Você está na página 1de 104

Apresentação ................................................................................................................................

4
Aula 1: Lei de tortura..................................................................................................................... 5
Introdução ............................................................................................................................. 5
Conteúdo................................................................................................................................ 6
Crimes hediondos: assento constitucional e momento histórico ........................... 6
Crimes hediondos: assento constitucional e momento histórico ........................... 6
Critérios de tipificação ...................................................................................................... 7
A Lei n.8072/1990 e seu controle de constitucionalidade: alterações legislativas 8
Crimes equiparados a hediondos ................................................................................. 10
Conceito de Tortura - alcance da expressão “sofrimento físico e mental” .......... 11
A incidência dos institutos repressores previstos na Lei n.8072/1990 .................. 13
As figuras típicas previstas na lei n.9455/1997 e sua interpretação constitucional
............................................................................................................................................. 14
A figura prevista no art.1º, parágrafo 1º....................................................................... 15
Tortura qualificada .......................................................................................................... 16
O confronto entre o delito de tortura castigo e o delito de maus-tratos............. 16
Questões relevantes ........................................................................................................ 18
Efeitos da condenação no caso de o agente ser funcionário público e
extraterritorialidade ......................................................................................................... 18
Atividade proposta .......................................................................................................... 19
Referências........................................................................................................................... 19
Exercícios de fixação ......................................................................................................... 20
Chaves de resposta ..................................................................................................................... 27
Aula 1 ..................................................................................................................................... 27
Exercícios de fixação ....................................................................................................... 27
Aula 2: Lei de drogas ................................................................................................................... 29
Introdução ........................................................................................................................... 29
Conteúdo.............................................................................................................................. 30
Disposições gerais ........................................................................................................... 30
Conceito de drogas ......................................................................................................... 30
A Lei n.11.343/2006 e o direito intertemporal ............................................................ 31
Distinção entre as condutas de uso indevido de drogas e tráfico ilícito de drogas
............................................................................................................................................. 31
Tráfico de drogas: figuras típicas e equiparadas ....................................................... 31

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 1


A constitucionalidade das vedações previstas às figuras equiparadas a delitos
hediondos ......................................................................................................................... 32
Tráfico privilegiado .......................................................................................................... 33
Financiamento ou custeamento do tráfico ilícito de drogas e as teorias adotadas
acerca do concurso de pessoas .................................................................................... 34
A figura do informante ................................................................................................... 35
Associação para fins de tráfico ilícito de drogas ....................................................... 36
Atividade proposta .......................................................................................................... 38
Referências........................................................................................................................... 39
Exercícios de fixação ......................................................................................................... 40
Chaves de resposta ..................................................................................................................... 47
Aula 2 ..................................................................................................................................... 47
Exercícios de fixação ....................................................................................................... 47
Aula 3: Código de Trânsito .......................................................................................................... 49
Introdução ........................................................................................................................... 49
Conteúdo.............................................................................................................................. 50
A Lei nº 9.503/1997 – Código de Trânsito Brasileiro ................................................ 50
Princípios norteadores do código de trânsito e segurança viária .......................... 51
Questões controvertidas e de destaque ..................................................................... 52
A Lei nº 9.503/1997 e os institutos despenalizadores da Lei nº 9.099/1995......... 54
Suspensão ou proibição da permissão/habilitação para conduzir veículo
automotor ......................................................................................................................... 54
Homicídio culposo e lesões corporais na direção de veículo automotor............ 56
Embriaguez ao volante ................................................................................................... 58
Atividade proposta .......................................................................................................... 61
Referências........................................................................................................................... 63
Exercícios de fixação ......................................................................................................... 64
Chaves de resposta ..................................................................................................................... 72
Aula 3 ..................................................................................................................................... 72
Exercícios de fixação ....................................................................................................... 72
Aula 4: Estatuto do Desarmamento ............................................................................................ 74
Introdução ........................................................................................................................... 74
Conteúdo.............................................................................................................................. 75
Considerações iniciais .................................................................................................... 75
Objetividade jurídica: imediata e mediata .................................................................. 77
A ADI nº. 3.112/DF. Controle de constitucionalidade................................................ 77
Conceito de arma de fogo ............................................................................................. 79

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 2


Distinção entre arma de fogo de uso proibido, restrito e permitido ..................... 79
As figuras típicas .............................................................................................................. 80
Posse irregular de arma de fogo de uso permitido – art.12, da Lei nº.
10.826/2003 ...................................................................................................................... 80
Omissão de cautela – Art.13, da Lei nº. 10.826/2003................................................ 82
Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido – art.14, da Lei nº. 10.826/2003 82
Situações hipotéticas e consectários ........................................................................... 83
Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito ............................................ 85
Narrativa ............................................................................................................................ 87
Arma de brinquedo ou simulacro ................................................................................ 88
Arma de fogo desmuniciada e adequação típica ...................................................... 89
Atividade proposta .......................................................................................................... 90
Referências........................................................................................................................... 92
Exercícios de fixação ......................................................................................................... 93
Chaves de resposta ................................................................................................................... 101
Aula 4 ................................................................................................................................... 101
Exercícios de fixação ..................................................................................................... 101
Conteudista ............................................................................................................................... 103

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 3


Esta disciplina contempla o estudo crítico das principais figuras típicas previstas
na Legislação Extravagante.
Nesse sentido, descreveremos os crimes hediondos e equiparados. Em seguida,
analisaremos o reconhecimento do Direito Penal do Risco e a Criminalização de
Delitos de Perigo, previstos no Código de Trânsito Brasileiro e no Estatuto do
Desarmamento.
Por fim, observaremos as formas de violência contra pessoas que, em
determinadas circunstâncias, tornam-se vulneráveis, tais como a Violência
Doméstica e de Gênero contra a Mulher, que motivou a criação de um Sistema
de Garantia de Direitos, e a Violência contra a Criança e do Adolescente, que
suscitou o surgimento da Doutrina da Proteção Integral da Criança e
Adolescente.
Por fim, entenderemos que a disciplina Legislação Penal Especial visa o fomento
do raciocínio crítico-jurídico acerca dos Modernos Movimentos de Política
Criminal adotados para a criminalização de condutas e respectiva adoção de
Sistemas de Garantia, mediante a criação de Estatutos específicos.
Sendo assim, esta disciplina tem como objetivos:
1. Identificar as diversas modalidades típicas previstas na Legislação
Extravagante;
2. Reconhecer os diversos posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais
controvertidos acerca dos institutos previstos em leis penais especiais;
3. Compreender os Modernos Movimentos de Política Criminal adotados para
fins de Criminalização de Condutas.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 4


Introdução
Nesta aula, serão analisadas as formas de criminalidade que, segundo sua
gravidade objetiva, finalidade, modus operandi, lesividade ou consequências,
são tipificadas como “hediondas”, bem como as medidas de Política Criminal de
Controle a serem adotadas pelo Estado Democrático de Direito.

Para tanto, será realizada uma análise crítica acerca do confronto entre a Teoria
do Garantismo Penal, consubstanciada em um Direito Penal Mínimo e a Função
Simbólica do Direito Penal – prefácio à seleção de tipos penais “hediondos” de
modo a relacionar as características de uma lei penal simbólica com os
princípios garantidores do Direito. Serão avaliadas as figuras elencadas pela Lei
n.8072/1990 como “hediondas” e as “equiparadas às hediondas” previstas,
respectivamente, no Código Penal e na Legislação Extravagante. Por fim, será
objeto de análise crítica a constitucionalidade dos dispositivos constantes na Lei
8072/1990.

Objetivo:
1. Identificar os denominados delitos “hediondos” e “equiparados a hediondos”,
assim como avaliar os critérios de tipificação dos delitos hediondos, sua
filtragem constitucional e controvérsias que envolvem o tema;
2. Identificar a tortura como crime equiparado a hediondo, avaliando os
institutos previstos na Lei 9455/97, assim como as diversas modalidades de
tortura.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 5


Conteúdo

Crimes hediondos: assento constitucional e momento histórico


Art. 5º, XLIII: a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça
ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.

Historicamente, no Brasil, podemos identificar a necessidade da seleção de


determinadas condutas a serem tratadas de forma diferenciada a partir da
década de 1980, quando nos grandes centros urbanos como Rio de Janeiro e
São Paulo, houve um forte crescimento de delitos violentos contra o patrimônio,
como roubos seguidos de morte e extorsões mediante sequestro.

Tal fenômeno foi amplamente divulgado pela mídia que, como espécie de
Controle Social Informal, pressionou os atores do cenário político a adotarem
medidas mais restritivas no exercício do Controle Social Penal.

O Constituinte deixou que o legislador estabelecesse quais seriam os crimes


hediondos. No entanto, já definiu quais seriam os equiparados: Tráfico de
drogas, Tortura e Terrorismo. Recentemente, entrou em vigor a lei de
terrorismo (Lei 13.260/16).

Crimes hediondos: assento constitucional e momento histórico


Art. 5º, XLIII: a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça
ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.

Historicamente, no Brasil, podemos identificar a necessidade da seleção de


determinadas condutas a serem tratadas de forma diferenciada a partir da
década de 1980, quando nos grandes centros urbanos como Rio de Janeiro e

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 6


São Paulo, houve um forte crescimento de delitos violentos contra o patrimônio,
como roubos seguidos de morte e extorsões mediante sequestro.

Tal fenômeno foi amplamente divulgado pela mídia que, como espécie de
Controle Social Informal, pressionou os atores do cenário político a adotarem
medidas mais restritivas no exercício do Controle Social Penal.

O Constituinte deixou que o legislador estabelecesse quais seriam os crimes


hediondos. No entanto, já definiu quais seriam os equiparados: Tráfico de
drogas, Tortura e Terrorismo. Recentemente, entrou em vigor a lei de
terrorismo (Lei 13.260/16).

Critérios de tipificação
O texto legal da Lei n.8072/1990 não conceituou “crime hediondo”, tendo o
legislador optado pela adoção de um critério legal taxativo, no qual selecionou
figuras típicas previstas no Código Penal e as “rotulou” como hediondas.
(adicionar artigo 1º da Lei 8072/90).

No rol de crimes hediondos, tivemos algumas alterações ao longo dos anos. A


lei 8930/94 passou a considerar o homicídio simples praticado em atividade
típica de grupo de extermínio, ainda que por um só agente, assim como o
homicídio qualificado como crimes hediondos. Entre as alterações mais
significativas, podemos indicar a lei 12015/09, que promoveu a reforma dos
crimes sexuais, e que incluiu o estupro e estupro de vulnerável como crimes
hediondos em substituição às antigas modalidades de estupro e atentado
violento ao pudor.

A lei 12978/2014 incluiu o favorecimento da prostituição ou de outra forma de


exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B,
caput, e §§ 1º e 2º) no rol dos crimes hediondos.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 7


Por fim, foram duas as inclusões em 2015: A Lei 13.104 incluiu o feminicídio,
modalidade de homicídio qualificado, crime praticado contra a mulher por
razões da condição de sexo feminino. Já a lei 13.142 incluiu uma outra
qualificadora do homicídio, também ampliando o rol de crimes hediondos.

Trata-se do homicídio cometido contra autoridade ou agente descrito nos arts.


142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela,
ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro
grau, em razão dessa condição.

A Lei n.8072/1990 e seu controle de constitucionalidade:


alterações legislativas
Tal discussão tem relevância no que concerne à vedação à progressão de
regimes, inicialmente prevista no art.2º, da Lei n.8072/1990, sua posterior
alteração pela Lei n.11464/2007 e, consequente, conflito de Direito
Intertemporal. Vejamos a seguir a antiga redação do artigo 2º da Lei 8072/90 e
sua posterior alteração pela Lei 11464/07.

Direito Intertemporal e a Lei n.11.464/2007 - as denominadas normas


“híbridas”.

Redação original da Lei n.8072/1990 Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da


tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são
insuscetíveis de:
[...] § 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida integralmente
em regime fechado.

Redação dada pela Lei n.11464/2007


[...]

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 8


§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em
regime fechado.
§ 2º A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos
neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o
apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.

Com a entrada em vigor da lei n.8072/1990, passou a ser vedada a progressão


de regimes aos condenados pela prática de delitos hediondos. Em 1997, com o
advento da Lei n.9455, foi concedida a progressão de regimes aos condenados
pelos crimes de tortura e, segundo o verbete de súmula n.698 do Supremo
Tribunal Federal, por força do princípio da especialidade, somente a estes seria
possível a progressão de regimes.

No julgamento do HC 82959, considerados os princípios da dignidade da pessoa


humana, individualização da pena e isonomia, o STF acabou considerando a
inconstitucionalidade do regime integralmente fechado. Os Tribunais, em geral,
acompanharam tal posicionamento, ocorrendo a abstrativização do controle
concreto. No entanto, não havia um quantum diferenciado. Aqueles que
praticavam crimes hediondos e equiparados progrediam com o quantum de
1/6, consoante artigo 112 da Lei de Execução Penal. O STF não poderia, sob
pena de ofensa ao princípio federativo, entender pela aplicação de quantum
diferenciado.

Posteriormente, em 2007, no dia 29 de março, entrou em vigor a Lei 11.464,


que alterou o artigo 2º da Lei 8072/90, passando, dentre outras alterações, a
estabelecer o regime apenas inicialmente fechado, admitindo a progressão com
2/5 para o primário e com 3/5 para o reincidente.

Com o advento da Lei 11.464, surgiu uma nova problemática: Deveria ela ser
aplicada aos crimes cometidos antes de sua entrada em vigor? Poderia a
jurisprudência sedimentada dos Tribunais Superiores servir como parâmetro
para que a referida lei fosse considerada maléfica e não pudesse retroagir?

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 9


Nossos Tribunais superiores acabaram entendendo que a lei era maléfica e que
não deveria retroagir. Com isso, todos que praticaram crimes hediondos ou
equiparados antes de sua entrada em vigor, sejam eles primários ou
reincidentes, devem progredir com 1/6 da pena.

Posteriormente, a fim de sanar quaisquer dúvidas, o Superior Tribunal de


Justiça sumulou o Verbete n.471, que teve por precedentes o Habeas Corpus
(HC) 134.518, de relatoria do ministro Og Fernandes, que apontou a
inconstitucionalidade da vedação da progressão de regime. O mesmo foi
reforçado pelo desembargador convocado Celso Limongi, no HC 100.277, o
qual também destacou a inaplicabilidade nos crimes anteriores à Lei
n.11.464/07.

O ministro Felix Fischer considerou, em decisão no HC 147.905, que se tornou


impossível aplicar essa regra a partir do momento que o STF decidiu que a não
progressão era inconstitucional. No HC 83.799, a ministra Maria Thereza de
Assis Moura teve o mesmo entendimento, destacando que a Lei de Crimes
Hediondos ganhou novos parâmetros para progressão do regime. (STJ,
notícias. Acesso em: 01 mar. 2011).

Súmula 471, STJ, de 28/02/2011:


Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da
vigência da Lei n.11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art.112 da Lei
n.7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a progressão de regime prisional.

Crimes equiparados a hediondos


Lei de tortura – Lei 9455/97
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada em 1948 pela
Assembleia Geral das Nações Unidas, erigiu a prática de tortura a uma forma de
criminalidade lesiva à própria dignidade humana e, portanto, insuscetível de
qualquer indulgência por parte do Estado.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 10


Somente em 28 de setembro de 1989, o Brasil ratificou a Convenção Contra a
Tortura e Outros Tratamentos ou Punições Cruéis, Desumanos ou Degradantes,
de 1984, e, em 26 de maio de 2000, o país apresentou um relatório em
consonância com o disposto no art.19 da Convenção.

Todavia, passaram-se quase dez anos da inclusão da erradicação da tortura no


texto constitucional à entrada em vigor de uma lei que tipificasse as condutas
de tortura. Até então, as referidas condutas eram tipificadas de acordo com os
“resultados” produzidos na vítima, tais como abuso de autoridade, lesões
corporais ou até mesmo a morte.

Feitas estas observações para fins de contextualização da promulgação da Lei


n.9455/1997, passaremos ao estudo das figuras típicas previstas na lei e das
principais discussões doutrinárias e jurisprudenciais sobre o tema.

Conceito de Tortura - alcance da expressão “sofrimento físico e


mental”
Segundo dispõe o art.1º, da Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos
ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (1984), o termo “tortura”
designa:

Qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são
infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de terceira
pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou terceira
pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir
esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em
discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são
infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções
públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência.
Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos que sejam

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 11


consequência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais
sanções ou delas decorram.

Atenção
Como dito anteriormente, a Lei n.9455/1997, diferentemente da
Convenção contra a Tortura, ao estabelecer a designação da
“tortura”, ampliou seu alcance além da prática pelos agentes
públicos.
Em decorrência da tipificação como delito comum, houve a
expressa revogação do art.233, da Lei n.8069/1990 – ECA, que
dispunha sobre a tortura perpetrada contra criança e adolescente.

A Lei n.9455/1997 designa tortura como:

Art. 1º Constitui crime de tortura:


I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-
lhe sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de
terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;

II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de


violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma
de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida
de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato
não previsto em lei ou não resultante de medida legal.
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de
evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 12


§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de
reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a
dezesseis anos.

Questão a ser analisada com acuidade diz respeito ao alcance da expressão


“sofrimento físico e mental”, pois, ainda que imaginemos, em um primeiro
momento a prática da tortura relacionada ao sofrimento físico, não podemos
nos esquecer das modalidades psicológicas de tortura que podem causar
sequelas indeléveis na vítima.

Podemos citar como exemplos de torturas psicológicas utilizadas as ameaças


constantes dos familiares ou a obrigá-los a assistir a tortura de parentes, bem
como a confusão mental e temporal – situações nas quais a vítima é privada de
sono, por exemplo.

A incidência dos institutos repressores previstos na Lei


n.8072/1990
Por expressa previsão constitucional, art. 5º, XLIII, CRFB/1988 e
infraconstitucional – art.2º, caput, da Lei n.8072/1990, o delito de tortura é
equiparado a hediondo sendo, portanto, aplicáveis aos condenados pela prática
do referido delito os institutos repressivos constantes na lei de crimes
hediondos, tais como o prazo diferenciado para fins de prorrogação da prisão
temporária, a vedação à indulgência soberana e fixação de cumprimento
mínimo de 2/5 ou 3/5 de pena, no caso de réu primário ou reincidente, para
fins de progressão de regimes de cumprimento de pena.

Atenção
O legislador, no §2º, do art.1º, da Lei n.9455/1997, rompeu com
a sistemática adotada pelo artigo 13, parágrafo 2º do Código
Penal, que ao prever a figura do agente garantidor, estabelece

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 13


que este deve responder pelo resultado que devia e podia evitar.
Sendo assim, se pensarmos em um Delegado que escuta policiais
torturarem um preso e nada faz, ele não responde pelo mesmo
crime dos policiais como agente garantidor, mas, sim, por esta
figura típica, cuja pena máxima abstrata não excede a quatro
anos, permite a suspensão condicional do processo, prevista no
art.89, da lei n.9099/1995, bem como não é tipificada como
conduta equiparada à hedionda.

