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DIREITO PENAL IV- UNAERP

PROF. Paulo José Freire Teotônio


DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP

UNIDADE I- DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL .................................................................... 5

1. ESTUPRO............................................................................................................................................................... 5
2. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR ............................................................................................................................. 25
3. VIOLÊNCIA SEXUAL MEDIANTE FRAUDE ...................................................................................................................... 25
4. ASSÉDIO SEXUAL................................................................................................................................................... 29
5. ESTUPRO DE VULNERÁVEL ....................................................................................................................................... 30

DO LENOCINIO E DO TRAFICO DE PESSOAS ............................................................................................ 37

6. MEDIAÇÃO PARA SERVIR A LASCÍVIA DE OUTREM ......................................................................................................... 38


7. FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO ......................................................................................................................... 40
8. CASA DE PROSTITUIÇÃO.......................................................................................................................................... 42
9. RUFIANISMO........................................................................................................................................................ 44
10. TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS ....................................................................................................................... 47
11. TRÁFICO INTERNO DE PESSOAS................................................................................................................................. 50

UNIDADE II – DO ULTRAJE PÚBLICO AO PÚDOR .................................................................................... 54

12. ATO OBSCENO ...................................................................................................................................................... 54


13. ESCRITO OBSCENO ................................................................................................................................................ 56

UNIDADE III – CRIMES CONTRA A FAMILIA ............................................................................................. 59

14. BIGAMIA ............................................................................................................................................................. 59


15. ABANDONO MATERIAL ........................................................................................................................................... 60
16. ABANDONO INTELECTUAL ....................................................................................................................................... 63

UNIDADE IV – CRIMES CONTRA A SAÚDE PUBLICA ............................................................................. 66

17. EPIDEMIA ............................................................................................................................................................ 66


18. INFRAÇÃO DE MEDIDA SANITÁRIA PREVENTIVA ............................................................................................................ 69
19. OMISSÃO DE NOTIFICAÇÃO DE DOENÇA ................................................................................................................... 70
20. EXERCÍCIO ILEGAL DA MEDICINA, ARTE DENTÁRIA OU FARMACÊUTICA ........................................................................... 71
21. CHARLATANISMO .................................................................................................................................................. 73
22. CURANDEISMO ..................................................................................................................................................... 75

UNIDADE V- CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA ....................................................................................... 81

23. INCITAÇÃO AO CRIME ............................................................................................................................................ 81


24. APOLOGIA AO CRIME ............................................................................................................................................ 86
25. QUADRILHA OU BANDO ......................................................................................................................................... 89
26. CONSTITUIÇÃO DE MILICIA PRIVADA ........................................................................................................................ 94

UNIDADE VI - DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA .............................................................................. 97

27. MOEDA FALSA ..................................................................................................................................................... 97

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28. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO ................................................................................................................ 104


29. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR ........................................................................................................... 108
30. FALSIDADE IDEOLÓGICA ....................................................................................................................................... 111
31. FALSO RECONHECIMENTO DE FIRMAS OU LETRAS..................................................................................................... 115
32. CERTIDÃO OU ATESTADO IDEOLOGICAMENTE FALSO ................................................................................................. 116
33. FALSIDADE DE ATESTADO MÉDICO......................................................................................................................... 117
34. USO DE DOCUMENTO FALSO – FORÇADO ............................................................................................................... 118
35. SUPRESSÃO DE DOCUMENTO ................................................................................................................................ 119
36. FALSA IDENTIDADE .............................................................................................................................................. 121
37. ADULTERAÇÃO DE SINAL DE IDENTIFICADOR DE VEICULO AUTOMOTOR ........................................................................ 122
38. ART 311-A CÓDIGO PENAL – FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PUBLICO .............................................................. 123

UNIDADE VII – CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA...................................................... 131

DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIOS CONTRA A ADMINISTRAÇÃO ........................ 131

39. CONCEITO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO .................................................................................................................... 131


40. PECULATO ......................................................................................................................................................... 133
41. CONCUSSÃO ...................................................................................................................................................... 140
42. EXCESSO DE EXAÇÃO ........................................................................................................................................... 143
43. CORRUPÇÃO PASSIVA .......................................................................................................................................... 146
44. FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO................................................................................................... 149
45. PREVARICAÇÃO .................................................................................................................................................. 151
46. CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA ............................................................................................................................ 154
47. ADVOCACIA ADMINISTRATIVA ............................................................................................................................... 156

DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULARES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ..... 157

48. RESISTÊNCIA ...................................................................................................................................................... 157


49. DESOBEDIÊNCIA.................................................................................................................................................. 159
50. DESACATO......................................................................................................................................................... 161
51. TRÁFICO DE INFLUÊNCIA ...................................................................................................................................... 163
52. CORRUPÇÃO ATIVA ............................................................................................................................................. 166
53. CONTRABANDO OU DESCAMINHO ......................................................................................................................... 168

DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA .................................................................... 168

54. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA ................................................................................................................................... 168


55. COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU DE CONTRAVENÇÃO.......................................................................................... 170
56. AUTO- ACUSAÇÃO FALSA ..................................................................................................................................... 172
57. FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA ................................................................................................................. 173
58. COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO ....................................................................................................................... 177
59. EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZOES ........................................................................................................ 179
60. FAVORECIMENTO PESSOAL ................................................................................................................................... 181

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61. FAVORECIMENTO REAL ........................................................................................................................................ 182


62. EXERCÍCIO ARBITRÁRIO OU ABUSO DE PODER ......................................................................................................... 184
63. FUGA DE PESSOA PRESA OU SUBMETIDA A MEDIDA DE SEGURANÇA ........................................................................ 186
64. EVASÃO MEDIANTE VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA ................................................................................................... 188
65. ARREBATAMENTO DE PRESO................................................................................................................................. 190
66. MOTIM DE PRESOS ............................................................................................................................................. 191
67. PATROCÍNIO INFIEL ............................................................................................................................................. 192
68. PATROCÍNIO SIMULTÂNEO OU TERGIVERSAÇÃO...................................................................................................... 194
69. SONEGAÇÃO DE PAPEL OU OBJETO DE VALOR ......................................................................................................... 195
70. EXPLORAÇÃO DE PRESTÍGIO .................................................................................................................................. 196

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UNIDADE I- DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

1. Estupro

Estupro Art. 213 - Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência


ou grave ameaça: Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze anos:
Pena - reclusão de quatro a dez anos)
Pena - reclusão, de três a oito anos.
Pena - reclusão, de seis a dez anos.
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção
carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor
de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2o Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

Estupro etimologicamente vem de stuprum, prática de quaisquer relações carnais.


Quaisquer relações que vise desafogar o instinto sexual podem ser consideradas estupro quando
praticadas mediante violência ou grave ameaça.
Até 2009 somente a introdução do pênis na vagina era estupro (apenas a primeira parte
do art. 213). O legislador inseriu o que está no art. 214 também, revogado pela Lei 12.015/09.
O art. 213 juntou as duas figuras: introdução do pênis na vagina ou a prática de qualquer
ato libidinoso (ato que vise desafogar a lascívia, desde que praticado com violência ou grave-
ameaça).
Sem violência ou grave-ameaça não posso falar no estupro do art. 213. Em
determinadas situações posso falar em estupro de vulnerável porque a vítima não poderia
consentir... Mas, pacífico, não é possível se falar em estupro. No estupro é necessária a
violência ou grave-ameaça.
O que o legislador visa amparar e proteger nesta norma? Aqui teve uma mudança de
visão. Antes se protegia a mulher. Hoje se passou a proteger “alguém”: qualquer ser humano
nascido de mulher.

Lei n.° 12.015/2009


A Lei n.° 12.015/09 alterou o panorama acima explicado e reuniu, em um só tipo penal,
as condutas de conjunção carnal e de outras espécies de ato libidinoso.
Agora tanto faz: se o agente constrange a vítima (homem ou mulher) a praticar
conjunção carnal ou a realizar qualquer outro ato libidinoso, terá cometido o crime de estupro.

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O crime de atentado violento ao pudor foi transportado para dentro do delito de


estupro.

Objetivo jurídico: é liberdade sexual. As pessoas têm o direito de dispor do próprio


corpo como também a plena liberdade de escolha do parceiro sexual, para com ele, de forma
consensual, praticar a conjunção carnal ou outro ato libidinoso. Objeto material é a pessoa
constrangida, sobre a qual recai a conduta criminosa do agente.

Sujeito ativo: tanto o homem quanto a mulher. Saliente-se, no que tange à conjunção
carnal, que a mulher pode ser coautora ou participe de um homem. A Lei 12.015/2009
transformou o delito de estupro em crime comum, assim, o sujeito ativo pode ser qualquer
pessoa (homem ou mulher), uma vez que o tipo penal não mais exige nenhuma qualidade
especial do agente. Assim, é possível que haja estupro cometido por homem contra mulher,
homem contra homem, mulher contra homem e mulher contra mulher.
Na Lei anterior era possível que mulher estuprasse?! E toda doutrina vinha e dizia
“não”. Lembrem-se do exemplo que dei do F....: mulher botou o revólver na cabeça e deu três
viagras pra ele estuprar a Fulana... Ele foi e estuprou. Quem é o autor do fato? A coação moral
retira a conduta do F..... Portanto a mulher é autora! Ela também pode praticar estupro.
Na Lei atual quando o legislador colocou “alguém” ele permitiu que qualquer pessoa
pudesse ser vítima de estupro, tanto homem quanto mulher. Qualquer pessoa pode ser afetada
em sua dignidade sexual. E esse foi o parâmetro que modificou da Lei anterior para a atual.
Antes o legislador se preocupava mais com o que pensava a população do que com a própria
liberdade sexual da pessoa. Com os novos parâmetros trazidos pela Lei 12.015 a conotação de
dignidade está acima – é o conceito mais amplo do Direito Constitucional Brasileiro.
Aqui não se fala mais, por exemplo, como se falava na violação sexual mediante fraude,
em mulher honesta. Ela para o legislador penal não existe mais no Brasil. Mulher honesta é
aquela que não tem nenhum conhecimento sobre o sexo. Mas o legislador na Lei anterior
protegia a mulher virgem! Protegia-a contra promessas de casamento! Gente, hoje é a mulher
que não quer casar mais!
Antes a mulher era maculada: era quebrada sua resistência com promessa de
casamento. Sabe o que tinha na Lei anterior, mais absurdo? Sujeito estuprava a moça, mas
vinha na presença do delegado e dizia “estuprei, mas quero casar com ela”. O delegado
forçava a barra pro cara casar, com o pai da moça, e casavam. O que acontecia com o crime de
estupro? Extinguia a punibilidade. A mulher era violentada duas vezes: violentada ao ser

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massacrada sexualmente e violentada ao ser massacrada a ter que se casar. Um relacionamento


desses não pode dar certo – sujeito que foi violento com a mulher uma vez vai ser sempre! Ela
será vítima perene da violência doméstica/sexual.
Até pouco tempo o entendimento era 50% voltado à seguinte assertiva: marido não pode
estuprar a mulher porque o sexo faz parte do casamento, é obrigação da mulher satisfazer o
homem no casamento. E alguns questionavam: “ele pode usar de violência ou grave-ameaça
para satisfazer o instinto carnal?!”. 50% dizia que sim!
Hoje não só é possível o estupro do marido contra a mulher como ele é causa de
aumento de pena até a metade. Então o legislador, para acabar com esse paradigma, disse
taxativamente: o marido pode estuprar a esposa e quando o fizer está sujeito a uma pena metade
maior do que qualquer pessoa. Não só ele: pai, curador, etc.
97% dos estupros são praticados por pais, padrastos, avós e vizinhos. 3% só são por
pessoas desconhecidas. Lamentavelmente.
Prostituta pode ser forçada a praticar sexo com violência ou grave-ameaça?! Não.
Também será crime de estupro. Diz a doutrina: qualquer ser humano nascido de mulher tem
direito à liberdade sexual, sua dignidade no contexto sexual. Se você pode pagar por serviços
sexuais isso não significa que mediante pagamento você possa se utilizar de violência ou grave-
ameaça pra se satisfazer sexualmente.
No sexo violento consentido, a lesão grave sai da disponibilidade da vítima. Gosta de
dar bolacha?! Pega de leve. Um tapinha não dói, mas não apele!
O pederasta pode ser vítima de estupro?! Ninguém no mundo atual pode ser obrigado a
fazer sexo, hein?
É possível que um único homem estupre uma mulher? 50% da doutrina diz que sim.
Como você consegue penetrar uma mulher sozinho?! Estou dizendo o que a doutrina diz! Não
pensem no namorado de vocês, mas alguém fora do contexto. Naturalmente os homens são
mais fortes. Mas ainda supondo que o homem fosse um catatau e a mulher uma Maria-
Jamanta... Seria completamente inviável que uma mulher com mais força do que um homem
fosse estuprada? É totalmente inviável? (Surpresa já dá outro crime, art. 215).
Suponhamos que um integrante do PCC chegue ao lado de uma mulher, sua vizinha...
Ela sabe que ele é integrante do PCC... E diz: “Tira a carcinha que vô te pegá agora muié –
você sabe o que vai acontecer se não der pra mim”.
Fato verídico. A mulher era casada. Nem precisou de violência, mas seria inviável sem
a violência? Não. Ademais, a vítima pode ceder apenas pelo temor. Um homem pode

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evidentemente estuprar uma mulher, desde que... Imprescindível é que o sujeito tenha se
utilizado de violência ou grave-ameaça.
No caso de estupro de vulnerável nem violência ou grave-ameaça! Basta que a vítima
esteja doente, enferma ou, por qualquer motivo, não tenha a capacidade de resistir, como
ingestão de bebida alcoólica. Então naquelas festinhas, quando pegam menina bêbada, não
coloquem na internet, tá? Dá zebra. Aconteceu na FAAP em São Paulo.
A aluna de Direito saiu da UNAERP... Sentou no ponto de ônibus frente à Telha Norte.
Sujeito mal-encarado chegou perto dela, um rapaz negro, ela de minissaia... Tirou a calcinha e
falou pro cara: “Pode fazer”. O cara “crau” e foi embora. Estamos diante de um Fato-Típico?!
A menina cedeu por temor? Sim, cedeu. Mas só posso falar em estupro sem violência
ou grave-ameaça quando a vítima é vulnerável. Ela no caso podia ofertar resistência? Sim,
podia. Cedeu por temor, mas houve uma conduta anterior do sujeito que provocou esse temor?!
O fato da pessoa ser negra?!
Qualquer ser humano normal que tenha atração pelo sexo oposto, vendo uma mulher
bonita, bem-vestida, tirando a calcinha na frente dele e abrindo as pernas... O cara não ia?!
O que estou perguntando quando indago se uma pessoa pode ser subjetivamente
estuprada?! Ela no seu âmago interpreta que está sendo coagida quando não está. Foi o caso da
moça da UNAERP. Houve conduta anterior do sujeito que a obrigou a ter aquele
comportamento? Ou foi preconceito dela, pelo fato do sujeito ser negro, estar malvestido e não
ter dois dentes? Todo sujeito malvestido, negro e sem dente, é estuprador?!

Sujeito passivo: Igualmente o homem ou a mulher, pois a lei fala em constranger


alguém.

Tipo objetivo: O núcleo é constranger (força, compelir, obrigar) em primeira figura o


constrangimento visa à conjunção carnal (coito vaginal), sendo indiferente que a penetração
seja completa ou que haja ejaculação. Na segunda figura, o constrangimento visa praticar, ou
obrigar a vitima a permitir que com ela se pratique, “outro ato libidinoso” (diverso da
conjunção carnal).
São quatro os elementos que integram o delito:
 Constrangimento decorrente da violência física (vis corporalis) ou da grave
ameaça (vis compulsiva);
 Dirigido a qualquer pessoa, seja do sexo feminino ou masculino;
 Para ter conjunção carnal;

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 ou, ainda, para fazer com que a vítima pratique ou permita que com ela se
pratique qualquer ato libidinoso.
O estupro, consumado ou tentado, em qualquer de suas figuras (simples ou
qualificadas), é crime hediondo (Lei 8.072/90, art. 1º, V).
Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-
Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o);

É necessário, havendo violência ou grave-ameaça, ato de heroísmo da vítima?! O


exemplo do tapa... Sujeito que dá tapa na mulher para ter relações sexuais com ela: se ela disser
“não” e continuar insistindo no “não”, qual a probabilidade do que vai ocorrer posteriormente?!
Sujeito dá um tapa na mulher exigindo sexo...
Se a mulher ceder inicialmente eu posso falar em Fato Atípico? Que ela deveria resisti-
lo mais? É necessário ato de heroísmo da mulher? Evidente que não, pois o início de agressão
já traz incito nela (na agressão) que a resistência acarretará em mais agressão. Portanto a
mulher que cede num primeiro momento, ao ser agredida, ela também está sendo vitima de
estupro. Está sendo obrigada a praticar relação sexual com o temor do que possa advir daí. Não
é necessário ato de heroísmo (a mulher que resiste até o último momento). Ela pode resistir,
mas isso não é exigível.
Não sei se vocês viram ontem, uma turista americana estuprada no RJ. Teve roubo, teve
extorsão... Muito cuidado hoje em dia, está na moda esse negócio de cartão magnético. Qual o
crime, obrigar a pessoa a digitar a senha para retirar dinheiro? Extorsão. O que difere o roubo
de extorsão? Na extorsão é imprescindível o comportamento da vítima. Mas eu posso ter roubo
e extorsão no mesmo contexto causal? Estamos aqui pensando no caso do RJ. Crimes de
repercussão mundial caem na OAB. Nesse caso houve roubo e extorsão.
Houve sequestro?! Privaram a liberdade... Neste caso é sempre sequestro? Ou a
privação de liberdade funciona como causa de aumento de pena no roubo e na extorsão? O que
caracteriza o sequestro relâmpago, gente? A privação da liberdade para a prática da extorsão. O
que caracteriza o roubo circunstanciado pelo aumento de pena da privação da liberdade? O
sequestro ou cárcere privado para obtenção da vantagem patrimonial ou para escapar do cerco
policial. Quando tenho então sequestro de forma autônoma ao roubo ou extorsão?! Quando não
houver conexão entre a prática do crime anterior à privação de liberdade.
Se eu estou privando o sujeito da liberdade para obtenção da vantagem econômica, para
fugir do cerco policial... Dependendo das circunstâncias do caso concreto: ou roubo ou
extorsão.

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Quando tiver privação da liberdade para a prática de atos sexuais eu posso falar em
conexão entre o sequestro e o roubo ou extorsão? Não, ela é autônoma, portanto nesse caso eu
tenho estupro; tenho sequestro; tenho extorsão e tenho roubo. Qual é aí o concurso de crimes?!
Tive mais de uma conduta com mais de um resultado. Posso falar em Crime Continuado?!
Um dia foi um advogado fazer audiência e confundiu crime continuado com consunção
e conexão. Conseguiu! Vai estudar cara! Vai fazer audiência no JECRIM, 9.099... Leia a Lei,
pô! Vai gastar 10minutos.
A menina sentou, advogada indicada pela OAB, pra fazer o plantão... Ganha pra fazer
isso, hein... Sentou, perguntou: “O que vocês fazem aqui?!”. “Procedimento da Lei 9.099,
transação penal”. “O que é isso?”. “A gente faz proposta de pagamento de cestas básicas, de
valor pecuniário ou prestação de serviço pra pessoa se livrar do processo, mas no prazo de 05
anos ela não tem mais esse Direito”. Ela voltou a perguntar o significado disso. “É a barganha
como nos EUA, isto é, um modo de se livrar do procedimento desde que não se pratique outra
infração”.
Com isso a Lei quer prevenir a tomada de outros comportamentos iguais àquele. Mesmo
que o sujeito seja absolvido, aquilo consta em sua ficha pra sempre. Se alguém tirar sua FA
(Folha de Antecedentes) vai estar lá. Caso faça a transação nada constará. É muito melhor que
o sujeito pague uma prestação pecuniária ou serviço comunitário do que possa ser processado,
ainda que absolvido. “Explique aos seus clientes que é mais vantajoso”. E ela: “Melhor não,
prefiro não falar com bandido”. “O que tá fazendo aqui doutora?!”. “Ia trocar o plantão, mas
não deu tempo”. Olha o nível que chegamos... Uma coisa tão banal e corriqueira... Leia antes
pra não passar vergonha!
É possível falar em estupro sem violência ou grave-ameaça? Na forma do art. 213 não é
possível estupro sem violência ou grave-ameaça, mas é possível uma forma mais grave de
violência sexual sem violência ou grave-ameaça, na forma do art. 217-A (estudaremos depois).
Portanto é possível estupro sem violência ou grave-ameaça dependendo das condições
em que se encontrava a vítima. Se a vítima era doente, se era enferma ou não tinha por qualquer
circunstância capacidade de consentir, estupro de vulnerável. Fora desses parâmetros, se a
vítima não estava em nenhuma dessas situações, só posso ter estupro na forma do art. 213 com
violência ou grave ameaça. Sem a violência ou grave-ameaça não posso falar em estupro do art.
213, embora possa falar em infração mais grave se a vítima é menor, doente ou enferma ou não
tem capacidade de consentir.
Para constranger a vítima, pode o sujeito se valer da violência ou grave ameaça, que
são os meios de execução do crime de estupro, legalmente previstos no dispositivo legal em

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estudo. A fraude não é meio de execução do crime de estupro, caso em que o delito será o de
violação sexual mediante fraude . (CP, art. 215)

Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante
fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da
vítima: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de
2009)
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica,
aplica-se também multa. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Atentado ao pudor mediante fraude (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)

Violência – é o emprego de força física (vis absoluta) capaz de dificultar, paralisar ou


impossibilitar a real ou suposta capacidade de resistência da vítima, resultando em vias de fato
ou lesão corporal. Pode ser direta ou imediata quando empregada contra o titular do bem
jurídico tutelado, ou indireta ou mediata quando empregada a terceiros ligados à vítima por
relações de amizade e parentesco.

Grave ameaça – também denominada de violência moral (vis compulsiva) é a


promessa da prática de um mal a alguém, de acordo com a vontade do agente, consistente na
ação ou omissão, capaz de perturbar a liberdade psíquica e a tranqüilidade da vítima. O mal
grave (material, moral, econômico, profissional, familiar etc.) prometido na ameaça deve
ser certo (não vago), verossímil(passível de ocorrer), iminente (que está para ocorrer e não
previsto para um futuro longínquo) e inevitável (que o ameaçado não possa evitar). Não é
necessário que o agente tenha intenção ou efetiva condição para concretizar a ameaça (praticar
o mal prometido), basta que a ameaça seja séria, capaz de intimidar.
A ameaça também pode ser direta ou imediata quando dirigida contra a vítima, titular
do bem jurídico tutelado, ou indireta ou mediata quando dirigida a terceiros ligados à vítima
por relações de amizade e parentesco.

No estupro há duas figuras típicas ungidas numa só. A prática da conjunção carnal e
“outro ato libidinoso diverso da conjunção carnal” (qualquer outro ato, desde que praticado
com violência ou grave-ameaça, que tenha repercussão de desafogar o instinto sexual).

 Conjunção carnal é a cópula vagínica, ou seja, o relacionamento sexual


normal entre homem e mulher, com a penetração completa ou incompleta do
pênis na vagina, com ou sem ejaculação.

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 Ato libidinoso é aquele que visa ao prazer sexual, com exceção da conjunção
carnal, tais como a masturbação, os toques íntimos, a introdução de dedos ou
objetos na vagina, o sexo oral, o sexo anal etc.

Os três maiores estão ali: a penetração anal, o sexo oral e a masturbação.

A masturbação, gente, é sempre considerada estupro?! Depende. Do quê?! Quando a


masturbação pode ser considerada estupro?! Ela por si só normalmente é ato obsceno.
Sempre? Também não. Quando há possibilidade de visão do ato e aquilo possa ferir o pudor
médio. Sujeito se masturbar no meio da Avenida Paulista.

Quando a masturbação pode ser considerada estupro?!

O constranger não é obrigar, forçar?! Como poderia obrigar alguém a se masturbar? Ou


não poderia? Agrido a vítima para que se masturbe; ou agrido ela para que me masturbe. A
própria pessoa se masturbar sem violência ou grave-ameaça não é estupro. Poderá caracterizar
ato obsceno se possível visualizar, pois fere a moralidade pública.

Para que eu possa falar em estupro é necessário contato físico?!

Isso é importante. Obriga-se a violência ou grave-ameaça; é necessário ao menos duas


pessoas envolvidas... É necessário contato físico?! É necessário desnudar a vítima?! São
perguntas idiotas, mas caem na OAB.

A vítima precisa ser despida? Tocada? Nenhuma das duas hipóteses! Posso praticar ato
libidinoso diverso da conjunção carnal sem penetrar a vítima. Coloco meu pênis pra fora e a
obrigo a fazer uma chupetinha. É necessário contato físico? Também não. Exemplo: coloca
um revólver na cabeça do F... e digo “penetre o Liberal”. Eu, autor do fato, estou tendo
contato físico com o F... ou com o prof. Liberal? Isso quer dizer que eu não pratiquei estupro?
Certo que não, contato físico não é necessário assim como desnudar a vítima não é necessário.

Duas perguntas pra responder todas as questões: teve violência ou grave-ameaça? O


ato em si teve conotação sexual? Sim e sim? Estupro! Exceto se a pessoa for vulnerável.

A vítima sequer precisa entender o caráter sexual do fato. O autor tem que ter sempre
inserido em seu dolo desafogar o instinto sexual?! Sempre?

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Eu e o F... fomos presos na mesma cela. O F... do PCC e eu da AA (Amigos dos


Amigos). Inimigos mortais. Para vingar o grupo do F... eu o obrigo a manter relação anal
comigo. Não quero satisfazer desejo sexual, mas humilhar meu adversário. Que crime
pratiquei? Se pensarmos que a satisfação do desejo sexual tem que integrar o dolo não
poderíamos falar em estupro nessas hipóteses. Não é necessário que o autor tenha por objetivo
satisfazer o instinto sexual.

Posso praticar o estupro por palavras?!

Chego aqui e falo um monte de coisa indecorosa para algumas das meninas. Isto
caracteriza estupro?! Para caracterizar estupro: violência ou grave ameaça. Xingamento pode
caracterizar crime contra a honra, importunação ofensiva ao pudor, mas não caracteriza
estupro. Indagando se é possível estupro por palavras, a resposta é sempre NÃO.

O beliscão poderia ser considerado estupro? É um detalhe interessante... Em regra um


beliscão pode ter conotação sexual? Na bunda, no mamilo... Inevitável que alguns fiquem
excitados com a aula. Em regra um beliscão na bunda seria considerado estupro?!

Suponhamos que determinado aluno de outro ano tenha dado beliscão na bunda de uma
menina no corredor: isso caracterizaria estupro?! Claro que falamos de estupro na segunda
modalidade, pois a primeira é conjunção carnal e isso não tem. Então o Aurélio deu um
beliscão na bunda de alguém no corredor: isso caracteriza estupro?! Em regra, gente, isso
caracterizaria estupro de vulnerável! Por quê? Peguei a vítima de surpresa! Ela passou no
corredor. Aproveitei-me do fato de não ofertar defesa para dar um beliscão. Você equiparia
um beliscão com uma penetração. Qual dos dois é mais grave? A penetração. O que o
legislador passou a interpretar? Apesar de que nos termos da Lei eu pudesse considerar
“estupro de vulnerável”, o beliscão para a Lei é “importunação ofensiva ao pudor”, descrito no
art. 61 da Lei de Contravenções Penais (mero delito anão).

O beijo pode ser considerado estupro?

“Se o beliscão não pode , o beijo também não pode!”. É assim? Depende do local do
beijo. Um beijo na vagina, à força: alguém tem dúvida em dizer que é estupro?! Ou um beijo
na bunda?

Vamos passar por tudo, há... Um beijo no seio à força? Estupro. Um beijo no cangote,
forçado? Um beijo na boca, com violência ou grave-ameaça, pode ser considerado estupro?!
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Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres
DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP

As duas indagações pra matar quaisquer questões: houve violência ou grave-ameaça e


o ato em si tem caráter ou conotação sexual? E aí vem o “porém”...

A jurisprudência faz uma distinção. O beijo pode ser considerado estupro desde que se
trate de beijo lascivo. Uma bicotinha em alguém, mesmo que à força, você não pode falar em
estupro, mas em importunação ofensiva ao pudor. Se lascivo pode, sim, ser considerado
estupro. Lascivo: beijo mais quente. O que pode ser considerado lascivo? Primeiro: um beijo
demorado. Segundo: seguido de carícia. Terceiro: que seja molhado. Quem diz isso é a
jurisprudência.

O beijo, pra ser considerado lascivo, requer apenas o uso de língua. O beijo

1) de língua,
2) molhado,
3) prolongado OU
4) seguido de carícia, é considerado lascivo.

O beijo lascivo é considerado estupro. A bicotinha, sem lascividade, é considerada


importunação ofensiva ao pudor. Qualquer uma das três características, segundo a
jurisprudência, tem conotação sexual.

Evidentemente que falamos do beijo de língua do sujeito ativo, pois se a vítima colocar
a língua ela tá gostando, tem alguma coisa errada (a não ser que o cara a force a pôr a língua
também).

Do ponto de vista prático quase tudo é classificado como importunação ofensiva ao


pudor. O beijo, gente, pode ser considerado quando cometido com violência ou grave-ameaça,
estupro. Desde que tenha conotação de satisfazer o instinto sexual. Mera bicota, beijo não
prolongado, que não se use a língua, é mera importunação ao pudor e não estupro.

Entendemos que o beijo na boca, ainda que “roubado”, jamais poderá caracterizar ato
libidinoso. Nesse caso, o crime poderá ser de constrangimento ilegal (CP, art. 146), ou a
contravenção penal de importunação ofensiva ao pudor (LCP, art. 61), sob pena de ferir o
princípio da proporcionalidade ao entender que o ato de tomar à força um beijo na boca de
outrem possa ser considerado e punido severamente como crime hediondo.

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Para configurar o estupro é necessário o dissenso (não consentimento) sincero e


positivo da vítima durante todo o ato sexual, ou seja, uma reação efetiva à vontade do agente
de com ele ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ela se pratique outro ato
libidinoso.
Assim, não há falar-se em estupro quando a negativa não é sincera, ou se a vítima de
início resistiu, mas, iniciada a conduta, consentiu o contato sexual. Para comprovar o dissenso
não se exige que a vítima pratique atos heróicos.
Na lição de Cesar Roberto Bitencourt, “não é necessário que se esgote toda a
capacidade de resistência da vítima, a ponto de colocar em risco a própria vida, para
reconhecer a violência ou grave ameaça”. Tratando-se de vítimas vulneráveis, com ou sem o
seu consentimento, o crime será o de estupro de vulnerável.
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14
(catorze) anos

São duas as formas, por parte da vítima, de cometer o estupro:


 praticar – é o caso em que a vítima tem participação ativa, ou seja, é ela quem
pratica o ato libidinoso;

 permitir que se pratique– sugere atitude passiva da vítima, a qual é obrigada a


suportar a conduta do agente. Não é necessário que haja contato físico entre o
autor do constrangimento e a vítima. O agente pode, por exemplo, obrigá-la a
se masturbar diante dele, sem tocá-la em momento algum.

Essas duas formas de cometer o delito resultam em três condutas típicas:


a) Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção
carnal : a vítima é obrigada a ter conjunção carnal com o agente em uma relação
exclusivamente heterossexual (entre vítima mulher e agente homem ou vítima homem e
agente mulher);

b) Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar outro ato


libidinoso : nessa hipótese a relação pode ser heterossexual ou homossexual, onde a vítima
(homem ou mulher) desempenha um papel ativo, pois ela pratica algum ato libidinoso diverso
da conjunção carnal nela própria (exemplo: automasturbação) ou em terceiro (exemplo:
felação);

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Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres
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c) Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a permitir que com


ele se pratique outro ato libidinoso : nessa hipótese a relação pode também ser heterossexual
ou homossexual, mas o papel da vítima é exclusivamente passivo, pois permite que nela se
pratique um ato libidinoso diverso da conjunção carnal (exemplos: sexo anal e cunnilingus).
Na prática de atos libidinosos a vítima pode desempenhar, simultaneamente, papéis
ativo e passivo. É o que ocorre, por exemplo, na conjunção entre a felação e o cunnilingus,
onde a mulher simultaneamente realiza sexo oral no homem e dele suporta em seu corpo ato
de igual natureza.
Não há estupro, em razão da ausência de tipicidade, o fato de o agente constranger
alguém a presenciar ou assistir a uma conjunção carnal ou outro ato libidinoso. Nesse caso, se
a vítima tem idade igual ou superior a 14 anos, o crime é de constrangimento ilegal (CP,
art. 146). Tratando-se de vítima menor de 14 anos, o crime poderá ser o de satisfação de
lascívia mediante presença de criança ou adolescente.
Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo
a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia
própria ou de outrem:

O crime de estupro, em regra, é praticado de forma comissiva (decorrente de uma ação


positiva do agente), mas, excepcionalmente, pode ser praticado de forma comissiva por
omissão (quando o resultado deveria ser impedido pelos garantes art. 13, § 2º,
Art. 13§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir
para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:

Como, por exemplo, no caso do carcereiro que, ciente da intenção dos demais detentos,
nada faz para impedir que estes estuprem um companheiro de sela.

Tipo subjetivo: O dolo elemento subjetivo do tipo, que é o especial fim de agir (para ter
conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso). Na doutrina tradicional é o “dolo
especifico”. Não há forma de culpa.

Consumação: em outras palavras, consuma-se com a introdução, parcial, ou não, do


pênis na vagina, ou seja, dá com a sua prática. O estupro é crime material, que só se consuma
com a produção do resultado naturalístico, consistente na conjunção carnal ou outro ato
libidinoso. Com a efetiva pratica do ato constrangedor, independentemente da obtenção da
vantagem ou favorecimento sexual. Trata-se, pois de crime formal.

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Consuma-se, portanto, após o constrangimento da vítima, mediante violência ou grave


ameaça:
 na hipótese de conjunção carnal – no momento da penetração completa ou
incompleta do pênis na vagina, com ou sem ejaculação;

 na hipótese de outro ato libidinoso – no momento em que a vítima pratica em si


mesma, no agente ou em terceira pessoa algum ato libidinoso (exemplos:
masturbação, sexo oral etc.), ou no instante em que alguém atua
libidinosamente sobre seu corpo (exemplos: toques íntimos, sexo anal etc.).

A prática de mais de um ato libidinoso, no mesmo contexto fático e com a mesma


vítima, importará em crime único, mas deverá ser levado em conta pelo juiz na dosimetria da
pena.
Tentativa: é possível por se tratar de crime plurissubsistente (costuma se realizar por
meio de vários atos), permitindo o fracionamento do iter criminis. Entretanto, diante do caso
concreto, é necessário que o intérprete da lei penal faça a seguinte distinção pela análise do
dolo do agente:
a)Tentativa de estupro, quando o agente visa à conjunção carnal, mas não alcança o
resultado por circunstâncias alheias à sua vontade. Ocorre quando, iniciada a execução com o
constrangimento da vítima, mediante violência ou grave ameaça, mesmo depois de realizar
outros atos libidinosos que configurem prelúdio da cópula vagínica, ficando, porém,
caracterizada a tentativa de estupro porque o agente não alcançou o resultado desejado
(conjunção carnal);

b) Tentativa de estupro, quando o agente visa apenas outro ato libidinoso, mas não o
alcança por circunstâncias alheias à sua vontade. Ocorre quando, iniciada a execução com o
constrangimento da vítima, mediante violência ou grave ameaça, mesmo sem a realização de
qualquer ato libidinoso, caracterizando a tentativa de estupro porque o agente não alcançou o
resultado desejado (outro ato libidinoso).
Entendemos que essa é a melhor solução em relação à tentativa do delito, mesmo
reconhecendo o seguinte contra-senso: se o agente realiza qualquer ato libidinoso como
prelúdio da conjunção carnal não alcançada, responde por tentativa de estupro; mas, se realiza
qualquer outro ato libidinoso, quando não visa à conjunção carnal, responde por estupro
consumado.

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Crime continuado: com há reforma permitiu que existisse sim o crime continuado.

Concurso com outros crimes: pode haver concurso com os crimes de aro obsceno (CP,
art. 233) e perigo de contágio venéreo (CP, art.130). Caso haja de fato transmissão de doença
sexual do agente para a vitima, ver art. 234-A, IV, do CP (causa de aumento de pena). As
lesões corporais leves são absorvidas, mas as graves configuram a figura qualificada do §1º,
primeira parte, deste art. 213.
A lei vigente fez surgir uma polêmica doutrinária a respeito da natureza jurídica do
crime de estupro (CP, art. 213), ou seja, o crime passou a ser um tipo misto
alternativo (existem vários verbos que definem as hipóteses de realização do mesmo fato
delituoso, ou seja, há crime único), ou trata-se de tipo misto cumulativo (existem vários verbos
que definem unidades distintas do delito, ou seja, são crimes praticados em concurso), que têm
conseqüências jurídicas distintas.
Se o agente pratica vários estupros contra a mesma vítima em ocasiões distintas, se
preenchidos os demais requisitos legais, é possível reconhecer a continuidade delitiva (sistema
da exasperação).
Ausentes esses requisitos, o agente deverá responder pelos crimes de estupro em
concurso material (soma da penas)
Se eu tinha dois crimes e o legislador transformou em um, o que acontece com aqueles
presos por dois crimes?! A pena foi reduzida pela metade. Apesar do legislador vir a público e
dizer “Estamos combatendo os crimes contra a dignidade sexual, aumentando a pena”... É
verdade, mas o que adianta fazer isso ungindo as duas figuras? Todos presos pelos dois crimes
tiveram revisão da pena e saíram com metade do cumprimento da pena.
Tivemos o maníaco de Brasília. Tinha matado três. Depois matou mais dezessete
porque sua pena foi reduzida à metade.
A figura atual é retroativa ou irretroativa?!
Quando a Lei Penal nova retroage? Pra beneficiar o réu. Eu posso falar que os crimes
contra a dignidade sexual nunca retroagem?! Quando beneficia, quando não beneficia?!
Eu posso dizer, a priori, que sempre retroage? Ou que nunca retroage? Olha a salada
que o legislador fez... Eu tenho que analisar cada um dos casos concretos de per si. Às vezes
vai retroagir, às vezes não! Olha o trabalho que vai dar. E eu posso ter crimes que ocorreram
antes do advento da Lei? Antes do advento qual Lei eu aplico? 12.015/2009 ou a Lei
anterior?!

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Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres
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Quando a Lei Penal retroage?! Quando em benefício do réu. Sempre vai ser a Lei Nova
menos grave do que a Lei anterior? Não. Vou ter que considerar cada um dos casos de per si.
Se o sujeito tinha praticado estupro e atentado violento ao pudor, e agora estão no mesmo
Tipo-Penal, qual a Lei menos-grave? A nova! Portanto ela retroage!
Se o cara só cometeu estupro qual a Lei mais grave?! A atual. Então ela não retroage!
Olha que absurdo!
E, mais: Ação Penal... Posso falar em retroatividade e irretroatividade? O crime foi
praticado antes do advento da Lei 12.015: qual a Ação Penal? Eu posso fazer... Que a Lei
Penal atual, a nova redação do art. 12.015... Retroaja nesse caso? Não. O que é melhor para o
réu? O fato de só a vítima poder ingressar com AP ou o fato de ela representar para que o MP
ingresse com Ação Penal? A vítima, portanto não será retroativa. Então pontos da Lei são
retroativos e outros pontos não são retroativos. O que eu tenho que indagar pra saber o que
retroage e o que não retroage? Tudo para beneficiar o réu retroage; para prejudicar não
retroage.
Às vezes o réu praticou duas condutas, penetrou a cavidade vaginal da vítima e
penetrou seu ânus... Na Lei anterior o que seria? Estupro e atentado violento ao pudor em
concurso material, pois não são crimes da mesma espécie. A pena era dobrada. Na Lei atual as
duas figuras estão no mesmo tipo, com a pena menor (a somada lá seria maior). Retroage?
Não. Então o sujeito só penetrou a cavidade vaginal antes do advento da Lei atual... Qual é
mais benéfica? A pena anterior de apenas um dos crimes era menor na Lei anterior... A Lei
pode retroagir? A Lei atual é mais grave que a Lei anterior que só houve penetração do pênis
na cavidade vaginal. Essa Lei pode abranger situações anteriores ao advento da Lei? Não
pode. Então tenho que analisar cada caso de per si pra saber se a Lei retroage ou não. Lei
muito mal elaborada.
O legislador queria punir com mais severidade as condutas atuais, mas quando faz as
coisas sem se aprofundar nas pesquisas, e a Lei sai da esfera de volitividade do legislador, ela
entra na nossa esfera de volitividade (interpretação). Qual a única interpretação a fazer quando
há dúvida? Aquela que mais beneficia o réu. Qual a que mais beneficia o réu? Aquela que
interpreta que dois tipos penais colocados no mesmo tipo passam a integrar uma única
conduta. Senão teríamos que falar... Vamos pensar num delito mais simples... Como posso
participar num suicídio? De três formas: induzimento, instigação e auxílio secundário
material.
F.... nunca pensou em se matar, coloquei aquilo na sua cabeça, mas mesmo assim ele
não se matou. Aumentei essa vontade, instiguei o tempo inteiro para que ele se matasse, e

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mesmo assim não se matou. Dei a arma para ele se matar, aí ele se matou finalmente. Pratiquei
as três condutas do art. 122. Cometi um único crime ou três? Cometi um único crime. Por quê?
Crime de Ação Múltipla ou Conteúdo Variado. O que o legislador fez aqui? A mesma coisa.
Por erro?! Não importa. Na dúvida só posso interpretar em favor do réu. Portanto o Tipo-Penal
aqui, a tendência é que seja considerado Alternativo e não o Cumulativo.
Cumulativo é aquele tipo que permite que quando praticada as duas condutas dentro do
mesmo Tipo você responda por dois crimes. Não é o caso aqui, até porque o legislador se
utilizou de um verbo só: “constranger”... Quer dizer, obrigar, forçar.

Concurso de pessoas: pode haver coautoria ou participação (moral ou material). Na


hipótese de conjunção carnal, o homem poderá ter como coautor ou participe uma mulher.
Pena: Reclusão, de seis a dez anos.

Ação Penal : Sempre lembrando que a Ação Penal nos crimes contra a dignidade sexual
passou a ser, em regra, condicionada à representação, exceto se a vítima for menor ou não
puder consentir.
Na regra anterior era Ação Penal Privada: a vítima é quem tinha que entrar com a Ação.
O legislador fazia isso porque tinha em mente não a dignidade ou liberdade sexual, mas a
moralidade pública. A mulher podia não optar levar o fato ao conhecimento das autoridades. Só
o fato de dar a notícia, segundo o legislador antigo, já era uma condenação à mulher, afetava
sua moralidade, passava a ser dentro da sociedade uma vítima de estupro. Hoje a regra é Ação
Penal Pública Condicionada à Representação: depende da manifestação de vontade da vítima,
mas não é ela que ingressa com a Ação Penal; e ela não pode desistir da Ação Penal: não pode
mais casar com o réu pra apagar tudo. Passamos a ter agora uma visão da dignidade da pessoa
humana na livre manifestação do pensamento sexual, ao contrário da Lei anterior, em que se
dava maior status à moralidade pública. A partir da Lei 12.015/99 passou-se a valorizar a
integral dignidade do ser humano com vistas à manifestação da vontade sexual; a pena
liberdade do indivíduo no que tange aos atos sexuais.

Figura qualificadora: Se da conduta do agente resulta lesão corporal de natureza


grave, ou se a vitima é menor de 18 anos e maior de 14 anos, independente, neste caso, da
violência sexual ter ocasionado lesão corporal grave (CP, art. 129, §§1º e 2º).
Há estupro qualificado no parágrafo único do art. 213 quando a vítima é menor de 18
anos E/OU maior de 14. Olha a cagada do legislador, gente...

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Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres
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Isso é possível?! E veja que fazem aqui interpretação extensiva contra o réu corrigindo
equívoco. Não poderia! Olha o que fala: a pena é mais alta se a vítima é menor de 18 e maior e
14. Ele deveria dizer: “se a vítima tem entre 14 e 18 anos”. Pois se ela é menor de 14 não pode
consentir e não pode ter duas idades ao mesmo tempo. Estão interpretando como conjunção o
que não era.
E a segunda parte traz a qualificação pelo resultado. Vocês notarão que a pena é igual
ao homicídio qualificado quando do ato em si resulte lesão corporal de natureza grave ou
morte.
O resultado aqui pode ser doloso ou só pode ser preter doloso?! O resultado deve advir
de culpa ou o resultado pode advir de dolo? Eu posso querer matar a vítima durante o ato
sexual? Se matar a vítima durante o ato sexual respondo por estupro qualificado pelo resultado
ou respondo por estupro simples e mais homicídio?!
A redação é péssima.
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor
de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2o Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

O que o legislador fez de diferente aqui, por exemplo, com relação ao roubo? No roubo
diz ele “se da violência resulta morte”. O que disse aqui? “Se da conduta”. Então incluiu o quê
aqui? A grave-ameaça. Não está incluída lá no roubo, está incluída aqui.
A pena, 12-30 anos, é idêntica ao homicídio qualificado por conexão teleológica
(quando se tem por finalidade). Você mata para estuprar... Aqui é o caminho inverso, você
estupra e mata.
Advindo o resultado por dolo, continuo podendo falar em estupro? Ao agredir a vítima
eu exagerei e por culpa matei... Aí ninguém vai ter dúvida: praeter dolo, estupro qualificado
pelo resultado-morte. Mas suponhamos que eu queira matar a vítima durante o ato sexual... Por
qual crime respondo? Mudemos um pouco: mato a vítima porque estuprei! Mudou alguma
coisa?!
Estuprei a vítima. Terminado o estupro... Na 1ª modalidade, com conjunção carnal,
penetrei a cavidade vaginal da vítima... Terminei o ato em si, coloquei minha roupa, dei dois
passos pra ir embora, pensei “Ela vai contar”, voltei e matei. Mudou alguma coisa?
Aqui, durante o ato sexual, matei a vítima. “Durante”, pois só teria prazer sexual
matando a vítima. Segunda hipótese... Terminei o estupro... Pensei: “Ela pode me delatar”.
Volto e mato a vítima. Mudou alguma coisa? Sim, mudou. Na primeira a morte tem conexão

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com o estupro (estupro qualificado por resultado morte). Na segunda hipótese matei a vítima
depois de consumado o estupro: estupro simples com homicídio qualificado.
O que tenho que indagar pra aplicar a qualificadora? Houve conexão do resultado com a
prática da violência ou grave-ameaça? Ou estupro qualificado pelo resultado? Não era mais
possível a conexão... Eu já tinha consumado o estupro e resolvi matar a vítima porque eu tinha
estuprado, pra garantir a impunidade e ocultação do crime anterior, aí não posso falar mais em
estupro qualificado pelo resultado. Falo em estupro mais homicídio qualificado pela conexão
consequencial: a morte foi consequência da prática de um crime anterior que eu pratiquei.
O resultado morte com culpa... Bati demais na vítima e por isso provoquei
culposamente o resultado... Preter dolo se enquadra sempre. Aqui o dolo é que às vezes não se
enquadra. Quando vai se enquadrar? Eu quero matar a vítima... Se eu quero matar a vítima, mas
a morte teve conexão, foi desdobramento causal do estupro: estupro qualificado pelo resultado-
morte. Quando não há mais desdobramento causal já cessei minha conduta. Já estuprei a vítima
e resolvi matá-la pra não contar que fui eu: há conexão entre estupro e resultado-morte? Não.
Sujeito responde por estupro mais homicídio qualificado pela conexão consequencial.
Suponhamos que a morte tenha decorrido por culpa da grave-ameaça: eu posso punir?
Isso é possível? Sim, é. Já tive caso assim. A vítima morreu de susto! Sujeito falou pra ela: “Ou
você dá pra mim ou eu te mato” – ela teve uma síncope cardíaca e morreu. O resultado adveio
da tentativa de estupro. Tenho conexão com o que o sujeito fez e o resultado? Sim, tenho.
Então tentativa de estupro qualificada pelo resultado. Por que não posso falar em estupro
consumado? Ele forçou a vítima... Quando a vítima tirou a roupa, ela teve uma síncope
cardíaca... Supondo que ele apenas exigiu o ato sexual... E a vítima morreu em decorrência da
grave-ameaça... Estupro qualificado pelo resultado só ocorreria se tivesse a penetração ou
qualquer ato libidinoso diverso da conjunção carnal. Não tive aí, mas o sujeito tentou? Sim,
tentou. Por que não obteve? Por circunstâncias alheias à sua vontade dado que a vítima faleceu
em decorrência da grave-ameaça: tentativa de estupro qualificado pelo resultado .

