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Princípios e fontes do direito do trabalho

Arquivo revisado e atualizado até 12/01/2023


DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho

SUMÁRIO

DIREITO DO TRABALHO .............................................................................................................................. 5


QUAL DEVE SER O FOCO? ....................................................................................................................................5
1. CONCEITO DE DIREITO DO TRABALHO .....................................................................................................5
2. FONTES E PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO .............................................................................5
2.1. Fontes do Direito do Trabalho...................................................................................................................5
3. PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO ................................................................................................ 10
3.1. Proteção ao trabalhador ........................................................................................................................... 10
3.2. Imperatividade das normas trabalhistas ............................................................................................. 14
3.3. Primazia da realidade ................................................................................................................................ 14
3.4. Inalterabilidade contratual lesiva .......................................................................................................... 15
3.5. Continuidade da relação de emprego .................................................................................................. 15
3.6. Indisponibilidade dos direitos trabalhistas ......................................................................................... 16
3.7. Princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade coletiva ......................................... 16
4. DIREITO CONSTITUCIONAL TRABALHISTA........................................................................................... 16
4.1. Art.7º da Constituição Federal – Análise constitucional via julgados do STF......................... 17
4.2. Aplicação dos direitos do art.7º da Constituição Federal ao servidor público ........................ 37
TAREFAS PARA O ESTUDO ATIVO ................................................................................................................ 41

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DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
DIREITO DO TRABALHO

TEMA DO DIA
Princípios e fontes do direito do trabalho. Direitos constitucionais dos trabalhadores (Art. 7º
da Constituição Federal de 1988).

QUAL DEVE SER O FOCO?

1. Princípios do direito do trabalho. Princípio da proteção ao trabalhador.


2. Princípio da irrenunciabilidade de direitos, da primazia da realidade e da continuidade da
relação de trabalho.

1. CONCEITO DE DIREITO DO TRABALHO

Segundo Maurício Godinho Delgado, o Direito do Trabalho é ramo jurídico especializado, que
regula certo tipo de relação laborativa na sociedade contemporânea. Prepondera, hoje, a
classificação do ramo justrabalhista no segmento do Direito Privado.

Nesse sentido, o autor define o Direito do Trabalho como o complexo de princípios, regras e
institutos jurídicos que regulam a relação empregatícia de trabalho e outras relações
normativamente especificadas, englobando, também, os institutos, regras e princípios jurídicos
concernentes às relações coletivas entre trabalhadores e tomadores de serviços, em especial através
de suas associações coletivas.

2. FONTES E PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO

2.1. Fontes do Direito do Trabalho

É o meio pelo qual nascem as normas jurídicas. Podem ser:

● Fontes Materiais (momento pré-jurídico): Fatores e acontecimentos sociais que inspiram o


legislador, a exemplo das reivindicações sociais por mais direitos trabalhistas. Podem se
dividir em fontes materiais econômicas (ligadas à existência e evolução do sistema
capitalista), sociológicas (relacionadas aos distintos processos de agregação de
trabalhadores assalariados), políticas (relacionadas aos movimentos sociais organizados
pelos trabalhadores) e, ainda, filosóficas (ideias e pensamentos que influíram na construção
e mudança do Direito do Trabalho);
● Fontes Formais (momento tipicamente jurídico): Normas de observância obrigatória da
sociedade. Segundo Maurício Godinho Delgado, são os mecanismos exteriores e estilizados

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pelos quais as normas ingressam, instauram-se e cristalizam-se na ordem jurídica. Podem
ser:

o Fontes formais autônomas: Discutidas e elaboradas diretamente pelas partes, ou


seja, há imediata participação dos destinatários principais das normas. Ex: Convenção
coletiva, acordo coletivo, usos e costumes;
o Fontes formais heterônomas: Possuem origem estatal, ou seja, não se caracteriza
pela imediata participação dos destinatários principais das normas. Ex: Constituição
Federal, tratados internacionais, leis, medida provisória, sentenças normativas,
súmulas vinculantes.

Dispõe a CLT:

Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de


disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela
jurisprudência, por analogia, por eqüidade e outros princípios e normas gerais
de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os
usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum
interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público.
§ 1º O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho.
§ 2o Súmulas e outros enunciados de jurisprudência editados pelo Tribunal
Superior do Trabalho e pelos Tribunais Regionais do Trabalho não poderão
restringir direitos legalmente previstos nem criar obrigações que não estejam
previstas em lei.
§ 3o No exame de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, a
Justiça do Trabalho analisará exclusivamente a conformidade dos elementos
essenciais do negócio jurídico, respeitado o disposto no art. 104 da Lei no
10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), e balizará sua atuação pelo
princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade coletiva.

OBSERVAÇÃO

No que se refere às fontes formais heterônomas, o art. 702, alínea ‘‘f‘‘ da CLT dispõe que
compete ao Tribunal Pleno estabelecer ou alterar súmulas e outros enunciados de
jurisprudência uniforme, pelo voto de pelo menos dois terços de seus membros, caso a mesma
matéria já tenha sido decidida de forma idêntica por unanimidade em, no mínimo, dois terços das
turmas em pelo menos dez sessões diferentes em cada uma delas, podendo, ainda, por maioria
de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só
tenha eficácia a partir de sua publicação no Diário Oficial.

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Ainda a CLT, em seu §3º, prevê que as sessões de julgamento sobre estabelecimento ou
alteração de súmulas e outros enunciados de jurisprudência deverão ser públicas, divulgadas com,
no mínimo, trinta dias de antecedência, e deverão possibilitar a sustentação oral pelo Procurador-
Geral do Trabalho, pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, pelo Advogado-
Geral da União e por confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional.

Porém, recentemente o Pleno do Tribunal Superior do Trabalho (TST) declarou a


inconstitucionalidade desses dispositivos legais que modificaram os critérios para a criação ou a
alteração de súmulas e outros enunciados da jurisprudência uniforme do Tribunal. Assim, por
maioria, o colegiado concluiu que as alterações, introduzidas pela Reforma Trabalhista, violam a
prerrogativa de os tribunais, no exercício de sua autonomia administrativa, elaborem seus próprios
regimentos internos e, por conseguinte, os requisitos de padronização da jurisprudência.

ATENÇÃO: Em caso de conflito entre as fontes formais, há teorias que definem qual norma deve ser
aplicada:

Teoria do Aplica apenas uma fonte em sua totalidade. Ou seja, não cabe se
conglobamento fracionarem preceitos ou institutos jurídicos, realizando-se a
comparação, em busca da norma mais favorável, a partir da
totalidade dos sistemas ou diplomas jurídicos comparados (neste
caso, trata-se do chamado conglobamento amplo, total ou puro) ou,
pelo menos, a partir de um bloco relevante e coerente dessa
totalidade (neste caso, trata-se do conglobamento mitigado ou
setorizado). Majoritária;
Teoria da O intérprete deve aplicar todas as fontes ao caso concreto, utilizando
acumulação/atomização as normas mais favoráveis ao trabalhador e desprezando os
desfavoráveis. Ou seja, propõe como procedimento de seleção,
análise e classificação das normas cotejadas, o fracionamento do
conteúdo dos textos normativos, retirando-se os preceitos e
institutos singulares de cada um que se destaquem por seu sentido
mais favorável ao trabalhador. É corrente minoritária.

Contudo, quanto às normas coletivas, a reforma trabalhista deixou expresso que as cláusulas
de acordo coletivo sempre prevalecerão sobre convenção coletiva, independentemente de seu
conteúdo ou de serem mais favoráveis ou não ao empregado (art. 620, CLT).

Ainda, a CLT, com a Reforma Trabalhista, passou a dispor sobre as situações em que as
convenções e acordos coletivos de trabalho prevalecem sobre a lei:

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Art. 611-A. A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm


prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre:
I - pacto quanto à jornada de trabalho, observados os limites
constitucionais;
II - banco de horas anual;
III - intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de trinta minutos para
jornadas superiores a seis horas;
IV - adesão ao Programa Seguro-Emprego (PSE), de que trata a Lei
no 13.189, de 19 de novembro de 2015;
V - plano de cargos, salários e funções compatíveis com a condição pessoal
do empregado, bem como identificação dos cargos que se enquadram como
funções de confiança;
VI - regulamento empresarial;
VII - representante dos trabalhadores no local de trabalho;
VIII - teletrabalho, regime de sobreaviso, e trabalho
intermitente;
IX - remuneração por produtividade, incluídas as gorjetas percebidas pelo
empregado, e remuneração por desempenho individual;
X - modalidade de registro de jornada de trabalho;
XI - troca do dia de feriado;
XII - enquadramento do grau de insalubridade;
XII - enquadramento do grau de insalubridade;
XIII - prorrogação de jornada em ambientes insalubres, sem licença prévia
das autoridades competentes do Ministério do Trabalho;
XIV - prêmios de incentivo em bens ou serviços, eventualmente concedidos
em programas de incentivo;
XV - participação nos lucros ou resultados da empresa.
§ 1º No exame da convenção coletiva ou do acordo coletivo de trabalho, a
Justiça do Trabalho observará o disposto no § 3o do art. 8o desta
Consolidação.
§ 2º A inexistência de expressa indicação de contrapartidas recíprocas em
convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho não ensejará sua nulidade
por não caracterizar um vício do negócio jurídico.
§ 3º Se for pactuada cláusula que reduza o salário ou a jornada, a convenção
coletiva ou o acordo coletivo de trabalho deverão prever a proteção dos
empregados contra dispensa imotivada durante o prazo de vigência do
instrumento coletivo.

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§ 4º Na hipótese de procedência de ação anulatória de cláusula de
convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho, quando houver a
cláusula compensatória, esta deverá ser igualmente anulada, sem repetição
do indébito.
§ 5º Os sindicatos subscritores de convenção coletiva ou de acordo coletivo
de trabalho deverão participar, como litisconsortes necessários, em ação
individual ou coletiva, que tenha como objeto a anulação de cláusulas desses
instrumentos.

ATENÇÃO 1

Recentemente o STF, através do julgamento da ADPF 381, invalidou as cláusulas de


acordos e convenções coletivas referentes ao controle de jornada de motoristas de carga,
pactuadas entre transportadoras de carga e motoristas, que estabeleciam que a categoria não
estava sujeita ao controle de jornada antes da vigência da lei 12.619/12. Assim, nesse caso, o
negociado não deve prevalecer sobre o legislado.

Porém, logo a seguir o STF julgou o Recurso Extraordinário com Agravo (ARE)
1121633, com repercussão geral reconhecida (Tema 1.046) e fixou a seguinte tese: “São
constitucionais os acordos e as convenções coletivas que, ao considerarem a adequação
setorial negociada, pactuam limitações ou afastamentos de direitos trabalhistas,
independentemente da explicitação especificada de vantagens compensatórias, desde que
respeitados os direitos absolutamente indisponíveis”.

Assim, o STF decidiu que acordos ou convenções coletivas de trabalho que limitam ou
suprimem direitos trabalhistas são válidas, desde que seja assegurado um patamar
civilizatório mínimo ao trabalhador.

ATENÇÃO 2:

As normas coletivas (aquelas oriundas dos acordos coletivos e das convenções


coletivas) possuem ultratividade?

Ultratividade de uma norma nada mais é do que a produção dos seus efeitos para além do
seu prazo de existência.

No Direito do Trabalho existia certo consenso de que as normas coletivas (aquelas


oriundas dos acordos coletivos e das convenções coletivas) possuiriam ultratividade.

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Inclusive, sobre o tema foi editada a Súmula 277 do TST, de seguinte redação:

As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas


integram os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser
modificadas ou suprimidas mediante negociação coletiva de trabalho.

Referida questão, todavia, restou superada, em parte, pela Reforma Trabalhista, que
estabeleceu a seguinte regra:

Art. 614

§ 3º Não será permitido estipular duração de convenção coletiva ou acordo


coletivo de trabalho superior a dois anos, sendo vedada a ultratividade.
(Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017)

Mas e porque foi resolvido apenas “em parte”?

