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CURSO DE DIREITO DO TRABALHO P/ AFT


PROF. RICARDO RESENDE

TÓPICO 1. Princípios e fontes do Direito do Trabalho

1.2. FONTES DO DIREITO DO TRABALHO

Aula 02, Parte I

1.2.1. Conceito e classificação (Correspondência livro: tópico 2.1)1

Fontes do direito são a origem das normas jurídicas.

(FGV – 2023 – Magistratura do Trabalho – enunciado)


“O sentido da palavra fonte relaciona-se com aquilo que origina ou produz. No plano jurídico, o
estudo das fontes consiste em saber donde vem o Direito e donde dimana a juridicidade das
normas” (MATA-MACHADO, Edgar de Godoi da - Elementos de Teoria Geral do Direito - Belo
Horizonte: Ed. Vega, 1976, p. 213).

Classificam-se em - fontes materiais

- fontes formais

Fontes materiais: referem-se ao fato social que dá origem à criação jurídica (momento
pré-jurídico).

Fontes formais: constituem a exteriorização da norma jurídica → ato-regra (geral,


abstrato, impessoal e imperativo).

As fontes formais são classificadas em: - autônomas

- heterônomas

1
Em todos os tópicos estudados no curso será informado o tópico correspondente do meu livro, para que
o aluno que assim queira possa acompanhar o curso com o livro, e vice-versa. Naturalmente a utilização
do livro não é imprescindível.

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Fontes formais autônomas: produzidas pelos próprios destinatários da norma (ex.:


instrumento coletivo de trabalho).

Fontes formais heterônomas: produzidas por terceiro, não destinatário da norma


jurídica (ex.: lei).

Aula 02, Parte II

1.2.2. Fontes formais em espécie (Correspondência livro: tópico 2.2)

→ leis

→ decretos

→ portarias, instruções normativas e outros atos do Poder Executivo (desde que criem
obrigações gerais, mediante autorização legal expressa)

→ ex.: art. 193 da CLT → atividades e operações perigosas deverão ser


especificadas em portaria do Ministério do Trabalho.

[CLT] Art. 155 - Incumbe ao órgão de âmbito nacional competente em matéria de segurança e
medicina do trabalho:

I - estabelecer, nos limites de sua competência, normas sobre a aplicação dos preceitos deste
Capítulo, especialmente os referidos no art. 200; [...]

[CLT] Art. 200 - Cabe ao Ministério do Trabalho estabelecer disposições complementares às


normas de que trata este Capítulo, tendo em vista as peculiaridades de cada atividade ou setor
de trabalho, especialmente sobre: [...]

[CLT] Art. 74. O horário de trabalho será anotado em registro de empregados. [...]

§ 2º Para os estabelecimentos com mais de 20 (vinte) trabalhadores será obrigatória a anotação


da hora de entrada e de saída, em registro manual, mecânico ou eletrônico, conforme instruções
expedidas pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia,
permitida a pré-assinalação do período de repouso.

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→ Portaria MTP nº 671/20212

→ tratados e convenções internacionais ratificados pelo Brasil 3

→ sentenças normativas

→ instrumentos coletivos de trabalho (ACT e CCT)

→ usos e costumes (?)

Entendimento majoritário: usos e costumes são fontes formais autônomas

Precedentes das bancas (antigos, cuidado; a matéria não vem sendo cobrada com frequência
em concursos mais recentes):

A FCC, embora considere o costume como fonte do direito, tem vacilado a respeito de sua
classificação como fonte formal ou material. Mencionem--se os seguintes precedentes de
concursos anteriores organizados pela FCC:

“O costume não é fonte formal do Direito do Trabalho” (Analista – TRT da 21ª Região – 2003).

“Os costumes, práticas reiteradas de determinadas condutas, reconhecidas como consentâneas


com os deveres jurídicos impostos ao corpo social, representam uma das fontes formais do
Direito do Trabalho.” (Analista – TRT da 7ª Região – 2003)

“Usos e costumes podem ser considerados fontes do Direito do Trabalho” (Advogado – Município
de Santos – 2006).

“Os usos e costumes são uma importante fonte do Direito do Trabalho sendo que, muitas vezes,
da sua reiterada aplicação pela sociedade, é que se origina a norma legal.” (Analista – TRT da 24ª
Região – 2006)

Portanto, em relação à FCC, somente se pode afirmar categoricamente que a banca considera os
usos e costumes como fonte do Direito do Trabalho, ficando a classificação em aberto.

O Cespe, por sua vez, parece considerar os usos e costumes, na mesma linha da doutrina
amplamente majoritária, como fonte formal do Direito do Trabalho. Neste sentido, a banca
considerou correta a seguinte assertiva:

“Os usos e costumes são fontes do direito do trabalho, pois a prática habitual, quando não haja
lei que a discipline, cria norma jurídica.” (Assessor Jurídico – Prefeitura de Natal/RN – 2008)

2 Ao menos em princípio não é necessário estudar Portarias (salvo as de SST, é claro) e Instruções Normativas do MTE.
Deixe essa parte para estudar apenas se o edital expressamente o exigir.