Se ocorrerem as duas circunstancias, uma qualificara o crime, e a outra será valorada no


calculo da pena. Pena: reclusão, de oito a doze anos. E se do estupro resulta morte da vitima .

a) Estupro qualificado pela lesão corporal de natureza grave (§ 1º, primeira parte)
Enquanto o estupro simples (tipo básico) tem pena de reclusão de 6 a 10 anos, o estupro
qualificado pela lesão corporal de natureza grave tem pena de reclusão de 8 a 12 anos.

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A expressão lesão corporal de natureza grave foi utilizada em sentido amplo, ou seja,
abrange as lesões corporais graves e gravíssimas (CP, art. 129, §§ 1º e 2º). Eventuais lesões
corporais leves, ou mera contravenção de vias de fato, decorrentes da violência empregada
pelo agente ficam absorvidas pelo crime-fim (estupro).
Essa qualificadora é exclusivamente preterdolosa, ou seja, pressupõe que haja dolo no
estupro e culpa em relação ao resultado lesão grave. Assim, se ficar demonstrado que houve
dolo (direito ou eventual) também em relação à lesão corporal, o agente responde por estupro
simples em concurso material com a lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, conforme
o caso.

b) Estupro qualificado pela idade da vítima (§ 1º, última parte) – Com a mesma
pena prevista para a qualificadora anterior, o estupro é qualificado se a vítima é menor de 18 e
maior de 14 anos. Se a vítima for menor de 14 anos, o crime é de estupro de vulnerável (CP,
art. 217-A), independentemente do emprego da violência ou grave ameaça.
Existe uma injustificável lacuna no texto legal em relação à vítima que é estuprada no
dia do seu 14º aniversário, isto porque no estupro de vulnerável a vítima é menor de 14 anos, e
no estupro qualificado pela idade, a vítima é maior de 14 e menor de 18 anos. Então, nesse
caso, qual seria a melhor solução?

Entendemos que se o estupro é cometido no dia do 14º aniversário da vítima, o agente


deve responder por estupro qualificado pela idade da vítima (CP, art. 213, § 1º, última parte)
pelos seguintes motivos:
1) a caracterização de estupro simples deve, desde logo, ser afastada, caso contrário, o
agente seria punido menos severamente do que se o crime ocorresse no dia seguinte;
2) não seria também estupro de vulnerável, visto que a lei exige que a vítima seja
menor de 14 anos;
3) o aniversário é comemorado no mesmo dia e mês em que a vítima nasceu, porém,
matematicamente, a vítima completa a quantidade de anos exatamente no dia anterior ao seu
aniversário, como, por exemplo, quem nasce em 1º de janeiro completa a quantidade de anos
no dia 31 de dezembro, embora o aniversário seja comemorado no dia seguinte.

c) Estupro qualificado pela morte (§ 2º) – Enquanto o estupro simples (tipo básico)
tem pena de reclusão de 6 a 10 anos, o estupro qualificado pela morte tem pena de reclusão de
12 a 30 anos.

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Essa qualificadora também é exclusivamente preterdolosa, ou seja, pressupõe que haja


dolo no estupro e culpa em relação ao resultado morte. Assim, se houver dolo (direto ou
eventual) também em relação à morte, o agente responde por estupro simples em concurso
material com o homicídio qualificado.

Se a vítima é menor de 18 e maior de 14 anos, e falecer em decorrência do estupro,


incidirá somente a qualificadora em estudo (CP, art. 213, § 2º), que importa na absorção da
qualificadora em razão da idade da vítima (CP, art. 213, § 1º, última parte), devendo, porém,
essa circunstância ser levada em conta pelo juiz na dosimetria da pena.

Pena: Reclusão. De doze a trinta anos.

Causas de aumento de pena


Com o advento da Lei 12.015/2009, por equívoco do legislador, passaram a existir dois
Capítulos com mesma denominação “Disposições Gerais” no Título dos crimes contra a
dignidade sexual. São os Capítulos IV e VII que contém causas de aumento de pena aplicáveis
ao estupro e aos demais crimes de natureza sexual, respectivamente nos arts. 226 e 234-A,
do Código Penal, a saber:
a) Aumento de quarta parte, se o crime é cometido em concurso de duas ou mais
pessoas (CP, art. 226, I)– Esse aumento de pena tem fundamento na maior facilidade obtida
pelo agente no emprego dos meios de execução do deleito. A coparticipação de duas ou mais
pessoas no proceder dirigido à violação da dignidade sexual, sem dúvida, facilita a subjugação
do ofendido.

b) Aumento de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão,


cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor (aquele que ministra educação
individualizada) ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre
ela (CP, art. 226, II)– A pena maior se justifica em razão de o agente ter algum tipo de
parentesco, de relação próxima, de ser empregador, ou exercer por qualquer outro título
autoridade sobre a vítima. Exemplo: professor particular de natação que constrange sua aluna,
mediante violência ou grave ameaça, a praticar ato libidinoso.
Aplicando a causa de aumento em estudo, evidentemente não pode ser aplicada a
agravante genérica que se refere a crime cometido contra descendente, irmão ou cônjuge (CP,
art. 61, II, e), para não incidir no bis in idem (incidência duas vezes sobre a mesma coisa), pois
o fato já é considerado como a causa especial de aumento de pena, em estudo.
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c) Aumento de metade, se o crime resultar gravidez (CP, art. 234-A, III)– Esse
aumento de pena se justifica pelo fato do crime ofender a dignidade sexual e ainda resultar em
uma gravidez indesejada. Entretanto, observa-se que não se pune o aborto praticado por
médico, quando precedido do consentimento da gestante, e se a gravidez resulta de estupro
(CP, art. 128, II).

d) Aumento de um sexto até metade, se o agente transmite à vítima doença


sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador (CP, art. 234-A, IV)–
Esse aumento de pena incide quando o sujeito, agindo com dolo direto (sabe) ou eventual
(deve saber), contamina a vítima por meio do contato sexual. A exasperante exige o efetivo
contágio, diversamente dos crimes de perigo (CP, arts. 130 e 131) que se consumam
independentemente da transmissão da moléstia.
É possível que no mesmo caso concreto incida mais de uma causa de aumento de pena.
O estupro, por exemplo, pode ser cometido por duas ou mais pessoas e também resultar em
gravidez e transmissão de moléstia venérea. Nesse caso, pode o juiz limitar-se a uma só causa
de aumento de pena, desde que opte pela maior (CP, art. 68, parágrafo único).

2. Atentado violento ao pudor

Atentado violento ao pudor Revogado pela Lei nº 12.015, de 07.08.09


Art. 214 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou
permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal:
Parágrafo único. Se o ofendido é menor de catorze anos:
Pena - reclusão de três a nove anos
Pena - reclusão de dois a sete anos.
Pena - reclusão, de seis a dez anos.

O art. 214 nós pularemos porque... Ele não existe mais! Foi revogado. Era o Ato
Libidinoso diverso da conjunção carnal. A partir da Lei 12015/09 o legislador uniu as duas
figuras. Tipo-Penal, então, cumulativo ou alternativo?! Tem só um verbo (constranger) e duas
ramificações.

3. Violência Sexual mediante fraude

“Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém,
mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de
vontade da vítima:

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Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.


Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica,
aplica-se também multa.”

Esse crime, por meio da Lei 12.015/2009, veio a substituir o antigo delito de posse
sexual mediante fraude.
Chamado pela doutrina de estelionato sexual, distingue-se o crime de violação sexual
mediante fraude do estupro, porque naquele não há constrangimento empregado pelo agente
mediante violência ou grave ameaça, enquanto neste, o agente utiliza-se de métodos ardilosos
que viciam a vontade da vítima, induzindo-a em erro, burlando o seu consentimento, fazendo
com que tenha o seu exercício de livre liberdade sexual viciado.
Observe-se, então que, embora o nomen juris do crime seja violação sexual mediante
fraude, qualquer meio (e não só a fraude) que impeça ou dificulte a livre manifestação de
vontade da vítima é apto para configurar esse delito. Ou seja, é cabível interpretação analógica
nesse caso.
O art. 215 do CP também sofreu relevantes alterações. Inicialmente, a Lei nº
11.106/2005, já havia retirado do tipo penal a controversa expressão “mulher honesta”, que
figurava com sujeito passivo do tipo penal. Não obstante, a Lei nº 12.015/2009 condensou os
antigos tipos penais previstos nos arts. 215 (Posse Sexual Mediante Fraude) e 216 (Atentado
Violento ao Pudor Mediante Fraude) em um só delito, revogando o art. 216 e dando a rubrica
“Violência Sexual Mediante Fraude” ao art. 215 do CP. 1.

Bem Jurídico Tutelado: a liberdade sexual.

Sujeito Ativo: tanto o homem quanto a mulher


Sujeito Passivo: Igualmente, o homem e a mulher, em face da expressão “com
alguém”,, ou seja, tanto faz mulher, quanto homem a vítima do crime. É irrelevante a condição
pessoal da vítima, pode ser, inclusive, prostituta, sendo que o Código protege a liberdade sexual
da pessoa no referido artigo, e não a sua decência ou pudor.
Estão excluídos de ser sujeitos passivos os menores de 14 anos ou aquelas pessoas em
estado de completa vulnerabilidade, pois a prática da conjunção carnal ou outro ato libidinoso
com eles caracteriza o crime de estupro de vulnerável, tipificado no art. 217-A.

Elemento Subjetivo: o dolo, impulsionado pelo desejo de atender aos reclamos


sexuais. Não há previsão legal da modalidade culposa.

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Elemento Objetivo:
a) Ação Nuclear
“Ter” e “praticar”
A vítima tem conjunção carnal ou pratica ato libidinoso com o autor, tendo ludibriada
sua liberdade sexual por meio de fraude ou outro ato similar que impeça ou dificulte a livre
manifestação da vontade.

b) Meios de execução
Fraude
Qualquer meio que iludindo a vítima provoca uma errada percepção da realidade e faz
com que ela consinta no ato sexual.
A fraude pode ser utilizada tanto para criar uma situação de engano na mente da vítima
como para mantê-la em tal estado para que, assim, seja levada ao ato sexual.

Meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima


O agente impede a manifestação de vontade da vítima.
Caso o agente, por qualquer meio (sonífero, anestésicos ou drogas) inviabilize a
capacidade de reação física da vítima incorre no crime de estupro de vulnerável, por ter
abusado de vítima que não podia oferecer resistência (art. 217, § 1º, CP).

Elementar Tipo Penal : dever ser idônea a iludir a vítima acerca da realidade dos fatos.
Se a fraude for grosseira, facilmente perceptível, o crime não estará consumado. O tipo penal
não pune atos nos quais a vítima se entrega ao ato sexual por almejar algum tipo de vantagem
em troca do próprio corpo.

Exemplos típicos de condutas que concretizam o delito do art. 215 do CP:


 promessa de casamento;
 exigências de falsos líderes espirituais,
 promessas de aquisições materiais,
 combinar um preço com prostituta e, após o ato, negar-se a pagar.
 Se a vítima se embriaga dolosamente ou deixa se embriagar culposamente, o
fato é atípico.

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Consumação: em relação à primeira parte do art. 215 do CP, o crime é consumado com
a penetração, ainda que parcial, do pênis na vagina. Já em relação à 2ª parte (atos libidinosos),
estará consumado o delito com o início da prática efetiva do ato libidinoso, quer com a
participação ativa do agente, quer somente com a participação da vítima, onde o agente figura
como um voyer (masturbação, dança erótica etc), independentemente da conclusão do mesmo.
Tentativa : admite-se, embora de difícil comprovação na prática. Admissível no
momento que o agente emprega fraude com o intuito de ter a conjunção carnal ou outro ato
libidinoso, mas não consegue por circunstâncias alheias à sua vontade.

Cumulação de Penas: Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter


vantagem econômica, aplica-se também multa. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Ação Penal: segue a regra do art. 225 do CP.


Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante
ação penal pública condicionada à representação. (Redação dada pela Lei nº 12.015,
de 2009)
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública
incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.
(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

Por força do art. 234-B, todos os processos que apurar delitos incursos no Título VI do
Código Penal devem correr em segredo de justiça.

Concurso De Pessoas: pode haver coautoria ou participação

Está contemplada no parágrafo único do art. 215, com a nova redação determinada pela
Lei n. 12.015/2009:

Art.215“Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se


também multa”.

Nesse aspecto, a lei agravou a situação do réu, pois não havia qualquer previsão legal
sobre a pena de multa, se existente a finalidade econômica.

Mencione-se que não é necessária a efetiva obtenção da vantagem econômica para que
se configure o delito, bastando que se comprove tal finalidade.

Pena: Reclusão, de dois a seis anos.

Ex. A relação transcorre sem emprego de violência e estando a mulher enganada sobre a
identidade pessoal do agente, sendo a fraude descoberta somente depois dê consumado o ato.

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E se a vitima perceber antes e autor vir a usar da força se caracteriza estupro e não o que
dispõe o art. 215 do CP .

Aumento de pena: A pena é aumentada de quarta parte, se o crime é cometido com o


concurso de 2 (duas) ou mais pessoas (art. 226, I), e aumentada de metade, se o agente é
ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor
ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela (art. 226, II).

Ação penal : Crime que procede-se mediante ação penal pública condicionada à
representação (art. 225). Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se
a vítima é menor de 18 (dezoito) anos (225, par. ún.). Sendo que se a vítima é menor de 14
anos, o crime caracterizado é o do art. 217-A (estupro de vulnerável), e não do artigo 216.

4. Assédio Sexual

“Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento


sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou
ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função
. Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
Parágrafo único. (VETADO)
§ 2º A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos.”

Objetivo Jurídico: A liberdade sexual, notadamente nas relações de trabalho e


educacionais.

Sujeito Ativo: Qualquer pessoa, mulher ou homem, desde que seja superior hierárquico
da vítima ou tenha ascendência sobre ela, em razão de exercício de emprego, cargo ou função.
É crime próprio, exigindo do agente ativo uma especial condição.
Sujeito passivo: Qualquer pessoa, mulher ou homem. Também deve manter com o
mesmo a relação de sujeição hierárquica ou ascendência relacionadas ao emprego, cargo ou
função. Também em relação ao sujeito passivo é crime próprio

Tipo objetivo: o núcleo é constranger, que tem o sentido de forçar, compelir, obrigar. O
constrangimento é no intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual sempre de pessoa
hierarquicamente inferior ao autor, devendo o agente utilizar-se como instrumento de

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consecução de seu intento a superioridade hierárquica ou ascendência relacionada ao exercício


do emprego, cargo ou função.

Tipo subjetivo: O dolo, ou seja, a vontade livre e consciente de constranger alguém,


acrescido do especial fim de agir, ou seja, para obter vantagem ou favorecimento sexual.
Na doutrina tradicional, é o “dolo especifico”. Não havendo modalidade culposa.
Concurso de pessoas: pode haver, desde que o coautor ou o participe saiba da superioridade
hierárquica ou ascendência do agente sobre a vitima (C, art.30) e da real intenção daquele
(CP,art. 29).

Consumação: consuma-se o delito no momento em que o agente implementa o assédio,


não sendo necessário que a vítima ceda a seus intentos. Obviamente, o assédio deve representar
verdadeiro constrangimento para vítima, de forma a perturbá-la significativamente.
Tentativa : A doutrina sinaliza pela possibilidade da Tentativa, exemplificando a
situação em que um superior hierárquico destina um bilhete a sua subordinada com as
exigências sexuais, mediante o prevalecimento de sua ascendência, mas por motivos alheios a
sua vontade o bilhete sequer chega até seu destinatário.

Ação Penal: segue a regra do art. 225 do CP, assim como os processos correm em
segredo de justiça, à luz do art. 234-B do CP.
Importante salientar que meras “cantadas” ou convites para jantar ou almoços,
destituídos de intenções de represália, em caso de rejeição, não se constituem assédio sexual
para fins criminais.
Não se caracteriza o delito quando envolve a relação professor x aluno, posto que não
há sujeição de hierarquia ou ascendência laboral.

5. Estupro de vulnerável

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14
(catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para
a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
§ 2o (VETADO).
§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
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§ 4o Se da conduta resulta morte:


Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

Crime hediondo: O estupro de vulnerável, tanto em suas formas simples quanto


qualificadoras, é crime hediondo.

Objeto Jurídico: A proteção sexual do vulnerável.

Sujeito ativo: Qualquer pessoa


Sujeito passivo: Apenas o menos de 14 anos seja menino ou menina.

Tipo objetivo: São duas as condutas incriminadoras:


ter conjunção carnal, e praticar outro ato libidinoso.

Tipo de sujeito: O dolo, consistente na vontade livre e consciente de praticar as


condutas incriminadas, sabendo o agente que a vitima é menor de 14 anos.

Consumação: Com a efetiva prática da conjunção carenal ou de outro ato libidinoso.


Tentativa: admiti-se Pena: Reclusão, de oito a quinze anos.

Equipara-se às condutas do caput as de quem pratica conjunção carnal ou outro ato


libidinoso com pessoas, de qualquer idade, que não tenham o necessário discernimento para a
pratica do ato, em virtude de enfermidade ou deficiência mental, e por qualquer outra, não
possa oferecer resistência.
Havendo lesão corporal grave a pena é de reclusão de dez a vinte anos E se houver
morte pena de reclusão de doze a trinta anos.
Se o sujeito incidir em erro quanto à idade da vítima... Ela aparentando ter 19 anos
quando de fato tem 13, por exemplo... Responde por estupro de vulnerável, por estupro comum
ou não responde por nenhum crime?!
Por que estou dizendo, antes, que o sujeito não tinha condições de saber a idade da
vítima? Suponhamos que o Augusto tenha ido à saída do pré-primário... Ele canta a menina e a
leva ao matagal. Gente, no pré-primário é menor de 14. Ele teria condições de saber a idade da
vítima mesmo sem perguntar! Agora, se ele não tinha nenhuma condição de saber se a vítima
tem mais de 14 e pratica ato consentido com ela... Houve violência ou grave-ameaça? Não,

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posso falar e estupro comum do art. 213? Não. Houve erro quanto à vulnerabilidade? Sim. Isso
exclui a tipicidade do fato, portanto não responde por crime nenhum.
Mas se o sujeito praticar violência ou grave ameaça contra menor, por qual crime
responde? Eu, por exemplo, peguei uma adolescente de 13 anos, dei uma pancada na cabeça,
ela desmaiou e aproveitei-me disso para penetrá-la: pratiquei estupro comum ou de vulnerável?
De vulnerável: ela não tinha condição de consentir. O que eu tenho aí? Ao mesmo tempo em
que era menor de 14 anos eu empreguei violência, prevista no art. 213. A vulnerabilidade está
no art. 217... O que tenho aí? Conflito aparente de normas! Eu resolvo por quais princípios o
conflito de normas? Consunção, absorção e especialidade. O que eu tenho entre esses dois
artigos? O art. 217 é específico com relação ao art. 213, portanto prevalece o art. 217-A!
Mas cuidado com o contexto causal! F.... está entrando em sala de aula... Venho por trás
e acerto sua cabeça. Espero alguns momentos, amarro ele, deixo ele amarrado na cama... Isso
no começo da manhã... No final da tarde eu venho e penetro ele: que crime eu cometi?! Estupro
ou estupro de vulnerável? Antes que respondam...
Mesmo contexto causal... Vou embora depois de cráu no F....... O Augusto vem atrás,
aproveita e cráu no F.... também. Tem diferença entre os crimes?! A primeira resposta então...
Dei a paulada, ele desmaiou, eu o amarrei, saí, fui tomar suco de frutas, voltei no final da tarde
e cráu nele: estupro ou estupro de vulnerável?!
Veja bem, inicialmente tive uma violência. Dela aproveitei-me e amarrei a vítima.
Nessa ocasião pratiquei crime contra a dignidade sexual? Não. Posteriormente, aproveitando-
me que ele estava amarrado voltei ao local e o penetrei. Qual estupro eu pratiquei? Do art. 213
ou do art. 217-A?!
Art. 217-A! Estava amarrado e não tinha resistência! Se eu tivesse consumado o crime
contra a dignidade sexual num primeiro momento eu teria estupro. Como prevaleci do fato da
vítima não ofertar resistência para penetrá-la posteriormente, cometi Estupro de Vulnerável. Aí
eu tenho que analisar conforme as circunstâncias e ver a tipicidade do fato.
Vamos ao segundo exemplo. Dei a pancada no F.... e imediatamente o penetrei: qual
crime eu pratiquei? Aí sim estupro, pois sua violação se deu em virtude da violência. Mas logo
em seguida veio o Augusto, aproveitando-se de que ele estava desmaiado... É partícipe ou
coautor, ou... Praticou crime completamente dissociado do primeiro? Totalmente dissociado!
Na segunda ocasião ele se prevaleceu do desmaio da vítima, portanto praticou crime mais
grave.
O que é mais grave? O sujeito que agrediu para consumar o ato ou o sujeito que
consumou após a agressão? Do ponto-de-vista da gravidade não teria nem diferença. Uso a

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tipicidade para enquadrar. Num primeiro momento F.... poderia ofertar resistência e não ofertou
porque agi com violência e dei-lhe uma cacetada. No segundo momento (do Augusto), F.... já
estava desmaiado, ele não poderia ofertar qualquer resistência, portanto estupro de vulnerável.
Mas pouco importa se emprego violência ou grave-ameaça para praticar o estupro de
vulnerável. O que vai prevalecer é o estupro de vulnerável. Agora, a circunstância de onde tá,
se foi estupro do art. 213 ou se foi estupro ou se for do art. 217-A...
No estupro de vulnerável, gente, sempre é importante destacar que é irrelevante o
consentimento do ofendido.
O Augusto foi ao pré-primário. Pegou uma menina de 07 anos de idade. Falou “Quero
fazer sexo com você” e a menininha “Você é gostoso, eu quero também”. Tem relevância o
consentimento da menina? Nenhum! A presunção é absoluta! A única coisa que poderia excluir
o crime é o erro quanto à vulnerabilidade. Mas dá pra confundir uma menina de 07 anos com
uma de 14? Evidente que não! Portanto considero vulnerável a vítima; portanto, estupro de
vulnerável do art. 217-A.
O art. 217-A traz formas qualificadas do crime, quando ocorre lesão de natureza grave
ou morte.
A pergunta: o resultado aqui é praeter doloso (vai decorrer só de culpa) ou pode ocorrer
também de dolo? Posso querer matar a vítima ou só posso causar a morte da vítima por culpa?!
O resultado, gente, pode advir de dolo? Sim, pode! Desde que a morte ou lesão-grave
tenham conexão com o estupro! O sujeito está estuprando uma criança... Durante o estupro ele
está batendo nela, “Quero que você morra sua vaca”, arrebentando. Matou a menina.
Resultado-morte durante o estupro? Pessoa vulnerável? Parágrafo quarto do art. 217-A: estupro
de vulnerável.
Mudando o exemplo. Depois do estupro levantou e falou: “Agora você tem que morrer
porque vai contar o que aconteceu”. Pega um pedaço de pedra e taca na cabeça da menina
(ocorrido recentemente em Ribeirão). Posso falar em estupro de vulnerável com resultado-
morte? Qual conexão eu estabeleci entre o estupro e a morte? Ou seja, a morte decorreu do
estupro? Não. A morte decorreu da prática do estupro consumado. Eu já tinha terminado o
estupro quando resolvi matar a vítima: estupro de vulnerável na modalidade simples e crime de
homicídio qualificado por conexão. Então vou ter os dois crimes. O fato é mais grave. Se há
conexão, se foi durante o estupro que provoquei lesão ou morte, respondo pela qualificadora do
art. 217-A. Se o resultado morte ou a lesão grave foi posterior à consumação do estupro, não
posso falar mais só no estupro de vulnerável, vou falar em dois crimes em concurso material:
penas somadas! Muito mais grave.

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Por que aqui a doutrina entende que o legislador abrangeu o resultado também doloso?
Pela gravidade da pena que ele impôs. Aqui a pena é simétrica ao Homicídio Qualificado. Ao
dar a mesma pena do homicídio qualificado, o que o legislador está dizendo? Que aqui o
resultado morte também poderia derivar de dolo, desde que tenha conexão com o homicídio.
A prática do estupro foi que levou ao resultado morte? Sim. Estupro de vulnerável, na
forma qualificada. A prática do homicídio foi posterior à consumação do estupro? Já não posso
mais falar só em estupro de vulnerável ou qualificado; vou falar em estupro de vulnerável
simples em concurso material com homicídio doloso qualificado pela conexão.
Disposições comuns dos crimes contra a honra...
Vocês verão que o legislador mais uma vez pecou pelo excesso e pela falta de
coerência. Há duas disposições comuns: contra os crimes contra a dignidade sexual e depois
uma disposição geral dos crimes contra a liberdade sexual (como se fossem crimes estanques,
diferentes; são os mesmos crimes!).
Mesmo que defenda a liberdade sexual, o nome in juris dos crimes trazidos pela Lei
12.015/09 são “crimes contra a dignidade sexual”. Pra quê duas?
A Lei 12.015/09 ab-rogou os artigos 223 e 224. Portanto estes artigos não existem mais.
Tá lá no Código, pode ver. Mas foram revogados por inteiro. Os artigos 225 e 226 foram
derrogados (parcialmente ab-rogados).
Aqui veremos um absurdo do legislador. O Artigo 225 trata da Ação Penal nos crimes
contra a dignidade sexual; e os crimes contra os costumes da Lei anterior são completamente
diferentes. Qual a regra geral na legislação anterior? A Ação Penal era Privada em regra:
somente a vítima poderia ingressar com a Ação (exceto se fosse pobre e o crime praticado por
pai, tutor, curador, que aí a Ação passava a ser pública condicionada à representação). Por que
este raciocínio? A vítima estuprada dar notícia do crime numa comunidade retrógrada não seria
pior pra mulher? Antes a vítima era só mulher, em regra. Falava em praticar conjunção carnal
com mulher, e não com “alguém”. A vítima dar notícia de estupro não era ruim pra ela?
Pensemos naquelas merdinhas que tem por aqui: Cajuru, Serra Azul, Morro Agudo, São
Simão, Santa Rosa do Viterbo, Santo Antônio da Alegria... Cidades pequenas. A notícia do
estupro... O que vai acontecer na cidade, hein?! Aquilo pra mulher era muito pior do que o
estupro! Ela era estuprada duas vezes: o povo aponta na rua “Foi ela que Fulano pegou no
matagal”!
Ao dar a ela a chance de pedir a investigação ou não acreditava-se proteger a mulher.
Como a Lei 12.015/09 está muito mais centrada na prática criminosa contra vulneráveis, o que
é que se passou a entender a partir da Lei? Que a vítima teria sim condição de brecar a

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investigação, mas por simples Representação. Qual a regra geral hoje?! A Ação em regra é
pública (órgão do Estado entra com Ação) desde que a vítima Represente, desde que ela tenha a
intenção de provocar a Ação Penal. Sempre?! Não, pois se menor de 18 anos ou vulnerável, a
Ação passa a ser Pública Incondicionada: há interesse do Estado que independentemente da
manifestação da vontade da vítima se coíba determinadas práticas na sociedade.
A partir daí a Ação Penal passou a ser mais grave do que a Lei anterior. Essa regra do
Art. 225 retroage ou não?! Regra anterior, Ação Penal Privada; regra atual, geral, Ação Penal
Pública Condicionada à Representação. Qual é mais grave?! Você ter o jus persequendi in
judicato pelo órgão MP ou pela vítima? Evidentemente pelo MP – portanto a regra é mais
grave. Ela retroage? Não retroage!
Veja o que o legislador criou! Os crimes contra a dignidade sexual retroagem ou não?
Aqui temos que colocar um “depende” do depende. A análise tem que ser feita em cada uma
das circunstâncias. O que eram dois crimes na Lei anterior (estupro e atentado violento a pudor)
virou um crime só (apenas estupro englobando atentado violento ao pudor).
Por que é interessante ainda falar do atentado violento ao pudor? Posso ter ainda
incidência da Lei Antiga? Sim, dependendo das circunstâncias do caso concreto. E posso ter
arremedo: uma parte eu aplico da outra Lei, outra parte da outra Lei. A incidência de uma Lei
Penal e a Ação Penal de outra, se ocorreu até 2009, por exemplo.
Então aplico sempre o que é menos grave. Na incidência das duas Leis preciso verificar
em cada caso concreto o que é mais grave, o que é menos grave, pra aplicar uma ou outra Lei.
Isso vai cair na prova, podem estudar!
Na Lei anterior, quando havia resultado-morte, havia uma Súmula 608 do STF: falava
da regra dos crimes complexos (estupro é sempre crime complexo).
Você tem a violência; a grave-ameaça; e tem também o crime sexual, você tinha mais
de uma infração dentro de uma outra infração – dessa forma, crime complexo. Aplica-se,
portanto, a regra de que a Ação é Pública Incondicionada.
O que o legislador falou no art. 225? Que a regra geral será Ação Penal Pública
Condicionada à Representação... Regra específica, se a vítima é menor de 18 anos ou
vulnerável, a regra é Ação Penal Pública Incondicionada. Pergunto: se a vítima morreu, qual a
regra?! Olha como não se pensa nas coisas no Brasil!
A vítima morreu... Ela não é vulnerável ou menor de 18. Qual a Ação Penal?! Pública
Condicionada à Representação!
Eu pergunto: A vítima morreu... Quem vai Representar?! Vocês dirão “Isso é raro” – já
tivemos casos! Já suscitou margem à dúvida por caso concreto ocorrido.

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De tamanho absurdo do legislador, tiveram que revigorar a Súmula 608 porque seria
incabível! Regra do crime complexo... O que o legislador deveria dizer? Se a vítima é menor de
18 anos houve estupro em qualquer das suas formas e resultou morte, Ação Penal Pública
incondicionada, até por coerência lógica do sistema. Ele simplesmente esqueceu!
Qual seria então a regra no caso-morte, sem inventar peripécias como inventou a
jurisprudência? Ação Penal Pública Condicionada à Representação. Aí teria que indagar:
quem pode ofertar a Representação?! Pra quê eu Represento? Para que o MP possa trabalhar.
Sem Representação ele não pode. Portanto ele mesmo não pode Representar, não teria sentido
(seria Incondicionada).
O legislador esqueceu-se da probabilidade: mais uma vez demonstrou desleixo, falta de
aptidão e de caráter! E a jurisprudência teve que corrigir e, ao meu ver, equivocadamente. A
regra deveria ser que só a família pode ofertar Representação, pela ordem: cônjuge, ascendente,
descendente...
O que antes estava revogada, a Súmula 608, não faria sentido... Levaram em
consideração o art. 101 do Código Penal. “Nos crimes complexos a Ação Penal é sempre
Pública Incondicionada”. Não é o caso aqui! O legislador tratou especificamente! Ele disse:
regra geral, Ação Penal Pública Condicionada à Representação... Regra específica: quando a
vítima é menor de 18 anos ou vulnerável. Se a vítima não é vulnerável nem menor de 18 anos,
regra APPCR. Mas o que vigora na jurisprudência? Nesses casos a Ação Penal é Pública
Incondicionada, em virtude da Súmula 608 do STF, que levou em consideração aquilo que está
esculpido no artigo 101 do CP.
Portanto quando há resultado-morte a regra é Ação Penal Pública Incondicional.
Quando a vítima morre a família normalmente vai entrar com Representação?! E já
escutei isso de familiar... O que a família passa a ponderar? “Se ele matou a vítima do estupro,
certamente pode vir na nossa casa e nos matar também, deixemos do jeito que tá”.
Foi boa decisão da jurisprudência? Sim. Mas está de acordo com o Direito? Não está.
Não podemos consertar equívoco do legislador.
O art. 226 do CP que também foi derrogado (modificado), trata de circunstâncias de
agravamento da pena. Em 1/4 quando há concurso de agentes (maior facilidade dos agentes
para a prática criminosa e menor a chance da vítima de se defender)... E aumento da metade se
o autor tem com relação à vítima ascendência, descendência, companheirismo, tutoria, uma
série de circunstâncias, incluídas nela companheiro e marido.
O legislador quando colocou como causa de aumento de pena o fato de ser companheiro
ou marido, o que ele está dizendo? Até pouco tempo havia dúvida, 50-50, sobre o fato do

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marido poder ou não estuprar a mulher! A maioria da doutrina e 50% da jurisprudência dizia
que o casamento cria obrigações para a mulher e dessa forma ela estaria obrigada a praticar
sexo com o marido, podendo ele recorrer à força para tê-lo. Agora o que o legislador fez?! Ele
inseriu como causa de aumento de pena de metade se o crime é praticado por marido ou
companheiro!
O que o legislador fez de forma autêntica? E aqui, um acerto. Quando inseriu esse
aumento de pena está dizendo que a mulher não é obrigada a servir sexualmente o homem.
Não há dúvida: a mulher pode sim ser estuprada pelo marido. Se nunca foi feito sexo,
anula-se o casamento; se já foi feito sexo, pode separar-se ou divorciar-se. Questão meramente
de caráter civil.
Já tive um procedimento na promotoria que o sujeito era impotente só com aquela
mulher. Mas quando saía para as “nights”... (Era funcionário do Judiciário inclusive)... Aí ele
conseguia pegar as meninas! Inclusive colegas de profissão, etc. e tal. Mas com aquela mulher
ele não conseguia, porque foi um trauma que pegou na 1ª tentativa, e isso foi provado por laudo
psiquiátrico. O que isso dá ensejo? Anulação do casamento. Viram como tem mulher broxante?
Um detalhe aqui. O estupro pode ser praticado contra homem e contra a mulher hein...
Se praticado contra a mulher dá ensejo a todas as medidas da Lei Maria da Penha, 11.340/06.
Por exemplo: medidas protetivas, mudança de identidade, perda de guarda, pagamento de
pensão, perda do Direito de Visitas, etc. e tal.

DO LENOCINIO E DO TRAFICO DE PESSOAS

Lenocínio é uma prática criminosa que consiste em explorar, estimular ou facilitar a


prostituição sob qualquer forma ou aspecto, havendo ou não mediação direta ou intuito de
lucro.
O lenocínio compreende toda ação que visa a facilitar ou promover a prática de atos de
libidinagem ou a prostituição de outras pessoas, ou dela tirar proveito, que é um grave
problema social.
O crime de lenocínio não pune a própria prática da prostituição, mas sim toda conduta
que incentiva, favorece e facilita tal prática, com intenção lucrativa ou profissionalmente
(conhecido juridicamente como lenocínio questuário).
Quando há mediação no lenocínio, esta é chamada de cafetinagem, ou seja, é feita por
um sujeito apelidado de “cafetão”, que é um agente para as prostitutas, responsável por recolher

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parte dos seus lucros em troca de serviços de publicidade, proteção física, ou para fornecer um
local onde elas possam “atender” seus clientes.
A relação cafetão x prostituta pode ser abusiva, sendo baseada em técnicas de
intimidação psicológica, manipulação, força física e agressão sexual para controlar as
prostitutas (ou garotos de programa).
Este crime está tipificado no artigo 227 ao 230 do Código Penal Brasileiro.

6. Mediação para servir a lascívia de outrem

Art. 227 CP: "Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem: Pena Reclusão, de um
a três anos."

A mediação é o ato que pode vir a fomentar o desejo de alguém se prostituir. No art.
218 o núcleo é induzir. A vítima é um menor de 14 anos, enquanto “outrem” é pessoa incerta e
indeterminada. Então, nos dois artigos referidos, não há o requisito prostituição, em que pese
ser uma figura de lenocínio.

Bem jurídico: A moralidade na vida sexual e, na forma qualificada, também a


liberdade sexual e a liberdade sexual

Sujeito Ativo: Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem (o prazer sexual de


alguém);
Sujeito Passivo: Qualquer pessoa que colabore com a ação do agente;

Tipo Objetivo: Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem (o prazer sexual de


alguém);
Tipo Subjetivo: O dolo, com o fim de satisfazer a luxúria ou o prazer sexual de
terceiro; Inexistindo modalidade culposa. “Para satisfazer a lascívia de outrem” = com fins de
satisfazer = dolo específico. O dolo aqui é necessário. A lascívia não precisa ser satisfeita, mas
o intuito de satisfazê-la é suficiente. Quem pratica o crime não tem nenhum encontro sexual
com a vítima. O encontro que o autor tem com a vítima é para induzir, não para se favorecer.

Consumação: Quando houver a satisfação da lascívia.


Tentativa: A tentativa é admissível.

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Sem induzimento, não há crime. Por que não? Pois aí estaremos dentro da esfera da
liberdade sexual da pessoa. Isso na mediação. O induzimento é o núcleo; sem induzimento,
caímos no puro exercício da liberdade sexual.

Figuras Qualificadas:
a) Se a vítima for menor de 18 anos e maior de 14 anos; O legislador incluiu aqui no art.
218 uma figura equiparada ao lenocínio, pois se assemelha ao art. 227.
Art. 218 CP “Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de
outrem”.

b) Se o agente for ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou


curador ou pessoa que cuide da educação, tratamento ou guarda da vítima;
c) Se o crime for cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude;
d) Se o crime for cometido com intuito de lucro, aplica-se também a pena de multa.

Concurso De Pessoas: Na hipótese de participação apenas secundária ou acessória em


outro delito queima de 48 horas de dignidade sexual.
No caso do induzimento de pessoa maior de 14 anos, deve-se provar que houve o
induzimento. No art. 227, dever-se-á comprovar a vontade da vítima de satisfazer a lascívia de
outrem. Mas essa vontade é derivada do induzimento.
E os outros vulneráveis? Quem são? Os que não podem oferecer resistência ou que
tenham debilidade mental a ponto de não compreenderem o que praticam. Note que não existe
essa figura aqui.
Mas, em relação à idade, veja o que ocorre no art. 227:
Art. 227 CP § 1º: “§ 1o Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito)
anos, ou se o agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão,
tutor ou curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de educação, de
tratamento ou de guarda: Pena - reclusão, de dois a cinco anos."

E, em relação aos outros vulneráveis, só haverá a previsão para a ocorrência de


violência real ou fraude. Não haverá agravação da pena, pois o alienado mental, por exemplo,
na melhor das hipóteses só poderá ser enquadrado no caput.
Art. 218-A. CP “Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou
induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer
lascívia própria ou de outrem:
“Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.”

Este era o antigo crime de corrupção de menores. Era o antigo art. 218, bem como trazia
a Lei 2252/54.
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Induzi-lo a presenciar ato de libidinagem. O que é? Qualquer ato sexual. Pode ser
conjunção carnal, ou qualquer outro ato libidinoso. É uma figura parecida com a antiga
corrupção de menores. O que mudou? É que além do presenciar/induzir a presenciar, hoje o
crime não mais se chama corrupção de menores, e não temos mais o art. 218, que foi revogado
pela Lei 12015. A Lei 2252 previa outra figura de corrupção de menores, que era para a prática
de atos infracionais, ou seja, para infrações penais, norma que também foi revogada.
Essas duas figuras foram parar no Estatuto da Criança e do Adolescente. Aqui no
Código Penal o crime se chama de satisfação de lascívia mediante presença de criança ou
adolescente.
Mas o sujeito passivo é quem mesmo? Quem é a vítima? Não é criança ou adolescente
como o ECA. É menor de 14. Então cuidado com isso. São todas as crianças, mas não todos os
adolescentes; são somente os que tenham 12 ou 13 anos. Muito cuidado.
Grifem ato de libidinagem em suas anotações. Não é conjunção carnal ou somente
outros atos libidinosos. Não exige contato físico, pois a norma fala em presenciar. Ato de
libidinagem não inclui filmes, mas presenciar o ato sexual. Até aqui temos crimes sexuais
contra vulneráveis, e precisavam de contato físico (até o art. 218). O art. 218-A dispensa o
contato físico com a vítima.

7. Favorecimento da prostituição

Art. 228 CP: "Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração
sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone: Pena - reclusão, de
2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. [...]"

Prostituição é o comércio habitual do próprio corpo, exercido por qualquer pessoa


(homem ou mulher), em que estes se prestam à satisfação sexual de indeterminado número de
pessoas, em troca de pagamento não somente monetário, mas também por meio de bens e
serviços. A reiteração do comércio sexual é imprescindível, pois, trata-se de atividade
necessariamente habitual. Pressupõe o contato físico entre as pessoas envolvidas na atividade
sexual (conjunção carnal, sexo oral, sexo anal, masturbação etc.). A prostituição em si mesma,
embora seja um ato considerado imoral, não é crime, somente a exploração do lenocínio por
terceiros constitui ilícito penal.

Objetivo Jurídico: a dignidade e a liberdade sexual


Objeto Material: o menor de dezoito anos ou que, por enfermidade ou deficiência
mental, não tem o necessário discernimento para optar pela prostituição.

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Sujeito Ativo: Qualquer pessoa, homem ou mulher


Sujeito Passivo: Qualquer pessoa não menor de 18 anos, homem ou mulher, capaz de
entender o ato que pratica, no momento da ação praticada.

Tipo Objetivo: Induzir, atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração


sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone. O favorecimento pode ocorrer
por ação ou omissão. Esta última, no caso de o agente, que possua o dever jurídico de impedir
que a vítima ingresse na prostituição, nada fazer e aderir à sua conduta;

Tipo Subjetivo: O dolo, ou seja, a vontade livre e consciente de induzir, atrair, facilitar,
impedir ou dificultar, com o fim de satisfazer a luxúria ou o prazer sexual de terceiro;

Consumação: Nas modalidades induzir, atrair e facilitar, o delito se consuma no


momento em que a vítima passa a se dedicar à prostituição ou outra forma de exploração
sexual, colocando-se, de forma constante, à disposição dos clientes, ainda que não tenha
atendido nenhum. A consumação se prolonga no tempo, enquanto a vítima estiver impedida ou
sofrendo embaraços para abandonar a prostituição.
Já na modalidade de impedir ou dificultar o abandono da exploração sexual, o crime se
consuma no momento em que a vítima delibera por deixar a atividade e o agente obsta esse
intento, protraindo a consumação durante todo o período.

Tentativa: Há quem considere que a tentativa é admissível e quem não sustente que
não cabe tentativa nas formas induzir e atrair, pois o crime depende da efetiva ocorrência da
prostituição. A tentativa é possível por se tratar de crime plurissubsistente (costuma se realizar
por meio de vários atos), permitindo o fracionamento do iter criminis.

Elementar Do Tipo: Crime doloso (não há previsão de modalidade culposa),


transeunte (praticado de forma que não deixa vestígios, não havendo necessidade, em regra, de
prova pericial.

Figuras Qualificadas:

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a) Se o agente for ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge ou


companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por
lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) Se o crime for cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude;
c) Se o crime for cometido com intuito de lucro. Quem se favorece da prostituição,
induz, atrai, facilita ou dificulta o abandono. Com ou sem fim lucrativo. Se houver o intuito de
lucro, haverá rufianismo também.
Exemplo: aquele que trabalha numa agência captando meninas para uma escola de
modelos que não existe. Na verdade, é uma casa de prostituição. Ganha para isso, mas não sabe
o destino físico, apesar de saber o que acontecerá.
Art. 218-B CP: “(Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual
de vulnerável) Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de
exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou
deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-
la, impedir ou dificultar que a abandone:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.”

Compare os dois artigos agora. Vejam que aqui temos uma espécie maior de
vulneráveis, de sujeitos passivos. No art. 228 não se trata apenas dos vulneráveis. No 218-B
trata-se por vulnerável aquele que tem menos de 18 anos. Sempre fique atento na redação dos
tipos penais para não se enrolar. Cuidado hein! Até então os vulneráveis eram os menores de
14, deficientes mentais, os que não tinham discernimento e não poderiam oferecer resistência.
Agora é tudo isso, com a exceção de que não é mais o menor de 14 anos, mas sim o menor de
18 anos.
Regra geral: art. 228. Regra especial: art. 218-B.
Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também
multa. Se efetivamente se favorece da prostituição alheia e se sustenta disso, há concurso
material com rufianismo.
Como comprovar que o sujeito se sustenta de rufianismo? Vendo como ele paga as
contas, se ele trabalha, onde ele passa o tempo. Se o marido deixa a mulher se prostituir e não
objeta, ele pode ou não ser rufião. Se o que entra em casa é para o sustento dele, ele é rufião.
Se houver concurso de pessoas, aplica-se também o art. 69, o que será levado em conta
na dosimetria.