Por que os fatos ocorridos antes da entrada em vigor da Reforma Trabalhista continuaram
sob debate, vindo a ser pacificada a questão apenas no julgamento da ADPF 323.

Nesta ADPF, o Supremo Tribunal Federal entendeu ser inconstitucional a Súmula nº 277
do Tribunal Superior do Trabalho, com a redação conferida pela Resolução nº 185, de 27 de
setembro de 2012, bem como das decisões judiciais que, mediante interpretação do art. 114,
§ 2º, da Constituição Federal, na redação dada pela Emenda Constitucional nº 45/2004,
reconhecem a aplicabilidade do princípio da ultratividade de normas de acordos e de
convenções coletivas.

3. PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO

São espécies do gênero “normas”, ao lado das regras. São também chamados de “mandados
de otimização”, pois representam um “dever-ser” (Robert Alexy).

Influenciam tanto a elaboração das normas quanto em sua interpretação, além de incidir nos
casos concretos: funções informadora, interpretativa e normativa, respectivamente.

3.1. Proteção ao trabalhador

Objetiva estabelecer o equilíbrio na relação de trabalho, ou seja, promover a igualdade


material às partes da relação de trabalho, por meio de um protecionismo normativo. Segundo

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Maurício Godinho Delgado, esse princípio informa o Direito do Trabalho no sentido de formar uma
teia de proteção à parte vulnerável e hipossuficiente na relação empregatícia, o obreiro, visando
retificar, no plano jurídico, o desequilíbrio inerente ao plano fático do contrato de trabalho. Este
princípio influi em todos os seguimentos do direito individual do trabalho. Do princípio da
proteção ao trabalhador decorrem outros três princípios:

1. In dubio pro operário: Quando houver várias interpretações, deve ser utilizada a mais
favorável ao empregado. NÃO se aplica o aludido princípio na seara processual.

2. Norma mais favorável: Entre duas ou mais normas, utiliza-se a norma mais favorável
ao empregado. Esse princípio pode incidir em três momentos distintos: no instante da
elaboração da regra; no contexto de confronto entre regras concorrentes; ou no contexto de
interpretação das regras jurídicas. Perceba-se que a norma mais favorável deve ser aplicada
ao empregado, independemente da hierarquia entre elas.

São exceções aos princípios da norma mais favorável:

• Art. 620 da CLT: condições estabelecidas em ACT sempre prevalecerão sobre as


estipuladas em CCT;
• Normas coletivas – autonomia da negociação coletiva;
• Poder Público: não está autorizado a firmar convenções coletivas de cunho
econômico, tendo em vista que a Administração pública está adstrita ao princípio
da legalidade. Sobre o tema, temos a OJ 05 da SDC:

05. 5. DISSÍDIO COLETIVO. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO.


POSSIBILIDADE JURÍDICA. CLÁUSULA DE NATUREZA SOCIAL (redação
alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) – Res.
186/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012
Em face de pessoa jurídica de direito público que mantenha empregados,
cabe dissídio coletivo exclusivamente para apreciação de cláusulas de
natureza social. Inteligência da Convenção nº 151 da Organização
Internacional do Trabalho, ratificada pelo Decreto Legislativo nº 206/2010

ATENÇÃO!

Conforme esclarecem Felipe Fernandes, Gustavo Andrade e Raquel Gouveia 1, “o princípio da


legalidade é de extrema importância na atuação prática do administrador público. Mas, o que justifica

1
Direito e Processo do Trabalho para a Advocacia Pública (2021) – 3ª Edição – JusPodivm.

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tamanha importância? Só quem pode dispor do patrimônio público são os seus titulares. O
administrador apenas gere em nome e em benefício daqueles. E como é que a coletividade poderá
expressar sua vontade quando quiser se desfazer de seu patrimônio? Por meio da lei, tendo em vista
que essa é cunhada por quem a representa. Daí a tamanha impor tância do princípio da legalidade.
É ele parte do pacto social e confere legitimidade à atuação do administrador público. Além disso, a
população tem o direito de saber o que está sendo feito com o patri mónio público. Por essa razão,
salvo exceções legais, a todos os atos administrativos deve ser dada ampla publicidade. Inclusive
no que tange à intimidade dos servido res públicos, mitigada se comparada à de um empregado
comum”.

3. Condição mais benéfica: As conquistas dos empregados NÃO podem ser alteradas
para pior (art. 468, CLT). Entende-se que suas conquistas foram incorporadas ao seu
“patrimônio individual” (direito adquirido).

Art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das


respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que
não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena
de nulidade da cláusula infringente desta garantia.
§ 1o Não se considera alteração unilateral a determinação do empregador
para que o respectivo empregado reverta ao cargo efetivo, anteriormente
ocupado, deixando o exercício de função de confiança. (Redação dada pela
Lei nº 13.467, de 2017)
§ 2o A alteração de que trata o § 1o deste artigo, com ou sem justo motivo,
não assegura ao empregado o direito à manutenção do pagamento da
gratificação correspondente, que não será incorporada, independentemente
do tempo de exercício da respectiva função.

Como se pode perceber da leitura do art. 468, tal princípio não é absoluto. São
exemplos de alterações permitidas a supressão dos salários-condição, do adicional de
insalubridade, que somente é pago enquanto o trabalhador está exposto ao agente
insalubre, cessando o pagamento, sem violação a esse princípio, quando da eliminação da
insalubridade (Súmula 80, TST). Além dessa, são também exceções ao princípio da condição
mais benéfica:

o Supressão da prestação de horas extras habituais;


o Art. 457, § 2º, CLT – admite o pagamento habitual e incondicional de determinadas
verbas, porém veda a incorporação;

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o Empregado que reverta ao cargo efetivo, anteriormente ocupado, deixando o
exercício de função de confiança, não tem direito à incorporação da gratificação,
independentemente do tempo que exerceu a função de confiança;
o Empregado que reverta ao cargo efetivo, anteriormente ocupado, deixando o
exercício de função de confiança, não tem direito à incorporação da gratificação,
independentemente do tempo que exerceu a função de confiança;
o Adicional de insalubridade: ainda que percebido o adicional de insalubridade por
muito tempo, se houver alteração das condições de trabalho pela eliminação ou
neutralização do agente nocivo, o adicional poderá ter seu grau reduzido ou mesmo o
pagamento cessado.
o Opção do empregado por um dos regulamentos da empresa.
o Possibilidade de retorno do servidor público (da administração direta, autárquica
e fundacional) à jornada definida em lei ou no contrato, sem pagamentos
suplementares (OJ 308, SDI-I, TST).

308. JORNADA DE TRABALHO. ALTERAÇÃO. RETORNO À JORNADA


INICIALMENTE CONTRATADA. SERVIDOR PÚBLICO (DJ 11.08.2003)
O retorno do servidor público (administração direta, autárquica e fundacional)
à jornada inicialmente contratada não se insere nas vedações do art. 468 da
CLT, sendo a sua jornada definida em lei e no contrato de trabalho firmado
entre as partes.

OBSERVAÇÃO

O princípio da proteção tem por objetivo uma intervenção estatal no sentido de proteger a parte mais
fraca (trabalhador), com o fito de garantir que abusos não sejam perpetrados sob o pretexto de uma
liberdade contratual.

Não obstante a hipossuficiência do empregado seja a regra que orienta o direito do trabalho, a
reforma trabalhista de 2017 trouxe uma nova figura: o EMPREGADO HIPERSUFICIENTE!

Art. 444 - As relações contratuais de trabalho podem ser objeto de livre


estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenha às
disposições de proteção ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam
aplicáveis e às decisões das autoridades competentes.
Parágrafo único. A livre estipulação a que se refere o caput deste artigo
aplica-se às hipóteses previstas no art. 611-A desta Consolidação, com a
mesma eficácia legal e preponderância sobre os instrumentos coletivos, no

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caso de empregado portador de diploma de nível superior e que perceba
salário mensal igual ou superior a duas vezes o limite máximo dos
benefícios do Regime Geral de Previdência Social.

OBSERVAÇÃO:

As empresas podem alterar seus regulamentos e, caso haja retirada de direitos na


alteração, as novas regras somente serão aplicadas aos empregados admitidos após a alteração.
Entretanto, cumpre ressaltar que na coexistência de dois regulamentos, caso o empregado opte
por um deles, estará renunciando ao outro.

3.2. Imperatividade das normas trabalhistas

Há restrição das partes em modificar cláusulas contratuais previstas no contrato de trabalho,


considerando serem as normas justrabalhistas normas essencialmente de ordem pública. No
entanto, a Reforma Trabalhista flexibilizou a aplicação desse princípio, como, por exemplo, no art.
611-A da CLT.

3.3. Primazia da realidade

A realidade se sobrepõe às condições contratuais escritas, ou mesmo a ausência de contrato


escrito ou de anotações na CTPS. Assim, a prática habitual, na qualidade de uso, altera o contrato
pactuado, gerando direitos e obrigações novos às partes contratantes.

Quanto às anotações da CTPS é importante ressaltar as inclusões na CLT, arts. 29-A e 29-
B, realizada pela Lei nº 14.438/2022, observa-se:

- O empregador que não anotar na CTPS a data de admissão, a remuneração (com a


especificação do salário, qualquer que seja sua forma de pagamento, seja ele em dinheiro
ou em utilidades, bem como a estimativa da gorjeta) e as condições especiais, se houver,
ficará sujeito a multa no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais) por empregado prejudicado,
acrescido de igual valor em cada reincidência. Porém, no caso de microempresa ou de
empresa de pequeno porte, o valor final da multa aplicada será de R$ 800,00 (oitocentos
reais) por empregado prejudicado. Essa infração constitui exceção ao critério da dupla visita.
- O empregador que não realizar as anotações na CTPS da data-base; a qualquer tempo,
por solicitação do trabalhador; no caso de rescisão contratual; ou necessidade de
comprovação perante a Previdência Social, ficará sujeito a multa no valor de R$ 600,00
(seiscentos reais) por empregado prejudicado.

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No concurso da PGE - GO (FCC - 2021), o tema foi cobrado da seguinte forma:

Em relação aos princípios que norteiam o Direito do Trabalho, considerando-se a doutrina,


a legislação e as Súmulas de Jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho,

A) de acordo com o princípio da intangibilidade contratual objetiva, o conteúdo do contrato


de emprego pode ser modificado, caso ocorra efetiva mudança no plano do sujeito
empresarial.
B) o princípio da irrenunciabilidade informa que o Direito do Trabalho impede a supressão
de direitos trabalhistas em face do exercício, pelo devedor trabalhista, de prerrogativa
legal.
C) não há nenhum dispositivo expresso que atribui aos princípios uma função integrativa
ou que indique a primazia do interesse público na Consolidação das Leis do Trabalho,
porque a mesma regula o contrato individual nas relações de trabalho.
D) em razão do princípio da primazia da realidade sobre a forma, o Juiz do Trabalho
privilegia a situação de fato, devidamente comprovada, em detrimento dos documentos
ou do rótulo conferido à relação de direito material.
E) o princípio da continuidade do contrato de trabalho constitui presunção favorável ao
empregador, razão pela qual tanto o ônus da prova quanto seu término é do empregado,
nas hipóteses em que são negados a prestação dos serviços e o despedimento.

A alternativa considerada correta foi a letra D.

3.4. Inalterabilidade contratual lesiva

É vedada qualquer alteração contratual lesiva ao empregado, ainda que haja consentimento
deste. Foi atenuado pela Reforma Trabalhista e o empregado “hipersuficiente” (art. 444, § único,
CLT – empregado portador de diploma de nível superior e que perceba salário mensal igual ou
superior a 2 vezes o limite máximo dos benefícios do RGPS).

OBSERVAÇÃO

Intangibilidade contratual objetiva = o contrato de trabalho seria intangível, do ponto de vista


objetivo, embora mutável do ponto de vista subjetivo, desde que a mudança envolvesse apenas o
sujeito-empregador.

