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INFILTRACAO POLICIAL NA INTERNET PARA REPRESSAO

DE CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL


INTRODUCAO
O presente trabalho tem como finalidade analisar a Lei 13.441, de 08 de
maio de 2017, a qual fez alterações significativas na Lei nº 8.069/90 Estatuto
da Criança e do Adolescente, para prever a infiltração de agentes de polícia na
internet com o fim de investigar crimes contra a dignidade sexual de criança e
de adolescente. A referida modalidade de investigação é um avanço expressivo
nas técnicas especiais de investigação criminal e foi instituída através da Lei
13.441/17.

A figura do agente infiltrado fisicamente no ambiente criminoso está


prevista e regulamentada através do artigo 53, I, da Lei 11.343/06, e também
no artigo 10 da Lei 12.850/13, mas a regulamentação dessa técnica especial
de investigação no meio cibernético com a infiltração de agentes é novidade
que, como conseqüência, acrescentou na Lei 8.069/90, ECA, os artigos 190-A
a 190-E.

Apesar de ter sido um avanço na modalidade de investigação,


nota-se, portanto, um ponto negativo na legislação quando o Legislador
estabelece prazo para o prosseguimento de investigação. A Lei 13.441/17
definiu prazo de até 90 dias, que não poderão exceder a 720 dias, obviamente
sempre mediante decisão judicial devidamente fundamentada no sentido de
haver a real necessidade para tal renovação.

A imposição de prazo para o término das investigações é totalmente


prejudicial, pois, interrompe de forma inconsequente e indesejada a operação
colocando as vítimas em situação de risco. Isso porque, é impossível que o
agente infiltrado para investigar uma organização criminosa, por exemplo,
possa prever um prazo certo para elucidação do caso, pois a investigação se
inicia com a obtenção da confiança de todos os criminosos envolvidos, e,
posteriormente inicia-se a coleta de provas.

FUNDAMENTOS E REQUISITOS LEGAIS PARA A INFILTRAÇÃO DE


AGENTES NA INTERNET

A nova Legislação, Lei 13.441/17 em seu artigo 190-A, incisos I e II,


regulamenta o procedimento investigativo que será precedido de autorização
judicial devidamente fundamentada, por meio de representação, estabelecendo
por obvio os limites da infiltração para obtenção de provas, sempre ouvindo
previamente o Ministério Público.
A aptidão intelectual dos agentes é requisito fundamental, não podendo
também deixar de verificar as questões técnicas e estruturais para realizar o
procedimento investigativo com sucesso.

A infiltração virtual  é um procedimento restrito que exige conhecimento


técnico específico do policial, domínio das ciências da computação, softwares,
e outros conhecimentos fundamentais para que a investigação possa ser
concluída com sucesso. Dessa forma, não havendo agentes com tais aptidões
esta não deverá acontecer, uma vez que dando prosseguimento sem base
técnica comprometerá a produção de provas, ficando prejudicado o direito de
punir (jus puniendi) do Estado.

A infiltração de agentes na internet somente poderá ser utilizada desse


meio de investigação quando houver esgotado todos os outros meios para
obtenção de provas disponíveis no meio policial, concluindo com isso que a
autoridade judiciária (Juiz) só deverá autorizar a medida quando estiver
comprovado o exaurimento de todas as outras modalidades investigativas
existentes no âmbito policial.

OBSERVANCIA AOS PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS NA INFILTRACAO


DE AGNTES

Sobre este tópico específico é importante destacar o que diz SOARES


(2015) sobre a observância dos princípios constitucionais:

Sendo o Brasil um Estado Democrático de Direito


para a criação e aplicação de leis deve-se observar os
preceitos trazidos pela nossa Carta Magna. Dessa forma, a
infiltração de agentes policiais deve, obrigatória e
necessariamente, observar os direitos e garantias
constantes da Constituição Federal. Ocorre que, por ser a
infiltração um meio de investigação para o colhimento de
provas, alguns direitos e garantias muitas vezes são
deixados de lado e violados para o cumprimento do
almejado objetivo. Assim, mister se faz, a análise das
possíveis violações a esses direitos e garantias quando da
sua aplicação (…). (SOARES, 2015, p. 14/15).

O princípio basilar constitucional do Direito Penal especificamente no


que se refere a infiltração de agentes policiais é o do devido processo legal,
no artigo 5º, LIV, CF.