As figuras típicas previstas na lei n.9455/1997 e sua interpretação


constitucional
São figuras típicas previstas na Lei n.9455/1997:

Tortura prova
Espécie de tortura prevista no art.1º, inciso I, alínea a, segundo a qual
configura tortura a conduta de constranger alguém com emprego de violência
ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental, com o fim de obter
informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;

Sua consumação ocorre com a produção de sofrimento físico ou mental; assim,


não se exige para a consumação do delito que o agente alcance seu especial
fim de agir, qual seja, a obtenção da informação, declaração ou confissão da
vítima.

Tortura - crime
Espécie de tortura prevista no art.1º, inciso I, alínea b, segundo a qual
configura tortura a conduta de constranger alguém com emprego de violência
ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental, com o fim de
provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
Sua consumação ocorre com a produção de sofrimento físico ou mental; assim,
não se exige para a consumação do delito que o agente alcance seu especial

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 14


fim de agir, qual seja, que a vítima pratique a conduta comissiva ou omissiva de
natureza criminosa para a qual foi torturada.

Todavia, se a vítima vier a praticar a conduta de natureza criminosa, não será


responsabilizada criminalmente por ela, mas, sim, o agente que tenha praticado
a tortura. Nesta hipótese ocorrerá, em relação à vítima, exclusão da
culpabilidade, face à inexigibilidade de conduta diversa; ou, exclusão da própria
tipicidade, nos casos de coação física irresistível.

Tortura discriminatória
Espécie de tortura prevista no art.1º, inciso I, alínea c, segundo a qual
configura tortura a conduta de constranger alguém com emprego de violência
ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental, com especial
motivação discriminatória.

Diferentemente da discriminação prevista na Convenção Contra a Tortura e


Outros Tratamentos ou Punições Cruéis, Desumanos ou Degradantes, que em
seu art.1º prevê a prática de tortura motivada por discriminação de qualquer
natureza, ou seja, tipifica como tortura discriminatória, por exemplo, se for
praticada impelida por preconceito racial, social, etário, de gênero, sexual,
religioso, econômico etc., a nossa legislação apenas tipificou a tortura
discriminatória em função de preconceito racial ou religioso.

A figura prevista no art.1º, parágrafo 1º


A figura equiparada prevista neste parágrafo reflete o princípio constitucional
previsto no art.5º, XLIX, da CRFB/1988, segundo o qual “é assegurado aos
presos o respeito à integridade física e moral”.

Nessa figura típica, exige-se apenas o dolo (elemento subjetivo geral), não se
exigindo o especial fim de agir, bem como não há exigência acerca da espécie
de prisão – legal ou ilegal, cautelar ou penal, bem como se é pena privativa de
liberdade ou medida de segurança reclusiva.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 15


Ainda, o tipo penal prevê que a conduta possa ocorrer de forma comissiva ou
omissiva, física ou mental. Podemos citar como exemplo da tortura mental
omissiva o caso no qual o agente penitenciário deixa que um preso em RDD,
fique, durante um período de temporal, em uma cela com vazamentos e que,
em decorrência destes, venha a ser inundada e, juntamente com a água,
surjam as conhecidas “pragas urbanas”, tais como ratos e baratas.

Tortura qualificada
A figura equiparada prevista no parágrafo 3º do artigo 1º (que tipifica a tortura
qualificada pela lesão grave ou pela morte) é crime preterdoloso. Desta forma,
o agente não intenciona a morte da vítima. O dolo está na tortura, havendo
culpa na morte. Caso o agente utilize a tortura como meio para provocar a
morte, haverá crime de homicídio qualificado pela tortura.

Nessa figura típica, há o dolo genérico, não se exigindo o especial fim de agir,
bem como não há exigência acerca da espécie de prisão – legal ou ilegal,
cautelar ou penal, bem como se é pena privativa de liberdade ou medida de
segurança reclusiva.

Ainda, o tipo penal prevê que a conduta possa ocorrer de forma comissiva ou
omissiva, física ou mental. Podemos citar como exemplo da tortura mental
omissiva o caso no qual o agente penitenciário deixa que um preso em RDD,
fique, durante um período de temporal, em uma cela com vazamentos e que,
em decorrência destes, venha a ser inundada e, juntamente com a água,
surjam as conhecidas “pragas urbanas”, tais como ratos e baratas.

O confronto entre o delito de tortura castigo e o delito de maus-


tratos
A referida questão, cujo ponto nodal é a distinção entre o delito de tortura
castigo, previsto no art.1º, inciso II, da Lei n.9455/1997 e o delito de maus-

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 16


tratos, previsto no art.136, do Código Penal, é um tema que apresenta uma
linha tênue de distinção. Entretanto, cabe ressaltar que é cediço na doutrina e
jurisprudência que a distinção reside primordialmente no elemento volitivo do
agente, sendo o delito de tortura praticado por sadismo do agente, que
intenciona o intenso sofrimento físico ou mental da vítima, ainda que para
aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo, enquanto o delito de
maus-tratos possui por elemento propulsor o animus corrigendi, disciplinandi.

Peculiaridade a ser vista é a descrição acerca do sofrimento físico – enquanto


nas figuras típicas previstas no inciso I exige-se, para sua consumação, a
produção de sofrimento físico ou mental, na figura do inciso II, exige-se que
esse sofrimento seja “intenso”. Podemos questionar se essa opção de política
criminal do legislador tinha por finalidade, entre outras, a distinção entre os
delitos de tortura e maus-tratos. Nesse sentido, vide decisão proferida pelo
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

Tortura - materialidade e autoria comprovadas - desclassificação para


o delito de maus-tratos - impossibilidade.
Sabe-se que o crime de tortura é aquele praticado por puro sadismo imotivado.
Segundo Guilherme de Souza Nucci, o dolo específico do agente nesse delito é
o de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo, acrescentando
que não se trata de submeter alguém a uma situação de mero maltrato, mas,
sim, ir além disso, atingindo uma forma de ferir com prazer ou outro
sentimento igualmente reles para o contexto. Já o crime de maus-tratos diz
respeito ao propósito de punir para corrigir, o que, no meu entender, não é o
caso, tendo sido o agente motivado pelo ódio ao choro do menor, bem como
pelo ciúme da mãe em relação à criança. Se o fato é anterior à promulgação da
Lei n.11.719/2008, Não deve se falar na aplicação do artigo 387, inciso IV, do
Código Penal. Apelo ministerial provido. Apelo defensivo parcialmente provido.
(TJRJS, Apelação Crime n.70031173347, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Manuel José Martinez Lucas, Julgado em 30/09/2009).

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 17


Questões relevantes
Causas de aumento previstas para o delito de tortura:
O §4º, do art.1º, prevê, expressamente, três modalidades de causa de
aumento de pena de um sexto até um terço:
Se o crime é cometido por agente público, se o crime é cometido contra
criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60
(sessenta) anos, agindo o agente com dolo em relação a essas pessoas ou
ainda, se o crime é praticado mediante sequestro.

Em relação à gestante, para que incida a causa de aumento, é imprescindível


que o agente tenha conhecimento da gravidez. No que tange ao aumento de
pena da tortura pelo meio sequestro, é irrelevante a distinção entre sequestro e
cárcere privado.

Efeitos da condenação no caso de o agente ser funcionário


público e extraterritorialidade
O parágrafo 5º estabelece que “A condenação acarretará a perda do cargo,
função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do
prazo da pena aplicada.” Nessa hipótese, o condenado perderá
automaticamente o seu cargo ou função pública, sendo desnecessário, nessa
situação, que o juiz sentenciante motive a perda do cargo, distinguindo-se do
tradicional efeito da condenação previsto no artigo 92 do Código Penal. Logo,
na lei de tortura, a perda do cargo possui natureza de efeito automático da
condenação.

Extraterritorialidade
Consoante dispõe o art.2º, da lei de tortura, esta será aplicada mesmo que o
delito tenha sido praticado fora do território nacional, desde que:
- o agente se encontre em local sob jurisdição brasileira
Ou
- quando a vítima for brasileira.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 18


Atividade proposta
Cleosbaldo, condenado à pena de 10 (dez) anos e 6 (seis) meses de reclusão,
em regime inicialmente fechado pela prática da conduta prevista no tipo penal
do art.213 c/c art.224, alínea, “a”, ambos do Código Penal por força da causa
de aumento prevista no art.9º, da Lei n.8072/1990, face ao advento da Lei
n.12015/2009, interpôs recurso de apelação com vistas à exclusão da causa de
aumento prevista na Lei de Crimes Hediondos e, consequente, reexame de sua
pena de modo a fixá-la em um quantum menor. Nesta hipótese, o pedido de
Cleosbaldo deve ser provido? Fundamente.

Chave de resposta: O pedido deve ser provido, pois a Lei 12015/09 revogou
o artigo 224 do Código Penal. Considerando que o artigo 9º da Lei de crimes
hediondos se baseia em um artigo já revogado, ele também é considerado
revogado. Aplica-se o disposto no artigo 2º do Código Penal.

Material complementar

Leia o texto disponível em nossa biblioteca virtual sobre a decisão da


1ª Turma que determina nova dosimetria da pena de policiais
federais condenados por tortura

Referências
CARVALHO, Américo A. Taipa de. Direito penal - parte geral. Porto:
Publicações Universidade Católica, 2003.
FRANCO, Alberto Silva. Crimes hediondos. 7. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2011.
STF. Disponível em: < href="http://www.stf.jus.br"
target="blank">http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 12 ago. 2014.
STF. Informativo de Jurisprudência n. 456 e 465.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 19


STJ. Verbete de Súmula n. 471. Disponível em: <
href="http://www.stj.jus.br" target="blank">http://www.stj.jus.br>.
Acesso em: 12 ago. 2014.
STJ. HC 83.799-MS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado
em 25/9/2007. Sexta Turma. Disponível em: <
href="http://www.stj.jus.br" target="blank">http://www.stj.jus.br>.
Acesso em: 12 ago. 2014.
ZAFFARONI, Eugenio Raul; BATISTA, Nilo; ALAGIA, Alejandro; SLOKAR,
Alejandro. Direito penal brasileiro. Rio de Janeiro: Revan, 2003.

Exercícios de fixação
Questão 1

Analise as assertivas abaixo:

I – Os crimes hediondos não admitem progressão de regime ou liberdade


provisória.

II – Aos condenados por crimes hediondos, praticados antes de 29 de março de


2007, a progressão de regime se dará com 1/6 da pena.

Considerando as disposições jurisprudenciais acerca das vedações contidas na


lei de crimes hediondos, é correto afirmar que:

a) As duas assertivas são falsas.

b) A assertiva I é verdadeira e a assertiva II é falsa.

c) Ambas as assertivas são verdadeiras.

d) A assertiva I é falsa e a assertiva II é verdadeira.

Questão 2

(Exame OAB/ Cespe-UnB / 2009.2.) Antônio, réu primário, sofreu condenação


já transitada em julgado pela prática do crime previsto no art. 273 do CP,

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 20


consistente na falsificação de produto destinado a fins terapêuticos, praticada
em janeiro de 2009. Em face dessa situação hipotética e com base na legislação
e na jurisprudência aplicáveis ao caso, assinale a opção correta:

a) Antônio cometeu crime hediondo e, portanto, não poderá progredir de


regime.

b) Antônio não cometeu crime hediondo e poderá progredir de regime de


pena privativa de liberdade após o cumprimento de um sexto da pena,
caso ostente bom comportamento carcerário comprovado pelo diretor do
estabelecimento prisional, mediante decisão fundamentada precedida de
manifestação do MP e do defensor.

c) Antônio cometeu crime hediondo, mas poderá progredir de regime de


pena privativa de liberdade após o cumprimento de um sexto da pena,
caso ostente bom comportamento carcerário comprovado pelo diretor do
estabelecimento prisional.

d) Antônio cometeu crime hediondo, de forma que só poderá progredir de


regime de pena privativa de liberdade após o cumprimento de dois
quintos da pena, caso atendidos os demais requisitos legais.

Questão 3

(34º Exame OAB/CESPE-UnB) Acerca dos crimes hediondos, assinale a opção


correta.

a) O rol dos crimes enumerados na Lei n. 8.072/1990 não é taxativo.

b) É possível o relaxamento da prisão por excesso de prazo.

c) O prazo da prisão temporária em caso de homicídio qualificado é igual ao


de um homicídio simples.

d) Em caso de sentença condenatória, o réu não poderá apelar em


liberdade, independentemente de fundamentação do juiz.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 21


Questão 4

(Secretaria de Estado de Administração Concurso Público para Delegado de


Polícia – 2010/FGV) De acordo com a Lei 8.072/90, assinale a alternativa que
não apresenta um crime considerado hediondo.

a) Latrocínio (art. 157, § 3o, in fine); extorsão qualificada pela morte (art.
158, § 2o) e envenenamento de água potável ou de substância
alimentícia ou medicinal (art. 270).

b) Epidemia resultando em morte (art. 267, § 1o); homicídio qualificado


(art. 121, § 2o, I, II, III, IV e V) e extorsão qualificada pela morte (art.
158, § 2o).

c) Latrocínio (art. 157, § 3o, in fine); epidemia resultando em morte (art.


267, § 1o); e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, IV e V).

d) Latrocínio (art. 157, § 3o, in fine); falsificação, corrupção, adulteração ou


alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art.
273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B); e homicídio qualificado (art. 121, §
2o, I, II, III, IV e V).

e) Latrocínio (art. 157, § 3o, in fine); epidemia resultando em morte (art.


267, § 1o); falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto
destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1o, §
1o-A e § 1o-B) e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, IV e V).

Questão 5

(36º Exame OAB/CESPE – UnB MODIFICADA) Assinale a opção correta com


base na legislação penal.

a) Pratica o crime de latrocínio o agente que subtrai uma bolsa mediante


violência à pessoa, em face da qual resulta morte da vítima.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 22


b) O agente que mata alguém, sob o domínio de violenta emoção, logo
após injusta provocação da vítima, está legalmente acobertado pela
excludente da legítima defesa.

c) Não pratica crime ou contravenção penal o agente que, no intuito de


provocar alarme, afirma, inveridicamente, que há uma bomba em
determinado prédio.

d) Pratica o crime de sequestro em concurso formal com furto o agente


que, no intuito de obter senha de cartão bancário, priva a vítima de
liberdade e, obtendo êxito, a liberta.

e) Pratica o crime de latrocínio o agente que subtrai uma bolsa mediante


violência à pessoa, em face da qual resulta morte da vítima e a
consumação da subtração da res furtiva.).

Questão 6

(Defensor Público DPE/SP -2009) Em relação ao crime de tortura, é possível


afirmar:

a) Passou a ser previsto como crime autônomo a partir da entrada em vigor


da Constituição Federal de 1988 que, no art. 5ºs, inciso III, afirma que
ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento desumano e
degradante e que a prática de tortura será considerada crime
inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.

b) É praticado por qualquer pessoa que causa constrangimento físico ou


mental à pessoa presa ou em medida de segurança, pelo uso de
instrumentos cortantes, perfurantes, queimantes ou que produzam
estresse, angústia, como prisão em cela escura, solitária, submissão a
regime de fome etc.

c) É cometido por quem constrange outrem, por meio de violência física,


com o fim de obter informação ou confissão da vítima ou de terceira
pessoa, desde que do emprego da violência resulte em lesão corporal.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 23


d) Os bens jurídicos protegidos pela tortura discriminatória são a dignidade
da pessoa humana, a igualdade, a liberdade política e de crença.

e) É praticado por quem se omite diante do dever de evitar a ocorrência ou


continuidade da ação ou de apurar a responsabilidade do torturador
pelas condutas de constrangimento ou submissão levadas a efeito
mediante violência ou grave ameaça.

Questão 7

(PC-RJ - 2008 - PC-RJ - Inspetor de Polícia) Em relação aos atos que podem
constituir crimes de tortura, assinale a afirmativa INCORRETA:

a) Constranger alguém com emprego de violência ou ameaça, causando-lhe


sofrimento físico com o fim de obter informação.

b) Constranger alguém com emprego de violência ou ameaça, causando-lhe


sofrimento físico para provocar ação ou omissão de natureza criminosa.

c) Constranger alguém com emprego de violência ou ameaça, causando-lhe


sofrimento físico em razão de discriminação racial ou religiosa.

d) Submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego


de violência ou ameaça, a intenso sofrimento mental, como forma de
aplicar castigo pessoal.

e) Constranger alguém sem emprego de violência nem ameaça, para que


faça algo que a lei não.

Questão 8

(FUMARC - 2011 - PM-MG - Oficial da Polícia Militar) A Lei de Tortura incorporou


entre seus fundamentos:

a) O aumento de pena para o delito praticado mediante sequestro da


vítima.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 24


b) A punição para o homicídio doloso praticado por meio da tortura.

c) Uma cláusula de aumento de pena para o delito derivado da


discriminação.

d) A penalização pelo crime de tortura do agente que se omite diante do


dever de evitar a conduta de outrem.

Questão 9

(TJ-SC - 2010 - TJ-SC – Juiz) Sobre a Lei de Tortura (Lei n. 9.455/1997),


assinale a alternativa correta:

I. O condenado por crime previsto na Lei de Tortura, sem exceções, iniciará o


cumprimento da pena em regime fechado.

II. Constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-


lhe sofrimento físico ou mental, em razão de discriminação sexual não constitui
crime de tortura.

III. É crime qualificado pelo resultado a tortura que gere na vítima lesão
corporal de natureza grave ou gravíssima.

IV. Não há crime de tortura previsto no Código Penal Militar, razão pela qual a
conduta típica de tortura por policial militar enseja a aplicação da Lei n.
9.455/1997.

a) Somente as proposições I, II e IV estão corretas.

b) Somente as proposições II, III e IV estão corretas.

c) Somente as proposições II e III estão corretas.

d) Somente as proposições III e IV estão corretas.

e) Todas as proposições estão corretas.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 25


Questão 10

César, oficial da Polícia Militar, está sendo processado pela prática do crime de
tortura, na condição de mandante, contra a vítima Ronaldo, policial militar.
César visava obter informações a respeito de uma arma que havia sido furtada
pela vítima.

Considerando a situação hipotética acima, assinale a opção correta de acordo


com a lei que define os crimes de tortura.

a) O tipo de tortura a que se refere a situação mencionada é a física, pois a


tortura psicológica e os sofrimentos mentais não estão incluídos na
disciplina da lei que define os crimes de tortura.

b) Se César for condenado, deve incidir uma causa de aumento pelo fato de
ele ser agente público.

c) Se César for condenado, a sentença deve declarar expressamente a


perda do cargo e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da
pena aplicada, pois esses efeitos não são automáticos.

d) A justiça competente para julgar o caso é a militar, pois trata-se de crime


cometido por militar contra militar.

e) O delito de tortura não admite a forma omissiva.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 26


Aula 1
Exercícios de fixação
Questão 1 - D
Justificativa: Artigo 2º da Lei 8072/90 e verbete 471 do STJ.