3.5. Continuidade da relação de emprego

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DIREITO DO TRABALHO
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Em regra, o contrato de trabalho é estabelecido por prazo indeterminado. Logo, o ônus de
provar a ruptura do contrato de trabalho é do empregador. Nesse sentido, o TST sumulou
entendimento:

Súmula 212 TST: O ônus de provar o término do contrato de trabalho,


quando negados a prestação de serviço e o despedimento, é do empregador,
pois o princípio da continuidade da relação de emprego constitui presunção
favorável ao empregado.

3.6. Indisponibilidade dos direitos trabalhistas

O empregado não pode renunciar aos direitos e vantagens que lhe são assegurados em lei.
Decorrem os seguintes princípios:

● Princípio da irredutibilidade salarial: Veda-se a redução dos salários, SALVO convenção ou


acordo coletivo (art. 7º, VI, da CF/88);
● Princípio da intangibilidade salarial: Veda-se descontos de salários, SALVO casos previstos
em acordo ou convenção coletiva. Deriva do fato de considerar-se ter o salário caráter
alimentar.

3.7. Princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade coletiva

Incluído pela Reforma Trabalhista, estabelece que “No exame de convenção coletiva ou acordo
coletivo de trabalho, a Justiça do Trabalho analisará exclusivamente a conformidade dos elementos
essenciais do negócio jurídico, respeitado o disposto no art. 104 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro
de 2002 (Código Civil), e balizará sua atuação pelo princípio da intervenção mínima na autonomia
da vontade coletiva.”

ATENÇÃO!

Eventos externos, imprevisíveis e totalmente fora do âmbito de controle das partes, podem acabar
mitigando os princípios trabalhistas, em uma nítida aplicação da ponderação de princípios. É
justamente o que está ocorrendo durante a pandemia do COVID-19.

4. DIREITO CONSTITUCIONAL TRABALHISTA

O direito ao trabalho é um dos direitos sociais elencados no art. 6º da Constituição Federal.


Entretanto, a Carta Maior não se contenta apenas em estabelecer o direito ao trabalho como direito

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social. Ela vai além, e, em seu art. 7º, lista de forma mais detalhada alguns dos direitos dos
trabalhadores, sem restringir outros que visem à melhoria de sua condição social.

4.1. Art.7º da Constituição Federal – Análise constitucional via julgados do STF

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de
sua condição social:
Controle concentrado de constitucionalidade
• (...) deve-se mencionar que o rol de garantias do art. 7º da Constituição não exaure a proteção
aos direitos sociais. [ADI 639, voto do rel. min. Joaquim Barbosa, j. 2-6-2005, P, DJ de 21-10-2005.]
Julgado correlato
• O entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) orienta-se no sentido de que cabe à
legislação infraconstitucional, com observância das regras de competência de cada ente federado,
a disciplina da extensão aos servidores públicos civis dos direitos sociais estabelecidos no art. 7º
do Texto Constitucional. [RE 630.918 AgR-segundo, rel. min. Roberto Barroso, j. 23-3-2018, 1ª T,
DJE de 12-4-2018.]

I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de
lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos;
Controle concentrado de constitucionalidade
• Ação direta de inconstitucionalidade. Art. 3º da MP 1.596-14/1997, convertida na Lei 9.528/1997,
que adicionou ao art. 453 da CLT um segundo parágrafo para extinguir o vínculo empregatício
quando da concessão da aposentadoria espontânea. Procedência da ação. (...)
Os valores sociais do trabalho constituem: a) fundamento da República Federativa do Brasil (inciso
IV do art. 1º da CF); b) alicerce da ordem econômica, que tem por finalidade assegurar a todos
existência digna, conforme os ditames da justiça social, e, por um dos seus princípios, a busca do
pleno emprego (art. 170, caput, VIII); c) base de toda a ordem social (art. 193).
Esse arcabouço principiológico, densificado em regras como a do inciso I do art. 7º da Magna Carta
e as do art. 10 do ADCT/1988, desvela um mandamento constitucional que perpassa toda relação
de emprego, no sentido de sua desejada continuidade.
A CF versa a aposentadoria como um benefício que se dá mediante o exercício regular de um direito.
E o certo é que o regular exercício de um direito não é de colocar o seu titular numa situação jurídico-
passiva de efeitos ainda mais drásticos do que aqueles que resultariam do cometimento de uma
falta grave (sabido que, nesse caso, a ruptura do vínculo empregatício não opera automaticamente).
O direito à aposentadoria previdenciária, uma vez objetivamente constituído, se dá no âmago de uma
relação jurídica entre o segurado do Sistema Geral de Previdência e o INSS.

17
DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
Às expensas, portanto, de um sistema atuarial-financeiro que é gerido por esse Instituto mesmo, e
não às custas deste ou daquele empregador.
O ordenamento constitucional não autoriza o legislador ordinário a criar modalidade de
rompimento automático do vínculo de emprego, em desfavor do trabalhador, na situação em que
este apenas exercita o seu direito de aposentadoria espontânea, sem cometer deslize algum. A
mera concessão da aposentadoria voluntária ao trabalhador não tem por efeito extinguir,
instantânea e automaticamente, o seu vínculo de emprego. Inconstitucionalidade do § 2º do art.
453 da CLT, introduzido pela Lei 9.528/1997. [ADI 1.721, rel. min. Ayres Britto, j. 11-10-2006, P, DJ
de 29-6-2007.] = AI 756.861 ED, rel. min. Cármen Lúcia, j. 1º-2-2011, 1ª T, DJE de 4-3-2011
Repercussão geral reconhecida com mérito julgado
• A intervenção sindical prévia é exigência procedimental imprescindível para a dispensa em massa
de trabalhadores, que não se confunde com autorização prévia por parte da entidade sindical, ou
celebração de convenção o acordo coletivo. [RE 999.435, rel. min. Marco Aurélio, red. do ac. min.
Edson Fachin, j. 8-6-2022, P, DJE de 15-9-2022, Tema 638.]

II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;


III - fundo de garantia do tempo de serviço;
Repercussão geral reconhecida com mérito julgado
• FGTS. Cobrança de valores não pagos. Prazo prescricional. Prescrição quinquenal. Art. 7º, XXIX,
da Constituição. Superação de entendimento anterior sobre prescrição trintenária.
Inconstitucionalidade dos arts. 23, § 5º, da Lei 8.036/1990 e 55 do Regulamento do FGTS aprovado
pelo Decreto 99.684/1990. [ARE 709.212, rel. min. Gilmar Mendes, j. 13-11-2014, P, DJE de 19-2-
2015, Tema 608.]
• É constitucional o art. 19-A da Lei 8.036/1990, o qual dispõe ser devido o depósito do FGTS na
conta de trabalhador cujo contrato com a administração pública seja declarado nulo por ausência
de prévia aprovação em concurso público, desde que mantido o seu direito ao salário. Mesmo
quando reconhecida a nulidade da contratação do empregado público, nos termos do art. 37, § 2º,
da CF, subsiste o direito do trabalhador ao depósito do FGTS quando reconhecido ser devido o
salário pelos serviços prestados. [RE 596.478, rel. p/ o ac. min. Dias Toffoli, j. 13-6-2012, P, DJE de
1º-3-2013, Tema 191.]

IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades
vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário,
higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder
aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;
• Súmula Vinculante 16 - Os arts. 7º, IV, e 39, § 3º (redação da EC 19/1998), da Constituição
referem-se ao total da remuneração percebida pelo servidor público.

18
DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
• Súmula vinculante 15 - O cálculo de gratificações e outras vantagens do servidor público não
incide sobre o abono utilizado para se atingir o salário mínimo.
• Súmula vinculante 6 - Não viola a Constituição o estabelecimento de remuneração inferior ao
salário mínimo para as praças prestadoras de serviço militar inicial.
• Súmula vinculante 4 - Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser
usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado,
nem ser substituído por decisão judicial.

Controle concentrado de constitucionalidade


• O texto constitucional (CF, art. 7º, IV, fine) não proíbe a utilização de múltiplos do salário-
mínimo como mera referência paradigmática para definição do valor justo e proporcional do piso
salarial destinado à remuneração de categorias profissionais especializadas (CF, art. 7º, V),
impedindo, no entanto, reajustamentos automáticos futuros, destinados à adequação do salário
inicialmente contratado aos novos valores vigentes para o salário-mínimo nacional. Fixada
interpretação conforme à Constituição, com adoção da técnica do congelamento da base de cálculo
dos pisos salariais, a fim de que sejam calculados de acordo com o valor do salário-mínimo vigente
na data da publicação da ata da sessão de julgamento. [ADPF 53 MC-REF, rel. min. Rosa Weber, j.
21-2-2022, P, DJE de 18-3-2022.]
• O trabalho do preso, cuja remuneração é fixada em três quartos do salário mínimo o patamar
base de remuneração do trabalho do preso (artigo 29, caput, da Lei de Execução Penal) deve ser
analisada não apenas sob a ótica da regra do salário mínimo (artigo 7º, IV, da CRFB), mas
também de outros vetores constitucionais, como a busca do pleno emprego (artigo 170, VIII, da
CRFB) e a individualização da pena na fase de execução (artigo 5º, XLVI, da CRFB). (...) O trabalho
do condenado constitui um dever, obrigatório na medida de suas aptidões e capacidade, e possui
finalidades educativa e produtiva, nos termos dos artigos 28, caput, 31 e 39, V, da Lei de Execução
Penal, em contraste com a liberdade para trabalhar e prover o seu sustento garantida aos que não
cumprem pena prisional pelo artigo 6º da Constituição. O cumprimento da pena privativa de
liberdade gera restrições naturais ao exercício do trabalho, com potencial repercussão negativa na
remuneração da mão de obra, o que se extrai do peculiar regime jurídico a que se submetem os
trabalhadores presos, a saber: (i) necessidade de implantação de oficinas de trabalho, por
empregadores privados, referentes a setores de apoio dos presídios (artigo 34, § 2º, da LEP); (ii) a
finalidade de formação profissional do condenado (artigo 34 da LEP), ainda que não produza
benefício econômico para terceiros; (iii) a aquisição pelo poder público, com dispensa da concorrência
pública, dos bens ou produtos do trabalho prisional, sempre que não for possível ou recomendável
realizar-se a venda a particulares (artigo 35 da LEP); (iv) a necessidade de observância das cautelas
contra a fuga e em favor da disciplina no trabalho externo (artigo 36 da LEP); (v) a possibilidade de
revogação da autorização de trabalho externo se o preso tiver comportamento contrário aos
requisitos de aptidão, disciplina e responsabilidade, bem assim quando praticar fato definido como
crime ou for punido por falta grave (artigo 37, parágrafo único, da LEP) etc. A legitimidade da