O devido processo legal para que seja “legal” deve ser observado
direitos importantíssimos, como por exemplo, a obtenção de provas de forma
licita, e quando o tema é infiltração de agentes seja virtual ou fisicamente a
atenção deve ser redobrada pelo Estado-juiz, Ministério Público e não menos
importante pelo Delegado de Polícia o qual é responsável por representar no
sentido de se obter a modalidade para obtenção de prova.

Deste modo, para que futuramente as provas colhidas durante as


infiltrações possam ser usadas para o embasamento de uma ação penal com a
consequente condenação dos acusados, deve-se indubitavelmente ser
observado o devido processo legal.

PRINCIPIO DA LEGALIDADE OU DA RESERVA LEGAL

O Princípio da Legalidade ou Reserva Legal, encontra-se previsto no


artigo 5º, XXXIX da CF, ou seja, não pode existir crime sem lei anterior que o
defina, e menos ainda, pena sem prévia cominação legal.

Tanto a Lei 13.441/17 como a Lei 12.850/13, não traz nenhuma


espécie de limitação ao agente infiltrado, ficando sobre responsabilidade do
Juiz através de Decisão fundamentada delimitar os limites da investigação,
bem como da infiltração do agente na internet ou fisicamente no seio da
organização criminosa.

Acerca da responsabilidade do agente infiltrado, quando se ver


obrigado a praticar crimes em proveito da organização criminosa. Outrossim,
não tendo alternativa o agente policial e sua conduta ser configurada como fato
típico, antijurídico e culpável, ainda sim já é pacífico o entendimento nos
Tribunais Superiores que diante destas circunstancias o fato é atípico.

Dessa forma, não poderá ser punido o agente infiltrado com a


aplicação da lei penal que é comumente aplicada a todo cidadão, uma vez que
o agente policial enquanto infiltrado encontra-se em estado existencial anormal,
excepcional, devendo receber tratamento diferenciado, sendo amparado pelas
excludentes de ilicitude ou de não culpabilidade.

AMPLA DEFESA E CONTRADITORIO

O princípio constitucional da Ampla Defesa e do Contraditório é


inquestionavelmente requisito essencial de validade da relação processual,
uma vez que não observado acarretara prejuízos ao acusado, e que em
consequência configura-se nulidade absoluta do processo.

Como fica a aplicação de tal princípio na fase preliminar de


investigação (inquérito policial)? Majoritariamente entende-se que não é cabível
o contraditório, uma vez que o inquérito policial é procedimento policial
administrativo com fim específico de identificar a autoria e materialidade do
delito, reunir provas para servir de base para futura ação penal. Desta feita
restritamente no que diz respeito à infiltração de agentes seja fisicamente ou
virtualmente não é prudente dizer que está completa a aplicação do
mencionado preceito fundamental.
Conforme mencionado no dispositivo os autos serão instruídos com a
denúncia do Representante do Ministério Público, e que posteriormente estarão
disponíveis ao advogado do acusado, obviamente que sempre preservando a
identidade do agente que realizou a infiltração.

Conclui-se que é sim reservado ao investigado/acusado o seu acesso


aos autos de investigação preliminar, confirmando a garantia real ao exercício
do princípio constitucional da Ampla Defesa e do Contraditório, porém, é obvio
resguardando sempre a real identidade do policial agente infiltrado.

MOTIVACOES DAS DECISOES

O princípio constitucional da Motivação das Decisões pode-se assim


dizer que trata-se de umas das consequências do Devido Processo Legal
previsto no artigo 93, IX, da Constituição Federal.

A infiltração de agentes seja ela física ou virtual exige que tal medida
seja precedida de autorização judicial, ou seja, decisão do juiz fundamentando
a extrema necessidade da utilização subsidiaria de obtenção de provas
(infiltração). O artigo 10 caput, da Lei 12.850/13, traz a exigência de
fundamentação:

A Decisão que fundamentará a infiltração deverá apresentar quais são


os objetivos gerais almejados com tal atividade, obviamente que o Juiz não
poderá estipular limites específicos para tais condutas dos agentes, por ser
impossível precisar todas as condutas dentro dos limites legais que será
praticada pelos agentes, uma vez que inserido no seio da organização
criminosa seja fisicamente ou virtualmente na rede mundial de computadores
durante a infiltração certamente surgirão circunstâncias que não era esperada
pelo policial infiltrado e muito menos pelo Juiz.

