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 01-
09-2006).

Em 2012, no HC 111.840, o STF determinou ser inconstitucional o regime


inicialmente sempre fechado para o tráfico de drogas:

Habeas corpus. Penal. Tráfico de entorpecentes. Crime


praticado durante a vigência da Lei nº11.464/07. Pena inferior a 8
anos de reclusão. Obrigatoriedade de imposição do regime inicial
fechado. Declaração incidental de inconstitucionalidade do § 1º do art.
2º da Lei nº 8.072/90. Ofensa à garantia constitucional da
individualização da pena (inciso XLVI do art. 5º daCF/88).
Fundamentação necessária (CP, art. 33, § 3º, c/c o art. 59).

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Caderno de Direito Penal

Possibilidade de fixação, no caso em exame, do regime semiaberto


para o início de cumprimento da pena privativa de liberdade.
Ordem concedida.

[...] 5. Ordem concedida tão somente para remover o óbice constante


do § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90, com a redação dada pela Lei nº
11.464/07, o qual determina que “[a] pena por crime previsto neste
artigo será cumprida inicialmente em regime fechado“. Declaração
incidental de inconstitucionalidade, com eeito ex nunc, da
obrigatoriedade de fixação do regime fechado para início do
cumprimento de pena decorrente da condenação por crime
hediondo ou equiparado.

STF – HC 133.028 (2ª Turma), 130.411 (1ª Turma): condenação por tráfico de drogas
admite, quando preenchido os requisitos legais, regime inicial aberto.

HC 13.316 – tortura.

7) REGIMES PENITENCIÁRIOS

I – LOCAL DE CUMPRIMENTO

a) Regime fechado: estabelecimentos de segurança máxima ou média;

b) Regime semiaberto: colônias penais agrárias ou industriais, ou estabelecimentos


similares;

c) Regime aberto: não há rigor de cumprimento, a lei diz que deve ser cumprido em
Casa de Albergado durante as noites e os finais de semana;

d*) Regime albergue-domiciliar (art. 117, LEP): quando não há vagas em casa de
albergado; sentenciado com grave enfermidade ou sentenciada em avançado estado de
gravidez ou com recém-nascido.

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II – TRABALHO DO PRESO

O trabalho tem dupla face, é um direito e um dever. Caso o preso se recuse a trabalhar
sem motivo justificado, incorrerá em falta grave.

Nos regimes semiaberto e fechado, a LEP prevê o trabalho interno como regra, e o
externo em caráter excepcional, em obras de serviços públicos e com escolta. As regras desse
trabalho seguirão o regime jurídico da LEP.

No aberto, o trabalho é verdadeiro pressuposto (se está em aberto, tem que trabalhar).
Por isso muitos juntam propostas de emprego no requerimento de progressão de regime. Aqui,
o trabalho segue as regras do Direito do Trabalho.

Na prática, defere-se ao preso em semiaberto o trabalho nos moldes do regime aberto.

III – REMIÇÃO (ARTS. 126 A 130, LEP)

É o direito de descontar um dia de pena para cada três dias trabalhados e/ou estudados.
Nos regimes fechado e semiaberto, cabe tanto a remição pelo trabalho quanto pelo estudo,
assim como as duas cumulativamente.

No regime aberto só cabe remição pelo estudo.

A súmula 562 do STJ:

“É possível a remição de parte do tempo de execução da pena quando


o condenado, em regime fechado ou semiaberto, desempenha
atividade laborativa, ainda que extramuros”.

A LEP informa que a remição pode ser dada por ensino presencial ou a distância,
podendo ser de graduação, pós etc.

IV – AUTORIZAÇÕES DE SAÍDA

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Existem duas espécies:

A) Permissão de saída: utilizada em situações de emergência; não exige cumprimento


de parte da pena, assim como não exige autorização judicial;

B) Saída temporária: é um benefício; exige cumprimento mínimo de fração da pena,


depende de autorização judicial indelegável ao diretor do estabelecimento prisional (STJ,
súmula 520).

No regime fechado cabe apenas a permissão de saída. Já no semiaberto e no aberto


cabem a permissão de saída e a saída temporária.

V – DETRAÇÃO

É cabível tanto na medida de segurança quanto na pena privativa de liberdade.

A medida de segurança vigora por tempo indeterminado, enquanto permanecer a


periculosidade do internado, mas submete-se ao limite máximo de 30 (trinta) anos, conforme
a Súmula 527 do STJ.

De acordo com o art. 387, CPP, o tempo de prisão provisória deverá ser levado em
conta a fixação do regime inicial.

Ex: juiz condena réu a pena de 08 anos e 02 meses, primário. O regime inicial seria o
fechado. Todavia, tendo ficado preso por 06 meses preventivamente, logo, a pena base deve
ser descontada pelo tempo que permaneceu preso preventivamente, de modo que será inferior
a 08 anos, cabendo, portanto, o regime inicial semiaberto.

A detração, em MS, reflete na aplicação do prazo mínimo para a realização do


primeiro exame médico para a constatação da periculosidade, ou seja, ao invés de três anos,
será feito em menor tempo.

A detração cabe apenas em pena de prisão.

Por analogia in bonan parte, cabe detração em pena alternativa restritiva de direitos.

Medida cautelar alternativa à prisão (art. 319, CPP) admite detração?

Cabe detração pelo tempo de prisão provisória cumprido no processo para


descontar/abater pena aplicada em outro processo? Será cabível quando o crime pelo qual o
sentenciado foi condenado for ANTERIOR ao período em que ficou preso provisoriamente.

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O que é vedado é o incentivo ao cometimento de novos crimes.

8) LIMITE DE CUMPRIMENTO DE PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE E SUAS


IMPLICAÇÕES

O art. 75, CP, impõe o limite máximo de 30 (trinta) anos para o cumprimento de penal.
É um critério a ser observado na execução penal, e não na dosimetria da pena, porque pode
ocorrer concurso de crimes.

A CR/88, art. 5º, XLVII, ‘b’, instituiu o limite para evitar penas perpétuas.

A Súmula 715 do STF estabelece que o parâmetro para a aplicação dos benefícios ao
preso é o total da pena, não o limite do art. 75, do CP.

A detração e a remição são descontadas do limite de 30 (trinta) anos, isso porque são
contados como pena cumprida, logo, tem que ser em cima dos 30 anos.

Já a progressão e o livramento são contados em cima do total da pena.

O prazo de 30 anos pode ser excedido na ocorrência de superveniência de condenação


transitada em julgado por fato praticado durante o cumprimento da pena. O indivíduo já tinha
atingido o patamar de 30 anos, e durante o cumprimento comete outro crime, como matar um
colega de cela, e é condenado por mais 30 anos. Nesse caso, o juiz realizará a soma do
restante da pena com a nova condenação, e sobre esse novo patamar ocorrerá o limite da pena.

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AULA 11 – PENAS ALTERNATIVAS

A Medida alternativa busca evitar o encarceramento, sendo voltada para crimes de


menor e médio potencial ofensivo, que estatisticamente, são crimes apresentaram pouca
reincidência.

I – PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS

Todas as medidas que evitam o cárcere são medidas alternativas. E as penas restritivas
de direitos consistem em espécies de medidas alternativas às penas privativas de liberdade.

1) CONCEITO: constituem medidas alternativas às penas privativas de liberdade.

2) FINALIDADE: As medidas alternativas visam impedir a imposição de pena privativa


de liberdade. São exemplos de medidas alternativas, que não podem ser confundidas como
penas alternativas: reparação do dano extintiva da punibilidade; representação do ofendido
para determinados crimes; transação penal; suspensão condicional do processo, composição
civil de determinados crimes.

3) CARACTERÍSTICAS:

3.1) Autonomia: são autônomas, existem por conta própria e assim não podem ser
consideradas acessórias. Critica: O CTB tem previsão de pena acessória: pena de suspensão
do direito de dirigir.

3.2) Substitutividade: não são cominadas no preceito secundário. Subsistem à pena privativa
de liberdade. Critica: Lei de Drogas – art. 28: não tem o que substituir.

3.3) Conversibilidade em prisão: havendo descumprimento injustificado ou sobrevier


condenação a pena de prisão por outro crime, desde que não seja possível o cumprimento
simultâneo das sanções, a pena restritiva será convertida em prisão. Critica: Lei de Drogas –
art. 28: não tem o que substituir.

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4) ESPÉCIES:

4.1) Diretas – aplicadas diretamente pelo juiz, sem passar pela pena de prisão. Ex.: aplicação
apenas da pena de multa; suspensão da carteira de habilitação.

4.2) Substitutivas – a pena privativa de liberdade é substituída por uma pena alternativa

5) ROL DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS (art. 43, do CP)

a) Prestação pecuniária (art. 45, §1º);

b) Prestação inominada (art. 45, §2º);

c) Perda de bens (art. 43, §3º);

d) Prestação de serviços á comunidade ou a entidades públicas (art. 46);

e) Interdição temporária de direitos (art. 47);

f) Limitação de fim de semana (art. 48);

6) DIVISÕES

6.1) Restritiva de direitos em sentido estrito – restringe o exercício de um direito.

6.2) Restritiva de direitos pecuniárias – implicam numa diminuição patrimonial do agente


ou uma prestação inominada em favor da vítima ou seus herdeiros. São elas: prestação
pecuniária em favor da vítima; prestação inominada e perda de bens e valores.

7) CLASSIFICAÇÃO

7.1) Genéricas: preenchidos os requisitos, aplicam-se a todos os crimes (art. 45,§§, 1º, 2º, 3º,
46, 47, IV e 48).

7.2) Específicas: somente a determinados crimes (Compreendem as interdições temporárias


de direitos. Exceção: proibição de frequentar determinados lugares - art. 47, I, II e III e 55 a
57, CP).

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8) REQUISITOS PARA A SUBSTITUIÇÃO DA PPL EM PRD

8.1) OBJETIVO:

A) QUANTIDADE DA PENA:

 Até 04 (quatro) anos (crimes dolosos);


 Qualquer quantidade de pena (crimes culposos);

a) NATUREZA DA INFRAÇÃO: sem violência ou grave ameaça contra a pessoa;

Observação

1) Natureza a violência: STF toda violência (real ou presumida) impede a conversão.


(Julg. HC99.828/SP – 17.5.11).

2) Crimes de menor potencial ofensivo: Divergência - 1ª posição: Impossível


conversão diante do impeditivo pela natureza da infração; 2ª posição: É possível. A Lei
9.099/95 se norteia pelos princípios da oralidade, informalidade, economia processual e
celeridade, objetivando, sempre que possível, a aplicação de pena não privativa de liberdade.
Ademais, se é possível transação penal à aplicação imediata de sanção restritiva de direitos,
deveria ser possível a mesma sanção ao final. (STJ – HC 87.644/RS – em crime de lesão
dolosa leve).

3) Aborto – CP, art. 124 – pena: detenção de 01 a 03 anos - É possível?

4) Lei de Transplante de órgãos – Lei n. 9434/97

Art. 14: Remover tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa ou


cadáver, em desacordo com às disposições desta Lei Pena: reclusão,
de 2 a 6 anos, e multa de 100 a 360 dias-multa

5) Regime inicial: Compatibilidade de regime e PRD; viável com os regimes aberto e


semiaberto.

6) art. 44, §2º e art. 60, §2º, CP - Há julgado do STF entendendo que o art. 60, §2º
(que trata da multa vicariante) está em vigência. Assim, pena inferior a 6 meses (multa); pena
maior que 6 meses e até 1 ano, somente PRD.
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8.2) SUBJETIVO:

 Não ser reincidente em crime doloso;


 Culpabilidade, antecedentes, conduta ou personalidade ou ainda os motivos e
circunstâncias recomendarem a substituição.

Observação: Divergência entre o inciso II e o §3º, ambos do art. 44,CP.

 O inciso II afasta o reincidente em crime doloso.


 O §3º prevê a expressão “reincidência”

Observações

01) Falta de fundamentação: A falta de fundamentação na Sentença da não aplicação


da PRD ofende o princípio da individualização da pena (STF – HC 94.874 – Ricardo
Lewandowski).

02) PRD e Hediondos:

 A lei não veda.


 Crime de tóxicos: O STF declarou inconstitucional a determinação de regime inicial
fechado para os crimes hediondos. Deve o juiz fundamentar o regime mais gravoso
(SUM 719-STF). Possível PRD para tráfico privilegiado

Regras complementares:

 O art. 44, §2º dispõe:

1) sendo pena aplicada igual ou inferior a 1 ano, o juiz deverá aplicar a pena multa ou
pena restritiva de direitos, tanto em infração dolosa, quanto em culposa;

2) sendo a pena aplicada superior a 1 ano, o juiz deverá aplicar uma pena de multa e
restritiva de direitos ou duas restritivas de direitos.

 Conversão da pena restritiva de direitos em pena privativa de liberdade (art.44, §4º,


CP).
1) Descumprimento injustificado da restrição imposta (conversão obrigatória).
2) Superveniência de condenação por outro crime a pena de prisão (conversão
facultativa: só ocorrerá se impossível o cumprimento simultâneo da pena alternativa
com prisão superveniente; p.ex.: multa pecuniária).

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3) O Tempo cumprido será descontado na pena convertida, respeitando o saldo mínimo


de 30 dias (é o mínimo que deverá cumprir) – art. 44, §4º, CP.

II– PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS EM ESPÉCIE

1) PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA (ART. 45, §1º, CP):


1.1) Conceito: Consiste no pagamento em dinheiro à vítima ou aos seus dependentes
(caráter indenizatório).
1.2) Subsidiariamente: pagamento a entidade pública ou privada com destinação social
(caráter beneficente).
1.3) Valor: será de 1 a 360 salários mínimos (e não em cestas básicas, como se faz, sem
respaldo legal).
 Critério norteador para aplicação do valor:
 Prejuízo da vítima;
 Situação econômica do réu;
 Culpabilidade do agente.

Observação:

 Não se aplica à violência doméstica – art. 17, Lei 11340/06.


 Pode ser convertida em pena privativa de liberdade, pois não se trata de pena de multa
em sim pena restritiva de direitos.
1.4) Finalidade da sanção: reparar dano causado pela infração penal, tanto é que o texto
fala: “deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação civil”.
1.5) Preferência da vítima: o pagamento deverá ser feito à vítima ou dependentes e,
somente na falta destes, o valor ser pago à entidade pública ou privada com destinação social.

2) PRESTAÇÃO INOMINADA (ART. 45, §2º, CP):

Sendo possível a aplicação da prestação pecuniária e havendo concordância do


beneficiário (vítima, entidade pública ou privada), pode ser substituída por uma prestação de
outra natureza. Ex: reposição de árvore, cesta básica.