19
DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
diferenciação entre o trabalho do preso e o dos empregados em geral na política pública de limites
mínimos de remuneração é evidenciada pela distinta lógica econômica do labor no sistema
executório penal, que pode até mesmo ser subsidiado pelo Erário, de modo que o discrímen
promove, em vez de violar, o mandamento de isonomia contido no artigo 5º, caput, da Constituição,
no seu aspecto material. A autorização legal para a percepção de remuneração inferior ao salário
mínimo no trabalho do preso é acompanhada de medidas compensatórias, quais sejam: (i) é fixado
um patamar mínimo de três quartos do salário mínimo, percentual razoável para configurar uma
justa remuneração pelo trabalho humano, nos termos definidos democraticamente pelo Parlamento;
(ii) são impostos ao Estado deveres de prestação material em relação ao interno, a fim de garantir o
atendimento de todas as suas carências básicas; e (iii) concede-se ao preso o benefício da remição
da pena, na proporção de 1 (um) dia de redução da sanção criminal para cada 3 (três) dias de
trabalho. O salário mínimo, na dicção do artigo 7º, IV, da Constituição, visa satisfazer as necessidades
vitais básicas do trabalhador e as de sua família “com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer,
vestuário, higiene, transporte e previdência social”, ao passo que o preso, conforme previsão legal,
já deve ter atendidas pelo Estado boa parte das necessidades vitais básicas que o salário mínimo
objetiva atender, tais como educação (artigos 17 e seguintes da LEP), alojamento (artigo 88 da LEP),
saúde (artigo 14 da LEP), alimentação, vestuário e higiene (artigo 12 da LEP). (...) O patamar mínimo
diferenciado de remuneração aos presos previsto no artigo 29, caput, da Lei de Execução Penal não
representa violação aos princípios da dignidade humana (artigo 1º, III, da CRFB) e da isonomia (artigo
5º, caput, da CRFB), sendo inaplicável à hipótese a garantia de salário mínimo prevista no artigo 7º,
IV, da Constituição. [ADPF 336, rel. min. Luiz Fux, j. 1º-3-2021, P, DJE de 10-5-2021]
• É constitucional referência ao salário mínimo contida em norma de regência de benefício
assistencial como a fixar valor unitário na data da edição da lei, vedada vinculação futura como
mecanismo de indexação. [ADI 4.726, rel. min. Marco Aurélio, j. 11-11-2020, P, DJE de 30-11-2020.]
• Piso salarial dos técnicos em radiologia. Adicional de insalubridade. Indexação ao salário mínimo.
(...) Inconstitucionalidade da indexação de piso salarial ao valor do salário mínimo. Congelamento
da base de cálculo, a fim de que seja calculada de acordo com o valor de dois salários mínimos
vigentes na data de estabilização da decisão que deferiu a medida cautelar. Não-recepção do art. 16
da Lei 7.394/1985. [ADPF 151, rel. min. Roberto Barroso, j. 7-2-2019, P, DJE de 11-4-2019.]
• Não encontra amparo no Texto Constitucional revisão de benefício previdenciário pelo valor
nominal do salário mínimo. [RE 968.414, rel. min. Marco Aurélio, j. 15-5-2020, P, DJE de 3-6-2020,
Tema 996.]
Repercussão geral reconhecida com mérito julgado
• (...) ”[é] defeso o pagamento de remuneração em valor inferior ao salário mínimo ao servidor
público, ainda que labore em jornada reduzida de trabalho”. [RE 964.659, rel. min. Dias Toffoli, j.
8-8-2022, P, DJE de 1º-9-2022, Tema 900.]
• (...) a vedação da vinculação ao salário mínimo insculpida no art. 7º,IV, da Constituição visa
impossibilitar a utilização do mencionado parâmetro como fator de indexação para as obrigações
não dotadas de caráter alimentar. Conforme precedentes desta Suprema Corte, a utilização do

20
DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
salário mínimo como base de cálculo do valor da pensão alimentícia não ofende o dispositivo
constitucional invocado, dada a premissa de que a prestação tem por objetivo a preservação da
subsistência humana e o resguardo do padrão de vida daquele que a percebe, o qual é
hipossuficiente e, por isso mesmo, dependente do alimentante, seja por vínculo de parentesco, seja
por vínculo familiar. [ARE 842.157 RG, voto do rel. min. Dias Toffoli, j. 4-2015, P, DJE de 20-8-2015,
Tema 821.]
• O Plenário, no julgamento do RE 199.098/SC e RE 265.129/RS, rel. min. Ilmar Galvão, decidiu que
o art. 7º, IV, da Constituição refere-se ao total da remuneração percebida pelo servidor e não
apenas ao vencimento-base. (...) Ambas as Turmas da Corte, seguindo a orientação firmada pelo
Plenário, corroboraram o entendimento de que a remuneração total do servidor, e não o seu
salário-base, é que não pode ser inferior ao salário mínimo. [RE 582.019 QO-RG, voto do rel. min.
Ricardo Lewandowski, j. 13-11-2008, P, DJE de 13-2-2009, Tema 142.]
• Serviço militar obrigatório. Soldo. Valor inferior ao salário mínimo. Violação aos arts. 1º, III; 5º,
caput; e 7º, IV, da CF. Inocorrência. (...) A CF não estendeu aos militares a garantia de remuneração
não inferior ao salário mínimo, como o fez para outras categorias de trabalhadores. O regime a
que submetem os militares não se confunde com aquele aplicável aos servidores civis, visto que têm
direitos, garantias, prerrogativas e impedimentos próprios. Os cidadãos que prestam serviço militar
obrigatório exercem um múnus público relacionado com a defesa da soberania da pátria. A obrigação
do Estado quanto aos conscritos limita-se a fornecer-lhes as condições materiais para a adequada
prestação do serviço militar obrigatório nas Forças Armadas. [RE 570.177, rel. min. Ricardo
Lewandowski, j. 30-4-2008, P, DJE de 27-6-2008, Tema 15.]
• Adicional de insalubridade. Base de cálculo. Salário mínimo. Mesmo em se tratando de adicional de
insalubridade, descabe considerar o salário mínimo como base de cálculo. Verbete Vinculante 4 da
Súmula do Supremo. Agravo. Reforma. Alcance. Afasta-se a observância do verbete vinculante
quando conclusão diversa acarreta o prejuízo do recorrente. [RE 388.658 AgR, rel. min. Marco Aurélio,
j. 12-8-2008, 1ª T, DJE de 26-9-2008.]

V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;


Controle concentrado de constitucionalidade
• A jurisprudência desta Corte entende violar o princípio federativo a estipulação de piso
remuneratório nacional apenas em relação aos servidores públicos efetivos, por interferir na
autonomia administrativa dos demais entes federados. Em relação aos empregados públicos
sujeitos ao vínculo jurídico celetista estendem-se, no ponto, as mesmas garantias dos
trabalhadores em geral. A adoção da técnica de ‘congelamento’ da base de cálculo do piso salarial
não importa em nenhuma distinção salarial entre empregados antigos e novos contratados. O piso
salarial constitui referência mínima de contratação. Não define, por si só, qual será o salário
efetivamente pago. Apenas impõe limite mínimo para as contratações. [ADPF 53 ED, ADPF 149
ED e ADPF 171 ED, rel. min. Rosa Weber, j. 4-7-2022, P, DJE de 12-7-2022.]

21
DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
• O texto constitucional (CF, art. 7º, IV, fine) não proíbe a utilização de múltiplos do salário-
mínimo como mera referência paradigmática para definição do valor justo e proporcional do piso
salarial destinado à remuneração de categorias profissionais especializadas (CF, art. 7º, V),
impedindo, no entanto, reajustamentos automáticos futuros, destinados à adequação do salário
inicialmente contratado aos novos valores vigentes para o salário-mínimo nacional. Fixada
interpretação conforme à Constituição, com adoção da técnica do congelamento da base de cálculo
dos pisos salariais, a fim de que sejam calculados de acordo com o valor do salário-mínimo vigente
na data da publicação da ata da sessão de julgamento. [ADPF 53 MC-REF, rel. min. Rosa Weber, j.
21-2-2022, P, DJE de 18-3-2022.]
• A menção ao dever de obediência a patamar mínimo fixado em lei foi feita – em relação aos
trabalhadores alcançados pela lei estadual, não abrangidos por nenhuma forma de negociação
coletiva anterior – como reforço argumentativo, com o intuito de realçar a liberdade de atuação dos
órgãos sindicais na construção das políticas salariais dos seus representados.
Como foi destacado, o piso salarial fixado pela legislação estadual, em razão da limitação contida
na LC federal 103/2000 e conforme ressalva expressa no art. 3º da lei estadual questionada, não
incidirá sobre as profissões que tenham convenção ou acordo coletivo de trabalho, preservando-
se e ressalvando-se os pisos salariais assim definidos. Por sua vez, em relação aos trabalhadores
não abrangidos por nenhuma forma anterior de negociação coletiva, o piso salarial estadual
incidirá, passando a ser esse, portanto, o patamar mínimo legalmente assegurado à categoria, e
não mais o “salário mínimo nacional”.
A lei questionada não viola o princípio do pleno emprego. Ao contrário, a instituição do piso salarial
regional visa, exatamente, reduzir as desigualdades sociais, conferindo proteção aos trabalhadores
e assegurando a eles melhores condições salariais. Não viola o poder normativo da Justiça do
Trabalho (art. 114, § 2º, da Lei Maior) o fato de a lei estadual não ter excluído dos seus efeitos a
hipótese de piso salarial determinado em dissídio coletivo. A lei atuou nos exatos contornos da
autorização conferida pela delegação legislativa. A lei impugnada realiza materialmente o princípio
constitucional da isonomia, uma vez que o tratamento diferenciado aos trabalhadores agraciados
com a instituição do piso salarial regional visa reduzir as desigualdades sociais.
A LC federal 103/2000 teve por objetivo maior assegurar àquelas classes de trabalhadores
menos mobilizadas e, portanto, com menor capacidade de organização sindical, um patamar
mínimo de salário.
A fim de manter-se o incentivo à negociação coletiva (art. 7º, XXVI, CF/1988), os pisos salariais
regionais somente serão estabelecidos por lei naqueles casos em que não haja convenção ou
acordo coletivo de trabalho. As entidades sindicais continuarão podendo atuar nas negociações
coletivas, desde que respeitado o patamar mínimo legalmente assegurado.
A parte final do parágrafo único do art. 2º da LC 459/2009, ao determinar a participação do
“Governo do Estado de Santa Catarina” nas negociações entre as entidades sindicais de
trabalhadores e empregadores para atualização dos pisos salariais fixados na referida lei

22
DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
complementar, ofende o princípio da autonomia sindical (art. 8º, I, CF/1988) e extrapola os
contornos da competência legislativa delegada pela União.
As negociações coletivas devem ocorrer com a participação dos representantes dos empregadores
e dos trabalhadores, sem intromissão do governo (princípio da negociação livre). Ao criar
mecanismo de participação estatal compulsória nas negociações coletivas, o Estado de Santa
Catarina legisla sobre “direito coletivo do trabalho”, não se restringindo a instituir o piso salarial
previsto no inciso V do art. 7º da CF.
[ADI 4.364, rel. min. Dias Toffoli, j. 2-3-2011, P, DJE de 16-5-2011.]
Vide ADI 4.364 ED, rel. min. Dias Toffoli, j. 29-5-2013, P, DJE de 20-9-2013.

VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;


Controle concentrado de constitucionalidade
A temporariedade e a excepcionalidade da medida, que é destinada (...) a manter empregos e a
atividade econômica nacional, a proporcionalidade, porque há uma redução remuneratória com
redução da carga horária, além da complementação parcial por parte do Poder Público, e a
finalidade maior da medida provisória de preservar o vínculo trabalhista e a renda do trabalhador
para a sua subsistência, para a subsistência da sua família, estão (...) em absoluta consonância
com uma proteção social ao emprego, ao trabalho, a proteção à dignidade da pessoa humana, o
respeito aos valores sociais do trabalho e à livre iniciativa. (...) Neste momento, há necessidade da
garantia, de segurança jurídica, de boa -fé, para que empregado e empregador saibam que,
assinando o acordo reduzindo proporcionalmente sua renda e o horário a ser trabalhado, o
empregado receberá um auxílio emergencial e poderá, com isso, garantir, daqui a três meses, a
manutenção do seu emprego e sua subsistência, sem que sejam empregados e empregadores, após
isso, surpreendidos por uma quebra de contrato, por uma quebra de acordo por parte dos sindicatos.
[ADI 6.363 MC-Ref, voto do redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, j. 16 e 17-4-2020,
P, DJE de 24-11-2020.]
Julgados Correlatos
→ Transposição do regime celetista para o estatutário. Inexistência de direito adquirido a regime
jurídico. Possibilidade de diminuição ou supressão de vantagens sem redução do valor da
remuneração. [RE 599.618 ED, rel. min. Cármen Lúcia, j. 1º-2-2011, 1ª T, DJE de 14-3-2011.] Vide
RE 212.131, rel. min. Ilmar Galvão, j. 3-8-1999, 1ª T, DJ de 29-10-1999.
→ Funcionário público. Conversão compulsória do regime contratual em estatutário. Redução
verificada na remuneração. Art. 7º, VI, c/c art. 39, § 2º, da Constituição. Situação incompatível com
o princípio da irredutibilidade que protegia os salários e protege os vencimentos do servidor,
exsurgindo, como solução razoável para o impasse, o enquadramento do servidor do nível mais
alto da categoria funcional que veio a integrar, convertido, ainda, eventual excesso
remuneratório verificado em vantagem pessoal a ser absorvida em futuras concessões de

23
DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
aumento real ou específico. [RE 212.131, rel. min. Ilmar Galvão, j. 3-8-1999, 1ª T, DJ de 29-10-
1999.]