Entretanto de longe isso não é requisito para que seja a Decisão


passível de nulidade, uma vez que tratando-se de atividade policial (infiltração
de agentes) é sensato sempre contar com fatos supervenientes desde que o
agente esteja sempre agindo dentro dos limites legais. Assim, é necessário
muita cautela ao interpretar mencionados limites impostos na Lei 12.850/13,
bem como 13.441/17 para não interpretá-los de forma pontual.

FLAGRANTE PREPARADO EM OPOSIÇÃO AO FLAGRANTE PROVOCADO


HIPÓTESE EVIDENTE DE CRIME IMPOSSÍVEL

A Infiltração de Agentes seja ela presencial ou virtual sempre existem


riscos de que o agente infiltrado exceda na sua incursão e com isso acaba
induzindo os investigados a praticarem infrações penais o que
consequentemente ensejará nas suas prisões em flagrante.

Levando em conta que se as investigações tomarem este rumo


estaríamos diante da hipótese latente de crime impossível previsto no artigo 17,
do Código Penal, consequentemente a prisão em flagrante é totalmente ilícita,
não podendo em hipótese alguma surtir qualquer efeito ao suposto “criminoso”,
sobe pena de configurar constrangimento ilegal.

O entendimento já é batido doutrinariamente e consolidado na


jurisprudência, se não vejamos o que diz a Súmula 145, do STF:

“Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna


impossível a sua consumação”.

Seguindo o mesmo entendimento impecável de Castro (2017):

Não se admite que o agente provoque o investigado


a praticar delito e tome as providências para que não se
consume, criando o agente provocador um cenário de crime
impossível por ineficácia absoluta do meio empregado
(artigo 17 do CP e súmula 145 do STF), sendo insubsistente
eventual flagrante preparado (CASTRO, 2017).

O entendimento do autor reflete exatamente a doutrina e a


jurisprudência já consolidada no sentido de que se houver induzimento por
parte do agente infiltrado à prática de conduta que resulte em prisão em
flagrante, a hipótese é clara de crime impossível por força do denominado
nessa ocasião de agente provocador, sendo obviamente inexistente o
flagrante.

Neto (2017), com maestria diferencia as hipóteses de flagrante


provocado e flagrante esperado, o primeiro sendo desvirtuado da infiltração e
ilegal, já a última modalidade é considerado válida pela melhor doutrina e
jurisprudência, vejamos os exemplos:

Portanto, se, por exemplo, o agente infiltrado


virtualmente induz outros à prática dos delitos em apuração
a fim de obter situação de flagrância, sua atuação é espúria
e inválida porque constitui flagrante provocado. Há, neste
caso, verdadeiro desvirtuamento da infiltração. O instituto
não se presta a provocar ações criminosas, a incentivar a
prática delitiva para simplesmente prender alguém, mas sim
a apurar crimes perpetrados mediante o discernimento livre
de seus autores (NETO, 2017).

Situação totalmente diversa, porém, é aquela em


que o agente infiltrado virtualmente obtém fotos, vídeos ou
outros materiais do investigado e descobre que ele os
armazena, informando seus superiores que, mediante as
providências devidas, o prendem em flagrante. Nessa
situação o autor da infração agiu por conta própria e o
agente infiltrado apenas descobriu suas condutas, o que é a
sua missão e a finalidade da infiltração virtual. Esse
flagrante é o que se denomina de “flagrante esperado”, o
qual é reconhecidamente válido, segundo a doutrina e a
jurisprudência (NETO, 2017).

Na rotina policial é bastante comum a figura do flagrante esperado ou


mesmo ação controlada, artigo 8, §1º, §2º, §3º e §4ª, e artigo 9º da lei
12.850/13 (Lei de Organizações Criminosas) sendo aquela em que a polícia
judiciaria através de investigação preliminar ou até mesmo informações
anônimas, consegue antecipadamente saber em que determinado local e
horário aquela determinada organização criminosa praticará algum delito, em
razão disto adota as medidas necessárias para efetuar a prisão em flagrante
dos supostos criminosos.

No flagrante esperado o agente policial apenas aguardar, retarda ou


espera o melhor momento para realizar a prisão, não havendo influencia
negativa em hipótese alguma no deslinde do delito, bem como na conduta do
agente do delito. Concluindo-se que não há nenhuma irregularidade muito
menos ilegalidade nesse flagrante realizado.

É irrefutável que não é a finalidade da infiltração virtual do agente


difundir praticas criminosas, influenciando pessoas a cometerem delitos, mas
evidentemente elucidar a real existência de praticas criminosas
especificamente contra crianças e adolescentes e possibilitar o ius puniendi do
Estado dos autores dos atos ilícitos, esses que escolhem livremente por ter
uma rotina criminosa.