Questão 2 - D
Justificativa: O crime foi cometido após a entrada em vigor da Lei 11464/07.
Logo, o novo quantum para progressão será aplicado a ele.

Questão 3 - B
Justificativa: Em nenhum momento, a lei de crimes hediondos proibiu o
relaxamento da prisão ilegal. O que já foi vedada, tendo sido declarado
inconstitucional pelo STF, foi a liberdade provisória. Posteriormente, a Lei
11464/07 retirou a proibição de liberdade provisória do artigo 2º da Lei
8072/90.

Questão 4 - A
Justificativa: O artigo 270 não se encontra no rol de crimes hediondos.

Questão 5 - A
Justificativa: Trata-se da conduta descrita no artigo 157, par. 3º do CP,
considerado crime hediondo pelo rol da Lei 8072/90.

Questão 6 - E
Justificativa: Trata-se da conduta prevista no artigo 1º, par. 2º da Lei 9455/94.

Questão 7 - E
Justificativa: A conduta descreve o crime de constrangimento ilegal e não de
tortura.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 27


Questão 8 - D
Justificativa: Trata-se da conduta prevista no artigo 1º, par. 2º da Lei 9455/94.

Questão 9 - B
Justificativa: As assertivas II e III mencionam as condutas previstas ao longo
do artigo 1º da Lei 9455/97.
Quanto à assertiva IV, de fato não há previsão de tortura no CPM. Quando
praticado por militar, o crime será considerado comum.

Questão 10 - B
Justificativa: Trata-se de causa de aumento de pena prevista no artigo 1º,
parágrafo 4º da Lei 9455/97.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 28


Introdução
Nesta aula, serão estudados os fundamentos da adoção de um Sistema Penal
de Controle de Drogas, assim como será objeto de análise crítica a
constitucionalidade dos dispositivos constantes na Lei n.11343/2006.
Analisaremos ainda os principais tipos penais em espécie, a exemplo do tráfico
e da associação para o tráfico, além de abordarmos os critérios de distinção
entre a conduta do usuário e do traficante de drogas.

Objetivo:
1. Identificar as Políticas Criminais de Controle Social adotadas na Lei de
Drogas;
2. Avaliar os critérios de distinção entre as condutas de uso indevido e tráfico
ilícito de drogas e sua aplicação em caso de conflito de leis penais no tempo;
3. Identificar os pontos de inconstitucionalidade da Lei n.11343/06.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 29


Conteúdo

Disposições gerais
Com o advento da Lei n.11343/2006, foi criado o Sistema Nacional de Políticas
Públicas sobre Drogas – regulado pelo Dec. Lei n.5912/2006. Cabe salientar
que a Lei n.11343/2006 revogou expressamente a Lei n.6368/1976, vigente em
relação aos crimes e às penas, e a Lei n.10409/2002, que até então vigorava
em relação à parte processual da política nacional sobre drogas.

A partir da entrada em vigor da Lei n.11343/2006 e, em consonância com as


Modernas Políticas Criminais, o Brasil passou a tratar de forma diferenciada o
usuário e dependente da droga do traficante. Em relação ao usuário e
dependente da droga, foi adotada a Política Criminal de Redução de Danos, de
origem europeia e voltada à aplicação de uma Justiça Restaurativa.

Por outro lado, em relação ao tráfico de drogas, foi mantida a Política Criminal
adotada para a Lei de Crimes Hediondos, qual seja, Movimento da Lei e da
Ordem.

Conceito de drogas
Diferentemente da legislação anterior, na Lei n.11343/2006, o legislador optou
pela adoção da expressão “droga”, por ser mais abrangente que a expressão
anteriormente utilizada – substância entorpecente.

O legislador, face à sua incompetência para delimitar a abrangência da


expressão “droga”, utilizou-se da técnica da norma penal do mandato em
branco em seu artigo 66, deixando a cargo do Poder Executivo – Ministério da
Saúde, a incumbência da referida delimitação. Trata-se, pois, de norma penal
do mandato em branco heterogênea, pois norma a ser complementada e
norma complementadora emanam de fonte normativa distinta.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 30


A Lei n.11.343/2006 e o direito intertemporal
Um ponto a ser analisado no estudo dos crimes em espécie em relação à
revogação da Lei n.6368/1976 é o conflito de direito intertemporal face à
ocorrência de novatio legis in pejus em relação às figuras típicas do tráfico e
associação para fins de tráfico, bem como novatio legis incriminadora para as
figuras de financiamento do tráfico e informante.

Distinção entre as condutas de uso indevido de drogas e tráfico


ilícito de drogas
O legislador optou por não estabelecer critérios específicos para a tipificação,
deixando ao Estado-juiz a opção de, diante da análise de um conjunto de
fatores elencados pela Lei n.11343/2006, apreciar e tipificar a conduta do
agente.

Para tanto, o §2º, do art.28, da lei de drogas, expressamente apresenta


parâmetros a serem adotados pelo Estado-Juiz, tais como: natureza e
quantidade da substância apreendida, local e condições em que se desenvolveu
a ação, circunstâncias sociais e pessoais, bem como conduta e antecedentes do
agente.

Tráfico de drogas: figuras típicas e equiparadas


Análise da figura típica
O tráfico de drogas está tipificado no artigo 33, essencialmente em seu caput e
parágrafo primeiro. A figura típica do art.33, caput, configura-se como tipo
misto alternativo, sendo, assim, irrelevante se o agente pratica uma ou mais
das condutas previstas no tipo penal, pois será responsabilizado por uma única
conduta. Aquele que guarda e posteriormente vende, responde por um único
crime de tráfico.

As condutas de “ter em depósito” e “guardar” configuram-se como condutas


permanentes e, nesses casos, ainda que a conduta tenha se iniciado na

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 31


vigência da Lei n.6368/1976, quando o tráfico era punido com uma pena de
três a doze anos, sendo mais benéfica, esta não será aplicada e, sim, a Lei
n.11.343/2006, que prevê pena de cinco a quinze anos. Esta conclusão deriva
do disposto no Verbete de Súmula n.711, do Supremo Tribunal Federal.
Tratando-se de crime permanente, a lei mais gravosa será aplicada se a sua
entrada em vigor ocorre antes de cessada a permanência.

A constitucionalidade das vedações previstas às figuras


equiparadas a delitos hediondos
O art.44, da lei de drogas, estabeleceu uma série de restrições de natureza
penal e processual aos condenados pelos crimes previstos nos artigos 33, caput
e § 1o, e 34 a 37. Desde a entrada em vigor da referida lei, a doutrina e
jurisprudência têm questionado a constitucionalidade deste artigo. Cabe
destacar que o artigo 44 inclui, no tratamento gravoso e diferenciado, o crime
de associação para o tráfico, embora o STF e o STJ entendam que ele não é
equiparado a hediondo.

No que concerne à vedação à incidência das indulgências soberanas: graça e


anistia, o dispositivo legal replica o disposto no art.5º, inciso XLIII, da
Constituição da República de 1988. Assim, as controvérsias recaíram sobre a
vedação à concessão de liberdade provisória e à conversão em penas restritivas
de direitos.

A vedação à concessão de liberdade provisória em penas restritivas de


direitos

As controvérsias recaíram sobre a vedação à concessão de liberdade provisória


e à conversão em penas restritivas de direitos, questões que passaremos a
analisar:

a) Com relação à vedação à concessão de liberdade provisória, cabe salientar


que, com o advento da Lei n.11464/2007, a lei de crimes hediondos deixou
de prever tal vedação. Todavia, com a entrada em vigor da lei de drogas,

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 32


inicialmente chegou-se a cogitar da incidência do princípio da especialidade
de modo a afastar a aplicação da lei de crimes hediondos (neste sentido, se
manifestou o Supremo Tribunal Federal – HC n. 97820; HC n. 95169 e
Superior tribunal de Justiça – HC 83010). Posteriormente, depois de acirrada
discussão sobre o tema face à necessidade de adequação ao sistema
processual penal constitucional, segundo o qual a medida cautelar restritiva
deve ser vista como uma exceção, desde que preenchidos os requisitos no
art. 312, do Código de Processo Penal, sob pena de violação ao princípio da
presunção de inocência, os Tribunais Superiores passaram a interpretar o
disposto no art.44 da Lei n.11343/2006 de modo a estabelecer que caberia
ao Estado-juiz analisar, no caso concreto, a necessidade e utilidade da
medida restritiva. Neste sentido, vide Informativo de Jurisprudência n.665,
do Supremo Tribunal Federal, no qual o Plenário declarou incidentalmente a
inconstitucionalidade da expressão “e liberdade provisória”, constante no
referido dispositivo legal:
b) Com relação à vedação à conversão em penas restritivas de direitos, a
mesma também considerada inconstitucional face à interpretação extensiva
do princípio da individualização da pena. Dessa forma, caberá ao Estado-
Juiz, mediante a análise do caso concreto, determinar a possibilidade da
substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos. No
julgamento do HC 97256/RS, o STF considerou a inconstitucionalidade da
vedação. Posteriormente, a Resolução 05 do Senado estabeleceu a
suspensão da execução da expressão "vedada a conversão em penas
restritivas de direitos" do § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto
de 2006.

Tráfico privilegiado
Esta figura típica encontra-se prevista no §4º, do art.33, da Lei n.11343/2006
e, na verdade, configura-se como verdadeira causa de diminuição de pena, a
ser aplicada ao delito de tráfico quando o agente for primário, de bons
antecedentes, não integrar organização criminosa e não se dedicar a atividades

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 33


criminosas. Trata-se de novatio legis in mellius, uma vez que a referida causa
de diminuição de pena não estava prevista na Lei 6368/1976. Há
questionamento acerca de eventual afastamento da hediondez quando incidir a
causa de diminuição. O STF discute o tema no HC 118533/MS.

Atenção
Cabe salientar que é vedada a combinação de leis, logo no caso
de o agente ter consumado o delito de tráfico de drogas na
vigência da Lei n.6368/1976, cuja pena abstrata não excedia a 12
anos e, vindo a ser condenado na vigência da Lei n.11343/2006,
cuja pena abstrata máxima é de 15 anos e, encontrando-se nas
condições estabelecidas no §4º, do art.33, é vedado ao
magistrado aplicar o caput do art.12, da Lei n.6368/1976 com a
causa de diminuição de pena prevista §4º, do art.33 da lei nova.
Neste sentido, o julgamento do RE 600817 do STF e enunciado
501 da súmula do STJ.

Financiamento ou custeamento do tráfico ilícito de drogas e as


teorias adotadas acerca do concurso de pessoas
Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos
arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte)
anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-
multa.

Configura-se como novatio legis incriminadora, logo temos de tomar cuidado


em relação aos conflitos de leis penais no tempo e seus respectivos princípios
norteadores. Na vigência da lei anterior, esta conduta era tipificada como
incursa na própria figura típica do tráfico face ao disposto no art.29, caput, do
Código Penal, o que significa dizer que a lei nova rompeu com a teoria monista
do concurso de pessoas no caso do financiamento ou custeamento do tráfico de

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 34


drogas. O referido dispositivo legal tem por finalidade atingir o denominado
“autor de escritório”, ou seja, aquele que, a princípio, não realiza as condutas
previstas no art.33, da lei de drogas, mas, sim, ao agente que dá suporte
econômico-financeiro à atividade.

Atenção
Interessante situação ocorre nos casos em que o agente, além de
financiar, também pratica a conduta do tráfico; neste caso, será
responsabilizado pelo art.33, caput, c.c art.40, VII.

A figura do informante
Art.37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação
destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e §
1o, e 34 desta lei:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300


(trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa.

O dispositivo legal configura-se como novatio legis incriminadora e visa evitar o


fomento à atividade do tráfico. Na lei anterior, esse agente apresentava-se a
partir da participação de menor importância, prevista no §1º, do art.29, do
Código Penal sendo sua conduta incursa na figura do tráfico mediante um
menor juízo de culpabilidade.

Entretanto, a nova lei passou a tratar a conduta como tipo autônomo, para o
qual não há que se falar em permanência e estabilidade sob pena da conduta
ser tipificada como associação para fins de tráfico.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 35


Associação para fins de tráfico ilícito de drogas
1. A associação para fins de tráfico configura a figura típica especial em relação
ao artigo 288 do Código Penal, não sendo mais aplicada a pena prevista no
artigo 8º da Lei n.8072/1990 (lei de crimes hediondos), tendo sido esta a opção
de política criminal adotada quando da entrada em vigor da Lei n.11343/2006,
haja vista apresentar pena em abstrato mais gravosa do que a prevista para a
associação criminosa para a prática de crimes hediondos.

2. Questão interessante a ser analisada relaciona-se ao conflito de leis penais


no tempo, pois a conduta de associação para fins de tráfico, figura especial de
associação criminosa, caracteriza-se a partir da associação de, no mínimo, dois
agentes com animus de permanência para a prática do delito de tráfico ilícito
de drogas, ou seja, por tratar-se de delito permanente, ainda que a associação
tenha tido seu início na vigência da lei anterior, cujo entendimento dominante
era no sentido de que o art.14, da Lei n.6368/1976, havia sido tacitamente
derrogado pelo art.8º, da Lei n.8072/1990, aplica-se a lei nova, ainda que mais
gravosa consoante o entendimento sumulado pelo Enunciado n.711 do
Supremo Tribunal Federal.

3. Insta salientar ainda que, exceto no que concerne ao número mínimo de


agentes e ao fim de agir – prática de tráfico ilícito de drogas, o delito de
associação para fins de tráfico apresenta os mesmos requisitos (elementos) do
delito de associação criminosa, previsto no artigo 288 do Código Penal, sendo,
desta forma, possível o concurso material de crimes entre os delitos de
associação e os delitos de tráfico ilícito de drogas.

4. Sobre a incidência do concurso material de crimes e, portanto, cúmulo


material das penas do delito de associação para fins de tráfico e o delito de
tráfico ilícito de drogas, vide trecho de ementa proferida pela Quarta Câmara
Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 36


APELAÇÃO - Artigos 33 c/c 40, IV e 35, todos da Lei 11.343/06 a pena
total de 09 anos e 08 meses de reclusão e 1333 dias-multa, em regime
inicialmente fechado, sendo absolvido da imputação relativa ao delito
de corrupção de menores tipificada no art. 244-B da Lei 8.069/90,
com fulcro no art. 386, VII, do CPP. Apelante/apelado, com vontade livre e
consciente, trazia consigo e guardava, para fins de tráfico, 67g de material
pulverulento de cor branca consistente em substância entorpecente cocaína,
distribuídos em 74 embalagens de plástico, sem autorização e em desacordo
com determinação legal e regulamentar. Na mesma circunstância de tempo e
lugar, RODRIGO EMANUEL, com consciência e vontade, tinha a posse, portava
e transportava, uma pistola da marca Beretta, 9mm, modelo 92, com
numeração suprimida e doze munições de calibre 9mm, no carregador, todas
de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação
legal e regulamentar. Consta ainda na denúncia que o apelante/apelado, de
forma livre e consciente, associou-se com o adolescente D. e com outros
elementos ainda não identificados para o fim de praticar, reiteradamente
ou não, o crime previsto no artigo 33, caput da Lei 11.343/06, qual
seja, o tráfico ilícito de entorpecentes naquele local. Sem razão a
defesa: Impossível a absolvição: materialidade restou comprovada pelo laudo
de exame em entorpecente, que confirma ser cocaína a substância apreendida
bem como pelo laudo de exame em arma de fogo e munições. Já a autoria foi
demonstrada pelos depoimentos das testemunhas de acusação. As provas
coletadas, tanto em fase policial quanto judicial, demonstraram que a ora
apelante exercia o comércio ilícito de drogas. Verifica-se que os depoimentos
foram coerentes, firmes e seguros. Inquestionável, portanto, que os
depoimentos comprovam a materialidade e autoria do delito tipificado. Súmula
n° 70 do nosso ETJRJ. Nos crimes iniciados por auto de prisão em flagrante, a
palavra dos policiais revela grande força probante, somente podendo ser elidida
em hipótese de extrema contradição, suspeição ou colidência com o restante da
prova, o que não ocorreu no caso em comento. Ademais, no confronto entre os
depoimentos dos policiais e a versão completamente inverossímil apresentada
pelo apelante, que não produziu prova hábil a demonstrar a inocência, não

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 37


seria correto optar-se por esta tão somente porque aquelas são de policiais.
Ressalte-se que os fatos narrados nos autos corroboram para a crença de que a
droga era destinada para o tráfico. Deve-se atentar para a quantidade de
entorpecente (74 embalagens), a forma em que estava
acondicionado, aliada à apreensão de arma de fogo e munições, tudo
a caracterizar os delitos tipificados nos artigos 33 c/c 40, IV e 35,
todos da Lei 11.343/06. O tipo penal do art. 35 da Lei 11.343/06
exige para sua caracterização atuar mínimo de duas pessoas,
associadas com ânimo de permanência e estabilidade. Restou apurado
nos autos que o apelante estava associado a outras pessoas tendo sido preso
em local conhecido como "boca de fumo", local este em que era realizada a
mercancia de material entorpecente, estando todos previamente ajustados.
Registre-se que os informes recebidos foram efetivamente o ponto de partida
para a eficiente atuação policial, que culminou na apreensão do material
anteriormente descrito [...] Com a mesma fundamentação da sentença,
inexistindo circunstâncias judiciais negativas, fixo a pena base no mínimo legal,
em 01 ano de reclusão, pena essa que torno definitiva diante da ausência de
outras causas gerais ou especiais de diminuição ou aumento de pena. Fixo o
regime semiaberto, a teor do disposto no art. 33 do CP. Na forma do
art. 69 do CP, as penas são somadas, totalizando 10 anos e 08 meses
de reclusão e ao pagamento de 1333 dias-multa, no valor mínimo
legal. Mantidos os demais termos da sentença. PROVIMENTO DO RECURSO
MINISTERIAL e DESPROVIMENTO DO RECURSO DEFENSIVO. (TJRJ, Apelação
Criminal n. 0356237-90.2011.8.19.0001, Quarta Câmara Criminal, Rel. Des.
Gizelda Leitão Teixeira, julgado em 08/01/2013)

Atividade proposta
Analise as duas situações abaixo e tipifique as condutas descritas:
Situação 1: Agente encontra-se na praia e, ao paquerar uma garota que
nunca viu antes, oferece um “cigarrinho” como desculpa para “puxar assunto”.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 38


Situação 2: Se o agente, durante um final de semana romântico com sua
namorada, a oferece um “cigarrinho” como “gentileza” para consumirem juntos
na praia.