VII- garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável;
• Súmula vinculante 6 - Não viola a Constituição o estabelecimento de remuneração inferior ao
salário mínimo para as praças prestadoras de serviço militar inicial.
Repercussão geral reconhecida com mérito julgado:
• Serviço militar obrigatório. Soldo. Valor inferior ao salário mínimo. Violação aos arts. 1º, III; 5º,
caput; e 7º, IV, da CF. Inocorrência. (...)
A CF não estendeu aos militares a garantia de remuneração não inferior ao salário mínimo, como
o fez para outras categorias de trabalhadores. O regime a que submetem os militares não se
confunde com aquele aplicável aos servidores civis, visto que têm direitos, garantias,
prerrogativas e impedimentos próprios. Os cidadãos que prestam serviço militar obrigatório
exercem um múnus público relacionado com a defesa da soberania da pátria. A obrigação do Estado
quanto aos conscritos limita-se a fornecer-lhes as condições materiais para a adequada prestação
do serviço militar obrigatório nas Forças Armadas. [RE 570.177, rel. min. Ricardo Lewandowski, j.
30-4-2008, P, DJE de 27-6-2008, Tema 15.]

VIII- décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria;
→ A natureza da gratificação natalina é remuneratória e integra, para todos os efeitos, a
remuneração do empregado, conforme estabelece a Súmula 207/STF. [RE 260.922, rel. p/ o ac. min.
Maurício Corrêa, j. 30-5-2000, 2ª T, DJ de 20-10-2000.]

IX- remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;


X- proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;
XI- participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente,
participação na gestão da empresa, conforme definido em lei;
→ Pela Constituição da República de 1988 se objetiva estimular a integração do trabalhador ao
desenvolvimento da empresa pela participação negociada nos ganhos econômicos (inc. XI do art. 7º
e § 4º do art. 218). Não (se) demonstra inconstitucionalidade de normal pela (qual) se prevê a
participação nos lucros e resultados pelos trabalhadores das empresas estatais,2 de acordo com as
diretrizes específicas elaboradas pelo Poder Executivo a que estejam submetidas respectivas
entidades. As empresas estatais, embora sujeitas a controle público, são competentes para celebrar
negociação coletiva sobre participação em lucros e resultados. [ADI 5.417, rel. min. Cármen Lúcia, j.
7-12-2020, P, DJE de 4-2-2021.]

2. A redação original foi corrigida livremente pelos autores.

24
DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
→ Constituição do Estado de Santa Catarina. Impugnação ao art. 14, II, da Constituição Estadual e
ao inteiro teor da Lei Estadual disciplinadora 1.178/1994. (...) Normas que instituem a participação
obrigatória de 1 (um) representante dos empregados, por eles indicado, mediante processo eletivo,
no conselho de administração e na diretoria das empresas públicas, sociedades de economia mista
e suas subsidiárias. Exercício do direito assegurado pelo art. 7º, XII, da CRFB/88. A gestão
democrática, constitucionalmente contemplada no preceito alusivo aos direitos trabalhistas
(CFRB/88, art. 7º, XI), é instrumento de participação do cidadão - do empregado - nos espaços
públicos de que faz parte, além de ser desdobramento do disposto no artigo 1º, inciso II, que elege
a cidadania como fundamento do estado brasileiro. [ADI 1.229, rel. min. Edson Fachin, j. 23-8-2019,
P, DJE de 9-9-2019.]
• Participação dos empregados na gestão da empresa: admitida, com base no art. 7º, XI, CF, parece
que, na eleição do representante, o sufrágio deve ser concedido apenas aos empregados em atividade,
não aos inativos. [ADI 2.296 MC, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 16-11-2000, P, DJ de 23-2-2001.]
Repercussão geral reconhecida com mérito julgado
• Segundo afirmado por precedentes de ambas as Turmas deste STF, a eficácia do preceito veiculado
pelo art. 7º, XI, da CF – inclusive no que se refere à natureza jurídica dos valores pagos a
trabalhadores sob a forma de participação nos lucros para fins tributários – depende de
regulamentação. Na medida em que a disciplina do direito à participação nos lucros somente se
operou com a edição da MP 794/1994 e que o fato gerador em causa concretizou-se antes da vigência
desse ato normativo, deve incidir, sobre os valores em questão, a respectiva contribuição
previdenciária. [RE 569.441, rel. p/ o ac. min. Teori Zavascki, j. 30-10-2014, P, DJE de 10-2-2015,
Tema 344.]

XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da
lei; (Redação da EC 20/1998)
• Salário-família. Direito incorporado ao patrimônio do servidor público. Supressão indevida pela
administração pública. Transgressão às garantias constitucionais da irredutibilidade de vencimentos
e do direito adquirido.” (AI 817.010-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 27-3-2012,
Segunda Turma, DJE de 12-4-2012.)

XIII- duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais,
facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção
coletiva de trabalho;
Controle concentrado de constitucionalidade
• A jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso não afronta o art. 7º, XIII, da
Constituição da República, pois encontra-se respaldada na faculdade, conferida pela norma
constitucional, de compensação de horários. A proteção à saúde do trabalhador (art. 196 da CRFB)

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DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
e à redução dos riscos inerentes ao trabalho (art. 7º, XXII, da CRFB) não é ipso facto desrespeitada
pela jornada de trabalho dos bombeiros civis, tendo em vista que, para cada 12 horas trabalhadas,
há 36 horas de descanso e também prevalece o limite de 36 horas de jornada semanal. [ADI 4.842,
rel. min. Edson Fachin, j. 14-9-2016, P, DJE de 8-8-2017.]

XIV- jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento,
salvo negociação coletiva;
• Súmula 675 STF: Os intervalos fixados para descanso e alimentação durante a jornada de seis horas
não descaracterizam o sistema de turnos ininterruptos de revezamento para o efeito do art. 7º, XIV, da
Constituição.

XV- repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;


XVI- remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do
normal;
• O art. 7º, XVI, da CF, que cuida do direito dos trabalhadores urbanos e rurais à remuneração pelo
serviço extraordinário com acréscimo de, no mínimo, 50%, aplica-se imediatamente aos
servidores públicos, por consistir em norma autoaplicável. [AI 642.528 AgR, rel. min. Dias Toffoli, j.
25-9-2012, 1ª T, DJE de 15-10-2012.]

XVII- gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário
normal;
Controle concentrado de constitucionalidade
• (...) o Supremo entende que a limitação do adicional de férias anuais dos membros da magistratura
e do ministério público constitui flagrante ofensa ao art. 7º, XVII, da Constituição Federal, que
assegura aos trabalhadores em geral férias anuais remuneradas com adicional mínimo de um terço
calculado sobre o salário normal. Desse modo, se as férias forem de sessenta dias (dois períodos de
trinta dias), o adicional de um terço incidirá sobre o valor correspondente a dois salários, pois, caso
contrário, se o adicional incidisse apenas sobre um período de trinta dias (salário mensal), as férias
de sessenta dias seriam remuneradas pela metade (um sexto), em flagrante ofensa à Constituição
Federal. Ação julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade da expressão ‘mensal’
contida nos arts. 1º e 2º da Lei 8.870/89, da expressão ‘mensal’ contida nos arts. 1º e 2º da Lei
8.874/89 e da expressão ‘vedada, em caso de acumulação de férias, a dupla percepção da
vantagem’, contida no art. 3º da Lei 8.874/89, ambas do Estado do Rio Grande do Sul. [ADI 2.964,
rel. min. Gilmar Mendes, j. 9-5-2019, P, DJE de 1º-8-2019.]
• O direito às férias remuneradas é assegurado ao servidor público em atividade. O acréscimo de 1/3
da remuneração segue o principal: somente faz jus a esse acréscimo o servidor com direito ao gozo

26
DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
de férias remuneradas. CF, art. 7º, XVII. Servidor público aposentado não tem direito, obviamente,
ao gozo de férias. [ADI 2.579, rel. min. Carlos Velloso, j. 21-8-2003, P, DJ de 26-9-2003.] = ADI
1.158, rel. min. Dias Toffoli, j. 20-8-2014, P, DJE de 8-10-2014.
Repercussão geral reconhecida com mérito julgado
• É legítima a incidência de contribuição social sobre o valor satisfeito a título de terço constitucional
de férias. [RE 1.072.485, rel. min. Marco Aurélio, j. 31-8-2020, P, DJE de 2-10-2020, Tema 985.]
• O direito individual às férias é adquirido após o período de doze meses trabalhados, sendo devido
o pagamento do terço constitucional independente do exercício desse direito.
A ausência de previsão legal não pode restringir o direito ao pagamento do terço constitucional
aos servidores exonerados de cargos comissionados que não usufruíram férias.
O não pagamento do terço constitucional àquele que não usufruiu o direito de férias é penalizá-lo
duas vezes: primeiro por não ter se valido de seu direito ao descanso, cuja finalidade é preservar a
saúde física e psíquica do trabalhador; segundo por vedar-lhe o direito ao acréscimo financeiro que
teria recebido se tivesse usufruído das férias no momento correto. [RE 570.908, rel. min. Cármen
Lúcia, j. 16-9-2009, P, DJE de 12-3-2010, Tema 30.]
• É pacífica a jurisprudência desta Corte no sentido de que o servidor público aposentado tem
direito ao recebimento de indenização pelas férias não gozadas, adquiridas ao tempo da
atividade, sob pena de enriquecimento sem causa da administração. [RE 234.485 AgR, rel. min.
Dias Toffoli, j. 2-8-2011, 1ª T, DJE de 19-9-2011.] = ARE 726.294 AgR, rel. min. Gilmar Mendes, j.
5-2-2013, 2ª T, DJE de 25-2-2013.
• O STF, em sucessivos julgamentos, firmou entendimento no sentido da não incidência de
contribuição social sobre o adicional de um terço, a que se refere o art. 7º, XVII, da CF.
Precedentes. [RE 587.941 AgR, rel. min. Celso de Mello, j. 30-9-2008, 2ª T, DJE de 21-11-2008.] =
AI 710.361 AgR, rel. min. Cármen Lúcia, j. 7-4-2009, 1ª T, DJE de 8-5-2009.

XVIII- licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte
dias;
Controle concentrado de constitucionalidade
• (...) interpretação conforme à Constituição ao artigo 392, §1º, da CLT, assim como ao artigo 71 da
Lei n.º 8.213/91 e, por arrastamento, ao artigo 93 do seu Regulamento (Decreto n.º 3.048/99), de
modo a se considerar como termo inicial da licença-maternidade e do respectivo salário-
maternidade a alta hospitalar do recém-nascido e/ou de sua mãe, o que ocorrer por último,
prorrogando-se em todo o período os benefícios, quando o período de internação exceder as
duas semanas previstas no art. 392, §2º, da CLT, e no art. 93, §3º, do Decreto n.º 3.048/99. [ADI
6.327, rel. min. Edson Fachin, j. 24-10-2022, P, DJE de 7-11-2022.]
Repercussão geral reconhecida com mérito julgado
• A licença-maternidade prevista no artigo 7º, XVIII, da Constituição abrange tanto a licença-
gestante quanto a licença-adotante, ambas asseguradas pelo prazo mínimo de 120 dias.