2.1 Determinando a Extensão da Infiltração de Agentes na Internet

A infiltração de agentes segundo o direito comparado divide-se em


duas modalidades: Light Cover (infiltração leve), sendo a que se exige menos
empenho do agente, e Deep Cover (infiltração profunda), essa modalidade
exige total dedicação por parte do agente infiltrado, entrando no âmago da
organização criminosa, onde frequentemente é necessário o uso de identidade
falsa e matem isolamento total de sua família, havendo mudanças de
endereço, trata-se da modalidade de infiltração muito arriscada, uma vez que
em muitos dos casos o agente acaba cometendo ilícitos para não ter a sua
identidade real descoberta. As mencionadas espécies de infiltração de agentes
estão amparadas conforme artigo 10, § 3º, da Lei 12.850/13 (Lei de
Organizações Criminosas).

A modalidade subsidiária de investigação, leia-se: infiltração de


agentes já é de longa data regulamentada em nosso ordenamento jurídico,
conforme consta na Lei 12.850/13 e na Lei de Drogas 11.343/06. A nova
legislação, Lei 13/441/17 apenas criou e regulamentou uma modalidade restrita
de infiltração de agente virtual, qual seja, “infiltração virtual de agentes na rede
mundial de computadores”.

É muito importante que se faça uma diferenciação entre a infiltração


virtual daquela incursão do agente de polícia em canais (rede) aberta, ou seja,
comum a todos. Como já foi dito aqui a infiltração de agentes, neste caso, na
modalidade virtual é técnica especial e subsidiaria de investigação, assim o
agente inicialmente deverá manter em sigilo dados pessoais, conversas e
informações, mantendo assim preservados a privacidade das pessoas
(criminosos) que estão ali sendo investigados, devendo ser disponibilizado
esses dados apenas pelo agente infiltrado para fins de êxito das investigações.

Em se tratando de redes abertas será indiscutivelmente livre a atuação


policial sem ser necessário a oitiva prévia do Ministério Público e de Juiz
competente no sentido de investigar toda e qualquer infração penal praticada.

Seguindo sempre as lições de Castro (2017):

A inovação principal da infiltração policial eletrônica


não está na ocultação da identidade do policial nas redes
sociais, porquanto já podia ser feita licitamente para
investigar. A criação de perfil falso de usuário (fake)
continua sendo admitida sem autorização judicial para
coleta de dados em fontes abertas. Isso porque, para
interagir na internet, o usuário aceita abrir mão de grande
parte de sua privacidade. Logo, nada impede que o policial
crie usuário falso para colher informações públicas (pois
disponibilizadas voluntariamente) como fotos, mensagens,
endereço, nomes de amigos e familiares. Inexiste crime de
falsa identidade, porque o tipo penal demanda finalidade de
obtenção de vantagem ou causar dano.

Já quanto aos dados alocados na internet de forma


restrita, em que o usuário só aceita abrir mão de sua
intimidade em razão da confiança depositada no
interlocutor, a invasão ou obtenção furtiva das informações
pelo órgão investigativo só pode ser feita mediante
autorização judicial que permita a infiltração policial
eletrônica. Outrossim, a utilidade maior da infiltração policial
cibernética reside no uso de identidade fictícia para coletar
informações sigilosas (privadas, em relação às quais há
expectativa de privacidade) e na penetração em dispositivo
informático do criminoso a fim de angariar provas
(CASTRO, 2017).

Importante acrescentar que a Lei 13.441/17, “infiltração virtual” de


agentes será extremamente acessível para elucidar não apenas os crimes
constantes no novel legislativo supramencionado, como também para
quaisquer outros crimes que não seja possível investigar de outra forma se não
através da infiltração de agentes na internet para que assim possa identificar os
possíveis criminosos.

2.2 Limites e Responsabilização Penal na atuação do Agente


Infiltrado

O agente infiltrado durante as investigações não poderá cometer


ilícitos, más se estiver diante de uma situação onde a prática criminosa
vislumbra-se indispensável, como por exemplo, para provar que está disposto a
integrar a organização criminosa objeto das investigações na qual está
infiltrado, admite-se a possibilidade, escusando-se da responsabilização penal,
uma vez que estará amparado pelo instituto – estado de necessidade, previsto
no artigo 24 do Código Penal. Sendo admito a aplicabilidade deste instituto
somente em casos excepcionais.