Observações

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 Há quem critique essa espécie de pena, rotulando-a como pena indeterminada, algo
inaceitável no sistema penal. Aplica-se, desde que, respeitado o princípio da dignidade
humana.
 Substitutiva da substitutiva. Concordância do beneficiário.
 Pode ser convertida em pena privativa de liberdade, pois não se trata de pena de multa
em sim pena restritiva de direitos.

3) PERDA DE BENS E VALORES (art. 45, §3º, CP): Perda de bens e valores do
condenado em favor do fundo penitenciário (bens lícitos).

- Valor: (prevalece o maior valor)

- prejuízo causado pelo delito;

- proveito obtido pelo condenado;

- por terceiro pela prática do crime.

4) PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE OU ENTIDADE PÚBLICA


(ART. 46, CP):
4.1) Conceito: Atribuir ao condenado tarefas gratuitas em entidades públicas (escola,
creche, hospital, etc. – art. 46, §2º). Exceção: empresas privadas.
4.2) Aplicação: Só é aplicável a penas superiores a 06 (seis) meses.(quantidade mínima).
4.3) Parâmetro: 01 (um) dia de pena por 01 (uma) hora de prestação de serviços à
comunidade (art. 43, §3º).
4.4) Tempo de cumprimento: O art. 46, §2º, autoriza o cumprimento do PSC em menor
tempo. Porém, da seguinte forma:

* nunca inferior à metade do tempo de prisão;

* pena de prisão tem que ser superior a 1 ano;

* Permite-se o cumprimento em menor tempo. A carga é inalterável.

Obs.: *Condenação a 9 meses não poderá usufruir da regra. Aquele que foi condenado a 1ano
e 2 meses, poderá cumprir em 7 meses.

5) INTERDIÇÃO TEMPORÁRIA DE DIREITOS (ART. 47, CP):


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5.1) Conceito: Consiste em suspensão de determinados direitos aos condenados.


5.2) Classificação:
a) Específicas: para determinados crimes (incisos I, II, III e V);
b) Genéricas: para todos os crimes (inciso IV);

Artigo 47, CP:

Inciso I: Proibição de exercício de cargo, função pública ou mandato


eletivo;

Inciso II: Proibição do exercício de atividade, profissão ou ofício que


dependam de licença especial ou autorização do poder público;

Inciso III: Suspensão da autorização ou habilitação para dirigir


veículos;

Inciso IV: Proibição de frequentar determinados lugares;

Inciso V: Proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame


públicos.

Inciso I: Proibição de exercício de cargo, função pública ou mandato eletivo

 Incide nos delitos praticados com violação de deveres inerentes ao cargo, função
pública (art. 56, CP).
 Observação: proibição do exercício do mandato eletivo – inaplicável – com a
condenação penal acarreta, automaticamente, a suspensão dos direitos políticos (art.
15, II, CF).

Inciso II: Proibição do exercício de atividade, profissão ou ofício que dependam de licença
especial ou autorização do poder público;

 Incide nos delitos praticados com violação aos deveres inerentes à atividade, profissão
ou ofício (art. 56, CP). Ex: advogado, dentista, médico, etc.
 Nas hipóteses do art. 47, II e III, do CP, o Juízo da Execução determinará a apreensão
de documentos, que autorizem o exercício do direito do interditado – previsão do
artigo 154, §2º, LEP.
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Inciso III: Suspensão da autorização ou habilitação para dirigir veículos

 Art. 57, CP – aplica-se aos crimes culposos de trânsito;


 Tacitamente revogado pelo CTB, isto porque se trata de pena específica que se
aplicaria aos crimes culposos de trânsito.
 Só se aplica à suspensão da autorização para dirigir veículo, figura não tratada do
CTB.

Inciso IV: Proibição de frequentar determinados lugares

 Aplicada a determinados crimes.


 De difícil fiscalização.
 Há necessidade de uma relação de influência criminógena (estádio de futebol e dano
ao patrimônio público em dias de jogos).
 Artigo 152, LEP (alterado pela lei 11340/06) – casos de violência doméstica contra a
mulher, o juiz poderá determinar o comparecimento obrigatório do agressor a
programa de recuperação e reeducação.

Inciso V: Proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame públicos.

 Introduzido pela Lei 11.250/11. Foi também criado o crime do art. 311-A.
 A proibição terá a mesma duração da PPL.
 A doutrina se inclina para uma espécie de PRD específica para o condenado pelo
crime do artigo 311-A (pena – Reclusão de 01 a 04 anos, e multa).
 Creio: apenas tem aplicação para particular ou funcionário público sem relação com o
certame. Se houver relação funcionário público-certame (pela pena, perderá o cargo -
+1/3 - §3º), ou essa PRD.
 Porém, jamais a interdição prevista no inciso I (Proibição de exercício de cargo,
função pública ou mandato eletivo (art. 47, I). Incide nos delitos praticados com
violação de deveres inerentes ao cargo, função pública nos termos do art. 56, CP.

6) LIMITAÇÃO DE FIM DE SEMANA (ART. 48, CP):

6.1) Conceito: é a obrigação do condenado se recolher à casa do albergado nos finais de


semana. É chamada de prisão descontínua. Período: sábados e domingos, por 5 horas.
Ministram-se palestras.

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AULA 12 - MEDIDAS ALTERNATIVAS À PRISÃO (TRANSAÇÃO PENAL, SURSIS


PENAL E PROCESSUAL, LIVRAMENTO CONDICIONAL)

I – TRANSAÇÃO PENAL

PRÉ-PROCESSUAL PROCESSUAL EXECUÇÃO

TRANSAÇÃO SURSI: EVITA A LIVRAMENTO


PENAL: EVITA O CONDENAÇÃO CONDICIONAL: EVITA O
SURSIS PROCESSUAL:
PROCESSO CUMPRIMENTO INTEGRAL
EVITA CONDENAÇÃO
EM PRESÍDIO

1. ORIGEM

 Plea bargaining-guily plea;


 Nollo contendere;
Ao contrário do que ocorre no guilty plea (EUA), na transação penal não há o
reconhecimento de culpa.

2. REQUISITOS

A Transação penal é preferencial, apenas quando não cabível é que será afastada. Há
também previsão constitucional. O MP deve sempre tentar a transação penal, quando possível.

Art. 76, § 2º, do CP, Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:

I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à


pena privativa de liberdade, por sentença definitiva;

II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco


anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste
artigo; (OUTRA TRANSAÇÃO PENAL EM 5 ANOS)

III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade


do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e
suficiente a adoção da medida (CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DO
ART. 59).

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Caderno de Direito Penal

I - São requisitos, portanto:

 Infração de menor potencial ofensivo;


 Não ter sido condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade por
sentença definitiva;
 Não ter sido beneficiado, no prazo de 5 anos, por outra transação penal;
 Antecedentes, conduta social, personalidade motivos e circunstâncias dos crimes;

II - Polêmicas a respeito dos requisitos:

A) Causa de aumento de pena:

Por exemplo, pena de 06 meses a 02 anos, com causa de aumento de mais 1/3 = 02
anos e 08 meses, logo, não é infração de menor potencial ofensivo, não cabendo a transação
penal.

Desse modo, causas de aumento e de diminuição devem ser consideradas, sempre


buscando-se a pena máxima, tanto para a competência do JECRIM quanto para a transação
penal. Tal conclusão é pacificada.

B) Concurso de crimes:
Prevalece (ainda que não unânime) que deve ser considerado para a fixação da
competência do JECRIM.

Por exemplo, se tem um crime com pena de 06 meses a dois anos em concurso
material com outro crime de com pena de 06 meses a 02 anos, o total será 04 anos, fugindo da
competência do JECRIM.

Quanto ao seu reflexo (do concurso de crimes) na transação penal há duas correntes:

1) Se a soma das penas máximas ultrapassarem 02 (dois) anos, perde o direito


à transação penal;
2) A transação penal deve ser aplicada à infração de menor potencial ofensivo,
por força de lei expressa;

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C) Lei Maria da Penha: não cabem;

Art. 41, lei 11346. Aos crimes praticados com violência doméstica e
familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se
aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.

SÚMULA 536 STJ: A suspensão condicional do processo e a


transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito
da Lei Maria da Penha.

D) Código de Trânsito:

A Lesão corporal culposa terá transação penal, exceto nos casos em que o agente
estiver:

1) sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine


dependência;

2)participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de


exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não
autorizada pela autoridade competente (racha);

3) transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h


(cinquenta quilômetros por hora);

E) Condenação anterior e reincidência: Prevalece que vale neste requisito a aplicação do


período depurados da reincidência.

3. TITULARIDADE

Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal


pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério

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Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de


direitos ou multas, a ser especificada na proposta.

I - Polêmica a respeito da titularidade:

A) Transação penal na ação penal privada:

Existem duas correntes, a primeira diz que não cabe, pois não há previsão; a segunda
(majoritária) alega que sim, porque não há justificativa para um tratamento mais severo nos
crimes de ação privada.

A segunda corrente se subdivide em outras duas subcorrentes: 1) pode se o querelante


não fizer a proposta, o processo segue, porque a proposta é uma faculdade; 2) se o querelante
não fizer, o MP deve fazer como fiscal da lei, aqui a transação é tida como uma obrigação.

Na prática, o que vem acontecendo é a aplicação da segunda vertente da segunda


corrente, logo, cabe ao advogado do querelante ir preparado com a proposta ao réu.

4. NATUREZA JURÍDICA

A transação penal é uma imposição antecipada da pena.

Incialmente, deve ser analisado se não trata-se de caso de arquivamento, para, depois,
o MP propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada
na proposta.

I - Polêmica sobre a natureza jurídica:

A) Direito subjetivo do réu (Damásio de Jesus, Tourinho Filho): preenchidos os


requisitos, a acusação é obrigada a fazer;

B) Poder discricionário do MP (Paulo Henrique Demercian, Ada Grinover): a


acusação decide de acordo com a conveniência;

C) Ação sui generis (Afrânio Silva Jardim, André Nicolitti, Geraldo Prado): posição
minoritária, afirma que a transação penal é uma ação penal sui generis; é como se o MP
tivesse duas ações, a transação penal e a denúncia sendo duas modalidades de processo; é
equivalente a denúncia o exercício do direito de ação.

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5. FALTA INJUSTIFICADA DA PROPOSITURA


Se o MP não fizer a proposta justificadamente surgirão três posições:

I – Direito Subjetivo: o juiz pode fazer;

II – Discricionário: o juiz, se entender ser caso, remete os autos ao PGJ, em analogia


ao art. 28 do CPP (MAJORITÁRIA);

III – Ação sui generis: o juiz deve rejeitar por falta de interesse de agir, e o MP pode
apelar;

6. MOMENTO
A proposta de transação será feita na audiência preliminar do rito sumaríssimo.

Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal


pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério
Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de
direitos ou multas, a ser especificada na proposta.

7. CONTEÚDO
As penas restritivas de direito estão previstas no art. 44 do CP e tem natureza
substitutiva, mas na lei 9.999/95 não. São penas restritivas: Limitação de final de semana;
Interdição temporária de direitos; Prestação de serviços à comunidade; Prestação pecuniária
paga à própria vítima ou a entidade assistencial; e Perda de bens e valores.

Durante a audiência, tais penas serão negociadas, tanto na modalidade quanto na


duração.

8. RECURSO
Da sentença prevista (transação), caberá apelação no tocante aos termos. Por exemplo,
a pessoa aceita a transação por 05 meses, mas quer reduzir o tempo para três meses, mas sem
perder a transação em audiência, deixando par recorrer para a Turma Recursal.

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9. CONSEQUÊNCIA
A transação penal não importará em reincidência, nem constará de certidão de
antecedentes criminais, nem terá efeitos civis.

10. DESCUMPRIMENTO
Quando ocorre o descumprimento, existem três correntes:

1 – Prosseguimento do feito (majoritária – Súmula Vinculante 35):

Súmula vinculante 35: A homologação da transação penal prevista no


artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada material e,
descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior,
possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da persecução
penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito
policial.

2 – Executar na esfera civil (minoritária);

3 – Converter em pena privativa de liberdade (em desuso);

11. PRESCRIÇÃO
Hoje prevalece que não há previsão expressa de que a transação penal seja uma causa
suspensiva ou interruptiva da prescrição.

II – SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO “SURSIS PROCESSUAL” (ART.


8, LEI 9.099/95)

1. ORIGEM
O surgimento remonta ao probation (Inglês), final do século XIX.

2. REQUISITOS
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Aqui não fala em crimes de menor potencial ofensivo, mas em crimes com pena
mínima igual ou inferior a 01 (um) ano. Por exemplo, o furto tem pena de 01 a 04 anos, logo,
cabe. Além disso, o acusado não pode estar sendo processado ou condenado por outro crime.

 Pena mínima menor ou igual a 01 (um) ano;


 Não estar sendo processado por outro crime;
 Não ser condenado por outro crime;
 Requisitos do artigo 77 (circunstâncias judiciais, art. 59, CP) do Código Penal;

3. POLÊMICAS
A) CRIME DE TRÂNSITO: mesmo que praticado nas situações do art. 291, não há vedação
ao sursis processual;

B) CONCURSO DE CRIMES OU MAJORANTE: a lei não fala, mas a jurisprudência sim;

SÚMULA 243 STJ - O benefício da suspensão do processo não é


aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso
material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena
mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da
majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano.

SÚMULA 723 STF - não se admite a suspensão condicional do


processo por crime continuado, se a soma da pena mínima da infração
mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano.

C) ABSOLVIÇÃO OU DESCLASSIFICAÇÃO:

SÚMULA 337 STJ - É cabível a suspensão condicional do processo


na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão
punitiva.

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D) PENA ALTERNATIVA DE MULTA:

Por exemplo, crime com pena de 02 a 05 anos ou multa. Aqui, a pena mínima é a
multa, sendo assim, cabe a suspensão.

E) LEI MARIA DA PENHA:

Os crimes inseridos no âmbito da Lei Maria da Penha, por exemplo, o do art. 129, §9º,
CP, com pena de 06 meses a 03 anos, não aceitam a suspensão condicional do processo. É
entendimento pacificado, inclusive na Súmula 536 do STJ.

F) PROCESSO EM CURSO E PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

Existem duas correntes: 1) o processo em curso não impede o benefício sob pena de
violação ao princípio da presunção de inocência, 2) não impede, em face da disposição
expressa da lei que não foi declarada inconstitucional.