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DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
Interpretação sistemática da Constituição à luz da dignidade da pessoa humana, da igualdade entre
filhos biológicos e adotados, da doutrina da proteção integral, do princípio da prioridade e do
interesse superior do menor. (...)
Tese de repercussão geral: “Os prazos da licença-adotante não podem ser inferiores aos prazos da
licença-gestante, o mesmo valendo para as respectivas prorrogações. Em relação à licença-
adotante, não é possível fixar prazos diversos em função da idade da criança adotada”. [RE
778.889, rel. min. Roberto Barroso, j. 10-3-2016, P, DJE de 1º-8-2016, Tema 782.]
• A estabilidade provisória advinda de licença-maternidade decorre de proteção constitucional às
trabalhadoras em geral. O direito amparado pelo art. 7º, XVIII, da CF, nos termos do art. 142, VIII, da
CF/1988, alcança as militares. [RE 523.572 AgR, rel. min. Ellen Gracie, j. 6-10-2009, 2ª T, DJE de
29-10-2009.] = AI 811.376 AgR, rel. min. Gilmar Mendes, j. 1º-3-2011, 2ª T, DJE de 23-3-2011.
• O STF fixou entendimento no sentido de que as servidoras públicas e empregadas gestantes,
inclusive as contratadas a título precário, independentemente do regime jurídico de trabalho, têm
direito à licença-maternidade de 120 dias e à estabilidade provisória desde a confirmação da
gravidez até 5 meses após o parto, nos termos do art. 7º, XVIII, da Constituição do Brasil e do art.
10, II, b, do ADCT. [RE 600.057 AgR, rel. min. Eros Grau, j. 29-9-2009, 2ª T, DJE de 23-10-2009.] =
RE 634.093 AgR, rel. min. Celso de Mello, j. 22-11-2011, 2ª T, DJE de 7-12-2011.

ATENÇÃO! O TST possui entendimento diverso, inclusive, o STF deve analisar tese citada no
tópico anterior sobre empregada temporária gestante. Em novembro de 2019, o Pleno do TST,
ao julgar IAC nº 2 sob processo nº 5639-31.2013.5.12.0051, fixou a seguinte tese: "É inaplicável
ao regime de trabalho temporário, disciplinado pela Lei nº 6.019/74, a garantia de estabilidade
provisória à empregada gestante, prevista no art. 10, II, b, do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias".

XIX – licença-paternidade, nos termos fixados em lei;


XX- proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da
lei;
O art. 384 da CLT, em relação ao período anterior à edição da Lei n. 13.467/2017, foi recepcionado
pela Constituição Federal de 1988, aplicando-se a todas as mulheres trabalhadoras.[RE 658.312 2º
Julg, rel. min. Dias Toffoli, j. 14-9-2021, P, DJE de 6-12-2021, Tema 528.]
Atenção: Referido dispositivo já foi revogado pela Lei nº 13.467, de 2017.

XXI – aviso-prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos
da lei;
XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e
segurança;

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DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
• Súmula 736: Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa de pedir o
descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores.
Controle concentrado de constitucionalidade
•O consenso dos órgãos oficiais de saúde geral e de saúde do trabalhador em torno da natureza
altamente cancerígena do amianto crisotila, a existência de materiais alternativos à fibra de amianto
e a ausência de revisão da legislação federal revelam a inconstitucionalidade superveniente (sob a
óptica material) da Lei Federal 9.055/1995, por ofensa ao direito à saúde (art. 6º e 196, CF/88), ao
dever estatal de redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene e
segurança (art. 7º, inciso XXII, CF/88), e à proteção do meio ambiente (art. 225, CF/88). Diante da
invalidade da norma geral federal, os estados-membros passam a ter competência legislativa
plena sobre a matéria, nos termos do art. 24, § 3º, da CF/88. Tendo em vista que a Lei
12.684/2007 do Estado de São Paulo proíbe a utilização do amianto crisotila nas atividades que
menciona, em consonância com os preceitos constitucionais (em especial, os arts. 6º, 7º, inciso
XXII; 196 e 225 da CF/88) e com os compromissos internacionais subscritos pelo Estado
brasileiro, não incide ela no mesmo vício de inconstitucionalidade material da legislação federal.
[ADI 3.937, red. do ac. min. Dias Toffoli, j. 24-8-2017, P, DJE de 1º-2-2019.]

XXIII – adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma


da lei;
• Súmula vinculante 4 – Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser
usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem
ser substituído por decisão judicial.
• PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE.
RECONHECIMENTO PELA ADMINISTRAÇÃO. RETROAÇÃO DOS EFEITOS DO LAUDO.
IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO STJ. INCIDENTE PROVIDO.
1. Cinge-se a controvérsia do incidente sobre a possibilidade ou não de estender o pagamento do
adicional de insalubridade e periculosidade ao servidor em período anterior à formalização do laudo
pericial.
2. O artigo 6º do Decreto n. 97.458/1989, que regulamenta a concessão dos adicionais de
insalubridades, estabelece textualmente que “[a] execução do pagamento somente será processada
à vista de portaria de localização ou de exercício do servidor e de portaria de concessão do adicional,
bem assim de laudo pericial, cabendo à autoridade pagadora conferir a exatidão esses documentos
antes de autorizar o pagamento.”
3. A questão aqui trazida não é nova. Isso porque, em situação que se assemelha ao caso dos autos,
o Superior Tribunal de Justiça tem reiteradamente decidido no sentido de que “o pagamento de
insalubridade está condicionado ao laudo que prova efetivamente as condições insalubres a que
estão submetidos os Servidores. Assim, não cabe seu pagamento pelo período que antecedeu a
perícia e a formalização do laudo comprobatório, devendo ser afastada a possibilidade de

29
DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
presumir insalubridade em épocas passadas, emprestando-se efeitos retroativos a laudo pericial
atual” (Resp 1.400.637/RS, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, Dje 24.11.2015). No
mesmo sentido: Resp 1.652.391/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, Dje
17.5.2017; Resp 1.648.791/SC, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, Dje 24.4.2017;
Resp 1.606.212/ES, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, Dje 20.9.2016; Edcl no AgRg no
Resp 1.2844.38/SP, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, Dje 31.8.2016.
4. O acórdão recorrido destoa do atual entendimento do STJ, razão pela qual merece prosperar a
irresignação.
5. Pedido julgado procedente, a fim de determinar o termo inicial do adicional de insalubridade à
data do laudo pericial.
(PUIL 413/RS, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
11/04/2018, Dje 18/04/2018)

XXIV- aposentadoria;
• Previdência social: aposentadoria espontânea não implica, por si só, extinção do contrato de
trabalho. Despedida arbitrária ou sem justa causa (CF, art. 7º, I): viola a garantia constitucional o
acórdão que, partindo de premissa derivada de interpretação conferida ao art. 453, caput, da CLT
(redação alterada pela Lei 6.204/1975), decide que a aposentadoria espontânea extingue o contrato
de trabalho, mesmo quando o empregado continua a trabalhar na empresa após a concessão do
benefício previdenciário.
A aposentadoria espontânea pode ou não ser acompanhada do afastamento do empregado de seu
trabalho: só há readmissão quando o trabalhador aposentado tiver encerrado a relação de trabalho
e posteriormente iniciado outra; caso haja continuidade do trabalho, mesmo após a aposentadoria
espontânea, não se pode falar em extinção do contrato de trabalho e, portanto, em readmissão.[RE
449.420, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 16-8-2005, 1ª T, DJ de 14-10-2005.] = RE 487.734 AgR,
rel. min. Cármen Lúcia, j. 13-10-2009, 1ª T, DJE de 13-11-2009.
Observação: Importante observar que, com relação aos servidores públicos estatutários e
empregados públicos, de acordo com a Emenda Constitucional n. 103/2019 (Reforma da
Previdência), “a aposentadoria concedida com a utilização de tempo de contribuição decorrente
de cargo, emprego ou função pública, inclusive do Regime Geral de Previdência Social, acarretará
o rompimento do vínculo que gerou o referido tempo de contribuição.” (art. 37, § 14, da
Constituição Federal)

XXV- assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de
idade em creches e pré-escolas; (Redação da EC 53/2006)
XXVI- reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;
Controle concentrado de constitucionalidade

30
DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
• A fixação da jornada de trabalho mediante lei (tal como sucedeu em relação aos Assistentes
Sociais), além de não traduzir ofensa à autonomia sindical ou ao processo de negociação coletiva
para deliberar sobre esse tema, revela-se plenamente legítima e inteiramente compatível com o
texto da Constituição da República, seja porque a Lei nº 12.317/2010 emanou de pessoa estatal
competente (CF, art. 22, I), seja, ainda, porque mencionado diploma legislativo veiculou, no caso,
norma claramente favorável a essa categoria profissional, pois instituiu, “in melius”, regime jurídico
mais benéfico pertinente à jornada de trabalho em favor dos Assistentes Sociais, consideradas, para
tanto, as peculiaridades e as condições a que estão sujeitos referidos profissionais no desempenho
de sua atividade laboral. [ADI 4.468, rel. min. Celso de Mello, j. 13-10-2020, P, DJE de 27-10-2020.]
• A Constituição da República não disciplina a vigência e a eficácia das convenções e acordos
coletivos de trabalho. A conformação desses institutos é de competência do legislador ordinário, que
deverá, à luz das demais normas constitucionais, eleger políticas legislativas capazes de viabilizar a
concretização dos direitos dos trabalhadores. [ADI 2.288, rel. min. Cármen Lúcia, j. 4-6-2020, P, DJE
de 9-9-2020.]
• A Lei 9.610 submete a possibilidade do contrato de trabalho por prazo determinado à existência
de acordo ou convenção coletiva de trabalho. A possibilidade de tais acordos e convenções é prevista
na Constituição Federal, que, além de prever sua ocorrência no caso de redução do salário (art. 7º,
VI) e compensação ou redução de jornada (art. 7º, XIII), expressamente reconhece sua validade no
inciso XXVI do art. 7º (...). Ressalto que há uma tendência em respeitar a autonomia nas relações de
trabalho, decorrentes dos acordos e convenções coletivas, cuja importância é reafirmada na
chamada Reforma Trabalhista, operada pela Lei 13.467, de 13 de julho de 2017. (...) todos os direitos
sociais do trabalhador, reconhecidos pela Constituição de 1988 estão preservados pela norma
impugnada, não havendo, portanto, afronta constitucional na criação, por lei, da modalidade de
contrato de trabalho por prazo determinado de que trata a Lei 9.610, de 1998. [ADI 1.764, voto do
rel. min. Gilmar Mendes, j. 20-4-2020, P, DJE de 29-5-2020.]
Repercussão geral reconhecida com mérito julgado
• São constitucionais os acordos e as convenções coletivos que, ao considerarem a adequação
setorial negociada, pactuam limitações ou afastamentos de direitos trabalhistas,
independentemente da explicitação especificada de vantagens compensatórias, desde que
respeitados os direitos absolutamente indisponíveis. [ARE 1.121.633, rel. min. Gilmar Mendes, j. 2-
6-2022, P, Informativo 1.057, RG, Tema 1.046]
• A Constituição de 1988, em seu art. 7º, XXVI, prestigiou a autonomia coletiva da vontade e a
autocomposição dos conflitos trabalhistas, acompanhando a tendência mundial ao crescente
reconhecimento dos mecanismos de negociação coletiva, retratada na Convenção 98/1949 e na
Convenção 154/1981 da Organização Internacional do Trabalho.
O reconhecimento dos acordos e convenções coletivas permite que os trabalhadores contribuam
para a formulação das normas que regerão a sua própria vida.