Poderia ser questionar qual atividade esse agente infiltrado futuramente


desenvolverá no âmago de uma organização criminosa que tenha como
finalidade o tráfico internacional de entorpecentes.

Nesse sentido, Silva (2015):

Acreditamos que dificilmente o agente infiltrado terá


êxito em descobrir informações que levem ao tribunal os
culpados e desmontem a estrutura da organização
criminosa ora investigada, se ele não tiver uma proximidade
ou até mesmo vier a participar de algumas das ações ilegais
desenvolvidas pelas pessoas que compõem o grupo
criminoso visado (SILVA, 2015, p. 43/44).

A responsabilização penal do agente infiltrado é um tema polêmico e


bastante controverso. É complexo pelo fato de que ao inserir o agente no seio
de uma organização criminosa deve-se considerada a grande possibilidade de
este vir a cometer algum ato antijurídico. Por alguns fatores é relevante levar
isso em consideração, um deles é que o agente policial precisa ganhar
confiança da organização criminosa e para isso participará inevitavelmente de
atividades criminosas da organização, que só assim poderá identificar os
responsáveis pelas ações chegando até o “topo”.

A Lei de Organizações Criminosas, Lei 12.850/13, especificamente em


seu artigo 13 traz discriminadamente a responsabilidade penal do agente
policial infiltrado, como passa a transcrever:

“Art.13. O agente que não guardar, em sua atuação, a devida


proporcionalidade com a finalidade da investigação, responderá pelos
excessos praticados”. (grifo nosso).

Importante salientar que não será punido o agente infiltrado neste caso
objeto deste estudo no âmbito da rede mundial de computadores (Internet) a
prática de atos antijurídicos entendidos como crimes durante a incursão na
investigação, quando restar comprovado à inexigibilidade de conduta adversa
por parte do agente.

O agente policial infiltrado deverá sempre atuar de forma proporcional


visando o êxito da investigação, obviamente não respeitando o princípio da
proporcionalidade estará este atuando com excessos, e, a partir deste
momento estará sujeito a responder criminalmente por todos esses atos.
Durante muito tempo desde o surgimento da primeira legislação que
regulamentava o tema, Lei 9034/95 foi objeto de diversas discussões
doutrinarias no sentido de se encontrar algum meio para que o agente infiltrado
não fosse responsabilizado criminalmente durante a investigação.

Silva (2015), sobre o tema:

Várias fórmulas foram discutidas procurando afastar


a responsabilidade penal do agente enquanto atuando por
conta da infiltração junto a organização criminosa, a saber:
exclusão de culpabilidade por inexigibilidade de conduta
diversa, escusa absolutória, por razões de política criminal;
excludente de ilicitude do estrito cumprimento do dever
legal; atipicidade penal por ausência de imputação objetiva;
e atipicidade penal por ausência de tipicidade conglobante
(SILVA, 2015, p. 55).

A grande dificuldade diz respeito ao princípio da proporcionalidade,


uma vez que este deixa brechas quando se estamos falando na infiltração do
agente no âmbito de uma organização criminosa, seja fisicamente ou
virtualmente. Fica difícil mensurar se estaria o agente agindo em excesso ao
praticar um crime de homicídio quando não restaria alternativa ou estaria
amparado pela excludente de culpabilidade?

Da mesma forma o agente infiltrado virtualmente que se envolve com


um dos integrantes da organização criminosa e passa a cometer crimes
cibernéticos, uma vez que era a única alternativa para ganhar a confiança dos
integrantes da organização no intuito de identificar os principais agentes e
reunir provas, sua atuação estaria de acordo com a autorização judicial e, em
consequência estaria amparado pela mesma excludente já mencionada
anteriormente?

Entendo que em ambos os casos supramencionados estaria o agente


infiltrado amparado pelo instituto penal da excludente de culpabilidade,
quando restar comprovado conduta diversa.

3 O AGENTE INFILTRADO E O AGENTE PROVOCADOR

Quando o assunto é infiltração de agentes seja virtualmente (objeto


deste estudo) ou fisicamente, surge críticas das mais variadas e a que mais
ocorre é a de que o Estado usaria deste método especial de investigação para
dar azo a ocorrência de infrações penais. Com a devida vênia das posições em
contrário acredita-se que a finalidade de um Estado Democrático de Direito que
tem como pilar principal a proteção dos direitos e garantias fundamentais dos
cidadãos é sobretudo sempre prevenir e repreender o cometimento de ilícitos
penais.