Chave de resposta: Na situação 01, a conduta deve ser tipificada no artigo


33, caput, crime equiparado a hediondo. Já na situação 02, podemos, em tese,
tipificar sua conduta como incursa na figura prevista no art.33,§3º.

Material complementar

Para saber mais sobre as causas de aumento de pena, previstas no


artigo 40 da Lei 11343/06, leia os textos disponíveis em nossa
biblioteca virtual.

Referências
GRECO FILHO, Vicente; RASSI, João Daniel. Lei de drogas anotada. São
Paulo: Saraiva, 2007.
INFORMATIVOS de Jurisprudência n. 433, 491, 512, 508, 533, 593, 594, 597,
665, do Supremo Tribunal Federal. Disponível em: <
href="http://www.stf.jus.br" http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 14
ago. 2014.
INFORMATIVOS de Jurisprudência n. 358, 360, 441, 509, do Superior Tribunal
de Justiça. Disponível em: < href="http://www.stf.jus.br"
http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 14 ago. 2014.

RESOLUÇÃO n. 5 de 2012 do Senado Federal.


SILVA, Francisca Charliane et al. Ketamina, da anestesia ao uso abusivo: artigo
de revisão. In: Revista Neurocien. UFC, v. 18, n. 2, p. 227-237, 2010.
SUPERIOR Tribunal de Justiça, HC 169454/ SP; HC 159084 / RS; HC 154599 /
PR; HC n. 90.380/ES, Rel. Min. Nilson Naves, julgado em 17/6/2008, HC

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 39


n.8354/RS Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 3/6/2008.
Disponível em: < href="http://www.stf.jus.br"
http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 14 ago. 2014.
SUPREMO Tribunal Federal, HC 97390/SP; HC 97256/RS; HC 96923/SP; HC
94802/RS, HC 92.719/ES; HC 93.254/SP; HC 94.248/SP; HC 95685/SP; HC
94442; HC 90445. Disponível em: < href="http://www.stf.jus.br"
http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 14 ago. 2014.
VERBETE de Súmula 711, do Supremo Tribunal Federal. Disponível em: <
href="http://www.stf.jus.br" http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 14
ago. 2014.

Exercícios de fixação
Questão 1

O oferecimento da substância entorpecente Cannabis sativa L. (popularmente


conhecida como maconha) a pessoa do relacionamento do agente, sem
objetivo de lucro e para consumo conjunto constitui o seguinte crime:

a) Posse de drogas sem autorização ou em desacordo com determinação


legal ou regulamentar para consumo pessoal (art. 28, da Lei
n.11343/2006), punido com penas de advertência, prestação de serviços
à comunidade e medida educativa de comparecimento a programa ou
curso educativo.

b) Conduta autônoma ao crime de tráfico de drogas (art. 33, §3º, da Lei


n.11343/2006) punido com pena de detenção, sem prejuízo das penas
de advertência, prestação de serviços à comunidade e medida educativa
de comparecimento a programa ou curso educativo.

c) Cultivo de plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de


substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica
para uso pessoal (art. 28, §1º, da Lei n.11343/2006) punido com penas
de advertência, prestação de serviços à comunidade e medida educativa
de comparecimento a programa ou curso educativo.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 40


d) Tráfico de drogas (art. 33, da Lei n.11343/2006), punido com pena de
reclusão de cinco e pagamento de multa.

e) e) Posse de drogas sem autorização ou em desacordo com


determinação legal ou regulamentar para consumo pessoal (art. 28, da
Lei n.11343/2006), punido com penas de detenção e multa.

Questão 2

Acerca das modificações penais e processuais penais introduzidas pela Lei


n.11343/2006 — Lei de Tóxicos — com relação à figura do usuário de drogas,
analise as assertivas a seguir:

I – A conduta do usuário foi descriminalizada;

II – O critério para definir a conduta do usuário é, essencialmente, a pureza da


droga apreendida;

III – A nova lei não prevê penas privativas de liberdade para o usuário.

É correto o que se afirma em:

a) Nenhuma das assertivas.

b) Nas assertivas I e II.

c) Nas assertivas II e III.

d) Apenas na assertiva III.

Questão 3

(Exame OAB/ Cespe-UnB – 2008.3) Com relação à legislação referente ao


combate às drogas, assinale a opção correta.

a) O agente que, para consumo pessoal, semeia plantas destinadas à


preparação de pequena quantidade de substância capaz de causar

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 41


dependência psíquica pode ser submetido à medida educativa de
comparecimento a programa ou curso educativo.

b) O agente que tiver em depósito, para consumo pessoal, drogas sem


autorização poderá ser submetido à pena de reclusão.

c) O agente que transportar, para consumo pessoal, drogas em desacordo


com determinação legal poderá ser submetido à pena de detenção.

d) O agente que entregar a consumo drogas, ainda que gratuitamente, em


desacordo com determinação legal, pode ser submetido à pena de
advertência sobre os efeitos das drogas.

Questão 4

Entre as penas previstas pela Lei n.11343/2006, para quem adquirir, guardar,
tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal,
drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, encontra-se a:

a) Prisão domiciliar

b) Advertência sobre os efeitos das drogas

c) Prisão civil

d) Prisão preventiva

e) Detenção de 6 meses a um ano e multa

Questão 5

A respeito do agente que traz consigo drogas sem autorização ou em


desacordo com determinação legal ou regulamentar, é correto afirmar que:

a) Será isento de pena se, em razão da dependência da droga, ao tempo da


ação não possuía plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 42


b) Incidirá causa de diminuição de pena se oferecer droga, eventualmente e
sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos
consumirem.

c) Se for para consumo pessoal, será submetido, entre outras, à pena de


prestação de serviços à comunidade, pelo prazo máximo inicial de cinco
meses.

d) De acordo com entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal de


Justiça, se for adolescente deverá obrigatoriamente receber medida
socioeducativa de internação.

Questão 6

(Tribunal de Justiça do Pará Concurso Público 200 - Juiz de Direito Substituto


de Carreira/FGV) A respeito da Lei n.11343/2006, assinale a afirmativa
incorreta:

a) Prevê a redução de pena de um sexto a um terço para os crimes


definidos no caput e no parágrafo primeiro do art. 33, quando o agente
for primário, de bons antecedentes e não se dedique às atividades
criminosas nem integre organização criminosa.

b) Tipifica em separado, no art. 37, a conduta de quem colabora, como


informante, com grupo criminoso destinado ao tráfico de drogas (art.
33).

c) Prevê o aumento de pena de um sexto a dois terços para o crime de


tráfico (art. 33) quando o agente financiar a prática do crime.

d) Criminaliza a conduta de quem conduz aeronave após o consumo de


drogas, expondo a dano potencial a incolumidade alheia, no art. 39.

e) Permite que o condenado por tráfico de drogas (art. 33) obtenha


livramento condicional após o cumprimento de dois terços da pena, se
não for reincidente específico.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 43


Questão 7

(EXAME OAB/CESPE-UNB 2009.3) Considere que Júlio, usuário de droga, tenha


oferecido, pela primeira vez, durante uma festa, a seu amigo Roberto, sem
intuito de lucro, pequena quantidade de maconha para consumirem juntos.
Nessa situação hipotética, Júlio:

a) Praticou tráfico ilícito de entorpecentes e, de acordo com a legislação em


vigor, a pena abstratamente cominada será a mesma do traficante
regular de drogas.

b) Deverá ser submetido à pena privativa de liberdade, diversa e mais


branda que a prevista abstratamente para o traficante de drogas.

c) Praticou conduta atípica, dada a descriminalização do uso de substância


entorpecente.

d) Praticou conduta típica, entretanto, como a lei em vigor despenalizou a


conduta, ele deve ser apenas submetido a admoestação verbal.

Questão 8

(FUNCAB - 2013 - PC-ES - Escrivão de Polícia) Cleverson, vulgarmente


conhecido como “Pão com Ovo”, antigo traficante de drogas ilícitas, continuou a
dar as ordens a sua quadrilha, mesmo estando encarcerado em um presídio de
segurança máxima. Logo, “Pão com Ovo”:

a) Deve responder como autor intelectual do crime de tráfico de drogas,


mesmo não praticando atos de execução deste crime.

b) Deve responder como partícipe por cumplicidade material do crime de


tráfico de drogas, em face de não praticar atos de execução deste crime.

c) Deve responder como autor direito do crime de tráfico de drogas,


mesmo não praticando atos de execução deste crime.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 44


d) Deve responder como partícipe por cumplicidade intelectual do crime de
tráfico de drogas, em face de não praticar atos de execução deste crime.

e) Não pode responder por crime algum, em face de estar preso.

Questão 9

João morava em uma comunidade onde havia comércio ilegal de cannabis


sativa, razão pela qual era constante a ação da polícia no local. “Dedinho”,
responsável pelo comércio ilegal de drogas na comunidade, objetivando não ser
incomodado em suas vendas, e buscando não perder a sua mercadoria,
contratou João para soltar rojões quando os policiais chegassem à entrada da
comunidade, o que se deu por muitas vezes. Assim, João:

a) Praticou o crime de associação para o tráfico de drogas ilícitas (artigo 35


da Lei n.11343/2006).

b) Praticou o crime de quadrilha ou bando (artigo 288 do CP).

c) Colaborou como informante do tráfico de drogas ilícitas (artigo 37 da Lei


n.11343/2006).

d) Deve responder como partícipe do tráfico de drogas ilícitas (artigo 33 da


Lei n.11343/2006).

e) Deve responder como coautor do tráfico de drogas ilícitas (artigo 33 da


Lei n.11343/2006).

Questão 10

De acordo com a Lei n.11343/06 (Repressão ao tráfico e uso de droga):

a) Nos casos de crime de tráfico de drogas, o agente poderá ter sua pena
reduzida se ficar demonstrado que é primário, com bons antecedentes e
que não se dedica às atividades criminosas e nem é membro de
organização criminosa.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 45


b) O instituto da delação premiada aplica-se somente aos agentes primários
e de bons antecedentes.

c) A demonstração pericial em Juízo da condição de usuário de substância


entorpecente impede o reconhecimento do crime de tráfico (art. 33).

d) O indiciado que planta, manuseia, prepara e depois vende maconha


(Cannabis sativa lineu) responde em concurso por cada uma das
condutas nucleares do tipo penal, pois elas são realizadas em momentos
distintos e plenamente identificáveis.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 46


Aula 2
Exercícios de fixação
Questão 1 - B
Justificativa: Artigo 33, parágrafo 3º da Lei 11343/06.

Questão 2 - D
Justificativa: Artigo 28 da Lei 11343/06.

Questão 3 - A
Justificativa: A Lei n.11343/06 passou a prever no artigo 28 a conduta de
plantio.

Questão 4 - B
Justificativa: Com o advento da Lei n.11343/06, passou a não mais existir pena
privativa de liberdade para a conduta do usuário. Entre as penas atualmente
previstas no artigo 28, está a advertência sobre os efeitos das drogas.

Questão 5 - C
Justificativa: A previsão se encontra no artigo 28 da Lei n.11343/06, que define
o tempo máximo inicial de cinco meses para a prestação de serviços à
comunidade.

Questão 6 - B
Justificativa: Neste aspecto, a Lei n.11343/06 quebrou a teoria monista. À
época da vigência da Lei n.6368/76, o informante era partícipe (geralmente de
menor importância) do crime de tráfico.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 47


Questão 7 - B
Justificativa: A conduta encontra previsão no artigo 33, parágrafo 3º, infração
penal de menor potencial ofensivo, que não é considerada como crime
hediondo.

Questão 8 - A
Justificativa: Consoante a adoção da teoria do domínio final do fato, o coautor é
aquele que possui poder de consumação e desistência sobre o crime, que pode
determinar “se” e “como” o crime vai ocorrer, sem necessidade de prática de
atos que consubstanciem um dos verbos núcleos do tipo.

Questão 9 - C
Justificativa: Neste aspecto, a Lei n.11343/06 quebrou a teoria monista. À
época da vigência da Lei n.6368/76, o informante era partícipe (geralmente de
menor importância) do crime de tráfico.

Questão 10 - A
Justificativa: Trata-se do denominado tráfico privilegiado, causa de diminuição
de pena prevista no parágrafo 4º do artigo 33.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 48


Introdução
Nesta aula, a partir do estudo das figuras típicas previstas na Lei nº
9.503/1997, será analisada a inserção de políticas criminais voltadas à proteção
da própria coletividade, de modo a prever tipos penais de perigo na condução
de veículo automotor. Para tanto, identificaremos o denominado Direito Penal
do Risco como delimitador da tipificação de determinadas condutas a partir do
incremento de um risco não permitido.

Desta forma, serão estudados os seguintes temas: crimes de perigo e crimes de


dano; crimes de perigo abstrato e sua recepção pela Constituição de 1988. A
Teoria do Risco e a Lei nº 9.503/1997, dogmática jurídico-penal e os crimes de
trânsito; a Lei nº 9.503/1997 – controle de constitucionalidade e alterações
legislativas; conflito de leis penais no tempo; princípios norteadores do Código
de Trânsito e a segurança viária; consectários penais: Lei nº 9.503/1997 e a Lei
nº 9.099/1995 – critérios de incidência.

Objetivo:
1. Reconhecer a inserção de políticas criminais voltadas à proteção da própria
coletividade e consequente adoção de tipos penais de perigo, assim como
analisar os pontos de destaque e controvertidos no CTB;
2. Coordenar os conflitos de Direito intertemporal relativos aos crimes de
trânsito, confrontando as condutas típicas mais importantes previstas na Lei nº
9.503/1997.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 49


Conteúdo

A Lei nº 9.503/1997 – Código de Trânsito Brasileiro


Em 1986 o sociólogo Ulrich Beck passa a desenvolver a concepção de uma
sociedade de risco, baseada na organização socioprodutiva capitalista na
contemporaneidade. A expansão continuada de um “progresso técnico-
econômico” proveniente da “era industrial” trouxe consigo a produção de riscos
como um fenômeno social estrutural.

As novas tecnologias associadas ao manuseio dessas tecnologias pela


sociedade pode gerar, através de tomadas de decisões, riscos à produção de
resultados significativamente lesivos, seja sob o aspecto qualitativo e
quantitativo, como consequências inevitáveis que, em alguns casos, podem ou
não ser previstos ou prevenidos.

Neste contexto, o Controle Social Penal busca, dentre outras formas de controle
social, minimizar a sensação de insegurança decorrente da denominada
“sociedade de riscos”. Para tanto, utiliza-se de instrumentos de política criminal
com vistas à delimitação de riscos permitidos ou tolerados, tais como a
tipificação de condutas, até então, sancionadas na esfera administrativa.

Feitas essas breves observações, podemos reconhecer sua “adequação” ao


nosso ordenamento jurídico, como por exemplo, nos crimes ambientais,
cibernéticos, econômicos, consumeristas, bem como as técnicas legislativas
adotadas no Código de Trânsito Brasileiro e no Estatuto do Desarmamento –
temas que serão objeto de nosso estudo nesta e na próxima aula.

Atenção
O Código de Trânsito prevê crimes de dano e de perigo. Dentre
os crimes de perigo, alguns são de perigo concreto, por expressa
exigência típica, a exemplo dos arts. 309 e 310.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 50


Princípios norteadores do código de trânsito e segurança viária
Acrescido aos princípios norteadores e limitadores do Direito Penal, podemos
citar os princípios da proporcionalidade das penas e confiança como
norteadores da responsabilização e consequente individualização das sanções
penais constantes no CTB.

Princípio da proporcionalidade das penas


No que concerne ao princípio da proporcionalidade das penas, quando da
entrada em vigor da Lei nº 9.503/1997, muito se questionou sobre a
severidade das sanções previstas para os delitos de homicídio e lesão corporal
culposos em comparação às sanções previstas no Código Penal, todavia a partir
da aplicação da denominada “sociedade de riscos” e consequente validação da
existência de riscos permitidos e tolerados, torna-se adequado ao juízo de
reprovabilidade das condutas a incidência de sanções diferenciadas – mais
severas, nos casos do incremento de riscos não tolerados. Para tal análise,
basta a comparação das penas dos arts. 121 e 129 do Código Penal com os
arts. 302 e 303 do CTB

Princípio da confiança
Em relação ao princípio da confiança, este pode ser definido a partir da
confiança que os indivíduos possuem em relação à prática de condutas por
terceiros dentro dos limites estabelecidos pelo risco permitido ou tolerado, ou
seja, todo condutor de veículo automotor espera que o outro aja de acordo com
o seu dever objetivo de cuidado.

Tal princípio vem sendo utilizado, para fins de exclusão de responsabilidade


jurídico-penal nos crimes de trânsito, por exemplo, nas situações hipotéticas
nas quais o condutor de um veículo automotor, dentro da velocidade máxima
permitida para determinada via terrestre, não diminui sua velocidade próximo a
um cruzamento, haja vista encontrar-se na via preferencial.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 51


Caso o condutor de outro veículo, vindo da via secundária, não respeite a
preferência do condutor da via principal e, por conseguinte, haja a colisão entre
os veículos, o condutor que manteve sua velocidade, apesar de ter vislumbrado
um veículo no cruzamento, não poderá ser responsabilizado penalmente pelas
possíveis lesões causadas ao outro condutor, pois agiu em consonância com o
princípio da confiança.

Sobre o tema, vide decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul: Apelação Crime nº 70034563718. Terceira Câmara Criminal. Rel.: Odone
Sanguiné. Julgado em: 10.02.2011.

Questões controvertidas e de destaque


A relevância da distinção entre dolo eventual e culpa consciente para
os crimes de trânsito
Acrescido aos princípios norteadores e limitadores do Direito Penal, podemos
citar os princípios da proporcionalidade das penas e confiança como
norteadores da responsabilização e consequente individualização das sanções
penais constantes no CTB.

A concorrência de culpas nos crimes de trânsito


O Direito Penal não admite a compensação de culpas. Desta forma, caso dois
agentes, agindo culposamente, se envolvem em um acidente de trânsito,
ocasionando cada qual no outro condutor lesões corporais culposas, cada um
dos envolvidos responderá pelo art. 303 do CTB, considerando que houve
concorrência de culpas e que elas não se compensam.

Concurso de crimes e conflito aparente de normas entre os crimes de


trânsito.
Importante destacar que, no caso da prática no mesmo contexto fático, dos
crimes de trânsito, previstos nos arts. 302 a 312 da Lei nº 9.503/1997, nem
sempre será admissível o concurso de crimes. No entanto, se o agente, por
exemplo praticar homicídio culposo, lesão corporal culposa e fraude, previstos

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 52


nos arts. 302, 303 e 312, responderá pelos três crimes, sendo nos demais
casos, via de regra, aplicável o princípio da consunção face à configuração de
verdadeiro conflito aparente de normas. Desta forma, o agente que atropela
alguém e mata, e qu não possui habilitação, responderá apenas pelo artigo
302, não havendo concurso de crimes com o artigo 309.