31
DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
Os planos de dispensa incentivada permitem reduzir as repercussões sociais das dispensas,
assegurando àqueles que optam por seu desligamento da empresa condições econômicas mais
vantajosas do que aquelas que decorreriam do mero desligamento por decisão do empregador.
É importante, por isso, assegurar a credibilidade de tais planos, a fim de preservar a sua função
protetiva e de não desestimular o seu uso. (...)
Afirmação, em repercussão geral, da seguinte tese: "A transação extrajudicial que importa rescisão
do contrato de trabalho, em razão de adesão voluntária do empregado a plano de dispensa
incentivada, enseja quitação ampla e irrestrita de todas as parcelas objeto do contrato de
emprego, caso essa condição tenha constado expressamente do acordo coletivo que aprovou o
plano, bem como dos demais instrumentos celebrados com o empregado". [RE 590.415, rel. min.
Roberto Barroso, j. 30-4-2015, P, DJE de 29-5-2015, Tema 152.]
Vide RE 895.759 AgR-segundo, rel. min. Teori Zavascki, j. 8-12-2016, 2ª T, DJE de 23-5-2017.
→ Conforme assentado pelo Plenário do STF no julgamento do RE 590.415 (rel. min. Roberto
Barroso, DJE de 29-5-2015, Tema 152), a CF "reconheceu as convenções e os acordos coletivos
como instrumentos legítimos de prevenção e de autocomposição de conflitos trabalhistas",
tornando explícita inclusive "a possibilidade desses instrumentos para a redução de direitos
trabalhistas".
Ainda segundo esse precedente, as normas coletivas de trabalho podem prevalecer sobre "o
padrão geral heterônomo, mesmo que sejam restritivas dos direitos dos trabalhadores, desde
que não transacionem setorialmente parcelas justrabalhistas de indisponibilidade absoluta".
É válida norma coletiva por meio da qual categoria de trabalhadores transaciona o direito ao
cômputo das horas in itinere na jornada diária de trabalho em troca da concessão de vantagens de
natureza pecuniária e de outras utilidades. [RE 895.759 AgR-segundo, rel. min. Teori Zavascki, j. 8-
12-2016, 2ª T, DJEde 23-5-2017.]

XXVII- proteção em face da automação, na forma da lei;


XXVIII- seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização
a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;
• Súmula vinculante 22 - A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de
indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho propostas por
empregado contra empregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam sentença de mérito em
primeiro grau quando da promulgação da EC 45/2004.
• O artigo 927, parágrafo único, do Código Civil é compatível com o artigo 7º, XXVIII, da Constituição
Federal, sendo constitucional a responsabilização objetiva do empregador por danos decorrentes de
acidentes de trabalho, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida, por sua natureza, apresentar exposição habitual a risco especial, com potencialidade
lesiva e implicar ao trabalhador ônus maior do que aos demais membros da coletividade. [RE
828.040, rel. min. Alexandre de Moraes, j. 12-3-2020, P, DJE de 26-6-2020, Tema 932.]

32
DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
• A cobrança da contribuição ao Seguro de Acidente de Trabalho (SAT) incidente sobre o total das
remunerações pagas tanto aos empregados quanto aos trabalhadores avulsos é legítima. [AI
742.458 AgR, rel. min. Eros Grau, j. 14-4-2009, 2ª T, DJE de 15-5-2009.] = RE 459.099 AgR, rel.
min. Dias Toffoli, j. 13-8-2013, 1ª T, DJE de 18-10-2013.

XXIX- ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional
de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção
do contrato de trabalho; (Redação da EC 28/2000)
• A Constituição da República, ao consignar, em seu art. 7º, o direito ‘à ação, quanto aos créditos
resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores
urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho (inciso XXIX) e ‘a
igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador
avulso’ (inciso XXXIV), não elidiu a possibilidade de que, dentro do preceituado pelas normas
constitucionais, em atenção aos princípios da valorização social do trabalho (art. 1º, IV) e de justiça
social (arts. 3º, I a III; 7º a 9º, 170 e 193), fossem reguladas de modo diverso para atender às
particularidades e às condições de trabalhos próprias da relação laboral avulsa. Constitui o OGMO
ente a que se vincula de forma estável, isto é, de forma fixa e constante, o trabalhador portuário
avulso, para fins de gozo de seus direitos trabalhistas. Parece adequado, portanto, que o prazo
quinquenal ou bienal seja aplicado considerando o vínculo com o órgão gestor. A solução, por sua
vez, possibilita a aplicação, na prática, do prazo quinquenal, privilegiando o espírito que animou o
legislador constituinte ao promover a ampliação do prazo prescricional e da proteção social conferida
ao trabalhador. [ADI 5.132, rel. p/ o ac. min. Edson Fachin, j. 29-3-2021, P, DJE de 15-4-2021.]
• A Constituição da República, ao consignar, em seu art. 7º, o direito ‘à ação, quanto aos créditos
resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores
urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho (inciso XXIX) e
‘a igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador
avulso’ (inciso XXXIV), não elidiu a possibilidade de que, dentro do preceituado pelas normas
constitucionais, em atenção aos princípios da valorização social do trabalho (art. 1º, IV) e de justiça
social (arts. 3º, I a III; 7º a 9º, 170 e 193), fossem reguladas de modo diverso para atender às
particularidades e às condições de trabalhos próprias da relação laboral avulsa. Constitui o OGMO
ente a que se vincula de forma estável, isto é, de forma fixa e constante, o trabalhador portuário
avulso, para fins de gozo de seus direitos trabalhistas. Parece adequado, portanto, que o prazo
quinquenal ou bienal seja aplicado considerando o vínculo com o órgão gestor. A solução, por sua
vez, possibilita a aplicação, na prática, do prazo quinquenal, privilegiando o espírito que animou o
legislador constituinte ao promover a ampliação do prazo prescricional e da proteção social
conferida ao trabalhador. [ADI 5.132, rel. p/ o ac. min. Edson Fachin, j. 29-3-2021, P, DJE de 15-
4-2021.]
Repercussão geral reconhecida com mérito julgado

33
DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
• FGTS. Cobrança de valores não pagos. Prazo prescricional. Prescrição quinquenal. Art. 7º, XXIX,
da Constituição. Superação de entendimento anterior sobre prescrição trintenária.
Inconstitucionalidade dos arts. 23, § 5º, da Lei 8.036/1990 e 55 do Regulamento do FGTS aprovado
pelo Decreto 99.684/1990. [ARE 709.212, rel. min. Gilmar Mendes, j. 13-11-2014, P, DJE de 19-2-
2015, Tema 608.]
• Com a conversão do regime de trabalho do servidor, de celetista em estatutário, não obstante
tenha resultado sem solução de continuidade o vínculo existente entre as mesmas partes, é de
ter-se por extinto o contrato de trabalho e, consequentemente, iniciado, a partir de então, o curso
do biênio estabelecido pela Carta Magna no dispositivo sob referência. [RE 317.660, rel. min.
Ilmar Galvão, j. 6-2-2002, P, DJ de 26-9-2003.] = RE 686.633, rel. min. Cármen Lúcia, j. 19-6-2012,
dec. monocrática, DJE de 27-6-2012.
• FGTS. (...) O prazo prescricional do direito de ação referente a créditos trabalhistas é de dois anos
da extinção do contrato de trabalho, conforme art. 7º, XXIX, da CF. [AI 475.350 ED, rel. min. Ellen
Gracie, j. 23-3-2010, 2ª T, DJE de 16-4-2010.] = AI 788.059 AgR, rel. min. Gilmar Mendes, j. 28-9-
2010, 2ª T, DJE de 15-10-2010.

No concurso da PGDF (2022), o tema foi cobrado da seguinte forma:

Com relação aos procedimentos nos dissídios individuais, julgue os itens que se seguem.
O direito de ação quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho prescreve em
cinco anos, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho, para todos
os trabalhadores, à exceção dos rurais.

O item foi considerado ERRADO.

XXX- proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por


motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;
• Súmula 683 STF – O limite de idade para a inscrição em concurso público só se legitima em face
do art. 7º, XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo
a ser preenchido.
• A adoção do tempo de serviço para fins de escalonamento dos subsídios de servidores públicos
caracteriza discrímen razoável que não ofende o disposto no artigo 7º, XXX, da Constituição Federal.
[ADI 5.400, rel. min. Luiz Fux, j. 21-2-2020, P, DJE de 12-3-2020.]
• Insta saber se é razoável ou não limitar idade para ingressar em carreira policial, a par da aprovação
em testes médicos e físicos. Com efeito, o Supremo tem entendido, em casos semelhantes, que o
estabelecimento de limite de idade para inscrição em concurso público apenas é legítimo quando
justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido. (...) Nesse mesmo sentido, o teor
do Enunciado 683 da Súmula da jurisprudência dominante neste Pretório Excelso: "O limite de idade
para a inscrição em concurso público só se legitima em face do art. 7º, XXX, da Constituição, quando

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DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido". O acórdão recorrido
está em consonância com a jurisprudência da Corte, razão pela qual não merece reparos, impondo-
se o desprovimento do recurso. Ex positis, manifesto-me pela existência de repercussão geral e pela
reafirmação da jurisprudência sobre o tema. [ARE 678.112 RG, voto do rel. min. Luiz Fux, j. 25-4-
2013, P, DJE de 17-5-2013, Tema 646.]
Vide RE 523.737 AgR, rel. min. Ellen Gracie, j. 22-6-2010, 2ª T, DJE de 6-8-2010.

XXXI- proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do


trabalhador portador de deficiência;
• A deficiência física, por si só, não incapacita generalizadamente o trabalhador para o desempenho
de atividades laborais em embarcações, não existindo exigência legal ou convencional de plena
capacidade física para toda e qualquer atividade marítima. A eventual incompatibilidade entre
determinadas atividades e certas limitações físicas não justifica a exclusão do trabalho marítimo do
alcance da política pública de inclusão social das pessoas com deficiência. A exclusão de postos de
trabalho marítimo embarcado do cálculo destinado a apurar o número de vagas destinadas aos
deficientes (art. 93 da Lei 8.213/1991) é desprovido de razoabilidade e desproporcionalidade,
caracterizando-se como diferenciação normativa discriminatória. A previsão dificulta arbitrariamente
o acesso de pessoas com deficiência ao trabalho nas empresas de navegação, pois diminui a
disponibilidade de vagas de trabalho para pessoas com deficiência. [ADI 5.760, rel. min. Alexandre
de Moraes, j. 13-9-2019, P, DJE de 26-9-2019.]

XXXII- proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os


profissionais respectivos;
XXXIII- proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer
trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos;
(Redação da EC 20/1998)
• Proibição de qualquer trabalho a menores de 16 (dezesseis) anos, salvo na condição de aprendiz,
a partir dos 14 (quatorze) anos (...) A evolução jurídica das formas de tratamento legislativo
dispensado à criança e ao adolescente: da fase da absoluta indiferença à doutrina da proteção
integral – Abolição da exploração do trabalho infantil de caráter estritamente econômico e elevação
progressiva da idade mínima de admissão para o trabalho e o emprego – Observância dos
compromissos firmados pelo Brasil no plano internacional (Convenção sobre os Direitos da Criança,
Convenção OIT nº 138 e Meta 8.7 da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável) e
necessidade de respeito aos postulados que informam a doutrina da proteção integral (CF, art. 227).
[ADI 2.096, rel. min. Celso de Mello, j. 13-10-2020, P, DJE de 27-10-2020.]
• Trabalhadora rural. Menor de dezesseis anos de idade. Concessão de salário-maternidade. (...) Nos
termos da jurisprudência do STF, o art. 7º, XXXIII, da Constituição "não pode ser interpretado em

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DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
prejuízo da criança ou adolescente que exerce atividade laboral, haja vista que a regra
constitucional foi criada para a proteção e defesa dos trabalhadores, não podendo ser utilizada
para privá-los dos seus direitos" (RE 537.040, rel. min. Dias Toffoli). [RE 600.616 AgR, rel. min.
Roberto Barroso, j. 26-8-2014, 1ª T, DJE de 10-9-2014.]
• Trabalhador rural ou rurícola menor de quatorze anos. Contagem de tempo de serviço. Art. 11, VII,
da Lei 8.213. Possibilidade. Precedentes. (...) Impossibilidade de declaração de efeitos retroativos
para o caso de declaração de nulidade de contratos trabalhistas. Tratamento similar na doutrina do
direito comparado: México, Alemanha, França e Itália. Norma de garantia do trabalhador que não
se interpreta em seu detrimento. Acórdão do STJ em conformidade com a jurisprudência desta
Corte. [AI 529.694, rel. min. Gilmar Mendes, j. 15-2-2005, 2ª T, DJ de 11-32005.]
Observação: Apesar do trabalho do menor nas situações acima descritas ser vedado, impedir
o gozo do benefício e/ou o cômputo do tempo de serviço seria penalizá-lo duplamente: 1) exerceu o
labor vedado pela constituição e; 2) ter o trabalho desconsiderado para qualquer fim.