Em profunda análise a cerca do tema, observa-se que existem grandes


diferenças entre a figura do agente infiltrado para o agente provador, tendo em
vista que suas consequências no que diz respeito ao campo de atuação são
um tanto quanto distintas.

Sobre o tema Almeida (2010) deixa claro a diferença e a finalidade de


ambos os agentes:

De um lado, tem-se a figura do agente infiltrado,


importante instrumento de combate ao crime organizado em
diversos países, antevisto em tratados internacionais de
motivação repressiva e, sem dúvidas, de significativa
pertinência à defesa da sociedade. De outro, o polêmico
agente provador, que nutre padrões de conduta que podem
levar ao fracasso de toda e qualquer medida a que estiver
vinculado, tornando inúteis esforços presumidamente
legítimos (ALMEIDA, 2010, p. 140).

Está mais do que transparente a diferença entres os “agentes” por


diversos fatores, enquanto o agente infiltrado atua revestido de legalidade, o
agente provador não, e, ainda fere princípios importantíssimos como o da
moralidade, que sendo imoral sua atitude, não poderá este ser amparado pelas
excludentes de culpabilidade ou mesmo ilicitude, por quanto age de forma
ilegal.

O agente infiltrado virtualmente age estritamente sob ordens e com a


devida autorização fundamentada pela autoridade competente, inicialmente
age de forma cautelosa a fim de ganhar confiança dos integrantes da
organização criminosa, e deve se considerar que isso demandará um certo
tempo por se tratar de uma infiltração virtual. Entretanto, o agente provador
apresenta uma atitude mais agressiva, que inevitavelmente da causa a ilícitos
penais, induzindo o investigado a dar informações que seja útil as
investigações.

Em resumo a intervenção do agente provocador e tão significativa ao


ponto de prejudicar toda a investigação, expondo as vítimas a extremo risco de
vida e em consequência ficando o Estado com a sensação de está com suas
estruturas engessadas diante de uma determinada organização criminosa. O
que não pode acontecer em hipótese alguma é o desvirtuamento do agente
infiltrado, que imprudentemente torna-se agente provador, transformando
aquela conduta que inicialmente era legitima, legal e moral em conduta
revestida de toda a ilegalidade.

Na possibilidade remota de se analisar uma possível causa atenuante


relevante na conduta do agente provador, resta comprovado o dolo em sua
atitude, por quanto tem a intenção em que o investigado cometa determinada
infração penal. Só o fato de o agente infiltrado instigar os integrantes da
organização criminosa a praticar crimes, mesmo que esses não chegue as vias
de se consumar, contamina todas as provas que consequentemente foram
colhidas.
Ao se debruçar sobre o assunto em estudo, Almeida (210),
precisamente conceitua a figura legalmente típica do nosso ordenamento
jurídico:

Para o autor, agente infiltrado pode ser definido


como o agente da autoridade ou cidadão particular atuando
para a Polícia que, sem revelar sua identidade, almeja obter
provas para a responsabilização criminal do suspeito ou a
informação de novos crimes, ganha-lhes a confiança e se
mantém informado acerca de todos os acontecimentos e,
eventualmente, acompanha a execução de crimes
(ALMEIDA, 210, p. 150).

Observa-se como são graves e irreparáveis as consequências


causadas pelo agente provador para toda a investigação policial. Afinal de
contas esse agente certamente responderá pela prática de crime provocado.

Assim, derradeiramente conclui-se que independentemente dos


diferentes conceitos encontrados, seja para agente infiltrado ou mesmo para a
figura do agente provador, esses em hipótese alguma podem ser motivos para
dificultar a atividade policial do agente infiltrado, tendo em vista que está
atividade é de extrema relevância no combate as organizações criminosas,
especificamente no que diz respeito a infiltração de agentes na internet no
combate aos crimes contra a dignidade de crianças e de adolescentes.

4 CONFLITO ENTRE A LEI 13.441/17 E A LEI 12.850/13 QUANTO A


FIXAÇÃO DE PRAZO PARA O TÉRMINO DAS INVESTIGAÇÕES

É de extrema importância que se faça uma comparação entre a Lei


13.441/17, objeto de estudo, com a Lei 12.850/13 (Lei de Organizações
Criminosas), sendo esta última ao final das investigações exigido relatório
detalhado que deverá ser apresentado ao juiz, que imediatamente comunicará
ao Ministério Público, conforme artigo 10 § 4ª, já a Lei que regulamentou
a infiltração de agentes na internet, não exige relatório, determina todo o
registro, gravação, da operação, devendo ser armazenados e entregues a
autoridade judicial (Juiz), bem como ao Ministério Público, tudo como objetivo
de preservar o resultado das investigações com a infiltração, identidade do
agente e a dignidade das crianças e dos adolescentes envolvidos.