8. Casa de prostituição

§ 2º do art. 218-B: “Incorre nas mesmas penas:

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I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18
(dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo;
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as
práticas referidas no caput deste artigo.”

Objeto Jurídico: A moralidade pública sexual

Sujeito Ativo: Qualquer pessoa, lembrando, porem que não pratica o crime a prostituta
que mantém lugar para explorar, ela própria e sozinha, seu comércio carnal.
Sujeito Passivo: A pessoa explorada sexualmente e, mais remotamente, a coletividade.

Tipo Objetivo: O verbo manter (sustentar, prover, conservar). Manter, por conta
própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja ou não intuito de
lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente.
É indiferente que o proprietário do local ali compareça, já que o tipo não pune a conduta
daquele que participa da exploração sexual, no local a ela destinada ou em qualquer outro.

Tipo Sujeito: O dolo consistente na vontade consciente de manter estabelecimento em


que ocorre exploração sexual.

Consumação: Consuma-se o crime com a manutenção do estabelecimento, pois se trata


de crime habitual. Por essa razão, não admite tentativa;

Isso é uma grande Novidade. Por quê? Quem é que vai ser punido aqui? A prostituição
não está sendo favorecida, mas o ato sexual com menor de 18 anos está sendo praticado.
Veja que aqui temos dois detalhes importantes: a pessoa não favorece a prostituição
porque tem que ser um ato habitual. Aqui, o legislador quis incluir a conduta do cliente. Não
havia crime antes, só estupro, na pior das hipóteses. Quem contrata o serviço de prostituição,
pagando ou não, responde pelo crime na forma equiparada do § 2º. Quem pratica ato sexual
também pratica o crime de favorecimento, como figura equiparada.
Até hoje não tínhamos, no Direito Brasileiro, a figura do cliente da prostituição. Havia
somente a possibilidade de ele responder por estupro ou atentado violento ao pudor, desde que
comprovadas as elementares
Aqui, o vulnerável foi colocado não como o menor de 14 anos, mas o que tem entre 14
e 18. O Código Penal, como falamos antes, tinha essas duas categorias: o menor de 14, que,
caso praticasse ato sexual com alguém, o legislador presumia a ocorrência de violência contra

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ele (a), e o "menor", que é o maior de 14 e menor de 18, que também é vulnerável, mas que
tinha algum discernimento. Cuidado, então.
*Menor é o maior de 14 e menor de 18.
Nos crimes envolvendo prostituição, tem que haver dolo do cliente. Mas as presunções
do legislador permitem também entender que houve dolo eventual. Professora entende que o
legislador acabou com essa discussão, pois agora a presunção é absoluta. Será matéria de
defesa, pois a princípio o crime está tipificado.
Quanto às outras formas de vulnerabilidade, não se precisa ter uma demência tão
profunda e imperceptível. Tem que ser algo que o homem médio observaria.
Art. 218-B, § 2º, inciso II CP: “Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra
forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a
prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone:

§ 2o Incorre nas mesmas penas:


II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as
práticas referidas no caput deste artigo. [...]”

O inciso I é a figura do cliente. Temos que ter uma cautela quanto a quem é considerado
“menor”, que é o menor de 18 e maior de 14 anos. Os responsáveis pelo estabelecimento
também responderão. Neste momento, importará a boa-fé: se tenho um apartamento, não moro
na cidade e alugo para uma pessoa, e depois de meses descubro que o imóvel está sendo usado
como casa de prostituição e promoção de encontros de natureza sexual, não responderei (talvez
eu tenha uma dor de cabeça na delegacia, ao explicar a situação). Importa saber quem gerencia
a casa. E se ele mantém a casa e não estamos falando de uma pessoa que tenha menos de 18
anos? Qual o crime? Casa de prostituição. Vale para quem tem a posse do espaço físico. Se
houver vulneráveis, art. 218, se não tiver, art. 229.

9. Rufianismo

Art. 230 CP - Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus


lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

§ 1o Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos ou se o crime é


cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro,
tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei
ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: (Redação dada pela
Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº
12.015, de 2009)
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§ 2o Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça fraude ou outro meio


que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima: (Redação dada
pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da pena correspondente à
violência. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Rufianismo: é Crime contra os costumes, consistente em tirar proveito da prostituição


alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte,
por quem a exerça, consiste num modelo de lenocínio em que determinada pessoa vive de
modo “parasita” as custas dos lucros obtidos pela prostituição de outrem (prostitutas ou garotos
de programas).
A expressão “tirar proveito” diz respeito à vantagem econômica, e não sexual,
acontecendo quando o agente participa diretamente dos lucros do sujeito passivo ou se fazendo
sustentar por quem a exerce, famosamente conhecido pelo termo “gigolô”, “cafetões” ou
“cafetinas” (quando são mulheres).

Bem Jurídico Tutelado: é a moralidade pública, ou seja, os bons costumes.

Sujeito Ativo: pode ser qualquer pessoa, logo, trata-se de crime comum.
Sujeito Passivo: A pessoa que exerce a prostituição e, secundariamente, a coletividade.
O crime pode ser praticado na forma de omissão imprópria, quando a agente é garantidor do
sujeito passivo.

A ação penal nesta espécie de delito será sempre de natureza pública incondicionada.

Consumação: A consumação ocorrerá com a prática reiterada de atos tendentes à


obtenção de proveito ou de sustento por parte do rufião.
Tentativa: Por se tratar de crime habitual, não se admite tentativa: Divergências
ocorrem quando se trata da possibilidade de tentativa deste crime, prevalecendo, a não
possibilidade de tentativa em crimes habituais.

Tipo Objetivo: Tirar proveito e fazer-se sustentar, no todo ou em parte, pela


prostituição alheia. Na primeira hipótese (rufianismo ativo), o rufião obtém vantagem
diretamente dos lucros obtidos pela prostituta, embora deles não necessite para seu sustento. Já
na segunda modalidade (rufianismo passivo), o agente participa indiretamente do proveito da

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prostituição, vivendo às custas da meretriz, recebendo dinheiro, alimentação, vestuário,


moradia e outros benefícios de que necessita para a sua manutenção;

Tipo Subjetivo: O dolo consistente na vontade de tirar proveito da prostituição alheia


ou de fazer-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça. Não se exige qualquer
finalidade especial por parte do sujeito ativo;
Este crime está previsto no artigo 230 do Código Penal Brasileiro, sendo a pena de um a
quatro anos de reclusão, mais o pagamento de multa, a ação penal nesta espécie de delito será
sempre de natureza pública incondicionada.

Forma qualificada: há a forma qualificada para o crime de rufianismo, prestando


bastante atenção que, no caso da vítima ser menor de 18 anos e maior de 14, haverá a
qualificação do delito. Obs.: E se a vítima for menor de 14 anos? Estaremos diante do crime de
Estupro de Vulnerável, podendo o agente (rufião) figurar como partícipe do delito.

Art.230 CP §1° Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos ou


se o crime é cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge,
companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem
assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância:
(Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009).

§ 2º, Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça fraude ou outro meio
que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima: (Redação dada
pela Lei nº 12.015, de 2009).

O rufião vem a utilizar de violência ou grave ameaça, a fim de ter participação dos
lucros da prostituta. É o caso mais comum na prática, quando o autor impõe “medo” à vítima a
fim de receber parte da quantia adquirida, e também oferece em troca proteção à prostituta.
Temos, nos § 3º tanto do art. 227 quanto do 228, a previsão de pena de multa para os
crimes de lenocínio e outras formas de exploração sexual. Com exceção do crime de
rufianismo, que não existe contra vulnerável, todas as outras figuras podem ter um acréscimo
de multa em razão do fim econômico querido pelo agente. Temos que lembrar que prostituição
para os efeitos penais não tem fim lucrativo. Para quem explora, pode ou não haver intuito de
lucro. Quem se sustenta da prostituição alheia também pratica o crime de rufianismo. Daí
temos a possibilidade de crime de rufianismo.

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10. Tráfico internacional de pessoas

Art. 231 CP. Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém


que nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a
saída de alguém que vá exercê-la no estrangeiro. (Redação dada pela Lei nº 12.015,
de 2009) (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de
2009) (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)

§ 1o Incorre na mesma pena aquele que agenciar aliciar ou comprar a pessoa


traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la
ou alojá-la. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) (Revogado pela Lei nº
13.344, de 2016) (Vigência)

§ 2o A pena é aumentada da metade se: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
(Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
I- a vítima é menor de 18 (dezoito) anos (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
(Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
II - a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato; (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
(Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
III - se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge,
companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu,
por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou (Incluído
pela Lei nº 12.015, de 2009) (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
IV - há emprego de violência, grave ameaça ou fraude. (Incluído pela Lei nº 12.015,
de 2009) (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)

§ 3o Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se


também multa. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) (Revogado pela Lei nº 13.344,
de 2016) (Vigência)

O tráfico de pessoas é uma prática criminosa mundial e sem fronteiras. É uma espécie
de máfia altamente rentável, movimentando bilhões de dólares por ano em todo o mundo,
chegando a atingir milhões de pessoas, forçadas a trabalhos escravos e sexuais.

Bem Jurídico Tutelado: é a liberdade (dignidade) sexual, sendo punido o tráfico para
exploração sexual de criança, adolescente, adulto e idoso.

Sujeito Ativo: pode figurar qualquer pessoa, tratando-se de crime comum.


Sujeito Passivo: pode ser qualquer pessoa (corrente majoritária). A pessoa que exerce a
prostituição ou que é sexualmente explorada (corrente minoritária) que entendia que apenas a
prostituta poderia figurar no pólo passivo, porém não é a que prevalece e, secundariamente, a
coletividade.

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Tipo Objetivo: Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que


nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém
que vá exercê-la no estrangeiro. O § 1º estabelece que incorram nas mesmas penas aquele que
agenciar (servir de agente ou intermediário), aliciar (atrair) o u comprar a pessoa traficada,
assim como, tendo o conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. A
pena será aumentada de metade se houver emprego de violência, grave ameaça ou fraude (§2º,
IV);

Tipo Subjetivo: O dolo, com a finalidade especial por parte do sujeito ativo de
promover a prostituição da pessoa que fez ingressar ou sair do país. Nas formas equiparadas,
transportar, transferir e alojar a vítima traficada deve o agente ter conhecimento de sua
condição. Se o crime for cometido também com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se
também a multa (§3º);
Qual é a teoria da ubiqüidade? Aplica-se a lei brasileira independente de onde ele
estiver, desde que dentro do território brasileiro. Aqui dentro só será discutida a competência
para julgar o crime. Temos alguns preceitos de Direito Processual Penal, como a prevenção do
juízo, que deverão ser levados em conta. O complicador só existe quando há
extraterritorialidade. Quem efetivamente investigará é a Polícia Federal e pedirá auxilio à
Interpol.
Aquele que aloja: suponhamos que uma pessoa que praticou tráfico de pessoas liga para
um amigo dizendo que não conseguiu cama para as amigas, na verdade, prostitutas. Não há o
condicionamento a lucro ou a resultado. O terceiro de boa-fé não responderá.
Não existe o crime de tráfico de pessoas a título de culpa. O dolo eventual pode ficar
evidente em alguns casos.
Diga que o crime ocorreu entre Brasil e Itália. Mas imagine que ele passe pelo espaço
aéreo de Marrocos. Pode o espaço aéreo marroquino ser considerado lugar do crime? Não, pois
não é ali o destino do crime, e não foi onde começou, e também por causa do direito de
passagem inocente. Considera-se espaço do crime o local onde se produziu a ação ou
resultado.
Todavia nada disso importa para a caracterização do crime: saiu do território brasileiro?
Já consumou. Saiu do território de um Estado estrangeiro? Consumou. A passagem inocente é
um tratado em que uma aeronave, que esteja em espaço aéreo de um outro Estado, se ali não
era a intenção de se realizar o resultado do crime, este não será punível à luz do ordenamento
daquele lugar.

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Diferente é o caso do tráfico de drogas: se a aeronave sobrevoar o espaço a brasileiro,


não se identificar e houver indícios de que o avião está traficando, o abate é autorizado.

Consumação: ocorrerá com a entrada ou saída da pessoa do território nacional,


dispensando-se que pratique algum ato fruto de exploração sexual. Quando falamos da
consumação deste delito, existindo a corrente que defende a consumação quando da entrada ou
saída da vítima do território nacional, dispensando que esta venha a ser explorada sexualmente.
(majoritária). Há uma segunda corrente entendendo que o delito apenas se consuma quando a
vítima vem a praticar algum ato típico da prostituição, caso contrário ocorreria apenas a sua
tentativa.
Tentativa: é admissível em qualquer das formas previstas;

A ação penal é pública incondicionada e sua competência para julgar é da Justiça


Federal, conforme o Art. 109, V, da Constituição Federal.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos teve como suas principais preocupações
à positivação internacional dos direitos mínimos dos seres humanos, complementando assim os
propósitos das Nações Unidas de proteção aos direitos humanos, é tida como um dos principais
instrumentos normativos de enfrentamento ao tráfico de pessoas, juntamente com outros
tratados, convenções e pactos.
No que tange ao tráfico de pessoas, a Declaração em seu art. 4º, faz menção que:

Art. 4º “Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de


escravos serão proibidos em todas as suas formas”.

Hoje em dia o crime existe em quase todos os países e por força da Convenção de
Palermo e seus protocolos adicionais são, antes de tudo, vários tratados que visam o combate
ao crime organizado transacional. Existe uma grande necessidade de que se conjugue o referido
instrumento aos vários tratados de direitos humanos, isso porque a Convenção surgiu vinculada
a um tratado que trata da repressão ao crime organizado internacional.
O Protocolo de Palermo, em seu art. 3º, define tráfico de pessoas como sendo:
Art. 3º [...] o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o
acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas de
coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de
vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o
consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de
exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de
outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados,
escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos.

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A referida alteração no dispositivo legal veio com o intuito de atender a nova idéia que
surgia, de que não somente mulheres podem ser acometidas como vítimas desse crime. O
dispositivo anterior tratava como vítima somente mulheres, pois não se imaginava que homens
poderiam exercer a prostituição. Entretanto, com a evolução do crime, também se tornou
necessário proteger o sexo masculino como sendo vítimas desse crime, pois a falta de proteção
viria a ofender os princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade.
Os traficantes, agentes do crime de tráfico, cometem crimes graves ao traficar,
especialmente no local de trabalho ou no local onde a vítima é mantida sob trabalhos forçados,
servidão ou tratamento de modo escravo. Dentre os crimes cometidos, cita-se: agressão,
espancamento, estupro, tortura, abdução, venda de seres humanos, cárcere privado, homicídio,
negligência dos direitos trabalhistas, fraude, entre outros.

11. Tráfico interno de pessoas

Art. 231-A CP. Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território


nacional para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

§ 1o. Incorre na mesma pena aquele que agenciar aliciar, vender ou comprar a
pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la,
transferi-la ou alojá-la.

§ 2o. A pena é aumentada da metade se:


I - a vítima é menor de 18 (dezoito) anos;
II - a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato;
III - se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge,
companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu,
por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou
IV - há emprego de violência, grave ameaça ou fraude.

§ 3o. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se


também multa.

Bem Jurídico: Moralidade sexual e a liberdade sexual

Sujeito Ativo: Qualquer pessoa seja como promotor do tráfico de pessoas seja como
consumidor;
Sujeito Passivo: A pessoa que exerce a prostituição ou que é sexualmente explorada e,
secundariamente, a coletividade;

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Tipo Objetivo: Promover e facilitar o deslocamento de pessoa dentro do território para


o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual. Incorrem nas mesmas penas
aquele que agenciar aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo o conhecimento
dessa condição, transportá- la, transferi- la ou alojá-la.
As condutas incriminadoras não dizem respeito à pessoa que vai exercer a prostituição,
mas a alguém que, dolosamente, promove intermedia ou facilita seu recrutamento, transporte,
transferência, alojamento ou acolhimento.
São três as condutas incriminadoras: Promover, intermediar ou facilitar, no território
nacional, o recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou o acolhimento de pessoa que
venha exercer a prostituição.
Promover é dirigir a realização. É organizar a execução.
Intermediar é colocar-se na posição intermediária entre outro agente e a pessoa.
Identifica-se com a negociação dos interesses do promotor e os da pessoa que irá exercer
a prostituição. Nessa modalidade, indispensável a co-autoria, pois outro agente
necessariamente estará promovendo. Ou seja, para haver intermediação é indispensável
que haja um promotor.
Facilitar é, de qualquer modo, auxiliar, contribuir para que fique mais fácil a
realização do tipo. É vencer dificuldades, romper obstáculos, eliminar empecilhos.
A pena será aumentada à metade, se houver emprego de violência, grave ameaça ou
fraude;

Tipo Subjetivo: O dolo, com o especial fim de promover a prostituição da pessoa em


território nacional. Nas formas equiparadas, deve o agente ter conhecimento de sua condição;
É crime doloso. O agente deve estar consciente da contribuição que dá para o
recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou acolhimento da pessoa, mas,
principalmente, deve saber que ela irá exercer a prostituição. Se não sabe que a intenção da
pessoa é o exercício da prostituição, o fato é atípico, por erro de tipo, excludente do dolo.

Figura Equiparada : está no § 1º


“Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar, vender ou comprar a pessoa
traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la
ou alojá-la.”

Consumação : Há crime consumado no momento em que é realizado o primeiro


ato de recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou acolhimento da pessoa. Será

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permanente enquanto durar o transporte da pessoa, bem assim a sua presença no


alojamento ou no lugar onde tiver sido acolhida.
Tentativa : Possível a tentativa quando, realizada a conduta, a pessoa não é
transportada, transferida, alojada ou acolhida, por circunstâncias alheias à vontade do
agente, inclusive quando ela, por sua própria vontade, resolve permanecer onde se encontra.

Formas Qualificadas : O parágrafo único do art. 231-A determina seja aplicado,


ao tráfico interno de pessoas, o disposto nos §§ 1° e 2° do art. 231.
Assim, aplica-se a norma do § 1° do art. 227 que, com a redação da Lei n°
11.106/2005, diz:
“Se a vítima é maior de 14 (catorze) anos e menor de 18 (dezoito) anos, ou se
o agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor
ou curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de educação, de
tratamento ou de guarda:
Pena – reclusão, de 2(dois) a 5 (cinco) anos.”

Qualifica o crime a menor idade da vítima ou uma das relações entre ela e o
agente, referidas no preceito.
Alcança os professores, educadores, diretores de estabelecimentos de ensino, de
saúde, internatos, externatos, casas de internação de menores, enfim, pessoas que estejam
exercendo um poder de autoridade, decorrente das relações de tratamento e guarda.
Estando o agente nas condições referidas na norma, merecerá maior reprovação pela
violação decorrente do dever, legal ou jurídico, de proteger a vítima.
A segunda forma qualificada cuida dos meios empregados pelo agente para realizar a
conduta típica. Se usar violência, grave ameaça ou fraude, a pena será de reclusão de
quatro a dez anos.
Por violência física devem-se entender as lesões corporais, leves, graves ou
gravíssimas e também as v ias d e fato. Grave ameaça é a promessa da causação de
um mal importante.

Causas de aumento:
§ 2º: “A pena é aumentada da metade se:
I – a vítima é menor de 18 (dezoito) anos;
II – a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato;
III – se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge,
companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu,
por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou
IV – há emprego de violência, grave ameaça ou fraude.”

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Fraude é o engodo, o engano, o meio que o agente emprega para manter a vítima
em erro ou levá-la a apreciar mal a realidade. Além da pena mais severa, o agente
responderá, em concurso material, pelo crime contra a pessoa decorrente do emprego
da violência – lesão corporal ou morte , a não ser quando tais resultados tenham derivado
de culpa, caso em que incidirá o art. 223, aplicável também ao delito do art. 231-A, por força
do que dispõe o art. 232.
Assim, se o agente, ao realizar a conduta típica com violência, causa-lhe lesões
corporais graves ou morte, por negligência, imprudência o u imperícia, sua pena será
reclusão de oito a doze ou de doze a vinte e cinco anos, respectivamente
Conclui-se que tanto o crime de tráfico internacional de pessoa quanto o tráfico interno
deve merecer atenção das autoridades públicas bem assim de toda a sociedade brasileira.
A ação penal é de iniciativa pública incondicionada.

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UNIDADE II – DO ULTRAJE PÚBLICO AO PÚDOR

12. Ato obsceno

Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Ato obsceno: é o ato revestido de sexualidade e que fere o sentimento médio de pudor –
ex.: exposição de órgãos sexuais, dos seios, das nádegas, prática de ato libidinoso em local
público, micção voltada para a via pública com exposição do pênis, “trottoir” feito por travestis
nus ou seminus nas ruas etc.
Palavras e gestos obscenos: não caracteriza este crime, mas pode configurar “crime
contra a honra” ou a contravenção penal de “importunação ofensiva ao pudor”

Ato Obsceno é crime formal e de perigo. Por que crime formal? O legislador descreve a
conduta, descreve o resultado, mas não exige sua produção.

Bem Jurídico: O pudor público;

Sujeito Ativo: Qualquer pessoa


Sujeito Passivo: A coletividade;

Tipo Objetivo: Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público.
Ato obsceno constitui uma conduta positiva do agente, com conteúdo sexual, atentatória ao
pudor público, suscitando repugnância.
É necessário que o ato seja visualizado para que eu possa falar em Ato Obsceno? Não!
Basta a probabilidade de afetar Lógico: dogmaticamente, claro. Na prática, se ninguém ver,
nada acontece (exemplo da Praça XV).
Mas para se falar dogmaticamente no crime é necessário que alguém veja? Não, basta a
probabilidade de ver.

Local ermo: posso falar na probabilidade de visão? Para a jurisprudência não. Ou seja,
tem que ser num local público que dê margem à visualização. Basta ser provável que alguém
passando ali pudesse ver.

Tipo Subjetivo: O dolo; teria que ser o de ferir o pudor médio.

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Ex. Sujeito assaltado, andando nu, está com dolo de ferir o pudor coletivo? Evidente
que não.

Consumação : Consuma-se com a prática do ato obsceno, bastando a possibilidade de


ser contemplado.
Tentativa : É admissível a tentativa, embora de difícil ocorrência Com a prática do ato
que fere a moralidade média. Precisa ter visualização? Não! Só precisa ter probabilidade de
visualização.
Ex: Sujeito é surpreendido quando ia tirar a jeba pra fora. O que seria mentalmente
necessário pra dizermos que o sujeito queria pôr pra fora? Poderia estar dando uma coçadinha
no saco. Sujeito abrindo a calça pode estar simplesmente arrumando a cinta; arejando; fazendo
o sol bater pra matar um pouco de pereba.

Tem que ter o potencial de ofender a moralidade média. Não precisa ser visualizado.
Do ponto de vista dogmático seria possível (mas improvável na prática) quando o sujeito fosse
impedido de realizar o ato. Quando seria possível então? Só quando ele falasse. “Vou mostrar
meu pirulito pra vocês” e começa a descer a calça e alguém o impede.
Na prática ninguém iria à polícia, pois foi evitado.
O fato do cara andar nu na rua obrigatoriamente caracteriza Ato Obsceno?!
Urinar na via pública é sempre Ato Obsceno também? Vai depender da circunstância.
Urinar é satisfazer a necessidade fisiológica, mas existem formas: pode urinar escondido ou
exibindo o órgão sexual.
Se fosse filmado, com as imagens mostrando que você tentava ocultar, Erro de Tipo.
Agora, tem gente que faz pra câmera. Vê a câmera do prédio, fica urinando, exibindo e dando
tchau. Há dúvida de que ele quer afetar a moralidade pública? Nenhuma.
Então a micção em público nem sempre é considerada ato de chocar a moralidade
pública. Também a mesma coisa de andar nu, vide o exemplo do sujeito que bateu a cabeça no
acidente de trânsito, rasgou a roupa e saiu correndo nu, mentalmente perturbado em virtude do
acidente.
Ou, por exemplo, durante o assalto. Uma pessoa andando na baixada por volta das 3h, o
traveco vem com a faca nas costas e manda “Tira a roupa”. Ele sai correndo com suas coisas e
logo chega a polícia. Posso falar em Ato Obsceno? Não. Qual a justificativa jurídica para o
Ato? Motivo de Força Maior. O que esse motivo de Força Maior exclui?! Força Maior exclui

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conduta? Onde eu enquadraria? Estou diante de uma excludente de ilicitude: Estado de


Necessidade.
Mesmo que não fosse excluída a ilicitude do fato poderia falar em excludente de
culpabilidade? Não era exigível conduta diversa nessa circunstância. A pessoa não quis chocar.

13. Escrito obsceno

Escrito ou objeto obsceno


Art. 234 - Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de
comércio, de distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa
ou qualquer objeto obsceno:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.

Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem:


I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos objetos referidos
neste artigo;

II - realiza, em lugar público ou acessível ao público, representação teatral, ou


exibição cinematográfica de caráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo, que
tenha o mesmo caráter;

III - realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo rádio, audição ou


recitação de caráter obsceno.

Bem Jurídico: A proteção do pudor público;

Sujeito Ativo: Qualquer pessoa;


Sujeito Passivo: A coletividade;

Crime De Perigo Abstrato: o legislador presume o perigo;


Crime Comum: pode ser praticado por qualquer pessoa;
Crime De Ação Múltipla: o legislador descreve vários tipos de conduta. Se o sujeito
realiza mais de uma entre as condutas alternativamente incriminadas, responde por crime único.

Tipo Objetivo: Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de
comércio, de distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou
qualquer objeto obsceno.

Objeto Material:

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a) Desenho obsceno;
b) Escrito obsceno;
c) Pintura obscena;
d) Estampa obscena;
e) Qualquer objeto obsceno

Imprensa: Se cometido por meio de imprensa, o delito configurado não é o previsto no


art. 234 do Código Penal, mas sim o do art. 17 da Lei de Imprensa. 5.250, de 9-2-1967).

Dano Efetivo: É dispensável que o escrito, desenho etc. realmente ofendam o pudor
público. Basta a possibilidade de dano.
Da mesma maneira, responderá aquele que vende, distribui ou expõe à venda ou ao
público qualquer dos objetos referidos acima. Ainda, quem realiza, em lugar público ou
acessível ao público, representação teatral, ou exibição cinematográfica de caráter obsceno, ou
qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter. Por fim, é punível aquele realiza, em
lugar público ou acessível ao público, ou pelo rádio, audição ou recitação de caráter obsceno;

Tipo Subjetivo: além do dolo e o elemento subjetivo consistente na finalidade de


comercializar, distribuir ou expor ao público o objeto material do delito. Já se entendeu
suficiente o dolo eventual.

Consumação: Ocorre com a realização de qualquer das condutas. Não é necessário,


para a consumação , que alguém tenha acesso ao escrito ou objeto obsceno, nem que o pudor
público seja efetivamente atingido. Basta a possibilidade de que tal aconteça.
Tentativa: É admissível a tentativa;

Tipo Objetivo : do crime de escrito ou objeto obsceno, ele prevê vários verbos núcleos
da conduta incriminada:
a) fazer (fabricar/produzir);
b) importar (fazer entrar, introduzir, no país);
c) exportar (fazer sair para fora do país);
d) adquirir (obter a qualquer título);
e) ter sob sua guarda (guardar, possuir).

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É importante que o verbo núcleo venha acompanhado do objeto do crime:


a) escrito obsceno (grafia registrada);
b) desenho obsceno (representação gráfica de coisas ou pessoas);
c) pintura obscena (representação gráfica colorida de coisas ou pessoas),
d) estampa obscena (gravura impressa, por chapa); d) qualquer objeto obsceno (filmes,
fotografias, estátuas, internet, DVDs, etc.).

E para a conduta ser passível de culpabilidade é preciso que seja destinado ao:
a) comércio,
b) distribuição
c) exposição pública; isto é, deve ter a finalidade especial, não caracterizando o crime
quando destinado ao uso próprio.

Aumento De Pena: Nos crimes previstos neste Título, a pena é aumentada de metade,
se do crime resultar gravidez; e de um sexto até a metade, se o agente transmite à vitima doença
sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador. A transmissão de doença
sexualmente transmissível também gera aumento de pena;

Segredo De Justiça: Os processos envolvendo crimes sexuais devem correr em segredo


de justiça, para resguardar a dignidade do agente e da vítima.

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UNIDADE III – CRIMES CONTRA A FAMILIA

14. Bigamia

Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento:


Pena - reclusão, de dois a seis anos.

§ 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada,
conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três
anos.

§ 2º - Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que
não a bigamia, considera-se inexistente o crime

Bigamia: É o ato da pessoa que, sendo casada, contrai novo casamento


Quem contrai casamento sendo casado comete crime de bigamia. Quem é casado e
contrai união estável não comete o crime, apenas deslealdade. Além disso vimos a questão do
erro. Ele não torna o casamento nulo de pleno direito, mas pode tornar anulável quando houver
vício em relação à honra da pessoa, reputação, até mesmo quanto à saúde física e mental.

O tipo penal fala em bigamia, mas deve-se interpretar extensivamente para


abranger também a poligamia, que é a contração de 3 ou mais casamentos.

Objetividade Jurídica: tutela a família, em seu aspecto monogâmico.

Objeto Material: é o casamento entre homem e mulher.

Núcleo Do Tipo : é o verbo contrair, no sentido de formalizar novas núpcias . Por se


tratar de crime de forma vinculada, exige-se que o casamento anterior seja válido.

Conduta Típica : é contrair casamento. Significa ser parte da celebração formal do


Matrimônio, na condição de um dos contraentes, desde que o agente já seja casado, isto
é, tenha, antes, contraído casamento com outra pessoa.

Sujeito Ativo: homem ou mulher casado que casa-se novamente n a constância


de casamento anterior, pois é um crime plurissubjetivo ou concurso necessário (exige a
presença de duas ou mais pessoas).

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Admite-se a participação nas modalidades induzimento, instigação e auxílio,


ressaltando que o participe do caput do artigo, não pode ter pena superior ao do § 1 º,
em razão dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade.
Sujeito Passivo: o Estado, bem como mediatamente o cônjuge inocente.

Consumação : O crime de bigamia consuma-se quando uma pessoa contrai novo


matrimônio quando ainda está casada com outra pessoa. Divide-se em bigamia interna e
internacional.
O crime de bigamia interna ocorre quando a pessoa casada casa-se novamente no
próprio país;
Crime de bigamia internacional se concretiza quando a pessoa casa da contrai
novo matrimônio em outro país que considere crime o fato.
Na legislação brasileira somente se dissolve um casamento com a morte de um
dos cônjuges ou com o divórcio, aplicando-se a presunção quanto ao ausente, conforme
o artigo 1571, § 1º do CP.
A União Estável, embora equiparada ao casamento para fins civis, se alguém é
casado legalmente e mantém união estável simultaneamente, esse alguém não é
considerado bígamo, pois a lei não inclui a união estável. O mesmo raciocínio serve para a
separação judicial.

Bigamia Privilegiada – art. 235, § 1º Neste dispositivo, o legislador rompeu com a


teoria monista no que se refere ao concurso de pessoas, na medida em que a pessoa
casada que contrai novo casamento responde pelo art. 235, caput, enquanto o contraente
não casado, mas que está ciente do impedimento do outro, incide no § 1º, com pena mais
branda.
Segundo o art. 1.514 do Código Civil o casamento se realiza no momento em que o
homem e a mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal e
o juiz declara-os casados.

15. Abandono material

Art. 244 CP “Abandono material – Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência
do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de
ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os
recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente

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acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou


ascendente, gravemente enfermo:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior
salário mínimo vigente no País.

Parágrafo único – Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de
qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o
pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada.”

O que é o abandono, seja material, moral ou intelectual? De maneira simplista, podemos


entendê-lo como “deixar de fazer algo”.

Abandono Material : é aquele em que recursos, indispensáveis para alguém da família,


deixam de ser providos. Esses recursos devem ou deveriam ser fornecidos por alguém. Não se
esqueçam que os alimentos são devidos em relação ao parentesco que se forma.

Objetividade Jurídica: tutela a assistência familiar, relativamente à necessidade


material de seus membros (alimentos, habitação, vestuário, remédios, etc).

Objeto Material: é a renda, a pensão ou outro auxílio.

Núcleos Do Tipo: São três .


a) deixar de prover no sentido de não fornecer os meios de sobrevivência
apontadas – cônjuge, filho menor de 18 anos ou inapto para o trabalho e
ascendente inválido ou maior de 60 anos.
O Código Civil define o conceito de alimentos:
Art. 1694 do CC “Podem os parentes, os cônjuges, ou companheiros pedir uns
aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a
sua condição social, inclusive para atender as necessidades de sua educação”.

b) Faltar ao pagamento: significa não honrar a obrigação de pagar a pensão


alimentícia fixada judicialmente.

c) deixar de socorrer: significa negar proteção e assistência ao ascendente ou


descendente gravemente enfermo.
A lei só abrange o ascendente ou descendente, excluindo o cônjuge. Entretanto,
neste caso, ele estará tutelado pela primeira figura do artigo.

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Sujeito Ativo: só pode ser os cônjuges; os pais; os ascendentes (avós,bisavós),


de parte de pai ou mãe; os descendentes maiores de 18 anos.
Sujeito Passivo : são os cônjuges, o filho menor de 18 anos ou inapto para o
trabalho, o ascendente invalido ou o ascendente maior de 60anos, se dependente de
assistência material, bem como descendentes ou ascendente gravemente enfermo, pouco
importando o grau de parentesco na linha reta.

Tipo Subjetivo: é o dolo, não admitindo a forma culposa.

Consumação: consuma-se no momento em que o agente, deixa de assegurar os


recursos necessários, ou falta ao pagamento da pensão alimentícia, ou deixa de socorrer
descendente ou ascendente gravemente enfermo. Não se exige o efetivo prejuízo da
vítima, por ser um crime formal.
Tentativa: não admite a forma tentada,pois se trata de crime unissubsistente, que
impossibilita o fracionamento do iter criminis.

Figuras Equiparadas :
Art. 244 § Único CP : “É considerado abandono material quando o agente,
sendo solvente ilude a vítima para não pagar a pensão alimentícia.”

Art. 245 CP : “Entregar filho menor de 18 (dezoito) anos a pessoa em cuja


companhia saiba ou deva saber que o menor fica moral ou materialmente em perigo:
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.

§ 1º - A pena é de 1 (um) a 4 (quatro) anos de reclusão, se o agente pratica delito


para obter lucro, ou se o menor é enviado para o exterior.

§ 2º - Incorre, também, na pena do parágrafo anterior quem, embora excluído o


perigo moral ou material, auxilia a efetivação de ato destinado ao envio de menor
para o exterior, com o fito de obter lucro.”

Aqui o filho menor de 18 anos fica em perigo moral ou material. O que é perigo moral?
Deixar, por exemplo, viver em casa de prostituição ou com traficantes. Viver em casas de jogos
mal afamadas também. Enfim, tudo que possa levar à corrupção da criança ou adolescente.
E o abandono material? Muito cuidado agora. O artigo anterior tem nome jurídico
“abandono material”, e a redação deste é “...saber que o menor fica moral
ou materialmente em perigo: [...]” então temos aqui, também, um abandono material. A
diferença é que, no art. 244, o abandono é no sentido de deixar de prover os recursos para a
subsistência. Enquanto aqui, fala-se em perigo para a integridade da criança.
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“Materialmente” quer dizer local ou condições, e “Moralmente” é com relação ao


vínculo com pessoas que não têm boa fama, presumidamente criminosas ou desonestas, que
podem corromper o menor.

Outro detalhe sobre o art. 245 é que a vítima deste crime, nas três hipóteses, é o filho
menor de 18 anos. Frisamos isso porque veremos, na aula que vem, a previsão semelhante no
Estatuto da Criança e do Adolescente. Lá há medidas parecidas, no tocante ao envio para o
exterior ou abandono. Mas não se fala, lá, apenas em filho, mas em criança ou adolescente em
geral.
São perigos morais também, mas neste artigo eles estão definidos e enumerados.
Temos, portanto, uma relação de especialidade deste artigo em relação ao 245.

Abandono Moral
Art. 247 CP: “Permitir alguém que menor de dezoito anos, sujeito a seu poder ou
confiado à sua guarda ou vigilância:
I – frequente casa de jogo ou mal-afamada, ou conviva com pessoa viciosa ou de má
vida;

II – frequente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou participe


de representação de igual natureza;

III – resida ou trabalhe em casa de prostituição;

IV – mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública:


Pena – detenção, de um a três meses, ou multa.”

Objetividade Jurídica: tutela a assistência familiar, relativamente à educação e à


formação moral do menor.
Objeto Material: é a pessoa menor de 18 anos sujeita ao poder familiar, à
guarda ou vigilância do responsável.

Núcleos Do Tipo: é permitir, que pode ser por ação ou omissão (crime
omissivo próprio), no sentido de consentir e deixar que o menor de 1 8 anos realize
qualquer d as condutas dos incisos I a IV do artigo.

16. Abandono Intelectual

Art. 246 CP : “Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em
idade escolar: Pena – detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.”
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Objetividade Jurídica: tutela a assistência familiar, relativamente ao ensino


obrigatório do filho menor em idade escolar. Nos termo do art. 208, § 1º, o Estado
deve proporcionar a todos o ensino gratuito e aos pais o dever de assistir, criar e fiscalizar a
educação dos filhos – 227 a 229 da CF.
Objeto Material: é a instrução primária do filho menor em idade escolar.
Núcleos do tipo: é a expressão deixar de prover no sentido de não efetuar a
matrícula do filho em idade escolar em estabelecimento de instrução primária ou
impedir que o filho freqüente o estabelecimento de ensino fundamental.

Sujeito Ativo: os pais do filho em idade escolar. Como o Direito Penal não
admite a analogia in malam partem para normas penais incriminadoras, os tutores ou
outros responsáveis legais pela guarda do menor não podem figurar como sujeito ativo
deste crime.
Sujeito Passivo: é o filho menor em idade escolar, necessitado de instrução primária.

Sobre o conceito de instrução primária e idade escolar, há duas correntes:


a) Instrução primária é aquela que compreende o ensino fundamental obrigatório,
com duração de 9 anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 anos de idade e
ter á por objetivo a formação básica do cidadão. Logo, a idade escolar vai dos 6 aos
14 anos de idade;
b) Instrução primária é a inerente às pessoas com idade entre 6 a 17 anos, como
se extrai do art. 208 da CF.
Portanto, a corrente mais consentânea é a segunda, por se tratar de norma
constitucional.

Elemento Subjetivo: é o dolo, não admitindo a forma culposa. Se, os pais


esquecem-se de matricular o filho em idade escolar em estabelecimento de ensino, neste
caso o fato é atípico.

Consumação: consuma-se no momento em que os pais, agindo com dolo,


deixam de efetuar a matrícula do filho em idade escolar até o dia do término do prazo de
matrícula. Ou então, consuma-se o crime quando, por livre vontade dos pais, o filho é
impedido de freqüentar o estabelecimento de ensino.

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Sendo um crime formal, o prejuízo ao menor em idade escolar é presumido, em


razão da falta de acesso à instrução primária.
Tentativa: não admite, por ser um crime unissubsistente na medida em que não
há possibilidade do fracionamento do iter criminis.

No Brasil a legislação permite o homeschooling?


Discute-se se os pais, pela questão da baixa qualidade do ensino ofertado pelo
Estado, se podem eles oferecer o ensino domiciliar aos seus filho menores de idade. Sobre o
assunto, Damásio de Jesus e outros autores firmam entendimento no sentido de que a
Constituição Federal dispõe sobre a educação de forma abrangente, incluindo a educação
escolar e a domiciliar. Por outro lado, a legislação infraconstitucional, ao regulamentar o
tema, só abrange a educação escolar (pública e privada).
Art.246 do CP - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em
idade escolar:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

A outra corrente, liderada pelo STJ , firme entendimento no sentido de que a


legislação brasileira não prevê o ensino domiciliar. Veja o trecho de uma decisão do STJ:
STJ - “Inexiste previsão constitucional e legal, como reconhecido pelos
impetrantes, que autorizem os pais a ministrarem aos filhos as disciplinas do
ensino fundamental, no recesso do lar, sem controle do poder público
mormente quanto à freqüência no estabelecimento de ensino e ao total de
horas letivas indispensáveis à aprovação do aluno”

Portanto, por enquanto, vem prevalecendo a posição STJ no sentido de que,


enquanto não houver legislação regulamentando o assunto, o ensino domiciliar é
impossível no Brasil.
Os fundamentos são:
 Não há fiscalização do Poder Público quanto à freqüência do menor às aulas;
 O Estado não tem como avaliar o desempenho do aluno para constatar se a
educação domiciliar está sendo suficiente e adequada.
Portanto, nesta linha de pensamento, os pais que resolverem fornecer ensino
fundamental no seu domicílio, estará violando o preceito do art. 246 do CP, pois a
legislação determina que o ensino fundamental deve ser escolar (público ou privado).

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UNIDADE IV – CRIMES CONTRA A SAÚDE PUBLICA

17. Epidemia

Art. 267 - Causar epidemia mediante a propagação de germes patogênicos.


Pena: Reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos.

§ 1º : se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro


§ 2º: No caso de culpa, a pena é de detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, ou, se resulta
morte de 2(dois) a 4 (quatro) anos.

Conceito: “Na conduta de epidemia, o agente se vale da propagação de germes


patogênicos (microorganismos capazes de produzir moléstias infecciosas).”

Epidemia é a doença infecciosa e passageira que ataca ao mesmo tempo e no mesmo


lugar grande número de pessoas. Ex:caxumba, sarampo, rubéola.

Sujeito Ativo: qualquer pessoa


Sujeito Passivo: sociedade e vítimas que foram contaminadas ou expostas a perigo
concreto.

Objeto Jurídico: É a incolumidade pública, neste delito, especificamente, na saúde


pública.
Objeto Material: São os germes patogênicos.

Elemento objetivo: Causar epidemia: “produzir, originar, provocar doença que surge
rapidamente em determinado lugar e acomete simultaneamente grande número de pessoas.”
Propagar deve ser entendido como espalhar, difundir. A lei não se preocupa com o
modo de propagação (inoculação, contaminação, disseminação), desde que seja idôneo de
contaminar inúmeras pessoas.
A propagação pode ocorrer por contato direto ou indireto (através de pessoas ou coisas
portadoras de micróbios), sendo que as vias de penetração pode ocorrer através da pele,
mucosas, sangue ou do sistema nervoso..
Elemento Subjetivo: É o dolo, ou seja, a vontade de causar epidemia, mediante a
propagação de germes patogênicos.

Ausência de dolo: Quando o agente desconhece.


 a natureza patogênica dos germes;
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 a possibilidade de sua propagação;


 possibilidade de que sua propagação possa causar uma epidemia afasta-se o
dolo da ação se a intenção do agente for contaminar pessoa determinada, o
crime será o do art.131, CP – Praticar, com o fim de transmitir a outrem
moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir contágio:Pena
– Reclusão, 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (perigo de contágio de moléstia
grave).

Culpa : está prevista expressamente.

Art. 267§ 2º CP - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a dois anos.

O tipo culposo se caracteriza pela inobservância do cuidado objetivo necessário, dando


causa ao evento se da conduta culposa resulta morte, o crime é qualificado pelo resultado.

Na segunda parte do parágrafo cuida da figura qualificada pelo resultado, onde há culpa
na conduta antecedente e culpa no tocante ao resultado qualificador.
Resultado Qualificador: De acordo com o parágrafo 1º do art. 267 do CP, se o fato
resulta morte, a pena é aplicada em dobro o resultado morte é imputado ao agente a título de
culpa, na maioria das hipóteses, culpa consciente.

Trata-se de causa de aumento de pena: Se ocorrer mais de um resultado morte, o


agente continuará a responder por um único crime (não haverá concurso de crimes).
Não se trata-se de uma qualificadora stricto sensu, em que o patamar da pena é
diferenciado em relação ao crime simples. O dobro da pena aqui é calculado na terceira fase de
aplicação da pena, permitindo, assim, uma pena maior de 20 anos.
Ressalta-se que o resultado mais gravoso deve vir a título de culpa. Caso contrário, o
agente responderá por concurso formal impróprio (uma conduta, mas com dois resultados – são
os chamados desígnios autônomos).
Observações :
a) Crime Preterdoloso: há dolo no crime antecedente (epidemia) e culpa no
conseqüente (morte);

b) basta a morte de uma única pessoa para que o crime se qualifique;

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c) No caso de uma pluralidade de mortes, não há concurso de delitos, mas


circunstância judicial desfavorável (art. 59, caput, CP - O juiz, atendendo à
culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos
motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento
da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime: ) dosimetria da pena;

d) Se a intenção do agente é a morte, através da epidemia, responderá por epidemia na


modalidade simples, e por homicídio ou genocídio, em concurso formal.

Art. 70, caput, parte final, CP - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicar-se-lhe-a mais grave das penas
cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um
sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou
omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos,
consoante o disposto no artigo anterior.

Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art.
69 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Crime continuado);

e) A epidemia agravada pela morte é crime hediondo (art. 1º, VII, Lei 8.072/90);

f) A epidemia agravada pela morte admite a prisão temporária (art. 1º, III, i, da Lei
7.960/89);

Consumação: A consumação ocorre quando o agente causa a epidemia, mediante a


propagação de germes patogênicos, gerando, efetivamente, perigo à incolumidade pública. A
demonstração do perigo é indispensável.
Tentativa: é possível, uma vez que o crime é plurissubsistente.

 Crime De Perigo Comum E Concreto : aquele que coloca um numero


indeterminado de pessoas em perigo, que necessita ser provado, apesar de
Delmanto entender tratar-se de perigo concreto. (ressalvando-se a doutrina –
Paulo Jose da Costa Junior - que o considera intermediário como crime de dano
para os efetivamente lesados e crime de perigo para aqueles que apenas correram
o risco), de forma vinculada (porque a epidemia somente pode ser feita através
da propagação ou propagação de germes patogênicos);
 Instantâneo;
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 Mono Subjetivo Ou Unis Subjetivo (para sua ocorrência é necessária a


participação de apenas uma pessoa);
 Unissubjetivo Ou Plurissubsistente (o delito alcança todas as fases do crime,
sem haver aglutinação entre elas);
 Não-Transeunte (porque deixa vestígios).

