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Índice
1 - Factos jurídicos
Nem todos os factos são relevantes para a aplicação do Direito. Os factos que se podem designar
como jurídicos, são aqueles que se reportam a uma “fatia” da realidade que é relevante para
despoletar a aplicação de uma norma jurídica.
Dentre os factos jurídicos é importante ter em atenção que nem todos são essenciais para
despoletar o efeito jurídico previsto na norma que se pretende ver aplicada. Os factos essenciais
são aqueles sem os quais não seria possível extrair o efeito jurídico que o autor de determinada
ação em tribunal pretende.
Factos essenciais
Artigo 5.º do Código de Processo Civil (CPC), Lei n.º 41/2013, de 26 de junho
1 - Às partes cabe alegar os factos essenciais que constituem a causa de pedir e aqueles em que
se baseiam as exceções invocadas.
2 - Além dos factos articulados pelas partes, são ainda considerados pelo juiz:
b) Os factos que sejam complemento ou concretização dos que as partes hajam alegado e
resultem da instrução da causa, desde que sobre eles tenham tido a possibilidade de se
pronunciar;
c) Os factos notórios e aqueles de que o tribunal tem conhecimento por virtude do exercício das
suas funções.
3 - O juiz não está sujeito às alegações das partes no tocante à indagação, interpretação e
aplicação das regras de direito.”
A título de exemplo, para se alegar que tem direito a uma pensão anual vitalícia por acidente de
trabalho, deve alegar-se que o acidente ocorreu no local de trabalho, no tempo de trabalho, que
desse acidente resultou uma incapacidade permanente parcial de x% e que estes factos
determinam a existência do direito a receber aquela pensão.
Direito objetivo:
“O direito objetivo pode ser entendido em vários sentidos (…) como equivalente a sistema ou
ordenamento jurídico: é nesta acepção que se fala, por exemplo, do direito português, do direito
francês ou do direito europeu.
(…)
Noutras situações (…) é utilizado como sinónimo de lei ou, mais em geral, de fonte do direito: é
este o significado da expressão quando se diz, por exemplo, que a Assembleia da República tem
competência para produzir direito.
(…)
Também se utiliza a expressão (…) como equivalente a regra jurídica: é com este sentido que se
diz, por exemplo, que a proibição da pena de morte é direito vigente em Portugal.”
In Miguel Teixeira de Sousa “Introdução ao Direito”, Almedina, 2017 (reimpressão), pp. 17 e 18.
Direito subjetivo:
“Quando se fala de direito subjectivo (…) alude-se à posição de um sujeito - o titular do direito -
quanto a um determinado modo de atuar. É neste sentido que se fala de direitos fundamentais
ou que se diz que quem emprestou uma coisa tem direito a receber o que entregou ou que o
filho tem direito a receber alimentos dos progenitores.
(…)
O direito subjetivo pode ser definido, numa fórmula sintética, como a situação subjectiva que
resulta de uma permissão de acção ou de omissão. (…)”
In Miguel Teixeira de Sousa “Introdução ao Direito”, Almedina, 2017 (reimpressão), pp. 18.
O Direito é um sistema coerente de normas jurídicas que regulam a convivência social e limita
as ações dos indivíduos. Para isso as normas jurídicas são dotadas de imperatividade, o que quer
dizer que são obrigatórias e por todos devem ser observadas.
Os diplomas normativos (leis, decretos-lei, etc) têm uma organização lógica da sua estrutura.
Os artigos, na verdade, estão inseridos numa estrutura sistemática que auxilia à sua pesquisa e
consulta, além de permitir uma melhor interpretação das normas que podem ser extraídas dos
mesmos.
O EMFAR propriamente dito, como todos os atos normativos obedecem à seguinte divisão de
“temas semelhantes” ou artigos que se aplicam a determinadas situações:
1 - Livros
2 - Títulos
3 - Capítulos
4 - Secções
5 - Subsecções
Estas divisões verificam-se tendo em conta a necessidade de cada diploma e não é obrigatório
que todos tenham todas estas divisões.
Os artigos têm um número. Do 1.º ao 10.º lê-se “artigo primeiro”, “artigo segundo”, “artigo
décimo”… Do 11.º em diante lê-se “artigo onze”, “artigo doze”, “artigo trezentos e cinquenta”…
A epígrafe do artigo descreve de forma sucinta sobre o quê que aquele artigo versa. Dentro de
cada artigo, podem haver números (lê-se “artigo doze, número um”). Dentro de cada número,
podem haver alíneas (lê-se “artigo doze, número um, alínea jota”) e subalíneas com numeração
romana (lê-se o anteriormente referido e “subalínea um” …).