3 As Convenções da OIT ratificadas pelo Brasil estão atualmente reunidas no Decreto nº 10.088/2019.

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Exemplos de previsões legais expressas de aplicação dos costumes:

[CLT] Art. 460 - Na falta de estipulação do salário ou não havendo prova sobre a
importância ajustada, o empregado terá direito a perceber salário igual ao daquela que,
na mesma empresa, fizer serviço equivalente ou do que for habitualmente pago para
serviço semelhante.

[Lei nº 5.889/73 – Lei do Trabalho Rural] Art. 5º Em qualquer trabalho contínuo de


duração superior a seis horas, será obrigatória a concessão de um intervalo para
repouso ou alimentação observados os usos e costumes da região, não se computando
este intervalo na duração do trabalho. Entre duas jornadas de trabalho haverá um
período mínimo de onze horas consecutivas para descanso.

→ laudo arbitral

→ arbitragem coletiva = fonte formal heterônoma

→ arbitragem individual (art. 507-A da CLT4) = não é fonte

→ regulamento empresarial (?)

Na doutrina predomina o entendimento no sentido de que o regulamento empresarial


não seria fonte formal do Direito do Trabalho, salvo se for bilateral.

Não há pacificação a respeito. O Cespe tem precedentes antigos no sentido de que o


regulamento seria fonte formal, mas é difícil tomá-los, hoje, como referência (p. ex.,
Consultor Legislativo do Senado – 2002; e Juiz do Trabalho – TRT da 5ª Região – 2006).

Também considerando o regulamento unilateral como fonte formal heterônoma, a FCC


(TJAA – TRT da 15ª Região – 2013) considerou correta a seguinte assertiva:

“A sentença normativa é uma fonte heterônoma do Direito do Trabalho, assim como


regulamento unilateral de empresa”.

→ súmulas vinculantes

4Art. 507-A. Nos contratos individuais de trabalho cuja remuneração seja superior a duas vezes o limite máximo
estabelecido para os benefícios do Regime Geral de Previdência Social, poderá ser pactuada cláusula compromissória
de arbitragem, desde que por iniciativa do empregado ou mediante a sua concordância expressa, nos termos
previstos na Lei no 9.307, de 23 de setembro de 1996.

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Aula 02, Parte III

1.2.3. Critérios de integração e outras figuras que não constituem fontes do Direito
do Trabalho (Correspondência livro: tópicos 2.3 e 4.2)

a) Jurisprudência

Conforme o art. 8º da CLT, é fonte de integração (ou fonte supletiva) do direito do


trabalho, o que não se confunde com fonte do direito em sentido estrito (fonte formal).

Foram consideradas corretas, em concursos anteriores, as seguintes assertivas:

• “A jurisprudência, embora não se situe entre as fontes formais, pode ser incluída na
classificação de fonte informativa ou intelectual, dada a sua importância para o Direito do
Trabalho, em particular.” (Juiz do Trabalho – TRT da 1ª Região – 2006)

• “De acordo com a legislação trabalhista vigente, a jurisprudência é uma fonte de


integração da lei.” (Juiz do Trabalho – TRT da 5ª Região – Cespe – 2007)

Dessa forma, ao menos nas provas anteriores de concursos públicos tem predominado
a corrente tradicional, no sentido de que a jurisprudência não é fonte formal do direito

Embora o NCPC, ao estabelecer o sistema de precedentes (art. 9275) tenha aproximado


a jurisprudência da ideia de fonte formal do direito, a Reforma Trabalhista a distanciou
de tal ideia, senão vejamos:

CLT, art. 8º, § 2º - Súmulas e outros enunciados de jurisprudência editados pelo Tribunal
Superior do Trabalho e pelos Tribunais Regionais do Trabalho não poderão restringir
direitos legalmente previstos nem criar obrigações que não estejam previstas em lei.

Análise do dispositivo legal: ao menos no campo das intenções, a Lei nº 13.467/2017


restringe o alcance da jurisprudência. Neste cenário, naturalmente não se pode dizer
que a jurisprudência é fonte formal do direito, pois expressamente seria vedada a
criação de qualquer tipo de ato-regra.

Embora o dispositivo legal em referência seja de difícil (quiçá impossível) aplicação


prática (porquanto cabe ao Poder Judiciário interpretar as normas postas e, inclusive,

5 Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:


I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento
de recursos extraordinário e especial repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de
Justiça em matéria infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.

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integrar as lacunas do direito, nos termos do caput do art. 8º da CLT), é ele que o
candidato deve levar para a prova, notadamente no concurso para AFT.

Fundamento legal para a integração do direito do trabalho:

CLT, art. 8º - As autoridades administrativas6 e a Justiça do Trabalho, na falta de


disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por
analogia, por equidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente
do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito
comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular
prevaleça sobre o interesse público.

§1º O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho.

[...]

Registre-se, todavia, que, como mencionado no bloco anterior, as súmulas vinculantes


constituem fontes formais heterônomas do Direito do Trabalho.

b) Princípios

Pragmaticamente (concurso p/ AFT) → não possuem força normativa autônoma,


constituindo mero critério de integração do direito do trabalho.

c) Doutrina

Não é sequer fonte supletiva ou mecanismo de integração.

d) Equidade

“Equidade é a interpretação abrandada pela lei para aplicação a situações não reguladas
por norma alguma, quando haja necessidade de uma distribuição justa do Direito” (José
Augusto Rodrigues Pinto).