G) CONDENAÇÃO ANTERIOR E REINCIDÊNCIA

A lei 9.099 fala expressamente em não ter sido condenado por outro crime, de modo a
aplicar, majoritariamente, o conceito de reincidência. Prevalece, portanto, que tal requisito
deve obedecer aos limites do art. 64 do CP.

4. TITULARIDADE
A Lei fala em MP e em denúncia. Suspensão condicional do processo e ação penal
privada: prevalece que é possível também, na ação privada, da mesma forma que a transação
penal. Nesse caso, a titularidade é do querelante: a) faculdade do querelante; b) é obrigatório,
se o querelante não fizer, o MP o fará;

5. NATUREZA JURÍDICA

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O MP poderá propor se preenchidos os requisitos. Existem duas correntes:

1 – é direito subjetivo do réu, logo, não apresentados pelo réu nem MP, o juiz pode
conceder;

2 – é discricionariedade regrada do MP como titular da ação penal.

6. FALTA INJUSTIFICADA DA PROPOSITURA


1 – O juiz pode fazer;

2 – o juiz deve mandar os autos ao PGJ (art. 28, CPP);

7. MOMENTO
Em regra, ao oferecer a denúncia, o MP deve propor a suspensão condicional do
processo.

8. CONTEÚDO
Se houver interesse, o juiz marca audiência admonitória para apresentar as condições
da suspensão.

É possível impor como condição o cumprimento de pena restritiva de direitos? Há


duas correntes: a) Majoritária – não, pois sendo espécie de pena, só pode ser aplicada se
houver expressa previsão legal; b) minoritária – pode, já que o jurisdicionado pode estabelece
as condições que julgar conveniente;

9. RECURSO
Prevalece que pode ser aplicado por analogia o art. 581, XI, CPP, cabendo o RESE. Já
corrente minoritária diz que caberia apelação.

10. CONSEQUÊNCIA DA ACEITAÇÃO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO


PROCESSO
O processo fica suspenso de 02 (dois) a 04 (quatro) anos, após é extinta a punibilidade
sem condenação.

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11. REVOGAÇÃO
Ocorrerá quando no curso do prazo (de dois a quatro anos), o beneficiário vier a ser
processado por outro crime ou não efetuar sem justo motivo a reparação do dano.

O mero fato de ser processado viola a presunção de inocência, mas ainda há


controvérsia, permanecendo a válida a letra da lei, bastando, portanto, o mero processo por
crime.

O mero inquérito não gera a revogação.

A revogação será facultada quando for processado por contravenção ou pelo


descumprimento de qualquer condição imposta.

Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.

Prevalece que a suspensão pode ser revogada mesmo que já tenha passado o período
de prova, mas que a pessoa tenha sido processada durante a vigência.

PRIMEIRA TESE: Se descumpridas as condições impostas durante o


período de prova da suspensão condicional do processo, o benefício
poderá ser revogado, mesmo se já ultrapassado o prazo legal, desde
que referente a fato ocorrido durante sua vigência. SEGUNDA TESE:
Não há óbice a que se estabeleçam, no prudente uso da faculdade
judicial disposta no art. 89, § 2º, da Lei n. 9.099/1995, obrigações
equivalentes, do ponto de vista prático, a sanções penais (tais como a
prestação de serviços comunitários ou a prestação pecuniária), mas
que, para os fins do sursis processual, se apresentam tão somente
como condições para sua incidência. 2. Da exegese do § 4º do art. 89
da Lei n. 9.099/1995 ("a suspensão poderá ser revogada se o acusado
vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou
descumprir qualquer outra condição imposta), constata-se ser viável a
revogação da suspensão condicional do processo ante o
descumprimento, durante o período de prova, de condição imposta,
mesmo após o fim do prazo legal. 3. A jurisprudência de ambas as
Turmas do STJ e do STF é firme em assinalar que o § 2º do art. 89 da
Lei n. 9.099/1995 não veda a imposição de outras condições, desde

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que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.4. Recurso


especial representativo de controvérsia provido para, reconhecendo a
violação do art. 89, §§ 1º, 2º, 4º e 5º da Lei n. 9.099/1995, afastar a
decisão de extinção da punibilidade do recorrido, com o
prosseguimento da Ação Penal n. 0037452-56.2008.8.21.0017.

III – SURSIS (ART. 77, CP)

Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2


(dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde
que:

I - o condenado não seja reincidente em crime doloso;

II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade


do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a
concessão do benefício;

III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44


deste Código.

§ 1º - A condenação anterior a pena de multa não impede a concessão


do benefício.

§ 2o A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro


anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o
condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde
justifiquem a suspensão.

1. ORIGEM

É a suspensão da execução da pena, de origem do direito francês “sursis de


l’execution de la peine”.

2. REQUISITOS

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 Pena aplicada menor ou igual a 02 anos;


 Circunstâncias judiciais (salvo consequências e comportamento da vítima);
 Não reincidente em crime doloso (Se a condenação for apenas de multa, não há
impedimento);
 Não ser cabível a substituição por restritiva;

I - SURSIS ETÁRIO OU HUMANITÁRIO (RAZÕES DE SAÚDE): § 2o A execução da


pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis
anos, desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde
justifiquem a suspensão. (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)

• Pena menor ou igual a 04 anos

• Maior de 70 na data da sentença OU

• Razões de saúde

II - SURSIS AMBIENTAL - LEI 9605/98:

Art. 16. Nos crimes previstos nesta Lei, a suspensão condicional da


pena pode ser aplicada nos casos de condenação a pena privativa de
liberdade não superior a três anos.

Art. 17. A verificação da reparação a que se refere o parágrafo 2 do


art. 78 do Código Penal será feita mediante laudo de reparação do
dano ambiental, e as condições a serem impostas pelo juiz deverão
relacionar-se com a proteção ao meio ambiente.

III - POLÊMICA SOBRE OS REQUISITOS: LEI DE DROGAS E DE CRIMES


HEDIONDOS: prevalece a possibilidade, sendo considerada inconstitucional a vedação.
Desse modo, preenchidos os requisitos, será cabível.

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HC 187.874/MG, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA,


julgado em 17/03/2015, DJe 25/03/2015

4. A vedação genérica e apriorística de substituição da pena privativa


de liberdade por restritivas de direitos, nas condenações por crimes
hediondos ou equiparados, como é o caso do tráfico ilícito de
entorpecentes, restou superada em face da declaração de
inconstitucionalidade do art. 44 da Lei n. 11.343/2006.

HC 187.874/MG, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA,


julgado em 17/03/2015, DJe 25/03/2015

• 5. "É desproporcional e carece de razoabilidade a negativa de


concessão de sursis se já resta superada a própria vedação legal à
conversão da pena, mormente porque inexiste óbice à concessão dos
benefícios na conduta do parágrafo 2º do art. 33 da Lei nº 11.343/06,
que pode até ser sancionada com reprimenda mais severa que a do
caput quando concedido o benefício do parágrafo 4º do mesmo artigo"
(REsp 1287561, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA).

1. TITULARIDADE
É do juiz, é um benefício concedido diretamente pelo magistrado. Nesse caso, não
importa se a ação é pública ou privada.

2. NATUREZA JURÍDICA

Prevalece que é um direito subjetivo do réu.

3. FALTA INJUSTIFICADA
A falta injustificada enseja recurso contra a decisão judicial.

4. MOMENTO
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O momento em que o juiz deve avaliar a possibilidade do sursis é na própria sentença.


Primeiro faz a dosimetria da pena, em seguida estabelece o regime inicial, e depois irá
apreciar se substitui (art. 44, CP) ou se suspende a pena (art. 77, CP).

5. CONTEÚDO
A pena será suspensa de dois a quatro anos, e durante esse tempo, ficará sujeito ao
cumprimento das condições estabelecidas. No primeiro ano, deverá prestar serviços à
comunidade ou submeter-se a limitação de fim de semana (condições legais obrigatórias). O
do parágrafo segundo é o sursis especial, aplicado àquele que reparou o dano, com condições
mais leves.

A reparação, diferente do sursis processual, não é condição para que ocorra.

Art. 78 - Durante o prazo da suspensão, o condenado ficará sujeito à


observação e ao cumprimento das condições estabelecidas pelo juiz.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - No primeiro ano
do prazo, deverá o condenado prestar serviços à comunidade (art. 46)
ou submeter-se à limitação de fim de semana (art. 48).

§ 2° Se o condenado houver reparado o dano, salvo impossibilidade de


fazê-lo, e se as circunstâncias do art. 59 deste Código lhe forem
inteiramente favoráveis, o juiz poderá substituir a exigência do
parágrafo anterior pelas seguintes condições, aplicadas
cumulativamente:

a) proibição de frequentar determinados lugares;

b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização


do juiz;

c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para


informar e justificar suas atividades.

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Art. 79 - A sentença poderá especificar outras condições a que fica


subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação
pessoal do condenado.

6. RECURSO

Art. 581 Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou


sentença:

XI – que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena


CPP;

Art. 593 Caberá apelação no prazo de 5 dias:

I – das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas


por juiz singular

LEP Art. 197 – Das decisões proferidas pelo juiz caberá agravo, sem
efeito suspensivo.

7. CONSEQUÊNCIA

Cumprimento das condições - Art. 82 - Expirado o prazo sem que tenha havido
revogação, considera-se extinta a pena privativa de liberdade.

Os efeitos secundários (ex: reincidência) são mantidos.

8. REVOGAÇÃO

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Prorrogação do período de prova (AUTOMÁTICA)

§ 2º - Se o beneficiário está sendo processado por outro crime ou contravenção, considera-se


prorrogado o prazo da suspensão até o julgamento definitivo.

§ 3º - Quando facultativa a revogação, o juiz pode, ao invés de decretá-la, prorrogar o período


de prova até o máximo, se este não foi o fixado.

HC 175.758/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA,


julgado em 04/10/2011, DJe 14/10/2011 HABEAS CORPUS.
EXECUÇÃO PENAL. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA

PENA. COMETIMENTO DE CRIME APÓS FINDO O PERÍODO


DEPROVA. INEXISTÊNCIA DE SENTENÇA EXTINTIVA DA
PUNIBILIDADE. PRORROGAÇÃO AUTOMÁTICA DO PERÍODO
DE PROVA. REVOGAÇÃO OBRIGATÓRIA. PRECEDENTES.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. ORDEM
DENEGADA. 1. Inexiste constrangimento ilegal quanto à revogação do
benefício da suspensão condicional da pena em razão de condenação
pelo cometimento de outro crime durante o período de prova, desde que
não tenha sido extinta a punibilidade do agente mediante sentença
transitada em julgado, nos termos do inciso I do art. 81 do Código
Penal. 2. Esta Corte tem firmado o entendimento no sentido de que o
período de prova do sursis fica automaticamente prorrogado quando o
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Caderno de Direito Penal

beneficiário está sendo processado por outro crime ou contravenção,


bem como que a superveniência de sentença condenatória irrecorrível é
caso de revogação obrigatória do benefício, mesmo quando
ultrapassado o período de prova. 3. Ordem denegada.

IV – LIVRAMENTO CONDICIONAL (art. 83, CP)

1) ORIGEM

Colônias inglesas na Austrália:

 “Ticket of leave system”;


 Parole System (“palavra de honra”);

2) REQUISITOS

Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado


a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde
que:

I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for


reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes;

II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime


doloso;

III - comprovado comportamento satisfatório durante a execução da


pena, bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão
para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto;

IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano


causado pela infração;

V - cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de condenação


por crime hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes
e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente
específico em crimes dessa natureza.
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Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido com


violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará
também subordinada à constatação de condições pessoais que façam
presumir que o liberado não voltará a delinquir.

Em face da proibição da analogia in malam partem, prevalece que, mesmo com maus
antecedentes, basta cumprir 1/3 se não for reincidente em crime doloso.

Condições pessoais de que o liberado não voltar a delinquir – precisa de exame


criminológico.

3) POLÊMICAS A RESPEITO DOS REQUISITOS

 Interrupção do prazo pela prática de falta grave;


 Exame criminológico;

Súmula 441, STJ – a falta grave não interrompe o prazo para a


obtenção de livramento condicional.

Todavia, a falta grave pode impedir o livramento condicional devido ao requisito do


bom comportamento.

Exame criminológico :

Súmula 439 STJ – o juiz só pode condicionar o livramento ao exame


criminológico mediante decisão motivada.

4) TITULARIDADE: juiz da execução

5) CONTEÚDO
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Caderno de Direito Penal

LEP Art. 132. Deferido o pedido, o Juiz especificará as condições a


que fica subordinado o livramento.

§ 1º Serão sempre impostas ao liberado condicional as obrigações


seguintes:

a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o


trabalho;

b) comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação;

c) não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem


prévia autorização deste.

2° Poderão ainda ser impostas ao liberado condicional, entre outras


obrigações, as seguintes:

a) não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à autoridade


incumbida da observação cautelar e de proteção;

b) recolher-se à habitação em hora fixada;

c) não frequentar determinados lugares

6) RECURSO

CPP Art. 581 Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho


ou sentença:

XI – que conceder negar ou revogar a suspensão condicional da pena.

LEP Art. 197 – Das decisões proferidas pelo juiz caberá agravo, sem
efeito suspensivo.

7) CONSEQUÊNCIA

Art. 90 - Se até o seu término o livramento não é revogado, considera-


se extinta a pena privativa de liberdade.

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Caderno de Direito Penal

8) REVOGAÇÃO

Efeitos da revogação

Art. 88 - Revogado o livramento, não poderá ser novamente


concedido, e, salvo quando a revogação resulta de condenação por
outro crime anterior àquele benefício, não se desconta na pena o
tempo em que esteve solto o condenado.

“Prorrogação”

Art. 89 - O juiz não poderá declarar extinta a pena, enquanto não


passar em julgado a sentença em processo a que responde o liberado,
por crime cometido na vigência do livramento.

Art. 90 - Se até o seu término o livramento não é revogado, considera-


se extinta a pena privativa de liberdade.

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO.


DESCABIMENTO. EXECUÇÃO PENAL. LIVRAMENTO
CONDICIONAL. TRÂNSITO EM JULGADO DE CONDENAÇÃO
POR CRIME ANTERIOR À CONCESSÃO DO BENEFÍCIO.