Diferenciação Entre Epidemia, Pandemia E Endemia:

 Epidemia: doença que surge rapidamente em determinado lugar e acomete,


simultaneamente, grande número de pessoas.
 Endemia: tem o sentido de doença que existe constantemente em determinado
lugar e ataca número maior ou menor de indivíduos. Exemplo: febre amarela.
 Pandemia: quando vários países são assolados pela mesma doença, ou sua
disseminação se dá por uma extensa área do globo terrestre. Exemplo: gripe
espanhola.

18. Infração de medida sanitária preventiva

Art. 268 CP - Infringir determinação do poder público, destinada a impedir


introdução ou propagação de doença contagiosa:
Pena: Detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) anos e multa.

Parágrafo Único: A pena é aumentada de um terço, se o agente é funcionário da


saúde pública ou exerce a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro.

Objetividade Jurídica: O art do 268 do CP incrimina o fato de alguém infringir


determinação do Poder Público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença
contagiosa.
Trata-se de norma penal em branco, o complemento neste caso, é a norma que contém
a determinação do Poder Público, tendente a impedir introdução de doença infecciosa, podendo
constar de ato administrativo ou de lei.

Sujeito Ativo: pode ser qualquer pessoa.


Sujeito Passivo: é a coletividade
Conduta: A conduta típica tem como núcleo o verbo infringir, que tem o sentido de
violar desrespeitar.

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Elemento Subjetivo: É o dolo, vontade de infringir determinação do poder público


destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa. Não existe punição a
título de culpa.

Consumação: O crime se consuma com o desrespeito a determinação do Poder Público


destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa
Tentativa : É admissível a tentativa, que ocorrerá quando o agente tendo iniciado os
atos executórios do crime, é obstado a continuar por circunstâncias alheias a sua vontade.

Figura Típica Qualificadora: De acordo com parágrafo único do art. 268 do CP a pena
é aumentada de um terço se o agente é funcionário da saúde pública, ou exerce a profissão de
médico, dentista, farmacêutico ou enfermeiro. Para aplicação de aumento de pena é necessário
que o agente descumpra especial dever que lhe caiba em razão do cargo ou profissão exercida.

Qualificação Doutrinária: O crime é formal e de perigo presumido


Ação Penal: A ação penal é pública incondicionada.

19. Omissão De Notificação De Doença

Art. 269 CP - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja


notificação é compulsória.

Pena: Detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Tipo Objetivo: Deixar o médico de denunciar a autoridade pública doença cuja


notificação é compulsória. Trata-se de lei penal em branco, necessita ser complementada por
outra disposição legal ou em atos administrativos . O objeto jurídico é a incolumidade pública.
Tipo Subjetivo : dolo.

Bem jurídico protegido : saúde pública.

Sujeito Ativo : o crime é próprio, uma vez que só pode ser praticado por médico
Sujeito Passivo : é a sociedade que fica exposta ao risco de contaminação.

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Objeto jurídico: é a incolumidade pública, em particular a sociedade que deve orientar


o atendimento à saúde pública.
Objeto material :é a notificação compulsória.
Doença de notificação é compulsória é a enfermidade cuja ciência, pelo poder público, é
obrigatória, por exemplo a AIDS. Trata-se de norma penal em branco, tornando-se
indispensável conhecer o rol das doenças de que o Estado deseja tomar conhecimento.

Classificação: crime próprio (só pode ser sujeito ativo o médico), de mera conduta
(basta que o médico deixe de fazer a devida notificação); Omissivo; de perigo comum abstrato
(presumido pela lei).

Elementos Objetivos do Tipo: O crime tem como elemento objetivo o fato de o


médico não comunicar a autoridade competente a doença, cuja notificação é compulsória.
Elemento Subjetivo: É o dolo, vontade de não comunicar a autoridade competente
doença cuja notificação é compulsória.

Consumação: O crime consuma-se com a não comunicação da doença cuja competente


no prazo designado para tanto nos regulamentados ou outros atos normativos que versem sobre
a matéria.
Trata-se de crime omissivo puro, a tentativa é inadmissível: ou o sujeito deixa decorrer
o prazo designado para a notificação da doença, ou, inexistindo prazo legal para tanto, prática
ato inconciliável com a vontade de fazer tal notificação.
Tentativa: Não admite tentativa.

20. Exercício Ilegal Da Medicina, Arte Dentária Ou Farmacêutica

Art. 282 CP- Exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica - Exercer,
ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem
autorização legal ou excedendo-lhe os limites: Pena - detenção, de seis meses a dois
anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se também multa.

Tal crime consiste em exercer a profissão de médico, dentista ou farmacêutico sem que
na verdade o seja, ou então mesmo que o seja, mas de forma abusiva, conforme o caput do
artigo.

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Objeto Jurídico: é a incolumidade pública, em especial a saúde pública, pois qualquer


pessoa que fosse exposta a este tipo de pessoa, ou profissional seria exposta a perigo.
Objeto Material : é a profissão de dentista, médico ou farmacêutico
Sujeitos Ativos: Na forma típica do exercício "sem autorização legal", pode ser
qualquer pessoa. Na modalidade do exercício " excedendo-lhe os limites", trata-se de
Crime Próprio: só o podem praticar o médico, o dentista e o farmacêutico. Estudantes e
práticos: incrimina-se apenas a conduta abusiva.
Sujeitos Passivos: sociedade em um primeiro momento e a pessoa em relação à
qual tiver sido exercida ilegalmente a profissão de médico, dentista ou farmacêutico.

Núcleos Do Tipo: é o verbo exercer, que tem sentido de desempenhar a


profissão de médico, dentista ou farmacêutico
Elemento Subjetivo: dolo. Não admite modalidade culposa. (Caput E Parágrafo
Único): vontade de exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista
ou farmacêutico, sem autorização legal .
Elemento Normativo Do Tipo: “sem autorização legal”

O crime pode ser praticado sob duas formas:


1- Falta de autorização: quando o agente exerce a profissão de médico, dentista
ou farmacêutico sem autorização legal, que é a falta de autorização, isto é, o agente
não tem título que o habilite (falta de capacidade profissional, não cursou faculdade), ou
na situação em que, embora o agente tenha cursado faculdade respectiva, porém, o título
não fora registrado no CRM. Neste caso, é a falta d e capacidade legal.
2- Transposição dos limites da profissão: o agente tem autorização para
exercer a medicina, a odontologia ou a prática farmacêutica, com registro no órgão
profissional competente, mas extrapola os limites que a lei delimita.
Exemplo: um médico dermatologista passa a fazer cirurgias plásticas s em a
devida capacitação profissional.

Consumação : Também um crime formal, pois para consumar-se não necessita


que apresente resultado, vale dizer, não precisa provocar o mal à pessoa. De outra forma, é
um crime de perigo comum e abstrato, a lei presume de forma absoluta o risco à saúde de
um número indeterminado de pessoas.

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Neste viés, ainda que o atendimento prestado pelo falso médico, dentista ou
farmacêutico surta efeitos positivos, que a pessoa recupere a sua saúde, mesmo assim o crime
se consumou.
Tentativa: não se admite o conatus, pois é um crime habitual.

Falsificação de diploma universitário e exercício ilegal da medicina: Havendo


falsificação do diploma, objetivando exercer ilegalmente a medicina, odontologia e farmácia,
a falsificação de documento fica absorvida pelo crime do art. 282 do CP, pois o primeiro
funciona como meio de execução para a prática do crime de exercício ilegal da
medicina, aplica-se neste caso, o princípio da consunção.

21. Charlatanismo

Art. 283 CP - Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível:


Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Diferença entre charlatanismo e exercício ilegal da medicina . Aquele que


exerce a medicina ilegalmente acredita na eficácia do tratamento que sugere ou aplica à
pessoa, aprovado ou não pela ciência oficial. Já o charlatão, engana a pessoa e tem
consciência de que o tratamento por ele indicado não tem efeito curativo.

Objetividade Jurídica : O bem jurídico penalmente tutelado é a saúde pública. O


anúncio da falsa cura muitas vezes acarreta a decisão de pessoas ingênuas no sentido de ser
desnecessário o auxílio médico para proceder ao tratamento convencional da doença,
resultando em riscos para a saúde ou mesmo para a vida.

Objeto Material: É o anúncio da cura por meio secreto ou infalível. Cura secreta é o
tratamento de doença de maneira oculta, mediante a utilização de procedimentos ignorados
pelas ciências médicas. Cura infalível, por sua vez, é o tratamento plenamente eficaz, apto a
restabelecer, inevitavelmente, a saúde do paciente.

Sujeito Ativo : O crime é comum ou geral, podendo ser cometido por qualquer pessoa,
inclusive pelos profissionais da área da saúde (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, dentistas,
farmacêuticos etc.).
Sujeito Passivo : É a coletividade (crime vago).

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Elemento Subjetivo : é o dolo, consistente na vontade de inculcar ou anunciar


cura por meio secreto ou infalível, sabendo o sujeito da ineficiência dos meios
apregoados. O charlatão deve comportar-se com insinceridade e com falsidade. Se o
agente acredita, sinceramente, na eficácia dos meios apregoados para a cura, o dolo está
excluído. não existe punição a título de culpa.

Consumação: Ocorre com a inculcação ou anúncio da cura, independentemente de


qualquer resultado. É indiferente que ninguém acorra ao charlatão para obter a cura
apregoada, uma vez que o perigo à coletividade é presumido de forma absoluta.
Tentativa: admite (crime plurissubsistente).

Núcleos Do Tipo: O tipo penal contém dois núcleos: “inculcar” e “anunciar”. Trata-se
de tipo misto alternativo, crime de ação múltipla ou de conteúdo variado, pois o tipo penal
contém dois núcleos, e a prática de ambos, no tocante ao mesmo objeto material e no mesmo
contexto fático, configura um único delito.

 Inculcar : aconselhar, apregoar, sugerir; anunciar é noticiar, divulgar pelos mais


variados meios (panfletos, cartazes, rádio, televisão etc.).
 Anunciar: Com efeito, incide no art. 283 do Código Penal aquele que apregoa
ou divulga tratamento de doença mediante cura secreta ou infalível.

Crime De Perigo Abstrato: O perigo não requer comprovação.


Crime Simples: ofende só um bem jurídico;
Crime Vago: tendo em vista que o sujeito passivo da incriminação é a coletividade
Não se admite a modalidade culposa

Ação penal: pública incondicionada.

 Charlatanismo e estelionato

Diferença e concurso de crimes: O charlatanismo, cuja nota característica é a fraude,


guarda muita afinidade com o estelionato. Cuida-se de autêntico “estelionato contra a saúde
pública”.

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“A expressão vem do latim ciarlare, que significa falar muito, tagarelar, parlar etc. É
o crime do 12 ‘conversa-fiada’, do que, com lábia, ilude os incautos, fazendo-os crer
em curas maravilhosas, em processos infalíveis etc.”.

22. Curandeismo

Art. 284 CP - Exercer o curandeirismo:


I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância;

II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;

III - fazendo diagnósticos:


Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Parágrafo único - Se o crime é praticado mediante remuneração, o agente fica


também sujeito à multa.

Curandeismo : É a prática consistente no ato de restabelecer a saúde de outra


pessoa, quando o agente se atribui com capacidade ou poder para tal fim. Em regra, é
realizada por indivíduo sem qualquer título ou idoneidade técnica ou profissional para alcançar
a cura.
O curandeirismo se distingue do exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmácia
(CP, art. 282): O curandeiro não possui noção de medicina, utilizando-se, para cura de
moléstias, de práticas grosseiras, ao passo que o sujeito ativo do exercício ilegal da
medicina, arte dentária ou farmacêutica possui noções de medicina, exercendo, no
entanto, tal profissão sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites.

Objetividade Jurídica: O bem jurídico penalmente tutelado é a saúde pública.


Objeto Material: é substância prescrita, ministrada ou aplicada, o gesto, a
palavra ou qualquer outro meio ou o diagnóstico.

Núcleos Do Tipo: O núcleo do tipo é “exercer”, no sentido de desempenhar ou


praticar determinado comportamento com habitualidade. Com efeito, o verbo “exercer” é
indicativo da reiteração de atos, razão pela qual a realização isolada da conduta legalmente
descrita não constitui o delito.
É um crime de forma vinculada, pois o tipo amarra expressamente os meios de
execução.

Sujeito Ativo: pode ser cometido por qualquer pessoa (crime comum).
Sujeito Passivo: é a coletividade (crime vago).
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Elemento Subjetivo: é o dolo, porém, é dispensável a intenção do agente


alcançar vantagem indevida, e logicamente, quando o agente procede gratuitamente não
desnatura o crime, pois o bem juridicamente tutelado é a saúde da população, não
importando se houve ou não vantagem ao agente.
Não se admitindo a forma culposa.

Elemento Objetivo: Curandeirismo é a atividade grosseira de cura por quem não


possui nenhum conhecimento de medicina.

Objeto Das Condutas: A prescrição, ministração ou aplicação devem ter por


objeto qualquer substância, podendo ser do reino animal, vegetal ou mineral. Pouco
importa se a substância é ou não nociva à saúde ou se tem propriedades idôneas à cura
pretendida pela pessoa que procura o curandeiro.

Consumação: sendo um crime habitual, exige-se a reiteração da conduta do tipo,


que mostra o estilo de vida ilícita do agente. Assim, o a gente que, uma só vez
ministra uma erva supostamente com poder de cura, não incide no crime de curandeirismo.
Uma reiteração de atos que caracterizem o tipo penal em um mesmo dia e em diversas
pessoas, tipifica o crime. Também prescinde-se do desempenho exclusivo ao crime de
curandeirismo, pois o agente pode exercer outra atividade, continua exercendo o
curandeirismo habitualmente.
Tentativa: É Inadmissível. O agente, habitualmente, dedica-se ao curandeirismo, e
o crime está consumado, ou não, e neste caso não há delito.

Crime De Perigo Abstrato E Formal: Pouco importa se no caso concreto não


ocorram vítimas ou se o curandeiro obtém a cura das pessoas que o procuram, a lei presume
a situação de risco a pessoas indeterminadas. Também é crime formal, pois consuma-se a
prática repetida das condutas, não importando se essas condutas dano ou prejuízo a alguém.
Crime Abstrato: superveniência do perigo ao titular do bem jurídico, tutelado, a
coletividade, é presumida pela lei;
Crime Habitual: somente a mesma conduta reprovável, de forma a constituir um
estilo ou hábito de vida, faz surgir o crime;

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Crime Comum: pode ser praticado por qualquer pessoa, que não possua conhecimentos
médicos;
Crime De Forma Vinculada; após definir de forma genérica a conduta (exercer
o curandeirismo), especifica, nos incisos , particularisadamente conhecimentos médicos.

Formas Qualificadas Pelo Resultado: Art. 285 - Aplica-se o disposto no art. 258 aos
crimes previstos neste Capítulo ,salvo quanto ao definido no art. 267 (epidemia).

Tipos Qualificados: pelos resultados morte e lesão corporal de natureza grave, O art.
258, a que faz remissão o art. 285, aplica-se aos delitos definidos nos arts. 268 a 284. Exceção
Do Crime De Epidemia (Art. 267) .

Fundamento: se resulta lesão corporal, ela já integra o crime de epidemia; se


resulta morte, a hipótese se encontra prevista nos §§ 1º e 2º do art . 267.
Vejamos.
Art. 284 CP - Exercer o curandeirismo: inc I - prescrevendo, ministrando ou
aplicando, habitualmente, qualquer substância;

Prescrever: é receitar ou recomendar; ministrar equivale a entregar para consumir ou


inocular; e aplicar tem o sentido de empregar ou utilizar. As ações ligam-se a “qualquer
substância”, de origem vegetal, animal ou mineral (exemplos: pomadas, líquidos, tripas de
animais, penas de aves etc.), seja ou não nociva à saúde humana pois, nada obstante sua
inocuidade, ela impede ou retarda o tratamento correto do enfermo pelo profissional da área de
saúde.
Art. 284 CP - Exercer o curandeirismo: inc II - usando gestos, palavras ou qualquer
outro meio;

Gestos consistem no emprego de movimentos corporais, especialmente dos membros


superiores e comunicação interpessoal, mediante linguagem escrita ou falada, tais como as
rezas, benzeduras, encomendações e esconjuros.
Além disso, o legislador socorreu-se mais uma vez da interpretação analógica (ou
intralegem), empregando a expressão “ou qualquer outro meio” para abarcar atos análogos aos
gestos e às palavras, criados pela imaginação humana e impossíveis de serem esgotados no
plano abstrato (exemplo: telepatia).
No inciso II do art. 284 do Código Penal , impera a superstição das pessoas,
independentemente da sua classe social, raça, origem ou nacionalidade. A força e a autoridade
do curandeiro não existiriam sem os supersticiosos. A propósito, é raro encontrar alguém que
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não tenha sua superstição: sexta-feira 13, gato preto em noite de lua cheia, passar por baixa de
escada, descer da cama ao acordar e pisar com o pé direito, e assim por diante.
Seguindo essa linha apresentam técnicas corriqueiras dos curandeiros:
 Para a facilitação do parto, deve a mulher calçar os sapatos do marido e pôr seu
chapéu.
 Picada de cobra é curada com água benta pelo curandeiro com um ramo de
alecrim.
 Tosse rebelde (coqueluche) com chá de fezes secas de cachorro.
 A febre é extinta abrindo-se ao meio uma pomba e calçando-a no pé da criança.
 O sangue é estancado com a aplicação de teia de aranha. E assim outras práticas.

Art. 284 - Exercer o curandeirismo: III - fazendo diagnóstico.

Nessa hipótese, o comportamento ilícito reduz-se a fazer diagnósticos, ato privativo do


médico, mediante a constatação de uma doença ou enfermidade pelos seus sintomas ou sinais
característicos. Assim agindo, o curandeiro retarda a cura ou o tratamento de uma doença,
comprometendo a saúde e até mesmo a vida do enfermo. É o caso daquele que identifica um
câncer no crânio como uma simples dor de cabeça, impedindo a terapia eficaz e, no mais das
vezes, a preservação da vida humana.

a) Curandeirismo E Estelionato : Curandeiro é pessoa que acredita ser capaz de curar


males físicos e psíquicos empregando formulas sem comprovação de poder de cura. Já o
estelionatário é pessoa que emprega a má-fé e fraude para induzir ou manter pessoa em erro,
e com isso, obtém vantagens ilícitas.
Assim, se o agente age com o objetivo de obter lucro, mas usa a condição de
curandeiro e vende certa substância dizendo para as pessoas que ela cura determinada
doença, então, neste caso, a tipicidade da conduta é do crime de estelionato e não de
curandeirismo, pois este último crime, apenas serviu de meio de execução para a prática do
estelionato.

b) Curandeirismo E Violação Sexual Mediante Fraude : Se o agente, sob a alegação


de sanar certas enfermidades físicas ou psíquicas, afirma para a outra pessoa que, para ela
ficar sã, precisa manter relação sexual com a entidade tal e isso vem a ocorrer, então o
a gente responderá pelo crime do art. 215 do CP, pois a condição de curandeiro foi usada

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apenas como meio de execução para a prática do crime de violação sexual mediante
fraude.
Art. 215 do CP - Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém,
mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de
vontade da vítima.

c) Curandeirismo E Estupro Se o agente usa a condição de curandeiro, com a


intenção de manter conjunção carnal ou ato libidinoso, e se utiliza de pessoa com
doença ou enfermidade mental, ou pessoa que, por qualquer causa, não puder oferecer
resistência ao ato sexual, ou ainda se a pessoa for menor de 14 anos, então, comete o
crime de estupro de vulnerável.
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14
(catorze) anos:

Neste caso, o crime de curandeirismo foi utilizado como meio de execução para a
prática do crime de estupro de vulnerável, ficando o primeiro crime absorvido pelo
segundo.

d) Charlatanismo, Curandeirismo E Exerício Ilegal Da Medicina


Charlatão: a conduta do agente consiste em sugerir ou anunciar a cura doença por
meio secreto ou infalível, estando ciente de que se u procedimento não é idôneo p ara curar.
O agente pode ser qualquer pessoa.
Curandeiro: a conduta do agente consiste e m promover com habitualidade a cura,
por meio de métodos sem base científica, porém, o agente acredita ser capaz de curar a
pessoa. O agente pode ser qualquer pessoa, mas ele não se passa por médico, dentista ou
farmacêutico.
Exercício ilegal da medicina : a conduta d o agente consiste em desempenhar
atividade médica se m autorização legal ou excedendo os limites da profissão , quando o
médico passa a atuar em outra especialização para a qual não é capacitado.
O agente pode ser qualquer pessoa, que se passa por médico, sem a autorização
legal (tem possui conhecimentos médicos nem certificado), ou aquele que, mesmo sendo
médico, com formação médica e registro no CRM, extrapola o seu campo de atuação,
invadindo área na qual não é capacitado .

e) Curandeirismo E Religião E Seus Limites Constitucionais

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Curandeirismo e rituais religiosos: limites constitucionais e distinção, o Brasil é um


Estado laico, ou seja, não adota oficialmente nenhuma religião. Como dispõe o art. 19, inc. I,
da Constituição Federal:
Art. 19 CF/88. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o
funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência
ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público.

A colaboração de interesse público, que o Brasil não adota, oficialmente, qualquer


religião.
Art. 5.º CF/88 Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes .

Inc. VI, da Lei Suprema assegura a liberdade de consciência e de crença, bem como o
livre exercício dos cultos religiosos: “é inviolável a liberdade de consciência e de
crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma
da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”.

Também da Lex maior assegura a liberdade de consciência e de crença, bem


como assegura o livre exercício dos cultos religiosos e garante a proteção aos locais
dos cultos. Assim, quando um padre ou qualquer outro religioso, faz as suas fazeduras
ou aplica passes nas pessoas, ou pratique atos de exorcismo, ou qualquer outra prática
que não contraria os bons costumes, não ofenda a moral nem faça correr perigo a
saúde das pessoas, tais condutas não constituem crime de curandeirismo, mas sim,
caracteriza manifestação religiosa.

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UNIDADE V- CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA

23. Incitação Ao Crime

Art. 286 CP - Incitar, publicamente, a prática de crime:Pena - detenção, de três a seis


meses, ou multa.

Objeto Jurídico : A paz pública. Independentemente do objeto jurídico do crime ao


qual se incitou

Sujeito Ativo: Qualquer Pessoa.


Sujeito Passivo : A coletividade.

Conduta Típica: Consiste em excitar (incitar), publicamente, a prática de crime.


Abrange o induzimento e a instigação. A incitação deve ser feita em público, i. e., de
modo a ser percebida por um número indefinido de pessoas. Por isso, a incitação feita em
ambiente familiar não caracteriza o delito.

Meios De Execução: Qualquer meio, palavras, gestos, escritos etc. Pouco importa se
o agente incita publicamente à prática de crime determinado indivíduo, desde que, pelo
contexto no qual a conduta é realizada, possa ser percebida por indeterminado número
de pessoas.
A incitação genérica não é crime.

Consumação : ocorre com a percepção, por indeterminado número de pessoas, da


incitação ao crime. É irrelevante que o crime ao qual foram as pessoas incitadas não
seja praticado. Trata-se de crime formal. Se cometido, o incitador é partícipe (art. 29,
caput).
Quando se consuma o crime de incitação ao crime? Estamos diante de um ato
preparatório que gera perigo abstrato, portanto, presumido. Uma incitação à prática criminosa
em público, basta que aquilo possa levar dogmaticamente as pessoas a praticar o crime para que
eu tenha a tipificação penal. Então a consumação se dá com a simples incitação ao crime.
Tentativa: É Admissível. Seria possível a tentativa? Quando seria possível? Não
estamos falando de atos meramente preparatórios, elegidos como crime autônomo? Quando
seria possível a tentativa? Seria o caso do panfleto. E aqui em Ribeirão tivemos caso assim.
Sujeito fez 1.000 panfletos incentivando a prática criminosa. Algum dos comparsas que

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trabalhava na editora deu notícia, o Poder Judiciário interviu, determinou a busca-e apreensão e
os panfletos foram apreendidos na casa do sujeito: tentativa de incitação ao crime. Tinha o
conteúdo, tinha o propósito, os panfletos seriam divulgados publicamente. Só não foram por
circunstância alheia à vontade do agente! É difícil pensar em qualquer outra hipótese de
tentativa, hein.
A gráfica normalmente não vai ler nem interpretar o que é dito, por ser um processo
grande e espaçado que muitas vezes nem é possível tomar ciência do conteúdo.
Incitar publicamente a prática de crime... O legislador está punindo meros atos
preparatórios de crimes posteriores autonomamente. Por que o legislador põe nos crimes contra
a paz pública de forma autônoma aquilo que seria meros atores preparatórios, portanto
impuníveis, de fatos posteriores?
Aqui o legislador demonstrou uma certa impaciência. O que ele quer?
O que pretendia o legislador ao instituir esses três crimes: incitação ao crime; apologia
ao crime ou criminoso; formação de quadrilha ou bando? Garantir o sentimento de segurança
da coletividade. Ao instituir as infrações penais o que o legislador visava? Que a sociedade
vivesse tranqüila, pois a prática de incitação ao crime, de apologia ao crime, de formação de
quadrilha ou bando, afetarão esse sentimento de segurança nacional e propiciarão a prática de
crimes posteriores. Portanto em razão só de praticar atos preparatórios o legislador pune
autonomamente.
Vamos supor que o sujeito, em virtude dessa incitação, viesse a praticar um crime
mesmo... Quem incitou responde por qual crime?!
Eu incitei o uma pessoa a estuprar a outra... Incentivei... Ele vai e faz. Que crime eu
pratiquei ?! O F... praticou, em tese, estupro? Que crime eu pratiquei? Só incitação ao crime?!
Participei de estupro também! Incitação ao crime e participação em crime de estupro, com
pena somada! Por quê? Aqui o legislador pune os atos preparatórios independentemente de
qualquer acontecimento. Se o fato acontecer eu respondo por participação, desde que haja
domínio do fato. Nesse caso há domínio do fato?
O que levou o F... a praticar estupro? O meu induzimento. Então respondo por incitação
ao crime e também pelo crime posterior.
Se o crime posterior não tivesse ocorrido? Se eu incentivar o F...... Vou lá à sala do
promotor, tranco a porta e falo: “Você tem que pegar a fulana a força”. Posso falar em
incitação ao crime? Não! Só posso falar em incitação ao crime quando o fizer publicamente,
perante certo número de pessoas – o sentimento deve estar dirigido a pessoas indistintamente.
Embora tenha voltado minha ação ao F... tenho que fazê-lo de forma pública: local público,

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aberto, portanto exposto ao público. Acessível indistintamente, ou a quem cumpra


determinados requisitos, ou mesmo em local privado, observado por quaisquer pessoas que ali
transitem.
Então mesmo que esteja dirigindo meu ato a uma só pessoa, tenho que fazê-lo de forma
pública, para número indeterminado de pessoas. Se fizer uma reunião privada, 4 ou 5 numa
reunião em minha casa... Posso falar em incitação ao crime?
Suponhamos que nada tenha ocorrido posteriormente... Ninguém ali praticou qualquer
crime. Mas, se eu o fiz em evento privado, perante pessoas convidadas... Posso falar que o ato
foi público?
O que eu tenho que verificar? O local era público? Aberto ao público? Podia ser
acessível a número indeterminado de pessoas que passassem pela rua? Não! Então se a reunião
é privada não posso falar em incitação ao crime.
E o que seria “incitar”? Incentivar, estimular...

Música, livro ou filme: posso falar em incitação ao crime?! Isto já chegou ao Supremo.
É absurdo falar que a música por si só faz incitação ao crime ou faz apologia ao crime ou
criminoso. Quando você faz uma música, ou um livro, o que se pretende?
Temos que dizer o seguinte então. O livro do Chateaubriand na França, que levou
pessoas à morte, poderia ele responder por crime de participação em suicídio? Evidente que
não! Quando se faz música, livro, filme, busca-se difundir a cultura. Aí evidentemente não há
dolo. Falar de fumar maconha... Isso obrigatoriamente quer dizer que as pessoas estarão
estimuladas a fumar maconha?

No RJ teve a Marcha Pela Maconha. Aquilo é crime? Antigamente a PM ia lá e prendia


todo mundo. Não é crime! A defesa de tese não é crime! Defende-se a liberação da maconha.
Fala-se em “Fume a maconha”?! Não! Para falar em incitação tem que ser estímulo à prática
criminosa.
Se defendo a descriminalização do aborto; do uso de entorpecente; não estou
incentivando as pessoas. A tese eu posso, dentro de determinados limites, usufruir da liberdade
de expressão, desde que não incentive diretamente as pessoas à prática criminosa. Se passar da
livre manifestação do pensamento a incentivar as pessoas à prática criminosa, aí sim estaria
incorrendo em crime.
Filme, música, livro, ensejam interpretação e dessa forma exclui-se o dolo. As músicas
do Marcelo D2, tudo em duplo sentido. Teríamos que punir samba da década de 1930, que o

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sujeito não sabia se enrolava ou mascava? Poderia estar falando de um sem-número de coisas.
Aí seria censura.
O Direito Penal é a primeira razão ou a última razão? É o primeiro mecanismo ou o
segundo mecanismo? É a ultima ratio. O legislador não pensa numa probabilidade genérica,
mas específica.
Aqui basta a probabilidade de o sujeito ser incentivado à conduta. Mas se eu estimular a
praticar a contravenção penal? Estimulo as pessoas a darem tapa umas na cara das outras...
Posso falar em incitação ao crime? Legislador fala em incitação ao CRIME. Não é a mesma
coisa que o delito.
E se eu incentivar as pessoas a praticar atos imorais? Incentivo as pessoas a torcer pelo
São Paulo (ato de pederastia, ato imoral). Isto seria incitação ao crime?! Não. Por que não?
Tenho que incentivar a prática de Crime. Incentivo a atos de pederastia (são-paulinagem),
posso falar em incitação ao crime?! Cuidado aqui, hein!
Não falei em atos sexuais, mas pederastia. A pederastia poderia ser coito anal entre dois
homens. Não é crime? Depende! E se a vítima for menor de 14 anos? Enferma ou doente
mental? Ou naquelas circunstâncias não tem como resistir ao ato? Aí poderia estar incitando
estupro de vulnerável. Então nem sempre a priori, ao falar de uma prática em si, poderei falar
se é criminosa ou não. É preciso que o ato seja especificado! Não pode ser genérico.

Incentivar abortamento? Não serve. Tem que incentivar mulheres grávidas que possam
praticar de forma direta o abortamento. “Se estivesse grávida como vocês nessa circunstâncias
praticaria – vocês devem praticar o abortamento”! Não pode ser genérico: tem que ser
específico! Além da incitação ao crime haveria participação no aborto (desde que se estabeleça
o nexo causal).
E a invasão de terra pelo MST? É incitação ao crime?! Não? Por que não?!
O que eu tenho que observar, gente? Que tipo de terra o MST incentivava a invadir?
Terras devolutas, ou seja, terras que eram estatais, que não podiam ser objeto da usucapião,
estavam ilegalmente na mão de terceiros. Quem estava na terra é quem cometia ilegalidade e
dessa forma não posso falar em incitação ao crime.
Agora mudemos o exemplo. Terras produtivas que alguém incentive terceiros a
ingressar e colocar fogo, como aconteceu em Ribeirão... Aí eu falo em crime, incitação de
crime. Por quê? A terra tinha posse legítima de alguém; eu incentivei outro a ingressar na terra
e, mais, a causar incêndio. Portanto aí sim, desde que publicamente, e incitei a prática
criminosa.

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Em regra, portanto, o MST não significa necessariamente que se está incentivando o


crime, mas pode ser, especificamente, que eu possa acarretar em determinadas circunstâncias a
incidência de um Tipo Penal. Num linchamento, duas pessoas atacam um terceiro...

Você começou a incentivar outras pessoas a participarem do linchamento, incitação ao


crime. Se defendo uma tese, legalização do aborto, descriminalização da maconha, não estou
especificamente falando de um fato criminoso. Se estou apenas defendendo uma tese também
não posso falar em crime, pois a defesa de tese é Direito Constitucional.
Agora, se ao defender uma tese eu passar a estimular as pessoas a praticar um crime,
aí estarei incorrendo em crime.
Suponha que dê palestra sobre a descriminalização da maconha dizendo os motivos
pelos quais ela não devia ser Tipo Penal. E no meio digo pro F... “Enrola e acende que
daremos um tapa na macaquinha”. Incentivei os presentes a praticar crime de consumo de
entorpecentes, que é crime.
Para consumir você não tem que trazer consigo muito próximo à boca? Trazer consigo
junto ao corpo é Fato Típico. Para fumar você tem que trazer consigo; tem que guardar. Mas
alguns Juízes defendem que não.
Político não comete crime de palavras, tem imunidade parlamentar : Senador,
deputado federal, estadual, imunidade absoluta. Se for o vereador, dentro da circunscrição do
Município, da tribuna da Câmara, e disser respeito ao exercício do múnus parlamentar, também
não comete.
E se a incitação disser respeito ao impedimento de pessoas negras adentrarem ao
prédio? Eu fazer incitação às pessoas a praticarem racismo: posso falar em incitação ao crime?
Incito as pessoas de determinado prédio a impedirem que negros, judeus, ingressem no
elevador: qual crime estou praticando? Crime de racismo, muito mais grave! Lei 7.716/89, 4 a
16 anos de reclusão. Não estou falando de mera incitação ao crime do Código Penal não!

E se eu incentivo as pessoas a aniquilarem toda uma raça? “Exterminemos os judeus”,


crime de genocídio (Lei 2.889/56). Incentiva as pessoas a praticarem suicídio...
Artigo 124 do CP - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho
provoque:

Por que não aplico o art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime nesses casos?!
Conflito aparente de normas: regra especial prevalece sobre a geral (há outras situações de
incitação ao crime como crime autônomo, regra específica).

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Normalmente a regra especial é mais grave, mas isso não importa. Se eu chamo um
particular de macaco, ou se chamo um PM, no exercício de suas funções (em razão de uma
multa), de macaco, tem diferença? Sim, numa circunstância eu tenho injúria qualificada pelo
preconceito social; na outra eu tenho desacato.
Qual o crime mais grave?! A injúria qualificada pelo preconceito é mais grave. Qual o
fato específico? O desacato. Ele prevalece mesmo sendo uma norma mais branda.
Portanto a regra especial sempre prevalece sobre a geral. Deveria ser mais grave
chamar o PM de macaco do que o particular. O legislador ao reformar as Leis não pensa de
forma sistemática. Esqueceu que havia outros tipos de ofensa que não aquelas da injúria.
Se eu incentivei o F... em público a estuprar a Laís e ele o fez, vou responder pela
incitação independentemente da prática de crime posterior, mas se tiver nexo causal, relevância
da minha conduta com a prática do crime posterior, vou responder em concurso material pelas
duas infrações penais: pela incitação ao crime e também como partícipe do crime posterior.

24. Apologia Ao Crime

Art. 287 - Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime:


Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.

Objeto Jurídico : A paz pública.

Sujeito Ativo: Qualquer Pessoa.


Sujeito Passivo : A coletividade. Número indeterminado ou indeterminável de pessoas.

Conduta Típica: Consiste em fazer, publicamente, apologia de autor de crime


ou de fato criminoso. Fazer apologia significa exaltar, enaltecer, elogiar. É necessário que a
apologia seja f eita publicamente, ou seja, em condições que possa ser percebida por um
número indefinido de pessoas.

Simples Defesa: Ou demonstração de solidariedade não constitui delito, porque a


manifestação de pensamento é garantia constitucionalmente assegurada a todos os
brasileiros ou estrangeiros residentes no Brasil (CF, art. 5º, IV).
A apologia deve ser de fato definido como crime, não configurando o delito o
elogio de fato contravencional ou imoral. A apologia de fato criminoso culposo não

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constitui o delito porque é inconcebível que a paz pública, objeto jurídico, seja
ameaçada pela exaltação de crime decorrente de culpa.
É que não se pode admitir que alguém seja incitado (indiretamente) à prática de
fatos criminosos decorrentes da inobservância do cuidado objetivo necessário. Tal
apologia, se feita, resultaria inócua e não ofenderia o bem jurídico.
O fato criminoso deve ser determinado e ter realmente ocorrido anteriormente à
apologia criminosa. Não se exige fato definitivamente julgado, essa exigência não está no tipo.

Apologia de autor de crime: Exige- se que o elogio feito ao sujeito ativo do


delito anterior verse sobre a conduta criminosa e não sobre seus atributos morais ou
intelectuais.

Meios de Execução: qualquer um, palavras, gestos, escritos etc.

Elemento Subjetivo Do Tipo : É O DOLO. Não se exige nenhuma condição ou


finalidade especial.

Consumaçao: Ocorre com a percepção, por indefinido número de pessoas, dos


elogios endereçados a crime determinado e anteriormente praticado ou a autor de crime.
Tentativa : Admissível , ao contrário do art. 286 a incitação é indireta.
Então, primeira coisa a estabelecer aqui (como os paradigmas/conceitos são muito
próximos) é: quais são as distinções.
 Na incitação ao crime o incentivo é direto à prática criminosa; eu projeto para o futuro a
minha conduta
 Na apologia do crime ou criminoso o incentivo é indireto, projeto ao passado.

Ao fazer propaganda indireta de fato criminosa ou seu autor eu preciso falar de um fato
no passado, incitando com isso indiretamente pessoas influenciáveis ou criminosas latentes a
praticar o crime.
Art. 296 CP - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:

Incentivo a prática criminosa de algo que vai acontecer. Aqui incentivo crime ocorrido,
ou seu autor, propagandeando aquela conduta, incentivando as pessoas que influenciáveis ou
que têm a criminalidade latente, a praticarem crimes.

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Na incitação ao crime tenho estímulo direto à prática de infrações penais; aqui tenho
incentivo indireto.
Na incitação eu projeto a conduta de quem quero influenciar para o futuro. Na apologia
do crime ao criminoso falo de fato pretérito, narrando com elogios fato criminoso ou autor de
fato criminoso, de modo que possa influenciar de forma indireta as pessoas que estou
publicamente incentivando a praticar uma conduta igual ou tomar um comportamento idêntico
ao do criminoso, e eu tenho, gente, que estimular as pessoas com base no crime ou criminoso,
hein. Se apenas elogiar os aspectos pessoais do criminoso, sem me referir ao crime, posso falar
na apologia do crime ou criminoso?!
Se por exemplo a Maria chega à sala de aula e começa a dizer “Fernandinho Beira-Mar
é lindo e inteligente”: isso é apologia ao crime e ao criminoso? Não.
O que ela teria que fazer para se enquadrar no art. 287? Fazer, publicamente, apologia
de fato criminoso ou de autor de crime?
Lembrando que se eu falar genericamente (ex.: “é o melhor traficante do mundo”),
nunca se fala em incitação ou apologia ao crime ou criminoso.
“Você sabia que mesmo dentro daquele presídio o Fernandinho comanda o tráfico e
mandou matar dois delegados de polícia , fosse assim o Brasil seria um país melhor!”. Já estou
particularizando, individualizando e fazendo uma conexão do ato por ele praticado com sua
pessoa. Se eu apenas estabelecer elogios quanto à sua pessoa, não estou incentivando a prática
latente. Eu tenho que fazer a conexão entre o fato criminoso ou o autor do fato criminoso e
virtude do fato praticado e com isso incentivar indiretamente as pessoas a procederem da
mesma forma.
Então aqui posso tanto fazer apologia do crime em si, como da pessoa do criminoso,
desde que eu me refira aos fatos por ele praticados. Se eu só me referir à pessoa dele, só quiser
justificar a conduta, “Nasceu numa favela, não tinha outro jeito, sofrido, foi estuprado pelo
padrasto”, justificando, isso é apologia do crime ou criminoso? Não, porque não estabeleço
conexão do crime praticado ou do criminoso em virtude do crime por ele praticado.
Tenho que falar do crime, infração penal, ou dos aspectos pelos quais o criminoso pode
ser enaltecido pelo crime anterior. Não posso querer justificar o ato dele, ou simplesmente falar
de sua pessoa, por outros aspectos que não o crime ou o fato criminoso por ele praticado. Aí
não terei incitação direta ao crime. Tenho que sempre dizer respeito ao fato criminoso ou ao
autor do fato criminoso, mas sempre estabelecendo conexão com o crime (ou crimes) por ele
praticado(s).

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Fazer apologia é diferente de incitar?


Por que o legislador usa o verbo núcleo do tipo incitar no art. 286 e “fazer apologia”
aqui? Há diferença? As duas não querem dizer “estabelecer incentivo à prática criminosa”?
Sim.
Por que então ele usa termos diversos? Porque numa ele está falando de uma projeção
de um ato que vai realizar; na outra de ato que já se realizou e indiretamente podem influenciar
terceiros com essa propaganda.
As duas querem dizer “elogiar, louvar, enaltecer, gabar”. Ali projeto a conduta a algo
que vai acontecer; aqui a algo que já aconteceu para indiretamente influenciar terceiros para
que façam a mesma coisa.
Tem jeito de fazer apologia ao crime ou ao criminoso por gestos?! Acontece toda
semana no fórum. O criminoso passando e o sujeito aplaudindo. Normalmente a família do
bandido vive da bandidagem. Antigamente o sujeito era preso por tráfico e a família ficava
emputecida. Hoje as famílias vivem do tráfico!
Já tive caso de mãe que foi lá “Mas o que iremos comer em casa agora?!”... Era o
tráfico que os sustentava. Teve um candidato a prefeito de uma cidade aí... Ele foi preso por
roubo de carga. Ele ficou preso 1 mês...
Era Prisão Temporária. Quando voltou pra cidade, mais ou menos umas 200 pessoas o
esperava para aplaudir. O que isso é?! Isto foi em Bebedouro, na verdade. O cara chamava
Angeli; o cara que furtou a urna do povo e urinou na urna, tanto apreço que tinha pelo voto
popular. Depois se elegeu várias vezes consecutivas (o povo também tinha apreço por esse tipo
de gente). O que o pessoal cometia ao aplaudir? Apologia ao crime ou criminoso!
Mas tem que ver a circunstância. Um cara no fórum preso, passou algemado e batem
palma, não há dúvida. Mas pode ser que ao sair da cadeia as pessoas estejam alegres pelo seu
retorno e batam palma. Então tem que ter evidência, um elo de conexão.

25. Quadrilha Ou Bando

Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer
crimes: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.

Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se


houver a participação de criança ou adolescente.

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Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres
DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP

O art. 288 do Código Penal trata do chamado crime de quadrilha ou bando dispondo que
.No tipo penal da formação de quadrilha eram necessários no mínimo quatro agentes, passando
com a alteração trazida pela Lei 12.850/2013 a serem necessários somente três agentes.

Bem Jurídico : A paz pública , protegido pelo tipo penal e não há objeto material.

Sujeito Ativo: Qualquer pessoa.


Sujeito Passivo : A coletividade.

Crime De Concurso Necessário: Exige, no mínimo, quatro co -autores. Admite-se o


crime com três assaltantes e um receptador. Inimputáveis: São considerados para perfazer o
número mínimo legal de componentes da quadrilha.
Não é necessário que os componentes da quadrilha se conheçam. É possível fazer
parte dela sem conhecer todos os quadrilheiros. "Basta a consciência de integrar a sociedade".
Não desnatura o crime de quadrilha a circunstância de alguns dos delitos terem
sido cometidos por somente três executores.

Absolvição de um dos quatro: Não subsiste o delito.


Não se pune a cogitação nem o ato preparatório em si mesmo: O Código Penal
não pune cada um dos agentes por pensar em se reunir a três outras pessoas para o
fim de cometimento de crimes, mas sim porque se associa com essa finalidade. Não se
cuida de cogitação punível, mas de ato preparatório que o legislador entendeu constituir crime
autônomo.

Requisitos:
 Associação estável ou permanente: diferenciar quadrilha da associação
eventual (co-participação). É necessário aqui um vinculo associativo
permanente, não ocasional. Não preenche o tipo reunião eventual de 4 agentes
para praticar crimes determinados.

 Composição: mais de 3 pessoas = 4 pessoas ou mais. Não importa que um dos


quadrilheiros seja inimputável ou que não seja identificado. É possível, alias,
que apenas 1 ou 2 quadrilheiros sejam conhecidos, desde que aja prova da
existência dos demais.

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Assim sendo, o núcleo associar diz respeito a uma reunião não eventual de pessoas
com caráter relativamente duradouro para a consecução de um fim comum. Quanto à quadrilha
ou bando, podemos assim definir: reunião estável ou permanente para o fim de perpetração de
uma indeterminada série de crimes, sendo necessárias a estabilidade e permanência de tal
aliança.
Cumpre ressaltar que o delito de quadrilha ou bando é crime formal, de consumação
antecipada que se configura na ocorrência da adesão do quarto sujeito ao grupo criminoso, que
terá por finalidade a prática de um número indeterminado de crimes não existindo a
necessidade que seja praticada uma única infração penal sequer em função da qual a quadrilha
foi formada. Existindo a prática dos delitos em razão dos quais a quadrilha ou bando foi
formado. Trata-se de infração permanente, crime autônomo, que independe dos crimes que
vierem a ser cometidos pelo bando conforme interpretação do art. 288 do CP.
Uma distinção entre o crime de quadrilha ou bando e a co-participação, é que na co-
participação a conjugação de esforços é transitória ou momentaneamente para o cometimento
de determinado crime.

Classificação Doutrinaria : trata-se de crime comum, no que diz respeito ao sujeito


ativo e passivo, doloso, comissivo (podendo ser praticado via omissão imprópria, na hipótese
de o agente gozar do status de garantidor), de perigo comum e concreto, de forma livre,
permanente, plurissubjetivo, plurissubsistente (podendo a depender da forma como é praticado,
ser considerado unissubsistente) e transeunte.

Consumação: se dá no instante em que ocorre a associação criminosa, pois não existe


a necessidade de ser praticado qualquer crime em virtude do qual foi formada a associação,
tratando-se de um delito de natureza formal, bastando a prática da conduta prevista no núcleo
do tipo para fins de consumação.
Tentativa: É inadmissível

Elemento Subjetivo: o dolo é o elemento exigido pelo tipo penal que prevê o delito de
quadrilha ou bando, pois não existe previsão para a modalidade culposa. Conforme a doutrina
majoritária, além do dolo, o agente deve atuar com um especial fim de agir, configurado na
finalidade de praticar crimes, ou seja, um número indeterminado de infrações penais.