6 Dispõe o art. 11, §2º, da Lei nº 10.593/2002, que “os ocupantes do cargo de Auditor Fiscal do Trabalho, no exercício
das atribuições previstas neste artigo, são autoridades trabalhistas”.

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Não é fonte, mas sim critério de integração do direito do trabalho, nos termos do
disposto no art. 8º da CLT.

e) Analogia

Também constitui mero método de integração jurídica, pelo qual o aplicador do direito
colmata determinada lacuna normativa com norma aplicável a situação semelhante.

Exemplos:

SUM-229 SOBREAVISO. ELETRICITÁRIOS (nova redação) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e


21.11.2003.

Por aplicação analógica do art. 244, § 2º, da CLT, as horas de sobreaviso dos eletricitários
são remuneradas à base de 1/3 sobre a totalidade das parcelas de natureza salarial.

Comentário: como não existe previsão legal de pagamento de horas de sobreaviso


especificamente para os eletricitários, mas, ante a semelhança de situação jurídica,
aplica-se aos eletricitários, por analogia, o disposto no §2º do art. 244 da CLT, que trata
do sobreaviso devido aos ferroviários.

SUM-346 DIGITADOR. INTERVALOS INTRAJORNADA. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART.


72 DA CLT (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003.

Os digitadores, por aplicação analógica do art. 72 da CLT, equiparam-se aos


trabalhadores nos serviços de mecanografia (datilografia, escrituração ou cálculo), razão
pela qual têm direito a intervalos de descanso de 10 (dez) minutos a cada 90 (noventa)
de trabalho consecutivo.

Comentário: diante da omissão legal no que diz respeito ao trabalho do digitador, e


diante da semelhança das atividades respectivas, o TST passou a assegurar aos
digitadores o intervalo estabelecido em favor dos trabalhadores nos serviços de
mecanografia, por aplicação analógica do art. 72 da CLT.

Importante: o art. 72 da CLT também tem sido aplicado analogicamente ao rurícola


cortador de cana. Tal assunto tem boa probabilidade de ser cobrado no concurso para
AFT, tanto por envolver articulação com as NRs – notadamente com a NR-31 – quanto
por ser relevante na caracterização do trabalho degradante, que caracteriza uma das

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formas de trabalho análogo ao de escravo. Veja a respeito no Boletim de


Jurisprudência desta aula.

f) Cláusulas contratuais

São concretas, específicas e pessoais, alcançando tão somente as partes envolvidas.


Logo, não são fontes do direito do trabalho.

1.2.4. Hierarquia das fontes normativas no direito do trabalho

→ Em regra, a hierarquia é plástica e flexível → princípio da norma mais favorável

→ Exceções:

→ norma proibitiva estatal;

→ sobreposição de normas coletivas;

→ prevalência do negociado sobre o legislado

Aula 02, Parte IV

1.3. Impacto da Reforma Trabalhista na teoria geral do direito do trabalho


(Correspondência livro: tópico 3.4.7)

✓ A Reforma Trabalhista “eliminou” algum princípio trabalhista?

→ mitigação → criação de novas exceções

→ princípio da proteção: hipossuficientes x hiperssuficientes

→ alteridade x trabalho intermitente

→ princípio da norma mais favorável:

→ prevalência do ACT sobre a CCT (art. 620)

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→ prevalência do negociado sobre o legislado (art. 611-A)

→ princípio da irrenunciabilidade x acordos individuais (p. ex., para pactuação do banco


de horas semestral, cf. art. 59, §5º, da CLT7).

7 § 5º
O banco de horas de que trata o § 2 o deste artigo poderá ser pactuado por acordo individual escrito, desde que
a compensação ocorra no período máximo de seis meses.

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ESTUDO AVANÇADO DE COMPREENSÃO E PREPARAÇÃO P/ A FASE DISCURSIVA

(facultativo na preparação para a primeira fase)

AULA 02, PARTE I

1. O que são fontes formais e fontes materiais do Direito do Trabalho. Cite um exemplo
de cada?

2. As fontes autônomas são formais ou materiais? O que as distingue das fontes


heterônomas?

AULA 02, PARTE II

1. As Normas Regulamentadoras (NRs) do Ministério do Trabalho podem ser


consideradas fontes formais?

2. O laudo arbitral é fonte formal do Direito do Trabalho?

AULA 02, PARTE III

1. É correto dizer que a aplicação do direito comum é concorrente com as normas


trabalhistas?

2. A jurisprudência pode ser considerada fonte formal do Direito do Trabalho?

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AULA 02, PARTE IV

Disserte sobre o princípio da norma mais favorável, abordando, no mínimo, os seguintes


aspectos:

a) Fundamento de tal princípio;

b) Alcance atual do princípio em referência;

c) Critério para escolha da norma mais favorável.

Limite de espaço sugerido: 30 linhas.

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