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Caderno de Direito Penal

REVOGAÇÃO DO BENEFÍCIO APÓS O TÉRMINO DO PERÍODO


DE PROVA. IMPOSSIBILIDADE. EXTINÇÃO DA PENA.
HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA
DE OFÍCIO. Consoante o disposto no art. 90 do Código Penal, não é
possível a revogação do livramento condicional após o término do
período de prova, pois, terminado o referido prazo, considera-se
extinta a pena privativa de liberdade. Paciente beneficiado com o
livramento condicional em 6.4.2011, com período de prova até
10.8.2011. Trânsito em julgado de condenação por crime anterior à
concessão do benefício em 2.5.2011. Entretanto, o Juízo das
execuções só se manifestou sobre o benefício em 19.11.2014, no
sentido de reconhecer a extinção da pena. Assim, a revogação do
benefício, em Agravo em Execução, ocorreu em data muito posterior
ao término do período de prova, restando evidenciada a ocorrência de
constrangimento ilegal. Habeas corpus não conhecido. Ordem
concedida de ofício para restabelecer a decisão, datada de 19.11.2014,
que julgou extinta a pena privativa de liberdade correspondente ao
Processo n. 700241 9-1 6.2003.8,26.0050, Controle 72.920/2002, da
29ª Vara Criminal da Capital/SP, desde 10.8.2011. (HC 332.223/SP,
Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado
em 19/04/2016, DJe 28/04/2016).

AULA 13 – MEDIDAS DE SEGURANÇA

1) APLICAÇÃO DE SANÇÃO

 Inimputável  sentença penal condenatória pena


 Semi-imputável sentença penal condenatória pena/medida de segurança
 Inimputável absolvição imprópria (art. 386, VI, §único, CPP)

2) ELEMENTOS DA CULPABILIDADE:

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Caderno de Direito Penal

São causas de exclusão da culpabilidade (inimputabilidade):

2.1) O desenvolvimento mental incompleto:

2.1.1. Menores de 18 (dezoito) anos - conforme a própria CR e CP, que adotaram critérios
objetivos;

2.1.2. Surdos-mudos não educados - que terão dificuldades na percepção da fala quanto de se
fazer ser compreendido (isso não quer dizer que todos surdos-mudos serão classificados com
desenvolvimento mental incompleto);

2.1.3. Os silvícolas inadaptados ao convívio social;

2.1.4. Pessoas com desenvolvimento mental retardado, os oligofrênicos, os idiotas, os imbecis


e os débeis mentais.

As oligofrenias são enfermidades que se caracterizam por uma


deficiência global de toda atividade psíquica. Os oligofrênicos são
freqüentemente classificados de acordo com seu nível de
desenvolvimento mental: o idiota (1 a 3 anos), o imbecil (3 a 6 anos),
o débil mental (9 a 12 anos). A deficiência psíquica pode ser motivada
por uma série de causas que podem ter atuado antes do nascimento
(vida intra-uterina), durante o nascimento (trabalho de parto) e após o
nascimento (vida extra-uterina). As causas podem ser as mais
variadas: hereditariedade, alcoolismo dos pais, moléstias da mãe
durante a gestação, traumatismos antes e durante o parto, sífilis
congênita e numerosas doenças, sobretudo moléstias infecciosas e
traumatismos que podem atingir a criança durante os primeiros meses
de vida. Disponível em:
<http://www.psiquiatriageral.com.br/enfermagem/manual_auxiliar01.
htm>. Acesso em: 25 maio 2016.

2.1.4. Embriaguez acidental e completa resultante de caso fortuito ou força maior, incluindo o
álcool e substâncias de efeitos análogos.

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Caderno de Direito Penal

 Fases da embriaguez:
 1ª – incompleta: o indivíduo quebra seus freios inibitórios, fase do “macaco”;
 2ª – completa: está associada ao leão, nesse momento a pessoa mostra quem ela
realmente é, fica depressiva ou agressiva; tem dificuldades de equilíbrio e na fala;
 3ª – completa: o indivíduo só consegue praticar crimes comissivos por omissão, é a
fase do “porco”;
 Somente a incompleta exclui a imputabilidade, desde que fruto de caso fortuito.

3) SISTEMAS DE APURAÇÃO DA INIMPUTABILIDADE

3.1. Biológico: inimputável é todo aquele que tem doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado;

3.2. Psicológico: não interessa se o indivíduo possui doença mental ou desenvolvimento


mental incompleto ou retardado, basta que se verifique se, no momento do crime o indivíduo
conseguia se autodeterminar. Esse sistema foi adotado pelo Código de 1890 com a
“perturbação dos sentidos”, que possibilitou grande número de absolvições.

3.3. Biopsicológico: é o adotado pelo CP do Brasil, entende que inimputável é todo aquele,
que em razão de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, ao
tempo da ação ou da omissão, se tornou inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

4) MEDIDAS DE SEGURANÇA

O prazo mínimo de vigência da medida de segurança é de 01 a 03 anos, prazo utilizado


para verificar o exame de verificação de cessação de periculosidade. Caso não tenha
melhorado, o exame será refeito anualmente. Todavia, a lei não estabeleceu prazo máximo
para a medida de segurança.

Súmula 527 do STJ – imposição de medida de segurança ao paciente não deve


ultrapassar o limite da pena máxima abstratamente cominada ao crime. Ela busca garantir a
ideia do principio da legalidade.
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Caderno de Direito Penal

O paciente submetido a uma MS, apresentando melhora, será determinada a sua


desinternação (art. 97, §3º, CP), ficando em observação pelo prazo de 01 (um) ano, período
esse em que não poderá praticar qualquer ato demonstrativo da persistência da sua
periculosidade.

Caso cometa, a MS será retomada. Isso não se confunde com a prática de crime. Não
praticando, será julgada extinta a MS.

As penas possuem caráter retributivo, intimidatório (funciona como uma espécie de


freio contra aquele que pretende cometer o crime), e de reinserção social. já as medidas de
segurança tem natureza eminentemente preventiva.

O fundamento da pena é a culpabilidade, o juízo de reprovabilidade. Já da MS é a


periculosidade, a possibilidade do agente voltar a delinquir.

As penas são certas, determinadas e delimitas, enquanto as MS possuem, à luz da lei,


tempo indeterminado de duração, só encerra com a cessação da periculosidade do paciente.

As penas são destinadas aos imputáveis e, em caráter excepcional, ao semi-imputável.


As MS são destinadas aos inimputáveis e, excepcionalmente, ao semi-imputável.

Ao imputável só pode ser aplicada pena, enquanto ao inimputável apenas MS.

5) PRESSUPOSTOS PARA A APLICAÇÃO DA MS

a) Prática de fato típico e punível; (precisa de prova da materialidade do crime e da autoria);

b) Periculosidade do agente – possibilidade do agente voltar a delinquir. O legislador parte do


princípio que todo inimputável tem periculosidade presumida. Já o agente semi-imputável
(art. 26, parágrafo único), terá periculosidade real ou judicial, ou seja, precisa ser
demonstrada;

6) MODALIDADES DE MS

a) DETENTIVA: art. 96, I, CP; consiste na internação em hospital de custódia (antigo


Manicômio Judicial) ou estabelecimento similar; todo paciente que tenha cometido crime
apenado com reclusão;

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Caderno de Direito Penal

b) RESTRITIVA: art. 96, II, CP – consiste no tratamento ambulatorial, se destina ao


paciente que tenha cometido crime apenado com detenção;

7) LEGITIMA DEFESA

Injusta agressão: quem dá causa aos acontecimentos não pode arguir legítima defesa,
exceto na legítima defesa sucessiva, em que o agente da causa aos acontecimentos, mas é
repelido com excesso de agressão; deve decorrer de conduta humana, atual ou iminente;
utilizar com moderação os meios necessários, para salvaguardar direito próprio ou alheio;
Reconhecida qualquer excludente em face do inimputável, não pode ser imposta
medida de segurança. A MS sempre será imposta com um prazo mínimo de vigência.

8) INDIFERENTE PENAL TRAZENDO CONSEQUÊNCIA PARA O DIREITO


PENAL

A) Sujeito desinternado que praticou crime impossível - Não pode ser imposta MS ao crime
impossível, mas o comportamento o agente pode demonstrar a persistência da periculosidade.
Trata-se de hipótese em que um indiferente penal traz consequências no âmbito do direito
penal.

B) Crime exaurido.

9) ADVENTO DE DOENÇA MENTAL SUPERVENIENTE À SENTENÇA PENAL


CONDENATÓRIA DEFINITIVA

O indivíduo cometeu o crime enquanto possuía higidez mental completa, mas durante
o cumprimento da pena apresenta doença mental.

Tecnicamente, é plenamente possível uma pena ser convertida em medida de


segurança, que passa a ser nominada MS substitutiva/de tratamento (art. 183, LEP).

Nessa MS, o caminho é sem volta. Logo, a partir do momento em que ocorrer a
conversão, as regras que serão observadas serão as da MS. Além disso, a MS jamais poderá
ser convertida em pena.

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Caderno de Direito Penal

Tomando ciência de que alguém passou a apresentar distúrbio psiquiátrico, o juiz da


execução determinará a suspensão da execução da pena com a transferência do paciente para
tratamento em hospital psiquiátrico (art. 41, CP). Note-se que não há limite máximo para a
suspensão. Com a melhora da saúde, a execução será retomada e retornará ao estabelecimento
prisional.

O tempo em que permaneceu em observação será considerado como pena


efetivamente cumprida.

Se, após a suspensão verifica-se que o quadro da doença é irreversível, a pena será
convertida em MS.

A pena convertida em MS substitutiva submete-se ao limite máximo que será o total


de pena estabelecido na sentença condenatória. Logo, se foi condenado a 30 anos e já cumpriu
20, só ficará mais 10 anos, no máximo, submetido a MS.

AULA 14 – PUNIBILIDADE E PRESCRIÇÃO

1. HISTÓRICO NO MUNDO

A prescrição ocorre em relação a dois elementos:

a) Da Pretensão Punitiva;
b) Da Execução da pena;

A pretensão é a exigência de subordinação do interesse alheio ou próprio, enquanto a


punibilidade é a possibilidade jurídica da imposição da sanção.

O Estado busca a condenação de alguém, e em seguida, deseja executar a pena.

2. HISTÓRICO DA PRESCRIÇÃO

A Prescrição surge em Roma, no período do Governo de Otávio Augusto.

A prescrição da pretensão punitiva (PPP)  17 ou 18 a.c em Roma: Lex Julia de


Adulteris – prazo prescricional de 05 anos – crimes contra a liberdade sexual.

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Caderno de Direito Penal

A prescrição da pretensão executória (PPE)  1791 na França = Prazo de 30 anos.

O autor Victor Hugo em sua obra “Os Miseráveis” remete ao fato do personagem Jean
Valjean ser perseguido durante toda sua vida por um crime cometido, demonstrando a
necessidade da prescrição.

3. HISTÓRICO NO BRASIL

PPP  prescrição da ação – Código de Processo Criminal de 1832;

PPE prescrição da condenação no decreto n 774 de 20/09/1890 e confirmada pelo


Código Penal dos Estados Unidos do Brasil de 1890.

Código Criminal de 1830 (art. 65) “As penas impostas aos réus não prescreverão em
tempo algum”.

4. PRAZOS MÁXIMOS DE PRESCRIÇÃO NO BRASIL

Código Penal – 20 anos (art. 109, I, CP);

Código Penal Militar – 30 anos (art. 125, I, CPM) – para as penas de morte e outras de
guerra declarada (podem ser contados 30 preceitos normativos secundários no Livro II da
Parte Especial do CPM).

5. MÍNIMO NO BRASIL

CP: 02 anos para multa (art. 114, CP);

Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas): o art. 30 prevê 02(dois) anos para a infração do art.
28;

OBS: havendo incidência do art. 115, CP, conta-se pela metade. Logo, a menor
prescrição é de 01 ano.

6. TEORIAS FUNDAMENTADORAS DA PRESCRIÇÃO

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Caderno de Direito Penal

A prescrição é um dos institutos mais antigos do Direito Penal, tendo em vista que
existiu a.c em Roma.

A) Teoria do Esquecimento:

Prós: a sociedade esquece os crimes com o fluir do tempo/a punição visa à pacificação
da sociedade/ Vitimização do condenado pela piedade geral.

Contra: O que é sociedade? (quem esquece o crime? e a vítima e sua família? E numa
cidade pequena?) / Crimes desconhecidos?/ Delitos inesquecíveis – 2º trimestre de 2008 
500. 016 infrações penais no Estado de SP (média de 02 milhões de crime por ano)/ Quem
esqueceria? Perdoaria?

B) Teoria da Expiação (do criminoso ou moral):


A teoria fundamenta-se na ideia de que o longo desenvolvimento da investigação ou
do processo criminal provoca no réu profunda angústia decorrente da reflexão sobre o
ocorrido.

Os argumentos contra dizem que tal inquietação é mais imaginada que vivida. Carrara
dizia ser abstração filosófica – há crimes que não provocam angústia alguma - caberia
clemencia soberana (perdão).

C) Teoria da Emenda
Trata da hipótese do individuo que, depois de cometer o crime, muda completamente o
seu comportamento, demonstrando o arrependimento, não precisaria, portanto, continuar ser
punido.

É decorrência da teoria anterior e ocorre quando, após o decurso de determinado


período de tempo, demonstrasse-se que o autor do delito não mais fosse perigoso à sociedade,
principalmente pela ausência de recidiva.

Para isso, seriam necessários diversos exames, análises por psicológicos, assistentes
sociais e etc.

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Caderno de Direito Penal

As ideias contra alegam que a emenda do criminoso não é o único fim da pena; a
dificuldade de aferição da “emenda”; a ausência de reincidência não é prova real de emenda;
clemência soberana.

D) Teoria Psicológica
Para essa, permitem-se duas situações: 1) as pessoas não mudam, 2) mas apenas
modificam-se para melhor ou pior.

O tempo muda as pessoas: sim? (para melhor ou para pior?) / não?

Ao cumprir a pena, o condenado já não é igual ao criminoso.

A teoria só seria sentido em ser aplicada para punições ocorridas muito tempo depois
do cometimento do delito.

Os argumentos contrários dizem que: a pessoa pode não ter mudado (principalmente
penas baixas com prescrição longa); o indivíduo pode ter mudado para pior (se isso valesse,
teria que aumentar a pena?); funções da pena.

E) Teoria das provas ou da dispersão


Quanto maior o lapso temporal entre o cometimento do crime e a sua apuração, a
confiabilidade da prova vai ficando mais comprometida, menos confiável.

A teoria exige um longo tempo, e traz uma presunção de invalidade das provas,
mormente testemunhal.

A teoria faz uma generalização no abstrato, porque quem teria que analisar o
comprometimento de uma prova é o juiz. Por exemplo, uma vítima pode guardar para o resto
da vida o rosto de seu agressor, assim como uma testemunha com boa memoria, trazendo os
mínimos detalhes do crime.