A consulta de legislação deve ser feita com atenção à existência de alterações ao texto do
diploma. Por vezes, o sítio do Diário da República Eletrónico tem versões consolidadas dos
diplomas. A versão consolidada já contém as alterações que entraram em vigor após o ato
original do diploma em causa.
Uma dica de pesquisa consiste em ir ao motor de busca e digitar, por exemplo, “Código do
Trabalho pgdl” ou “legislação acidentes de automóvel”.
O objeto da lei diz respeito à realidade sobre a qual aquela lei versa, ou seja, sobre o que vem
regular.
O âmbito de aplicação da lei refere-se à delimitação do que está abrangido e deve ser regulado
por aquela lei, ou, do que não deve ser abrangido pela mesma (delimitação negativa).
Tanto o objeto como o âmbito de aplicação da lei, geralmente, surgem nos primeiros artigos da
mesma.
- Âmbito temporal: a partir de quando ou durante que período de tempo está abrangido.
Ora, também há uma outra lei que regula a reparação por acidentes de trabalho. Qual é que
prevalece?
Se atentarmos à Lei n.º 100/1997, podemos verificar que esta tem exatamente o mesmo objeto
da Lei n.º 98/2009. Porém, o sistema jurídico é um todo que no seu conjunto deve fazer sentido
e ser coerente. Neste caso o que sucedeu entre estas duas leis foi uma sucessão de leis no
tempo. A Lei n.º 98/2009 veio revogar a Lei n.º 100/1997.
Atente-se ainda que o acidente ocorreu no ano de 2011, ou seja, já após a entrada em vigor da
Lei de 2009, pelo que o que regulará este caso será a lei em vigor à data dos factos (tempus
regit actum).
A exceção a este princípio está prevista em direito penal, ou seja, se a conduta criminosa foi
levada a cabo em 2008 (durante a vigência de uma lei que a considerava crime), mas o
julgamento do arguido foi realizado em 2015, durante a vigência de uma lei de 2010 que
descriminalizou a conduta, deve ser aplicada a lei nova por ser mais favorável ao Arguido.
Assim, regra geral uma lei vem regular situações que se verifiquem após a sua entrada em vigor,
sendo que as situações anteriores, em princípio, serão regidas pela lei que estava em vigor à
data da verificação das mesmas.
4 – A interpretação da Lei
O exercício de interpretação da Lei é feito por todos, não se encontra reservado aos juízes.
Sucede que um notário, um técnico superior de uma autarquia, um particular para apresentar
um requerimento, entre outros, realizam a interpretação e, em certa medida, a aplicação do
Direito.
Os tribunais decidem sobre a aplicação das leis em casos concretos através de processos
judiciais, mas tal atividade não corresponde à maioria dos atos de interpretação e aplicação da
Lei que decorrem entre todos os atores sociais. As decisões dos tribunais que põem termo a um
processo podem ser proferidas por um juiz singular (sentenças) ou por um coletivo de juízes
(acórdãos), sendo que os acórdãos dos Tribunais da Relação e dos Supremos Tribunais
encontram-se disponíveis para consulta nos portais públicos da dgsi.pt. No nosso sistema
jurídico as decisões dos tribunais (jurisprudência) não constituem fonte imediata de Direito,
quer isto dizer que não revestem a mesma natureza que a Lei, servindo um propósito de
interpretação das leis a casos concretos.
“1. A interpretação não deve cingir-se à letra da lei, mas reconstituir a partir dos textos o
pensamento legislativo, tendo sobretudo em conta a unidade do sistema jurídico, as
circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas do tempo em que é aplicada.
2. Não pode, porém, ser considerado pelo intérprete o pensamento legislativo que não tenha na
letra da lei um mínimo de correspondência verbal, ainda que imperfeitamente expresso.
5 – Processo legislativo
O poder legislativo é responsável pela elaboração das leis que regulam a vida em determinado
Estado, distinguindo-se do poder executivo (de governo/gestão, para satisfação das
necessidades coletivas) e do poder judicial (de decisão de casos concretos com recurso à
coercibilidade própria do poder de julgar).
Esse poder é exercido pela Assembleia de três formas possíveis, dependendo das matérias
sobre as quais se legisla:
1 – Com competência absoluta, ou seja, apenas a AR pode legislar sobre aquelas matérias.
2 – Com competência reservada, ou seja, a AR legisla sobre certas matérias, mas dentre estas
pode autorizar o Governo a legislar sobre as mesmas (o que faz através de uma Lei de
Autorização Legislativa que fixa os limites da autorização concedida).
*A presente Sebenta visa auxiliar na sistematização dos apontamentos resultantes das aulas lecionadas no Curso de
Promoção a Sargento-Chefe, pelo que deverão ser lidas em conjunto com as apresentações fornecidas, legislação
referenciada, manual de referência e dentro do contexto das aulas lecionadas.