Observa-se como andou bem o Legislador ao ter cautela quanto à


preservação dos dados da investigação (infiltração virtual), bem como as
identidades dos envolvidos, más com a devida vênia das posições em
contrário, caminhou muito mal o legislador quando estabeleceu prazo de 90
dias para a infiltração virtual de agentes, podendo haver renovações, más que
não exceda ao prazo de 720 dias, quando na verdade o legislador no momento
da elaboração do novel legislativo tivesse adotado o mesmo prazo que já
consta na Lei 12.850/13, ou seja, 6 (seis) meses para o término das
investigações e infiltração.
É negativo por uma série de fatores esse ponto da legislação no que
diz respeito principalmente ao determinar um “limite” bem inferior para o
término das investigações, expondo as vítimas a situações de extremo risco,
como também na colheita das provas, visto que o agente infiltrado demandara
certo tempo para adquirir a confiança do criminoso, encerrando as
investigações muitas das vezes precocemente e de forma drástica.

Veja-se que todos esses pontos negativos não existem na Lei


12.850/13, onde nesta o prazo para o término das investigações são de 6
meses, o legislador deveria ter adotado os mesmos métodos no momento da
elaboração do novel legislativo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante a elaboração deste trabalho foi amplamente fundamentado


que a infiltração de agentes é técnica subsidiária e modalidade especial de
investigação, chamado pela melhor doutrina de “última ratio”, além também de
ter sido mencionado em vários momentos sobre a importância de se
resguardar os direitos da vítima (criança e de adolescente) e dos investigados,
especificamente no que diz respeito a liberdade, privacidade (intimidade) e vida
privada.

O flagrante preparado em oposição ao flagrante esperado nesse


contexto da infiltração de agentes foi abordado em tópico específico, de modo
que quando a instigação ou mesmo induzimento por parte do agente infiltrado
na prática do crime deturpar a situação de flagrância, restara prejudicado o
elemento subjetivo do tipo penal que em consequência se configurara hipótese
de crime impossível. Foi objeto de análise também a legalidade e a extensão
da atuação do agente infiltrado, especialmente no que tange as organizações
criminosas no combate aos crimes praticados em face de crianças e de
adolescentes.

Quanto ao conflito legislativo no que diz respeito à fixação de prazo


para o término das investigações, deveria o legislador ter tido mais cautela no
momento da elaboração da Lei 13.441/17 para que assim não tivesse
estipulado prazo absurdamente exíguo e como se isso não fosse suficiente
para prejudicar as investigações, constata-se outra barbeiragem legislativa em
relação ao limite para renovações deste curtíssimo prazo. Veja como seria
mais sábio se o legislador tivesse usado como paradigma a Lei 12.850/13,
conforme artigo 10, § 3º, o prazo é de 6 meses sem prejuízo de novas
renovações, se evidentemente comprada sua necessidade.

O mundo cibernético assemelha-se ao um “Black Sea” (mar


negro), ambiente perfeito para a proliferação de praticas criminosas, expondo a
vida de crianças e de adolescentes, gerando lucros altíssimos para grupos
criminosos que usam a internet para promove a prostituição infantil, tráfico de
menores, venda de materiais pornográficos, entre outras atividades praticadas
por essas organizações criminosas especializadas.
É importantíssimo a utilização do agente infiltrado virtual como medida
excepcional de obtenção de provas no curso da investigação sendo a forma
mais eficiente de combate a prática de crimes graves contra vítimas menores
de idade, crianças (vulneráveis), promovendo assim um sentimento de
segurança jurídica e paz social tão vilipendiada diante das barbaridades que
constantemente vem ocorrendo contra a juventude brasileira.

Espera-se que a nova legislação possa representar efetividade


significativa no sentido de avançar na busca por dados pessoais, bancos de
dados, nas redes sociais e, em todos os meios disponíveis na rede mundial de
computadores para que se possa reunir informações de criminosos e
organizações criminosas que ainda não foram identificados(a).