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Registre-se que o art. 288 do CP é claro no sentido de exigir que a associação criminosa
tenha por finalidade a prática de crimes, pois restaria afastada do conceito de quadrilha ou
bando a associação, mesmo que permanente, destinada ao cometimento de contravenções
penais.
Em se tratando de quadrilha ou bando armado, a pena será aplicada em dobro. Existe
previsão para a forma qualificada do delito no art. 8º da Lei nº 8.072//90.
A pena culminada ao delito de quadrilha ou bando é de reclusão, de um a três anos e em
dobro se for armado.
Tratando-se de modalidade qualificada a pena será de três a seis anos de reclusão,
quando se tratar de crimes hediondos, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins ou terrorismo. Registre-se que se houver a formação de quadrilha ou bando, será
possível a decretação da prisão temporária dos agentes, conforme preceitua o art. 1º, III, 1, da
Lei nº 7.960, se presentes os demais requisitos por ela exigidos.

Ação penal é de iniciativa pública incondicionada, não dependendo da instauração da


ação em face de todos os supostos envolvidos.
A cisão do processo não tem o condão de descaracterizar a conduta típica de conduta
ocorrida por ocasião dos fatos. É possível a suspensão condicional do processo quando não for
aplicada a majorante do parágrafo único do art. 288 do CP e quando não ser tratar da hipótese
de quadrilha ou bando qualificado.
No que diz respeito ao número mínimo de integrantes necessários a configuração do
delito de quadrilha ou bando, quando se tiver inimputáveis como integrantes, basta que
somente um deles seja imputável.
Não é necessário que todos os integrantes tenham sido identificados bastando a
comprovação de que o bando era integrado por quatro ou mais pessoas. A desistência
voluntaria não é aplicada, haja vista a consumação anterior do delito, mesmo sem a prática de
qualquer infração penal pelo grupo.
Para que algum dos integrantes do grupo criminoso responda pelo delito praticado pela
quadrilha ou bando, faz-se necessário que essa infração penal tenha adentrado no seu âmbito de
conhecimento.
No tocante ao concurso eventual de pessoas e quadrilha, para que se configure tal delito
é necessária a conjugação do caráter de estabilidade, permanência, com a finalidade de praticar
um número indeterminado de crimes, posto que a reunião desse mesmo número de pessoas para

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a prática de um único crime, ou mesmo dois deles, em caráter eventual, não importa no
reconhecimento do delito em questão.
Para a doutrina majorante é perfeitamente possível o raciocínio do concurso de crimes,
sem a necessidade de ser afastada a qualificadora ou majorante, não entendendo pelo bis in
idem, devido ao fato de que as infrações penais cuidam de bens jurídicos distintos.
Prevê o art. 35 da lei nº 11.343/06, sobre a associação para o tráfico ilícito de drogas:
Art. 35CP. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar,
reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34
desta Lei:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200


(mil e duzentos) dias-multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa
para a prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.

Por fim, quando a reunião disser respeito a duas ou três pessoas somente, não poderá
denominá-la de quadrilha, pois que tal expressão diz respeito a uma reunião de quatro pessoas.
Fim de praticar crimes: reunião para pratica de crimes indeterminados.
Não é necessário que a quadrilha efetivamente pratique crimes, pois o crime do artigo
288 se consuma com a mera formação do bando. Pode haver quadrilheiro que não concorreu
efetivamente para nenhum dos crimes fins consumados.

Modalidade agravada: Parágrafo único


Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer
crimes: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se
houver a participação de criança ou adolescente.

Quadrilha ou bando armados - Pena em dobro , basta que um dos quadrilheiros


esteja armado (qualquer tipo de arma).
Quadrilha armada x Delito de porte de arma , Para o STF pode haver concurso
material de crimes. Idem para quadrilha x Furto / Roubo majorado pelo concurso de pessoas
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Quadrilha para pratica de crime hediondo: Artigo 8º da lei 8072: Pena prevista no
artigo 288 será de reclusão de 3 a 6 anos quando se tratar de quadrilha formada para tortura,
crimes hediondos, trafico de drogas e terrorismo.
É cabível a majorante do parágrafo único do artigo 288 nestas hipóteses. Parágrafo
único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação
de criança ou adolescente.
Associação para trafico de drogas:
“Associarem-se 2 ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, os
crimes previstos nos artigos 33, caput,
Reclusão e detenção e §1º Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime
fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto,
salvo necessidade de transferência a regime fechado.

§ 1º - Considera-se:
a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou
média;
b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou
estabelecimento similar;
c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento
adequado.

§ 4o O condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de


regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à
devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais

Organização criminosa: Convenção da ONU contra o crime organizado transnacional. 3


pessoas com finalidade de cometer crimes graves. Pena máxima: ≥ 4 anos.

26. Constituição De Milicia Privada

Art. 288 – A CP - Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização


paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar
qualquer dos crimes previstos neste Código:Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito)
anos.”

Sujeito ativo :Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo deste crime, sendo,
portanto, um crime comum.
Sujeito passivo : será a coletividade, pois não há uma pessoa específica atingida.

Objeto Jurídico Tutelado: Paz Pública

Conduta: Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização


paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão. Finalidade específica: cometer crimes
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previstos no CP. Não há nada no ordenamento jurídico brasileiro que defina o que vem
a ser organização paramilitar, milícia particular, grupo de extermínio ou esquadrão.
Discussão a respeito da aplicação.
Trata-se de crime novo (instituído pela Lei 12.720/12) e de difícil aplicação, pois
o legislador não define os conceitos de “ organização paramilitar”, “milícia particular”,
“grupo” e “esquadrão”. A doutrina tenta definir estes conceitos, porém, também com
pouca precisão.
a) Organização paramilitar: Paramilitar é aquela que caminha ao lado da militar,
em situação ilegal. Possui a estrutura da organização militar, sem ser militar. Assemelha-se à
estrutura militar, podendo haver hierarquia, armamento, planejamento de ataque etc.

b) Milícia particular: Milícia significa batalhão, polícia. A milícia particular se


refere a um grupo menor de agentes criminosos que se reúnem inicialmente para fornecer
segurança (vulgarmente conhecido como bico) e depois passa a extorquir uma determinada
população. Em alguns casos pode por exemplo, ser formada por policiais militares, como no
caso do Estado do Rio de Janeiro. Existe uma semelhança grande entre as
expressões organização paramilitar e milícia particular.

c) Grupo: É o conceito mais genérico do art. 288-A, referindo apenas à união ou


conjunto de pessoas. O art. 121, § 6º fornece o exemplo, falando em grupo de extermínio, ou
seja, aquele destinado a ceifar a vida das pessoas.

d) Esquadrão: No conceito militar refere-se a uma unidade da cavalaria, do


exército blindado etc. O termo se vincula a uma reunião de pessoas quantitativamente maior
que o grupo. O esquadrão pode ser exemplificado na organização criminosa formada no interior
dos estabelecimentos penitenciários ou em São Paulo, com o chamado esquadrão da morte.

Objeto Jurídico Tutelado: Paz Pública

Outra crítica à redação deste artigo é a inclusão da sentença “...crimes previstos


neste código”, o que exclui a aplicação deste tipo penal à crimes previstos em legislação
extravagante Lei 12.720/12 considerou a organização paramilitar, como crime contra a paz
pública, ao lado da “formação de quadrilha”, no Art. 288-A, tipificando além da organização

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paramilitar, a milícia particular, além do grupo ou esquadrão, vinculando-os com a prática de


crimes previstos no Código Penal, ou seja, se não houver este objetivo, o fato é atípico.
Assim, com a nova Lei, qualquer organização paramilitar criada com a finalidade de
praticar qualquer dos crimes previstos no Código Penal brasileiro, será considerada delito
autônomo, respondendo os integrantes pelo crime do art. 288-A, assim como pelo eventual
crime praticado.

Observe-se ainda que o legislador trouxe tudo em um único pacote, ou seja, as


organizações paramilitares, milícia particular, grupo ou esquadrão, com o nomem
iuris de “Constituição de milícia privada“.
A expressão “milícia” é novidade na legislação brasileira, sendo que sua tipificação foi
de fundamental importância para o enfrentamento da criminalidade cometida por grupos de
pessoas que afronta a paz pública.
As milícias surgiram no Estado do Rio de Janeiro, mas já é percebida em outras
unidades da Federação. Antes da Lei n. 12.720/12, as condutas milicianas eram consideradas
praticas extorsivas, constrangimento ilegal, quando não mera ameaça cometidas por quadrilha
ou bando armados, que muitas vezes são compostas por integrantes das forças policiais,
encarregados da segurança pública no país, merecendo pois uma maior reprimenda estatal.

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UNIDADE VI - DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA

Fé Pública: Credibilidade dos atos do Estado. Crença de que o ato ratificado


pelo Estado é firme, válido e dá segurança jurídica (presunção relativa).

27. Moeda Falsa

“Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel moeda


de curso legal no país ou no estrangeiro:
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.

§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou
exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação
moeda falsa.

§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada,a


restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis
meses a dois anos, e multa.

§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário público ou


diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a
fabricação ou emissão:
I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei;
II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.

§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja
circulação não estava ainda autorizada.”

Objeto Jurídico Tutelado: Fé Pública

Bem Jurídico: Credibilidade da moeda circulante. Moeda papel ou metal de curso legal
(que não podem ser recusadas como forma de pagamento) no país ou moeda aceita no Brasil
por Tratados Internacionais.

Sujeito Ativo : Qualquer pessoa comum.


Sujeito Passivo : será a coletividade, e a pessoa lesada pela falsificação, quando
houver.

Conduta: Falsificar moeda metálica ou papel moeda (cédula), em curso no Brasil


ou exterior, por meio de:
 Fabricação (criação de moeda nova, sem legitimidade)
 Alteração (modificar moeda legítima)

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A moeda falsificada deve estar em circulação no Brasil ou exterior . NÃO é crime


falsificar moeda fora de circulação.

Consumação: Crime se consuma no momento da falsificação, por meio de


fabricação ou adulteração, da moeda/cédula. Não se exige a finalidade de colocar a moeda
em circulação para que se consume o crime (mero exaurimento). Crime estará
consumado no momento da falsificação.
Para caracterização deste crime, é necessário que a falsificação possua “imitatio
veri” . O “imitatio veri”, ou “imitação da verdade”, trata-se da semelhança do objeto
falsificado com o verdadeiro. Para a caracterização do crime, é necessário que a
falsificação seja capaz de enganar uma pessoa comum, levando-a a acreditar que se trata
de uma moeda/cédula verdadeira.
Assim, a imitação grosseira ou irreal exclui o crime, pois não atinge a fé pública .

Dolo: Independe de finalidade específica. Não se exige intenção lucrativa. Não de


admite modalidade culposa.

Princípio da insignificância: O princípio da insignificância causa supra-legal de


exclusão da tipicidade , não é admitido na seara dos crimes contra a fé pública, aí se incluindo a
moeda falsa, ainda que a contrafação ou alteração recaia sobre moedas metálicas ou papéis-
moeda de ínfimo valor.

Observações gerais:
a) Crimes de falso requisitos: Os crimes de falso reclamam três requisitos, a saber:
 dolo;
 imitação da verdade;
 dano potencial.

b) Falso material: incide sobre a coisa. A imitação da verdade se dá por meio de


contrafação, alteração ou supressão;

c) Falsidade ideológica: incide sobre o conteúdo do documento. A imitação da


verdade se dá por meio de simulação;

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d) Falsidade pessoal: incide sobre a qualificação pessoal. A imitação se dá por meio


de atribuição de dados falsos.

O tipo não exige o anumus lucrani, mas para maioria dos autores só se configura com o
enriquecimento ilícito. Ou seja, só se configura quando o agente repassa a moeda .
A Moeda deve ter curso legal forçado no país ou no estrangeiro. Se tiver valor
comercial, delito pode ser o de estelionato, deve está em vigor.

Competência : para o processo é da justiça federal.

Falso deve ter idoneidade para enganar. Ex: fazer uma folha com 1 real e tentar
enganar alguém, não é crime do 389. É crime de patrimônio – Estelionato.

Sumula 73 do STJ: “Utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura


em tese o crime de estelionato, de competência da justiça estadual”.
Número de moedas/ cédulas falsificadas: Para doutrina não há insignificância no
crime de moeda falsa, pois o bem jurídico tutelado é a fé pública.

Contrafração - alteração da moeda especificamente


 falsificar (total): construir a moeda do nada. Falsificação (criação material da
moeda, conferindo-lhe aparência de objeto verdadeiro).
 II- alterar (parcial): transformar uma moeda de valor menor em uma de valor
maior. Alteração (modificação da moeda originalmente verdadeira, para ostentar
valor superior ao real).
Ex: transformar moeda de 2 reais em moeda de 100 reais. *Para o STJ só é
caracterizado o crime quando a alteração for de notar de valor maior à original.

a) Imitação da verdade (imitativo veri): produzir moeda não muito simétrica parecida
com a original não tem como enganar e nesta hipótese não há crime, pois a falsificação é
grosseira, incapaz de enganar. Só terá o crime quando a imitação for simétrica a original. Isto é,
se for de tamanho diferente da original, por exemplo, não pode ser considerado crime, já que
não terá capacidade de enganar.
b)Potencial de causar prejuízo

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c) A junção de cédulas caracteriza moeda falsa? Sim, mas não é moeda falsa, pois
não falsificou nem alterou, apenas juntou células invalidadas, mas se juntar diferentes moedas
formando uma outra de valor maior será o 289, mas se junta moedas de um mesmo valor
colocando em circulação porque estavam invalidadas é o 290.
d) Valor menor
e) Curso legal tem validade para circulação
Obs: Para saber se aplica o 289, tem que saber se a moeda é de curso legal. Se falsificar
R$ 1.000,00 apenas por falsificar, sem qualquer intenção, é fato atípico,mas se falsificar no
intuito de enganar alguém é estelionato.

Espécies de moeda no Brasil:


 papel
 metal
Ambos são objeto material do crime.

Necessidade de perícia: só posso falar que é falsa mediante perícia, pelo exame
documentoscópio. Perícia: Necessária para comprovar a veracidade da cédula.

Consumação: com a confecção integral da moeda ou com a alteração. É crime formal,


de consumação antecipada, pois consuma-se com a falsificação da moeda desde que idônea a
enganar. É irrelevante se o objetivo vem a ser colocado em circulação.
Tentativa: é perfeitamente possível, cabível, pois se trata de crime cuja execução
admite fracionamento, ou seja, se o sujeito ativo se já começou a produção, mas foi
interrompida por circunstâncias alheias à vontade do agente configura-se o crime na sua
modalidade tentada. Vale lembrar que a simples posse ou guarda de instrumento ou qualquer
objeto especialmente destinado à fabricação de moeda enseja o reconhecimento do crime de
petrechos para falsificação de moeda, tipificado no art. 291 CP
Art. 291 do CP, Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou
guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente
destinado à falsificação de moeda:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. Emissão de título ao portador sem
permissão legal

Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda


de curso legal no país ou no estrangeiro:
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.

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A simples posse ou guarda de instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à


fabricação de moeda enseja o reconhecimento do crime de petrechos para falsificação de
moeda, tipificado no art. 291 do CP

Ação penal: Pública Incondicionada.


Competência: Da Justiça Federal, pois ofende interesses da União.

Exceção: Quanto à falsificação grosseira, incide a Súmula 73 do STJ: “A utilização de


papel-moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, de
competência da Justiça Estadual”.

Figura equiparada - Circulação de moeda falsa:


§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou
exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação
moeda falsa.

Nas mesmas penas incorre, quem por contra própria ou alheia importa, exporta, adquire,
vende, troca, empresta, guarda ou introduz em circulação moeda falsa.
É indispensável à consequência da falsidade da moeda.
Concurso entre falsificação e circulação? Não há.

Quem falsifica pode colocar em circulação, normalmente quem falsifica faz com a
intenção de ter lucro, mas para o tipo penal nunca pode cometer os dois, então se já cometeu a
contrafação e colocou em circulação responde pela contrafação, só responde pela circulação se
não foi a pessoa que colocou em circulação que produziu. Tem que ter plena convicção de que
está colocando em circulação moeda falsa, se não tive consciência não é crime. Conhecimento
prévio da falsidade, má-fé existente desde o começo.

Figura privilegiada :
§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a
restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis
meses a dois anos, e multa.

Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui a
circulação, depois de conhecer a falsidade.
Quando alguém recebe de boa-fé, depois repassa a cédula, Detenção: 6 meses a 2 anos.
Agente não inicia a circulação da moeda, apenas dar prosseguimento.

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Ânimo de evitar o prejuízo, Esse tipo não admite o dolo eventual.


Quando reconhece a cédula e fica com ela.
Aqui o conhecimento da falsidade é posterior, só repassa a moeda para evitar prejuízo.

OBS: Cédula bem feita = Artigo 289. Cédula mal feita = Estelionato.

Figuras qualificadas:
§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário público
ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a
fabricação ou emissão.
É punido com reclusão de 3 a 15 anos + multa, o funcionário publico ou diretor,
gerente ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação de:
I – Moeda com titulo ou peso inferior ao determinado em lei;

II – De papel moeda em quantidade superior a autorizada.

Titulo : proporção que deve existir entre o metal fino e a liga metálica empregados na
confecção da moeda.

Crime próprio:
Inciso II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.

Não menciona a fabricação de moeda em quantidade superior a permitida.O crime de


moeda falsa é crime próprio pela especificação do
§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário público
ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a
fabricação ou emissão.

Deve proibir a fabricação de moeda sem lastro e emitir moeda em fraude. Somente
configura esse crime quando praticado pelas pessoas inclusas nesse parágrafo.
Desvio e circulação antecipada :
§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação
não estava ainda autorizada.

Nas mesmas penas incorre quem desvia ou faz circular moeda, cuja circulação não
estava ainda autorizada. A moeda é verdadeira, mas o agente altera seu destino ou a coloca em
circulação antes da autorização da autoridade competente. OBS: Material: moeda legitima.

Pune a colocação em circulação não autorizada: Tem relação com o §3º (fabrica ou
emite), no §4º volta a ser crime comum, qualquer pessoa pode praticar, a conduta é posterior a
do §3º. Produz o mesmo efeito do §3º, mas a conduta não é a mesma.
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Dependendo da modalidade será crime comum, dependendo será próprio. Para que uma
moeda seja autorizada a circular é preciso checar tamanho, conteúdo, marcas d‟agua, marca de
segurança e números de série.

Moeda fabricada com defeito não pode ser colocada em circulação, se colocar incorre
no §4º (não é moeda falsa, é simplesmente não autorizada).

Quem autoriza a circulação de moeda é o Senado.


Resumindo, para caracterizar o crime é necessário “imitatio veri” (a imitação da
verdade), potencialidade lesiva (o fato ela tem um perigo de dano, ou seja, probabilidade para
causar dano) e idoneidade para enganar o homem médio (tem que haver possibilidade de
enganar alguém).
Muito se fala em falsificação grosseira e trata-se daquela falsificação perceptível por
qualquer pessoa a primeira vista. Dependendo da situação concreta, o sujeito pode passar a nota
falsa para alguém, sem ser percebido (caracteriza o crime de estelionato).
O crime de estelionato praticado mediante o uso de moeda grosseiramente falsificada é
da competência da Justiça Estadual.
O sujeito falsifica uma moeda só, e ela é apreendia na sua casa. Isso caracteriza o crime
de moeda falsa. Se ele falsifica 10 moedas, o sujeito comete um só crime de moeda. Se ele
falsifica algumas moedas agora, e mais para frente ele falsifica mais, ele comete dois crimes.

Falsificação grosseira: Tem como requisito a imitação da verdade e o dano potencial.


Deve, portanto, ser dotada de idoneidade, ou seja, precisa ser apta a ludibriar as pessoas em
geral.

Moeda falsa e art. 290, caput do CP: Se o agente forma uma cédula com fragmentos de
notas verdadeiras, a ele será imputado o crime definido no art. 290, caput, 1ª figura, do CP.

Concurso material ou crime continuado: Falsificação de diversas moedas em


momentos distintos, se presentes os demais requisitos exigidos pelo art. 71, caput, do CP.
Crime continuado Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou
omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo,
lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos
como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se
idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a
dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

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28. Falsificação De Documento Público

Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento


público verdadeiro: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo,
aumenta-se a pena de sexta parte.

§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de


entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de
sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular.

§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir: (Incluído pela Lei nº
9.983, de 2000)
I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a
fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de
segurado obrigatório;(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento


que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da
que deveria ter sido escrita; (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as


obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da
que deveria ter constado. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

§ 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3o,
nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de
trabalho ou de prestação de serviços.(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

Bem Juridicamente Tutelado: Busca-se proteger com a tipificação deste delito de


falsificação de documento público, a fé pública.

Objeto Material: é o documento público (artigo 297 Conforme acima). É documento


particular . É o documento público falsificado, no todo ou em arte, ou o documento público
verdadeiro alterado.
Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento
particular verdadeiro: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. Falsificação de
cartão .
Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular
o cartão de crédito ou débito.

Documento pode ser considerado qualquer objeto que sirva para comprovar um fato ou
a realização de um ato. Em um sentido amplo, documento pode ser entendido como qualquer
objeto que sirva para comprovação de um fato, tanto um escrito como qualquer outro objeto. O
documento a que se refere o artigo 297 é todo escrito que contenha um pensamento humano
que comprove um fato. O documento, que é uma peça escrita, pode ser digitado, datilografado
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ou manuscrito, sendo preciso que haja identificação e assinatura do autor do documento. Diante
deste conceito, não são considerados documento, para efeitos do artigo 297: cópia não
autenticada; escrito em um muro de uma casa; livro; composição musical; CD; DVD; escrito
anônimo (que não tem identificação ou assinatura).

Sujeito Ativo: qualquer pessoa, sendo que, caso o agente seja funcionário público, e
comete o crime prevalecendo-se do cargo, incidirá uma pena mais severa para este (§1º do art.
297 do CP).
Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento
público verdadeiro: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo,
aumenta-se a pena de sexta parte.

Sujeito Passivo: o Estado, bem como a pessoa prejudicada pelo ilícito penal.

Requisitos do documento: ter aptidão para provar direitos sobre o Estado-juiz


I- forma escrita: manuscrito, datilografado, de qualquer forma desde que colocado no
papel (desde que a tinta não possa ser removida)
II- meio de prova
III- relevância jurídica: cria, modifica ou extingue direito
IV- potencialidade lesiva: aptidão de provocar danos a alguém (provocar danos a
terceiros – desde que não seja patrimonial)
V- autenticidade: o que confere a autenticidade é a assinatura (rubrica, assinatura
escrita ou digital, e-mail ou xerox autenticado ,não abrange digital, então foi estabelecido na
própria lei do e-saj) .

Ação física
I- falsificar (total): Falsificar significa imitar um documento verdade. No todo,
significa criar um documento falso por inteiro, produzir, forjar um documento por inteiro,
contrafazer - Contrafação (criar um documento falso). Falsificar um documento por inteiro ou
falsificar em parte não tem o mesmo efeito.
II- alterar (parcial) : Alterar um documento significa modificar o que é verdadeiro, ou
suprime ou acrescenta dizeres ou substitui por outros. Falsificar no todo, portanto, não significa
alterar documento verdadeiro.
Existem documentos que são compostos de duas partes que podem ser individualizadas.
O contrato de locação e a fiança, por exemplo, é composto de duas partes que podem ser
separadas. Se for retirada a fiança, o contrato de locação continua a existir normalmente.
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Outro exemplo é a nota promissória e o aval, que são partes de um mesmo documento
que podem ser destacadas. Se existe uma promissória verdadeira e se falsifica o aval, falsifica-
se a promissória em parte.
Cópias/xerox: só serão documentos os autenticados e só esses podem ser objeto de
falsificação. Se não for autenticado não é documento, então não pode ter falsificação.

Falsificação de telegramas: O telegrama emitido por ordem de particular não é


documento público, malgrado exista interferência de agente público. O funcionário público
limita-se a reproduzir deforma mecânica o conteúdo privado do documento. Se forem
realizadas alterações no telegrama, no tocante às anotações lançadas pelo agente público, estará
caracterizado o crime definido neste artigo. depende de quem manda será documento público
ou não, tem que observar o conteúdo do telegrama e se for funcionário público é documento
público,se for qualquer outra pessoa não será documento público (particular). Tem que
observar o conteúdo para saber se é público ou particular.

Documento nulo (não atende as prescrições legais) / inexistente (não atende nenhuma
prescrição legal) pode ser objeto de falsificação? Sim, pois apesar de não ter valor jurídico, ele
pode ser convalidado, e assim pode vir a ser falsificado se ele for validado.

Documento:
I-público: aqueles emitidos por autarquias . O documento é público quando expedido
por funcionário público no exercício de sua função pública e com observância das prescrições
legais.
Para que um documento público seja considerado autentico é preciso que seja expedido
por funcionário publico e que este funcionário esteja no exercício de suas funções e tenha
seguido as observâncias da lei. Também são considerados documentos públicos aqueles
providos de paraestatais, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de
sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular. Todos os demais
documentos, assim são considerados públicos por equiparação ou particulares.
II- público por equiparação: título ao portador, cheque, nota promissória, email
(desde que o documento seja público) e esaj; são equiparados pela possibilidade de circulação.
III- privado: o legislador não define, é por exclusão. Ex: cartão.

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Falso: Falsificação. O documento nasce como obra o falsário, isto é, o documento


verdadeiro jamais existiu.

Falsificação grosseira: Tem como requisito a imitação da verdade e o dano potencial.


Deve, portanto, ser dotada de idoneidade, ou seja, precisa ser apta a ludibriar as pessoas em
geral.
I- material: constrói o documento por inteiro ou falsifica partes do documento. Altera o
corpo do documento. Ex: tira a foto original e coloca outra.
II- ideal/ideológico: se o documento é verdadeiro, mas se conteúdo dele, é falso, é
falsidade moral ou ideal. Ex: fazer inserir em documento original que é solteiro,quando na
verdade é casado. Altera o conteúdo do documento.

Alteração: Existe um documento verdadeiro, cujo conteúdo é modificado pela conduta


criminosa.

Consumação: O crime de falsificação de documento público é um crime formal, se


consuma com a pratica da conduta, isto é, a falsificação no todo ou em parte ou alteração de
documento verdadeiro.
Não há necessidade, portanto, para a consumação do crime, que a falsificação tenha
causado dano ou prejuízo a outra pessoa, basta o ato de falsificação do documento. Contudo, é
preciso que haja probabilidade, ou seja, possibilidade de causar dano a alguém. A lei não exige,
assim, que a falsificação tenha causado dano ou prejuízo a outra pessoa, mas há necessidade da
possibilidade de dano.

Exame De Corpo De Delito: Este é em que os peritos descrevem suas


observações e se destina a comprovar a existência do delito.
Exame grafotécnico: Destina-se a apurar, por meio da comparação dos padrões
gráficos, se o falsário foi realmente o autor do documento

Concurso de crimes:
I- material
II- formal
III- absorção: o estelionato absorve a falsificação, já que o crime menos grave absorve o
mais grave. Quase não é praticado esse crime, pois sempre é absorvido pelo estelionato.

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Obs: falsificar documento privado a pena é muito menor do que falsificar documento
público.

29. Falsificação De Documento Particular

“Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar


documento particular verdadeiro:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
Falsificação de cartão (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência

Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular


o cartão de crédito ou débito. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)Vigência
Falsidade ideológica”

Para que seja o delito tipificado, essencial que o documento seja hábil a enganar
terceiros, a ponto de não permitir o reconhecimento de sua falsidade, ou seja, que seja aceito
como se verdadeiro fosse.

Bem Jurídico Tutelado: Busca-se proteger com a tipificação deste delito de


falsificação de documento particular, a fé pública.

Objeto Material: é o documento particular falsificado, no todo ou em parte, ou o


documento particular verdadeiro que foi alterado pelo agente. Documento particular é o não
público. Os documentos públicos nulos, em decorrência da não observância das formalidades
legais, entram no rol dos documentos particulares. Equipara-se a documento particular o cartão
de crédito ou débito .

Sujeito Ativo: qualquer pessoa, crime comum. Se funcionário público, há aumento de


pena. Vale lembrar que o art. 298 do Código Penal não exige nenhuma qualidade ou condição
especial do agente. Se funcionário público, há aumento de pena.
Sujeito Passivo: É o Estado, e mediatamente, a pessoa física ou jurídica prejudicada
pela conduta criminosa.

Dolo: Independentemente de qualquer finalidade específica. Não se admite modalidade


culposa.

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Requisitos ou características:
I- Forma escrita;
II- Autor determinado; (exclui delação anônima)
III- Conter manifestação de vontade; (mesmo que uma só vontade)
IV - Relevância jurídica;
V- Potencialidade lesiva;
VI- Rubrica. (não é sempre indispensável, basta saber de onde se partiu)

Para acobertar crime anterior:


Falsificação e supressão de documento – distinção: A conduta que se limita a
cancelar ou rasurar palavras, frases ou números de um documento, sem implicar inserção de
novos dados ou modificação do seu conteúdo, caracteriza o crime de supressão de documento .
Art. 305 - Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício próprio ou de outrem, ou em
prejuízo alheio, documento público ou particular verdadeiro, de que não podia
dispor: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o documento é público, e
reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é particular.

Petição Inicial: O STJ não considera documento, salvo ESSAJ – processo eletrônico:
 Impressos sem assinatura: O STJ também não considera documento.
 E-mails ainda no computador podem ser tidos como documentos, mas
impressos não.
 Cheque em branco: Para o STJ só configura crime quando o cheque falso
estiver preenchido. Se ainda estiver em branco sem demonstrar a intenção de
estelionato, não configura crime.
 Cartão de crédito

Consumação: Consuma-se com a falsificação, no todo ou em parte, de documento


público, ou com a alteração de documento público verdadeiro, prescindindo-se do seu uso
posterior, bem como da obtenção de qualquer vantagem ou da causação de efetivo prejuízo a
alguém. Por se tratar de crime formal, não há necessidade da produção de resultado para
consumar-se, isto é, não é preciso que alguém sofra algum prejuízo em decorrência do crime
para que ele exista. É crime formal, de consumação antecipada.
Tentativa: A conduta é fracionável, composta de diversos atos, portanto admite-se a
forma tentada. - Falsificação compra receita (droga).

Ação penal: É pública incondicionada, em todas as modalidades do delito.

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Competência: Em regra, a falsificação de documento público é de competência da


Justiça Estadual. Todavia, será competente a Justiça Federal quando o crime for praticado em
detrimento de bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades autárquicas ou
empresas públicas,nos termos do art. 109, inc. IV, da Constituição Federal.
Art. 109.CF/88- Aos juízes federais compete processar e julgar:
Inc IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens,
serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas
públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e
da Justiça Eleitoral;

Falsificação de CNH: O crime de falsificação de Carteira Nacional de Habilitação


(CNH) é de competência da Justiça Estadual, haja vista que sua emissão é incumbência da
autoridade estadual de trânsito.

Súmula 62 do STJ: “Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa


anotação na carteira de Trabalho e Previdência Social atribuído a empresa privada”.
Súmula 104 do STJ: “Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes
de falsificação e uso de documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino”.

Falsificação e uso: O crime de uso se configura no Art. 304 e não tem pena, uma vez
que se trata de crime acessório. A pena do uso de documento falso é a mesma da do crime
anterior. Se só usa o documento, responde pelo crime residual com a pena do crime de
fabricação de documento falso.
ART 304 CP- Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se
referem os arts. 297 a 302: Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.

Falsidade ideológica e crime omissivo próprio


Art. 297 CP - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar
documento público verdadeiro:
§ 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3o,
nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de
trabalho ou de prestação de serviços.

O Crime Omissivo Próprio Ou Puro: pois o tipo penal, cujo núcleo é “omitir”,
descreve uma conduta negativa. Destarte, não se admite a figura da tentativa.

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30. Falsidade Ideológica

“Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia
constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser
escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre
fato juridicamente relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de
um a três anos, e multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis, se o documento
é particular.

Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-


se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil,
aumenta-se a pena de sexta parte.”

Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar,


ou nele inserir declaração falsa ou diversa do que deveria ser escrita, com o fim de
prejudicar direito, criar obrigação ou alterar verdade sobre fato juridicamente relevante .
De fato, o documento é formalmente verdadeiro, mas o que é falso é o conteúdo, quase
sempre parcialmente, seu conteúdo é divergente da realidade. Não há contrafação ou alteração
de qualquer espécie. O sujeito tem autorização para criar o documento, mas falsifica seu
conteúdo. Logo, se vem a ser adulterada a assinatura do responsável pela emissão do
documento, ou então efetuada assinatura falsa, ou finalmente rasurado ou modificado de
qualquer modo seu conteúdo, estará caracterizada a falsidade material. O documento deve
valer-se por si só. Ideal, moral, intelectual.

Bem Jurídico Tutelado: busca-se evitar, com a tipificação deste delito, a falsificação
de selo ou sinal público, protegendo, assim, a fé pública.

Objeto Material: é o É o documento público ou particular. falsificado, no todo ou em


parte, ou o documento particular verdadeiro que foi alterado pelo sujeito.

Sujeito Ativo: qualquer pessoa. O art. 299 do Código Penal não prevê nenhuma
qualidade ou condição especial do agente.
Sujeito Passivo: o Estado, bem como a pessoa prejudicada pelo ilícito penal.

Dolo: Com especial fim de agir.

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Competência: Em regra é da competência da Justiça Estadual. Salvo quando o crime


for praticado em detrimento de bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas.

Ação física:
I- conduta : Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia
constar, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato
juridicamente relevante. Náo é omissivo, pois tem documento com várias declarações, sendo só
uma omitida, assim são condutas comissivas. É só um dado que é omitido dentro de um
conjunto de dados declarados por alguém.

II- Inserir: pessoalmente , fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser
escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato
juridicamente relevante

III- Fazer inserir: elabora documento através de terceiro, mas a declaração é outra
pessoa que faz, não é o sujeito que insere, e sim faz terceiro inserir. O que caracteriza a
falsidade ideológica é a mentira, o engodo

II e III são diversas, pois pode elaborar um documento por mandado.

Falsidade ideológica imediata ou direta: É aquela em que o sujeito, por conta própria,
insere no documento público ou particular a declaração falsa ou diversa da que devia ser
escrita.

Falsidade ideológica mediata ou indireta: Por sua vez, é aquela em que o agente se
vale de um terceiro para fazer inserir no documento público ou particular a declaração falsa ou
diversa da que devia ser escrita.

Fato juridicamente relevante: Compreendido como aquele que, isoladamente ou em


conjunto com outros fatos, apresente significado direto ou indireto para constituir, modificar ou
extinguir uma relação jurídica.

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Falsificação grosseira: Acarreta na aplicação das regras atinentes ao crime impossível


(CP, art. 17). não caracteriza.

Papel assinado em branco: pego folha em branco assinada e faço declaração que
compromete a pessoa (não pode ser financeiramente se não é estelionato), depende da forma
como obtive o documento. Se der o conteúdo da declaração é falsidade ideologia, mas se não
tenho a determinação de colocar o conteúdo não é falsidade ideológica. Tem que indagar como
o documento chegou nas minhas mãos.
a) Se o papel assinado em branco chegou às mãos do sujeito de forma legítima, e
este,possuindo autorização para fazê-lo, o preencheu de maneira diversa da convencionada
como signatário, estará configurado o crime de falsidade ideológica. Com efeito, o agente
praticou a conduta de “inserir declaração diversa da que devia ser escrita”;
b) O papel assinado em branco foi obtido de forma ilícita (exemplos: furto, roubo,
apropriação indébita etc.), e o agente o preencheu sem autorização para tanto. Cuida-se de
falsificação de documento (público ou particular), em decorrência da contrafação, que pode ser
total ou parcial, conforme seja preenchido todo o documento ou apenas parte dele.

Declaração sem relevância: a informação tem que ter relevância jurídica para se falar
em falsidade ideológica.

Declaração sujeita a verificação: para a jurisprudência do STJ, não existe falsidade


ideológica em documento sujeito a verificação. Restringiu a possibilidade de aplicação do art
299.
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia
constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser
escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre
fato juridicamente relevante:

Uso forçado do documento: fato atípico. Só é criminoso quando o agente


espontaneamente a apresenta.

Dano potencial:
Falsidade em depoimento: é crime contra a administração da justiça, falso testemunho.

Simulação de negócio: é falsidade ideológica, pois o contrato é verdadeiro, os dados do


negócio é que são falsos.

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Consumação: consuma-se o crime quando nele se reúnem todos os elementos previstos


na sua definição legal. Portanto, de acordo com o caput do artigo em apreço, a consumação se
dá na omissão de declaração em documento público ou particular que devia constar, ou nele
inserir ou fazer inserir, com o intuito de prejudicar direito, bem como criar obrigação ou alterar
a verdade sobre fato juridicamente relevante.
Tentativa: em regra, na prática, é quase impossível a tentativa, já que não há “iter
criminis”. Poucos dizem que seria possível. Não se admite na modalidade omissiva. Porém é
cabível na modalidade comissiva.

Reserva mental: se omitir em declaração que estava obrigado a declarar. Tem que ser
funcionário público. Possível a pratica de falsidade ideológica por reserva mental, mesmo que o
sujeito não faça nada, pois ele tem o dever jurídico de conferir e manifestar.

Intenção de lucro: Caso tenha intenção de lucro, o crime de falsidade ideológica é


absorvido pelo crime de Estelionato.

Prescrição: Inicia-se a contagem de seu lapso temporal no momento do conhecimento


da conduta pela autoridade competente. Modificado, acrescentou o legislador que o prazo
prescricional fica suspenso até o conhecimento da falsidade pela autoridade.

Art 111, IV, CP: - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final,
começa a correr: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro
civil, da data em que o fato se tornou conhecido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

Falsidade e estelionato: diferentes, pois o segundo tem que obter indevida vantagem
econômica em prejuízo alheio, e já na falsidade ideológica não tem essa intenção, vez que o
STJ já estabeleceu que se falsifico um documento para praticar o estelionato, eu só pratico
estelionato, sendo a falsificação ideológica é absorvida por este. Crime meio para prática do
estelionato.
Ex. Assinar lista de presença por outro é falsidade ideológica, pois a lista é verdadeira,
e a declaração de presença que é falsa.

Falsificação de documento público e estelionato:


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1ª posição: A falsidade documental absorve o estelionato;


2ª posição: Há concurso material de crimes. Em razão de ofenderem bens jurídicos
diversos (fé pública + patrimônio), afastasse o fenômeno da absorção;
3ª posição: Há concurso formal de crimes. Sustenta-se que a conduta seria uma só,
ainda que desdobrada em diversos atos;
4ª posição: O estelionato absorve a falsificação de documento público – Esta é a
posição atualmente dominante, em razão de ter sido adotada pela Súmula 17 do STJ: “Quando
o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”. O
conflito aparente de leis penais é solucionado pelo princípio da consunção. O crime-fim
(estelionato) absorve o crime-meio (falsidade documental), desde que este se esgote naquele.

31. Falso Reconhecimento De Firmas Ou Letras

Art 300 CP- Reconhecer, como verdadeira, no exercício de função pública, firma ou
letra que o não seja:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público; e de um a
três anos, e multa, se o documento é particular.

Esse crime é bem simples para ser explicado, assim como os outros o bem jurídico é a
fé pública, só que em relação a autenticidade de firma ou letra dos documentos (o que garante a
autenticidade provada e pública).
Firma: é a assinatura por extenso ou abreviada.
Letra :é o manuscrito integral do documento.

Sujeito Ativo: somente funcionário público (crime próprio).


Sujeito Passivo: Estado e a pessoa eventualmente lesada pela falsificação.

Consumação: ocorre pelo simples falso reconhecimento feito por funcionário público,
independente do prejuízo que poderá ocorrer.
Tentativa: é admissível, apenas para o Nucci que não (é viável verificar a razão dessa
afirmação do autor).

Classificação do Tipo : Crime formal, próprio, instantâneo, unissubjetivo e


plurissubsistente.

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32. Certidão Ou Atestado Ideologicamente Falso

Art. 301 CP- Atestar ou certificar falsamente, em razão de função pública, fato ou
circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de
serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.

Falsidade material de atestado ou certidão


Art. 301 CP § 1º - Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou certidão, ou alterar o
teor de certidão ou de atestado verdadeiro, para prova de fato ou circunstância que
habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter
público, ou qualquer outra vantagem:
Pena - detenção, de três meses a dois anos.

§ 2º - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se, além da pena privativa de


liberdade, a de multa.

Objeto Material: É o atestado ou a certidão ideologicamente falso.

O tipo penal é claro, ao exigir fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo
público (exemplo: certidão de antecedentes criminais, com conteúdo negativo, beneficiando
sujeito diversas vezes condenado por crimes contra a Administração pública), isenção de ônus
ou de serviço de caráter público (exemplo: certidão isentando seu beneficiário da atividade de
jurado, com fulcro no art. 437, X, do CPP), ou qualquer outra vantagem.

Sujeito Ativo: Cuida-se de crime próprio ou especial, pois somente pode ser cometido
pelo funcionário público autorizado a emitir atestados ou certidões.
Sujeito Passivo: É o Estado e, mediatamente, a pessoa física ou jurídica prejudicada
pela conduta criminosa.

Consumação: O crime é formal, de consumação antecipada. Consumasse no momento


em que o sujeito conclui a certidão ou atestado ideologicamente falso, e o entrega a outrem,
independentemente da sua efetiva utilização pelo seu destinatário ou da causação de prejuízo a
alguém.
Tentativa: É possível.

Ação penal: É pública incondicionada.

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33. Falsidade De Atestado Médico

“Art. 302 - Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso: Pena -
detenção, de um mês a um ano.
Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também
multa.”

Bem Jurídico Tutelado - é a fé pública, particularmente em relação ao atestado


médico. A falsidade dos atestados médicos, embora freqüente, é teoricamente mais difícil de
descobrir, em razão da credibilidade que tais documentos adquiriram na coletividade, por serem
produtos correspondentes à capacitação específica, técnica ou científica, reforçando a crença
em sua correção.

Sujeito Ativo : é somente o médico. Não pode ser o enfermeiro, atendente ou estagiário
de medicina. Trata-se de crime próprio, não se admitindo interpretação extensiva ou analógica.
Sujeito Passivo : é o Estado - Administração, a exemplo de todos os crimes previstos
neste capítulo, embora, igualmente, possa haver terceiro lesado ou prejudicado diretamente pela
falsidade, que também seria sujeito passivo.

Tipo Objetivo: adequação típica - A ação incriminada é dar (fornecer,

entregar) atestado falso, que é o objeto material. É necessária a realização da conduta no


exercício da profissão médica, ou seja, relativa aos atos que incumbem ao médico, em sua
atividade. O atestado deve versar sobre fato relevante, por exemplo, a constatação de doença
ou enfermidade. Assim, o simples prognóstico não o configura.

Tipo Subjetivo: adequação típica - Elemento subjetivo geral é o dolo, constituído pela
vontade consciente de dar ou emitir atestado médico falso. A existência eventual do elemento
subjetivo especial do tipo (parágrafo único), consistente no especial fim de obter lucro,
configura a forma majorada.

Consumação : Consuma-se o crime com a entrega do atestado falso ao interessado ou a


outra pessoa, visto que a conduta tipificada é “dar” atestado falso, independente de qualquer
outro resultado ou consequência.
Tentativa :Admite-se, teoricamente, a tentativa.

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Classificação doutrinária - Trata-se de crime formal (que não exige resultado

naturalístico para sua consumação), próprio (que exige qualidade especial do sujeito, que

somente pode ser médico), de forma livre (que pode ser praticado por qualquer meio ou forma

pelo agente), instantâneo de efeitos permanentes (consuma-se de pronto, mas seus efeitos

perduram no tempo), unissubjetivo (que pode ser praticado por um agente

apenas), plurissubsistente (crime que, em regra, pode ser praticado com mais de um ato,
admitindo, em consequência, fracionamento em sua execução).

Pena - A pena cominada, isoladamente, é a detenção, de um mês a um ano. A forma


qualificada prevê também a aplicação de pena de multa.

Ação penal: pública incondicionada.

34. Uso De Documento Falso – Forçado

“Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se
referem os arts. 297 a 302: Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.”
- A pena, nesse caso, varia se o documento é público, privado ou atestado médico.
- Só pode praticar este quem não praticou nenhum dos anteriores.

É delito acessório (de fusão ou parasitário), pois não tem existência autônoma,
reclamando a prática de crime anterior. De fato, somente se pode falar em uso de documento
falso quando um documento foi objeto de prévia falsificação.
Nesse contexto, submete à mesma pena o falsificador e o usuário, igualando a gravidade
da falsificação e do uso do documento falso.

Objeto Material: É qualquer dos papéis falsificados ou alterados a que se referem os


arts. 297 a 302 do Código Penal.

Falsificação ou alteração do documento e uso pela mesma pessoa: Se o usuário do


documento falsificado ou alterado é o próprio falsificador, deve ser a ele imputado somente o
crime de falsificação.
Dolo: Direto ou Eventual. O dolo deve abranger o conhecimento da falsidade do papel
utilizado pelo agente. Não há crime, portanto, quando alguém usa o documento falso ignorando

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sua origem ilícita. Porém, se depois de descobrir sobre a falsidade, continuar usando o
documento, estará configurado o crime de uso.

Uso Espontâneo: O uso forçado de documento falso descaracteriza o crime.

Competência: Em regra é da competência da Justiça Estadual. Salvo quando o crime


for praticado em detrimento de bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas.

35. Supressão De Documento

Art. 305 CP - Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício próprio ou de outrem, ou em


prejuízo alheio, documento público ou particular verdadeiro, de que não podia
dispor:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o documento é público, e reclusão, de
um a cinco anos, e multa, se o documento é particular.

Supressão De Documento : é o crime contra a fé pública, consistente em destruir,


suprimir ou ocultar, em benefício próprio ou de outrem ou em prejuízo alheio, documento
verdadeiro, de que não podia dispor. Distingue-se de supressão de documento particular
somente quanto à pena, que é mais rigorosa .

Objeto Jurídico : A fé pública.