Atenção
Narrativa
Eduardo, após ingerir duas taças de vinho tinto e uma taça de
prosecco em uma festa de aniversário de um amigo, afirma à
sua namorada Letícia que se encontra em plenas condições de
conduzir seu carro para levá-la até sua casa, mesmo após a
insistência desta em conduzi-lo. Após dirigir por alguns metros,
Eduardo adormece ao volante vindo a colidir o veículo com outro
que se encontrava estacionado. Do fato, o pedestre Cláudio é
atropelado e falece no local.

Nesta situação hipotética, afastado o dolo eventual, há de se


analisar recente alteração legislativa sofrida pelo CTB, pela Lei
nº 12.971/2014 (publicada em 12.05.2014, com entrada em
vigor no primeiro dia do sexto mês após sua publicação), que
dentre suas onze alterações, acrescenta o §2º no art. 302,
passando a prever forma qualificada (que por ser novatio legis in
pejus, não retroage): se o agente conduz veículo automotor com
capacidade psicomotora alterada em razão da influência de
álcool ou de outra substância psicoativa que determine
dependência ou participa, em via, de corrida, disputa ou
competição automobilística ou ainda de exibição ou
demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não
autorizada pela autoridade competente.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 53


A Lei nº 9.503/1997 e os institutos despenalizadores da Lei nº
9.099/1995
O art. 291 da Lei nº 9.503/1997, expressamente dispõe que, no caso de lesões
corporais culposas, cuja pena máxima abstrata não excede a dois anos,
somente não poderá ser realizada a composição dos danos civis e a transação
penal, previstas respectivamente nos arts. 74 e 76 da Lei nº 9.099/1995, nos
casos em que estas tiveram por elemento propulsor a embriaguez ao volante, a
participação em competição não autorizada ou a condução do veículo em
velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h. Nestes casos
também não será aplicado o artigo 88 da Lei 9099/95. Ou seja, a lesão corporal
será de ação penal pública incondicionada.

Suspensão ou proibição da permissão/habilitação para conduzir


veículo automotor
O Código de Trânsito, ao tutelar a segurança viária, a vida e a integridade física
dos cidadãos, adotou como medida cautelar ou, em alguns delitos, como
penalidade principal, as medidas de suspensão da permissão ou habilitação, ou
proibição de sua obtenção, para dirigir veículo automotor.

Significa dizer que as referidas medidas, consoante o disposto nos arts. 292,
293 e 294, da Lei nº 9.503/1997, podem ser aplicadas desde a fase da
investigação até a aplicação de sanção penal, tendo, neste caso, duração pelo
período de 02 meses a cinco anos, de acordo com a pena privativa de liberdade
imposta na sentença condenatória.

Em relação à aplicação das medidas com caráter de penalidade principal,


constará sua aplicação no preceito secundário das respectivas figuras típicas e
dispõe o art. 293, sobre seu período de duração e forma de aplicação.
Sobre a possibilidade da aplicação cumulativa da medida com as penas
previstas nas figuras típicas, vide decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 54


Rio de Janeiro na Apelação nº 0001944-63.2010.8.19.0040, Des. Min. Sandra
Kayat Direito, julgamento: 15.01.2013 – 4ª Câmara Criminal.

No caso de réu reincidente na prática de crimes de trânsito a penalidade de


suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor será
aplicada cumulativamente com as demais sanções penais cabíveis, consoante o
disposto no art. 296.

1. Os delitos de trânsito e a substituição de penas privativas de


liberdade por restritivas de direitos.
A possibilidade de substituição das penas privativas de liberdade por
restritivas de direitos tem sido amplamente adotada pelos Tribunais de
Justiça e Superiores, pois prevalece o entendimento de que a exigência para
fins de substituição de pena prevista no art. 44, I, do Código Penal, de que
o crime não tenha sido praticado com violência ou grave ameaça à pessoa
somente se aplica aos crimes dolosos.

2. Prisão em flagrante delito no caso de acidentes com vítimas.


O art. 301 da Lei nº 9.503/1997 expressamente dispõe que o condutor de
veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte vítima, não se
imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e
integral socorro àquela.

3. O instituto do Perdão Judicial e os delitos de trânsito.


O perdão judicial, consoante o artigo 107 do Código Penal, extingue a
punibilidade apenas nos casos expressamente previstos em lei. No entanto,
o artigo 300 do CTB, que trazia a previsão, foi vetado. Com isso, surgiu
controvérsia quanto à possibilidade de aplicação do Instituto nos casos em
que a consequência do crime já atingisse o agende de forma tão grave que
a sanção penal se tornasse desnecessária, como por exemplo, hipótese do
pai que provoca culposamente a morte do filho em acidente de trânsito.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 55


Tem prevalecido o entendimento, na doutrina e jurisprudência, pela sua
aplicação, até pela análise das razões do veto do artigo 300, já que teria
sido vetado por ser entendido como desnecessário, já que o Código Penal já
trazia previsão nos artigos 121, parágrafo 5º e 129, parágrafo 8º. Os crimes
do CTB são crimes remetidos, podendo ser aplicados a eles os institutos
cabíveis aos crimes originais, previstos no Código Penal.

Nesse sentido, vide decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do Paraná em


sede de Apelação Criminal nº 4365568 PR 0436556-8, Primeira Câmara
Criminal, Rel. Des. Oto Luiz Sponholz, julgado em: 31.01.2008.

Homicídio culposo e lesões corporais na direção de veículo


automotor
Para a caracterização dos referidos delitos é indiferente se os mesmos tenham
sido praticados em via pública ou não, bastando para a incidência da Lei nº
9.503/1997 que haja a efetiva condução do veículo automotor. Isso porque a
Lei nº 9.503/1997 especifica os casos em que só haverá crime quando o agente
estiver em via pública, o que faz, à guisa de exemplo, no art. 309.

Considerações acerca das causas de aumento previstas no parágrafo único dos


arts. 302 e 303 da Lei nº 9.503/1997. As causas de aumento previstas no
parágrafo primeiro do art. 302, renumerado pela Lei nº 12.971/2014, aplicam-
se aos delitos de lesão corporal culposa na condução de veículo automotor,
consoante o disposto no art. 303, parágrafo único da Lei nº 9.503/1997.

Com relação às referidas causas de aumento, o Estado-Juiz, ao individualizar as


penas, deve confrontá-las com as circunstâncias agravantes previstas no art.
298, do CTB, bem como com algumas figuras típicas a fim de evitar a
ocorrência de bis in eadem. Analisemos algumas dessas causas de aumento. No
homicídio culposo e na lesão corporal culposa cometidos na direção de veículo
automotor, a pena é aumentada de um terço à metade, se o agente:

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 56


1. Não possuir Permissão para dirigir ou Carteira de Habilitação
Neste caso, será caracterizado o conflito aparente de normas com o delito
previsto no art. 309, sendo este absorvido pelos delitos de homicídio ou
lesão corporal culposos por tratar-se de delito de perigo.

2. Praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada


Aplicável somente aos delitos de homicídio culposo e na lesão corporal
culposa, não podendo ser cumulada com a circunstância agravante prevista
no art. 298, VII, sob pena de ocorrência de bis in idem.

Por outro lado, insta salientar que as circunstâncias agravantes previstas no


art. 298 são aplicáveis a todas as infrações penais de trânsito, desde que
não configurem causas especiais de aumento de pena como previsto no
parágrafo único dos arts. 302 e 303 da Lei nº 9.503/1997.

3. Deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco


pessoal, à vítima do acidente
Essa causa de aumento aplica-se somente ao condutor do veículo que tenha
causado culposamente o acidente com vítimas, sendo essa omissão dolosa.
Suponhamos uma situação hipotética na qual o condutor esteja
acompanhado em seu veículo e o carona, ainda que podendo fazê-lo, não
presta socorro à vítima do acidente. Nessa situação hipotética, o carona
somente poderá ter sua conduta incursa na figura típica do art. 135 do
Código Penal pela ausência da elementar do tipo “na condução de veículo
automotor”.

Ainda, nas situações fáticas em que haja, por exemplo, a colisão de vários
veículos, tais como os conhecidos “engavetamentos”, há de se tomar muito
cuidado ao identificar o condutor do veículo que deu causa (culposamente)
ao acidente com vítimas, pois aquele condutor que, embora envolvido no
acidente e que não tenha prestado socorro à(s) vítima(s), não tenha sido o

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 57


causador do acidente, terá sua conduta incursa na figura típica do art. 304,
da Lei nº 95.03/1997.

O referido dispositivo legal configura-se norma subsidiariamente


expressa conforme estabelece a parte final de seu preceito
secundário:
Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de
prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo
diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade
pública:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não
constituir elemento de crime mais grave.

4. No exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo


veículo de transporte de passageiros.
Essa causa de aumento visa exigir do condutor do veículo automotor o
respeito ao dever objetivo de cuidado no exercício de sua atividade
profissional ao tornar-se garante da integridade física e da própria vida
de terceiros. Dessa forma, o juízo de reprovabilidade que recai sobre sua
conduta é aferido de forma diferenciada.

Todavia, importante salientar que essa causa de aumento somente


incidirá nos casos em que o condutor do veículo estiver transportando
passageiros, ou seja, suponhamos, por exemplo, que o taxista, por
negligência, venha a causar um acidente com a produção de lesões
corporais em passageiros de outro veículo, neste caso, ainda que no
exercício de sua atividade profissional, não incidirá a causa de aumento
prevista no parágrafo primeiro do art. 302, podendo o Estado-Juiz, nos
limites de sua discricionariedade vinculada, utilizar a circunstância do
exercício da atividade profissional para fins de avaliação das
circunstâncias judiciais na fixação da pena-base.

Embriaguez ao volante
Desde a entrada em vigor da Lei nº 9.503/1997, a interpretação do delito de
embriaguez ao volante tem sido objeto de várias controvérsias de natureza
constitucional, bem como de alterações legislativas: as Leis nºs 11.705/2008 ,

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 58


12.760/2012 e 12.971/14. Passaremos à análise das principais controvérsias
sobre o tema e das questões referentes ao conflito de direito intertemporal.

Configura-se como delito de perigo com vistas à prevenção da ocorrência de


delitos de danos, tais como o homicídio e a lesão corporal, razão pela qual não
há que se falar em concurso de crimes entre os referidos delitos, mas sim em
conflito aparente de normas a ser solucionado pelo princípio da consunção.

No entanto, a Lei nº 12.971/2014 passa a prever forma qualificada do crime de


homicídio “se o agente conduz veículo automotor com capacidade psicomotora
alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que
determine dependência ou participa, em via, de corrida, disputa ou competição
automobilística ou ainda de exibição ou demonstração de perícia em manobra
de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente”.

A condução de veículo automotor sob a influência de álcool ou de outra


substância psicoativa que determine dependência caracteriza-se como conduta
dolosa, o que se questiona é se no momento em que o agente, voluntária e
conscientemente, conduz o veículo nessas condições, se ele estaria, além de
prevendo a possibilidade de produção de um resultado lesivo, assumindo o
risco de produzi-lo.

Em outras palavras, questiona-se se o resultado lesivo advindo da condução


sob a influência de álcool teria sido assumida ou não pelo condutor do veículo,
o que resultaria na tipificação das condutas no Código Penal ou no CTB.

Em 20 de dezembro de 2012 entra em vigor a Lei nº 12.760 que altera os arts.


165, 262, 276, 277 e 306 da Lei nº 9.503/1997, todos afetos à condução de
veículo automotor sob a influência de álcool ou substâncias de efeitos análogos
– o art. 306 continua a regular o crime de trânsito e os demais, as sanções de
natureza administrativa.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 59


Posteriormente, a Lei nº 12.971/2014 dá nova redação aos §§2º e 3º do art.
306.
Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora
alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância
psicoativa que determine dependência:
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou
proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
automotor.
§ 1o As condutas previstas no caput serão constatadas por:
I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro
de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de
ar alveolar; ou
II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração
da capacidade psicomotora.
§ 2o verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante
teste de alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo,
prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos,
observado o direito à contraprova.
§ 3o O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes
de alcoolemia ou toxicológicos para efeito de caracterização do crime
tipificado neste artigo. (NR)

A partir da premissa de que a constatação da embriaguez ao volante, com o


advento da Lei nº 12.760/2012 e 12.971/2014, poderá ser obtida mediante
teste de alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova
testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o
direito à contraprova, já se manifestou a Quinta Turma do Superior Tribunal de
Justiça neste sentido:
Ementa. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO (ART. 121, CAPUT, DO
CÓDIGO PENAL).
ATROPELAMENTO. EMBRIAGUEZ. LAUDO PERICIAL INCONCLUSIVO.
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. IMPOSSIBILIDADE. PROVA DA
MATERIALIDADE E INDÍCIOS DE AUTORIA. EXISTÊNCIA. ORDEM
DENEGADA.
[...] O estado de embriaguez, em conjunto com outras circunstância
(como o excesso de velocidade) foi utilizado na denúncia para
justificar a afirmação de que o paciente "assumiu o risco de produzir a
morte das vítimas". O fato do laudo pericial ser inconclusivo acerca da
embriaguez atribuída ao paciente não enseja, por si só, a interrupção
prematura da ação penal, mormente diante da prova da materialidade
do delito e dos indícios de autoria, necessários à deflagração e
processamento da ação penal.
3. Ademais, o Juízo de primeiro grau, em suas informações, faz
referência à existência de outras provas nos autos, colhidas tanto na
fase inquisitiva quanto na etapa judicial, que corroboram o estado de
embriaguez do paciente no momento do acidente que vitimou três
pessoas, as quais deverão ser valoradas no curso da ação penal. (STJ.
HC nº 219.396/SP Quinta Turma. Rel. Min. Jorge Mussi. Julgado em:
12.06.2012)

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 60


Importante destacar que, face ao princípio constitucional da vedação à
autoincriminação compulsória, não tendo o agente público lastro probatório
exigido nos §§1º e 2º do art. 306, acrescida à negativa do condutor do veículo
em realizar o teste de alcoolemia, deverá o condutor ser autuado pela infração
administrativa prevista no art. 165 de acordo com o disposto no art. 277, todos
da Lei nº 9.503/1997.

Atividade proposta
Leia o case e responda na sequência.
Haroldo, em 10 de março de 2009, por volta das 20h30, ao trafegar na BR 116,
sentido São Paulo, na condução do veículo Honda, placa MAL XXXX, ao efetuar
uma curva acentuada à esquerda, derrapou na pista devido à chuva forte,
perdeu o controle da direção de seu veículo, ingressou no acostamento da
estrada vindo a colidir de ré com um reboque, que havia sido acionado uma
hora antes a fim de auxiliar o condutor de um caminhão que passara pela
mesma situação de Haroldo, tendo, em decorrência, “quebrado”. Da colisão, o
condutor do caminhão, em pé ao lado do caminhão a ser rebocado, ficou
gravemente ferido. Ainda que socorrido em seguida, faleceu a caminho do
hospital. Dos fatos, Haroldo restou indiciado e denunciado pela conduta
prevista no tipo penal do art. 302 da Lei nº 9.503/1997.

Ante o exposto, analise sob o aspecto jurídico-penal a conduta de Haroldo, bem


como a tese defensiva apresentada para fins de exclusão da responsabilidade
penal, com base nos depoimentos, abaixo apresentados, extraídos das peças de
informações do Inquérito Policial. Segundo depoimento prestado em sede
policial por Haroldo, em trânsito de Curitiba para a capital Paulista, ocorreram
vários acidentes anteriores naquele dia, mesmo com farta sinalização, mas
havia chuva forte no momento do acidente. Ainda, declarou:

Na curva eu estava em velocidade normal da pista observado pelo


funcionário da concessionária, o carro aquaplanou e saiu rodando.
Bateu em ré num caminhão que já havia saído da pista na mesma
curva. Havia um pedestre motorista de um caminhão quebrado

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 61


algumas centenas de metros acima que caminhava pelo acostamento
e ficou prensado entre o carro e o caminhão. No choque ele teve o
braço esquerdo amputado.

Cabe salientar que, os presentes depoimentos acostados aos autos do IP (às


fls. X/X), comparados aos apresentados no Laudo da Polícia Rodoviária Federal,
(fls. Y/Y) indiciam claramente que a vítima encontrava-se, no momento da
colisão do veículo de Haroldo, em local inapropriado à pedestre, tendo sido,
inclusive, anteriormente alertado sobre o fato pelo condutor do reboque,
consoante depoimento abaixo transcrito:

Acionado o gp4 para um qru cod 14 no km 523 da nort. chegando no


local o mesmo tinha se deslocado por meios próprio até o km 518,500
da nort. No local foi pedido apoio para o usuário para se deslocar até
o posto real 500. Para aquisição de peça e fazer ligação para o dono
do caminhão. Dado o apoio entrei em deslocamento com o devido
usuário rumo ao posto 500, quando no km 511,300 norte me deparei
com um acidente, uma carreta em L na faixa de acostamento
esquerdo conforme determinação da concessionária parei para
sinalizar e orientei o usuário a permanecer no interior do gp04 após
sinalizado o mesmo desrespeitou a orientação e desceu do gp. 04
para fazer necessidades fisiológicas, feito tal necessidade o mesmo
voltou, dando as costas para a rodovia, neste tempo um veiculo de
passeio perdeu o controle na curva vindo a prensar o mesmo na
traseira da carreta que estava em L.

Chave de resposta: No caso concreto apresentado não há que se cogitar da


responsabilização jurídico-penal de Haroldo, de modo a se ensejar a absolvição
sumária consoante o disposto no art. 397, III, do Código de Processo Penal sob
os seguintes fundamentos:

• preliminarmente poderia ser alegada a ausência de conduta do condutor de


veículo, pois, consoante laudo da Polícia Rodoviária Federal, o mesmo, no
momento da perda do controle da direção do veículo, em decorrência da
situação da pista, dirigia seu veículo de forma cautelosa e, portanto, de
acordo com os riscos tolerados ou permitidos pela condução de veículo
automotor.
• sucessivamente poder-se-ia sustentar a culpa exclusiva da vítima consoante
depoimento do funcionário da concessionaria acostado ao laudo da Polícia

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 62


Rodoviária Federal, segundo o qual a vítima havia sido alertada no sentido
de que se encontrava em local inapropriado a pedestres.