XXXIV- igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o


trabalhador avulso.
• A Constituição da República, ao consignar, em seu art. 7º, o direito ‘à ação, quanto aos créditos
resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores
urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho (inciso XXIX) e ‘a
igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador
avulso’ (inciso XXXIV), não elidiu a possibilidade de que, dentro do preceituado pelas normas
constitucionais, em atenção aos princípios da valorização social do trabalho (art. 1º, IV) e de justiça
social (arts. 3º, I a III; 7º a 9º, 170 e 193), fossem reguladas de modo diverso para atender às
particularidades e às condições de trabalhos próprias da relação laboral avulsa. Constitui o OGMO
ente a que se vincula de forma estável, isto é, de forma fixa e constante, o trabalhador portuário
avulso, para fins de gozo de seus direitos trabalhistas. Parece adequado, portanto, que o prazo
quinquenal ou bienal seja aplicado considerando o vínculo com o órgão gestor. A solução, por sua
vez, possibilita a aplicação, na prática, do prazo quinquenal, privilegiando o espírito que animou o
legislador constituinte ao promover a ampliação do prazo prescricional e da proteção social conferida
ao trabalhador. [ADI 5.132, rel. p/ o ac. min. Edson Fachin, j. 29-3-2021, P, DJE de 15-4-2021.]

Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos
nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e
XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do
cumprimento das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de
trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a
sua integração à previdência social. (Redação da EC 72/2013)

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DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho

4.2. Aplicação dos direitos do art.7º da Constituição Federal ao servidor público

O art. 39 da Constituição Federal, que trata dos servidores públicos da União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, estabelece que alguns dos direitos elencados no art. 7º da
Constituição Federal serão também aplicados aos servidores públicos. Vejamos:

Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no


âmbito de sua competência, regime jurídico único e planos de carreira para
os servidores da administração pública direta, das autarquias e das
fundações públicas.
§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art.
7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a
lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do
cargo o exigir. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

Para melhor visualizar quais direitos sociais dos trabalhadores são estendidos aos servidores
públicos, segue o quadro:

DIREITOS DOS TRABALHADORES URBANOS E RURAIS APLICÁVEIS AOS


SERVIDORES OCUPANTES DE CARGOS PÚBLICOS
IV – salário mínimo
VII – garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para quem recebe remuneração
variável.
VIII – décimo terceiro salário
IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno
XII – salário família
XIII – duração normal do trabalho não superior a 8 horas diárias e 44 horas semanais
XV – repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos
XVI – pagamento de hora extra + 50%
XVII – férias anuais + 1/3 do salário normal
XVIII – licença à gestante
XIX – licença paternidade
XX – proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos
XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de higiene,
saúde e segurança
XXX – proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critérios de
admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.

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DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
O empregador estatal pode se estruturar sob a roupagem de pessoa jurídica de Direito Público
(Administração Direta, autarquias e fundações públicas da União, Estados, Distrito Federal e
Municípios) e nos moldes de entidades similares às existentes na economia privada, tais como
empresas públicas, sociedades de economia mista, além de suas subsidiárias.

4.2.1. Pessoa jurídica de Direito Público

A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, com sua administração direta,


autárquica e fundacional, são integrados por pessoas jurídicas de Direito Público, expressão nítida e
diferenciada da natureza e dos poderes estatais. Tais entidades, regra geral, ostentam a prerrogativa
de realizarem, em conformidade com a lei, a admissão e regência normativa de seus servidores
públicos por meio do regime administrativo (servidores estatutários) ou, alternativamente, pelo
regime da CLT (servidores celetistas).

Naturalmente, após realizarem, por lei, sua escolha (afora as escolhas feitas pela própria
Constituição da República, como ocorre com as chamadas carreiras de Estado, sempre regidas
estritamente pelo Direito Público/Administrativo), desaparece a dualidade de regimes (que era
comum antes da Constituição de 1988), de maneira a prevalecer ou o regime administrativo ou o
regime celetista. Prevalecendo o regime celetista em determinada unidade da República e da
Federação (no Brasil contemporâneo, apenas uns poucos estados federais e um número significativo
de municípios é que ainda se caracterizam pela presença do regime contratual da CLT em suas
ordens jurídicas internas), incide o Direito do Trabalho com respeito às relações entre empregador
público e seus respectivos servidores celetistas.

Peculiaridades:

A incidência dos princípios constitucionais da “legalidade, impessoalidade, moralidade,


publicidade e eficiência” (art. 37, caput, CF/88), que devem sempre orientar o intérprete e aplicador
do Direito do Trabalho nos casos envolvendo a Administração Pública e o respectivo servidor,
mesmo celetista, enfraquecem, sobremaneira — senão afastam mesmo —, a aplicação da regra do
art. 444, caput, da CLT (que sustenta a prevalência da vantagem econômica concedida
espontaneamente e mesmo informalmente pelo empregador e suas chefias).

A criação e modificação de cargos e empregos públicos, e a fixação e alteração dos


vencimentos do servidor público, mesmo celetista, tudo somente pode ocorrer por meio de lei
específica (art. 37, X, CF/88), de iniciativa do Chefe do Poder Executivo (art. 61, § 1º, II, “a”, combinado
com art. 169, § 1º, I e II, CF/88). Esse verdadeiro princípio da iniciativa legislativa específica, de origem
constitucional, rege todas as entidades estatais de Direito Público (União, Estados, DF e Municípios),
em decorrência do princípio da simetria entre os entes federativos, também de assento

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DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
constitucional (art. 1º, caput; art. 18; art. 2º; art. 25, caput; art. 29, caput, todos da Constituição da
República).

A CF/88 veda expressamente pleitos de equiparação salarial na área pública (art. 37, XIII,
CF/88, desde a EC n. 19/1998), impedindo, desse modo, a incidência do art. 461 da CLT na respectiva
esfera. Na mesma linha, há clara restrição ao reenquadramento funcional de servidores, mesmo
celetistas, em decorrência da falta de cumprimento do requisito do concurso público.

Restrições à admissão de servidores, que deve ser precedida por “concurso público de provas
ou de provas e títulos”, sob pena de nulidade do contrato de trabalho, “ressalvadas as nomeações
para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração” (art. 37, caput, II e § 2º,
CF/88; Súmula 363, TST).

Princípio da motivação dos atos da Administração Pública, inerente aos princípios gerais
lançados no caput do art. 37 da CF (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência): esse princípio especial impõe o dever de o empregador público motivar, fundamentar
consistentemente as dispensas de quaisquer servidores, inclusive os celetistas, afastando, dessa
maneira, a possibilidade da dispensa meramente arbitrária, sem motivação qualquer, no âmbito das
entidades estatais de Direito Público.

Inviabilidade jurídica de plena aplicação de normas coletivas negociadas no âmbito das


pessoas jurídicas de Direito Público e respectivas relações empregatícias, ao menos no que tange às
normas que criem despesas para o empregador público, tais como, por exemplo, elevação de salário
e de outras parcelas econômicas (princípio da iniciativa legislativa específica).

4.2.2. Empresas públicas e Sociedades de Economia Mista

Dispõe a CF/88:

Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração


direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando
necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse
coletivo, conforme definidos em lei.
§ 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade
de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica
de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços,
dispondo sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998)
(...)

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DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho
II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive
quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e
tributários; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

Desse modo, as entidades estatais situadas no campo similar ao das empresas e instituições
privadas (art. 173, § 1º, II, CF/88) submetem-se, em princípio, às regras próprias da CLT, inclusive ao
disposto no art. 444 (concessões econômicas espontâneas pelo empregador), no art. 461
(equiparação salarial) e nos arts. 611 a 625 (negociação coletiva trabalhista), todos da CLT.

Por outro lado, entre os princípios e regras acima enunciados, fortemente aplicáveis à área das
pessoas jurídicas de Direito Público, está o requisito democrático constitucional da prévia aprovação
em concurso público de provas ou de provas e títulos, sob pena de nulidade do contrato de trabalho
(art. 37, caput, II e § 2º, CF/88; Súmula 363, TST). Nesse caso, a jurisprudência do STF e do TST tem
compreendido firmemente que tal especificidade também se estende às empresas estatais regidas
pelo art. 173, § 1º, II, da CF/88.

Em decorrência dessa específica assimilação do requisito constitucional do concurso público,


e da circunstância de ela se reportar aos princípios constitucionais do art. 37, caput, da CF
(legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência), tem se agigantado fortemente na
jurisprudência a compreensão de que o princípio da motivação também se estenderia ao ato de
ruptura do contrato de trabalho pelo empregador estatal das empresas públicas, sociedades de
economia mista e empresas subsidiárias. É bem verdade que há um certo número de turmas da Corte
Superior Trabalhista que tem preservado a validade da denúncia vazia no âmbito das empresas
estatais, na linha da OJ 247, I, da SDI-I do TST.

No bojo dessa indefinição interpretativa surgida no TST, despontou no STF, em 2015, sinal de
aparente continuidade do debate sobre o assunto, em vista de três possíveis alternativas de
interpretação quanto ao tema: a) extensão do princípio da motivação a todas as empresas estatais;
b) extensão do referido princípio apenas às empresas estatais efetivamente prestadoras de serviço
público; c) extensão desse princípio somente à própria ECT, já mencionada no inciso II da OJ 247 da
SDI-I do TST.

Referências bibliográficas:

Henrique Correia. Direito do Trabalho para concursos de analista do TRT e MPU.


Rafael Carvalho Resende Oliveira. Curso de Direito Administrativo.
Felipe Fernandes. Gustavo Andrade. Raquel Gouveia. Direito e Processo do Trabalho para a
Advocacia Pública

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DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho

TAREFAS PARA O ESTUDO ATIVO

01. Sucintamente, explique as seguintes teorias que definem qual norma deve ser aplicada em
caso de conflito entre as fontes formais do Direito do Trabalho:

TEORIA DO CONGLOBAMENTO TEORIA DA ACUMULAÇÃO

02. Qual o entendimento mais recente do Supremo Tribunal Federal sobre acordos ou
convenções coletivas de trabalho que limitam ou suprimem direitos trabalhistas?

03. Explique de maneira sucinta os seguintes princípios do Direito do Trabalho:

- Proteção ao trabalhador

- Imperatividade das normas trabalhistas

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DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho

- Primazia da realidade

- Inalterabilidade contratual lesiva

- Continuidade da relação de emprego

- Indisponibilidade dos direitos trabalhistas

- Intervenção mínima na autonomia da vontade coletiva

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DIREITO DO TRABALHO
Princípios e fontes do direito do trabalho

04. Cite 05 direitos dos trabalhadores urbanos e rurais aplicáveis aos servidores ocupantes de
cargos públicos.

05. Sobre os princípios do Direito do Trabalho, cite 05 exceções ao “princípio da condição mais
benéfica”.

06. Conceitue “empregado hipersuficiente”.

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