Se a supressão de documentos visa à prática de crimes contra a ordem tributária,


fica absorvida pela infração especial (Lei n. 8.137, de 27-12-1990) . A destruição de
documento exclui o delito de furto.
Assim também a sua supressão absorve a apropriação indébita antecedente.
O dano, previsto no art. 163 CP .
Art. 163 CP Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena - detenção, de um a
seis meses, ou multa, não concorre com a supres são de documento, ficando por
esta absorvido.

Quando e cuida de documento judicial ou processo, sendo o sujeito ativo


procurador ou advogado, aplica-se a norma incriminadora do art. 356 do Código Penal
Sonegação de papel ou objeto de valor probatório .
Art. 356 - Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar de restituir autos, documento ou
objeto de valor probatório, que recebeu na qualidade de advogado ou procurador:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
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Sujeito Ativo: Delito comum, pode ser praticado por qualquer pessoa, inclusive
pelo dono do documento, quando dele não podia dispor.
Sujeito Passivo: Principal é o Estado. Secundariamente, quem sofre o dano
efetivo causado pela supressão de documento.
Elemento Objetivo do Tipo : Consiste em destruir, suprimir ou ocultar documento.

Objeto Material: Deve reunir as condições de documento e ser verdadeiro.


Cuidando- se de documento falso, inexiste o delito do art. 305, podendo surgir outro,
como a fraude processual CP, art. 347.
Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o
estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.

Ou o favorecimento pessoal CP, art. 348 Favorecimento pessoal


Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é
cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.

Originalidade: O documento deve ser original (JTA Crim). Não mais existindo este,
pode haver delito contra a cópia autêntica.
Não há crime, entretanto, quando a conduta visa à cópia autêntica do documento
que ainda existe.
Nesse caso, pela facilidade de obtenção de outros traslados, cópias e certidões,
não há dano à fé pública, inexistindo, por isso, o delito em tela, podendo subsistir outro,
como o dano e o furto.

Duplicata: não há crime enquanto sem aval ou aceite; sendo possível a


substituição pela triplicata, não há delito por ausência de prejuízo.

Restauração do documento: Se possível, não há crime. Assim, não há crime se


existe registro que possibilite a recomposição do documento. Não é suficiente, entretanto,
a mera possibilidade de restauração. É necessário que se propicie a reconstituição .

Natureza Do Documento:
 público;
 particular .

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A expressão "verdadeiro" do tipo penal diz respeito às duas naturezas do


documento: público e particular.

Benefício e prejuízo visados pelo agente: Podem ser de ordem material ou moral

Elementos Subjetivos Do Tipo : O crime só é punível a título de dolo, vontade


livre e consciente dirigida a destruir, suprimir ou ocultar o objeto material.
A figura penal reclama outro elemento subjetivo, contido na expressão "em
benefício próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio". Não são exigidos dois
elementos subjetivos relacionados com o benefício e o prejuízo.

Basta um: ou a intenção é a de obter um benefício (próprio ou de terceiro) ou


a de causar prejuízo a outrem. O benefício e o prejuízo queridos pelo agente devem
estar relacionados com a fé pública e a veracidade documental como meio de prova.
Esse particular aspecto do elemento subjetivo serve de forma de distinção entre a
supressão de documento e outros crimes, como o dano, o furto e a apropriação indébita.

Consumação : Ocorre com a realização das condutas de destruir, ocultar ou


suprimir o objeto material. Não há necessidade, para a consumação, de que o sujeito obtenha
o proveito ou cause prejuízo. Nesse aspecto, o delito é formal.
Tentativa: É Admissível.

36. Falsa Identidade

“Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem,
em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de
crime mais grave.”

Objeto Material: É a identidade, compreendida como o conjunto de características


próprias de determinada pessoa, capazes de identificá-la e individualizá-la em sociedade. É
crime de falsidade pessoal.

Dolo: Acrescido com um especial fim de agir. “para obter vantagem, em proveito
próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem”. A vantagem legalmente exigida pode ser

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econômica ou de qualquernatureza (moral, política etc.). Se não é buscada nenhuma vantagem,


o fato é atípico. Não seadmite a modalidade culposa.

Consumação: A falsa identidade é crime formal, de consumação antecipada. Consuma-


se com a conduta de atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade, independentemente da
obtenção de vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou da causação de dano a outrem.
Tentativa: É possível, nas hipóteses em que a falsa identidade se apresentar como
crime plurissubsistente, comportando o fracionamento do iter criminis.

Aqui atribuo falsa identidade. Não uso documento. Intenção:


I- obter vantagem
II- causar dano –Preso / Responsabilidade de identificação

37. Adulteração De Sinal De Identificador De Veiculo Automotor

Art. 311 CP - Adulterar ou re marcar número de chassi ou qualquer sinal


identificador de veículo automotor, de seu componente ou equipamento:
Pena - reclusão, de 3 (três ) a 6 (seis) a nos, e multa.

§ 1º - Se o agente comete o crime no exercício da f unção pública ou em


razão d ela, a pena é aumentada de 1/3 (um terço).

§ 2º - Incorre nas mesmas penas o funcionário público que contribui para o


licenciamento ou registro do veículo remarcado ou adulterado, fornecendo
indevidamente material ou informação oficial.

Classificação doutrinária: Trata-se de crime autônomo, independente da receptação


do veículo automotor.

Objetividade Jurídica: A fé pública.

Objetos Materiais: Sinais identificadores de veículo automotor.

Tipo Elástico: A expressão "qualquer sinal identificador de veículo automotor,


de seu equipamento ou componente" amplia demasiadamente a incriminação, com prejuízo
dos princípios da reserva legal e da segurança jurídica.

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Sujeito Ativo: pode ser cometido por qualquer pessoa, crime Comum, pode ser
cometido por qualquer pessoa. Praticado por funcionário público, aplicam-se, conforme o
fato, os §§ 1º e 2º da disposição.
Sujeito Passivo : O Estado.

Elementos Objetivos Do Tipo -Condutas Típicas: Adulterar ou remarcar sinais


identificadores de veículo automotor, equipamento ou componentes. Ex.: número do chassi.

Elemento Subjetivo Do Tipo: Dolo, vontade de adulterar ou remarcar sinais


identificadores de veículo automotor.

Consumação : Ocorre no instante da adulteração ou remarcação. Tentativa: É


admissível.

Crime Funcional
ARTIGO 311, § 1º De exigir-se relação entre o delito e o exercício da função, sob
pena de atipicidade.

"Quantum" da agravação: O tipo agrava "a pena" de um terço. O caput da


disposição, entretanto, comina duas penas. Observe-se que o § 2º menciona "nas mesmas
penas".

Funcionário público que participa de licenciamento ou registro indevido de


veículo com sinal de identificação adulterado ou remarcado
Art. 311, § 2º Redação defeituosa: Não se trata de "veículo remarcado ou
adulterado", como diz o texto, e sim de sinal de identificação adulterado ou
remarcado.

Elemento Normativo Do Tipo: Fornecimento de material ou informação oficial


deve ser " indevido". Se "devido", o fato é atípico.

38. Art 311-A Código Penal – Fraudes Em Certames De Interesse Publico

Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a


outrem, ou de comprometer a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de:
I - concurso público;
II - avaliação ou exame públicos;
III - processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou
IV - exame ou processo seletivo previstos em lei:
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Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita, por qualquer meio, o acesso
de pessoas não autorizadas às informações mencionadas no caput.

§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública:


Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 3o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido por funcionário
público.

Bem jurídico: o novo tipo penal foi inserido no Título X, que trata dos “crimes contra a
fé pública”. Desse modo, segundo a posição topográfica, o bem jurídico protegido é a fé
pública. Apesar disso, quando o certame for promovido pelo Poder Público, tenho que o bem
jurídico protegido será também a própria Administração Pública.

Sujeito Ativo: qualquer pessoa (crime comum). O conteúdo sigiloso, a que se refere o
caput do dispositivo, não precisa ter sido obtido por pessoa com características especiais.
Vale ressaltar, no entanto, que se o fato é cometido por funcionário público a pena é aumentada
de 1/3 (um terço), conforme previsto no § 3º do art. 311-A do CP:§ 3º Aumenta-se a pena de
1/3 (um terço) se o fato é cometido por funcionário público.
Sujeito Passivo: a coletividade. Secundariamente, tem-se que também são vítimas:
a) o ente público ou privado que deflagrou o certame (exs: União, Estado, Município, a
entidade privada, como o SEBRAE, SESI, a universidade privada, entre outros);
b) os demais candidatos prejudicados pela conduta do agente.

Tipo objetivo: Utilizar: está empregado no sentido genérico de “fazer uso”.

Divulgar: significa “tornar público ou conhecido”, ainda que apenas para uma única
pessoa, um conteúdo que ostenta o caráter de sigiloso.

Indevidamente: isto é, fora das hipóteses permitidas por lei, edital, contrato ou demais
regras inerentes ao certame. Com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a
credibilidade do certame: trata-se de um especial fim de agir (o que a doutrina clássica
denomina de dolo específico).

Conteúdo sigiloso: é aquele conhecido por poucos e que não pode ser revelado. Não há
uma lei ou outro ato normativo que defina o que seja sigiloso, não sendo o tipo em comento

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uma norma penal em branco. Desse modo, “conteúdo sigiloso” é um elemento normativo do
tipo, ou seja, depende de um juízo de valor a ser feito pelo magistrado, no caso concreto.
O conteúdo sigiloso de um concurso ou seleção envolve não apenas as perguntas e
repostas das provas a serem aplicadas, podendo abranger toda e qualquer informação que não
seja de conhecimento público e que, se divulgada, tenha potencial para beneficiar alguém ou
comprometer a credibilidade do certame.
Assim, configura o crime em estudo a conduta de divulgar, antes das provas, de forma
não pública, isto é, para uma ou algumas pessoas, a quantidade de questões que serão cobradas
por disciplina, os nomes dos examinadores, a abordagem metodológica que prevalecerá na
prova (doutrina, jurisprudência ou texto de lei), enfim, informações que beneficiem, ainda que
em tese, determinados candidatos,por gerarem tratamento diferenciado.

Divulgação antecipada do resultado do concurso para poucas pessoas:


Prática não rara na seara dos concursos são as notícias de que o resultado de determinado
concurso foi divulgado anteriormente a algumas poucas pessoas, em especial servidores do
órgão para o qual os cargos se destinam.

Não importa o meio pelo qual o agente tenha obtido a informação de conteúdo
sigiloso: como dito, o crime é comum, de sorte que não se exige que o sujeito ativo seja
funcionário da Instituição organizadora do concurso, da empresa promotora da seleção etc.

Espécies de certame: o tipo penal trata da fraude em quatro espécies de certame, que
não se constituem em meros sinônimos, possuindo, cada um deles, sentido próprio.
a) Concurso público: consiste no procedimento administrativo utilizado pela
Administração Pública para selecionar, por meio de provas ou de provas e títulos, os
servidores, em sentido amplo, que irão ocupar cargos ou empregos públicos. O conceito de
concurso público é restrito, portanto, à Administração Pública.
b) Avaliação ou exame públicos: trata-se de um procedimento por intermédio
do qual o Poder Público, ou mesmo entidades privadas, por meio de provas, currículos ou
outros instrumentos impessoais de aferição do mérito, fazem a seleção de pessoas para o
desempenho de funções, para que tenham direito de acesso a cursos de vagas limitadas ou para
o gozo de outros benefícios decorrentes do êxito no certame.
Aqui se enquadram, por exemplo:

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 Os processos seletivos públicos para contratação de profissionais para o


SEBRAE;
 As seleções para ingresso nos colégios militares e nas escolas técnicas;
 O exame público de habilitação na função de agente da propriedade industrial do
INPI;
 O exame público de qualificação de Mestrados e Doutorados;
 Seleção de candidatos à residência médica ou odontológica.

c) Processo seletivo para ingresso no ensino superior: além do tradicional vestibular,


existem outras formas de processo seletivo para ingresso no ensino superior, como é o caso das
avaliações seriadas (que englobam provas em todos os anos do ensino médio) e do Exame
Nacional do Ensino Médio (ENEM).
d) Exame ou processo seletivo previstos em lei: nesse inciso podem ser incluídos, por
exemplo, o exame da ordem (art. 8º, IV, da Lei 8.906/94) ou o processo seletivo simplificado
para contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional
interesse público (art. 3º, da Lei 8.745/93).

Concurso previsto na Lei de Licitações: A Lei 8.666/93 prevê uma modalidade de


licitação denominada “concurso” por meio do qual se escolhe, entre quaisquer interessados, o
melhor trabalho técnico, científico ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou
remuneração aos vencedores (art. 22, § 4º).
Deve-se deixar claro que o “concurso” versado pela Lei 8.666/93 não se confunde com
o “concurso público” para seleção de servidores. Enquanto o aprovado no concurso público tem
como objetivo o provimento em cargo público, no concurso – modalidade de licitação – a
contrapartida é somente um prêmio ou remuneração, e não a investidura da pessoa, ou seja, ela
não será contratada pelo Poder Público.
Caso seja fraudada essa espécie de “concurso”, tratada pela Lei de Licitações, o crime
não será o do art. 311-A do CP, mas sim o do art. 90, da Lei 8.666/93, que é específico em
relação ao do Código Penal e por isso não foi derrogado.

Violação de sigilo funcional: o tipo do art. 311-A do CP é especial em relação ao delito


do art. 325 do CP. Extensão prevista no § 1º:O § 1º do CP.
Art. 311-A prevê: § 1º Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita, por
qualquer meio, o Acesso de pessoas não autorizadas às informações mencionadas no
caput.

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Tenho como evidente que o sujeito que permite ou facilita o acesso de pessoas não
autorizadas às informações mencionadas no caput, em verdade, divulga ou utiliza,
indevidamente, o conteúdo sigiloso do certame.
A “cola eletrônica” passou a ser incriminada com esse novo dispositivo?
Ficou conhecida como “cola eletrônica” o procedimento fraudulento utilizado por alguns
candidatos que respondiam as provas de vestibulares ou de concursos públicos com a ajuda de
um “ponto eletrônico” (como os de apresentadores de TV) ou com outras formas de
comunicação escondida (celulares, p. ex.). Uma ou algumas pessoas contratadas, especialistas
nos temas do vestibular ou do concurso faziam a prova e, já do lado de fora da sala, passavam
as respostas corretas por meio dessas tecnologias ao candidato mancomunado que, com tal
auxílio, respondia a prova.
Com a previsão do art. 311-A do CP, não tenho dúvidas de que a “cola eletrônica”
passou a ser criminalizada.
O especialista contratado que faz o vestibular ou o concurso e, antes de terminar o prazo
de duração das provas, transmite, por meio eletrônico, as respostas corretas ao candidato que se
encontra fazendo ainda a prova pratica a conduta de divulgar, indevidamente, com o fim de
beneficiar a outrem, conteúdo sigiloso do certame.
Por outro lado, quem recebe os dados utiliza indevidamente o conteúdo sigiloso com o
fim de beneficiar-se, de sorte que é co-autor.
Com efeito, antes de terminar o prazo de duração da prova, as respostas que um
candidato deu são sigilosas com relação aos demais candidatos que ainda se encontram fazendo
a prova. Ao divulgá-las, a pessoa pratica os elementos descritivos e normativos do tipo penal
do art. 311-A do CP.
Não há, portanto, mais espaço para a alegação de atipicidade na prática da chamada
“cola eletrônica”.
E a “cola tradicional”, também encontra tipificação no art. 311-A do CP?
Sim. É o caso, por exemplo, de um candidato que, durante o período da prova, é flagrado no
banheiro do colégio consultando um livro de doutrina para conseguir responder corretamente as
questões. Na hipótese relatada, o agente estará utilizando informação de conteúdo sigiloso (as
questões da prova durante o período de sua realização) para consultar as respostas corretas no
livro (ou na cola que leve pronta para o concurso).

Crime de conduta livre: o delito em comento pode ser praticado por ação ou omissão.

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Exemplo no caso de conduta comissiva: funcionário da Instituição organizadora do


concurso “vende” a prova a determinados candidatos antes de sua realização.
Exemplo na hipótese de conduta omissiva: fiscal de sala do concurso, previamente
cooptado pelo candidato meliante, finge não ver que o agente está respondendo a prova com o
uso de um “ponto eletrônico”.

Elemento Subjetivo: é o dolo, acrescido de um especial fim de agir (“dolo específico”),


qual seja, a intenção do agente de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a
credibilidade do certame.Não há previsão da modalidade culposa.

Consumação: cuida-se de crime material, exigindo, portanto, a produção de resultado


naturalístico, consistente na utilização ou divulgação de conteúdo sigiloso do certame. A
consumação ocorre com a utilização ou divulgação, ainda que parcial do conteúdo sigiloso. No
exemplo da “cola eletrônica”, se o especialista transmitiu uma única resposta da prova para o
candidato está consumado o delito, ainda que a comunicação das demais questões não tenha
sido possível em virtude do fiscal da sala ter percebido o fato e ter retirado a prova e o aparelho
receptor do candidato beneficiado.

Obtenção de vantagem:O tipo não exige que o agente ou terceiro tenha obtido
qualquer vantagem. Tal situação, caso ocorra, poderá ser considerada nas circunstâncias
judiciais (art. 59 do CP).

Prejuízo à administração pública ou a outras pessoas:De igual modo, não é


indispensável que tenha havido prejuízo ao Poder Público ou a outras pessoas. No entanto, se
da ação ou omissão resulta dano à administração pública, há a incidência de uma qualificadora
prevista no
Art. 311§ 2º fazendo com que a pena passe a ser de 2 (dois) a 6 (seis) anos. § 2º Se da
ação ou omissão resulta dano à administração pública:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

O dano de que trata esse § 2º não é apenas o dano patrimonial, como poderia parecer em
uma análise rápida. Abrange, portanto, também o dano moral ou, como alguns autores preferem
no caso de pessoas jurídicas, o “dano institucional”. Essa conclusão é construída pelo fato de
que o tipo penal está incluído no Título que trata sobre os crimes contra a “fé pública”, de
modo que tutela a crença da sociedade no valor e legitimidade das Instituições e, no caso
específico, dos certames públicos.
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Tentativa: tratando-se de crime material, a tentativa é perfeitamente possível. Ex: no


esquema da “cola eletrônica”, o especialista que respondeu a prova, digitou todas as respostas
no transmissor eletrônico, no entanto, por uma falha no aparelho, a comunicação com o
candidato que ainda estava respondendo a prova não se concretizou. Frise-se, mais uma vez,
que, se houve a comunicação de uma única questão, o crime restou consumado.
Deve-se atentar para o fato de que não são puníveis os atos preparatórios.
Para o fim de ilustrar a diferença entre os atos preparatórios e os executórios, tomemos mais
uma vez um exemplo decorrente da “cola eletrônica”.
Se o edital do concurso afirma que o candidato não pode, após o início das provas,
portar aparelho de comunicação e o agente é flagrado, pelo fiscal de sala, antes de iniciar o
teste, com um “ponto eletrônico”, trata-se de mero ato preparatório, não sendo punível a
tentativa.
Situação diferente ocorreria se esse mesmo candidato fosse surpreendido com o “ponto
eletrônico” após o início da prova, ocasião em que já iniciou a execução do crime, mesmo que
ainda não tenha recebido nenhuma resposta no aparelho de comunicação que portava. Cuida-se
aqui de tentativa (art. 14, II do CP) uma vez que o início de execução do crime não se
confunde, necessariamente, com o início de execução da ação típica.

Competência: em regra, a competência é da justiça estadual.


Vale ressaltar, no entanto, que, se o delito for praticado em detrimento de bens, serviços
ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, a competência
será da Justiça Federal. É o caso, por exemplo, de fraudes em concurso para cargos ou
empregos públicos de órgãos, autarquias, fundações ou empresas públicas federais.
Como único alento, tem-se que, quase sempre, a fraude a concursos públicos gera dano
à administração pública, de sorte a atrair a incidência da qualificadora prevista no § 2º do art.
311-A do CP, fazendo com que a pena passe a ser de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Suspensão condicional do processo:Se o acusado for denunciado pelo art. 311-


A, caput ou § 1º, do CP, isto é, sem a incidência do § 2º, terá direito à suspensão condicional do
processo (art. 89 da Lei 9.099/95).

Inadmissibilidade de decretação da prisão preventiva: Se o acusado estiver


indiciado ou for denunciado pela forma simples do delito do art. 311-A do CP, não caberá a

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decretação de prisão preventiva, em virtude de a pena máxima ser inferior a 4 anos (art. 313, I,
do CPP).

Prisão em flagrante: é possível. No entanto, como a prisão preventiva não é admitida,


ao flagranteado deverá ser concedida liberdade provisória, com ou sem fiança (art. 310, III, do
CPP).

Acentuada probabilidade de o condenado receber pena restritiva de direitos:


Em caso de condenação pelo delito do art. 311-A do CP, se a fraude não foi praticada mediante
violência ou grave ameaça à pessoa e se o sentenciado não for reincidente em crime doloso, é
muito grande a probabilidade de a pena privativa a ele aplicada ser substituída por restritiva de
direitos.

Proibição de participação em concurso, avaliação ou exame públicos como nova


forma de interdição temporária de direitos: A interdição temporária de direitos é prevista no
CP como uma das modalidades de pena restritiva de direitos (art. 43, V). A Lei 12.550/2011
acrescentou uma nova espécie de pena de interdição temporária de direitos, inserindo o inciso
V ao art. 47 do CP:
Art.47.(...) V - proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame públicos.

Desse modo, caso o candidato que fraudou ou tentou fraudar o certame seja condenado,
se a pena privativa de liberdade for substituída por restritiva de direitos, revela-se
recomendável ao magistrado aplicar a novel sanção do art. 47, V, do CP. Essa proibição de
inscrever-se em concurso, avaliação ou exame públicos durará pelo tempo da pena privativa de
liberdade imposta e que foi convertida.
A inserção desse inciso V ao art. 47 do CP revela que a intenção deliberada do
legislador, ao prever o preceito secundário do delito do art. 311-A do CP, foi justamente a de
possibilitar a aplicação da pena restritiva de direitos para o condenado pelo crime tanto que, já
antevendo tal situação, fez inserir nova espécie de interdição temporária de direitos específica
para o caso.
Esse art. 47, V, do CP não tem aplicação restrita à condenação pelo art. 311-A do CP
podendo ser utilizado como sanção restritiva de direitos pelo magistrado em outras hipóteses,
desde que haja relação com a conduta praticada. Seria o caso, por exemplo, de uma condenação
por crime contra a administração pública.

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UNIDADE VII – CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Dos Crimes Praticados Por Funcionários Contra A Administração

39. Conceito De Funcionário Público

Nossa legislação seguindo as demais colocou o conceito de funcionário público no


capítulo relativo aos delitos cometidos por Funcionário público., tendo aplicação em toda
legislação penal . A disposição menciona cargo público: que corresponde ao criado por lei
com denominação própria, em número certo e pago pelos cofres públicos.

Administração Pública: é tomada em seu sentido amplo, ou seja o conjunto das


funções realizadas pelos órgãos do poder público. Protege o legislador o
desenvolvimento da máquina administrativa.
Proíbe-se com a incriminação penal, não só a conduta ilícita dos agentes do
poder público, os funcionários públicos ( intranei) bem como a conduta dos estranhos, os
particulares (extranei).
De forma secundária, O estatuto penal protege os interesses particulares

Três funções são protegidas: Legislativo, Executivo e Judiciário.

Simétrica improbidade – NÃO é verdade! (Improbidade administrativa é o ato ilegal


ou contrário aos princípios básicos da Administração Pública, cometido por agente público,
durante o exercício de função pública ou decorrente desta).

Nem tudo que é improbidade é crime e nem tudo que é crime é improbidade.

Reparação/Progressão: só progride se reparar o dano (ex: de regime semi-aberto para


aberto), salvo impossibilidade de fazê-lo.

Espécies:
I- Funcionário contra Administração Pública
II- Particular em geral
III- Particular estrangeiro
IV- Administração turística
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V- Finanças

Funcionário:
 Administrativo: aquele que exerce cargo criado por lei, nominado pela lei, em
que teve provimento nesse cargo mediante concurso publico de provas e títulos e
deu Início à pratica dos atos funcionais inerentes ao seu cargo.

 Civil: aquele que recebe remuneração pelos cofres públicos.

 Penal: aquele que mesmo que transitoriamente e sem remuneração ocupa cargo,
emprego ou função pública.

I- nacional Equiparação:
a) paraestatal – componentes do Estado
b) contratada – Ex. da faxineira e adv. no fórum: Empresa -> Estado
c) conveniada – Ex. estagiário: Empresa se reporta à outra -> Estado

II- estrangeiro - Estrangeiro não tem equiparação


a) Notificação preliminar
b) Funcionário de hospital particular: os que prestem serviço ao SUS serão considerados
funcionários públicos.
c) Elemento normativo.
d)Funcionário público estrangeiro: exerce cargo público em empresa estrangeira ou está
a serviço de representação ou organização estrangeira. Não há funcionário público por
equiparação.

Crime funcional:
I- puro: condição de o agente ser funcionário público, senão haverá atipicidade.
II- impuro: retirada a condição de funcionário público ocorre a desclassificação para
outro crime.

Funcionário público: é elementar do título


Funcionário público por equiparação e causa de aumento de pena – artigo
327, § 1º entidade paraestatal: é as pessoa jurídica de direito privado, criada por lei,

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de patrimônio público ou misto, com o fim de concretização de atividades, obras ou


serviços de interesse social, sob disciplina e controle do Estado.
Quanto a aplicação do dispositivo, temos duas correntes:
1) Restritiva: a equiparação só alcança as autarquias, não se aplicando às sociedades
de economia mista ou àquelas em que o poder público figura como acionista majoritário;
2) Ampliativa: o § 2° ampliou o rol do §1° de modo que para ela também
são funcionários públicos, os funcionários da sociedades de economia mista, empresas
públicas e fundações instituídas pelo poder público.

Elementos Subjetivos Do Tipo - Em regra geral é o dolo, devendo abranger os


elementos do tipo, devendo para adequação típica do fato o sujeito conhecer a sua condição
de funcionário público.

Concurso De Agentes - Na hipótese de concurso de agentes, a elementar


funcionário público, de natureza pessoal ou subjetiva, é comunicável entre os fatos
dos participantes. Entretanto não é incondicional.
Para tanto é necessário que o terceiro , que não apresenta qualidade funcional
cometa o fato com conhecimento de sua presença na figura do autor principal.
O Dolo, deve abranger todos os elementos do tipo, precisa alcançar também a
elementar funcional.

40. Peculato

“Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro


bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-
lo, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do


dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído,em proveito
próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de
funcionário.

Peculato culposo
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença
irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena
imposta.”

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Etimologia: gado

Bens jurídicos tutelados:


I- patrimônio: público (diretamente) e particular (indiretamente)
II- probidade administrativa
III- fidelidade do agente para o cargo por ele ocupado

Sujeito Ativo: O peculato é crime próprio ou especial, pois somente pode ser praticado
por funcionário público, ou seja, a condição de funcionário público em que se comunicar com o
particular e sempre por meio de co-autoria e participação, só não podendo ser autor, senão será
crime de furto ou de apropriação. Sujeito ativo: O peculato é crime próprio ou especial, pois
somente pode ser praticado por funcionário público.
Sujeito Passivo: Estado ou particular – desde que o bem esteja na posse do Estado.

Peculato E Concurso De Pessoas: A condição de funcionário público é elementar do


peculato, razão pela qual comunica-se a todos aqueles que tenham concorrido de qualquer
modo para o crime, mesmo em se tratando de pessoas alheias aos quadros públicos.

Objeto Material: I -É o dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou


particular. II- valor: tudo o que pode ser convertido em $ - III- qualquer bem móvel: passível de
deslocamento.

Objeto Jurídico: Em todas as modalidades de peculato, tutela-se a Administração


Pública, tanto em seu aspecto patrimonial, consistente na preservação do erário, como também
em sua face moral, representada pela lealdade e probidade dos agentes públicos. Também se
protege o patrimônio do particular, nas hipóteses em que seus bens estejam confiados à guarda
da Administração Pública, hipótese em que é denominado peculato malversação.

Peculato E O Princípio Da Insignificância: O STJ não admite a incidência do


princípio da insignificância, ou da criminalidade de bagatela, nos crimes contra a
Administração Pública,incluindo-se o peculato. Esta posição encontra seu nascedouro na
violação da moralidade administrativa, que ocorre mesmo quando a lesão patrimonial apresenta

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ínfima dimensão. O STF,agindo com prudência, já reconheceu o princípio da insignificância no


âmbito do peculato,como causa supra-legal de exclusão da atipicidade.
Concorrer para a subtração: o funcionário público não subtrai diretamente o dinheiro,
valor ou qualquer outro bem móvel. Sua atuação restringe-se à concorrência dolosa para a
subtração efetuada por terceira pessoa.
Cuida-se de crime de concurso necessário, pois reclama a presença de ao menos duas
pessoas: o particular que subtrai a coisa móvel, ciente da colaboração do funcionário público, e
o funcionário público,que conscientemente concorre para a subtração alheia. Há necessidade de
imputação do peculato a todos os sujeitos que de qualquer modo concorram para o crime, sejam
eles funcionários públicos (intraneus) ou particulares (extraneus) – a qualidade de funcionário
público, ainda que de natureza pessoal, comunica-se a todos os agentes, por se tratar de
elementar do delito .
Art. 30 do CP- Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter
pessoal, salvo quando elementares do crime).

Espécies :
Peculato Próprio : apropriação: posse ou detenção do bem. Passa a se comportar como
se fosse dono; desvio: desvia o bem para outra finalidade fora da Administração Pública. É o
crime do funcionário público que arbitrariamente faz seu ou desvia em proveito próprio ou de
terceiro o bem móvel, pertencente ao Estado ou simplesmente sob sua guarda ou vigilância, de
que tem a posse em razão do cargo. Trata-se, portanto, de crime funcional impróprio, pois com
a exclusão da condição de funcionário público do agente afasta-se o peculato, mas subsiste o
delito de apropriação indébita. O peculato reclama por parte do agente a posse legítima da coisa
móvel de que se apropria, ou desvia do fim a que era destinada. Aposse antecedente do bem e a
infidelidade do sujeito ao seu dever funcional são elementos do peculato.

Peculato Impróprio : furto: se valer de condição de funcionário público para furtar o


bem. Trata-se de modalidade de peculato que se assemelha ao furto, razão pela qual é chamado
de peculato furto ou peculato impróprio. Constitui-se, mais uma vez, em crime funcional
impróprio: ausente a condição de funcionário público, desaparece o peculato, mas subsiste
intacto o delito de furto.

Peculato Apropriação: consuma-se quando o sujeito se comporta como dono.

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Peculato Desvio: consuma-se quando o sujeito desvia a finalidade do bem para fora da
Administração Pública.

Peculato Furto: consuma-se quando o sujeito se vale da condição de funcionário


público para furtar o bem.

Peculato Impróprio: se consuma nas mesmas hipóteses do furto.


Funcionário tem que estar no exercício de suas funções. Não precisa causar prejuízo ao
Estado para o crime consumar-se.

Estelionato - Peculato mediante erro de outrem


Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo,
recebeu por erro de outrem:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Inserção de dados falsos em sistema
de informações (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000).

Culposo : tem expressa previsão legal e, portanto, o peculato pode ser punido a título
culposo.

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro


bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-
lo, em proveito próprio ou alheio: § 2º - Se o funcionário concorre culposamente
para o crime de outrem:

Negligência de comportamentos, negligência de funções e propício que um terceiro


cometa o crime. Ex: saio do meu departamento e esqueço de trancar a porta, nisso um individuo
ingressa no ambiente e pratica furto, mas o funcionário não pode ter combinado antes com o
individuo, e nesse caso será peculato culposo, pois seja tivesse combinado seria peculato
próprio ou impróprio.

Consumação: trata-se de crime formal (exige quebra da fidelidade do funcionário para


com a Administração Pública).
Tentativa: possível em todas as hipóteses (apropriação, desvio e impróprio), exceto
culposo. É possível o conatusde peculato doloso, em todas as suas formas (apropriação,desvio e
furto).

Ação Penal:É pública incondicionada.

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Proveito: material ; moral

Mão de obra e serviço: não é crime de peculato.


Ex: prefeito obriga policial a trabalhar como segurança de evento particular no horário
de seu serviço. Não será peculato, pois não é moeda, valor ou bem móvel, mas por ser prefeito
será crime de responsabilidade, já se for secretário, será fato atípico.

Prefeitos e militares: não são punidos pelo crime de peculato, pois é crime de
responsabilidade. Possuem leis próprias.

Restituição/Compensação: não se alega com crédito do Estado, só particulares.

Contas/Perícia: em regra NÃO precisa para comprovar o peculato, mas em


determinadas situações podem se fazer necessárias.

Pune-se a conduta dolosa, expressada pela vontade consciente do agente em transformar


a posse da coisa em domínio (peculato apropriação) ou desviá-la em proveito próprio ou de
terceiro (peculato desvio). Atenção: De acordo com entendimento pacífico do STJ, não é
possível falar em peculato-desvio quando o agente destina verba pública a outra finalidade
também prevista em lei. Embora, dependendo do caso concreto, possa configurar o crime de
emprego irregular de verbas publicas.

 Peculato Impróprio
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer Outro
bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-
lo, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do


dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito
próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de
funcionário.

O agente, também servidor público típico ou atípico, não tem a posse, mas, valendo-se
da facilidade que a condição de funcionário lhe concede, subtrai (ou concorre para que seja
subtraída) coisa do ente público ou de particular sob custódia da administração (peculato furto).
Parece claro ser pressuposto do crime que o agente se valha, para galgar a subtração, de alguma

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facilidade proporcionada pelo seu cargo, emprego ou função. Sem esse requisito, haverá apenas
furto (art. 155 do CP).
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão,
de um a quatro anos, e multa.
Ex: comete o crime de peculato furto o policial que subtrai peças de uma motocicleta
furtada e que arrecadara em razão de suas funções.

 Peculato Culposo
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro
bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-
lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:

O peculato culposo nada mais é do que o concurso não intencional pelo funcionário
público, realizado por ação ou omissão infringe o dever de cuidado objetivo, criando condições
favoráveis à prática do peculato doloso, em qualquer de suas modalidades (apropriação, desvio,
subtração ou concurso para esta), mediante imprudência, negligência ou desídia – para a
apropriação, desvio ou subtração de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel pertencente
ao Estado ou sob sua guarda, por uma terceira pessoa, que pode ser funcionário público
(intraneus) ou particular (extraneus).
Ex: quem deixa a serventia de cartório por conta de outrem, irregularmente, sem
conhecimento oficial da autoridade superior, cria culposamente condições favoráveis à prática
de ilícitos administrativos criminais, respondendo pelo delito previsto no art. 312, § 2°, do CP.

Consumação : no momento em que se aperfeiçoa a conduta dolosa do terceiro, havendo


necessidade da existência de nexo causal entre os delitos, de maneira que o primeiro tenha
possibilitado a prática do segundo. Neste caso, a reparação do dano, se precede à sentença
irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.
OBS.: no caso de peculato doloso, a reparação do dano antes do recebimento da
denuncia caracteriza arrependimento posterior. É causa de diminuição de pena.

Reparação do dano no peculato culposo: Reparar o dano antes da sentença, ocorre a


extinção de punibilidade; se reparar o dano após a sentença, ocorre a redução da pena.

 Peculato Mediante Erro De Ontrem


“ Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do
cargo, recebeu por erro de outrem: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e
multa.

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Apropriar-se de dinheiro ou utilidade havida por erro no exercício da função. Não


repete o art 312, já que aqui fala-se em dinheiro ou utilidade, diferente do crime de peculato.
Utilidade é extrema elasticidade, dificultando a defesa dos fatos, ferindo o contraditório e a
ampla defesa, e assim deve ser interpretada como qualquer bem imóvel.
É também conhecido também conhecido como “peculato estelionato” porque consiste
na captação indevida, por parte do funcionário público, de dinheiro ou qualquer outra utilidade
mediante o aproveitamento ou manutenção do erro alheio.

Objeto Material: É o dinheiro ou qualquer outra utilidade.


O funcionário público passa a agir como dono do objeto material, praticando algum ato
que somente a este competia. O funcionário público apropria-se da coisa valendo-se das
facilidades proporcionadas pelo exercício do seu cargo. É imprescindível o recebimento do
bem pelo funcionário público no exercício do cargo.
O erro da pessoa que entrega o dinheiro ou qualquer outra utilidade (vítima) deve ser
espontâneo, pouco importando qual a sua causa; se dolosamente provocado pelo funcionário
público, estará configurado o crime de estelionato .
Art. 171 DO CP- Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro
meio fraudulento:

Sujeito Ativo: Cuida-se de crime próprio ou especial, pois somente pode ser praticado
pelo funcionário público.

Consumação: O crime é material ou causal, consuma-se com a apropriação.


Erro : Provocado/Induzido: indispensável que seja espontâneo.

Estelionato: é equivocadamente chamado de peculato estelionato, pois aqui o particular


incide espontaneamente em erro, sem qualquer atuação do Funcionário público, e o funcionário
sabendo do erro recebe a coisa, mas o erro não é provocado ou induzido. É indispensável que o
erro seja espontâneo e não provocado.

Exercício de cargo :
Exemplo 1: Funcionário público que recebe de terceiro, por engano, dinheiro destinado
ao pagamento de determinado serviço prestado por outro setor da administração, e, mesmo

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ciente do equívoco, não comunica o fato à repartição competente. O erro do ofendido deve ser
espontâneo, pois, se provocado pelo funcionário, poderá configurar o crime de estelionato .
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro
meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de
réis.

Consuma-se o delito não no momento do recebimento, mas quando o agente,


percebendo o erro de terceiro, não o desfaz, apropriando-se da coisa recebida, agindo como se
dono fosse.

Exemplo 2: Um fiscal vai aplicar uma multa ao determinado contribuinte e este paga o
valor direto ao fiscal, que embolsa o dinheiro para si, só que na verdade nunca existiu multa
alguma e esse dinheiro não tinha como destino os cofres Públicos, e sim o favorecimento
pessoal do agente. É um crime doloso.

Consumação : sua consumação se dá quando ele passa a ser o titular da coisa.


Tentativa: Admite-se a tentativa.

41. Concussão

Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena -
reclusão, de dois a oito anos, e multa.

Excesso de exação § 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que


sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio
exatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena - reclusão, de três a oito anos, e
multa.

§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu


indevidamente para recolher aos cofres públicos: Pena - reclusão, de dois a doze
anos, e multa.”

A concussão é crime em que o funcionário público, valendo-se do respeito ou mesmo


receio que sua função infunde, impõe à vítima a concessão de vantagem a que não tem direito.
De modo informal, é a extorsão praticada por funcionário público, que se vale da função
pública, mas sem violência ou grave ameaça. Nesse caso o temor decorre do próprio exercício
da função. Não precisa estar no exercício das funções, podendo ser mesmo antes de exercê-la,
na expectativa de pretensão de direito.
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Etimologia: chacoalhar a árvore para colher os frutos.

Bem Jurídico Tutelado: regime administrativo.

Sujeito Ativo: A concussão é crime próprio ou especial, pois somente pode ser
praticado por funcionário público. Com a utilização da expressão “ainda que fora da função ou
antes de assumi-la”, o tipo penal é claro: não é necessário esteja o agente no exercício das suas
funções. A concussão pode ser cometida no horário de descanso, e também no período de férias
ou licença do funcionário público, ou mesmo antes de sua posse (vale-se da expectativa).
Sujeito Passivo: Estado e particular lesado.

Verbo: exigir São grafadas, isto é, constam no orçamento do ano anterior. Ou seja,
prefeito não pode desviar finalidade.

Temor (exigência) represálias: a vítima tem medo de sofrer represália pelo

Estado: Decorre do exercício de função e sem isso será corrupção passiva.

Dolo: Acrescido do elemento subjetivo específico “para si ou para outrem”. Não se


admite modalidade culposa
Paridade Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com
o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer,
tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

Tentativa: É possível somente na modalidade escrita, desde que não chegue ao


conhecimento da vítima.

Espécies de concussão:
a) Concussão explícita: quando inequívoca. Quando clara . Ex: paga $ ao policial
para não ser preso.

b) Concussão implícita: há dúvida, deixa subentendida. Quando disfarçada


I- Concussão direta: quando próprio funcionário público faz exigência. Quando o
próprio chantageador faz a exigência.

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II- Concussão indireta: quando funcionário público se usa de interposta pessoa,


notadamente um particular, para fazer a exigência. É indispensável: valer-se da função, não
sendo necessário que já esteja no exercício desta. Ex: juiz antes de assumir ameaça sujeito
particular, valendo-se da sua futura função, e nesse caso cometerá concussão. Quando se usa
terceiros para fazer a exigência .

Vantagem indevida: não precisa ser patrimonial e nem ocorrer, bastando a ameaça, por
se tratar de crime formal. Ex: menina que faz sexo oral no policial para não ser presa –
concurso de crimes: estupro + concussão.

Suposição devida : Qualquer vantagem desde que indevida, ou seja, a vantagem


exigida pelo agente público precisa ser indevida, isto é, injusta, ilegal. Pode ser presente ou
futura, ou seja, o agente pode pedir algo para receber imediatamente ou em outro momento.

Crime Formal: legislador descreve um comportamento, um resultado, mas não exige a


concretização do mesmo, ou seja, assim basta a mera ameaça/exigência,não precisando que o
sujeito passivo ceda a tal exigência.
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. E
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda
que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou
aceitar promessa de tal vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº
10.763, de 12.11.2003)

São Diferentes:
Art. 316 é temor, é exigência com aquilo que estou pedindo;
Art. 317 é mera solicitação,não há temor de represália futura, o crime será corrupção
passiva. Ou seja, com temor será concussão e sem temor será corrupção passiva.

Excesso De Exação
art 316 § 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou
deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou
gravoso, que a lei não autoriza:
I- existência tributo: sabe ou deveria saber – indevido
II- devido-cobrança: vexatória ou onerosa

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Se a vantagem não for destinada ao próprio servidor público ou a pessoa indicada por
ele, mas para o próprio órgão ou ente público, também não ocorrerá concussão, mas outro
crime, denominado excesso de exação.
Diferencia o excesso de exação da concussão o fato de que a vantagem exigida pelo
agente público não é destinada a si mesmo, mas ao órgão ou ente público.
Além disso, a exigência deve referir-se à cobrança de tributo.

Forma qualificada : deixar de recolher


Art 316 § 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que
recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos:

Define-se, ainda, uma forma mais grave do crime de excesso de exação. Ela ocorre
quando o funcionário público desvia, em proveito próprio ou de outra pessoa, o que recebeu
indevidamente para recolher aos cofres públicos. Nesse caso, a pena é de dois a doze anos de
reclusão, mais multa.

Não ocorre concussão se o agente público, em vez de exigir a vantagem, propõe ao


particular (pessoa física ou jurídica) a realização de negócio ilegal, para que ambos tenham
vantagem. Essa é uma das situações em que o agente público e o particular, ambos desonestos,
se associam para subtrair dinheiro ou outra vantagem da administração pública e com isso
enriquecerem.
Nesses casos, como não houve exigência (imposição) por parte do agente público, mas
uma negociata entre ele e o particular, não haverá concussão, mas poderá haver outros crimes,
como o de peculato (apropriação ou desvio de bens
públicos), fraude a licitação, corrupção etc., a depender das circunstâncias.

42. Excesso De Exação

art 316 § 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou


deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou
gravoso, que a lei não autoriza:
I- existência tributo: sabe ou deveria saber – indevido
II- devido-cobrança: vexatória ou onerosa
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu
indevidamente para recolher aos cofres públicos:

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Espécie Típica: Trata-se de um subtipo de concussão, diferenciando-se da figura


fundamental pela característica de que, aqui, o sujeito ativo não visa a proveito próprio ou
alheio, porém, no desempenhe de sua função, excede-se nos meios de sua execução.

Objeto Jurídico : A Administração Pública.

Sujeito Ativo: Crime próprio, só ode ser cometido por funcionário público, admitindo-
se, entretanto, a participação de particular.
Sujeitos Passivos: O principal é o Estado. Em segundo lugar, o particular vítima da
conduta (como também outro funcionário).

Condutas Típicas:
1ª) exigência indevida de imposto ou contribuições sociais (PIS, PASEP, contribuições
securitárias etc.): nesse caso, o sujeito cobra do sujeito passivo essas contribuições,
consciente de que ele não as deve, são indevidos pelo contribuinte (não determinados por
lei; já saldados ou devidos a menor).
2ª) cobrança vexatória ou gravosa: nessa hipótese, o agente cobra as
contribuições, devidas pela vítima, de maneira injusta e não autorizada em lei. As
contribuições são devidas. O autor, entretanto, em sua cobrança, emprega meio vexatório ou
gravoso (não permitido em lei).

Meios De Execução: Vexatório é o que causa humilhação, tormento, vergonha ou


indignidade ao sujeito passivo. Gravoso é o que lhe importa maiores despesas. Nas duas
hipóteses, é necessário que a lei não autorize o emprego do meio escolhido pelo funcionário.

Contribuições Sociais E Tributos Devidos: Na primeira modalidade típica,


concernente à exigência, o legislador inseriu a elementar "indevido", referindo-se ao tributo.
Se devido, o fato é atípico, salvo a ocorrência da conduta descrita na segunda
parte do parágrafo ou outro delito (p. ex.: abuso de autoridade).

Meio De Execução Autorizado: Na segunda forma típica, referente à cobrança


vexatória ou gravosa, a expressão "que a lei não autoriza" configura elemento normativo. De
modo que, autorizado o meio, o fato é atípico.

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Elementos Subjetivos Do Tipo:


1º) o dolo, vontade livre e consciente de exigir ou cobrar tributos etc., nos moldes
descritos no tipo;
2º) contido na expressão "que sabe" (indevido), referente à primeira modalidade
típica (exigência). Nesse caso, é necessário, para que se aperfeiçoe a tipicidade do f ato,
que o sujeito tenha pleno conhecimento da ilegitimidade do tributo. Se há dúvida ou
erro sobre a ilegitimidade, não há crime por ausência de tipicidade.
3º) inserido na expressão "deveria saber". Nesta hipótese, o sujeito age com
dolo eventual. Não tem plena certeza da natureza indevida da cobrança (dolo direto;
modalidade anterior), mas tem conhecimento de fatos e circunstâncias que claramente a
indicam.
O tipo não admite a modalidade culposa.