Referências
BUSATO, Paulo César et al. Modernas tendências sobre o dolo em direito
penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
JESUS, Damásio E. Crimes de trânsito: anotações à parte criminal do
código de trânsito – Lei nº 9.503/1997. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. Parte geral. Parte
especial. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
SANTOS, Juarez. Direito penal: parte geral. Curitiba: ICPC; Lumen Juris,
2006.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Verbete de Súmula n. 720. Disponível em:
< href="http://www.stf.jus.br" http://www.stf.jus.br>.SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. ADI 3.897/DF. HC 93.916/PA. Disponíveis em:
href="http://www.stf.jus.br" <http://www.stf.jus.br>.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Resp nº 608078, RHC 20190/MS, RHC
13.485-SP, HC 45636/RJ, CC 93900/MG, REsp 970994/PR. Disponíveis
em: < href="http://www.stj.jus.br" http://www.stj.jus.br>.
______. HC 21442/SP; Quinta Turma. Rel. Min. Jorge Scartezzini. Julgado em:
07.11.2002.
______ HC 219396/SP. Quinta Turma, Rel. Min. Jorge Mussi. Julgado em:
12.06.2012.
______. REsp 608078, RHC 20190/MS, RHC 13.485-SP, HC 45636/RJ, CC
93900/MG, REsp 970994/PR. Disponíveis em: < href="http://www.stj.jus.br"
http://www.stj.jus.br>.
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL. Apelação Crime nº
70034563718. Terceira Câmara Crimina. Rel. Odone Sanguiné. Julgado em:
10.02.2011. Disponível em: < href="http://www. tjrs.jus.br" http://www.
tjrs.jus.br>.
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO. Apelação nº 0001944-
63.2010.8.19.0040. Quarta Câmara Criminal. Rel. Des. Min. Sandra kayat

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 63


Direito. Julgada em: 15.01.2013. Disponível em: <
href="http://www.tjrj.jus.br" http://www.tjrj.jus.br>.

Exercícios de fixação
Questão 1

Sobre os crimes de trânsito, previstos no Código de Trânsito Brasileiro, analise


as assertivas a seguir:

I – Aos crimes de homicídio culposo e lesão culposa praticados na direção de


veículo automotor, pode ser aplicado o perdão judicial.

II – o crime de homicídio culposo, previsto no CTB, exige que a conduta seja


praticada em via pública.

III - Admite-se indistintamente ao crime de lesão corporal culposa praticado na


condução de veículo automotor (art. 303) o benefício da transação penal, tendo
em vista a pena máxima cominada ser de 2 (dois) anos de detenção.

É correto o que se afirma:

a) Apenas na assertiva I.

b) Nas assertivas I e II.

c) Em todas as assertivas.

d) Nas assertivas II e III.

Questão 2

Com relação aos delitos previstos na Lei nº 9.503/1997, assinale a alternativa


correta:

a) Para que incida a Lei nº 9.503/1997 nas condutas de homicídio e lesão


corporal culposos e embriaguez ao volante não basta que tenham sido
praticados na condução de veículo automotor, pois é imprescindível que
a conduta tenha sido praticada em via pública.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 64


b) Para que incida a Lei nº 9.503/1997 nas condutas de homicídio e lesão
corporal culposos e embriaguez ao volante basta que tenham sido
praticados na condução de veículo automotor, pois é irrelevante que a
conduta tenha sido praticada em via pública ou particular.

c) Os crimes de homicídio e lesão corporal culposos na direção de veículo


automotor são considerados delitos de dano, ao passo que o delito de
embriaguez ao volante, é delito de perigo.

d) É possível a ocorrência de concurso de crimes entre os delitos de


homicídio culposo e embriaguez ao volante, pois, ambos, são delitos de
dano.

Questão 3

De modo a coibir a prática de infrações penais no trânsito, o legislador pátrio


editou o Código de Trânsito Brasileiro (Lei Ordinária nº 9.503/1997). Dado o
enunciado, aponte se as assertivas a seguir são verdadeiras (V) ou falsas (F).
Em seguida, assinale a alternativa cuja sequência esteja CORRETA:

( ) A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou


a habilitação, para dirigir veículo automotor, tem a duração de dois
meses a cinco anos.

( ) A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou


a habilitação para dirigir veículo automotor se inicia quando do início do
cumprimento da pena privativa de liberdade por parte do condenado.

( ) Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que


resulte vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá
fiança, se prestar pronto e integral socorro àquela.

( ) Constitui crime de trânsito o ato de permitir, confiar ou entregar a


direção de veículo automotor a pessoa não habilitada, com habilitação
cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a quem, por

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 65


seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não esteja
em condições de conduzi-lo com segurança.

Questão 4

O art. 291, § 1º, da Lei nº 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro), determina,


com relação ao crime de lesão corporal culposa de trânsito, a aplicação do
instituto da composição dos danos civis, do art. 74 da Lei nº 9.099/95.
Entretanto, tal benefício não será admitido se

I. as lesões causadas forem de natureza gravíssima;

II. o agente estiver sob influência de álcool ou qualquer outra substância


psicoativa que determine dependência;

III. o agente estiver transitando em velocidade superior à máxima permitida


para a via em 50 km/h (cinquenta quilômetros por hora).

a) I

b) II

c) III

d) I e II

e) II e III

Questão 5

A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir


veículo automotor, prevista no Código de Trânsito Brasileiro:

a) Poderá ser decretada pelo juiz como medida cautelar, de ofício, mesmo
antes de instaurada a ação penal.

b) Será objeto de decisão da qual cabe agravo de instrumento, sem efeito


suspensivo.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 66


c) Não pode ser imposta cumulativamente com outras penalidades.

d) Tem a duração mínima de 6 (seis) meses.

e) Poderá ser aplicada, a critério do juiz, se tratar-se de réu reincidente na


prática de crime previsto naquele Código.

Questão 6

Luiz, maior de idade, capaz, motorista habilitado, quando trafegava com seu
veículo em via pública, onde a velocidade máxima era de 40 km/h, atropelou
Rui, que estava em faixa de trânsito destinada à travessia de pedestres,
causando-lhe lesão corporal. Luiz, que, no momento do acidente, dirigia seu
veículo à velocidade de 95 km/h, prestou imediato socorro à vítima. CESPE -
2013 - DPE-RR - Defensor Público

Com referência à situação hipotética apresentada, assinale a opção correta


tendo em vista as disposições do CTB.

I. De acordo com o CTB, admite-se a compensação da agravante do excesso de


velocidade na via com a atenuante da prestação de imediato socorro à vítima.

II. Luiz será responsabilizado pelo delito de lesão corporal culposa, com a
incidência da causa de aumento de pena em razão de o fato ter ocorrido sobre
faixa de trânsito destinada à travessia de pedestres, e a ação penal será pública
incondicionada.

III. Nesse caso, de acordo com preceito expresso do CTB, Luiz praticou crime
de lesão corporal culposa e a sua responsabilização dependerá de
representação de Rui, vítima no acidente.

IV. No caso, o crime perpetrado por Luiz foi o de lesão corporal culposa com a
incidência das agravantes do excesso de velocidade na via e de o fato ter sido
praticado na faixa de pedestres, admitindo-se, no caso, a incidência da causa
de diminuição de pena por ter sido prestado socorro à vítima.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 67


V. Caso Luiz não prestasse socorro à vítima e, no mesmo momento e
circunstância, fugisse do local do acidente na tentativa de afastar a
responsabilidade, seriam consumados, em concurso material, o crime de lesão
corporal culposa, agravada pelo excesso de velocidade na via e por ter o fato
ocorrido na faixa de pedestres; o delito de omissão de socorro e a infração
penal de fuga.

a) Apenas a afirmativa I

b) Afirmativas II e III

c) Afirmativa IV

d) Afirmativa II

e) Afirmativa I e IV

Questão 7

No que concerne aos crimes de trânsito, assinale a opção correta:

a) O crime de participação em competição não autorizada previsto na Lei de


Trânsito exige, para a sua configuração, que a conduta dos participantes
ocorra em via pública.

b) A embriaguez ao volante é crime culposo, de ação penal pública


condicionada à representação.

c) O Código de Trânsito prevê apenas crimes de perigo abstrato. Neste


caso, não há necessidade de se comprovar que a conduta praticada
apresentou perigo concreto à coletividade.

d) Os crimes hediondos não comportam fiança, liberdade provisória,


relaxamento de prisão, graça ou indulto.

e) O agente que dirige veículo automotor sob influência de álcool, causando


a morte de pedestre, deverá responder por homicídio doloso

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 68


Questão 8

Considerando as disposições do Código de Trânsito Brasileiro, analise as


assertivas abaixo:

I. A embriaguez ao volante apenas se caracteriza por crime, não havendo


previsão de infração administrativa.

II. De acordo com a Lei nº 11.705/08, aplica-se aos crimes de trânsito de lesão
corporal culposa o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei nº 9.099/95, exceto em
algumas hipóteses, como por exemplo se o agente estiver transitando em
velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h (cinquenta
quilômetros por hora).

III. Na hipótese de condenação por homicídio culposo na direção de veículo


automotor, o autor do crime poderá ter a pena aumentada até o dobro se o
fato ocorrer na faixa de pedestres ou na calçada.

IV. Uma vez condenado o agente pela prática de homicídio culposo na direção
de veículo automotor, aculta-se ao magistrado incrementar a reprimenda com a
suspensão ou proibição da obtenção de permissão ou habilitação para dirigir.

V. A direção de veículo automotor, em via pública, sem a devida permissão


para dirigir ou habilitação, ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, é crime
punido com detenção, independentemente de gerar perigo de dano.

É correto o que se afirma apenas:

a) na assertiva II.

b) nas assertivas I e II.

c) nas assertivas I, II e III.

d) nas assertivas II, IV e V.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 69


Questão 9

João, ao trafegar de maneira imprudente na garagem de seu prédio e sem


verificar se havia alguém “circulando” na garagem, veio a atropelar e,
instantaneamente a matar Cecília (sua vizinha). João, após comunicar o
ocorrido ao marido de Cecília, apresentou-se à Delegacia Policial tendo sido
autuado nas penas previstas no artigo:

a) Art. 121, §3º do Código Penal haja vista o incidente ter ocorrido no
interior de seu prédio.

b) Art. 302, da Lei n. 9503/1997, pois, para sua configuração é irrelevante


se o homicídio ocorreu em via pública ou não.

c) Art. 121, caput, do Código Penal, pois João atuou com dolo eventual ao
manobrar sem olhar se alguém poderia estar “circulando” na garagem.

d) Art. 129, §3º, do Código Penal, por ter agido com dolo eventual em
relação ao delito de lesão corporal culposa sendo previsível o resultado
mais gravoso morte.

Questão 10

Na lesão corporal culposa na direção de veículo automotor, NÃO constitui causa


de aumento da pena, a ser considerada na terceira fase do cálculo, a
circunstância de o agente FCC - 2012 - MPE-AL - Promotor de Justiça

a) Não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação.

b) Praticá-la em faixa de pedestres ou na calçada.

c) Deixar de prestar socorro à vítima do acidente, quando possível fazê-lo


sem risco pessoal.

d) Utilizar veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou


características que afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de
acordo com os limites de velocidade prescritos nas especificações do
fabricante.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 70


e) estar conduzindo veículo de transporte de passageiros no exercício de
sua profissão ou atividade.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 71


Aula 3
Exercícios de fixação
Questão 1 - A
Justificativa: Os crimes dos artigos 302 e 303 são crimes remetidos. Os
institutos aplicáveis aos crimes originários, previstos no CP, também se aplicam
ao CTB. Dentre eles, o perdão judicial.

Questão 2 - C
Justificativa: O CTB prevê delitos de duas naturezas: de dano e de perigo.

Questão 3 - V, F, V, V
Justificativa: A questão em análise se refere à letra da lei, em relação aos arts.
293, 301 e 310 do CTB.

Questão 4 - E
Justificativa: Atual redação do art. 291, com alteração feita pela Lei nº
11.705/08.

Questão 5 - A
Justificativa: Artigo nº 294 do CTB.

Questão 6 - B
Justificativa: A conduta encontra tipificação no art. 302 do CTB, com incidência
da causa de aumento de pena prevista no parágrafo 1º, renumerado pela Lei
nº 12.971/2014.

Questão 7 - A
Justificativa: Alguns tipos penais fazem tal exigência, a exemplo dos arts. 308 e
309 do CTB.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 72


Questão 8 - A
Justificativa: Artigo 291 do CTB.

Questão 9 - B
Justificativa: O artigo 302 não exige que o delito seja praticado em via pública.

Questão 10 - D
Justificativa: O artigo 303 faz remissão à aplicação das causas de aumento de
pena do homicídio culposo, previstas em rol taxativo no parágrafo 1º do art.
302 do CTB.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 73


Introdução
Nesta aula, será realizada uma análise crítica das Políticas Criminais de Controle
adotadas pelo Estado Democrático de Direito e respectivos consectários de um
sistema penal voltado à proteção não só de direitos individuais, mas, também,
da própria coletividade, ao tipificar condutas que exponham os bens jurídicos a
perigo de lesão.

Para tanto, serão estudados os seguintes temas: os crimes de perigo abstrato e


sua recepção pela Constituição de 1988. Sociedade de Risco, Política Criminal e
a criação do Sistema Nacional de Armas. A ADI nº. 3.112/DF Dogmática
jurídico-penal: Crimes em espécie e a Lei nº.10.826/2003. Ainda, estudaremos
a filtragem constitucional e alterações legislativas ocorridas na Lei 10826/2003
e consectários conflitos de leis penais no tempo.

Objetivo:
1. Identificar os modelos de política criminal adotados para a tipificação de
condutas de perigo;
2. Avaliar as condutas típicas de posse irregular e porte ilegal de arma de fogo
de uso permitido; posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e
seus consectários penais e
processuais penais.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 74


Conteúdo

Considerações iniciais
Antes de analisarmos as figuras típicas constantes no Estatuto do
Desarmamento, imperioso identificarmos os critérios de política criminal
norteadores do referido estatuto. Podemos afirmar, prima facie, que o que se
busca é o desarmamento da população civil, em consonância com as
recomendações de Direito Internacional adotadas pela ONU e pela OEA em
diversas oportunidades, tais como o IX Congresso sobre Prevenção do Crime e
Justiça Criminal realizado em Viena, em maio de 1995, o qual o Brasil foi um
dos Estados participantes.

Significa dizer que a Comunidade Internacional tem buscado Políticas Públicas


com vistas à conscientização e sensibilização não só dos Poderes Públicos, mas,
principalmente, da sociedade civil, acerca da necessidade da realização de um
controle rígido sobre as armas de fogo e consequente desarmamento da
população civil.

As políticas públicas adotadas pela Lei nº. 9.437 de 20 de fevereiro de 1997 se


tornaram mais severas com o advento da Lei nº. 10826 de 22 de dezembro de
2003, cujo nomen juris adotado foi Estatuto do Desarmamento.

Por outro lado, não se pode olvidar que, para a efetividade da política pública
de desarmamento da população civil é imprescindível que tenhamos um
Sistema de Justiça Criminal, compreendido pela tríplice articulação entre polícia,
justiça e sistema penitenciário, tecnicamente capacitado – treinado, equipado e
bem remunerado.

Desta forma, pode-se afirmar que o espírito do estatuto é vedar o porte, só o


admitindo nas hipóteses expressas em seu artigo 6º, assim como em algumas
leis especiais.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 75


Atenção
Já no que tange à posse de arma de fogo, o Estatuto é um pouco
mais flexível, apenas permitindo ao possuidor que a arma seja
mantida em sua residência ou dependências desta, ou em seu
local de trabalho (apenas se for o titular ou responsável legal pelo
estabelecimento), devendo, para isso, serem cumpridos os
requisitos estabelecidos no artigo 4º do Estatuto.

Case relacionado
Uma casa em obras que servia como depósito para guardar
armamento pesado de uma quadrilha foi descoberta na Rua Corá,
no Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo, em 24 de maio de 2012.
No local, foram encontradas metralhadoras, granadas e
munições.

A Polícia Civil de São Bernardo do Campo, no ABC, recebeu a


denúncia de que a casa seria um ponto de distribuição de drogas.
Policiais foram ao local na madrugada desta quinta e aguardaram
que alguém chegasse ao local. Como ninguém apareceu, a polícia
arrombou a entrada e encontrou o armamento. No total, foram
apreendidos três espingardas, três revólveres, 25 carregadores,
13 granadas, 10 metralhadoras, 15 mil munições, coletes à prova
de bala e rádios comunicadores. O armamento estava escondido
em fundos falsos da obra.

Segundo o delegado responsável pelas investigações, Rafael


Rabinovich, as armas provavelmente seriam usadas para assaltos
a bancos e condomínios. A parte superior do imóvel poderia ser
usada como cativeiro para os reféns. A polícia investigava se a
quadrilha que mantinha o depósito seria a mesma que em abril
assaltou um condomínio na Zona Sul.
Fonte: G1

Análise do caso concreto: O caso acima retrata as condutas de


posse de armas de uso permitido e restrito, e que provavelmente
teriam ainda sido utilizadas como meio para a prática de outros
crimes, principalmente de cunho patrimonial. Com a análise do
Estatuto do Desarmamento, é possível verificar alguns
entendimentos jurisprudenciais, como a eventual posse em
conjunto de diversas armas. Embora prepondere o entendimento
de crime único, a diversidade na natureza das armas faria
preponderar o delito mais grave, no caso o artigo 16 do Estatuto.
No que tange aos crimes praticados, o entendimento
predominante vem sendo que se a conduta de portar a arma
ultrapassar os limites dos crimes em si, será possível o concurso,
a exemplo das condutas narradas no presente caso.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 76


Objetividade jurídica: imediata e mediata
No atual cenário sociopolítico e econômico de uma sociedade globalizada que,
cada vez mais, demanda o surgimento de novas formas de controle social e, no
que concerne, especificamente, às Ciências Criminais, novas formas de
criminalização, bem como a adoção de políticas criminais segundo as quais há o
crescimento da tipificação de condutas de perigo, o Estatuto do Desarmamento,
da mesma forma que a revogada Lei nº. 9437/1997, tutela de forma imediata a
incolumidade pública e que, portanto, expõem a perigo de lesão toda a
coletividade – número indeterminado de pessoas.

O que tem sido objeto de questionamento é a opção legislativa de tipificar


condutas de perigo abstrato ou presumido, tais como as que possuem como
objeto material acessórios ou munições. Outra questão a ser analisada é a
equiparação, feita pelo legislador, para fins de posse ou porte entre acessórios
e munições à própria arma de fogo: tal equiparação funda-se não na questão
acerca da potencialidade lesiva, mas, sim, na capacidade de pessoas dotadas
de expertise suficiente para o manuseio e utilização das armas de fogo.