Ela valeria apenas para a prescrição da pretensão punitiva, uma vez que fala da
apuração do crime.

A referida teoria desconsidera o avanço científico e tecnológico, como as perícias, por


exemplo.

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Caderno de Direito Penal

F) Teoria da presunção de ineficácia do Estado


A razão de ser da prescrição é forçar os agentes públicos a obterem a execução de uma
sentença condenatória, sob pena de ter seu trabalho jogado no lixo.

Para o professor, tal teoria valeria apenas para a prescrição da pretensão executória.

No caso da prescrição punitiva, entende-se haver razão no argumento considerando


que o indivíduo apontado como suspeito (indiciado ou réu) pode ser, efetiva ou realmente,
inocente.

O mesmo não ocorre quando à prescrição da pretensão executória.

G) Teoria da exclusão do ilícito ou da extinção dos efeitos antijurídicos


É uma teoria de menos relevância no direito pátrio. Tornou-se inviável por ocorrer
verdadeira confusão de institutos.

7. NATUREZA JURÍDICA DA PRESCRIÇÃO

8. IMPRESCRITIBILIDADE

Para Cezar Roberto Bitencourt, prescrição “é a perda do direito de punir do Estado,


pelo decurso de tempo, em razão o seu não exercício, dentro do prazo previamente fixado”.

Já para Daria Perrone, prescrição é “a renúncia do Estado às pretensões punitiva e


executória, através da atribuição de valor jurídico a um determinado fato natural: o decurso do
tempo”.

9. DIREITO ESTRANGEIRO

A) ITÁLIA
A prescrição não extingue os crimes pelos quais a lei prevê a pena de prisão perpetua.
A insistência, para o caso de prisão perpétua, as PPE.

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Caderno de Direito Penal

Prevê no art. 172 a PPE – não existe prescrição para os reincidentes e os criminosos
habituais. Aqui se estabeleceu que aquele que cometeu um crime eventualmente, pode ser
beneficiado pela prescrição, enquanto para aqueles que fazem do crime o modo de vida não.

São 26 crimes imprescritíveis: prisão perpétua.

PPP – para crimes: mínimo 06 (seis) anos.

B) ALEMANHA
Estabelece como inviolável a dignidade da pessoa humana em seu art. 1º – lei
fundamental da República Federal da Alemanha, 1949.

Para a prescrição da ação, o período de 03 (três) anos como mínimo de prescrição e o


máximo de 30 (trinta) anos, pra os casos puníveis com prisão perpétua.

Duas hipóteses de imprescritibilidade da pretensão punitiva.

Há 11 (onze) casos de inexistência da PPE  prisão perpétua.

Os casos de homicídio qualificado são imprescritíveis, assim como os delitos


relacionados ao nazismo.

C) JAPÃO
O lapso temporal mais elevado é de 30 (trinta) anos, previstos para os delitos punidos
com pena de morte.

PPE/homicídio.

Não explicita o Código sobre a PPE no caso de aplicação de pena de morte.

D) ESPANHA
O Código Penal Espanhol foi promulgado em 23/11/1995, estabelecendo em seu art.
139, §§5º e 6º, que a “responsabilidade penal” extingue-se pela prescrição do delito ou pela
prescrição da pena, entre outras causas.
Genocídio – único delito tido como imprescritível no Código Penal Espanhol (art.
607).
E) FRANÇA

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Caderno de Direito Penal

Imprescritibilidade dos crimes contra a humanidade (em 04/07/1987, Klaus Barbie =


“açougueiro de Lyon”, chefe da Gestapo, condenado à prisão perpétua).
Clonagem humana – art. 214-2, prazo prescricional começa a correr quando a
clonagem conduz ao nascimento da criança, a partir da maioridade dessa criança.

F) EUA
No que tange à prescrição, as referências existentes dizem respeito à prescrição da
pretensão punitiva, inexistindo a prescrição da prescrição da condenação;

Ato patriótico (Federal) – criado após 11 de setembro.

Exceção comum: homicídio – não está sujeito a prazo prescricional.

NY – diversas são as regras sobre a prescrição previstas no criminal procedure law.

Califórnia – estão previstas as regras sobre prescrição no Título 3 do Código Penal,


confirmando-se no Capítulo 2.

G) INGLATERRA
A prescrição é praticamente inexistente. Por exemplo, o caso do Ronald que praticou o
roubo do trem pagador que viveu por anos no Brasil.

H) AMÉRICA DO SUL
Paraguai – genocídio, homicídio, sequestro e crimes contra a humanidade.
Argentina – usurpação de funções públicas e crimes contra a humanidade (tratados
internacionais).

I) BRASIL – IMPRESCRIBILIDADE

Art. 37, §5º, da CR/88 – esfera cível - ações de ressarcimento de danos ao erário
público.

“inclusio unius alterius exclusio”: aquilo que não está incluído, está excluído.

Art. 5º, XLII, CR/88 – o crime de racismo é imprescritível. Crimes de preconceito ou


discriminação (lei 7..), por raça, cor, etnia, e até mesmo da religião (STF).

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Caderno de Direito Penal

10. PRINCÍPIO DA PRESCRITIBILIDADE

Para esse princípio, não seria possível eleger outros crimes como imprescritíveis sob a
égide da CR/88.

Em 2004, o STF determinou que não caberia mais a prisão civil do depositário infiel,
tendo em vista o Pacto de San Jose da Costa Rica. Assim como ficou determinado que os
Tratados Internacionais relacionados aos Direitos Humanos seriam incorporados no Brasil
com força de emenda constitucional, estando acima das leis.

Os crimes previstos no Estatuto de Roma são imprescritíveis, tanto a punição quanto a


execução. São quatro grandes espécies, o genocídio, o contra humanidade, o de guerra, e o de
agressão (ainda não tem regulamentação). Nele, o crime de tortura somente pode ser cometido
por agente público, enquanto no Brasil pode ser cometido por particulares também.

Para o professor, há possibilidade de incorporar novas hipóteses, além do racismo, de


crimes imprescritíveis mediante Lei Ordinária. Ainda informa que não existiria o direito a
imprescritibilidade.

11. A PRESCRIÇÃO NO BRASIL

Como não existe uma sentença condenatória, o legislador parte do princípio de que o
agente receberá a pena máxima, por isso leva-se em conta a pena máxima em abstrato para a
aferição da prescrição penal.

11.1. PRESCRIÇÃO RETROATIVA


Foi extinta. Trata-se de verdadeira ultratividade da lei penal mais favorável ao agente.
Os fatos criminosos anteriores à vigência da lei que alterou a prescrição (2010) permanecem
prescrevendo de acordo com a lei antiga.

11.2. PRESCRIÇÃO VIRTUAL (RECONHECIMENTO ANTECIPADO DA


PRESCRIÇÃO RETROATIVA): hipótese Sumulada pelo STJ, 438.

11.3. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE (SUPERVENIENTE)

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É contada data da publicação da sentença em primeiro grau até o transito em julgado


(que depende da ciência pessoal do Defensor Público ou do Dativo, assim como do membro
do Ministério Público).

Nas penas baixas, devido ao lapso, verifica-se a prescrição intercorrente, uma vez que
determinados recursos não tem efeito suspensivo. Desse modo, a sentença acaba ficando sem
efeito, tendo em vista que ocorreu a prescrição enquanto ainda não tenha transitado em
julgado.

Nesse sentido, o STF declarou que pode ser expedido Mandado de Prisão.

AULA 15 - CONCURSO DE CRIMES. EFEITOS DA CONDENAÇÃO.


REABILITAÇÃO CRIMINAL

I - CONCURSO DE CRIMES

1. INTRODUÇÃO

O concurso de crimes ocorre quando o agente, mediante (01) uma ou mais de uma
ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes. São três as modalidades de concurso de crimes:

a) Concurso material (art. 69 do CP)


b) Concurso formal (art. 70 do CP)
c) Crime continuado (art. 71 do CP)

Conflito aparente de normas: é importante não confundir “concurso de crimes” com o


“conflito aparente de normas”, pois, enquanto neste teremos uma única ação, em que
aparentemente irá incidir mais de 01(uma) norma, naquele (concurso de crimes) ocorrem
uma, duas ou mais ações em que incidirão duas ou mais normas incriminadoras.

Desta sorte, no conflito aparente de normas penais, os critérios da especialidade,


subsidiariedade e consunção irão adequar a normal aplicável ao caso, enquanto que, no
concurso de crimes, as normas aplicáveis ao caso serão definidas através da definição da
espécie de concurso, seja ele material, formal, ou um crime continuado.

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Caderno de Direito Penal

2. NATUREZA JURÍDICA

Importante destacar a natureza jurídica da disciplina do concurso de crimes, que


pertence à teoria da pena, tendo em vista que, a criação deste instituto surge como forma de
corrigir problemas de aplicação na regra do cúmulo material de penas para todas as hipóteses,
criando-se exceções, em que se buscou a regra da exasperação como forma de melhor adequar
a pena ao caso concreto, e, portanto, deve ser tratado dogmaticamente como elemento
vinculado às consequências jurídicas do crime, inclusive porque sua aplicabilidade ocorrerá
na terceira fase de aplicação da pena.

Deve-se ressaltar que o sistema de aplicação de pena adotado será o do cúmulo


material, para as hipóteses do art.69 (concurso material) e art.70, segunda parte (concurso
formal impróprio); e o sistema da exasperação no art.70, primeira parte (concurso formal
próprio) e art.71 (crime continuado).

3. CONCURSO MATERIAL

“Art. 69. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,


pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se
cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja
incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de
detenção, executa-se primeiro aquela. § 1º Na hipótese deste artigo,
quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, não
suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a
substituição de que trata o art. 44 deste Código. § 2º Quando forem
aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá
simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente
as demais.”

3.1 Conceito e espécies

O concurso de crimes é hipótese de concurso de delitos aplicada quando o agente


pratica mais de um delito, com uma ação ou mais de uma ação ou omissão, sejam os crimes
idênticos ou não.

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Caderno de Direito Penal

Quando os crimes são idênticos, a título de exemplo, dois furtos, temos um concurso
material homogêneo; quando os delitos são diferentes, como furto e roubo, temos um
concurso material heterogêneo.

Deve-se ressaltar que, conforme o art. 69, § 1º, quando ao agente tiver sido aplicada
pena privativa de liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a
substituição de que trata o art. 44 deste Código.

Segundo Estefam e Gonçalves, esse artigo foi revogado tacitamente, pois “a finalidade
deste dispositivo era afirmar que, no caso de concurso material, se o condenado tivesse de
cumprir pena privativa de liberdade por um dos delitos, em relação ao outro não caberia pena
restritiva de direitos”.

Segundo o art. 69, § 2º, quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o
condenado cumprirá simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as
demais.

4. CONCURSO FORMAL

“Art. 70. Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica


dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das
penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em
qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se,
entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os
crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o
disposto no artigo anterior. Parágrafo único. Não poderá a pena
exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código.”

4.1. Conceito e espécies

O concurso formal ocorre quando o agente, através de uma só ação ou omissão, pratica
dois ou mais crimes, que sejam idênticos ou não. O concurso formal possui duas espécies,
quais sejam, concurso formal homogêneo e concurso formal heterogêneo.

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O concurso formal homogêneo ocorre quando os delitos praticados são idênticos,


como na hipótese em que o agente atropela e lesiona duas pessoas, provocando duas lesões
corporais culposas.

Nessa situação, a pena a ser aplicada será uma pena única, aumentada de um
sexto até metade.

O concurso formal heterogêneo ocorrerá quando forem praticados dois ou mais crimes
diferentes, devendo-se aplicar a pena mais grave aumentada de um sexto até metade.

4.2. Concurso formal próprio e impróprio

O concurso formal próprio vem descrito na primeira parte do art. 70, caput, do CP e
que ocorre “quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma
delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade”.

O concurso formal próprio também é chamado de concurso formal perfeito.

Também podemos citar como hipótese de concurso formal próprio (perfeito) fatos
decorrentes da aberratio ictus, ou, erro na execução, quando o agente termina por atingir além
da pessoa pretendida, outra vítima, ou, atinge duas ou mais pessoas diversas.

O art. 73 do CP, que regula a matéria, aduz que, “Quando, por acidente ou erro no uso
dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge
pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao
disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o
agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código”.

No caso da aberratio ictus, em que o agente atinge, além da pessoa pretendida, outra
pessoa que não visava atingir, responderá pela pena do crime mais grave, aumentada de um
sexto até metade. Da mesma sorte o agente terá aplicado o aumento do concurso formal
próprio quando ocorrer um resultado diverso do pretendido na forma do art. 74 do CP.

O concurso formal impróprio (imperfeito) ocorre quando o agente mediante uma


única ação pratica dois ou mais delitos, sendo que atuou com desígnios autônomos, ou seja,
vontades diversas, buscando a produção de mais de um resultado delituoso mediante sua
conduta única.

Diferentemente da conduta anterior, em que o agente pratica com uma única ação dois
delitos sem que tenha atuado com vontade direcionada à produção desses resultados, aqui, o
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Caderno de Direito Penal

agente praticou dois delitos com vontade direcionada à produção de dois resultados distintos,
ambos violadores dos respectivos bens jurídicos que as normas tutelavam, ou seja, com
desígnios autônomos.

Deve-se ressaltar a existência de concurso formal impróprio também na hipótese em


que o agente atuou com dolo direto em relação a uma das vítimas e dolo eventual em relação
à(s) outra(s) vítima(s).

4.3 Critério para aumento da pena no concurso formal

Como o art. 70 do CP fala em aumento de 1/6 até 1/2, buscou-se o estabelecimento de


um critério que determinasse um mínimo de proporção no aumento da pena, indicando-se a
seguinte fórmula:

4.4 Concurso material benéfico

O art. 70 do CP, em seu parágrafo único, salienta que, quando a regra do concurso
formal, ao ser aplicada, ultrapassar a quantidade de pena que seria aplicável pelo concurso
material, temos que considerar como limites a pena cabível pelo cúmulo material, ou seja, o
denominado, concurso material benéfico.

5. CRIME CONTINUADO

“Art. 71. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,


pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de
tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os

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Caderno de Direito Penal

subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe


a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas,
aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. Parágrafo
único. Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com
violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de
um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o
triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75
deste Código.”