Consumação: Na primeira modalidade típica, o delito se consuma no momento


em que a vítima toma conhecimento da exigência. Formal o crime, a consumação
independe do efetivo pagamento do tributo.
A conduta consiste em exigir e não receber.
Na segunda, o crime atinge a consumação com o emprego do meio vexatório ou
gravoso. Independe do efetivo recebimento do tributo.
Tentativa: É admissível.

Causa De Agravação Da Pena – Artigo 327, § 2º : Cometido o fato por ocupante


de cargo em comissão ou função de direção ou assessoramento, em determinadas
entidades, de aplicar-se a causa de aumento de pena do art. 327, § 2º, do Código Penal.

Tipo Qualificado Artigo 316, § 2º : É aplicável somente ao excesso de exação (§


1º do dispositivo). De forma que não incide sobre a concussão descrita no caput.
Há peculato se o apoderamento ocorre depois do recolhimento do tributo aos
cofres públicos.
Estranhamente, a Lei n. 8.137/90, alterando a redação do § 1º do art. 316,
passou a cominar pena mínima mais grave para a modalidade simples.

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43. Corrupção Passiva

“Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,


ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem
indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº
10.763, de 12.11.2003)

§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou


promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o
pratica infringindo dever funcional.

§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com


infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Em síntese, na corrupção passiva, o servidor público comercializa sua função pública.


Solicitar equivale a pedir algo. Na corrupção passiva, o funcionário público limita-se a
manifestar perante outrem seu desejo de receber alguma vantagem indevida, e o particular pode
ou não atendê-lo, pois não se sente atemorizado. Se cede aos anseios do corrupto,o faz por
deliberada manifestação de vontade, uma vez que pretende obter benefícios em troca da
vantagem prestada.

Bem Jurídico Tutelado: é a Administração Pública, especialmente sua moralidade


e probidade administrativa. Protege-se, na verdade, a probidade de função pública, sua
respeitabilidade, bem como a integridade de seus funcionários.

Sujeito Ativo: é o funcionário público, (Art. 327 CP ) sem distinção de classe ou


categoria, podendo ser típico ou equiparado, ainda que afastado do seu exercício. Também
aquele que ainda não assumiu o seu posto (aguarda a posse, por exemplo), mas em razão do
cargo, solicita ou recebe a vantagem ou promessa de vantagem indevida, pratica o delito de
corrupção.
Art. 327 CP - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.

Sujeito Passivo: é o Estado ou, mais especificamente, a Administração Pública,bem


como a pessoa constrangida pelo agente público, desde que, é claro, não tenha praticado o
crime de corrupção ativa. OBS.: A corrupção ativa está tipificada, com a mesma pena, em outro
artigo. É um caso emblemático de exceção pluralista à teoria monista.

Art 333 CP, Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para
determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:.
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São 3 as condutas típicas que caracteriza corrupção passiva:


I- Solicitar (pedir) vantagem indevida: a corrupção parte do servidor público
corrupto. Aqui reside a diferença marcante entre os crimes de corrupção passiva e concussão
(316 do CP). A ação do funcionário, no caso da concussão, representa uma exigência, e, no
caso da corrupção passiva, representa uma solicitação (pedido).
II- Receber referida vantagem;
III- Aceitar promessa de tal vantagem, anuindo com futuro recebimento.

Nos verbos receber (II) e aceitar promessa (III), a iniciativa é do corruptor (particular).
Com relação ao caráter da vantagem indevida solicitada, recebida ou prometida, prevalece a
interpretação mais ampla, considerando relevante qualquer espécie de retribuição, ainda que
não de natureza econômica.

Espécies de corrupção:
I- Corrupção própria: a que tiver por finalidade a realização de ato injusto. Ex:
solicitar vantagem para facilitar fuga de preso. Faz algo que é ilegal. (quando o ato a ser
praticado é ilegal)
II- Corrupção imprópria: visa a prática de ato legítimo. Ex: oficial de justiça que
solicita vantagem para realizar o legítimo ato processual. Faz algo legal, mas que não poderia
cobrar para fazê-lo. (quando o ato a ser praticado é legal)
III- Corrupção antecedente: é aquela cuja vantagem ou recompensa é dada ou
prometida em vista de uma ação futura. (vantagem é recebida antes do ato a ser praticado).
IV- Corrupção subsequente: se a vantagem ou recompensa é dada ou prometida por
uma ação já realizada . (vantagem é recebida após a prática do ato)

Consumação: nas modalidades solicitar e aceitar promessa de vantagem, o crime é de


natureza formal, consumando-se ainda que a gratificação não se concretize. Já na modalidade
receber, o crime é material, exigindo efetivo enriquecimento ilícito do autor. Em regra, se
perguntar, é no todo formal.
Tentativa: prevalece ser possível a tentativa apenas na modalidade solicitar, quando
formulada por meio escrito (carta interceptada) desde que não chegue ao conhecimento do
funcionário público. A corrupção passiva, em regra, não pressupõe a ativa, salvo nas

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modalidades receber (que pressupõe oferecer) e aceitar promessa (que pressupõe prometer). A
modalidade SOLICITAR, portanto, NÃO pressupõe a corrupção ativa.

§1º- concurso de crimes: pune-se mais severamente o corrupto que retarda ou deixa de
praticar ato de ofício ou o pratica com infração do dever funcional (exaurimento penalizado).
Aqui, o agente cumpre o prometido, realizando a pretensão do corruptor. Ainda em relação a
concurso de crimes, se a violação praticada pelo agente público constitui, por si só, um novo
crime, haverá concurso formal ou material (a depender do caso concreto) entre a corrupção
passiva e a infração dela resultante.
Nessa hipótese, no entanto, a corrupção deixa de ser qualificada, pois do contrário
estaríamos no campo do bis in idem. Exemplo: funcionário solicita vantagem para facilitar fuga
de preso. Já está consumado o crime de corrupção passiva. Se o corrupto, efetivamente, facilitar
a fuga do preso, responde pelo art. 317, caput Corrupção passiva
Art. 317, caput Corrupção passiva - Solicitar ou receber, para si ou para outrem,
direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em
razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:

Concurso material :
Art. 351 - Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou submetida a
medida de segurança detentiva: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

§2º Privilégio/influências: tem-se aqui a corrupção passiva privilegiada (de menor


potencial ofensivo). Nesta figura, o agente, sem visar satisfazer interesse próprio (pois, do
contrário, haveria prevaricação), cede a pedido, pressão ou influência de outrem. É o caso dos
famigerados „favores‟ administrativos. Pune-se o servidor “quebra galho”.

Diferença entre corrupção passiva e concussão:


Este é um exemplo interessante para entendermos a diferença entre corrupção passiva e
concussão.
Na corrupção passiva, o criminoso pede ou recebe o dinheiro (ou um bem, ou um
favor) para fazer ou deixar de fazer algo contra a lei. Reparem que é isso que eles são acusados
de terem feito („pediram R$10 mil‟). Vale ressaltar que não importa se a outra parte pagou ou
não: o crime está cometido assim que a pessoa pediu o dinheiro/bem/favor.
Concussão é quando o servidor público exige dinheiro, um bem ou um favor para fazer
ou deixar de fazer algo.
No crime de concussão (art. 316, caput, CP) o agente (funcionário público, por ser
crime próprio) EXIGE a vantagem indevida. Ou seja, prática uma conduta comissiva, exigindo
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vantagem indevida usando de coação, forçando a vítima a entregar-lhe o que quer. Esta
vantagem pode ser para si ou para outrem, mesmo fora da sua função, ou antes de assumi-la,
mas em razão dela. O crime se consuma com a exigência, sendo o pagamento mero
exaurimento.
Ex: O policial que para um motorista na blitz, verifica situação irregular do veículo e
exige dinheiro para liberá- lo. Já no crime de corrupção passiva (art. 317 caput, CP), os verbos
nucleares do tipo são Solicitar, Receber Ou Aceitar Promessa de vantagem indevida.
No núcleo solicitar não há coação na conduta criminosa. Existe um acordo de vontades.
Ressalta-se, contudo, que trata-se de um tipo misto alternativo, e por essa razão o crime pode
ser praticado pelo recebimento e pela aceitação de promessa de vantagem indevida. O crime se
consuma no instante em que a solicitação chega ao conhecimento do terceiro ou aceita a
promessa de sua entrega, sendo o pagamento da vantagem mero exaurimento do crime.
Ex: O policial que para o motorista na blitz, e solicita, recebe ou aceita promessa de
vantagem indevida.

Diferença entre corrupção ativa e corrupção passiva:


Na corrupção ativa, um particular oferece alguma vantagem indevida para que um
agente público faça ou deixe de fazer algo que não deveria. Ex: um policial pega Paulo
excedendo o limite de velocidade de uma via e o para, advertindo-o de que vai perder pontos
em sua CNH e ainda deverá pagar uma multa. Paulo, por sua vez, oferece ao policial alguma
vantagem para que ele esqueça o ocorrido e não lhe aplique multa.
Já a corrupção passiva ocorre quando o agente público pede uma vantagem indevida
para fazer ou deixar de fazer algo. Ex: no caso acima, se o policial solicitar ou receber de Paulo
qualquer vantagem indevida para não lhe aplicar multa de trânsito e apagar essa história,
estaremos diante de corrupção passiva.
Se um funcionário público se equivoca e cobra algo achando que é devido, quando na
verdade é indevido, ocorre erro de tipo e nesse caso não haverá punição. A punição de receber
vantagem devida só pode ocorrer no excesso de exação .

44. Facilitação De Contrabando Ou Descaminho

“Art. 318 CP - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando


ou descaminho .

Art. 334. CP - Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido


pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria (descaminho )
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Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.”

Contrabando: Trazer para o território nacional, ou levar para outro, produto proibido,
total ou parcialmente, no Brasil. É a importação ou exportação de mercadorias cuja
comercialização seja proibida.

Descaminho: Trazer para o território nacional, ou enviar para outro, produto permitido
no Brasil, porém sem recolher os tributos devidos, a importação ou exportação de mercadorias
cuja comercialização seja legalmente permitida com a ocorrência de fraude no pagamento de
tributos.

Objeto Material: É a mercadoria contrabandeada, ou, no caso do descaminho, os


tributos não recolhidos.

Núcleo Do Tipo: É“ facilitar”, isto é, auxiliar, tornar mais fácil, simplificar a prática do
contrabando ou descaminho. Essa facilitação pode ser realizada por ação (retirando obstáculos
legalmente existentes) ou por omissão (deixando de criar obstáculos previstos em lei).

Sujeito Ativo: O contrabando e o descaminho são crimes próprios ou especiais.


Entretanto, não podem ser cometidos por qualquer funcionário público, mas somente por
aqueles dotados do especial dever funcional de impedir qualquer dos delitos.
Sujeito Passivo: é o Estado.

Consumação: consuma-se com a facilitação, independentemente da prática efetiva do


contrabando ou descaminho. A tentativa é admissível. Dá-se no instante em que o funcionário
público efetivamente facilita o contrabando ou descaminho (crimes formais, de consumação
antecipada ou de resultado cortado), pouco importando se a outra pessoa responsável pelo
crime do Art. 334.CP, alcança o almejado êxito em sua empreitada criminosa.
Art. 334.CP- Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido
pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria

Tentativa: É possível, exceto nos crimes praticados por omissão.

Bem Jurídico Tutelado: é a Administração Pública.

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Elemento Objetivo Do Tipo: incrimina-se a ação de facilitar (auxiliar, tornar fácil),


com infração do dever funcional, a prática do contrabando ou descaminho. A conduta pode ser
comissiva ou omissiva. A facilitação precisa ser com infração de dever funcional do agente,
pois, se não houver transgressão do dever de sua função, poderá haver participação no crime do
artigo 334 do Código Penal, porém, não a caracterização da presente figura em análise.

Ou seja, o crime é praticado por funcionário público com violação ao dever ofício
(infração dever), e tem que ser mera participação. Sendo necessário que o funcionário público
esteja investido na função de fiscalizar a entrada e a saída de mercadorias do território nacional.
Distinção entre 318 e 334 e 334-A: exceção à teoria unitária. Se alguém facilita a
prática do delito previsto no art. 334 do CP deveria responder pelo delito previsto no art. 318
do CP (facilitação de contrabando ou descaminho) bem como pelo contrabando ou descaminho
(art. 334 do CP), entretanto, temos aqui mais uma vez a teoria pluralística sendo aplicada,
configurando mais uma exceção à teoria unitária, vez que uma pessoa é quem facilita o
contrabando ou descaminho e outra é quem pratica o contrabando ou descaminho.

Distinção entre contrabando e descaminho: o primeiro é remeter para território


estrangeiro ou trazer para território nacional produto total ou parcialmente proibido no Brasil;
já o descaminho é remeter ao exterior ou trazer para território nacional algo sem o recolhimento
devido dos tributos.

Exceção dualista: tem que infringir um dever funcional inerente ao cargo.


Art 318 só é possível na participação, já art 334 (contrabando e descaminho) é possível
a autoria e a participação. Aqui o funcionário quebra o dever funcional de fiscalizar. Tem,
necessariamente, que estar exercendo a função para cometer facilitação.
O particular pode ser partícipe da participação

45. Prevaricação

“Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo


contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.”

Bem Jurídico Tutelado: regularidade da Administração Pública.

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Sujeito Ativo: funcionário público, ou seja, crime próprio, funcional. A prevaricação


somente pode ser praticada pelo funcionário público. Trata-se de crime de mão própria, de
atuação pessoal ou de conduta infungível, pois a execução da conduta criminosa não pode ser
delegada a outra pessoa.
Sujeito Passivo: o Estado.

Prevaricação: é a infidelidade ao dever de ofício, à função exercida. É o não


cumprimento pelo funcionário público das obrigações que lhe são inerentes, em razão de ser
guiado por interesses ou sentimentos próprios. O ato de ofício é definido pela lei como o
decorrente de trabalho do agente público, isto é, ato que deve ser praticado pela própria
natureza do trabalho do agente, mesmo que não seja provocado para isso de forma específica.
Seu retardamento, omissão ou a prática desvirtuada (ilegal) do ato devem ocorrer para a
satisfação de interesse ou sentimento pessoal do agente público.
O retardamento do trabalho para prejudicar um desafeto ou para beneficiar alguém de
seu interesse é a conduta fundamental que caracteriza o delito de prevaricação.
Esta deve ser deliberada, movida por dolo, isto é, por vontade livre e consciente de agir
ou omitir-se. Caso o agente retarde a decisão de um processo administrativo porque precisa de
documento relevante para sua análise, por exemplo, o retardamento é justificado, e não há
configuração do crime. Se o agente público não pratica ato de sua função ou o atrasa por
simples impossibilidade, também não há crime de prevaricação, bem como a inação devido ao
excesso de trabalho, sem que o funcionário haja dado causa à situação.

Objeto Material: É o ato de ofício - executivos, judiciais ou legislativos. Como o ato é


de ofício, não há prevaricação quando o ato retardado, omitido ou praticado não integra a
competência ou atribuição do funcionário público.

Ato De Ofício: Funcionário público com atribuição para a prática do ato, em pleno
exercício da função.

Dolo: Acrescido de um especial fim de agir. Interesse pessoal é qualquer proveito ou


vantagem obtido pelo agente, de índole patrimonial ou moral. Sentimento pessoal, por sua vez,
é a posição afetiva do funcionário público relativamente às pessoas ou coisas a que se refere a
conduta a ser praticada ou omitida. Não se admite a figura culposa.

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Desídia: Ausência de atenção ou cuidado; negligência – se não houver sentimento ou


interesse pessoal, terá apenas consequências administrativas.

Retardar é atrasar, postergar ou adiar.


Deixar de praticar é abster-seno tocante à realização do ato de ofício.
Praticar é fazer algo contra a disposição expressa de lei.

Consumação: Cuida-se de crime formal. O crime se consuma quando o funcionário


público pratica algumas das elementares objetivas do tipo, qual seja, quando ele retarda ou
deixa de praticar o ato de ofício que é obrigado a realizar, movido por algum interesse pessoal.
Tentativa: Somente é admissível na modalidade comissiva.

Crime omissivo próprio ou puro não admite tentativa, por este motivo poderá ou não
haver tentativa. Para as condutas omissivas não haverá tentativa, entretanto, para os crimes com
conduta comissiva, como “praticar ato de ofício contrário a lei”, haverá a forma tentada.
No peculato, se retirada a condição funcional do funcionário público, ocorre a
desclassificação e classifica-se furto ou apropriação indébita, já na prevaricação, se retirada a
condição funcional, ocorre a atipicidade.

É indispensável ser movido por sentimento ou interesse pessoal:


I- sentimento: afetividade com alguém
II- interesse: relação de reciprocidade existente entre duas pessoas . Sem sentimento ou
interesse pessoal não se pode falar em crime, embora possa falar em infração administrativa, e
tem que estar demonstrado “ab inicio”.

Diferença entre prevaricação :


Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato e ofício, ou praticá-lo
contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. E corrupção passiva

Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda
que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou
aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos,
e multa. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003)

Para doutrina, a diferença é que na prevaricação tem unilateralidade, enquanto na


corrupção passiva há quase sempre bilateralidade (um funcionário público que trafica a função
e um particular que a compra).
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Forma qualificada praticada por omissão


Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu
dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo: (Incluído pela
Lei nº 11.466, de 2007). Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Sujeito Passivo: É o Estado e, mediatamente, a sociedade, suscetível à prática de novas


infrações penais em decorrência do uso do aparelho de comunicação no interior dos
estabelecimentos prisionais.

Consumação: Cuida-se de crime formal.


Tentativa: Não é cabível (crime omissivo próprio ou puro).
Quem fornece o aparelho eletrônico:
art. 349-A do CP.Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir
seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo:
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.”

Omissão: tendo o dever de fiscalizar o ingresso de aparelho em estabelecimento


prisional, ele nada faz, permitindo que alguém ingresse com esses aparelhos no
estabelecimento, só pode punir a omissão. Ex: agente penitenciário ao invés de se omitir leva o
aparelho para dentro ele é punido pelo 349-A.

Quem leva: Terceiro que entra com o aparelho, é uma modalidade de favorecimento
real, criou um tipo para o funcionário que se omite 319-A e um para o terceiro que leva 349-A.

Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de


aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização
legal, em estabelecimento prisional.

319-A: crime de menor potencial ofensivo, ou seja, permite transação, suspensão...

46. Condescendência Criminosa

“ Art. 320 CP - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar


subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte
competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

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Na condescendência criminosa o funcionário público deixa de responsabilizar seu


subordinado pela infração cometida no exercício do cargo ou, faltando-lhe atribuições para
tanto,não leva o fato ao conhecimento da autoridade competente, unicamente pelo seu espírito
de tolerância ou clemência. Não há intenção de satisfazer interesse ou sentimento pessoal,
senão estaria configurado o delito de prevaricação nem o propósito de receber vantagem
indevida, pois em caso contrário o crime seria o de corrupção passiva.
Art. 319 CP - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou
praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento
pessoal:),

Art. 317 CP - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,


ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem
indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:).

Sujeito Ativo: O crime é próprio ou especial, pois somente pode ser praticado pelo
funcionário público. Exige-se a posição de hierarquia perante o autor da infração que não foi
responsabilizado ou teve sua conduta omitida do conhecimento da autoridade competente.

Tentativa: Não é cabível.

Dolo: Acrescido com um especial fim de agir, consistente na intenção de ser indulgente.
Não há previsão para a modalidade culposa. Destarte, não há condescendência criminosa
quando o superior hierárquico, por negligência, não toma ciência da infração cometida pelo
subalterno no exercício do cargo.

Omissão: não há previsão de conduta comissiva

Indulgência/piedade: o fato que levou a não punir tem que ser a indulgência, senão não
é esse crime.

Omissão do superior hierárquico : por piedade em punir alguém que comete infração
administrativa ou deixa de levar a conhecimento o fato à quem tenha poderes para punir.
Trata-se de crime funcional, em que o funcionário público, investido de superioridade
em relação a seu subordinado, deixa de aplicar-lhe as sanções cabíveis referentes às infrações
cometidas ,colocando em risco o regular andamento do serviço público.
Não precisa ter prática criminal (crime formal).

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Consumação: A consumação do delito se dá em qualquer das omissões previstas na


redação do artigo. Nota-se que o tipo penal não esclarece o prazo que o agente deveria
responsabilizar seu subordinado ou noticiar a autoridade competente, porém de acordo com
entendimento predominante, a averiguação da infração deverá ser feita de imediato, antes de o
agente se ver acusado pela pratica do tipo penal aqui tratado.
Tentativa: Não se admite a modalidade tentada para o crime de condescendência
criminosa.

47. Advocacia Administrativa

“Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a


administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo: Pena - detenção, de três meses a um ano,


além da multa.”

O crime de advocacia administrativa caracteriza-se pela defesa de interesses privados


perante a Administração Pública, aproveitando-se o funcionário público das facilidades
proporcionadas pelo seu cargo. Quase nunca é possível que um advogado pratique um crime,
pois quando exerce cargo público não se chama advogado e sim Procurador do Município.

Objeto Material: É o interesse privado e alheio patrocinado, legitimo ou ilegítimo,


compreendido como qualquer vantagem ou meta a ser alcançada pelo particular.

Sujeito Ativo: Não é advogado. O crime é próprio ou especial, pois somente pode ser
cometido pelo funcionário público.

Dolo: Independente de qualquer finalidade específica. Não se admite a modalidade


culposa.

Consumação: Crime formal.


Tentativa: É possível, salvo na conduta omissiva.

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Patrocínio: Patrocinar direta ou indiretamente interesse particular perante Adm.


Pública .
I- direto: manifestação escrita dando parecer favorável ao interesse privado
II- indireto: aos poucos vai minando a Administração Pública ao fazer prevalecer por
sugestões de interesses privados perante Administração Pública.

Não importa se o interesse é legítimo ou ilegítimo , - Privilegia/patrocina o interesse


privado, quando devia privilegiar o interesse coletivo.

Qualificação: ilegítimo.

Dos Crimes Praticados Por Particulares Contra A Administração Pública

48. Resistência

“Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a


funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
Pena - detenção, de dois meses a dois anos.

§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:


Pena - reclusão, de um a três anos.

§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à


violência.”.

Opor-se: Opor-se execução de ato legal executado por funcionário público. Ocorre com
o uso de violência ou ameaça durante a execução do ato contra o funcionário ou quem o está
auxiliando. É preciso que a oposição se realize através de uma ação positiva. Não basta a
resistência passiva

Ato Legal: O ato deve obedecer às formalidades de acordo com o direito. Não se
questiona a justiça / injustiça.

Emprego De Força Física Ou Ameaça: Devem ser empregadas durante a execução do


ato legal.

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Sujeito Ativo: Qualquer pessoa particular. Funcionário público também pode cometer o
crime, desde que não esteja no exercício de suas funções.
Sujeito Passivo: Estado, funcionário público ou particular (só se colaborando com o
agente público, podendo o auxílio ser prestado por qualquer pessoa, seja compulsória ou
espontaneamente, apoiando a ação do funcionário público competente).

Consumação: Trata-se de crime formal. Basta a mera ameaça ou agressão, não


importando se o crime se concretiza ou não.
Tentativa: É possível na forma escrita. ). A tentativa só é admitida caso haja “iter
criminis”.
Dolo: Acompanhado de um especial fim de agir – consiste na intenção de impedir a
execução de ato legal. Não se admite modalidade culposa. *A simples recusa / indisciplina / ato
de espernear não configura crime, segundo jurisprudência. *Embriagues – excluirá o crime se a
embriagues for ao ponto de o agente não conseguir enxergar o ato, e não conseguir ter
consciência da execução de ordem legal.

Figura Qualificada (§ 1º): Em razão da violência ou ameaça, não se executa o ato


legal. Trata-se de exaurimento do crime.

Concurso Material Obrigatório (§ 2º):Quando o crime é praticado com emprego de


violência (contra o funcionário público competente para executar o ato legal ou contra quem
lhe preste auxílio), o § 2º prevê o concurso material obrigatório(sistema do cúmulo material) –
o agente responde pelaresistência e pelo crime resultante da violência, qualquer que seja este,
não existindo espaço para o fenômeno da absorção.

É necessário o emprego de violência e ameaça (não precisa ser grave, somenteidônea)


durante a execução da atividade.
Precisa ter ciência de que está resistindo.

Recusa passiva: indisciplina e espernear (reflexos contra os atos do policial) não


Caracterizam resistência, é fato atípico.

Ilegalidade é diferente de injustiça = não precisa ser justo, bastando que seja legal
(formalidades e conteúdo).

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Agente embriagado: excluído o dolo de resistir na embriaguez, pois não tem ciência do
que está fazendo, mas SOMENTE se o agente estiver totalmente incapaz, isto é, sem qualquer
capacidade de discernimento.
Crime Formal: bastando o emprego da violência ou ameaça, não sendo necessário que
o ato se concretize.

§1º: não se executa o ato em razão da resistência - QUALIFICADORA


§2º: concurso de crimes.
Em regra somente o particular pode resistir, podendo o funcionário público resistir
somente se não estiver no exercício de sua função.
Se o particular estiver colaborando para com o agente público, ele também pode ser
vítima.
É indispensável na resistência que esteja executando ato legal e a violência ou ameaça
tem que ser realizada durante a execução e o funcionário tem que ter atribuição funcional
(competência, tem que atender as formalidades, direitos e princípios constitucionais) para
praticar o ato.
Precisa ter obrigatoriamente violência ou ameaça para ter resistência e para tê-la, a
violência tem que ser direta.

***Fuga não é resistência

Se o assaltante, logo após a prova do roubo, resiste à prisão dos policiais, comete este
crime? A princípio, sim, mas, segundo os tribunais, é absorvido pelo crime de roubo. Se o
policial disser “vamos à delegacia que eu quero ver sua ficha policial”, não é crime resistir, mas
o policial poderá dizer que deu voz de prisão.

49. Desobediência

“Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:


Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.”

Desobedecer ordem legal de funcionário público, ou seja, autoridade competente para


emitir ordem.

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Ordem Legal: Emanada do funcionário público, ou seja, a determinação dirigida a


alguém para fazer ou deixar de fazer algo, e não um mero pedido ou solicitação. Esta ordem
legal precisa ser direta (destinada a pessoa certa e determinada) e expressa (aquela que é
inequívoca – não dá margem para interpretação).

Bem Jurídico Tutelado: prestígio e dignidade

Sujeito Ativo: particular em regra, mas por exceção, o próprio funcionário público que
venha a agir como particular, ou seja, que não esteja no exercício de sua função e venha
desobedecer a ordem de funcionário público, também poderá configurar no polo ativo do
presente crime.
Sujeito Passivo: Estado e funcionário público . Obs: funcionário público não pode
praticar desobediência, só pode praticar prevaricação.

Desobedecer: No sentido de desatender ou recusar cumprimento à ordem legal de


funcionário público competente para emiti-la.A conduta pode ser praticada por ação, quando a
ordem do funcionário público impõe a abstenção de um ato ao seu destinatário, mas este
prefere agir, ou por omissão, na hipótese em que o funcionário público ordena um
comportamento positivo do sujeito, que livremente opta pela omissão.

Desobediência E Cumulatividade Com Sanção De Outra Natureza: A doutrina e a


jurisprudência firmaram-se no sentido de que, quando alguma lei extra penal comina
determinada sanção civil ou administrativa para o descumprimento de ordem legal de
funcionário público, somente incidirá o crime em análise se a mencionada lei ressalvar
expressamente a aplicação cumulativa do delito de desobediência.
Dolo: Abrangente do conhecimento da legalidade da ordem e da competência do
funcionário público para emiti-la – independentemente de qualquer finalidade específica. Não
se admite modalidade culposa.

Consumação:É crime formal. Se consuma com a comissão ou omissão da ordem dada.


Tentativa: É cabível somente na modalidade comissiva.

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*Simples Fuga: Segundo entendimento do STJ, não caracteriza crime de


desobediência, uma vez que se trata de direito maior (liberdade); compete aos agentes
executarem a ordem.
A ordem precisa ser expressa (inequívoca) e direta (dirigida à pessoa que vai praticar
o ato). Necessário se faz esclarecer que torna-se indispensável para a caracterização do delito
que o agente receba, do funcionário público, um mandamento, uma ordem não bastando
portanto que seja um pedido ou uma solicitação, sendo esta dirigida direta e expressamente ao
agente.
Quando o legislador prevê penalidades extras penais e não cominar expressamente com
desobediência, não pode ter crime. O ato tem que ser expresso, porque meros sinais podem
confundir.
Simples Fuga/Ebriez: exclui a caracterização de desobediência
No transito tem que ter reiteração de condutas para que possa falar em Desobediência
Se uma testemunha não comparece à audiência, o juiz pode determinar a condução coercitiva,
independentemente das penas de desobediência (expresso).
Só tem desobediência quando tem pena extra penal somada à pena de desobediência
expressamente, se não estiver expresso considera apenas a penalidade extra penal.
Dentre as mais variadas formas de desobediência, podemos citar alguns exemplos mais
comuns, tais como: a recusa do agente em apresentar sua cédula de identidade à autoridade
policial; o motorista que se recusa a atender à ordem de parar o veículo prosseguindo seu
percurso; o motorista que, mesmo após ser parado e autuado por falta do uso do cinto de
segurança, desobedece a ordem para colocá-lo; dentre muitas outras.

50. Desacato

“Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela:


Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.”

Bem Jurídico Tutelado: prestígio e decoro.

Sujeito Ativo: em regra qualquer pessoa. Funcionário público também pode ser sujeito
ativo do crime de desacato? Há divergências. São 3 correntes:
1ª corrente (minoritária) : A resposta é negativa. O fundamento é de que o delito de
desacato está previsto no capítulo que trata dos crimes praticados por particulares contra a
Administração Pública;

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2ª corrente (intermediária) : O funcionário público pode figurar como sujeito ativo do


crime em questão, desde que em face de algum superior hierárquico; 3° corrente (majoritária) –
O funcionário público pode ser sujeito ativo de desacato, sem qualquer condição, quando
despido da sua função, ou seja, agindo como particular.
Sujeito Passivo: o Estado e funcionário público. O funcionário público deve estar no
exercício da função; ou, ainda que fora do exercício, a ofensa deve ser feita em razão da
função. Se a ofensa não forem razão da função pública, mas sim sobre a conduta particular do
ofendido, a ação penal será privada, pois não ocorrerá desacato, mas um crime contra a honra.
É o chamado nexo funcional.
Realizar uma conduta objetivamente capaz de menosprezar a função pública exercida
por determinada pessoa. Em outras palavras, ofende-se o funcionário público com a finalidade
de humilhar a dignidade e o prestígio da atividade administrativa. Cuida-se de crime de forma
livre, compatível com os mais diversos meios de execução (palavras, gestos, ameaça, vias de
fato, bem como qualquer outro meio indicativo do propósito de ridicularizar o funcionário
público).

Na função ou em razão dela: Se invocar a função de funcionário público, mesmo


quando não a está exercendo, é crime de desacato.

Presença Física: Só há desacato na presença física do funcionário. Fora da presença, é


crime de injúria. Não se exige que o crime seja praticado face a face, pois basta que o
funcionário tome conhecimento, pessoalmente, da ofensa.

Críticas Genéricas: Pela CF, o particular estará exercendo o direito à livre


manifestação de pensamento (com limitações).

Vários Funcionários Públicos:Se, em um mesmo contexto fático, uma pessoa ofende


vários funcionários públicos, cometerá um só crime de desacato, pois obem jurídico terá sido
atingido uma única vez.

Dolo:Consistente na vontade livre e consciente de causar desprestígio à função pública,


ofendendo a dignidade do cargo público ocupado pelo agente público.

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Embriaguez E Exaltação De Ânimos: A embriaguez não exclui o crime, porém exclui


o dolo. De outro modo, para ser considerado crime de desacato, será preciso que o agente se
encontre com os ânimos calmos e fletidos.

Consumação: Trata-se de crime formal, uma vez que não importa se o funcionário se
sentiu ofendido ou não.

Racial: O desacato racial configura mesmo crime; de outro modo, a injúria racial
configura crime mais grave.

Desacatar é a ação de ofender, humilhar, espezinhar, agredir o funcionário.


Consistem em palavras, gritos, gestos, escritos. Para a configuração do crime, não há a
necessidade que o funcionário público se sinta ofendido, bastando que o meio empregado seja
apto a ofendê-lo. Desacato não gera mais prisão em flagrante, pode apenas conduzir para
delegacia

Publicidade Do Desacato: no desacato, a ofensa não precisa ser presenciada por outras
pessoas. A publicidade da ofensa não é requisito para a caracterização do crime. Pressupõe
apenas que a ofensa seja feita na presença do funcionário, pois somente assim ocorrerá o
desrespeito da função. Se ocorrer, por exemplo, por telefone ou via recado, não haverá
desacato, mas sim crimes contra honra.
Críticas genéricas não caracterizam desacato, pois tem que dirigir a ofensa à pessoa
certa e determinada. Estado de exaltação exclui o desacato
A ameaça é absorvida pelo crime de desacato. Se o agente desacata, desobedece e
ameaça o servidor público no exercício de suas funções, só responde pelo delito mais grave,
que é o crime de desacato, uma vez que os demais ilícitos ficaram absorvidos por este. Lesão
corporal leve também é absorvida pelo crime de desacato, já quanto a lesão corporal grave,
haverá concurso de crimes.

51. Tráfico De Influência

“Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou
promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público
no exercício da função:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

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Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a


vantagem é também destinada ao funcionário.”

Resumindo: É o delito praticado por particular contra a administração pública, em que


determinada pessoa, usufruindo de sua influência sobre ato praticado por funcionário público
no exercício de sua função, solicita, exige, cobra ou obtém vantagem ou promessa de
vantagem, para si ou para terceiros.
Assim, pratica o crime de tráfico de influência, quem pede, procura, busca, induz,
manifesta o desejo de receber, ordena, reclama de forma imperiosa, impõe, pede pagamento,
recebe, consegue, adquiri uma vantagem ou promessa de vantagem, sob o pretexto de
influência junto a funcionário público.

Objeto das ações : é a vantagem ou promessa de vantagem relacionada ao ato praticado


por funcionário público no exercício da função.O agente solicita, exige, cobra ou obtém, para si
ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir no comportamento
do funcionário público, mas não o faz,mesmo porque não tem meios para tanto. Se realmente
possuir influência perante o funcionário público, e vier a corrompê-lo, deverá ser
responsabilizado pelo crime de corrupção ativa.
Vantagem ou promessa: Venda da função de outro / algo atrelado a isso, pois não é
verdadeiro.

Sujeito Ativo:Pode ser qualquer pessoa, inclusive funcionário público.

Dolo: Acrescido de um especial fim de agir, representado pela expressão “para si ou


para outrem”.

Consumação e tentativa: O crime consuma-se com a simples prática de uma das


condutas previstas no dispositivo presente no Art. 332 CP

Art. 332 CP - Solicitar, exigir, obrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou
promessa de vantagem, a Retexto de influir em ato praticado por funcionário público
no exercício da função: (Redação dada pela Lei nº 9.127, de 1995)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº
9.127, de 1995)

Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a


vantagem é também destinada ao funcionário. (Redação dada pela Lei nº 9.127, de
1995) Corrupção ativa .

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Isso, de forma independente, do agente obter a vantagem pretendida. Tem-se como


possível a tentativa quando a solicitação, exigência ou cobrança, por ser feita por mensagem ou
por intermédio de terceiro, não chega ao conhecimento do ofendido.

Causa De Aumento De Pena (parágrafo único):Para a incidência da majorante não se


exige afirmação explícita do agente no sentido de que o funcionário público também receberá a
vantagem, bastando a simples insinuação nesse sentido. É indiferente se a vítima acredita ou
não no recebimento da vantagem pelo funcionário público.
Se restar provado que a vantagem realmente tinha como destinatário o funcionário
público, a este será imputado o crime de corrupção passiva (art. 317 do CP), enquanto o
entregador da vantagem e o intermediador da negociação responderão por corrupção ativa
(art.333 do CP).

Objeto Jurídico: ofende-se a confiança e o prestígio de que a Administração não pode


abrir mão.

Crime qualificado: a pena é aumentada de metade, se o agente alega ou insinua que a


vantagem é ainda destinada ao funcionário público, artigo 332, parágrafo único, do Código
Penal. O desprestígio trazido à Administração é maior inclusive diante de eventual ofensa à
honra de servidor público.

Requisitos Para A Configuração Do Delito:


I- emprego de meio fraudulento, isto é, o agente se diz influente com determinado
funcionário quando, na realidade, não exerce nenhum prestígio;
II- deve tratar-se de funcionário público.

Comentários Gerais:
Configura-se como tipo de ação múltipla (alternativo) podendo a conduta do agente
comportar desde a solicitação até a exigência ou recebimento da vantagem indevida.

Elemento Normativo Do Tipo Penal : “vantagem indevida” não terá,


necessariamente, natureza econômica.

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52. Corrupção Ativa

“Art. 333- Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público,


paradeterminá-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa.

Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou


promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever
funcional."

Bem Jurídico Tutelado: é a Administração Pública, especialmente a sua moralidade e


probidade administrativa.

Sujeito Passivo : Estado


Sujeito Ativo: Pode ser qualquer pessoa, inclusive funcionário público quando não está
exercendo seu cargo ou função pública. O sujeito pode praticar o crime diretamente ou
valendo-se de interposta pessoa (indiretamente), e nesta última hipótese o terceiro será co-autor
do delito.

Trata-Se De Tipo Misto Alternativo: crime de ação múltipla ou de conteúdo variado,


havendo um só crime quando o particular, relativamente ao mesmo ato de ofício, promete
vantagem indevida e depois a oferece ao funcionário público. As condutas têm em mira o
comportamento do funcionário público. Buscam determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato
de ofício. Cuida-se de crime de forma livre, podendo ser cometido por qualquer meio.
Como o legislador referiu-se ao “ato de ofício”, não há corrupção ativa, mas crime
impossível, no oferecimento ou promessa de vantagem indevida a funcionário público que não
tenha poderes legítimos para a prática do ato visado.
O tipo penal reclama a prática, omissão ou retardamento do ato de ofício depois do
oferecimento ou promessa de vantagem indevida, nunca antes.

“Jeitinho”: Não há corrupção ativa, em face da ausência de oferecimento ou promessa


de vantagem indevida ligada ao cargo ou função.

Dolo: Acrescido de um especial fim de agir. Não há previsão de modalidade culposa.

Consumação: Trata-se de crime formal, consuma-se o crime com o efetivo


conhecimento, pelo funcionário, do oferecimento ou promessa de vantagem indevida.

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Tratando-se de crime de mera conduta, é dispensável a existência da vantagem, pois consuma-


se apenas com a oferta, isto é, consuma-se com o simples oferecer, ainda que a oferta não seja
aceita. Pune-se, indiferentemente, quando se tratar de oferta ou promessa dirigida ao
funcionário por interposta pessoa.
Tentativa: É cabível na forma escrita, desde que se desvie do destinatário e vá para as
mãos de terceiros. é admissível apenas na hipótese de oferta escrita.

Questões especiais:
a) Não deixa de ser uma espécie de exaurimento do crime: se, em razão da vantagem
ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever
funcional. Entretanto, se o funcionário pratica ato de ofício de natureza legal, não incide na
forma qualificada, e sim no caput do art. 333 do CP.
b) Tratando-se de corrupção ativa, para efeitos de reabilitação: não é exigível a
obrigação de reparar o dano, pois tal ônus incumbe diretamente ao funcionário corrupto
causador do prejuízo à administração pública, e não ao agente corruptor.

Causa De Aumento De Pena (Parágrafo Único): O tratamento penal mais rigoroso se


justifica pelo fato de a conduta do particular acarretar a violação dos deveres inerentes ao cargo
pelo funcionário público, retardando ou omitindo ato de ofício, ou praticando-o com infração
ao dever funcional.

Adequação Típica: A conduta típica alternativamente prevista consiste em oferecer


(apresentar, colocar à disposição) ou prometer (obrigar-se a dar) vantagem indevida (de
qualquer natureza: material ou moral) a funcionário público, para determiná-lo a praticar
(realizar), omitir (deixar de praticar) ou retardar (atrasar) ato de ofício (incluído na esfera de
competência do funcionário). A oferta ou a promessa, ainda que feitas indiretamente, admitem
vários meios de execução.

O crime de corrupção ativa somente se aperfeiçoa quando a promessa ou a oferta de


vantagem indevida têm por objetivo a que funcionário público, no exercício de sua função,
pratique, omita ou retarde ato de ofício. Com efeito, para a configuração do crime de corrupção
ativa exige-se que o ato cuja ação ou omissão é pretendida esteja compreendido nas específicas
atribuições funcionais do servidor público visado.

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Se o ato não é da competência do funcionário, poder-se-á identificar qualquer outro


crime, mas, com certeza, não o de corrupção ativa. O crime não se caracteriza sem a oferta de
vantagem explícita. Para que se configure a corrupção ativa é indispensável que a oferta ou a
promessa sejam feitas espontaneamente pelo agente, e, ao contrário da corrupção passiva, antes
da prática do ato pelo funcionário público. Se a oferta ou a promessa for motivada por
exigência, haverá o crime de concussão (art. 316 do CP), e não corrupção ativa.

53. Contrabando Ou Descaminho

Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela
entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

§ 1oIncorre na mesma pena quem:


I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho;
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em
proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou
importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no
território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem;
IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira,
desacompanhada de documentação legal ou acompanhada de documentos que sabe
serem falsos.

§ 2o Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer


forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o
exercido em residências.

§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte


aéreo, marítimo ou fluvial.

Dos Crimes Contra A Administração Da Justiça

54. Denunciação Caluniosa

“Art. 339- Dar causa à instauração de investigação policial, de processo


judicial,instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de
improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe
inocente:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

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§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato oude


nome suposto.
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de
contravenção.”

Sujeito Ativo: qualquer pessoa


Sujeito Passivo: o Estado e, secundariamente, a pessoa inocente atingida pela
denunciação caluniosa.

Consumação E Tentativa: consuma-se com a instauração da investigação


policial,procedimento administrativo, ação etc. A tentativa é admissível.
De antemão, percebe-se que a denunciação caluniosa não consiste somente em imputar
falsamente a alguém fato definido como crime, conduta já prevista em outro dispositivo .), mas
em também provocar procedimento desfavorável em razão da imputação. Portanto, pode-se
afirmar que a calúnia compõe o crime de denunciação caluniosa, sendo por esta absorvida.
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.),

Na calúnia (art. 138), imputa-se falsamente a alguém fato definido como crime. A pena
é de seis meses a dois anos, e multa (na forma simples).
Já na denunciação caluniosa (art. 339), também há a imputação falsa, como na calúnia,
mas o agente vai além, provocando, em desfavor do imputado,procedimento administrativo ou
judicial. Por isso, a pena é mais elevada: de dois a oito anos, e multa.
Tem-se, portanto, na denunciação caluniosa, hipótese de crime progressivo, em que o
agente, para alcançar o fim desejado – a instauração de procedimento administrativo ou
judicial, pratica a calúnia, ficando esta absorvida por aquela.

Procedimentos: o procedimento pode ser tanto administrativo (inquérito policial,


inquérito civil, sindicância ou outro procedimento administrativo) como judicial (civil ou
criminal). Na hipótese de inquérito policial, o crime se consuma no momento em que são
realizadas as primeiras diligências investigatórias, não sendo necessária a sua efetiva
instauração.
I- “investigação policial”, e não inquérito, razão pela qual prevalece o entendimento de
que não é imprescindível a instauração do IP para a configuração do crime;
II- “processo judicial”, que pode ser cível ou criminal;
III- “investigação administrativa”, a exemplo da sindicância;
IV- “inquérito civil”, instrumento utilizado pelo MP para a apuração de fatos que
podem, eventualmente, ensejar ação civil pública;
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V- “ação de improbidade administrativa”, prevista na Lei 8.429/92, que dispõe sobre


as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de
mandato, cargo, emprego ou função da administração pública direta, indireta ou fundacional.

Qualquer que seja o procedimento, atenção: o fato imputado deve constituir crime.

Em relação aos procedimentos e processo criminais, se já extinta a punibilidade (por


exemplo, pela prescrição) do fato criminoso imputado, não haverá o que se falar em
denunciação caluniosa, pois não será mais possível a instauração de procedimento
investigatório ou ação criminal para a sua apuração. No entanto, caso o fato falsamente
imputado venha a gerar procedimento na esfera cível ou administrativa, ainda que já extinta a
punibilidade na esfera criminal, o agente responderá pelo crime do art. 339, haja vista a
independência entre as esferas.

Causa De Aumento De Pena: aumenta a pena de sexta parte se o agente usa de


anonimato ou de nome suposto.

Causa De Diminuição De Pena: quando a imputação é de contravenção penal, a pena é


diminuída de metade. Ainda será diminuída na hipótese de retratação, antes do oferecimento da
denúncia, de um a dois terços.

55. Comunicação Falsa De Crime Ou De Contravenção

“Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime


ou de contravenção que sabe não se ter verificado:
Pena - detenção, de 1 a 6 meses, ou multa.”

Preliminarmente, cabe ressaltar que este não se confunde com a “denunciação


caluniosa”, pois, nesta, o agente aponta pessoa certa e determinada como autora da infração,
enquanto no art. 340 isso não ocorre; nesse crime, o agente se limita a comunicar falsamente a
ocorrência de crime ou contravenção, não apontando qualquer pessoa como responsável por
eles ou então apontando pessoa que não existe.

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Elementos Objetivos Do Tipo Comunicação: Pode ser verbal ou por escrito,


anônima ou com nome imaginário. Não se exige que seja tomada por termo.
A quem é dirigida a comunicação: Não se exige que seja feita à autoridade
pública. Importa que esta, em face da comunicação, aja.

Elementos Subjetivos Do Ti Po - o primeiro é o dolo, vontade livre e consciente


de provocar a iniciativa da autoridade pública pela comunicação da prática de um crime
ou contravenção. Exige-se um segundo, consistente na consciência que tem o agente de
que a infração penal não se verificou. Não basta que tenha dúvida sobre a sua
ocorrência, caso em que inexiste delito. É preciso que ele tenha pleno conhecimento de
que, realmente, a comunicação é falsa.

Providências Da Autoridade: Não basta a simples comunicação. É necessário que


a autoridade pública aja, iniciando diligências (ouvindo pessoas, colhendo dados etc.). Crime
objeto da comunicação: Pode ser doloso, culposo ou preterdoloso, tentado ou
consumado, simples ou qualificado.