Conclui-se que a nova modalidade “infiltração virtual” é espécie do


gênero “infiltração de agentes policiais”, sendo reguladas como já mencionado
em momento anterior pela Lei 11.343/06 (Lei de Drogas), e Lei 12.850/13 (Lei
de Organizações criminosas. O entendimento que prevalece é no sentido de
que a infiltração de agentes na modalidade virtual é amplamente aplicável além
dos crimes já previstos na Lei 13.441/17, como também quando for caso o da
investigação se tratar de organização criminosa ou mesmo no tráfico ilícitos de
entorpecentes, pois deve ser aplicável tratamento igualitário em todos os
casos, para que a lei penal possa realmente ser aplicada de forma efetiva e
eficiente.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Fernando Cezar Bourgogne, A INFILTRAÇÃO DE


AGENTES E A AÇÃO CONTROLADA COMO FORMAS DE REPRESSÃO AO
CRIME ORGANIZADO, 2010, 180 f. Monografia apresentada à banca
examinadora do Programa de Pós-Graduação stricto sensu da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção
do título de mestre em Direito das Relações Sociais, Subárea de Direito
Processual Penal.

CARTA CAPITAL. 2017. Disponível em:


http://justificando.cartacapital.com.br/2017/05/16/entenda-nova-lei-que-permite-
infiltracao-de-agentes-na-investigacao-criminal/. Acesso em: 07 de nov. 2017.

CASTRO, Henrique Hoffmann Monteiro de. Lei 13.441/17 instituiu a


infiltração policial virtual. Disponível em www.conjur.com.br, acesso em 28 de
nov. 2017.

Criminais), Dissertação apresentada à Faculdade de Direito da


Universidade de Coimbra no âmbito do 2º Ciclo de Estudos em Direito
(conducente ao grau de Mestre), na Área de Especialização em Ciências
Jurídico-Criminais.

ESDP. 2017. Disponível em: http://esdp.net.br/agente-infiltrado-virtual-


primeiras-impressoes-da-lei-13-4412017/. Acesso em: 07 de nov. 2017.
CONJUR. 2017. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2017-mai-
16/academia-policia-lei-1344117-instituiu-infiltracao-policial-virtual>. Acesso
em: 25 jul. 2017.

FRANCISCO SANNINI. 2017. Disponível em:


<https://franciscosannini.jusbrasil.com.br/artigos/456115145/infiltracao-virtual-
de-agentes-representa-avanco-nas-tecnicas-especiais-de-investigacao-
criminal?ref=topic_feed>. Acesso em: 26 de jul. 2017.

G1.GLOBO. 2017. Disponível em:


<http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/da-dark-web-a-pen-drives-engolidos-
como-a-pf-investiga-pornografia-infantil-na-internet.ghtml>. Acesso em: 07 de
agosto. 2017.

NETO, Francisco Sannini. Infiltração Virtual: alguns breves


apontamentos. Disponível em:
https://eduardocabette.jusbrasil.com.br/artigos/463448429/infiltracao-virtual-
alguns-breves-apontamentos-em-coautoria-com-francisco-sannini-neto/.
Acesso em 28 de nov. 2017.

SILVA, Luciano André. O AGENTE INFILTRADO: Estudo comparado


da legislação da Alemanha, Brasil e Portugal. 2015. 118 f. Dissertação
(Mestrado em Ciências Criminais), Dissertação apresentada à Faculdade de
Direito da Universidade de Coimbra no âmbito do 2º Ciclo de Estudos em
Direito (conducente ao grau de Mestre), na Área de Especialização em
Ciências Jurídico-Criminais.

ESDP. 2017. Disponível em: http://esdp.net.br/agente-infiltrado-virtual-


primeiras-impressoes-da-lei-13-4412017/. Acesso em: 07 de nov. 2017.

SOARES, Helena Frade, DA INFILTRAÇÃO POLICIAL EM


ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS: EVOLUÇÃO, ESPÉCIES E
CONSEQUÊNCIAS, Revista Eletrônica do Curso de Direito – PUC Minas Serro
– n. 12 – Agosto / Dez. 2015 – ISSN 2176-977X. Disponível em:
http://plcadvogados.com.br/wp-content/uploads/2017/01/Infiltrao.pdf. Acesso
em 29 de jan. 2018. 
Links da pesquisa

https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/456097974/a-infiltracao-
policial-na-internet-para-repressao-de-crimes-contra-a-dignidade-sexual

https://jus.com.br/artigos/65186/infiltracao-de-agentes-na-internet-no-combate-
aos-crimes-contra-a-dignidade-sexual-de-crianca-e-de-adolescente

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