O crime continuado é uma ficção jurídica, fruto da teoria da ficção jurídica criada por
Francesco Carrara, que visa ofertar um tratamento mais justo ao réu, tendo em face
peculiaridades do caso concreto, que poderiam assumir proporções demasiadamente
prejudiciais ao réu caso uma regra mais benéfica não fosse aplicada.

5.1 Requisitos

Os requisitos do crime continuado são os seguintes:

a) pluralidade de condutas: o agente deve realizar duas ou mais condutas.

b) crimes da mesma espécie: Os delitos têm de ser da mesma espécie e jurisprudência


e doutrina têm majoritariamente considerado como delitos da mesma espécie, para efeito de
continuidade delitiva, os que integram o mesmo tipo penal, seja na sua modalidade simples,
qualificada ou tentada.

c) condições de tempo, lugar e modo de execução semelhante:

d) unidade subjetiva:

Três teorias foram criadas a esse respeito, quais sejam, a teoria objetiva, a teoria
subjetiva e a teoria objetivo-subjetiva.

Teoria objetiva: a teoria adotada pelo Código Penal brasileiro foi de natureza objetiva,
ou seja, basta o cumprimento dos requisitos objetivos do art. 71 do CP, acima descritos, para
que o benefício da continuidade delitiva seja considerado.

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A posição majoritária, entretanto, da doutrina e da jurisprudência não foi nesse


sentido, e sim da adoção da teoria objetivo-subjetiva.

Teoria subjetiva: aqui bastaria a realização dos delitos com uma unidade subjetiva
clara entre eles, ou seja, o agente teria de elaborar suas ações criminosas sempre
vislumbrando ser as subsequentes uma continuidade da primeira. No entendimento de
Junqueira e Vanzolini esta é a teoria adotada pelos tribunais.

Teoria objetivo-subjetiva: nessa teoria, os elementos objetivos que integram o art. 71


do CP somente serão capazes de conduzir à continuidade delitiva se a unidade subjetiva entre
as ações se manifestar. Na compreensão de Gonçalves e Estefam, esta foi a teoria adotada
pelos tribunais, mesmo tendo o Código Penal adotado a teoria objetiva pura, conforme
apontamos acima.

5.2. Crime continuado qualificado

O CP estabelece, em seu art. 71, parágrafo único que, “nos crimes dolosos, contra
vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz,
considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente,
bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas,
ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e
do art. 75 deste Código”.

Desta sorte, o que temos de maneira clara é o estabelecimento de condições


específicas para aceitação da aplicação da regra da continuidade delitiva e um aumento
de pena diferenciado, maior que o crime continuado simples, entretanto, respeitando a regra
estabelecida no art. 69 do CP, não podendo o aumento ser maior do que na aplicação da regra
do concurso material.

Os requisitos são: (a) crimes dolosos contra vítimas diferentes; (b) violência ou grave
ameaça à pessoa; (c) condições relativas à culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias do crime para
consideração na valoração da pena.

5.3. Crime continuado e aplicação de pena

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Caderno de Direito Penal

O Código Penal não estabelece um critério fixo para o aumento de pena no crime
continuado, entretanto, a jurisprudência têm adotado o entendimento que se segue na tabela.

Deve-se ressaltar que, no crime continuado qualificado, o aumento será de até o triplo,
devendo o juiz pautar-se na razoabilidade, levando-se em consideração as condições relativas
à culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os
motivos e as circunstâncias do crime.

II - DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO

Os efeitos da condenação podem ser de natureza penal e extrapenal.

Os efeitos penais são os que decorrem diretamente da condenação e que afetam a


relação de liberdade do agente com o Estado, de forma direta ou indireta, em que temos como
exemplos mais claros de forma indireta a reincidência e os maus antecedentes – pois, na
hipótese da prática de delito posterior, aplicando-se uma dessas circunstâncias, a pena do
agente é aumentada – e a pena aplicada, uma forma direta.

Os efeitos extrapenais, entretanto, são regulados pelos arts. 91 e 92 do CP, aos quais
nos reportaremos adiante.

1. EFEITOS GENÉRICOS DA CONDENAÇÃO

Os efeitos genéricos da condenação estão previstos no art. 91 do CP e são:

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Caderno de Direito Penal

a) TORNAR CERTA A OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR O DANO CAUSADO


PELO CRIME: A sentença penal condenatória faz coisa julgada no juízo cível, determinando
a obrigatoriedade de indenizar.

b) A PERDA EM FAVOR DA UNIÃO, RESSALVADO O DIREITO DO


LESADO OU DE TERCEIRO DE BOA-FÉ

b1) A alínea a do art. 91, inciso II, do CP prevê a perda dos instrumentos do crime, desde que
consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito.

b2) A alínea b do art. 91, inciso II, do CP prevê a perda do produto do crime ou de qualquer
bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso.
Aqui, temos uma possibilidade de confisco que afeta bens de natureza lícita, como forma de
compensar o estado da impossibilidade de reaver os bens ou produtos ilícitos provenientes do
crime.

2. EFEITOS ESPECÍFICOS DA CONDENAÇÃO

Os efeitos específicos da condenação estão previstos no art. 92 do CP e devem ser


fundamentados na sentença condenatória, pois não são automáticos.

2.1 Perda de cargo, função pública ou mandato eletivo

O art. 92, inciso I, do CP especifica esta condição, vinculada ainda aos seguintes
parâmetros:

a) Quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano,
nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração
Pública:

b) Quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a quatro anos
nos demais casos. Ocorre que é preciso resolver a compatibilidade e o sentido da aplicação
dessa norma, com as normas constitucionais que tratam da perda de mandato e da suspensão
de direitos políticos definidos na Constituição da República e que foram objeto de debate na
AP 470 (Ação penal do mensalão), no STF.

Prevaleceu, entretanto, posteriormente, a decisão inicial do STF, que entendeu caber


ao Congresso apenas a declaração da vacância do mandato.

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Caderno de Direito Penal

O art. 15 da CF estabelece uma regra constitucional vinculada aos direitos


fundamentais que determina, esta sim, restritivamente, as hipóteses em que ocorrerão a perda
ou suspensão dos direitos políticos, e, no inciso III, a CF é clara, ou seja, determina a
suspensão dos direitos políticos após condenação criminal transitada em julgado, enquanto
durarem seus efeitos.

Trata-se de norma geral, de eficácia plena, que prevalece dentro do conflito normativo
instaurado pelo seu caráter, não admitindo exceção, ainda que existindo no sistema norma
dispondo em sentido contrário, que, nesse caso, perde a validade.

Ademais, até por um raciocínio de lógica jurídica, se o parlamentar fica impedido de


exercer seus direitos políticos até o final do cumprimento da pena, como compatibilizaria-se
essa condição com o exercício do mandato parlamentar? O exercício do mandato parlamentar
é o exercício de um direito político não apenas do próprio deputado ou senador, mas de
representação legítima de natureza política de seus eleitores e do Estado da Federação pelo
qual se elegeu.

Nesse sentido, ser condenado definitivamente com sentença condenatória transitada


em julgado e exercer o mandato é uma possibilidade contraditória em si, sem deixar de
verificar-se, também, a impossibilidade ontológica de exercício do mandato em situação em
que o condenado tivesse de cumprir, por exemplo, a pena em regime fechado.

2.2 Incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos


crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou
curatelado

Os delitos objetos dessa declaração de incapacidade deverão ser apenas os crimes


apenados com reclusão.

A incapacidade a ser declarada, em nossa compreensão, será com relação ao agente, à


sua capacidade de exercer o pátrio poder familiar, portanto, em relação não apenas à(s)
vítima(s) do delito, mas, também, em relação aos outros filhos ou os que porventura venha ter,
desde que ainda sob os efeitos da decisão.

2.3 Inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática
de crime doloso

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Caderno de Direito Penal

O inciso III do art. 92 não se vincula às sanções decorrentes do CTB, pois não é
relacionado aos crimes de trânsito e, sim, aos delitos dolosos em que o veículo foi utilizado
como meio para sua realização.

3. OUTROS EFEITOS EXTRAPENAIS DA LEGISLAÇÃO

a) Lei de Tortura (Lei nº 9.455/97): Existe nesta lei previsibilidade específica de perda
automática de cargo, emprego ou função pública existente no art. 1º, § 5º, da Lei nº 9.455/97
(Lei de Tortura) e interdição pelo dobro do prazo da pena aplicada para o exercício dessas
funções, como efeito extrapenal da sentença condenatória.

b) Lei de Licitações e Contratos (Lei nº 8.666/93) Os servidores públicos que praticarem os


delitos descritos nesta lei sujeitam-se à perda do cargo, emprego, função ou mandato eletivo;

c) Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de


vulnerável (art. 218-B, § 3º): Nesse caso, o efeito obrigatório da condenação para esse delito
será a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento em que a
prostituição ou a exploração sexual do vulnerável ocorreu.
d) Impedimento matrimonial em crime doloso contra a vida, consumado ou
tentado: O impedimento matrimonial passa a prevalecer em relação ao cônjuge sobrevivente
com o agente do delito, conforme estabeleceu o art. 1.521, inciso VI, do Código Civil.

4. REABILITAÇÃO

“Art. 93. A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em


sentença definitiva, assegurando ao condenado o sigilo dos registros
sobre o seu processo e condenação. Parágrafo único. A reabilitação
poderá, também, atingir os efeitos da condenação, previstos no art. 92
deste Código, vedada reintegração na situação anterior, nos casos dos
incisos I e II do mesmo artigo.”

A reabilitação busca alcançar, precipuamente, os registros criminais do condenado, em


situação que se assemelha à do art. 202 da LEP, pois esta determina que, “cumprida ou extinta

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a pena, não constarão da folha corrida, atestados ou certidões fornecidas por autoridade
policial ou por auxiliares da Justiça, qualquer notícia ou referência à condenação, salvo para
instruir processo pela prática de nova infração penal ou outros casos expressos em lei”, ou
seja, ao extinguir a punibilidade do agente pelo cumprimento da pena o juízo das execuções
garantirá a aplicabilidade do art. 202 da LEP.

Desta forma, o disposto no caput do art. 93 do CP acaba ficando sem funcionalidade,


face ao quanto definido na Lei de Execuções Penais51. Outro objetivo da reabilitação será
alcançado também ao atingir os efeitos da condenação, previstos no art. 92 desse Código,
vedada reintegração na situação anterior, nos casos dos incisos I e II do mesmo artigo.

a) na hipótese do art. 92, inciso III, do CP – a inabilitação para dirigir veículo, quando
utilizado como meio para a prática de crime doloso –, o requerente, com a reabilitação poderá
voltar a exercer o seu direito de dirigir, recuperando sua habilitação;

b) no caso de perda de cargo, função pública ou mandato eletivo, art. 92, inciso I do
CP, em face da restrição do parágrafo único do art. 93 do CP, o requerente poderá, reabilitado,
exercer outros cargos, funções públicas ou mandatos eletivos, desde que diversos do que
ocupou anteriormente; c) a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela,
em relação à vítima de crime doloso, permanecerá em relação a esse efeito, mas, com relação
ao exercício dessa condição, o reabilitado voltará a exercê-lo regularmente.

4.1 Pressupostos da reabilitação

O prazo para requerimento da reabilitação, conforme o art. 94 do CP, será de dois


anos, do dia em que for extinta, de qualquer modo, a pena ou terminar sua execução,
computando-se o período de prova da suspensão e o do livramento condicional, se não
sobrevier revogação destas. Entretanto, cumprida a condição temporal, o agente terá que,
cumulativamente, cumprir também as seguintes condições:

a) Conforme o art. 94, inciso I, do CP, ter tido domicílio no país no prazo acima
referido: trata-se de uma condição objetiva, que pode ser provada por qualquer dos meios
admitidos em direito, seja através de provas documentais ou testemunhais.

b) O art. 94, inciso II, do CP afirma que o condenado deve ter conseguido, durante este
tempo, demonstrar efetivamente e de forma constante um bom comportamento público e
privado: este é um requisito de natureza subjetiva, pois, apesar de no art. 744 do CPP
constarem os documentos que devem ser anexados para

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instruir o processo de reabilitação, avaliar o comportamento do condenado apenas por


atestados pode ser insuficiente, pois é importante que, na hipótese de inexistência de alguns
desses documentos, como os previstos nos incisos II e III, a prova testemunhal possa ter a
capacidade de suprir o requisito.

c) O art. 94, inciso III, do CP ressalta que deve ter sido ressarcido o dano causado pelo
crime ou se demonstre a absoluta impossibilidade de o fazer, até o dia do pedido, ou exiba
documento que comprove a renúncia da vítima ou novação da dívida: o ressarcimento do
dano é obrigatório, desde que ele tenha ocorrido, e o condenado deverá, na impossibilidade de
ressarcir, demonstrar a sua ausência de capacidade financeira, pois, na medida em que a
alegação provém do condenado, este terá o ônus da prova.

Saliente-se apenas que, se a vítima renunciou ao ressarcimento ou ocorreu uma


novação da dívida, esta também deverá ser provada, ficando desobrigado o réu também de
ressarcir com a ocorrência da prescrição civil da dívida em decorrência do dano causado.

Por fim, deve-se ressaltar que o parágrafo único do art. 94 do CP aduz que, negada a
reabilitação, poderá ser requerida, a qualquer tempo, desde que o pedido seja instruído com
novos elementos comprobatórios dos requisitos necessários, assim como poderá ser revogada,
de ofício ou a requerimento do Ministério Público, se o reabilitado for condenado, como
reincidente, por decisão definitiva, a pena que não seja de multa.

AULA 16 – AÇÃO PENAL

1. AÇÃO PENAL

A classificação da ação penal em publica e em privada leva em conta a legitimação ad


causam ativa para a propositura ou iniciativa da ação penal. Trata-se, portanto, de um critério
subjetivo, pois leva em conta o sujeito que detém a titularidade para a ação penal.

Sendo pública, a iniciativa caberá ao Ministério Público iniciar a ação mediante a


Denúncia. No caso de ação penal pública condicionada, a atuação do Ministério Público está
condicionada à representação do ofendido ou à requisição do Ministro da Justiça. Não sendo
situação, será incondicionada, em que o MP pode oferecer a denúncia sem necessidade de
qualquer autorização.

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No silêncio do Código Penal, a regra é a ação será pública incondicionada, caso


contrário haverá menção à representação, requisição ou queixa.

Dependerá de requisição do Ministro da Justiça os crimes de honra do Presidente da


República ou de Chefe de Governo Estrangeiro (art. 145, parágrafo único, CP)

Já a privada, caberá ao ofendido, ou os descendentes do CADI, iniciar a ação mediante


queixa. Exemplos dessas ações são os crimes contra a honra em geral, art. 145, caput, CP.

2. PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL

PRINCÍPOS AÇÃO PENAL PÚBLICA AÇÃO PENAL PRIVADA

Princípio da Obrigatoriedade
(legalidade)

O MP tem o dever legal de oferecer


Princípio da Conveniência/
denúncia, desde que haja justa causa.
Oportunidade
Não inexistindo, irá requerer o
arquivamento. É um juízo técnico O ofendido pode não propor
sobre a existência de base para a ação a ação (queixa) mediante
penal. renúncia (art. 107, V, CP) ou
Propositura da
decadência (art. 107, IV,
ação penal Considera-se que o MP tem o
CP).
denominado dever de objetividade,
pois a ele não cabe exercer um juízo Ambas são causas de
subjetivo de conveniência ou extinção da punibilidade no
oportunidade acerca da propositura da direito material.
ação penal, mas sim um juízo técnico A renúncia
(opinio delicti) acerca da presença ou
não de justa causa para o exercício da
ação penal.

Pressupõem que Indisponibilidade (art. 42, CPP) Disponibilidade


já existe uma ação Ao MP veda-se a desistência da ação -Perdão do ofendido
penal em curso penal pública, é juridicamente -Perempção
impossível. Todavia, se entender que
não restaram minimamente provados
os fatos, o MP pode opinar em
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Caderno de Direito Penal

alegações finais pela absolvição,


conforme o art. 385, CPP. Caso
contrário, permanece requerendo a
condenação.

O juiz não se vincula à opinião do MP,


logo, pode ainda condenar mesmo que
o MP opine pela absolvição.

Tal princípio obriga o MP chegar até


ao final do processo.

Divisibilidade (STF e STJ)

Em um Inquérito Policial com mais de


um investigado, o MP pode entender
que quanto a um há base para
acusação, enquanto para o outro, não.

Dessa forma, o MP estará obrigado a Indivisível (art. 48, CPP)


oferecer denúncia contra aquele que
encontrou base para uma ação,
enquanto para o outro requer o
arquivamento.

Nisso consistiria a divisibilidade da


ação penal, apontar dentre os diversos
acusados quais existem justa causa.

3. MITIGAÇÃO AO PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DA AÇÃO PENAL


PELO MINISTÉRIO PÚBLICO

A mitigação ocorrerá por meio da transação penal que cabe apenas para crimes de
menor potencial ofensivo, de competência do JECRIM - Art. 61, da lei 9.099/95 – as
contravenções penais e os crimes de pena máxima igual ou inferior a 02 (dois) anos.

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Caderno de Direito Penal

A transação (art. 76, lei nº 9.099/95) consiste em um acordo entre o MP e o acusado,


podendo o MP propor a aplicação imediata (sem nem iniciar um processo, ou seja, para não
oferecer denúncia) de pena restritiva ou de multa, que pressupõe aceitação do autor da
infração e de seu defensor. Sendo aceita, o juiz homologa a transação e encaminha o acusado
para o cumprimento da pena.

Uma vez cumprida a pena, o MP deixará de oferecer a denúncia.

Caso a transação seja descumprida, o MP pode voltar a oferecer denúncia, conforme a


Súmula Vinculante nº 35 “A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei
9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a
situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da persecução penal
mediante oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policia”, isso porque uma
sentença homologatória penal não tem força executória como na esfera cível.

O STF entende que o descumprimento da transação penal não permite promover a


execução da pena aplicada, pois a decisão judicial de homologação do acordo não gera coisa
julgada material.

Por isso, o descumprimento da transação apenas possibilita ao MP voltar a oferecer


denúncia contra o autor da infração penal.

4. EXCEÇÃO AO PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DA AÇÃO PENAL PELO


MINISTÉRIO PÚBLICO – ART. 4º, §4º, LEI Nº 12.850/13

Em troca de uma colaboração premiada, o MP deixa de oferecer denúncia contra o


colaborador, requerendo o arquivamento do inquérito, não sendo nem processado.

De acordo com o art. 4º, §4º, da referida lei, a possibilidade de deixar de oferecer
denúncia só seria aplicável para aquele colaborador que reunir dois requisitos cumulativos:
que não seja líder da organização criminosa, tenha sido o primeiro a prestar efetiva
colaboração.

A delação e a transação penal supõem a chamada negociação penal.

5. DIFERENÇAS ENTRE RENÚNCIA E DECADÊNCIA

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Caderno de Direito Penal

A renúncia está prevista do art. 104, do CP, que consiste num fazer, podendo ser
expressa ou tácita. Essa se reveste de um comportamento incompatível com a vontade de
exercer o direito de queixa.

Não implica renúncia tácita a aceitação de ressarcimento

A decadência é um não fazer, um comportamento negativo que transcorre após 06


(seis) meses contados do conhecimento da autoria, art. 103, CP e art. 38, CPP.

No sistema do JECRIM, o acordo de composição dos danos civis implica renúncia


automática, por força de lei, ao direito de queixa e, inclusive, de representação, conforme art.
74, parágrafo único, Lei 9.099/95.

6. DO PRINCÍPIO ACUSATÓRIO

Em doutrina (Geraldo Prado), sustenta-se em posição minoritária, que a possibilidade


do juiz condenar no art. 385 do CPP violaria o princípio acusatório, que prega a separação de
funções em sujeitos diversos. Nesse momento, o juiz estaria assumindo a postura de parte
acusatória se decidir condenar sem pedido do MP, art. 129, I, CR/88.

7. MITIGAÇÃO AO PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE DA AÇAO PENAL

A mitigação de tal princípio ocorre mediante a suspensão condicional do processo,


prevista no art. 89 da Lei n 9.099/95. É importante destacar que, mesmo prevista na lei dos
juizados especiais, a suspensão pode ser aplicada a crimes previstos fora de tal lei, bastando
que a pena mínima seja de até 01 (um) ano.

Já a lei do juizado especial abrange os crimes com pena máxima igual ou inferior a 02
(dois) anos.

Por exemplo, o estelionato tem pena de 01 a 05 anos, logo, não entra nos juizados
especiais, estará na vara comum criminal, com rito ordinário, mas cabe suspensão condicional
do processo, por ter pena mínima igual a um ano.

Sendo cabível a suspensão, o MP oferecerá a denúncia com a proposta de suspensão


condicional do processo. Após isso, o juiz recebe a denúncia, instaurando o processo,
determina a citação do acusado a respeito do interesse sobre a suspensão condicional do
processo.

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Caderno de Direito Penal

Se o acusado aceitar as condições, o juiz irá suspender o processo (e a prescrição) por


um prazo de 02 (dois) a 04 (quatro) anos.

Expirado o prazo sem revogação durante o período de prova, o juiz determinará a


extinção da punibilidade do acusado.

8. DIFERENÇAS ENTRE RENÚNCIA E PERDÃO

A renúncia surge antes da ação penal, porque consiste forma de não a propor. Trata-se
de ato unilateral, tendo em vista que ainda não afetou a esfera jurídica alheia, logo, não há
quem se consultar porque ninguém foi processado.

O perdão ocorre durante o curso do processo, dessa forma, já existem as partes do


processo, logo, o acusado deve aceitar o perdão.

9. DISPONIBILIDADE

Existe uma ação penal em curso porque o ofendido ofereceu queixa. Ele poderá dispor
da ação mediante o perdão do ofendido ou dando causa à perempção, que são causas de
extinção da punibilidade no direito material.

O perdão está previsto no art. 107, V, e a perempção no art. 107, IV, ambos do CP.

9.1. PERDÃO DO OFENDIDO

O art. 105 informa que o perdão do ofendido obsta ao prosseguimento da ação penal.
Para que o perdão gere efeitos, é necessário que o querelado o aceite, caso contrário não
produzirá efeitos. Dessa forma, o perdão é ato bilateral.

Uma vez proposto o perdão ao querelado, o juiz intima o querelado para que se
manifeste em 03 (três) dias informando se aceita ou não o perdão. Passado esse prazo sem
manifestação, a lei estabelece que o querelado aceita o perdão tacitamente, conforme o art. 58
do CPP.

A recusa do perdão deve ser expressa, enquanto a aceitação pode ser tácita.

9.2. PEREMPÇÃO (ART. 60, CPP)

A perempção consiste na extinção da punibilidade pelo desinteresse do autor da ação,


conforme descrevem os comportamentos do art. 60 do CPP.

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Caderno de Direito Penal

Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa,


considerar-se-á perempta a ação penal:

I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o


andamento do processo durante 30 dias seguidos;

II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade,


não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do
prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-
lo, ressalvado o disposto no art. 36;

III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo


justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou
deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;

IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem


deixar sucessor.

A primeira forma de perempção é o não andamento da ação penal por mais de 30


(trinta) dias pelo querelante, é o típico abandono de ação. Aqui, diferentemente da esfera
cível, o primeiro abandono já configura a perempção.

Na ocorrência de morte do querelante durante o curso da ação, podem assumir o polo


ativo os sucessores do CADI (cônjuge, ascendente, descendente, irmão), porém, se não o
fizerem no prazo de 60 (sessenta) dias, ocorrerá a perempção.

Caso o querelante deixe de comparecer sem motivo justificado, a qualquer ato do


processo que deva estar presente. Nesse caso, o juiz deve intimar o querelado para que
justifique a ausência.

A perempção dispensa a aceitação do querelado.

10. DIVISIBILIDADE x INDIVISIBILDIDADE

Em doutrina, grande parte dos autores sustenta a indivisibilidade da ação penal


pública, pois ela seria consectário lógico do princípio da obrigatoriedade da propositura da

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Caderno de Direito Penal

ação penal pública: o MP estaria obrigado a oferecer denúncia contra todos os sujeitos
(indivisível) contra quem se reuniu base suficiente para ação penal.

Na ação privada, a vítima não pode escolher quem processar, se decidir fazê-lo, deve
ser contra todos.

A opção do ofendido consiste em propor ou não a ação penal privada. Se decidir


oferecer queixa, deve fazê-lo contra todos os sujeitos envolvidos no crime.

Após o encaminhamento da queixa ao juiz, esse a encaminhará ao MP para que em 03


(três) se manifeste (art. 46, §2º, CPP). Se o MP verificar que houve violação ao princípio da
indivisibilidade, requererá a intimação do querelante para que adite a queixa para incluir o
acusado que faltava.

Caso o querelante adicione o acusado, a queixa está perfeita, podendo o juiz recebê-la.
Não ocorrendo o aditamento no prazo, estará consolidada a intenção do querelante de que não
deseja processar o indivíduo, consistindo em renúncia tácita em relação àquele. Desse modo,
quanto ao individuo não incluído, haverá extinção da punibilidade para ele.

Sendo assim, tendo o querelante renunciado quanto a um, a lei estende aos demais,
logo, todos terão como extintas as suas punibilidades, conforme o art. 49 do CPP.

AULA 17 – APLICAÇÃO DA PENA

I – INTRODUÇÃO

A individualização vem apresentada na Constituição de 1988:

Art. 5º, XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará,


entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b)
perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão
ou interdição de direitos;

Trata-se de uma consequência necessária do postulado da isonomia: crimes desiguais e


autores com determinadas peculiaridades devem sofrer sanções diferentes.

São três os momentos consagrados da individualização da pena:

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Caderno de Direito Penal

1 – Cominação legislativa: é seletiva, existem crimes que são mais graves, mas cujas
penas mínimas ainda são menores que crimes menos graves.

2 – Aplicação da pena – sentença

“Síndrome da pena mínima”: o juiz não precisa trazer maiores fundamentos a respeito
da pena imposta, como no caso de ter elevado a pena acima do mínimo.

Em uma perspectiva crítica, o juiz exerceria um papel contra seletivo com base na
vulnerabilidade do condenado (Culpabilidade por vulnerabilidade, Zaffaroni). Para essa
teoria, quanto maior o esforço para ser alvo do sistema penal concreto, maior a censura.

3 – Execução: o bom comportamento traz recompensa e o mau castigo. Usar os


recursos do Estado para socializar aquele que nunca foi inserido na sociedade, e não
re(socializar) aquele que sempre esteve inserido, mas resolveu sair, por exemplo, crimes
financeiros.

II - SISTEMAS DE DETERMINAÇÃO DA PENA

1) Sistema de pena exata ou pontual: parte da premissa que existe uma pena correta a
ser fixada para cada caso concreto. Crítica: não existem critérios que permitam encontrar tal
pena.
2) Sistema da proibição de exceder a culpabilidade: a pena não teria limite mínimo e
poderia ser fixada (com objetivo preventivo) em uma faixa que tem como teto a culpabilidade.
É o sistema preferido do professor. Crítica: é possível criticar a proposta, pois sem um piso,
um mínimo, é grande o risco de perda de eficácia preventiva.
3) Sistema da margem de liberdade ou espaço do jogo: determinados os limites
mínimos e máximos, há uma faixa de penas viáveis corretas e cabe ao juiz fixar a pena
arbitrando o que entender suficiente (para fins preventivos).
4) Sistema do valor de emprego ou posição: a quantidade da pena deve obedecer ao
quadro de culpabilidade e a qualidade da pena deve obedecer o critério preventivo.

III – A FIXAÇÃO DA PENA NO BRASIL

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Caderno de Direito Penal

Nos termos do art. 59 do Código Penal, a finalidade é reprovar e prevenir (Teoria


Mista Aditiva) e a quantidade da pena serão alcançadas com o cotejo de circunstâncias em um
sistema trifásico de Nelson Hungria.

1) CLASSIFICAÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS

a) Judiciais: são aquelas que estão no art. 59 do CP, assim como previstas em legislação
especial, art. 42 da Lei 11.343/11 (drogas). São judiciais porque impõem um grau de arbítrio
ao juiz.
b) Legais:
b.1) Qualificadoras: são circunstâncias que impõem novos limites para a pena base
(EXPRESSOS), por exemplo, 02 a 04 anos.

b.2) Agravantes (arts. 61 e 62) e atenuantes (arts. 65 e 66 - genérica)

b.3) Causas de aumento (majorantes) e de diminuição (minorantes): são as que aumentam ou


diminuem a pena em frações, por exemplo, de 1/6 a ½.

2) CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS

São cinco subjetivas (culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade e


motivos) e três objetivas (circunstâncias, consequências do crime e comportamento da
vítima).

a) Culpabilidade é um juízo de censurabilidade no caso concreto. Na doutrina tradicional,


era comum a referência a intensidade do dolo e o grau da culpa. No entanto, como dolo e
culpa não são mais reconhecidos na culpabilidade, tais referências foram gradativamente
abandonadas.
No STJ é consolidada a orientação que a culpabilidade do artigo 59 diz respeito a
censurabilidade do ato praticado, mas não se confunde com “a culpabilidade normativa que
engloba a consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa e que constitui
elementar do tipo penal”. A premeditação aumentaria a culpabilidade.
b) Antecedentes: o STF já pacificou que os chamados antecedentes só se referem ao
passado criminal, pois outras circunstâncias da vida do autor, dignas de nota serão tratadas
como conduta social.

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Em homenagem à presunção de inocência, a Súmula 444 do STJ proíbe o


reconhecimento de maus antecedentes em inquéritos ou processos em andamento ou mesmo
em decisões extintivas da punibilidade.
Contra esse argumento, Nelson Hungria ensinava que o homem de bem não
frequentava delegacias e que “onde há fumaça há fogo”, e assim, todo o registro criminal
pode ser considerado mau antecedente.
Desse modo, é possível concluir que mau antecedente é a condenação transitada em
julgado incapaz de gerar reincidência. Hoje, é pacífica a orientação do STF que, depurada a
reincidência, também são afastados os maus antecedentes. A justificativa do STF é que a
vedação constitucional de caráter perpétuo proíbe que o estigma (marca) da condenação
criminal também não pode ser eterno.
É também pacífica a orientação do Supremo que delitos posteriores ao crime objeto de
julgamento não podem ser considerados maus antecedentes, mesmo que ostentem condenação
definitiva.
Consolidado o entendimento do STJ que atos infracionais não podem ser considerados
maus antecedentes porque não são condenações transitadas em julgadas, mas pode ser usada
pra configurar prisão preventiva e, para alguns, é prova de má conduta social.
Crítica à existência dos antecedentes como circunstância judicial: 1) viola a ampla
defesa na medida em que não se pode discutir a condenação anterior, ou seja, é elemento de
incremento da pena que não pode ser discutido; 2) a pena no Brasil é criminógena, ela
fomenta o crime, e o mau antecedente é apenas reflexo de cum círculo vicioso fomentado pelo
sistema de justiça penal.
c) Conduta social: é a forma como o sujeito se relaciona com a comunidade. A conduta
social é apenas uma releitura da culpabilidade pela conduta de vida de Mezger. A valoração
da conduta de vida resgata expressões próprias de um direito penal do autor, como a
“inclinação para o mal” e o “desajuste social”.
d) Personalidade: é o perfil psicológico do autor. O juiz pode avaliar a personalidade?
Para Nucci, sim, o professor discorda. Consolidada orientação do STJ que é dispensável laudo
técnico para que o juiz possa avaliar a personalidade do autor. Crítica: 1) o juiz não possui
aptidão técnica para avaliar a personalidade do agente; 2) é direito penal do autor, adota
conceitos da escola positiva, como periculosidade. No final, não há uma avaliação da
personalidade, mas sim um juízo de comparação dos valores do réu com os do juiz; 3)
censurar personalidade é invadir a esfera íntima do sujeito, violando sua dignidade.

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e) Motivos do crime: são as razões que levam o sujeito à prática do ato. Crítica: é uma
prognose empiricamente impossível porque, muitas vezes, nem o agente entende os motivos,
por exemplo, pensara agir pelo motivo x, mas, na verdade fez pelo motivo Y. Além disso, é
comum a confusão de motivos exógenos com endógenos, e esses são inerente ao crime e não
poderiam influenciar na pena.
f) Circunstancias são dados ou fatos que estão ao redor do crime e autorizam a alteração
da pena. Por exemplo, o STJ entendeu que a complexidade da organização criminosa autorize
o incremento da circunstancia. É comum a confusão de circunstancias endógenas e exógenas.
g) Consequências dos crimes: há consequências que extrapolam o dolo do autor, como o
numero de filhos ou mesmo a condição financeira. Consolidado o entendimento do STJ que o
prejuízo sofrido pela vítima autoriza o incremento da pena.
h) Comportamento da vítima: é consolidada a orientação do STJ que o comportamento da
vítima não pode prejudicar o réu, ou seja, é circunstância neutra. Há estudos de vítima
dogmática partindo da premissa que, se o próprio titular do interesse não exerce a tutela
ordinária de seus bens, a atuação penal do Estado pode ser atenuada ou mesmo afastada.

3) CIRCUNSTÂNCIAS LEGAIS

b.1) Qualificadoras:

b.2) Agravantes (arts. 61 e 62) e atenuantes (arts. 65 e 66 - genérica):

Reincidência (art.63): é a prática de novo crime após o transito em julgado de sentença


condenatória por crime anterior. Obs.: não tem a ver com o dia do julgamento, mas com a
prática. Ex.: decisão em 2007 e trânsito em 2008. Justificativa: a reincidência permite o
incremento da sanção penal, pois mesmo com a condenação definitiva o sujeito não se
intimidou e reiterou a prática delitiva.

No Brasil é adotado o Sistema de reincidência ficta, pois basta o transito em julgado


para que a nova prática criminosa venha a gerar reincidência. Na reincidência real, apenas o
crime praticado após o cumprimento de pena provocaria a reincidência.

Constitucionalidade da reincidência: é pacífica orientação do STF pela


constitucionalidade da reincidência que apenas concretiza a individualização da pena (Corte
Americana entendeu inconvencional).

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Críticas: a reincidência é inconstitucional e viola a convenção americana de direitos


humanos, pois: a) é direito penal do autor: sujeito é punido pelo o que é e não pelo o que fez;
b) viola o ne bis in idem, pois é dupla punição pelo mesmo fato; c) para Zaffaroni, a
reincidência é uma demonstração da ineficácia da suposta integração social do sistema de
penas. A ineficiência do estado, não pode sobrecarregar o condenado.

AULA XX - DIGNIDADE SEXUAL

Crime: vedação de se incriminar condutas sociais inofensivas.

Pena: proibição de penas cruéis, degradantes e vexatórias (art.5º, XLVIII, CR/88)

2) Postulado da proporcionalidade

Proibição do excesso – Direito Penal como ultima ratio

Dignidade Humana

Proibição de proteção deficiente (infraproteção)

I - HOMOSSEXUALIDADE

Historicamente, o primeiro momento em que é vista com repúdio é na Bíblia. Após


isso, a moral religiosa foi se incorporando na moral social e, em seguida, no Direito e
criminalizou-se a conduta.

1) A criminalização da pederastia (homossexualidade masculina):

Pederastia ou outro ato de libidinagem

Art. 235. Praticar, ou permitir o militar que com êle se pratique ato
libidinoso, homossexual ou não, em lugar sujeito a administração
militar.

A favor: combate a prática de ato libidinoso, que representa violação de hierarquia e


não combate em si a orientação sexual.

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Contra: o dispositivo foi criado objetivando vedar práticas homossexuais, conforme a


própria exposição de motivos, assim como a própria rubrica diz “pederastia”, o que já
demonstra que é um dispositivo incriminador voltado aos homossexuais.

Em Outubro de 2015 – STF – Constitucionalidade do art. 235, ADPF 291, Ministro


Barroso: suprimiu da rubrica a expressão ‘pederastia’, e do tipo penal os termos ‘homossexual
ou não’. A partir de agora, o dispositivo ficou com a seguinte redação:

Ato de libidinagem

Art. 235. Praticar, ou permitir o militar que com ele se pratique ato
libidinoso, em lugar sujeito a administração militar.

2) A criminalização da homofobia:

A primeira vez que se utilizou a expressão homofobia foi com o psicólogo norte
americano Weinberg (1971).

A Homofobia individual é penalmente irrelevante, porque ainda está no pensamento


do indivíduo. Já a homofobia social consiste em atos concretos de discriminação ao
homossexual, sendo penalmente relevante.

O art. 1, inciso III, CR/88, traz o princípio da dignidade da pessoa humana, e o art.3º,
IV, diz que é objetivo uma sociedade livre, justa, igualitária, sem qualquer tipo de
preconceito; da mesma forma, o art. 4º, VIII, traz o repúdio ao racismo; art. 5º, caput, informa
os princípios da igualdade e da isonomia; o art. 5º, XLII, diz que se considera o racimo um
crime inafiançável e imprescritível.

É notório que a CR não tolera preconceitos segregacionistas, aqueles que elegem um


fator de segregação e afastam do gozo dos direitos fundamentais as pessoas que pertencem a
uma categoria.

Racismo/raça e homofobia: STF, HC 84.242 - Caso Ellwanger – Lei nº. 7.716/89


(crime de preconceito).

A homofobiaa constitui mandado implícito de criminalização, enconrtas0se

Para o professor Estefam e Nucci, a orientação sexual está embutida no conceito de


raça.
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Posição majoritária: ainda não é crime porque não foi incluidio na lei 7.716/89 para
acrescentar orientação sexual

II – PROSTITUIÇÃO

Sistemas de abordagem

a) Regulacionista: passou a ser adotado a partir do século XIX – como mal necessário para
uma válvula de escape para o homem, que só poderia praticar sexo para reprodução com
sua mulher, e sem maiores . tal sistema adota medidas adminsitrativas (cadastramento
obrigatório de quem se prostitui, regulando os locais onde pode exercer a profissão) e
sanitárias. Nesse sistema surgem as zonas de prostituição, locais onde eram permitida a
atividade.
b) Abolicionista: a prostituição em si mesma não é crime, sequer comportamento ilícito, o
que se criminaliza é o entorno da prostituição, o incentivo a prostituição, o lenocínio. Aos
profissionais do sexo só se reconhece um único direito: deixa a prostituição. Os
profissionais do sexo são privados dos diteitos sociais. É o adotado no Brasil, em que a
prostituição em si nunca foi considerada crime. A prostituição autônoma é valida, já a
intermediada não.
c) Proibicionista: Essa teoria foi influenciada por uma ideologia feminista radical, por
considerar a prostituição a forma de maior exploração da mulher pelo patriarcado, encara
a prostituição com forma d eviolencia sexista, o reflexo da sociedade patriarcal de
dominação do homem sobre a mulher. A prostituição representa a coisificação da mulher,
tratada como mero objeto nas mãos dos homens. Essa corrente prega não somente a
criminalização do entrono, mas também da demanda, pu seja, procurar uma prostituta
também é crime. Adotada na suécia, alguns estados dos EUA. O proibicionismo considera
a prostituição uma forma d expliraçao sexual doc corpo feminino. Ela também faz parte da
cultura do estupro.

Panorama jurídico da prostituição no Brasil

 Não é atividade ilícita, pode ser exercida autonomamente;


 A prostituição intermediada é vedada, porque qualquer forma de incentivo à
prostituição constitui delito (arts. 227/230, CP);
 Não é exigível o pagamento da prestação sexual;
 O profissional do sexo não é amparado por qualquer direito social (trabalhista ou
previdenciário). Dessa forma, não existe contrato de trabalho prostituicional.
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STJ, HC 211.888, relator Ministro Rogério Schietti: exigibilidade da prestação sexual -


Exercício arbitrário das próprias razões, e não roubo.

227 – lenocínio

228 – facilitação à prostituição

229 – casa de prostituição

230 – rufianismo

A ausência de bem jurídico passível de tutela gera a inscontritucionalidade do tipo


penal, por ofensa à dignidade humana e a proporcionalidade (proibição do excesso).

Nos parágrafos do 227, 228 e 230 encontramos bens jurídicos passveis de tutela.
Grave ameaça, violência, fraude, abuso: viola a loebrsade de descola da vitima, o bem
jurpidico é a liberdade sexual, ou seja, a librdade de autodeterminação na esfera da
swxualidade, quem será o parceiro, quando e como fara o sexo

Conclusão: a incriminação do entorno da prostituição desacompanhado de bem


jurídico passível de tutela,co omoc ocorre nos art 227 caput, 1228 caput, 229 e 230 caput e
inconcosti.

Sistema Laboral: reconhece os profissionais do sexo como trabalhadores,a ssegurando-


lhes acesso aos direitos previstos nos arts. 6 e 7 da CR,

Existe projeto de lei que pretende regular a atividade desses profissionais e define o
que é exploração secual.

A prostituição não é ilícita, mas se justifica criminalizar condutas que a incentivam

ESTUPRO : constranger alguém, mediante violência ou grace amecaça a praticar conjungao


carnal (introdução do pênis na vagina) ou qopratica ou perminiter qeue com cele se praticque
outro ato libilidiono.

O bem jurídico tutelado é a liberdade sexual.

Estupro, CP, art. 213, pena de reclusão de 06 a 10 anos, crime hediondo.

Ato libidinoso: qualquer ato tendente a satisfação da lascívia (desejo sexual), ex: coito anal,
felação (sexo oral)

Pode estar no Mesmo patamar de gravidade que a conjunção carnal


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Beijo lascivo (na boca) também é considerado ato libidinoso, logo, é estupro.

213

Estupro de vulnerável 217 - a

Código Penal Militar - om esupro

AULA XX – TUTELA PENAL DO PATRIMÔNIO

AULA 03– 24/08/2016

TEMA: TUTELA PENAL DO PATRIMÔNIO I

PROFESSOR ANTÔNIO CARLOS DA PONTE

Furto - Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

Furto de uso: é considerado crime pelo Código Penal Militar (art. 241), já o CP
entende que não será crime desde que: a) o agente busque fruir o bem momentaneamente;
b)que a devolução do bem seja rápida e integral, sem nenhum dano à coisa; c) e que deva
ocorrer antes que a vítima dê falta do bem.

Furto noturno é causa de aumento de pena. Em 1/3

Repouso noturno

A pessoa compra o sinal da tv a cabo

Furto qualificado: parágrafos §§4º e 5º do art. 155 do CP.

Qualificadoras do §4º: natureza objetiva, exceto o abuso de confiança. As


qualificadoras objetivas se comunicam aos coautores e aos partícipes.

I) Destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa: os simples


estragos e a pura e simples remoção não caracterizam a qualificadora.

Calúnia Difamação Injúria

 Não tem imputação de

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fato;
 Adjetivação pejorativa
ofensiva a alguém;

Lei de imprensa – Lei nº 5.250/67: existia calunia, difamação e injúria nos mesmos
moldes do Código Penal.

O STF, apreciando a ADPF nº 130/2009 decidiu que a lei de imprensa não foi
recepcionada pela CR/88.

Hoje, qualquer espécie de ofensa à honra alheia é tutelada pelo Código Penal.

CALÚNIA “Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido


como crime”:

 Bem jurídico tutelado: a honra


 Consumação: quando outra pessoa, que não o caluniado, toma conhecimento da
ofensa,

DIFAMAÇÃO - PJ não pode ser difamada

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