Indicação De Autor: Não deve o sujeito ter indicado o autor. Se isso acontece,
responde por denunciação caluniosa (art. 339), se presentes as suas elementares. Diversidade
jurídica e de f ato: É possível que o sujeito aponte um furto, quando realmente ocorreu
um roubo. Nesse caso, não há crime. Existe delito, contudo, quando o f ato apontado é
essencialmente diferente daquele que foi cometido (estupro ao invés de furto). Furto ao
invés de envolvimento em choque de veículos.

Bem Jurídico Tutelado: é a Administração Pública, especialmente a sua moralidade e


probidade administrativa.

Sujeito Ativo: qualquer pessoa


Sujeito Passivo: o Estado

Consumação: consuma-se com o início da investigação, não bastando a mera


comunicação à autoridade. Se apenas for lavrado o Boletim de Ocorrência, o crime foi tentado.
Tentativa: é admissível.

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Diferença entre denunciação caluniosa e comunicação falsa de crime ou de


contravenção: a grande diferença entre eles é que na denunciação caluniosa imputa-se o crime
à determinada pessoa ou à pessoa facilmente determinável, enquanto que na comunicação de
falso crime à autoridade o agente não aponta responsável pelo pretenso crime ou aponta pessoa
inexistente (ou seja, inventa). Muitas vezes a comunicação falsa de crime se dá na tentativa de
se ocultar um crime praticado pelo próprio agente ou possibilitar que ele o pratique, como, por
exemplo, na comunicação falsa de crime de furto.) para o cometimento do crime de fraude
para recebimento de seguro (art. 171, § 2º do CP).

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:


Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa

56. Auto- Acusação Falsa

Art 341 Auto-acusação falsa - Acusar-se, perante a autor idade, de crime inexistente
ou praticado por outrem: Pena - detenção, d e 3 (três) meses a 2 (dois) anos , ou
multa.

Conceito E Objetividade Jurídica Distinção: A auto- acusação falsa não se confunde


com a denunciação caluniosa. Nesta, o sujeito acusa um terceiro da prática do delito.
No crime em questão, ao contrário, o agente acusa a si próprio.

Objeto Jurídico: A administração da justiça, protegendo-se a normal atividade


da máquina judiciária.
Sujeito Ativo: qualquer pessoa, crime comum .O delito não pode ser cometido pelo
autor, co- autor ou partícipe do crime anterior (crime objeto da auto-acusação falsa).
Pressuposto da auto-acusação falsa é a circunstância de o sujeito não se ter
apresentado como autor, co-autor ou partícipe do crime antecedente. Em outros termos,
o delito exige que o sujeito ativo não tenha sido autor, co-autor ou participado do crime cuja
autoria atribui a si próprio.
Participação: É admissível, desde que o terceiro não seja autor, co-autor ou partícipe
do crime anterior.

Sujeito Passivo : O Estado.

Elementos Objetivos Do Tipo Conduta Típica: Consiste em o sujeito atribuir -se


a prática de um crime inexistente ou que f oi cometido por terceiro (sem a participação
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do auto -acusador). Exemplo: assumir a autoria do crime para livrar menor inimputável,
salvo se, com isso, se acusa de participação em contravenção .

Objeto Da Acusação: deve ser crime. Contravenção: não há delito (atipicidade).

Natureza Do Crime: Pouco importa: doloso, culposo, preterdoloso etc.

Autoridade: A conduta deve ser realizada per ante a autoridade (judicial, policial
ou administrativa). Se for realizada perante funcionário público, que não seja autoridade,
não haverá delito. Da mesma forma, não haverá crime quando a auto-acusação se fizer
perante particular.

Meios Executórios: Não se exige que o fato seja cometido diante da autoridade,
como a princípio leva a entender a expressão "perante". O conhecimento da prática do
delito pode ser levado à autoridade por escrito, verbalmente, por nome suposto etc.

Exigência Típica: É necessário que se trate de crime inexistente ou cometido


por terceiro (a auto -acusação deve ser falsa).
Elemento Subjetivo Do Tipo : é o dolo, vontade livre e consciente de acusar-se da
prática de Crime que não existiu ou f oi cometido por terceiro. Fala-se em dolo de perigo.
Admitiu-se o eventual.

Consumação: Ocorre no instante em que a autoridade toma conhecimento da


auto -acusação. Crime Formal, torna-se irrelevante para a consumação eventual efeito da
conduta (instauração de inquérito policial etc. ).
Tentativa : é admissível na forma realizada por escrito (crime plurissubsistente);
na auto-acusação verbal a tentativa é impossível (crime unissubsistente ).

57. Falso Testemunho Ou Falsa Perícia

“Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha,
perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou
administrativo,inquérito policial, ou em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de 2 a 4 anos, e multa.

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§ 1º- As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante


suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em
processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração
pública direta ou indireta.

§ 2º- O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o
ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.”

Objeto material: O falso testemunho tem como objeto material o depoimento prestado
perante a autoridade competente. A falsa perícia, de outro lado, pode ter como objeto material o
laudo pericial, o cálculo, a tradução ou a interpretação, sejam estas últimas orais ou escritas.
Cuida-se de tipo misto alternativo, crime de ação múltipla ou de conteúdo variado: há
um único crime quando a testemunha ou o perito pratica mais de uma conduta típica no tocante
ao mesmo objeto material. Também há um único crime quando a testemunha ou perito faz
afirmação falsa, nega ou cala a verdade reiteradamente, em fases sucessivas da mesma
atividade estatal de persecução penal.

Conduta Típica : necessariamente há de ser praticada em processo judicial, processo


administrativo, inquérito policial ou juízo arbitral.

Teoria Objetiva: A falsidade diz respeito a tudo aquilo que objetivamente não
corresponde à realidade. É o contraste entre a manifestação da testemunha (ou perito) e o que
efetivamente ocorreu no mundo real;

Teoria Subjetiva: A falsidade somente se verifica quando a manifestação da


testemunha (ou perito) não coincide com o fato que é do seu conhecimento.Não basta a
falsidade de um determinado acontecimento. Exige-se a ciência da testemunha (ou perito)
relativamente a esta circunstância. Esta foi a teoria adotada pelo Código Penal.

Crime Próprio: Testemunha, perito (em sentido estrito), contador, tradutor ou


intérprete.

Hipóteses:
I- co-autoria : (sujeito que conjuntamente pratica o verbo núcleo do tipo): não pode. Na
prova testemunhal é impossível, uma vez que duas pessoas não podem testemunhar em
conjunto. Entretanto, na prova pericial é cabível, já que dois peritos podem assinar
conjuntamente o laudo pericial .Exceção: acareação (embora seja difícil). Ex: duas testemunhas
mentindo, desde que as duas combinaram a mentira.
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II- participação (aquele que colabora para pratica do verbo núcleo do tipo, embora não
o pratique):
1ª tese: crime de mão própria, portanto não admite participação,
2ª tese: exceção, suborno de testemunha pena superior; 3ª tese: suborno com mesma
pena.

III- Não própria/própria


Contradição não caracteriza falso testemunho, pois adota-se a teoria subjetiva.

Tentar Influenciar: advogado comete falso testemunho ao influenciar que testemunha


minta, pois é falso testemunho.

Pessoas Sem Compromisso: informante (marido e mulher, pai e filho), não pode
cometer crime de falso testemunho, somente pessoas que prestam compromisso é que podem.
Se o juiz não faz advertência em audiência, a pessoa não comete o crime em análise.

Declarantes: Delas não se exige o compromisso de dizer a verdade. São elas:


ascendente, descendente, afim em linha reta, cônjuge, ainda que separado judicialmente, irmão,
pai e mãe, assim como ocorre no tocante aos portadores de doença ou deficiência mental e aos
menores de 14 anos, chamados de “informantes”. O próprio réu não comete crime de falso
testemunho, pois tem o direito constitucional de mentir. Ninguém é obrigado a produzir prova
contra si mesmo, assim, se uma testemunha mentir para se proteger, também não comete crime.

Proibidas De Depor: Nos termos do art. 207 do Código de Processo Penal: “São
proibidas de depor as pessoas que, em razão de função,ministério, ofício ou profissão, devam
guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parteinteressada, quiserem dar o seu testemunho”.

Anulação Processual: Se o processo é anulado desde o seu início, não estará


cometendo crime de falso testemunho, pois trata-se de processo inválido.

Juramento: Se o juiz se esquecer de advertir a testemunho do crime de falso


testemunho, e de informar as penas do crime, a testemunha não estará cometendo crime se
mentir, segundo entendimento do STJ.

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Falar A Verdade: Ainda que a testemunha conte a verdade dos fatos, se ela o fez por
ter ouvido de terceiros, e não por ter presenciado pessoalmente, estará cometendo crime de
falso testemunho, uma vez que não possuía o conhecimento direto do fato.

Contradição: Não é crime no Brasil.

Dolo: Independentemente de qualquer finalidade específica.

Consumação: Dá-se com o encerramento do depoimento, momento em que será


reduzido a termo e assinado pela testemunha, pelo magistrado e pelas partes. Sua efetiva
consumação pressupõe o encerramento formal do depoimento, pois até então é possível a
retificação do que dito, bem como o acréscimo de novos dados anteriormente omitidos. Em
relação à prova pericial, se consuma quando os laudos assinados são anexados no processo.
Tentativa : Será tentativa quando os laudos periciais não forem anexados ao processo.

Deprecado: Se a testemunha precatória mentir, a mentira se consumará em outra


cidade, dessa forma, será competente o juízo onde ocorreu a mentira. Ainda que falsos
testemunhos, em cidades diferentes, será um só crime, e será competente o juízo que primeiro
tomar providências.

Crime Independente: Ainda que o réu seja absolvido do crime em que foi feito falso
testemunho, a testemunha ou o perito ainda poderão ser processados pelo crime de falso
testemunho.

Causas De Aumento De Pena (§ 1º): Processo penal, processo civil ou mediante


suborno.

Retratação (§ 2º): pode ser feita até a sentença ou no fim do procedimento no qual deu
o testemunho .Descaracteriza o ilícito. Poderá fazê-lo até o momento da sentença do crime em
que foi feito o falso testemunho. Porém, se o depoimento não se conclui por circunstancias
alheias à sua vontade, e acaba-se descobrindo tratar-se de falso testemunho, será caracterizada
tentativa.

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Processo anulado: Exemplo: estagiário atua como advogado e pessoa mente no


depoimento, o processo é anulado, a pessoa não responde por falso testemunho, pois não
produz efeito nenhum a partir do momento da nulidade.

Prescrição Da Pretensão Executória Estatal: não exclui o falso testemunho e nem a


reincidência. No caso de carta precatória e a pessoa mente no depoimento o juiz competente
será o que primeiro tomar providência, não sendo necessário que a mentira tenha sido levada
em consideração na decisão.

Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a


testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa,
negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou
interpretação:
Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa.

Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é


cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal ou
em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou
indireta.

Somente o réu pode se calar.


I- Processo judicial
II- Processo administrativo
III- Juízo arbitral
IV- inquérito policial
Obs: alguém conta fato verdadeiro para Paulo, mas Paulo não o presenciou e foi
chamado para testemunhar. Lá ele conta o fato verdadeiro por inteiro, mas que não havia
presenciado e sim ouvido dizer, sendo assim cometeu falso testemunho, pois havia discrepância
entre o que ele sabia e o que ele contou, devendo ele ter mencionado que não presenciou o fato.

58. Coação No Curso Do Processo

Art. 344 - Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer


interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa
que funciona ou é chamada a intervir em processo judicial, policial ou
administrativo, ou em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de 1 (u m) a 4 (quatro) anos, e multa, além da pena correspondente
à violência .

Objeto Jurídico: A lei protege a administração da justiça, impondo sanção a


quem, mediante violência física ou moral, coage, para a satisfação de um interesse
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particular ou de terceiro, a autoridade pública, a parte ou outra pessoa que intervém nas lides
judiciais e administrativas.

Sujeito Ativo: Crime comum, pode ser cometido por qualquer pessoa.
Sujeito Passivo: O Estado.

Elementos Objetivos Do Tipo Conduta: Consiste em usar de violência ou grave


ameaça contra autoridade, parte ou qualquer pessoa que funciona ou é chamada a intervir
em processo judicial, administrativo ou em juízo arbitral.

Violência E Grave Ameaça: Trata -se de violência física exercida contra pessoa.
Não basta o emprego de ameaça. É necessário que seja grave, i. e., capaz de incutir
temor a um homem normal.
Esse, o mal prenunciado, pode ser justo ou injusto.

Autoridades: A conduta deve ser realizada contra autoridade que funciona no


processo ou procedimento.

Processo: Pode ser judicial (civil ou criminal), administrativo ou em curso em


juízo arbitral (CPC, arts. 1.072 e s.). Não se exclui o inquérito policial.

Procedimento Em Curso: A existência de um procedimento em curso configura


elemento do tipo.
De modo que, não havendo em curso um processo judicial ou administrativo, ou
um inquérito policial etc., o fato é relativamente atípico, subsistindo o crime residual (ameaça,
lesão corporal etc.).

Elementos Subjetivos Do Tipo : O Primeiro É O Dolo, vontade livre e consciente


de exercer violência física ou moral contra as pessoas mencionadas. O tipo exige um
segundo, que consiste em realizar a conduta "com o fim de favorecer interesse próprio ou
alheio".

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Natureza Do Interesse: Não importa. Desde que tenha relação com o objeto do
processo, pode ser moral ou material. Exemplos: ameaçar o juiz para impedir a execução;
intimidar a mãe da vítima.

Natureza Do Crime: Formal e de forma vinculada.

Consumação: Consuma-se o delito com o emprego da violência física ou grave


ameaça.
Crime Formal, não se exige que o sujeito realmente consiga favorecer o
interesse questionado. Basta que a conduta seja tendente à concretização desse fim. Assim,
subsiste o delito se a testemunha ameaçada confirma em juízo o depoimento anterior .
Tentativa: É Admissível

Concurso De Crimes : Havendo violência física, o sujeito responde por dois


crimes em concurso material: coação no curso do processo e outro delito (homicídio,
lesão corporal leve, grave ou gravíssima). Ocorrendo somente vias de fato, a contravenção
fica absorvida pelo delito.

59. Exercício Arbitrário Das Próprias Razoes

Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão,
embora legítima, s alvo quando a lei o permite:
Pena - detenção, d e 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, o u multa, além d a pena
correspondente à violência. Parágrafo único - Se não há em prego de violência,
somente se procede mediante queixa .

Conceito E Objetividade Jurídica Objeto Jurídico: A administração da justiça.


Impõe -se que alguém que tenha uma pretensão não a satisfaça pessoalmente, incumbindo à
justiça a sua realização.

Sujeito Ativo: Crime comum, pode ser realizado por qualquer pessoa.
Sujeito Passivo: O Estado.

Elementos Objetivos Do Tipo Conduta: Consiste em fazer justiça pelas próprias


mãos, realizando uma ação tendente a satisfazer uma pretensão.

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Pretensão: Deve referir-se a um direito que o sujeito realmente tem ou supõe


possuir.
Assim, pode ocorrer hipótese de:
a) pretensão legítima;
b) pretensão ilegítima. É irrelevante que a pretensão seja legítima ou ilegítima.
Neste caso, porém, exige - se que o sujeito a suponha legítima. Como a lei fala em
pretensão "embora legítima", de admitir -se a ilegítima, necessitando, contudo, que o
agente, por razões convincentes, a suponha lícita. Pode ser do próprio agente ou de
terceiro, nos casos em que age como mandatário etc.
Sujeito que tem plena consciência da ilegitimidade de sua pretensão: Não comete
esse delito, podendo responder por outro, de acordo com o meio executório empregado
(furto, lesão corporal, violação de domicílio, ameaça etc.).
Ocorre que o elemento subjetivo é endereçado à satisfação da pretensão legítima
ou supostamente tal (" embora legítima"), de maneira que inexiste delito, por atipicidade do
fato, quando o agente tem certeza de que a pretensão é ilegítima.

Incidência Da Pretensão: Pode incidir sobre qualquer direito.


a) real (propriedade, posse etc.),
b) pessoal (contratos)
c) de família (guarda de filhos, p. ex.).

É necessário que a pretensão possa ser satisfeita perante o Judiciário: Não há


exercício arbitrário das próprias razões nas hipóteses em que o sujeito não poderia levar
sua pretensão ao conhecimento da autoridade judiciária, como nos casos de dívida prescrita,
preço carnal etc.

Meios Executórios: Crime de forma livre, admite qualquer meio de execução:


direto ou indireto, fraude, violência física, violência moral (grave ameaça), subtração etc.
Fraude.

Elementos Subjetivos Do Tipo: o primeiro é o dolo, vontade livre e consciente


de fazer justiça pelas próprias mãos. O tipo reclama um segundo, contido na expressão
"para satisfazer pretensão, embora legítima". De modo que se exige que o sujeito realize
a conduta para a concretização de um fim determinado: satisfazer a sua pretensão.

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Elemento Normativo Do Tipo : Está contido na expressão "salvo quando a lei o


permite". Não há delito, por atipicidade do fato, quando a conduta do sujeito está autorizada
pela lei, i. e., quando a lei admite a justiça particular.

Consumação : Crime Formal, consuma-se no instante típico imediatamente


anterior ao resultado visado pelo sujeito, i. e., com a realização da conduta que visa à
satisfação da pretensão. O comportamento do sujeito, contido nas elementares "fazer
justiça pelas próprias mãos", é realizado "para satisfazer pretensão". De modo que não é
necessário que o agente consiga a satisfação de sua pretensão. Basta que empregue meios
executórios tendentes àquele fim.

60. Favorecimento Pessoal

Art 348 CP -Favorecimento pessoal - Auxiliar a subtrair -se à ação de autoridade


pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, d e 1
(um) a 6 (s eis) meses, e multa.

§ 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, d e 15


(quinze) d ias a 3 (três) meses, e multa.
§ 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão
do criminoso, fica isento de pena.

Conceito E Objetividade Jurídica Objeto Jurídico; O legislador procurou


proteger a administração da justiça criminal. Impõe-se o dever de o sujeito não colocar
obstáculos à ação judiciária na luta contra a criminalidade.

Sujeito Ativo: Pode ser qualquer pessoa, menos o co -autor ou partícipe do delito
anterior.. Não há auto-favorecimento; No concurso de pessoas, se o partícipe prestar
auxílio aos outros, beneficiando-se também, não responde por este delito. Somente há
crime quando beneficiar apenas os comparsas.
Sujeito Passivo ; O Estado.
Elementos Objetivos Do Tipo Conduta: Consiste em prestar auxílio a autor de
crime com o fim de subtraí -lo à ação da autoridade pública.

Meios Executórios: crime de forma livre, o auxílio admite qualquer modo de


realização (material ou moral), como o emprego de meios para a fuga, engano da
autoridade, ocultação do autor do delito etc.

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Omissão: O delito exige ação, não se configurando pela conduta negativa. Por
essa razão, não constitui o crime deixar de comunicar a ocorrência do delito à autoridade
policial.

Diferença entre favorecimento pessoal e real: No primeiro é garantido o proveito


do crime ( por obséquio ou amizade); no segundo é assegurado o autor do crime.
Contravenção Anterior: É preciso que o sujeito preste ajuda a autor de crime
anterior, não bastando a simples contravenção antecedente. Neste caso, o fato é atípico.

Elemento Subjetivo Do Tipo: é o dolo, vontade livre e consciente de prestar


auxílio ao criminoso, sabendo o sujeito que o fará livrar-se da ação da autoridade pública

Consumação : Consuma-se o crime no instante em que o beneficiado, em razão


do auxílio do sujeito, consegue subtrair-se, ainda que por breves instantes, da ação da
autoridade pública.
Tentativa: Se, prestado o auxílio, o beneficiado não se livra da ação da
autoridade pública, de reconhecer-se a tentativa.

Escusa Absolutória - Artigo 348, § 2º : A enumeração legal é taxativa, não


podendo ser ampliada. Não abrange os afins nem a relação de adoção. Neste caso,
porém, nada impede que seja absolvido o sujeito por inexigibilidade de conduta diversa,
excludente da culpabilidade.

61. Favorecimento Real

Art 349 Favorecimento real - Prestar a criminoso, fora dos casos de c o-


autoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime:
Pena - detenção, d e 1 (um) a 6 (s eis) meses, e multa.

Conceito E Objetividade Jurídica Objeto Jurídico: A administração da justiça.


Procura o legislador evitar que se preste colaboração a criminoso após a prática do crime no
sentido de tornar seguro o proveito obtido, dificultando a ação da justiça.

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Sujeito Ativo: Crime comum, pode ser cometido por qualquer pessoa, com
exceção do participante do delito antecedente.
Sujeito Passivo : O Estado.
Co-Autoria: O legislador empregou a expressão no sentido amplo, abrangendo a
co-autoria propriamente dita e a participação.

Diferenças Entre Favorecimento Real E Receptação:


1ª) no favorecimento real o sujeito age exclusivamente em favor do autor do
delito antecedente; na receptação, age em proveito próprio ou de terceiro, que não o autor do
crime anterior;
2ª) no favorecimento o proveito pode ser econômico ou moral; na receptação o
proveito só pode ser econômico;
3ª) no favorecimento real a ação do sujeito visa ao autor do crime antecedente;
na receptação a conduta incide sobre o objeto material do crime anterior.

Diferença Entre Os Favorecimentos: No real o sujeito visa a tornar seguro o


proveito do delito; no pessoal, tornar seguro o autor do crime antecedente.

Elementos Objetivos Do Tipo Conduta: Consiste em prestar auxílio a Criminoso com


o fim de tornar seguro o proveito do crime.

Execução: A prestação de auxílio admite qualquer forma de execução: direta ou


indireta, material ou moral.

Proveito: É toda utilidade material ou não, abrangendo o objeto material do


delito, o preço e as coisas obtidas com a prática criminosa (p. ex.: o dinheiro obtido com a
venda do objeto material).
Ficam excluídos os instrumentos do crime. Não pode ser do próprio agente.
Pressuposto: O tipo pressupõe a prática de um crime, patrimonial ou não,
tentado ou consumado. Não se exclui a hipótese de o sujeito receber o preço pela
prática de um delito que ficou na fase da tentativa. Não se exige condenação irrecorrível n
o tocante ao crime anterior.
Se era inimputável o autor do crime antecedente ("criminoso"): Subsiste o
favorecimento real.

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A inimputabilidade apenas exclui a culpabilidade, que não integra o delito.


Assim, mesmo que a conduta anterior tenha sido realizada por um inimputável (menor,
doente mental etc.), não fica excluído o crime anterior.

Extinção Da Punibilidade Em Relação A O Crime Anterior: Admite -se o


favorecimento real, ressalvando-se as hipóteses da abolitio criminis e da anistia.
Se a infração anterior foi contravenção: não há favorecimento real, uma vez que
o tipo menciona "crime".

Elementos Subjetivos Do Tipo : O fato só é punível a título de dolo, vontade


livre e consciente de prestar colaboração a criminoso. É necessário que o sujeito tenha
consciência de que, por intermédio do auxílio, tornará seguro o proveito do crime.
Assim, além do dolo, o tipo reclama outro elemento subjetivo: o fim de tornar seguro
o proveito do delito.
É indispensável que saiba que o objeto material é produto de crime. Se o
comportamento do sujeito visa à obtenção de lucro há crime de receptação. Não há
forma culposa.

Consumação : consuma- se com a prestação do auxílio, independentemente de se


tornar seguro o proveito do crime anterior.
Tentativa: É Admissível.

62. Exercício Arbitrário Ou Abuso De Poder

Art. 350 -Exercício arbitrário ou abuso de poder Art. 350 - Ordenar ou executar
medida privativa de liberdade individual, sem as formalidades legais ou com
abuso de poder: Pena - detenção, d e 1 (um) mês a 1 (um) ano.

Parágrafo único - Na mesma pena incorre o funcionário que:


I - ilegalmente recebe e re colhe alguém a prisão, o u a estabelecimento
destinado a execução de pena privativa de liberdade ou de medida d e segurança;

II - pro longa a execução de pena ou de medida de segurança, deixando de


expedir em tempo oportuno ou de executar imediatamente a ordem de liberdade;

III - submete pessoa que está s ob sua guarda ou custódia a vexame ou a


constrangimento não autorizado em lei; IV - efetua, com abuso de poder, qualquer
diligência .

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Conceito E Objetividade Jurídica Questão Da Revogação Do Dispositivo : Há


discussão a respeito de o art. 350 do Código Penal estar revogado pela Lei n. 4.898,
de 9 de dezembro de 1965, que define os crimes de ab uso de autoridade. Existem duas
posições sobre o tema:
1ª) houve ab-rogação: para essa cor rente, todo o art. 350 foi revogado pela lei
especial;
2ª) houve derrogação: somente foram revogados o caput e o inc. III do dispositivo

Recebimento E Recolhimento Ilegal De Alguém A Prisão - Art 350, I

Objeto Jurídico : A Administração Pública.

Sujeito Ativo: Por ser crime próprio, só pode ser o funcionário público que
exerce o cargo de carcereiro ou responsável por prisão ou estabelecimento destinado a
execução de pena privativa de liberdade ou de medida de segurança detentiva (CP, arts. 96 e
98).
Sujeito Passivo: Estado e o indivíduo recebido ou recolhido.

Condutas Típicas: Consistem em receber e recolher alguém a prisão sem as


formalidades legais (exibição de mandado de prisão ou carta de g uia). Não basta o
simples recebimento, exigindo-se que o sujeito, de forma ilegal, receba e recolha alguém a
prisão ou estabelecimento similar.

Elemento Normativo: Contido na expressão "ilegalmente". Se legais o recebi


mento e recolhimento, não há crime por ausência de tipicidade.

Consumação: Com o recolhimento.


Tentativa: É admissível.

Elemento Subjetivo Do Tipo: É o dolo, vontade livre e consciente de receber e


recolher a pessoa, conhecendo o sujeito da ilegalidade de sua conduta.

Prolongamento Ilegal De Execução De Medida Privativa De Liberdade -


ARTIGO 350, II

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Sujeito Ativo: Trata-se de CRIME PRÓPRIO, só podendo ser cometido por


funcionário público encarregado de expedir ou de executar a ordem de liberdade.

Consumação : crime omissivo próprio, consuma-se com a conduta negativa,


exigindo-se que ocorra o prolongamento da execução de pena ou de medida de
segurança por um tempo juridicamente relevante.

63. Fuga De Pessoa Presa Ou Submetida A Medida De Segurança

Art. 351 - Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou


submetida a medida de segurança detentiva: Pena - detenção, d e 6 (seis) meses a 2
(dois) anos.

§ 1º - Se o crime é praticado a mão armada, ou por m ais de uma pessoa, o u


me diante arrombamento , a pena é de reclusão, de 2 (do is) a 6 (seis) anos.

§ 2º - Se há emprego de violência contra pessoa, aplica -se também a pena


correspondente à violência.

§ 3º - A pena é de reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, se o crime é


praticado por pessoa s ob cuja custódia ou guarda está o preso ou o internado.

§ 4º - No caso de culpa do funcionário incumbido da custódia ou guarda,


aplica-s e a pena de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

Objeto Jurídico : A Administração Pública.

Sujeito Ativo: crime comum, pode ser praticado por qualquer pessoa (particular
ou funcionário público), menos pelo próprio preso ou internado (submetido a medida de
segurança). Este, ainda que induza ou instigue terceiro a lhe promover a fuga, não responde
pelo delito.
Sujeito Passivo : O Estado.

Elementos Objetivo Do Tipo Preso: É a pessoa sujeita à privação da liberdade,


seja a prisão provisória (preventiva, flagrante etc.) ou definitiva.
Pode tratar-se de submetido à imposição de medida de segurança (inimputável ou
semi-responsável), nos termos dos arts. 96 e 98 do Código Penal.
A expressão tem sentido amplo.

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Promoção de fuga de menor inimputável: Há duas posições:


1ª) há crime;
2ª) não há crime.

Local Do Fato: Pode ser cometido intra ou extra muros, dentro ou fora de
estabelecimento prisional.

Omissão: Admite-se como meio de execução, desde que o sujeito tenha o dever
jurídico de impedir a fuga.

A Detenção Deve Ser Legal: É necessário que a pessoa esteja legalmente presa ou
submetida a medida de segurança. A expressão legalmente constitui elemento normativo do
tipo.
Se ilegal a prisão ou a submissão à imposição da medida de segurança, não há crime
por atipicidade do fato.

Critério De Apreciação Da Legalidade: Deve ser apreciada não só quanto aos


requisitos formais da prisão ou da medida de segurança como também no tocante à sua
execução (duração, local etc.)

Elemento Subjetivo Do Tipo: é o dolo, vontade livre e consciente de promover a fuga


de preso ou internado, com conhecimento da legalidade da prisão ou da medida de segurança.

Crime Cometido A Mão Armada : Art 351, § 1º Exige-se o emprego efetivo da


arma.
Tipo Qualificado: Art 351, § 3º
Art 351, § 3º Cuida-se de um tipo especial ou próprio, uma vez que não pode
o fato ser cometido por qualquer pessoa, mas somente por quem possui o dever
funcional específico de guarda ou custódia do preso ou internado (carcereiro,
guarda etc.). Assim, não comete o f ato o particular, que não tem o dever
jurídico de impedir a fuga.

Tipo Culposo - Artigo 351, § 4º define um crime próprio, uma vez que só pode
ser come ido por "funcionário incumbido da custódia ou guarda". Inclui-se o oficial de
justiça que conduz o preso. A fuga pode ser executada pelo próprio detento ou
promovida por terceiro. Não havendo fuga, inexiste o delito. Assim, não há f alar -se

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em crime quando o carcereiro, por erro, liberta a pessoa errada (não ocorreu fuga).
Devem ser legais a prisão e a medida de segurança.

Configuram O Crime Culposo:


 Esquecer aberta a porta do xadrez;
 Descuidar do preso ao levá -lo ao banheiro;
 Não guardar a porta; deixar o preso sair para fazer compras;
 Deixar o preso sair para telefonar em repartição do edifício;
 Dar maior liberdade ao detento, permitindo a fuga;
 Deixar de fazer a revista pessoal;
 Deixar de fazer a revista diária das grades;
 Levar o detento para trabalhar f ora do presídio, em lavoura própria.

Não Constituem O Crime Culposo:


 Deixar o preso de bom comportamento fazer serviço de limpeza,
ocorrendo a fuga;
 Permitir liberdade dentro do presídio autorizada pela autoridade;
 Libertar preso por engano.

Consumação: Momento em que se concretiza a fuga, ainda que o detento ou


internado obtenha a liberdade por pouco tempo.
Tentativa: É admissível (salvo quanto à forma culposa).

Facilitação De Fuga Mediante Corrupção: Aplica-se o art. 351 e não o 317


do Código Penal. No sentido do concurso material.

Preso Que Corrompe Guarda Para Fugir: Entendeu -se não cometer nenhum
delito, nem o de corrupção ativa, uma vez que a fuga sem violência física é fato atípico .

64. Evasão Mediante Violência Contra A Pessoa

Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir -se o preso ou o indivíduo submetido a


medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa:
Pena - detenção, d e 3 (três) meses a (u m) ano, além d a pena correspondente à
violência.

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Objeto Jurídico : A administração da justiça.

Sujeito Ativo: Trata-se de crime próprio, só podendo ser cometido por preso ou
indivíduo submetido à imposição de medida de segurança detentiva.
Sujeito Passivo: Principal é o Estado.

Elementos Objetivos Do Tipo: Pune-se o fato quando o agente, preso ou inter nado,
emprega violência física para alcançar a liberdade.

Simples Fuga: Sem violência, não constitui delito, considerada conduta normal
(anseio de liberdade do indivíduo)..

Violência Contra Coisa E Grave Ameaça: Não são incriminadas. Ainda que a
ameaça seja exercida com arma. Mesmo havendo dano à coisa, hoje prevalece o
entendimento de que não há o delito do art. 163 do Código Penal.

Violência Incriminada: É a real, empregada contra carcereiro, policial, oficial de


justiça, guarda, outro detento ou internado ou terceiro. Não se exige que a vítima sofra lesão
corporal.

Local Do Fato: O crime pode ocorrer intra ou extra muros ,dentro ou fora de
estabelecimento prisional ou de internação. O sujeito pode fugir de um edifício, de um
automóvel, de um lugar aberto etc.

Natureza Da Prisão: Civil, penal ou administrativa.

Detenção Legal: Só há delito nos casos de prisão e internação legais. No


sentido do texto, tratando de prisão para averiguação e entendendo não ha ver delito. No
sentido de que a ilegalidade da prisão exclui o crime.

Elemento Subjetivo Do Tipo : é o dolo, consistente na vontade livre e consciente


dirigida à evasão mediante emprego de violência contra a pessoa. O tipo não reclama
nenhum fim especial.

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Consumação: Consuma-se com o emprego da violência física contra pessoa.


Tentativa: É possível, não tendo influência na pena abstrata. A tentativa é tipicamente
equiparada ao delito consumado. De modo que, em face da pena abstrata, pouco
importa que o crime seja consumado ou tentado, uma vez que o legislador tipifica a
conduta de "evadir-se ou tentar evadir-se".
Assim, aplica-se a ressalva do parágrafo único do art. 14 do Código Penal: não
incide a redução da pena de um a dois terços. Relevante é o tema da tentativa,
contudo, para efeito da aplicação da pena concreta, constituindo circunstância judicial a
ser considerada pelo juiz na dosagem da pena-base (CP, art. 59, caput)

Concurso Material : Havendo violência física, com lesão corporal ou homicídio,


o Código Penal impõe o concurso material de crimes. Ocorrendo som ente vias de fato,
fica a contravenção absorvida pelo delito, ínsita na expressão " violência".

65. Arrebatamento De Preso

Art. 353 - Arrebatar preso, a fim de maltratá -lo, do poder de que m o tenha sob
custódia ou guarda:
Pena - reclusão, de 1 (u m) a 4 (quatro) anos, além da pena correspondente à
violência .

Objeto Jurídico : A administração da justiça.

Sujeito Ativo: Crime comum, pode ser cometido por q ualquer pessoa, inclusive
o funcionário público.
Sujeitos Passivo : Principal é o Estado. De forma mediata, o preso arrebatado.

Objeto Material: É o preso, que o sujeito tira de quem o detém, à força, com o fim de
seviciá -lo.

Lugar Do Fato: Pouco importa: intra muros (dentro do estabelecimento


prisional) ou extra muros (fora).

Guarda Ou Custódia: Pode ser exercida por carcereiro, escolta policial etc.

Medida De Segurança: Não se aplica a disposição ao sujeito submetido a ela.

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Elementos Subjetivos Do Tipo : O crime só é punido a título de dolo, consistente


na vontade livre de arrebatar pessoa, consciente o sujeito de que se trata de preso e
que está sob custódia ou guarda de outrem. Exige-se um segundo elemento subjetivo,
contido na expressão "a fim de". Sem ele, o fato é atípico.

Consumação: Trata-se de crime formal. Consuma-se com o arrebatamento, não


sendo necessário que o preso venha a ser seviciado.
Tentativa: É Admissível.

Concurso Material: A pena é de reclusão, de um a quatro anos, além da


correspondente à violência. Assim, vindo o sujeito a maltratar o preso, responde, em
concurso material, pelo crime do art. 353 e pelo outro delito em que consiste a violência.

66. Motim De Presos

Art. 354 - Amotinarem-se presos, perturbando a ordem ou disciplina da prisão:


Pena - detenção, d e 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, além d a pena correspondente à
violência .

Objeto Jurídico : A Administração Pública.

Sujeitos Ativos: Trata-se de crime coletivo ou de concurso necessário, próprio, que só


pode ser realizado por "presos", não se excluindo a participação de terceiros, estranhos
ao cumprimento de pena.
Sujeito Passivo: Principal: é o Estado.

Número De Concorrentes Necessários: O Código Penal não menciona o número


mínim o de amotinados. Cremos que se exige, no mínimo, três sujeitos ativos.
Isso porque o estatuto penal, quando se contenta com a participação de duas
pessoas, no mínimo, na realização da conduta, manifesta -se expressamente (exs.: arts. 155,
§ 4º, I V; 157, § 2º, II etc.). Aqui, por interpretação sistemática, de exigir -se mais de dois.

Medida De Segurança: Como a lei f ala em "presos" e "prisão", entende -se


inexistir delito em relação a sujeitos a medidas de segurança.

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Elementos Objetivos Do Tipo Conduta: O crime consiste na amotinação de


presos, no comportamento comum de rebeldia de pessoas presas, agindo para o fim de
reivindicações justas ou não, vingança, fuga ou pressão sobre funcionários para que façam
ou não alguma coisa.

Efeito Do Motim: É necessário que a conduta dos presos venha a perturbar a


ordem ou a disciplina da prisão, mediante violências pessoais, depredação de instalações etc.

Elemento Subjetivo Do Tipo : é o dolo, vontade livre e consciente dirigida ao


motim, conhecendo o sujeito que sua conduta perturba a ordem ou a disciplina do
estabelecimento prisional.

Consumação : é crime material, consumando-se com a efetiva perturbação da


ordem ou da disciplina da prisão.
Tentativa: Como delito material, admite-se a figura tentada.

Concurso Material : Ocorrendo, em razão da violência, outro delito, aplica-se a


regra do concurso material (parte final do preceito secundário do art. 354 do CP). As vias
de fato são absorvidas.
Violência Contra A Coisa: Há duas orientações:
1ª) a expressão violência abrange a cometida contra a pessoa e contra a coisa,
de modo que ocorre concurso material de crimes nas duas hipóteses.
2ª) a expressão violência indica somente a praticada contra a pessoa.

67. Patrocínio Infiel

Art. 355 - Trair, na qualidade de advogado ou procurador, o dever


profissional, prejudicando interesse, cujo
patrocínio, em juízo, lhe é confiado:
Pena - detenção, d e 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa .

Patrocínio simultâneo ou tergiversação


Parágrafo único - Incorre na pena d este artigo o advogado ou procurador
judicial que defende na mesma causa, simultânea o u sucessivamente, partes
contrárias .

Objeto Jurídico : A administração da justiça.


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Sujeito Ativo: Tratando-se de crime próprio, só pode ser o advogado, regularmente


inscrito na OAB, ou procurador judicial (estagiário ou provisionado inscrito na Ordem).
Sujeito Passivo: Em primeiro lugar, é o Estado. Secundariamente, a pessoa
prejudicada.

Bacharel em direito não inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB):


Inexistência de crime.

Remuneração: Não desfigura o delito a circunstância de o advogado ou provisionado


não a receber.

Conduta Típica: Consiste em trair o dever profissional, prejudicando o interesse que


alguém confiou, em juízo, ao patrocínio do sujeito. A conduta pode ser comissiva ou
omissiva.

Prejuízo De Interesse: Não há crime quando não ocorre . Pode ser material ou
moral, mas concreto.
Deve ser produzido no curso do processo. Precisa ser legítimo. Não há crime
quando é prejudicado interesse ilegítimo, subsistindo apenas infração a dever profissional.
O prejuízo deve ser efetivo, não bastando o potencial.

Abandono De Causa Criminal: Não existe o delito, aplicando-se a multa do


art. 265 do Código de Processo Penal.

Patrocínio Da Causa Confiado E Aceito: É necessário que exista um mandato,


seja por escrito ou meramente verbal, remunerado ou não, e que tenha sido o agente
constituído pela parte ou nomeado pelo juiz.
Advogado que não propôs a ação, embora tenha recebido procuração: Não há
crime. Se o fato é cometido por ocasião da feitura de um parecer, consulta etc., não há
delito, restando somente uma f alta disciplinar do profissional.

Existência De Uma Causa Judicial: A traição precisa ocorrer "em juízo", como
diz o tipo, civil ou criminal.

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A "causa" deve ser a mesma, não sendo necessário que o f ato ocorra no mesmo
"processo" . Não há delito na atuação extrajudicial.

Elemento Subjetivo Do Tipo: é o dolo, vontade livre e consciente de trair o


dever profissional, prejudicando o interesse confiado ao agente.
É necessário que o sujeito saiba que está prejudicando o cliente ou que assuma
o risco de produzi-lo. O motivo é irrelevante. Não basta a culpa ou o erro profissional.

Consumação: Cuidando-se de crime material, consuma- se com a produção do


efetivo prejuízo. Não é suficiente a possibilidade de prejuízo.
Tentativa: É possível na forma comissiva; inadmissível, na omissiva

68. Patrocínio Simultâneo Ou Tergiversação

Art. 355 - Trair, na qualidade de advogado ou procurador, o dever profissional,


prejudicando interesse, cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.

Patrocínio simultâneo ou tergiversação


Parágrafo único - Incorre na pena deste artigo o advogado ou procurador judicial
que defende na mesma causa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias.
Sonegação de papel ou objeto de valor probatório

Objeto Jurídico : A administração da justiça.

Sujeito Ativo: Só pode ser o advogado ou procurador judicial. Aquele deve


estar regular mente inscrito na OAB. Trata-se de crime próprio. A disposição não inclui
os membros do Ministério Público e os Procuradores do Estado.
Sujeito Passivo: Imediato é o Estado; mediato, a pessoa que sofre o prejuízo.

Condutas Típicas: O tipo prevê duas condutas:


1ª) patrocínio simultâneo; o advogado, ao mesmo tempo, defende interesses, na
mesma causa, de partes contrárias. Não é preciso que seja no mesmo processo, uma vez
que a figura penal f ala "na mesma causa". Uma causa pode ter mais de um processo -
(ações conexas).
2ª) patrocínio sucessivo de partes contrárias (tergiversação) , o advogado, após
defender um litigante, passa a defender o outro.

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Elemento Subjetivo Do Tipo: É o Dolo, vontade livre e consciente de defender, ao


mesmo tempo ou sucessivamente, interesses de partes contrárias em litígio. A culpa não
é suficiente. O motivo é irrelevante. Pouco importa a finalidade do agente.

Consumação : Trata -se de crime formal, consumando-se com a realização de ato


processual indicativo do patrocínio infiel ou tergiversação.
Tentativa: É admissível nas duas modalidades (patrocínio inf iel e tergiversação)

69. Sonegação De Papel Ou Objeto De Valor

Art. 356 - Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar de restituir autos,


documento ou objeto de valor probatório, que recebeu na qualidade de advoga do
ou procurador: Pena - detenção, d e 6 (seis) a 3 (três) anos, e multa .

Objeto Jurídico: A administração da justiça..

Sujeito Ativo: Trata-se de crime próprio, somente podendo ser cometido por
advogado ou procurador judicial. Aquele deve estar inscrito na OAB.
Sujeitos passivos: Em primeiro lugar, o Estado; secundariamente, a pessoa
(física ou jurídica) a quem o comportamento causa dano.
Advogado em causa própria: Essa circunstância não afasta o crime.

Objetos Materiais: São: autos de processo criminal ou cível; documento de


valor probatório (contrato, título de crédito etc.); objeto de valor probatório (qualquer
coisa que demonstre a existência de um fato de relevância jurídica).

Condutas: Inutilizar é deixar o documento ou o papel imprestável, destruindo,


riscando ou borrando.
Pode ser total ou parcial. Não restituir significa reter, sonegar.

Inutilização Material: é exigida, não bastando a "inutilização jurídica", como,


por exemplo, dar causa à paralisação do processo, provocando a prescrição.

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Condição Típica: O crime pressupõe que o sujeito, na qualidade de advogado ou


procurador judicial, tenha recebido em confiança o objeto material de funcionário da
justiça ou terceiro particular, antes ou durante a tramitação de processo (salvo no caso de
autos).

Elemento Subjetivo Do Tipo : é o dolo, consistente na vontade livre e consciente


de inutilizar ou não devolver o objeto material. A simples negligência não tipifica o fato.

Consumação : Na inutilização, o crime atinge a consumação quando o objeto


material perde o seu valor probatório (total ou parcial).
Na forma de sonegação de autos, a consumação ocorre quando o sujeito,
regularmente intimado, de acordo com a legislação processual (intimação judicial), nega- se a
devolvê-los.
Tentativa: Na forma comissiva de inutilização é possível; na omissiva de sonegação,
impossível.

70. Exploração De Prestígio

Art. 357 - Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de


influir em juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de justiça, perito,
tradutor, intérprete ou testemunha:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

Parágrafo único - As penas aumentam-se de um terço, se o agente alega ou insinua


que o dinheiro ou utilidade também se destina a qualquer das pessoas referidas neste
artigo.

Objeto Jurídico : Protege- se o prestígio da administração da justiça.

Sujeitos Ativo: Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo.


Sujeito Passivo: é o Estado.

Objeto Material: Dinheiro ou qualquer outra utilidade. O dinheiro pode ser


nacional ou moeda estrangeira. A utilidade pode ser material ou moral (o tipo menciona
qualquer utilidade, indicando caso de interpretação analógica).

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Fundamento Fantasioso: A solicitação ou o recebimento de dinheiro ou qualquer


outra utilidade deve ter por fundamento a desculpa fantasiosa de que o sujeito vai influenciar
as pessoas mencionadas na figura típica. Trata-se, na verdade, de uma fraude, mentira.

Influência: Pode ser direta ou indireta.

Pessoas Que Servem À Justiça : A lei expressamente cita as pessoas que servem
à justiça (juiz,jurado, órgão do Ministério Público, Funcionário de justiça, perito,
tradutor, intérprete ou testemunha). O rol é taxativo, não podendo ser ampliado.

Elemento Subjetivo Do Tipo : é o dolo, vontade livre e consciente de solicitar a


vantagem ou recebê-la, com a desculpa (a pretexto) de influenciar as pessoas indicadas.

Consumação: Com a simples solicitação ou o recebimento. Na solicitação, existe


crime ainda que ocorra rejeição.
Tentativa: Na solicitação verbal, o crime não admite a figura da tentativa; na
por escrito (delito plurissubsistente), admite.
Na forma de recebimento, é admissível a tentativa.

Qualificação Doutrinária
Na modalidade de solicitar, o crime é formal;
Na de receber, é material.

Tipo Qualificado – Artigo 357, Parágrafo Único


A pena é agravada se o sujeito alega ou insinua que a vantagem solicitada ou
recebida se destina às pessoas enumeradas na definição (parágrafo único).
No primeiro caso, ele deixa claro que o dinheiro ou a utilidade se destinam àquelas
pessoas (alegação);
No segundo, deixa entrever, dá a entender (insinuação). Há a qualificadora ainda
que a pessoa não leve a sério a alegação ou a insinuação do sujeito.

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