A ADI nº. 3.112/DF. Controle de constitucionalidade


Na ADI nº. 3.112, requerida pelo Partido Trabalhista Brasileiro, em 13 de
janeiro de 2004, o Supremo Tribunal Federal, cujo relator foi o Min. Ricardo
Lewandowski, em 02 de maio de 2007, declarou a inconstitucionalidade dos
parágrafos únicos dos artigos 14 e 15 e do art. 21 da Lei nº. 10.826/2003.
Tal declaração de inconstitucionalidade foi arguida para fins de efetivação e
respeito de alguns princípios, tais como da dignidade da pessoa humana –
humanidade das penas, individualização das penas, proporcionalidade, entre
outros, haja vista o atual entendimento da Suprema Corte de que não é
possível ao legislador infraconstitucional vedar, de forma absoluta, a aplicação
de qualquer “direito subjetivo do réu e/ou benefício” protegido pelos princípios
limitadores, norteadores e garantidores de Direito Penal.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 77


Dessa forma, restou reconhecida a inconstitucionalidade das seguintes
disposições constantes no Estatuto do Desarmamento:

 A inafiançabilidade dos delitos de porte ilegal de arma de fogo de uso


permitido e disparo de arma de fogo, previstos nos art.14 e 15, da Lei nº.
10.826/2003.
 A vedação à concessão da liberdade provisória aos delitos de posse ou porte
ilegal de arma de fogo de uso restrito, comércio ilegal de arma de fogo e
tráfico internacional de arma de fogo, previstos nos art.16, 17 e 18 da Lei
nº. 10.826/2003.

Atenção
Sobre o tema, vide o Informativo de Jurisprudência nº. 465, do
Supremo Tribunal Federal.

Política Criminal e a criação do Sistema Nacional de Armas


O Dec. nº. 5.123 de, 1º de julho de 2004, ao regulamentar a Lei nº.
10.826/2003, dispôs sobre o registro, posse e comercialização de armas de
fogo e munição, bem como sobre o Sistema Nacional de Armas – SINARM.

Consoante o disposto no art.1º, do referido Decreto, O Sistema Nacional de


Armas - SINARM, instituído no Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia
Federal, com circunscrição em todo o território nacional e competência
estabelecida pelo caput e incisos do art.2º, do Estatuto do Desarmamento, tem
por finalidade: “manter o cadastro geral, integrado e permanente das armas de
fogo importadas, produzidas e vendidas no país, de competência do SINARM, e
o controle dos registros dessas armas”.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 78


Conceito de arma de fogo
“Considera-se arma de fogo o dispositivo que impele um ou vários projéteis de
um cano pela pressão de gases em expansão produzidos por uma carga
propelente em combustão” (Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas –
Diretoria do Fórum Ministro Henoch Reis, Depósito Judicial. Manual de
Armamento e Manuseio Seguro de Armas de Fogo, Manaus, 2012, p. 4).

Ainda, assevera o Tenente-Coronel Otaviano de Almeida Júnior, arma de fogo é


“o engenho mecânico que cumpre a função de lançar à distância com grande
velocidade corpos pesados, chamados projéteis, utilizando a energia explosiva
da pólvora” (ALMEIDA JÚNIOR, Otaviano de apud CAPEZ, Fernando. Curso de
Direito Penal. Legislação Penal Especial. v. 4. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010,
p. 377).

Atenção
Para que possamos diferenciar as figuras típicas de posse
irregular e porte ilegal de arma de fogo de uso permitido; posse
ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e seus
consectários penais e processuais penais, tais como a incidência
de conflito aparente de normas ou concurso de crimes em relação
às outras figuras típicas previstas no Código Penal ou na
Legislação Penal Especial, imperioso identificarmos a correta
distinção entre as referidas “classificações das armas de fogo”.

Distinção entre arma de fogo de uso proibido, restrito e permitido


Consoante o disposto nos art. 10 e 11, do nº. 5.123 de julho de 2004, arma de
fogo de uso permitido é aquela “cuja utilização é autorizada a pessoas físicas,
bem como a pessoas jurídicas, de acordo com as normas do Comando do
Exército e nas condições previstas na Lei nº. 10.826/2003, de 2003”.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 79


Por outro lado, arma de fogo de uso restrito é aquela “de uso exclusivo das
Forças Armadas, de instituições de segurança pública e de pessoas físicas e
jurídicas habilitadas, devidamente autorizadas pelo Comando do Exército, de
acordo com legislação específica.”

As figuras típicas
No que concerne às figuras típicas previstas na Lei nº. 10.826/2003,
analisaremos as questões controvertidas afetas aos art.12 a 16 e seu confronto
com a revogada Lei de Arma de Fogo – Lei nº. 9.437/1997.
Primeiramente, é importante perceber que os artigos 12 e 14 se referem à
arma de uso permitido, enquanto o artigo 16 tipifica a posse/porte de arma de
uso restrito. Com isso, teremos a seguinte divisão esquemática:

Posse irregular de arma de fogo de uso permitido – art.12, da Lei


nº. 10.826/2003
O referido dispositivo abarca tanto a posse irregular, ou seja, em desacordo
com determinação legal ou regulamentar, no interior ou dependência de
residência ou, ainda, no local de trabalho, nos casos em que o agente seja o
titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa.

Significa dizer que, mesmo que o proprietário de um estabelecimento comercial


localizado em um bairro com alto índice de crimes violentos contra o patrimônio

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 80


que não possua arma regularmente registrada não se encontra autorizado a
possui-la livremente no interior do estabelecimento sob pena de ter sua
conduta tipificada como incursa no art.12, da Lei nº. 10.826/2003.

Ao entrar em vigor, a Lei nº. 10.826/2003 revogou a antiga Lei nº. 9.437/1997.
No entanto, é preciso atentar para alguns detalhes. A princípio, sendo lei
maléfica em relação à maioria das condutas previstas, não poderá retroagir
para alcançar os fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor.

Ocorre que a entrada em vigor da Lei nº. 10.826/2003 não ocorreu para todos
os seus artigos em 23 de dezembro de 2003. O artigo 12, que dispõe acerca da
conduta de possuir, sem autorização legal, arma de fogo de uso permitido,
apenas entraria em vigor em cento e oitenta dias.

Inicialmente, o Estatuto do Desarmamento previu um prazo de 180 dias, a


serem contados do dia 23 de dezembro de 2003, para que os possuidores de
armas não registradas solicitassem o registro no órgão competente, desde que
apresentassem nota fiscal ou comprovassem a origem lícita da posse, ou ainda,
para que as entregassem à Polícia Federal, mediante indenização. Esse prazo
foi sucessivamente dilatado pelas Leis 10.884/2004, 11.118/2005, 11.191/2005,
11.706 e 11.922.

Essas leis alteraram os artigos 30 e 32 do Estatuto do Desarmamento,


renovando prazos para o registro ou entrega da arma de fogo. O prazo final
para registro se deu em 31/12/2009. Já no que tange à entrega, o artigo 32
não mais prevê prazo, dispondo que “Os possuidores e proprietários de arma
de fogo poderão entregá-la, espontaneamente, mediante recibo, e,
presumindo-se de boa-fé, serão indenizados, na forma do regulamento, ficando
extinta a punibilidade de eventual posse irregular da referida arma.”

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 81


Omissão de cautela – Art.13, da Lei nº. 10.826/2003
A figura típica prevista no referido artigo consuma-se no momento em que o
menor de 18 anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de
arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade, o que
significa dizer que o delito é material, ou seja, necessita da ocorrência do
resultado naturalístico que, neste caso, é a iminência de lesão decorrente do
apoderamento da arma de fogo, sendo, ainda, caracterizado como delito
culposo, especificamente na modalidade de negligência a partir da
interpretação da expressão “Deixar de observar as cautelas necessárias”
prevista no caput do referido dispositivo legal.

À conduta de omissão de cautela, em relação ao disposto na revogada lei de


arma de fogo, foi acrescida pelo Estatuto do Desarmamento, em seu parágrafo
único, a conduta referente ao proprietário ou diretor responsável de empresa
de segurança e transporte de valores que deixar de registrar ocorrência policial
e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de
extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda,
nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato.

Para fins de esclarecimentos sobre a referida figura típica, vejamos algumas


situações hipotéticas e seus consectários penais:
Situação 1: Manoel, proprietário de empresa de segurança que deixa de
comunicar à autoridade pública furto de munição de seu estabelecimento à
Polícia Federal, após o período de 24 horas de ocorrido o fato, terá sua conduta
tipificada na figura típica equiparada à omissão de cautela, prevista no
parágrafo único do art.13, da Lei nº. 10.826/2003.

Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido – art.14, da Lei nº.


10.826/2003
A figura típica prevista no art. 14 diferencia-se do disposto no art.12, pois,
enquanto no art.12 a figura contempla a posse irregular em residência ou

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 82


estabelecimento comercial do qual o agente seja titular ou responsável legal, a
figura prevista no art.14, ao estabelecer a conduta de “porte ilegal”,
caracterizada como tipo misto alternativo e diferencia-se daquele em razão do
local no qual o agente for encontrado com a posse irregular da arma de fogo de
uso permitido.

Insta salientar que a Lei nº. 10.826/2003, em relação ao disposto no art.10, da


revogada Lei nº. 9.437/1997 configura novatio legis incriminadora ao acrescer à
figura típica as munições e acessórios de arma de fogo como objetos materiais
do delito, sendo, portanto, aplicável, neste caso, o princípio da irretroatividade
da lei penal.

Ainda, a nova lei passou a cominar pena mais severa que a prevista na lei de
arma de fogo, bem como estabeleceu que o delito deveria ser considerado
inafiançável, o que, como vimos, foi objeto de declaração de
inconstitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal. No entanto, promoveu a
abolitio criminis do porte de arma de brinquedo, antes tipificado na Lei nº.
9.437/1997.

Atenção
Questão interessante versa sobre a controvérsia entre a
incidência do conflito aparente de normas ou concurso de crimes
entre a figura prevista no art.14, do Estatuto do Desarmamento,
quando esta estiver inserida no mesmo contexto fático de outro
delito que possa ser qualificado ou majorado pelo emprego de
arma de fogo.

Situações hipotéticas e consectários


Para fins de esclarecimentos acerca do conhecimento passado anteriormente,
vejamos as seguintes situações hipotéticas e consectários:

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 83


Situação 1
Febrônio, utilizando-se de arma de fogo de uso permitido, por volta das 21h de
um sábado, na esquina das ruas Maria Angélica e Barão da Torre, aborda
Renata vindo a subtrair-lhe a bolsa com todos os seus pertences.

A questão versa sobre a incidência da causa de aumento de pena por força do


concurso de crimes ou da ocorrência de verdadeiro conflito aparente de normas
a ser solucionado pelo princípio da consunção, ou seja, sobre a tipificação da
conduta de Febrônio como incursa no art. 157,§2°, inc.I c/c art.16 da Lei nº.
10.826/2003 em concurso de crimes.

Na verdade, a questão deve ser analisada com maior acuidade, pois,


dependendo do contexto fático, poderá incidir um outro instituto.
Na situação narrada, por exemplo, o porte ilegal de arma de fogo de uso
permitido pode ser considerado crime-meio para a realização da conduta de
roubo majorado pelo emprego de arma de fogo, pois encontra-se inserido no
contexto fático-temporal da conduta do agente.
Sobre o tema, vide trecho de decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do Rio
de Janeiro.

EMENTA. CRIME DE ROUBO QUALIFICADO POR CONCURSO DE AGENTES E


EMPREGO DE ARMA DE FOGO. PLEITO DE ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA
DE PROVAS, RECONHECIMENTO DE ATENUANTE E AFASTAMENTO DE
AGRAVANTE, CONCESSÃO DE LIBERDADE PROVISÓRIA E GRATUIDADE DE
JUSTIÇA. IMPOSSIBILIDADE. AUTORIA E MATERIALIDADE FARTAMENTE
DEMONSTRADAS. IMPORTÂNCIA DA PALAVRA DA VÍTIMA EM CRIMES
PATRIMONIAIS. EMPREGO DE ARMA DESMUNICIADA NÃO AFASTA A
INCIDÊNCIA DA MAJORANTE, DEVIDO A SEU INEGÁVEL PODER DE
INTIMIDAÇÃO. PENA-BASE FIXADA NO MÍNIMO LEGAL, NEUTRALIZANDO A
REDUÇÃO PELA CONFISSÃO ESPONTÂNEA. INCIDÊNCIA DE DUAS CAUSAS DE
AUMENTO DE PENA. DOSIMETRIA PENAL QUE MERECE PEQUENO REPARO
PARA REDUZIR A 3/8 A FRAÇÃO DE AUMENTO ANTES OPERADA EM 1/2.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 84


CORRETA A MANUTENÇÃO DA CAUTELA PRISIONAL. MISERABILIDADE
JURÍDICA É MATÉRIA A SER DIRIMIDA NO JUÍZO DE EXECUÇÃO.
PROVIMENTO PARCIAL.

[...] 3. O emprego de arma de fogo, ainda que esta se encontre desmuniciada,


não afasta a aplicação da majorante, pois ainda há resultado jurídico, traduzido
na ofensa concreta à integridade física da vítima. O que deve ser levado em
consideração é a perspectiva dos fatos a partir dos efeitos causados na vítima,
que, sem condições de saber se a arma estaria municiada ou não, entrega, da
mesma forma, os seus bens àquele que lhe aponta um revólver, portanto, a
discussão envolve o poder de intimidação da arma, e não a sua potencialidade
lesiva. [...] Parecer da Procuradoria de Justiça no sentido de prover
parcialmente o recurso. 9. Provimento parcial do apelo (TJRJ Apelação n.
2009.050.02108. Rel. DES. GUARACI DE CAMPOS VIANNA - Julgamento:
13/10/2009 - SEXTA CAMARA CRIMINAL).

Situação 2
Por outro lado, caso Febrônio fosse encontrado por policiais algumas horas
mais tarde, ainda na posse da res furtiva e da arma de fogo que utilizara para a
subtração, não haveria que se falar em consunção, mas em verdadeiro
concurso material de crimes entre os delitos de roubo - art. 157,§2°, inc. I, do
Código Penal e porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, previsto no art.
16 da Lei nº. 10.826/2003.

Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito


O Estatuto do Desarmamento tratou de forma autônoma as condutas de posse
ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito o que, na vigência da Lei de
Arma de Fogo, apresentava-se como qualificadora do disposto no art.10 da
referida lei que dispunha sobre os crimes e penas.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 85


Lei 9437/1997 Lei 10826/2003
Art. 10. Possuir, deter, portar, Art. 12. Possuir ou manter sob sua
fabricar, adquirir, vender, alugar, guarda arma de fogo, acessório ou
expor à venda ou fornecer, receber, munição, de uso permitido, em
ter em depósito, transportar, ceder, desacordo com determinação legal ou
ainda que gratuitamente, emprestar, regulamentar, no interior de sua
remeter, empregar, manter sob residência ou dependência desta, ou,
guarda e ocultar arma de fogo, de uso ainda no seu local de trabalho, desde
permitido, sem a autorização e em que seja o titular ou o responsável
desacordo com determinação legal ou legal do estabelecimento ou empresa:
regulamentar.
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três)
Pena - detenção de um a dois anos e anos, e multa
multa. [...]
[...]
Art. 16. Possuir, deter, portar,
§ 2° A pena é de reclusão de dois adquirir, fornecer, receber, ter em
anos a quatro anos e multa, na depósito, transportar, ceder, ainda que
hipótese deste artigo, sem prejuízo da gratuitamente, emprestar, remeter,
pena por eventual crime de empregar, manter sob sua guarda ou
contrabando ou descaminho, se a ocultar arma de fogo, acessório ou
arma de fogo ou acessórios forem de munição de uso proibido ou restrito,
uso proibido ou restrito. sem autorização e em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis)
anos, e multa.
[...]

Consoante o Estatuto do desarmamento, a regra é a vedação do porte de arma,


salvo nas hipóteses previstas em seu artigo 6º e em algumas hipóteses
previstas em leis especiais. No entanto, preenchidos os requisitos, ao contrário
do porte, a posse é permitida. Para possuir uma arma de fogo, ela deve ser

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 86


regularmente adquirida e registrada. A posse apenas pode se dar na residência
ou dependências desta, bem como no local de trabalho (apenas se o possuidor
for titular ou responsável legal pelo estabelecimento).

Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado deverá, além de


declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos: comprovação
de idoneidade, com a apresentação de certidões negativas de antecedentes
criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não
estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que poderão ser
fornecidas por meios eletrônicos; apresentação de documento comprobatório
de ocupação lícita e de residência certa e comprovação de capacidade técnica e
de aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestadas na forma
disposta no regulamento desta Lei.

A Lei 12933/14 aumentou o rol de pessoas autorizadas a portar arma de fogo,


estendendo a hipótese para que integrantes do quadro efetivo de agentes e
guardas prisionais possam portar arma de fogo de propriedade particular ou
fornecida pela respectiva corporação ou instituição, mesmo fora de serviço, em
algumas hipóteses. Trata-se da inclusão do parágrafo 1º. B no artigo 6º.

Narrativa
Pablo, parado em uma blitz – ação rotineira da polícia militar –, foi encontrado
portando arma de uso permitido com numeração, marca ou qualquer outro
sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado. Nesta situação
hipotética, sua conduta será tipificada como incursa na figura típica prevista no
art.16, parágrafo único, inciso IV, da Lei nº. 10.826/2003, pois neste dispositivo
as condutas de suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de
identificação de arma de fogo ou artefato e portar, possuir, adquirir, transportar
ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de
identificação raspado, suprimido ou adulterada foram tratadas de forma
autônoma.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 87


Na verdade, a conduta configura-se verdadeira transformação da arma de fogo
de uso permitido em arma de fogo de uso restrito. Insta salientar, entretanto,
que caso o agente que tenha raspado, suprimido ou adulterado numeração,
marca ou qualquer outro sinal de identificação da arma de fogo seja o mesmo a
portá-la, por exemplo, haverá conflito aparente de normas, sendo a primeira
conduta absorvida por esta.

Outra hipótese de equiparação é quando a arma de fogo é fornecida a criança


ou adolescente. Ainda que em sua essência, a arma seja de uso permitido, o
Estatuto a equiparou ao uso restrito. Sendo assim, quem entrega arma de fogo
a menor de 18 anos, dolosamente, responderá sempre pelo crime do artigo 16,
parágrafo único, Inciso V, que se aplica em detrimento do artigo 242 do
Estatuto da Criança e do Adolescente. Já se o menor se apoderar de arma de
fogo, em virtude de culpa do agente, o crime será de omissão de cautela
(artigo 13 do Estatuto do desarmamento).

Arma de brinquedo ou simulacro


Com o advento da Lei nº. 10.826/2003, o art. 26, vedou expressamente a
fabricação, a venda, a comercialização e a importação de brinquedos, réplicas e
simulacros de armas de fogo, que com estas se possam confundir. Dessa
forma, diferentemente do disposto na revogada Lei nº. 9.437/1997, art.10,§1º,
II, não há que se falar em crime de porte de arma a posse de arma de
brinquedo ou a utilização de qualquer outro instrumento simulador de arma de
fogo – simulacro.

Por outro lado, é cediço, na doutrina e jurisprudência, que não obstante o


simulacro não possua potencialidade lesiva por tratar-se de crime impossível,
resta caracterizada a sua potencialidade intimidatória, razão pela qual, quando
empregada para fins de subtração de coisa alheia móvel, caracterizará o
emprego de grave ameaça e, portanto, a figura típica do roubo simples,
previsto no art.157, caput do Código Penal. Por outro lado, não há que se
cogitar da majorante prevista no §2º, inciso I do citado dispositivo legal face à

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 88


absoluta ineficácia do objeto no que concerne à sua potencialidade lesiva,
tendo sido cancelado o antigo enunciado 174 da súmula do STJ.

Arma de fogo desmuniciada e adequação típica


Questão que também demanda análise cuidadosa é afeta à tipificação da
conduta do agente que for flagrado, por exemplo, portando arma de fogo
desmuniciada. A controvérsia tem por elemento propulsor a discussão acerca
da atipicidade da conduta face à ausência de potencialidade lesiva ou, ao
contrário, a sua tipificação em decorrência da presunção de perigo e proteção à
incolumidade pública. No sentido da possibilidade de tipificação da conduta, já
proferiu decisão o Supremo Tribunal Federal:

“A Turma iniciou julgamento de habeas corpus em que se discute a tipicidade,


ou não, do porte de arma desmuniciada. Trata-se, na espécie, de habeas
corpus impetrado em favor de condenado pela prática do crime previsto no art.
14 da Lei 10.826/03 — Estatuto do Desarmamento —, no qual se pretende a
nulidade da sentença condenatória, sob alegação de atipicidade da conduta, em
razão de a arma portada estar desmuniciada. A Min. Ellen Gracie, relatora,
denegou a ordem por entender que o tipo penal do art. 14 da mencionada lei
contempla crime de mera conduta, sendo suficiente a ação de portar
ilegalmente a arma de fogo, ainda que desmuniciada (Lei 10.826: “Art. 14
Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder,
ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou
ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização
e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:”). Aduziu que o fato
de o revólver estar desmuniciado não o desqualificaria como arma, tendo em
vista que a ofensividade deste artefato não está apenas na sua capacidade de
disparar projéteis, causando ferimentos graves ou mortes, mas também, na
grande maioria dos casos, no seu potencial de intimidação. Enfatizou que o
crime é de perigo abstrato, não tendo a lei exigido a efetiva exposição de
outrem a risco, sendo irrelevante a avaliação subsequente sobre a ocorrência
de perigo à coletividade (grifo nosso) Após, pediu vista dos autos o Min. Cezar

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 89


Peluso. HC 95073/MS, rel. Min. Ellen Gracie, 2.6.2009. (HC- 95073)”
Informativo de Jurisprudência n.549, do Supremo Tribunal Federal.

O julgado foi concluído e noticiado ainda no Informativo 699. No mesmo


sentido, HC 115046, também do STF. A conduta, que já foi bastante
controvertida no âmbito dos tribunais superiores, atualmente encontra
entendimento majoritário no sentido de que caracteriza crime o porte de arma
desmuniciada, tendo em vista o Estatuto do desarmamento prever crimes de
perigo abstrato.

Atividade proposta
Roberto Carlos, em 05 de maio de 2007, foi preso em flagrante delito em
conhecido local de tráfico de drogas, portando uma arma de fogo cartucho
calibre 357 devidamente municiado com 05 cartuchos de igual calibre (arma
apreendida) e por trazer consigo, para fins de comercialização, 09 "buchas" de
maconha, já embaladas, prontas para a venda, pesando aproximadamente
7,55g, droga, sem autorização e em desacordo com as determinações legais e
regulamentares, presentes na Portaria n. 344/98 SVS/MS (inclusos autos de
apreensão e laudo de constatação).

Do exposto, Roberto Carlos restou denunciado e condenado à pena privativa de


liberdade de 05 (cinco) anos e 10 (dez) meses de reclusão a ser cumprida,
inicialmente, em regime semiaberto, cumulada com pena pecuniária de 500
dias multa, à razão de 1/30 do salário mínimo vigente à época do fato o dia-
multa, como incurso nas sanções dos artigos 33, caput, da Lei n. 11.343/06
(fato I) e 16, caput, e parágrafo único, II, Lei n. 10.826/03, ambos n/f do 70,
do Código Penal (fl. 178/220).

Inconformados, apelaram, por petição, o Ministério Público (fl. 220) e a Defesa


(fl. 223). Sucintamente, seguem as teses defensiva e ministerial:
1. A defesa impugna, preliminarmente, com a capitulação constante da
denúncia, afirmando que os delitos de porte de arma de fogo e munição, no

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 90


contexto fático do tráfico de entorpecentes, devem ser considerados
absorvidos, ante os termos da Lei 11.343/06, sob pena de incidir bis is
idem.
2. De outro lado, sustenta a tese ministerial em síntese, a aplicação da
“majorante do emprego de arma” (art. 40, inc. IV, da Lei 11.343/06), o
reconhecimento do concurso formal impróprio, aplicando-se, assim, o
critério do cúmulo material.

Ante o exposto, analise o caso concreto apresentado e profira um parecer


acerca das referidas teses.

Chave de resposta: Para fins didáticos, analisaremos separadamente as duas


questões apresentadas:

1) No que concerne à tese defensiva, a mesma deve ser rejeitada, por


inequívoca falta de interesse recursal, haja vista o fato que a alegação de que
a majorante prevista no art. 40, inc. IV, da Lei 11.343/06 não foi reconhecida
pelo digno Julgador.
● Além disso, não incide, na espécie, um dos princípios que regulam a solução
do conflito aparente de normas, ou seja, o princípio da consunção. Com efeito,
no caso sub judice, embora o acusado estivesse portando arma de fogo, tal
fato não funcionou como fase de preparação ou de execução do delito de
tráfico de entorpecentes. Não há que se falar, dessa forma, s.m.j., em
absorção. Ocorreu bis in idem.
2) Com relação à tese ministerial, a mesma será rejeitada pelas razões abaixo
expostas:
● Quanto à “majorante do emprego de arma” (art. 40, inc. IV, da Lei
11.343/06), os Tribunais Superiores têm entendimento no sentido de que
“majorante só se justifica quando a arma servir ostensiva e efetivamente de
instrumento de intimidação para a prática dos delitos previstos nos art. 33 a 37,
do repressivo legal, não se configurando com o mero porte”.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 91


● Com relação ao concurso de crimes, mister salientar que, consoante
entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o porte ilegal de arma de fogo e
o de tráfico de entorpecentes são delitos completamente autônomos, sendo
que o primeiro “coloca em risco toda a paz social, bem jurídico a ser protegido
pelo artigo de lei ora em comento” (REsp 958075/RS, Relatora Ministra Jane
Silva. Desembargadora convocada do TJ/MG, Quinta Turma, julgado em
20/11/2007).

Material complementar

Para saber mais sobre as novas formas de violência leia o texto A


violência armada e seus impactos sobre a população civil:
um fardo necessário? Disponível em nossa biblioteca virtual.

Referências
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Legislação Penal Especial. 5. ed.
São Paulo: Saraiva, 2010. v. 4.
SUPERIOR Tribunal de Justiça, REsp 958075/RS, Relatora Ministra Jane Silva.
Desembargadora convocada do TJ/MG, Quinta Turma, julgado em 20/11/2007.
Disponível em: &lt; href='http://www.stj.jus.br' target='_blank'><font
color='#0000ff'>http://www.stj.jus.br&gt;. Acesso em: 25 ago. 2014.
_______ HC 116052/MG; REsp 1048211/RS; HC 109231/RS; RHC 22668/RS;
REsp 958075/RS. Disponível em: &lt; href='http://www.stj.jus.br'
target='_blank'><font color='#0000ff'>http://www.stj.jus.br&gt;.
Acesso em: 25 ago. 2014.
SUPREMO Tribunal Federal, Informativos de jurisprudência n.526, 549 e 550.
Disponível em: &lt; href='http://www.stf.jus.br' target='_blank'><font
color='#0000ff'>http://www.stf.jus.br&gt;. Acesso em: 25 ago. 2014.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 92


_______ HC 96922 /RS; HC 94213/MG. Disponível em: &lt;
href='http://www.stf.jus.br' target='_blank'><font
color='#0000ff'>http://www.stf.jus.br&gt;. Acesso em: 25 ago. 2014.
TRIBUNAL de Justiça do Estado do Amazonas – Diretoria do Fórum Ministro
Henoch Reis, Depósito Judicial. Manual de Armamento e Manuseio Seguro
de Armas de Fogo. Manaus, 2012.
TRIBUNAL de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Apelação criminal n.
2009.050.02108. Disponível em: &lt; href='http://www.tjrj.jus.br'
target='_blank'><font color='#0000ff'>http://www.tjrj.jus.br&gt;.
Acesso em: 25 ago. 2014.
TRIBUNAL de Justiça do Rio Grande do Sul Apelação criminal n 70022989115.
Disponível em: &lt; href='http://www.tjrs.jus.br' target='_blank'><font
color='#0000ff'>http://www.tjrs.jus.br&gt;. Acesso em: 25 ago. 2014.

Exercícios de fixação
Questão 1

Para adquirir arma de fogo de uso permitido, o interessado deverá, além de


declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos:

a) comprovação de idoneidade.

b) apresentação de certidões negativas de antecedentes criminais


fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não
estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que
poderão ser fornecidas por meios eletrônicos.

c) apresentação de documento comprobatório de ocupação lícita e de


residência certa.

d) comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o


manuseio de arma de fogo.

e) Todas as assertivas anteriores.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 93


Questão 2

No que se refere à Lei nº. 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento), analise as


assertivas abaixo:

I – O estatuto do desarmamento tipifica penalmente o fornecimento doloso de


arma de fogo a menores de 18 anos, sendo a conduta tipificada como posse ou
porte de arma de uso restrito.

II – O porte de arma será permitido, independentemente da função pública a


ser exercida, para o funcionário público que comprove aptidão técnica.

III – O registro de uma arma de fogo autoriza seu adquirente a portá-la.

É correto o que se afirma apenas:

a) na assertiva I.

b) nas assertivas II e III.

c) nas assertivas I, II e III.

d) nas assertivas I e III.

e) nas assertivas I e II.

Questão 3

Quanto ao crime de porte ilegal de arma de fogo, é correto afirmar:

I. Consoante entendimento majoritário dos Tribunais Superiores, é crime de


perigo concreto.

II. É imprescindível a demonstração de efetivo caráter ofensivo.

III. Tem como objetivo proteger a incolumidade pública.

IV. É um tipo penal preventivo, que busca minimizar o risco de


comportamentos que vem produzindo efeitos danosos à sociedade.

Indique a opção que contempla a(s) assertiva(s) correta(s).

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 94


a) I, II, III e IV

b) III e IV

c) Apenas a IV

d) Apenas a III

e) II e IV

Questão 4

Marque a alternativa correta. De acordo com a Lei nº. 10.826/2003, que dispõe
sobre o Estatuto do Desarmamento e suas alterações legislativas mais recentes,
tem direito de portar arma de fogo de propriedade particular ou fornecida pela
respectiva corporação ou instituição, mesmo fora de serviço, nos termos
regulamentares, com validade em âmbito nacional:

a) Os integrantes do quadro efetivo de agentes e guardas prisionais


poderão portar arma de fogo de propriedade particular ou fornecida pela
respectiva corporação ou instituição, mesmo fora de serviço, desde que
estejam nas condições exigidas pelo Estatuto.

b) Os integrantes das guardas municipais dos Municípios com mais de


50.000 (cinquenta mil) e menos de 500.000 (quinhentos mil) habitantes.

c) Os integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita Federal do Brasil.

d) Os integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais.

Questão 5

Considere as assertivas abaixo sobre os crimes definidos na Lei nº.


10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento).

I. O Estatuto do Desarmamento não faz distinção entre portar e possuir


ilegalmente arma de fogo de uso permitido, exceto no que tange à pena.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 95


II. O crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito é
classificado como de perigo abstrato.

III. O Estatuto do Desarmamento descriminalizou temporariamente a posse e o


porte irregulares de arma de fogo.

Quais são corretas?

a) Apenas a assertiva I.

b) As assertivas I, II e III.

c) As assertivas II e II.

d) Apenas a assertiva II.

e) Apenas a assertiva III

Questão 6

(FUNDEP. 2011. MPE/MG. PROMOTOR DE JUSTIÇA adaptado) Zé Carabina


possuía em sua casa um revólver calibre 38 registrado, embora não tivesse
autorização para portar arma de fogo. Certo dia, após efetuar a manutenção
(limpeza etc.) da arma e municiá-la com (05) cinco cartuchos, deixou-a sobre a
mesa da sala, local onde passaram a brincar seus filhos e alguns colegas, todos
menores, com idade média de 08 (oito) anos. O filho mais velho, de 09 (nove)
anos de idade, apoderou-se da arma e passou a apontá-la na direção dos
amigos, dizendo que era da polícia. Nesse momento, Zé Carabina ingressou na
sala, tomando a arma do filho e evitando o que poderia ser uma tragédia.
Considerando a hipótese narrada, é correto afirmar que Zé Carabina praticou:

a) O crime de perigo para a vida ou saúde de outrem, porém com a


atenuante do arrependimento eficaz.

b) O crime de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido.

c) Um crime omissivo próprio.

d) Um fato atípico.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 96


e) Um crime omissivo impróprio.

Questão 7

Com fundamento na Lei nº. 10.826/2003 e no entendimento do STJ a respeito


da matéria, assinale a opção correta.

a) Para a configuração do crime de porte ilegal de arma de fogo de uso


permitido, é necessária a comprovação pericial da potencialidade lesiva
da arma.

b) Segundo a jurisprudência do STJ, desde 2005, não é possível conceder o


benefício da extinção da punibilidade aos detentores de arma com
numeração raspada ou suprimida, mesmo que voluntariamente façam a
entrega do artefato.

c) Para a configuração do crime de posse ilegal de arma de fogo de uso


restrito, é suficiente o porte de arma de fogo com numeração raspada,
independentemente de ser a arma de uso restrito ou proibido.

d) É atípica a conduta de porte ilegal de munição de uso permitido, em


razão de ausência de ofensividade a bem jurídico tutelado.

e) Conforme jurisprudência sedimentada no STJ, a posse e o porte ilegal de


arma de fogo foram abarcados, temporariamente, pela abolitio criminis.

Questão 8

(FCC - 2013 - TJ-PE – Juiz) NÃO incorre nas mesmas penas cominadas para o
delito de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito quem:

a) Vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo,


acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente.

b) Suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação


de arma de fogo ou artefato.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 97


c) Possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário,
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar.

d) Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de


18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere
de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua
propriedade.

e) Produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de


qualquer forma, munição ou explosivo.

Questão 9

Assinale a opção correta tendo como referência o Estatuto do Desarmamento.

I. Um fazendeiro poderá pleitear à autoridade policial federal a aquisição e


registro de arma de fogo, desde que preencha determinados requisitos legais,
como contar com mais de vinte e um anos de idade, incorrendo na posse
irregular de arma de fogo o fazendeiro que, não cumprindo esses requisitos,
adquirir arma de fogo e mantê-la em sua propriedade rural.

II. Modificar as características de uma arma de fogo, de forma a torná-la


equivalente a arma de fogo de uso restrito, constitui, por equiparação, crime de
comércio irregular de arma de fogo.

III. O proprietário de arma de fogo legalmente registrada em seu nome deverá,


no prazo de vinte e quatro horas depois de ocorrido o fato, registrar ocorrência
policial e comunicar à Polícia Federal a sua perda, sob pena de responder por
crime de omissão de cautela, previsto na Lei nº. 10.826/2003.

IV. Aquele que exerce a função de frentista em posto de combustíveis durante


o período noturno e possui certificado de registro de arma de fogo da qual é o
legítimo proprietário pode, sem incorrer em crime, mantê-la em seu local de
trabalho, para defesa pessoal.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 98


V. São vedadas a fabricação, a venda, a comercialização de réplicas e
simulacros de armas de fogo que com estas se possam confundir, salvo as
réplicas e simulacros destinados à instrução, ao adestramento, ou à coleção de
usuário autorizado, nas condições fixadas pelo Comando do Exército, e os
brinquedos. Aquele que, sem autorização legal, proceder à fabricação de
simulacro de arma de fogo, que com esta possa se confundir, responde pelo
crime de comércio ilegal de arma de fogo.

a) Alternativa I está correta

b) Alternativa II está correta

c) Alternativa III está correta

d) Alternativa IV está correta

e) Alternativa V está correta

Questão 10

Sobre o disposto no Estatuto do Desarmamento, assinale a alternativa correta.

I. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas


adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta tenha
como finalidade a prática de outro crime, caracteriza a prática do delito de
disparo de arma de fogo.

II. Empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou


munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação
legal ou regulamentar, caracteriza a prática do delito de porte ilegal de arma de
fogo de uso permitido.

III. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional,


desde que a título oneroso, de arma de fogo, acessório ou munição, sem
autorização da autoridade competente, caracteriza a prática do delito de tráfico
internacional de arma de fogo.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 99


IV. Expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio,
no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou
munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, caracteriza a prática do delito de tráfico nacional de arma de
fogo.

a) Alternativa I está correta

b) Alternativa II está correta

c) Alternativa III está correta

d) Alternativa IV está correta

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 100


Aula 4
Exercícios de fixação
Questão 1 - E
Justificativa: Artigo 4º do Estatuto do desarmamento.

Questão 2 - A
Justificativa: Artigo 16 do Estatuto do desarmamento.

Questão 3 - B
Justificativa: Os crimes previstos são de perigo abstrato, visam a tutela da
incolumidade pública, buscando minimizar o risco de comportamentos que vem
produzindo efeitos danosos à sociedade.

Questão 4 - A
Justificativa: Artigo 6º, par. 1º B do Estatuto do desarmamento.

Questão 5 - D
Justificativa: Não se exige a efetiva comprovação de perigo.

Questão 6 - C
Justificativa: O artigo 13, ao descrever a omissão de cautela, prevê crime
omissivo próprio.

Questão 7 - C
Justificativa: O parágrafo único do artigo 16 traz condutas equiparadas ao porte
de arma de uso restrito, que independem da natureza da arma.

Questão 8 - D
Justificativa: A conduta descrita encontra previsão específica no artigo 13.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 101


Questão 9 - C
Justificativa: Artigo 7º, parágrafo 1º e 13º da Lei nº. 10.826/2003.

Questão 10 - B
Justificativa: As condutas descritas encontram previsão típica no artigo 12 do
Estatuto do Desarmamento.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 102


Cristiane Dupret Filipe é Mestranda em Direito Penal pela UERJ. Professora
da Escola da Magistratura do Estado do RJ (EMERJ) e da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). Autora de diversas obras jurídicas. Entre elas, Leis
Penais Especiais – Direito Penal Econômico, Manual de Direito Penal, da Editora
Impetus. Especialista em Direito Penal Econômico pela Universidade de
Coimbra.

Currículo Lattes: href="http://lattes.cnpq.br/1541884350707708"


http://lattes.cnpq.br/1541884350707708

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 103

Você também pode gostar